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CHAPTER 1

TRANSFORMAÇÕES DE GALILEU E A MECÂNICA


NEWTONIANA

A mecânica clássica do Século XIX era totalmente baseada na mecânica newtoniana e nas
transformações de Galileu, onde o espaço e o tempo eram considerados quantidades absolutas,
ou seja, não podiam variar dependendo do movimento do observador.

1.1 Transformações de Galileu


As transformações de Galileu relacionam as leis da mecância newtoniana entre dois refer-
enciais S e S � , tal que S � tem velocidade uniforme �u em relação a S.

Considere o caso particular em que �u = ux î em relação a S e em t = t� = 0 os eixos


coincidem, ou seja x(0) = x� (0), y(0) = y � (0), z(0) = z � (0), conforme Figura 1 a seguir.

As transformações de Galileu podem escritas como:



x� = x(t) − ux t



y � = y(t)
Transformações de Galileu
z � = z(t) 



t� = t
de onde fica evidente que, dada uma equação de movimento x(t) no referencial S, é possı́vel
obter a equação de movimento x� (t� ) no referencial S � por meio das transformações acima.
As transformações inversas são:

x = x� (t� ) + ux t�
y = y � (t� )
z = z � (t� )
t = t�

e da mesma forma, dada uma equação de movimento x� (t� ) no referencial S � , é possı́vel obter a
equação de movimento x(t) no referencial S por meio das transformações inversas.
A principal caracterı́stica das transformações de Galileu é que o tempo é considerado abso-
luto, ou seja, é sempre medido da mesma forma em qualquer que seja o sistema de referência,
por isso t� = t. Isso vai mudar na relatividade restrita!

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Figura 1

S S’
y y’

ux

x’
O’
O x

z’
z

Movimento relativo entre os referenciais S e S’

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Agora considere um objeto em S � se movendo com velocidade v�� em relação a S � , conforme
Figura 2 a seguir. ux é a velocidade do referencial S � em relação a S. Qual é a velocidade �v
vista por S?

Na mecânica de Galileu, vale a definição usual de velocidade:


d Δx d Δy d Δz
vx ≡ x(t) = , vy ≡ y(t) = , vz ≡ z(t) =
dt Δt dt Δt dt Δt

onde �v = vx î + vy ĵ + vz k̂ é o vetor velocidade no referencial S.

Usando as transformações de Galileu anteriores, temos:

Δx Δx� + ux Δt�
vx = = = vx� + ux
Δt Δt�
Δy Δy �
vy = = �
= vy�
Δt Δt
Δz Δz �
vz = = = vz�
Δt Δt�
Portanto a componente x da velocidade é somada da maneira usual, como esperamos intu-
itivamente.

Usando agora a forma do operador diferencial e o conceito de regra da cadeia em derivadas,


temos:
d d[x� (t� ) + ux t� ] dt�
vx = x(t) = = vx� + ux
dt dt� dt
d dy � (t� ) dt�
vy = y(t) = �
= vy�
dt dt dt
d dz � (t� ) dt�
vz = z(t) = = vz�
dt dt� dt
Neste último método é fácil calcularmos a aceleração:

d d[vx� (t) + ux ] dt�


ax = vx (t) = = a�x
dt dt� dt
d dvy� (t) dt�
ay = vy (t) = = a�y
dt dt� dt
d dv � (t) dt�
az = vz (t) = z � = a�z
dt dt dt
e portanto vemos que a aceleração é a mesma em ambos os referenciais, independente da
velocidade relativa ux entre os referenciais. Vemos também que a aceleração é nula se �v � for
constante no referencial S � .

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Figura 2

S S’
y y’

v’

ux

x’
O’
O x

z’
z

Movimento relativo entre os referenciais S e S’, e uma partícula se


movendo com velocidade v’ no referencial S’.

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1.1.1 Leis da mecânica newtoniana e as Transformações de Galileu
As leis da mecânica, em particular a 2a lei de Newton, é invariante pelas transformações
de Galileu, ou seja, mantém a mesma forma quando escrita tanto no referencial S quanto no
referencial S � .

Para mostrar isso vamos escrever a 2a lei de Newton na forma mais geral:

F� = m�a = −∇U
� (x, y, z)

onde U (x, y, z) é a energia potencial do sistema.


Por simplicidade vamos considerar apenas o eixo-x, que é onde ocorre a translação entre os
sistemas de referência:
d2 x ∂U
m 2 =−
dt ∂x
2 2
Do lado esquerdo temos a aceleração ax = d x/dt , e já vimos anteriormente que a aceleração
é a mesma quando vista no referencial S � , portanto ax = a�x . Mas como podemos transformar
o lado direito para o sistema S � para uma função pontencial qualquer?
Para isso precisamos usar a regra da cadeia:

∂U ∂U ∂x� ∂U ∂y � ∂U ∂z � ∂U ∂t�
= + � + � + �
∂x ∂x� ∂x ∂y ∂x ∂z ∂x ∂t ∂x

e vemos que apenas o primeiro termo do lado direito é diferente de zero, com ∂x
∂x
= 1 das
transformações de Galileu.
Portanto:
d 2 x� ∂U
m �2 = − �
dt ∂x
e concluı́mos que a 2 lei de Newton mantém a mesma forma quando escrita no referencial S � .
a

1.1.2 Eletromagnetismo e as Transformações de Galileu


Embora as transformações de Galileu mantenham as leis da mecânica invariantes, o mesmo
não ocorre com as leis do eletromagnetismo.

Exercı́cio: Mostre que a equação de onda do eletromagnetismo para um campo φ(x, y, z, t)


qualquer,
∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ 1 ∂ 2φ
+ + =
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 c2 ∂t2
não é invariante por transformações de Galileu. Para isto, mostre que ela se transforma da
seguinte maneira para o referencial S � :

∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ 1 ∂ 2 φ u2x ∂ 2 φ 2ux ∂ 2 φ
+ + = + −
∂x�2 ∂y �2 ∂z �2 c2 ∂t�2 c2 ∂x�2 c2 ∂x� ∂t�

onde S � se move com velocidade relativa u em relação a S na direção do eixo x.

1.2 Transformações de Galileu no formato matricial


Por fim, note que as transformações de Galileu podem ser escritas no formato “matricial”:

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 �   
x 1 0 0 −ux x
 y �  0 1 0 0  y 
 
 � =  
 z  0 0 1 0  z 
t� 0 0 0 1 t
Supondo as variáveis x� , y � , z � , t� como variáveis dependentes de (x, y, z, t), as componentes da
matriz de transformação acima podem ser obtidas por meio de:
 ∂x� ∂x� ∂x� ∂x� 
∂x ∂y ∂z ∂t
 ∂y� ∂y � ∂y � ∂y � 
 ∂x ∂y ∂z ∂t 
 ∂z� ∂z � ∂z � ∂z � 
 ∂x ∂y ∂z ∂t

∂t� ∂t� ∂t� ∂t�
∂x ∂y ∂z ∂t

Exercı́cio: Verifique que as componentes da matriz acima reproduzem a matriz de trans-


formação de Galileu.

Uma matriz parecida (fazendo ux → −ux ) é obtida para a transformação inversa.

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