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2: Pro jéteis, movimento circular uniforme

Chee Sheng Fong

15 de fevereiro, 2024

Esta nota é baseada principalmente no livro texto Raymond A. Serway e John W. Jewett, Jr.
Princípios de Física 5ª edição, volume 1 e minhas próprias adições. Se vocês descobrem algo que
não faz sentido, é muito provável que seja meu erro. Por favor me escrevam sheng.fong arroba
ufabc.edu.br. Para aprender o cálculo (a noção básica é necessário para esse curso), recomendo
esse livro que está disponível gratuitamente:  INTRODUÇÃO ELEMENTAR ÀS TÉCNICAS
DO CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL por Carneiro, Prado e Salinas.

Resumo da aula anterior


Vetores: Em 1D, pode ser zero, negativo ou positivo. Há informação sobre o módulo e o sentido
(pelo sinal).

ˆ Vetor de posição x

ˆ Deslocamento ∆x = xf − xi

ˆ Velocidade média v̄x = ∆x


∆t

ˆ Velocidade vx = lim∆t→0 ∆x
∆t
= dx
dt

ˆ Aceleração média āx = ∆vx


∆t

d2 x
ˆ Aceleração: ax = lim∆t→0 ∆vx
∆t
= dvx
dt
= dt2

onde o intervalo de tempo é ∆t = tf − ti .

Grácos: Podemos representar movimento de uma partícula em 1D com gráco posição-tempo,


velocidade-tempo ou aceleração-tempo.

1
ˆ A velocidade de uma partícula em qualquer momento é igual à inclinação da linha tangente
dx
à curva de posição-tempo naquele momento vx = dt
.

ˆ A aceleração de uma partícula em qualquer momento é igual à inclinação da linha tangente


dv
à curva de velocidade-tempo naquele momento ax = dt
.

ˆ O deslocamento de uma partícula em um intervalo deR tempo é igual à área sob à curva de
tf
velocidade-tempo entre esse intervalo de tempo ∆x = ti
vx dt.

O movimento de uma partícula sob aceleração constante ax (incluindo zero que signica ve-
locidade constante) em 1D é descrito pelas equações cinemáticas:1
(i) ∆vx = ax ∆t

(ii) ∆x = 12 (vxi + vxf ) ∆t

(iii) ∆x = vxi ∆t + 12 ax (∆t)2


2 2
(iv) vxf = vxi + 2ax ∆x
onde ∆vx = vxf − vxi , ∆x = xf − xi , e o intervalo de tempo é ∆t = tf − ti . Acima, escolhemos o
movimento de uma partícula ao longo do eixo x e em tf = ti , a posição dela é xi e sua velocidade
é vxi . Claramente, podemos usar as mesmas equações para qualquer eixo se a aceleração ao longo
desse eixo for constante. Por exemplo, para os corpos em queda livre, se denirmos para direção
2
da centro da Terra eixo y negativa, temos ay = −g = −9, 8 m/s . Em 2D (ou 3D), usamos notação
vetorial por exemplo o vetor posição em 2D é

⃗r = xî + y ĵ = (x, y) ,

e também podemos escrever

x = r cos θx , y = rsen θx ,

onde r = |⃗r| e θx é o ângulo do vetor ⃗r com o eixo x. Para analisar o movimento de uma partícula,
podemos tratar cada componente independentemente e portanto temos uma equação para cada
eixo por exemplo, temos:

vxf = vxi + ax ∆t, vyf = vyi + ay ∆t.

Veremos:
1 Percebemos que essas equaçôes relacionam as posições e as velocidades entre dois pontos separados pelo intervalo
de tempo ∆t.

2
ˆ Movimento de projéteis

ˆ Movimento circular uniforme

ˆ Aceleração tangencial e radial

1 Movimento de projéteis
Vamos começar com um exemplo de movimento em um plano.

Ex. 1: Uma partícula


 se move no plano xy , começando da origem em t = 0 com velocidade

inicial ⃗v = 3, 0î + 4, 0ĵ m/s e ela experimenta uma aceleração na direção y, dado por
 
⃗a = −2, 0ĵ m/s2 .

(a) Determine a velocidade da partícula em qualquer instante.


Em componentes, temos

x − componente : vxf = vxi + ax t = 3, 0 m/s


y − componente : vyf = vyi + ay t = 4, 0 m/s − 2, 0 m/s2 t


Por isso, temos

⃗vf = vxf î + vyf ĵ


= (3, 0 m/s) î + 4, 0 m/s − 2, 0 m/s2 t ĵ.
  

(b) Determine o módulo da velocidade da partícula em t = 4, 0 s.


Em t = 4, 0 s, temos

⃗vf = (3, 0 m/s) î + 4, 0 m/s − 2, 0 m/s2 (4, 0 s) ĵ


  

= (3, 0 m/s) î − (4, 0 m/s) ĵ.

O módulo é
q
2 2
vf = |⃗vf | = vxf + vyf
q
= (3, 0 m/s)2 + (4, 0 m/s)2
= 5, 0 m/s.

3
(c) Determine o ângulo que a velocidade da partícula forma com o eixo x em t = 4, 0 s.
vyf 4, 0
tgθ = =
vxf 3, 0
 
−1 4, 0
=⇒ θ = tg
3, 0
= 0, 64 rad ou 37◦
(d) Determine o vetor posição da partícula em qualquer instante. Faça um desenho da
trajetória da partícula no plano xy .
As coordenadas da partícula são

1
x − componente : xf = xi + vxi t + ax t2 = (3, 0 m/s) t
2
1 2 1
2, 0 m/s2 t2

y − componente : yf = yi + vy t + ay t = (4, 0 m/s) t −
2 2
Por isso, temos

⃗rf = xf î + yf ĵ
= [(3, 0 m/s) t] î + (4, 0 m/s) t − 1, 0 m/s2 t2 ĵ.
  

Para desenhar a trajetória da partícula no plano xy , podemos resolver t com a equação


de componente x e temos
xf
t = .
3, 0 m/s
Substituindo a relação acima para a equação de componente y, temos
   2
xf xf
− 1, 0 m/s2

yf = (4, 0 m/s)
3, 0 m/s 3, 0 m/s
1, 0 2 4, 0
= − x + xf .
9, 0 m f 3, 0
A equação é uma parábola conforme a Figura 1.

(e) Determine o ângulo que o vetor posição da partícula forma com o eixo y em t = 2, 0 s.
O ângulo que a posição da partícula forma com o eixo y é
xf
θ = tg−1
yf
(3, 0 m/s) t
= tg−1
(4, 0 m/s) t − (1, 0 m/s2 ) t2
3, 0 m/s
= tg−1 .
(4, 0 m/s) − (1, 0 m/s2 ) t

4
 
Figura 1: A trajetória da partícula no plano xy com aceleração constante ⃗a = −2, 0ĵ m/s2 . Os

pontos são as posições dela para t = 0 s, 1, 0 s, 2, 0 s, 3, 0 s, 4, 0 s.

Em tempo t = 2, 0 s, temos

3, 0 m/s
θ = tg−1
(4, 0 m/s) − (1, 0 m/s2 ) (2, 0 s)
3, 0
= tg−1
2, 0
= 0, 98 rad ou 56◦ .

Na verdade, o exemplo anterior é um movimento de projétil


no superfície da Lua (gLua =
2
1, 62 m/s ). Na Terra
, podemos ter um movimento de projétil assumindo que:

1. A aceleração em queda livre g é constante por toda a extensão do movimento e direcionada


para baixo.

2. O efeito da resistência do ar é desprezível.


No seguinte, vamos sempre usar as suposições acima e tomar g = 9, 80 m/s2 . Vamos escolher o
quadro de referência de tal forma que a direção y é vertical e positiva para cima. Na direção x, não
temos aceleração (porque a resistência do ar é ignorada.) e na direção y, sempre temos aceleração
constante ⃗a = −g ĵ. Na verdade, um movimento de projétil é também um movimento de queda
livre que vimos.

No Ex. 1, o que muda se usarmos g = 9, 80 m/s2 ? Considerem o quadro de referência de tal


forma que a direção y é vertical e positiva para cima. A altura a partícula alcança aumenta ou
diminui? O tempo a partícula no ar aumenta ou diminui? A distância a partícula percorreu
na horizontal aumenta ou diminui? Na Figura 2, temos a trajetória da partícula como Ex.
1 mas para o caso g = 9, 80 m/s2 .

5
 
Figura 2: A trajetória da partícula no plano xy com aceleração constante ⃗a = −9, 8ĵ m/s2 . Os

pontos são as posições dela para t = 0 s, 0, 2 s, 0, 4 s, 0, 6 s, 0, 8 s.

As componentes da velocidade de um projétil na Terra são

vxf = vxi , (1)

vyf = vyi + ay ∆t = vyi − g∆t, (2)

onde ∆t = tf − ti . Na forma vetorial, temos

⃗vf = vxf î + vyf ĵ


= vxi î + (vyi − g∆t) ĵ. (3)

As coordenadas de um projétil são

xf = xi + vxi ∆t, (4)


1 1
yf = yi + vyi ∆t + ay (∆t)2 = yi + vyi ∆t − g (∆t)2 . (5)
2 2
Na forma vetorial, o vetor posição é

⃗rf = xf î + yf ĵ
 
1 2
= (xi + vxi ∆t) î + yi + vyi ∆t − g (∆t) ĵ. (6)
2
O ângulo que um projétil com a Terra (eixo x) é
 
yf
θ = tg
xf
!
yi + vyi ∆t − 21 g (∆t)2
= tg . (7)
xi + vxi ∆t

6
Da equação (4), podemos resolver pelo intervalo de tempo ∆t e obter

xf − xi
∆t = . (8)
vxi
Substituindo a equação acima na equação (5), temos a trajetória de partícula no plano xy
 
 2
xf − xi1 xf − xi
yf = yi + vyi − g
vxi 2 vxi
1 g vyi
= − 2 (xf − xi )2 + (xf − xi ) + yi , (9)
2 vxi vxi

que é uma parábola. Se temos posição inicial ⃗ri = xi î + yi ĵ e velocidade inicial ⃗vi = vx î + vy ĵ de
uma partícula, sabemos completamente a trajetória dela.
Podemos ter vários tipos de movimento de projéteis de acordo com a velocidade inicial
(vejam a Figura 3).

(a) vxi = 0, vyi > 0. Nesse caso, temos a altura máxima quando vyf = 0.
(b) vxi > 0, vyi > 0. Nesse caso, temos a altura máxima quando vyf = 0. Normalmente
denimos a distância horizontal em que a partícula atinge o solo.
(c) vxi > 0, vyi = 0. Nesse caso, não temos a altura máxima. Normalmente denimos a distância
horizontal em que a partícula atinge o solo.
(d) vxi > 0, vyi < 0. Nesse caso, não temos a altura máxima. Normalmente denimos a distância
horizontal em que a partícula atinge o solo.

Ex. 2: Uma pedra, que se encontra numa elevação de 60 m sobre uma plataforma horizontal, é
arrastada com velocidade de 3,0 m/s. A que distância horizontal do ponto de projeção
ela atinge o solo? Qual é seu vetor velocidade neste instante?
Primeiramente, escolhamos o sistema referencial em que a origem ca no solo diretamente
abaixo da plataforma. Especicamos que ti = 0 e ∆t = tf = t em qualquer instante. A
posição inicial da pedra é nas coordenadas xi = 0 e yi = 60 m. A velocidade inicial dela é
vxi = 3, 0 m/s e vyi = 0. Temos duas equações das coordenadas ( dica: basta substituir os
zeros por enquanto e só colocar os outros números no passo nal)

xf = vxi t,
1
yf = yi − gt2 .
2

7
 
Figura 3: As trajetórias da partícula no plano xy com aceleração constante ⃗a = −9, 8ĵ m/s2
com as velocidades iniciais diferentes. Os pontos é para as posições nos tempos com intervalo de
0,2 s.

8
Quando a pedra atinge o solo, yf = 0. Podemos resolver o tempo ts quando isso acontece

1
0 = yi − gt2s
r 2
2yi
=⇒ ts = .
g
Para achar a distância horizontal quando ela atinge o solo, basta substituir ts na equação xf
e obtemos
r 
2yi
xf = vxi
g
s
2 (60 m)
= (3, 0 m/s)
(9, 80 m/s2 )
= 10 m.

Para a velocidade dela, vamos escrever as duas equações dos componentes da velocidade (de
novo só substituir os zeros por enquanto)

vxf = vxi ,
vyf = −gt.

Em tempo t = ts , temos

vxf = 3, 0 m/s,
r 
2yi p p
vyf = −g = − 2gyi = − 2 (9, 80 m/s2 ) (60 m) = −34 m/s.
g

Na notação vetorial, temos


 
⃗vf = 3, 0î − 34ĵ m/s.

Ex. 3: Uma mangueira, com o bico localizado 1,5 m acima do solo, é apontada para cima, segundo

um ângulo de 30 com o chão. O jato de água atinge um canteiro a 15 m de distância.

(a) Com que velocidade o jato sai da mangueira?


Primeiramente, escolhamos o sistema referencial em que a origem ca no solo direta-
mente abaixo do bico. Especicamos que ti = 0 e ∆t = tf = t em qualquer instante. A
posição inicial da água é nas coordenadas xi = 0 e yi = 1, 5 m. A velocidade inicial da

9
água é vxi = vi cosθ e vyi = vi senθ onde θ = 30◦ . Vamos escrever as duas equações para
as coordenadas da água ( dica: basta substituir os zeros e as expressões algébricas por
enquanto e só inserir os outros números no passo nal)

xf = (vi cosθ) t,
1
yf = yi + (vi senθ) t − gt2 .
2
Sabemos que a água atinge um canteiro a xf = 15 m eyf = 0. Por isso, podemos
resolver por o tempo ts quando isso acontece com a equação de xf

xf = (vi cosθ) ts
xf
=⇒ ts = .
vi cosθ
Substituindo ts para a equação de yf = 0, temos

  2
xf 1 xf
0 = yi + vi senθ − g
vi cosθ 2 vi cosθ
1 g
= yi + xf tgθ − x2 .
2 vi2 cos2 θ f

Agora, podemos resolver por vi


1 g
x2 = yi + xf ctgθ,
2 vi2 cos2 θ f
1 gx2f
vi2 cos2 θ = ,
2 yi + xf tgθ
s
xf 1 g
vi = .
cosθ 2 yi + xf tgθ

Por isso, temos ( nota: somente substituir os valores no último passo e arredondar para

10
os algarismos signicativos apropriados)

vxi = vi cosθ
s
1 g
= xf
2 yi + xf tgθ
s
1 9, 80 m/s2
= (15 m)
2 1, 5 m + (15 m) tg30◦
= 10 m,
vyi = vi senθ
s
1 g
= xf tgθ
2 yi + xf tgθ
s
1 9, 80 m/s2
= (15 m) tg30◦
2 1, 5 m + (15 m) tg30◦
= 6, 0 m.
Então, a velocidade inicial de água é
 
⃗vi = 10î + 6, 0ĵ m/s.

(b) Que altura ele atinge?


Vamos escrever a equação para o componente y da velocidade da água

vyf = vyi − gt.


Na altura máxima, vyf = 0. Podemos resolver para o tempo ta quando isso acontece

0 = vi senθ − gta
vi senθ
=⇒ ta = .
g
Substituindo ta para a equação de yf , temos
   2
vi senθ 1 vi senθ
yf = yi + (vi senθ) − g
g 2 g
2 2 2 2
v sen θ vi sen θ
= yi + i −
g 2g
2 2
v sen θ
= yi + i .
2g

11
No último passo, substituímos os valores e temos

(12 m/s)2 sen2 30◦


yf = 1, 5 m + = 3, 3 m.
2 (9, 80 m/s2 )
Ex. 4: Uma pedra cai de um balão que se desloca horizontalmente, com velocidade constante. A
pedra permanece no ar durante 3,0 s e atinge o solo segundo uma direção que faz um ângulo

de 30 com a vertical.

(a) Qual é o vetor velocidade do balão?


A velocidade do balão também é velocidade inicial da pedra. Vamos escolher o sistema
referencial no qual a origem ca no solo diretamente abaixo na posição que a pedra cai.
Especicamos que ti = 0 e ∆t = tf = t em qualquer instante. Sabemos que quando
ts = 3, 0 s, a pedra atinge o solo yf = 0 com velocidade nal ⃗vf = vxf î + vyf ĵ onde
vxf = vf sen30◦ e vyf = −vf cos30◦ (desenhem uma gura para ser mais claro). Em
seguinte, vamos escrever as duas equações para os componentes da velocidade da pedra

vxf = vxi ,
vyf = vyi − gt.
Sabemos que em ts = 3 s, vxf = vf sen30◦ , vyf = −vf cos30◦ e vyi = 0 e por isso, usando
só segunda equação acima, temos

−vf cos30◦ = −gts ,


gts
vf = .
cos30◦
Por isso, a velocidade do balão é

⃗vi = vf sen30◦ î
 
gts
= ◦
sen30◦ î
cos30
= gts tg30◦ î
1
9, 80 m/s2 (3, 0 s) √ î.

=
3
= 17 m/s.
(b) De que altura caiu a pedra?
Vamos escrever as duas equações para as coordenadas da pedra

xf = xi + vxi t,
1
yf = yi + vyi t − gt2 .
2
12
Queremos achar yi . Sabemos que yf = 0 quando t = ts = 3, 0 s. Por isso, só precisamos
a segunda equação acima e temos (com vyi = 0)

1
0 = yi − gt2s
2
1 2
=⇒ yi = gt
2 s
1
9, 80 m/s2 (3, 0 s)2

=
2
= 44 m.

(c) Que distância a pedra percorreu na horizontal?



Substituindo xi = 0, vxi = vxf = vf sen30 e t = ts = 3, 0 s na equação do componente
x da posição, temos

xf = (vf sen30◦ ) ts
 
gts
= ◦
sen30◦ ts
cos30
= gt2s tg30◦
1
= 9, 80 m/s2 (3, 0 s)2 √

3
= 51 m.

(d) Qual o vetor velocidade da pedra quando atinge o solo?


Temos

⃗vf = vxf î + vyf ĵ


= vf sen30◦ î − vf cos30◦ ĵ
   
gts ◦ gts
= sen30 î − cos30◦ ĵ
cos30◦ cos30◦
= gts tg30◦ î − gts ĵ
1
= 9, 80 m/s2 (3, 0 s) √ î − 9, 80 m/s2 (3, 0 s) ĵ
 
3
= (17 m/s) î − (29 m/s) ĵ.

Ex. 5: Uma esquiadora salta de uma pista movendo-se na direção horizontal com velocidade de 25,0
m/s, como mostrado na Figura 4. A inclinação da pista abaixo dela é de 35,0°. Onde ela
pousa na inclinação? Vamos escolher o sistema referencial no qual a origem ca no ponto

13
Figura 4: A gura para Ex. 5.

inicial do salto. Especicamos que ti = 0 e ∆t = tf = t em qualquer instante. Temos


velocidade inicial vxi = 25, 0 m/s, vyi = 0. A posição inicial dela é xi = yi = 0 e posição
nal é xf = dcosϕ e yf = −dsenϕ. Em seguinte, vamos escrever as duas equações para as
coordenadas da esquiadora ( dica: basta substituir os zeros e as expressões algébricas por
enquanto e só inserir os outros números no passo nal)

dcosϕ = vxi t,
1
−dsenϕ = − gt2 .
2
Da primeira equação acima, podemos resolver pelo tempo quando ela pousa

dcosϕ
t = .
vxi
Substituindo o tempo para a segunda equação, temos

 2
1 dcosϕ
−dsenϕ = − g
2 vxi
2
 
gdcos ϕ
d 2
− senϕ = 0
2vxi
2
2vxi senϕ
=⇒ d = 0 ou
gcos2 ϕ
Sabemos que d ̸= 0, por isso, temos

2
2vxi senϕ
d = .
gcos2 ϕ

14
E as coordenadas são

xf = dcosϕ
2
2vxi
= tgϕ
g
2 (25, 0 m/s)2
= 2
tg35, 0◦
(9, 80 m/s )
= 89, 3 m,
yf = −dsenϕ
2v 2
= − xi tg2 ϕ
g
2 (25, 0 m/s)2 2
= − tg 35, 0◦
(9, 80 m/s2 )
= −62, 5 m.

Na forma vetorial, temos (deixamos 3 algarismos signicativos porque a questão dá o mesmo


para todos as quantidades)

 
⃗rf = 89, 3î − 62, 5ĵ m.

Ex. 6: Uma bola, sob a ação apenas da aceleração da gravidade, é atirada do


 chão para 
o alto.

Sabe-se que em uma altura de 9,0 m, sua velocidade é dada por ⃗v = 7, 0î + 6, 0ĵ m/s.
Calcule:

(a) A altura que a bola subirá;

(b) A distância horizontal percorrida pela bola;

(c) O módulo da velocidade no ponto mais alto da trajetória;

(d) O vetor velocidade no instante em que a bola volta a tocar o solo.


 
Respostas: (a) 11 m; (b) 21 m; (c) 7 m/s; (d) ⃗v = 7, 0î − 15ĵ m/s

2 Movimento circular uniforme


O que é aceleração? Em 1D, quais situações podemos ter aceleração? Quando temos

ˆ Uma mudança do módulo (magnitude) de velocidade

15
Figura 5: Aceleração em 1D. No gráco esquerdo, a partícula muda o sentido no intervalo de tempo
zero, a aceleração é innita. No gráco direito, na situação mais realística, a partícula muda o
sentido no intervalo de tempo nito e a aceleração é nita.

ˆ Uma mudança do sentido de velocidade/movimento (sinal)


O que sentimos quando isso acontece? Uma força! Uma força poderia mudar a velocidade (módulo
e/ou sentido).

Em 1D, se a velocidade mudar o sentido em um instante, qual é a aceleração? Isso é


possível? Se o intervalo de tempo da mudança for zero, sentiremos uma aceleração innita!
Realisticamente, temos que diminuir a velocidade até zero no intervalo tempo nito para
mudar sentido. Por isso, a aceleração não será innita e é impossível manter o mesmo
módulo de velocidade ao mudar de sentido! Vejam a Figura 5.
Em 2D, isso é possível manter o mesmo módulo de velocidade ao mudar de sentido. Porque?
Porque existe outra dimensão para nós virarmos. Podemos mudar o sentido só pouquinho enquanto
mantendo o módulo de velocidade constante. Se zermos isso, a trajetória será uma curva e
também é possível formar um trajetória circular. Então, no movimento curva ou circular, mesma
que o módulo (magnitude) da velocidade é constante, há aceleração! Isto é porque a direção da
velocidade está mudando. movimento circular uniforme,
No seguinte, consideremos o caso de
isto é o movimento circular com um módulo de velocidade constante.

Qual sentido de força sentem ao fazer uma curva?

Vamos considerar um movimento de partícula em uma trajetória circular (o sentido está mudando)
mas mantém o módulo de velocidade constante conforme a Figura 6. A velocidade dela na posição

16
Figura 6: A aceleração centrípeta ⃗ac de uma partícula ao fazer uma trajetória circular.

⃗ri é ⃗vi (tangente com a trajetória) e um intervalo de tempo ∆t depois, a posição dela é ⃗rf com
velocidade ⃗vf . O deslocamento é

∆⃗r = ⃗rf − ⃗ri , (10)

enquanto |⃗ri | = |⃗rj | = r. A mudança da velocidade é

∆⃗v = ⃗vf − ⃗vi . (11)

enquanto |⃗vi | = |⃗vj | = v . Percebemos que o ângulo ∆θ entre ⃗ri e ⃗rj será o mesmo do que o ângulo
entre ⃗
vi e ⃗vj (porque?). Por isso,
|∆⃗r| |∆⃗v |
= . (12)
r v
Em seguida, sabemos que a aceleração média é
∆⃗v
⃗ā = . (13)
∆t
O módulo dela é

|∆⃗v |
⃗ā =
∆t
v |∆⃗r|
= , (14)
r ∆t
onde no segundo passo, usamos a equação (12). No limite ∆t → 0, temos o módulo da aceleração
é

|∆⃗v |
|⃗a| = lim
∆t→0 ∆t
v |∆⃗r|
= lim
r ∆t→0 ∆t
v2
= . (15)
r
17
Percebemos que o sentido da aceleração é em direção ao centro do círculo e por isso, também
chamamos ela aceleração centrípeta e usamos um símbolo com subscrito da seguinte forma
v2
⃗ac ≡ − r̂, (16)
r
onde r̂ é um vetor unitário (ou versor) que aponta para longe do centro do círculo. O sinal
negativo é porque a aceleração centrípeta da partícula está apontando para o centro conforme

e sempre faz um ângulo de 90 com a velocidade dela conforme a Figura 6. O módulo de
aceleração centrípeta é simplesmente
v2
ac = . (17)
r
O período T é o intervalo de tempo necessário para uma revolução completa da partícula

2πr
T = , (18)
v
porque a distância percorrida é 2πr.
Podemos denir a velocidade angular (variação de ângulo por unidade de tempo) como


ω = , (19)
T
e escrever

v = ωr. (20)

Ex. 7: A Terra se move em sua órbita circular ao redor do Sol com o raio de 1, 496 × 1011 m.

(a) Qual é a velocidade angular da Terra?


Sabemos que o período é um ano, portanto, a velocidade angular é


ω =
T

=
365 × 24 × 60 × 60 s
= 2, 0 × 10−7 s−1 .

(b) Qual é o modulo da velocidade da Terra?


Sabemos que o período é um ano e a distância percorrida pela Terra é 2π vezes o raio

18
da órbita. Por isso, o módulo da velocidade é

2πr
v =
T
2π (1, 496 × 1011 m)
=
365 × 24 × 60 × 60 s
= 2, 981 × 104 m/s.

Ou podemos calcular v = 2πr/T = ωr.


(c) Qual é a aceleração centrípeta da Terra?
O módulo da aceleração centrípeta é

v2
ac =
r
 2
1 2πr
=
r T
 2

= r
T
 2

1, 496 × 1011 m

=
365 × 24 × 60 × 60 s
= 5, 939 × 10−3 m/s2 .

Podemos escrever na notação vetorial

⃗ac = −5, 939 × 10−3 m/s2 r̂.

Esse valar é muito menor que aquela em queda livre na superfície da Terra.

Ex. 8: Um atleta corre em uma pista de corrida circular com um módulo de velocidade de 9,2 m/s
2
com uma módulo de aceleração centrípeta de 3,8 m/s .

(a) Qual o raio da pista?


2
Sabemos que ac = v /r , por isso, o raio é

v2
r =
ac
(9, 2 m/s)2
=
3, 8 m/s2
= 22 m.

19
(b) Quanto tempo o atleta leva para completar uma volta?
O período é (lembrem que um hábito bom é não substituir os números até o nal)

2πr
T =
v 
2π v 2
=
v ac
2πv
=
ac
2π (9, 2 m/s)
=
3, 8 m/s2
= 15 s.

Ex. 9: A hélice de um ventilador completa 1200 rotações em cada minuto. Considere um ponto
localizado na extremidade da hélice que tem um raio de 0,15 m.

(a) Qual a distância percorrida por este ponto em uma volta?

(b) Qual é o período da hélice?

(c) Qual o módulo da sua velocidade e aceleração?

Respostas: (a) 0,94 m; (b) 0,05000 s; (c) 19 m/s e 2, 4 × 103 m/s2

3 Aceleração tangencial e radial


Em movimento circular uniforme, o sentido da velocidade muda enquanto o módulo da velocidade
não muda. Em geral, para o movimento de uma partícula no plano xy , ambos o sentido e o
módulo podem mudar. No entanto, sempre pode resolver a aceleração em dois vectores baseados
em uma origem no centro do modelo circular correspondente àquele instante (vejam a Figura 7):

ˆ aceleração radial: ⃗ar ao longo do raio do círculo

ˆ aceleração tangencial: ⃗at perpendicular a esse raio


A aceleração total ⃗a da partícula será

⃗a = ⃗ar + ⃗at . (21)

Na Figura 7, vamos notar que o sentido da aceleração ⃗a da partícula não mais ponta para o centro
de cada círculo se ⃗at ̸= 0.

20
Figura 7: A aceleração ⃗a de uma partícula ao fazer uma trajetória curva sempre pode ser resolvido
pela aceleração radial ⃗
ar e aceleração tangente ⃗at .

Figura 8: Denições de o vetor unitário radial r̂ e o vetor unitário angular θ̂ (rad) tangente ao
círculo.

O módulo da aceleração radial é resultado da variação na direção da velocidade que vimos


v2
ar = ac = . (22)
r
enquanto o módulo da aceleração tangente surge da mudança no módulo da velocidade da
partícula

d |⃗v | dv
at = = , (23)
dt dt
p 2
onde v= vx + vy2 . O módulo da aceleração é
q
a = a2r + a2t . (24)

Para cada ponto na trajetória, podemos denir o vetor unitário radial r̂ que aponta para
longe do centro do círculo e o vetor unitário angular θ̂ (em radiano ou rad) que é tangente ao
círculo (no sentido anti-horário) conforme a Figura 8. Por isso, podemos escrever

⃗a = −ar r̂ + at θ̂. (25)

21
Ex. 10: Um ponto em uma mesa giratória a 20,0 cm do centro acelera do repouso a uma módulo de
velocidade nal de 0,700 m/s em 1,75 s. Suponhamos que aceleração angular for constante.
Em t = 1, 25 s, encontre o módulo e a direção da

(a) aceleração radial;


Pegamos ti = 0, se aceleração angular for constante, o módulo da velocidade em tm =
1, 25 s é

vf
v = tm
tf
A aceleração radial é igual a aceleração centrípeta

v2
⃗ar = − r̂
r
 2
1 vf tm
= − r̂
r tf
 2
1 0, 700 m/s
= − 1, 25 s r̂
0, 200 m 1, 75 s
= −1, 25 m/s2 r̂.

(b) aceleração tangencial;


A aceleração tangencial é a mudança do módulo da velocidade no sentido θ̂
vf
⃗at = θ̂
tf
0, 700 m/s
= θ̂
1, 75 s
= 0, 400 m/s2 θ̂.

(c) aceleração total do ponto.


A aceleração total do ponto é

⃗a = −1, 25 m/s2 r̂ + 0, 400 m/s2 θ̂.

Ex. 11: Na Figura 9 podemos observar o movimento de três partículas, num certo instante t. Todas
elas deslocam-se no sentido anti-horário sobre círculos de raio 5,0 m, com velocidades variáveis
(direção e/ou módulo). Nestes instantes aparecem, indicados nas guras, também os vetores
aceleração e seus módulos. Em cada um dos instantes assinalados na gura, achar os vetores
velocidade e aceleração.

22
Figura 9: Figura para Ex. 11.

(a) A velocidade é

⃗v = arθ̂
p
= (20 m/s2 ) (5, 0 m)θ̂
= 10 m/sθ̂.
A aceleração é

⃗a = −ar̂
= −20 m/s2 r̂.

(b) A velocidade é

⃗v = acosθrθ̂
p
= (30 m/s2 ) cos30◦ (5, 0 m)θ̂
= 11 m/sθ̂.
A aceleração é

⃗a = −acosθr̂ + asenθθ̂
= − 30 m/s2 cos30◦ r̂ + 30 m/s2 sen30◦ θ̂
 

= −26 m/s2 r̂ + 15 m/s2 θ̂.

(c) A velocidade é

⃗v = acosθrθ̂
p
= (50 m/s2 ) cos45◦ (5, 0 m)θ̂
= 13 m/sθ̂.

23
A aceleração é

⃗a = −acosθr̂ − asenθθ̂
= − 50 m/s2 cos45◦ r̂ − 50 m/s2 sen45◦ θ̂
 

= −35 m/s2 r̂ + 35 m/s2 θ̂.

24

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