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INVARIANTES E QUADRIVETORES
Neste capı́tulo vamos introduzir de maneira mais formal o conceito de quantidades invari-
antes na relatividade. Já vimos, por exemplo, que a velocidade da luz é um invariante por
transformações de Lorentz, ou seja, tem o mesmo valor em qualquer referencial inercial. Vimos
também que a equação de onda do eletromagnetismo também é invariante por transformações
de Lorentz. Vamos definir melhor quantidades invariantes e obter outras quantidades que são
invariantes na relatividade. Para isso precisaremos do conceito de quadrivetores, que é a gene-
ralização para 4 dimensões dos vetores tridimensionais que conhecemos.
1
γ=�
u2
1− c2
x = 2, 0m , y = 1, 0m , z = 1, 0m , t = 3, 0s
�r = (x, y, z) = (2, 1, 1)
Distância à origem O:
√ � √ √
�r · �r = |r| = x2 + y 2 + z 2 = 4 + 1 + 1 = 6m ≈ 2, 45m
r2 = x2 + y 2 + z 2 = 6m2 é um escalar
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Em S � :
Se u = 1m/s, γ ≈ 1
√
|r� | = 3 ≈ 1, 7m é um escalar,
e além disso, à medida que o tempo passa, a coordenada x� muda de valor, o que altera o valor
acima. No referencial S não tem alteração do valor de |r|, pois a partı́cula está parada.
Claramente |r| �= |r� |. Será que existe alguma quantidade invariante relacionada às coor-
denadas, similar ao produto escalar dos vetores, mas que também leve em conta a coordenada
temporal?
A resposta é Sim, existe uma quantidade invariante s, que não depende do sistema de
referência, além de ser válida para qualquer instante de tempo. Esta quantidade é:
s2 ≡ c2 t2 − x2 − y 2 − z 2
No exemplo:
s2 = c2 32 − 22 − 12 − 12 = 9c2 − 6
No referencial S � :
� u �2
s�2 = γ 2 c2 t� + 2 x� − γ 2 (x� + ut� )2 − y �2 − z �2
� c �
�2 � u � u2 �2
2 2
= γ c t + 2t 2 x + 4 x − γ 2 (x�2 + 2x� ut� + u2 t�2 ) − y �2 − z �2
c c
� �
2 �2 � � u2 �2 �2 � � 2 �2
2
= γ c t + 2t ux + 2 x − x − 2x ut − u t − y �2 − z �2
c
� � 2
� � ��
2 �2 u �2 u2
2
=γ c t 1− 2 −x 1− 2 − y �2 − z �2
c c
1
usando γ 2 = 2 :
1− u2
c
s2 = c2 t�2 − x�2 − y �2 − z �2 = s�2
Vemos que essa quantidade tem a mesma forma do valor de s2 calculado no referencial S.
24
Usando as quantidades explı́citas do exemplo:
� u �2
s�2 = c2 γ 2 3 − 2 2 − γ 2 (2 − 3u)2 − 12 − 12
� c �
u u2
= c γ 9 − 12 2 + 4 2 − γ 2 (4 − 12u + 9u2 ) − 2
2 2
c c
� �
2 2 u2 2
= γ 9c − 12y + 4 2 − 4 + 12u − 9u − 2
c
� � 2
� � ��
2 2 u u2
= γ 9c 1 − 2 − 4 1 − 2 −2
c c
= 9c2 − 6
Portanto s2 = c2 t2 − x2 − y 2 − z 2 é um invariante por transformações de Lorentz. Ele possui
o mesmo valor em qualquer sistema de referência.
� �
A quantidade Δs = c2 Δt2 − Δx2 − Δy 2 − Δz 2 ou ds = c2 dt2 − dx2 − dy 2 − dz 2 é uma
“distância” ou “intervalo” no espaço-tempo de 4 dimensões, e tem um caráter absoluto.
A separação espacial é maior que a distância percorrida pela luz. Não existe relação causal
entre os pontos, ou dito de outra forma, não é possı́vel enviar uma informação ou sinal luminoso
entre os dois pontos.
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4.1.2 O intervalo de tempo próprio
Definimos o intervalo de tempo próprio dτ invariante como:
ds2 dx2 + dy 2 + dz 2
dτ 2 ≡ = dt 2
−
c2 c2
2 2
dz 2
dτ 2 dx
dt2
+ dy
dt2
+ dt2
vx2 + vy2 + vz2 v2
= 1 − =1− = 1 −
dt2 c2 c2 c2
Portanto: �
dτ v2 dt 1
= 1− 2 =� = γ(v)
dt c dτ 1− v2
c2
dt = γdτ se v = 0, dt = dτ
4.2 Quadrivetores
Vimos que a quantidade ct tem dimensão de espaço e juntamente com as outras componentes
espaciais forma uma quantidade invariante.
Em analogia com os vetores tridimensionais, �r = (x, y, z) por exemplo, vamos definir quan-
tidades vetoriais no espaço-tempo em 4 dimensões, chamados quadrivetores ou simplesmente
4-vetores.
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Definimos: xµ ≡ (x0 , x1 , x2 , x3 ) = (ct, −x, −y, −z).
O 4-vetor com ı́ndice ’em cima’, xµ , é chamado contravariante e o 4-vetor com ı́ndice ’em-
baixo’, xµ , é chamado covariante.
O chamado tensor métrico de Minkowski ηµν (ou gµν em alguns livros) definido por
1 0 0 0
0 −1 0 0
ηµν =
0 0 −1 0 = η
µν
0 0 0 −1
onde os ı́ndices µ e ν podem ser pensados como os elementos ’linha’ e ’coluna’ da notação
matricial. No entanto é melhor tomar cuidado com essa analogia, como ficará mais claro mais
a frente.
Da mesma forma xµ = η µν xν . Note que η µν e ηµν são responsáveis por ‘levantar’ e ‘abaixar’
os ı́ndices de um 4-vetor covariante e contravariante, respectivamente.
Veja que no caso geral de dois 4-vetores aµ e bν quaisquer, o produto escalar entre eles é
dado por: a · b = aµ bµ = aµ ηµν bν = a0 b0 + a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 .
� cu �
ct� = γ ct − 2 x
c
� uc
x = γ(x − t)
c
�
y =y
z� = z
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ou simplesmente:
� u
x0 = γ(x0 − x1 ) = γ(x0 − βx1 )
c
1� u 0
x = γ(x − x ) = γ(x1 − βx0 )
1
c
2� 2
x =x
�
x3 = x 3
u
onde β = c
e γ = √1 . Note a simetria que estas quantidades adquirem!
1−β 2
Em notação matricial, a transformação de Lorentz do 4-vetor posição é dada por:
0� 0
x γ −βγ 0 0 x
x1� −βγ γ 0 0 x 1
� =
x 0
2 0 1 0 x 2
�
x3 0 0 0 1 x3
Em notação tensorial:
�
xµ = Λµν xν = Λµ0 x0 + Λµ1 x1 + Λµ2 x2 + Λµ3 x3
Por exemplo:
0�
Λ0 0 = ∂x
∂x0
= γ;
�
∂x0
Λ0 1 = ∂x1
= −γβ;
�
0 ∂x0
Λ 2 = ∂x2 = 0;
�
∂x0
Λ0 3 = ∂x3
= 0;
�
∂x1
Λ1 0 = = −γβ;
∂x0
.
.
.
etc. Calcule todas as 16 componentes de Λµν .
28
Da mesma forma a transformação inversa:
� �
x0 = γ(x0 + βx1 )
� �
x1 = γ(x1 + βx0 )
�
x2 = x 2
�
x3 = x 3
ou em notação matricial: 0 0�
x γ βγ 0 0 x
x1 βγ γ 0 0 x1�
2 = �
x 0 0 1 0 x 2
�
x3 0 0 0 1 x3
Em notação tensorial:
� �
xµ = (Λµν )−1 xν = Λν µ xν
onde a matriz de transformação inversa de Lorentz é dada por:
γ βγ 0 0
βγ γ 0 0
Λν µ = (Λµν )−1 =
0
0 1 0
0 0 0 1
Todo 4-vetor (ou tensor de primeira ordem) se transforma da mesma maneira de um refer-
encial S para um referencial S � conforme a matriz de Lorentz Λµν .
v µ = (v 0 , v 1 , v 2 , v 3 )
onde
dxµ dxµ dt dxµ
vµ ≡ = = γ(v)
dτ dt dτ dt
ou
d
v µ = γ(v) (ct, x, y, z) = γ(v)(c, vx , vy , vz ) = γ(v)(c, �v )
dt
1
onde γ(v) = √ e v = |�v |.
1−v 2 /c2
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Note que a definição do 4-vetor velocidade é a derivada do 4-vetor posição xµ em relação
ao intervalo de tempo próprio dτ . Lembre-se que dτ é a medida de tempo no referencial de
repouso da partı́cula, portanto uma quantidade absoluta (veja Figura a seguir).
O fator γ(v) que aparece agora é como se um referencial hipotético S �� fosse colocado em
cima da ’partı́cula hipotética’ que realiza o deslocamento infinitesimal dxµ com velocidade �v
em relação a S.
� �
Exercı́cio: Componentes v 2 e v 3 : Seguindo os passos acima, obtenha as transformações
para vy� e vz� .
�
Exercı́cio: Calcule o produto escalar v µ vµ� no referencial de repouso S � da partı́cula.
Calcule o produto escalar v µ vµ no referencial S, e mostre que ambos são iguais a c2 , ou seja, a
velocidade da luz é um invariante, possui o mesmo valor em qualquer sistema de referência.
30
Movimento relativo entre os referenciais S e S’’
S S’’
y y’’
O’’ x’’
z’’
O x
S S’
y y’
v’ γ(v’)v’)
v γ(v’)v)
u, γ(v’)u)
x’
O’
O x
z’
z
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4.2.5 4-vetor aceleração
O quadrivetor aceleração é definido como:
aµ = (a0 , a1 , a2 , a3 )
onde
dv µ dv µ dt dv µ
aµ ≡ = = γ(v)
dτ dt dτ dt
ou � �
µ d dγ(v) dγ(v)
a = γ(v) [γ(v)(c, vx , vy , vz )] = γ(v) c , �v + γ(v)�a
dt dt dt
A transformação de aµ para o referencial S � é obtido por meio de:
� � � � �
aµ = (a0 , a1 , a2 , a3 )
tal que
�
aµ = Λµν aν ,
de forma totalmente análoga ao que foi feito para o 4-vetor velocidade. Obviamente também é
�
válida a notação matricial relacionando aµ e aµ .
E2
m20 c2 = − p2 ,
c2
ou
E 2 = m20 c4 + p2 c2 ,
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que representa a energia total da partı́cula em termos do seu momento p� e da massa de repouso
m0 . Em particular, se a partı́cula está parada p� = 0 obtemos a famosa relação
E 0 = m 0 c2 ,
que muitas vezes aparece apenas como E = mc2 , mas é preciso ficar claro que se trata da
energia de repouso E0 em função da massa de repouso m0 da partı́cula.
A energia total pode ser escrita como
� � �
2 v2
E = m20 c4 + p2 c2 = m20 c4 + γ 2 m20 v 2 c2 = m0 c 1 + γ 2 2 ,
c
que por sua vez pode ser escrita em forma de uma expansão quando a velocidade v << c
(γ � 1):
1 v2 1
E � m0 c2 (1 + 2 + . . . ) � m0 c2 + m0 v 2 + . . . ,
2c 2
e reconhecemos facilmente o segundo termo como a energia cinética usual da partı́cula somada
como a energia de repouso no primeiro termo.
33