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6.

4 Métrica de Schwarzschild
As métricas acima são casos particulares da métrica mais geral com simetria esférica,
chamada métrica de Schwarzschild, que é a métrica que descreve problemas do movimento
de partı́culas em torno de uma massa central, e também é o ponto de partida para se estudar
buracos negros. A métrica de Schwarzschild é dada por:
 
1 − 2GM
2
c r
0 0 0
 0 1
− 1− 2GM 0 0 
 
gµν =  2
c r . (6.4.1)
 0 0 −r 2
0 
0 0 0 −r2 sin2 θ

Esta métrica corresponde a um elemento invariante ds2 = gµν dxµ dxν dado por:
� �
2 2GM 2 2 1
ds = 1 − 2 c dt − dr2 − r2 dθ2 − r2 sin2 θdφ2 . (6.4.2)
cr 1 − 2GM
c2 r

Exercı́cio: Obtenha a métrica contravariante de Schwarzschild g µν tal que a relação g βδ gαδ =


δαβ seja satisfeita.

Exercı́cio: Considere o limite 2GM


c2 r
<< 1 e mostre que a expansão da métrica de Schwarzschild
até primeira ordem é a métrica usada no cálculo do desvio do periélio de Mercúrio.

Tendo a métrica, o próximo passo é calcular todas as componentes não-nulas da Conexão


Afim (6.3.2). Para a métrica de Schwarzschild são 13 componentes não nulas.

Exercı́cio: Obtenha as 13 componentes não-nulas da Conexão Afim Γλµν . Use as coorde-


nadas xµ = (t, r, θ, φ), fazendo c = 1 por simplicidade. Mostre que:
GM
Γ001 = Γ010 =
r2
− 2GM r
GM (r − 2GM )
Γ100 =
r3
GM
Γ111 = − 2
r − 2GM r
Γ122 = −r + 2GM
Γ133 = (−r + 2GM ) sin2 (θ)
1
Γ212 = Γ221 =
r
Γ233 = − sin(θ) cos(θ)
1
Γ313 = Γ331 =
r
cos(θ)
Γ323 = Γ332 =
sin(θ)
Todas as outras componentes são nulas.

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6.4.1 O desvio do periélio de Mercúrio
Agora que temos todas as componentes não-nulas da Conexão Afim para a métrica de
Schwarzschild, podemos obter quais são as equações que descrevem o movimento de uma
partı́cula em torno de uma massa central M . São estas equações que vão explicar correta-
mente o movimento de um planeta em torno do Sol por exemplo, e em particular as equações
que descrevem a precessão da órbita do planeta Mercúrio em torno do Sol. Para isso precisamos
obter as 4 equações (6.3.1). São elas:

Componente 0:
d 2 x0 µ
0 dx dx
ν
+ Γ µν = 0,
dτ 2 dτ dτ
que assume a seguinte forma, considerando as componentes não-nulas da Conexão Afim:

d 2 x0 0
0 dx dx
1 1
0 dx dx
0
+ Γ 01 + Γ 10 = 0,
dτ 2 dτ dτ dτ dτ
e finalmente:
d2 t GM dt dr
2
+2 = 0, (6.4.3)
dτ r(r − 2GM ) dτ dτ

Componente 1:
d 2 x1 µ
1 dx dx
ν
+ Γ µν = 0,
dτ 2 dτ dτ
d 2 x1 0
1 dx dx
0 1
1 dx dx
1 2
1 dx dx
2 3
1 dx dx
3
+ Γ 00 + Γ 11 + Γ 22 + Γ 33 = 0,
dτ 2 dτ dτ dτ dτ dτ dτ dτ dτ
� �
d2 r GM (r − 2GM ) � dt �2 GM � dr �2 � dθ �2 � dφ �2
+ − − (r − 2GM ) + sin2 (θ) = 0,
dτ 2 r3 dτ r(r − 2GM ) dτ dτ dτ
(6.4.4)

Componente 2:
d 2 x2 µ
2 dx dx
ν
+ Γ µν = 0,
dτ 2 dτ dτ
d 2 x2 1
2 dx dx
2 2
2 dx dx
1 3
2 dx dx
3
+ Γ 12 + Γ 21 + Γ 33 = 0,
dτ 2 dτ dτ dτ dτ dτ dτ
d2 θ 2 dr dθ � dθ �2
+ − sin(θ) cos(θ) = 0, (6.4.5)
dτ 2 r dτ dτ dτ

Componente 3:
d 2 x3 µ
3 dx dx
ν
+ Γµν = 0,
dτ 2 dτ dτ
d 2 x3 1
3 dx dx
3
dx3 dx1 dx2 dx3 dx3 dx2
+ Γ 13 + Γ331 + Γ323 + Γ332 = 0,
dτ 2 dτ dτ dτ dτ dτ dτ dτ dτ
d2 φ 2 dr dφ cos(θ) dθ dφ
+ +2 = 0. (6.4.6)
dτ 2 r dτ dτ sin(θ) dτ dτ

A solução deste complicado sistema de equações diferenciais acopladas é que vai fornecer a
trajetória da partı́cula sob ação de uma massa central. Não é nosso objetivo resolver esse sistema
completamente, mas podemos avançar um pouco para entender como se dá a contribuição para
o desvio do periélio de Mercúrio.

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Exercı́cio: Obtenha as Eqs. (6.4.3)-(6.4.6).

As Eqs. (6.4.3)-(6.4.6) podem ser simplificadas se considerarmos o movimento acontecendo


no plano caracterizado por θ = π/2 (em coordenadas esféricas). Desta forma a Eq. (6.4.5) se
anula e as demais ficam:
d2 t GM dt dr
+ 2 = 0, (6.4.7)
dτ 2 r(r − 2GM ) dτ dτ

d2 r GM (r − 2GM ) � dt �2 GM � dr �2 � dφ �2
+ − − (r − 2GM ) = 0, (6.4.8)
dτ 2 r3 dτ r(r − 2GM ) dτ dτ

d2 φ 2 dr dφ
+ = 0. (6.4.9)
dτ 2 r dτ dτ

A Eq. (6.4.7) possui uma primeira integral (em relação a dτ ) dada por:
� �−1
dt 2GM
=k 1− , (6.4.10)
dτ r

onde k é uma constante de integração. Da mesma forma, a Eq. (6.4.9) possui uma primeira
integral (em relação a dτ ) dada por:
dφ h
= 2, (6.4.11)
dτ r
onde h é uma constante de integração.

Exercı́cio: Derive as equações (6.4.10) e (6.4.11) em relação a τ para obter (6.4.7) e (6.4.9).

A Eq. (6.4.8) não está num formato apropriado para fornecer uma solução para a parte
radial. É mais fácil usarmos a expressão para o elemento invariante ds2 dado por (6.4.2), e
difinir o intervalo de tempo próprio dτ 2 = ds2 /c2 (assim como foi feito na Seção 4.1.2). Desta
forma obtemos a relação:
� �� �2 � �2 � �2
2GM dt 1 dr 2 dφ
1= 1− − −r . (6.4.12)
r dτ 1 − 2GM
r
dτ dτ

Substituindo (6.4.10), (6.4.11) e rearranjando os termos obtemos:


� �2 � �
dr h2 2GM 2GM
+ 2 1− − = k2 − 1 . (6.4.13)
dτ r r r

Exercı́cio: Obtenha (6.4.12) e (6.4.13).

Agora usamos a relação (6.4.11) para escrever a relação:

dr dr dφ h dr
= = 2 ,
dτ dφ dτ r dφ

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substituimos de volta em (6.4.13) e fazemos a mudança de variáveis u = 1/r, obtendo:
� �2
du k 2 − 1 2GM
+ u2 = 2
+ 2
u + 2GM u3 .
dφ h h

Finalmente, derivamos essa expressão em relação a φ para obtermos o resultado que querı́amos:

d2 u GM
2
+ u = 2 + 3GM u2 . (6.4.14)
dφ h
O último termo é o responsável por modificar a equação usual obtida por meio da mecânica
newtoniana, e será o responsável pela precessão da órbita do planeta. Este último termo é a
correção que se obtém na relatividade geral.

Exercı́cio: Obtenha (6.4.14).

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