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Universidade Federal do Ceará

Centro de Ciências
Departamento de Fı́sica

Relatividade Geral

Letı́cia de Carvalho Pontes Maranhão


Matrı́cula: 510827

Data: 12/10/2023
Professor: Geová Alencar

2023.1
Índice

1 Derivação da métrica de Schwarzschild 1


1.1 Inı́cio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Sı́mbolos de Christoffel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Tensor de Ricci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Coeficientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5 Teorema de Birkhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.5.1 Simetria esférica e geometria diferencial . . . . . . 10
1.5.2 Demonstração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1 Derivação da métrica de
Schwarzschild

A solução de Schwarzschild para as equações de Einstein descreve


o comportamento do campo gravitacional em volta de uma massa M
esférica e em repouso, em condições de vácuo. Aqui, desejo derivá-la
manualmente por meio da equação de campo de Einstein, trabalhando a
partir da métrica de Minkowski usada na relatividade especial. Utilizarei
as constantes c e G normalizadas (c = G = 1).

1
Equação de campo de Einstein: Rµν − Rgµν = 8πTµν
2

1.1 Inı́cio
Durante o cálculo, serão utilizadas coordenadas esféricas tradicionais
ρ, θ, ϕ.

x = ρ cos ϕsenθ (1.1)


y = ρsenϕsenθ (1.2)
z = ρ cos θ (1.3)

Reescrevendo o espaço usual de Minkowski, temos:

ds2 = dx2 + dy 2 + dz 2 − dt2 = dρ2 + ρ2 dθ2 + ρ2 sen2 θdϕ2 − dt2 (1.4)

Se r e t não variam, temos a geometria esférica simples, com ρ como raio


de curvatura.
ds2 = ρ2 (dθ2 + sen2 θdϕ2 ) (1.5)
2 1. Derivação da métrica de Schwarzschild

No espaço curvo, contudo, o raio não será simplesmente ρ, mas uma certa
função r = f (ρ, t) de modo que a equação ds2 = r2 (dθ2 + sen2 θdϕ2 )
p

seja respeitada.
 
gtt gtr gtθ gtϕ
g grr grθ grϕ 
Tensor métrico: gij =  rt (1.6)
 
 gθt gθr gθθ gθϕ 

gϕt gϕr gϕθ gϕϕ


A solução deve ser estática e possuir simetria esférica; portanto:

Simetria: grθ = grϕ = gθϕ = 0 (1.7)

Estaticidade: gtθ = gtϕ = gtϕ = gtr = 0 (1.8)


O mesmo vale para os simétricos dos termos acima mencionados. Com
isso, permanecem apenas os termos diagonais:
 
gtt 0 0 0
0 g 0 0 
rr
gij =  (1.9)
 
0 0 gθθ 0 

0 0 0 gϕϕ

Escrevendo ds2 de forma extensa:

ds2 = gtt dt2 + grr dr2 + r2 gθθ dθ2 + r2 sen2 θgϕϕ dϕ2 (1.10)

Busca-se agora uma solução para cada gii . Uma possı́vel generalização
da Eq. 1.4 seria a adoção de funções arbitrárias α(ρ), β(ρ) e ξ(ρ), tais
que:
h i
ds2 = α(ρ)dρ2 + β(ρ) ρ2 dθ2 + ρ2 sen2 θdϕ2 − ξ(ρ)dt2 (1.11)

Obs: A mesma função β(ρ) pode ser adotada para ambas as derivadas
angulares devido à simetria esférica. Ainda devemos definir uma função
f (ρ, t) para o novo raio de curvatura; seja ela r2 = f (ρ) = ρ2 β(ρ), e
sejam duas novas funções A(r)dr2 = α(ρ)dρ2 e B(r) = ξ(ρ).

ds2 = A(r)dr2 + r2 dθ2 + r2 sen2 θdϕ2 − B(r)dt2 (1.12)

Para conveniência futura, vale escrever A(r) e B(r) de forma exponencial.


Sejam a(r) e b(r) tais que:
ln A(r) ln B(r)
a(r) = ; b(r) = (1.13)
2 2
3

Substituindo:

ds2 = e2a dr2 + r2 dθ2 + r2 sen2 θdϕ2 − e2b dt2 (1.14)

Na forma matricial:

−e2b 0
   
gtt 0 0 0 0 0
0 g 0 0   0
  e 2a 0 0 
rr
gij =  = (1.15)
 
0 0 gθθ 0   0 0 r 2 0 

0 0 0 gϕϕ 0 0 0 r2 sen2 θ

O determinante do tensor métrico será det(gi j) = e2(a+b) r4 sen2 θ. Para


resolver para a(r) e b(r), é necessário usar o tensor de Ricci Rµν e, como
consequência, os sı́mbolos de Christoffel Γλµν .

∂Γλµν ∂Γλµν
Tensor de Ricci: Rµν = − + Γβµλ Γλνβ − Γβµν Γλβλ (1.16)
∂xν ∂xλ
1 λβ ∂gµβ ∂gνβ ∂gµν

Christoffel: Γλµν = g + µ − β (1.17)
2 xν x x

Como o tensor é diagonal, gii = 1/g ii e g ij = para i =


̸ j. Assim,
λβ
considerando apenas os Γ de coeficiente g não nulo:

1 ∂gµλ ∂gνλ ∂gµν


 
Γλµν = + µ − λ (1.18)
2gλλ xν x x

1.2 Sı́mbolos de Christoffel

Antes de encontrar os Γ, é necessário provar o seguinte lema: para


cada µ:

∂ 1 ∂g ∂gλβ
(ln |g|) = = g λβ (1.19)
∂xµ g ∂xµ ∂xµ
4 1. Derivação da métrica de Schwarzschild

Prova:
Adotamos g como o determinante de um tensor diagonal, tal que g = abcd
(produto dos 4 elementos diagonais). Ou seja,

∂ ∂ ∂ ∂ ∂
µ
(ln |g|) = µ
(ln |a|) + µ (ln |b|) + µ (ln |c|) + µ (ln |d|) (1.20)
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
Usando a regra da cadeia em cada derivada e multiplicando por abcd em
cima e embaixo, vemos que o resultado é uma regra do produto em g
multiplicada por g −1 :
∂ 1 1 ∂g
a′ bcd + ab′ cd + abc′ d + abcd′ =

(ln |g|) = (1.21)
∂xµ abcd g ∂x

Usando as propriedades do tensor métrico (gµν = 0 para µ = ̸ ν), podemos


simplificar bastante o problema, pois sempre que λ, µ e ν forem distintos
dois a dois, Γλµν = 0. Temos, então, dois casos não nulos:

Caso 1: µ = ν ̸= λ
   
1 ∂gµλ ∂gµλ ∂gµµ 1 ∂gµµ
Γλµµ = + µ − λ =− (1.22)
2gλλ xµ x x 2gλλ ∂xλ

Caso 2: ν = λ
   
1 ∂gµν ∂gνν ∂gµν 1 ∂gνν 1∂ µ
Γνµν = + − = + x (ln |gνν |) (1.23)
2gνν xν xµ xν 2gνν ∂xµ 2∂

Usando a Eq. 1.15, podemos determinar os sı́mbolos de Christoffel necessários.

Γ010 = Γ001 = b′ Γ100 = b′ e2(b−a)


Γ111 = a′ Γ122 = −re−2a
Γ12 = Γ221 = r−1
2 Γ33 = −re−2a sen2 θ
1

Γ313 = Γ331 = r−1 Γ323 = Γ332 = cot θ


Γ233 = − cos θsenθ

Tabela 1.1: Sı́mbolos de Christoffel não nulos.

Manipulando a Eq. 1.19, podemos escrever

∂ h i 1 ∂ 1 ∂gλβ 1 ∂gλλ
ln (|g|)1/2
= (ln |g|) = g λβ = g λλ (1.24)
∂xµ 2 ∂xµ 2 ∂xµ 2 ∂xµ
5

Na definição dos sı́mbolos de Christoffel, vamos trocar alguns ı́ndices: seja


µ = β, ν = λ e β = η (ı́ndice mudo).
 
1 ∂gβη ∂gλη ∂gβλ
Γλβλ = g λη + − (1.25)
2 xλ xβ xη

Como g λη = 0 se λ ̸= η:
   
1 λλ ∂gβλ ∂gλλ ∂gλλ 1 λλ ∂gλλ
Γλβλ = g + β − λ = g (1.26)
2 xλ x x 2 ∂xβ

Portanto, comparando as Eqs. 1.24 e 1.26:


 
∂ h i 1
λλ ∂gλλ
ln (|g|) 1/2
= g = Γλβλ (1.27)
∂xµ 2 ∂xβ

Na Eq. para a derivada do tensor de Ricci:

∂2 h i ∂Γλ ∂ h i
1/2 µν β λ β 1/2
Rµν = ln (|g|) − +Γµλ Γ νβ −Γ µν ln (|g|) = 0 (1.28)
∂xµ ∂xν ∂xλ ∂xβ

1.3 Tensor de Ricci


Para cada µ e ν, teremos uma componente Rµν , usando os sı́mbolos de
Christoffel da Tabela 1.1. Calculando cada um (omitirei os detalhes meramente
algébricos), temos, para os elementos da diagonal:

2b′
 
2(b−a) ′′ ′ ′ ′2
R00 = e −b + b a − b − (1.29)
r
2a′
R11 = b′′ + b′2 − b′ a′ − (1.30)
r
R22 = e−2a (1 + b′ r − a′ r) − 1 (1.31)
 −2a ′ ′
 2 2
R33 = e (1 + b r − a r) − 1 sen θ = R22 sen θ (1.32)

̸ ν. O primeiro termo à direita


Vamos agora trabalhar com os casos em que µ =
será, usando g = e2(a+b) r4 sen2 θ:

∂2 h i 1 ∂2
µ ν
ln (|g|)1/2 = (a + b + 2 ln |r| + ln |sen θ|) = 0 (1.33)
∂x ∂x 2 ∂xµ ∂xν
Cada termo só é função de r ou de θ, mas se está tomando derivadas em relação
a duas variáveis; cada termo será nulo. O próximo passo é expandir o segundo
termo.
∂Γλµν ∂Γλµν ∂Γµµν ∂Γβµν ∂Γνµν
− = − − − − (1.34)
∂xλ ∂λ ∂µ ∂β ∂ν
6 1. Derivação da métrica de Schwarzschild

Tanto Γλµν quanto Γβµν serão nulos, pois os ı́ndices são distintos dois a dois. Γνµν
e Γµµν se encaixam no Caso 2 anteriormente discutido e se reduzem segundo a
Eq. 1.23. Ao final:

∂Γµµν
     
∂ 1 ∂gµµ ∂ 1 ∂gνν
− µ =− µ − (1.35)
∂ ∂x 2gµµ ∂xν ∂xν 2gνν ∂xµ

Pela regra da cadeia:

∂Γµµν
     
∂ 1 ∂gµµ ∂ 1 ∂gνν
− µ =− µ −
∂ ∂x 2gµµ ∂xν ∂xν 2gνν ∂xµ
 2   2 
1 ∂ gµµ 1 ∂ gνν
− − (1.36)
2gµµ ∂ µ ∂ ν 2gνν ∂ ν ∂ µ
Apenas g33 é função de mais de uma variável; assim, os dois últimos termos
são nulos para gii com i = 0, 1, 2. Supondo agora que µ = 3 e gµµ = r2 sen2 θ.
Quando tomarmos a derivada em relação a xµ = x3 = ϕ, o resultado ainda será
zero. Assim, para i = 0, 1, 2, 3:

∂Γµµν
     
∂ 1 ∂gµµ ∂ 1 ∂gνν
− µ =− µ − (1.37)
∂ ∂x 2gµµ ∂xν ∂xν 2gνν ∂xµ

Em ambos, toma-se a derivada de gµµ (ou gνν ) em relação a duas variáveis.


Se µ = 0, 1, 2, os termos serão novamente nulos. Se µ = 3, ao ser tomada a
derivada em relação a xµ = x3 = ϕ, o termo também será nulo. Portanto, para
qualquer caso:
∂Γµµν
− µ =0 (1.38)

A equação Eq. 1.28 se reduz a:

∂ h i
Γβµλ Γλνβ − Γβµν ln (|g|)1/2
=0 (1.39)
∂xµ
Vamos expandir o terceiro termo. Omitindo os sı́mbolos nulos nos quais λ, µ e
ν são distintos, teremos:

Γβµλ Γλνβ = Γλµλ Γλνλ + Γβµβ Γβνβ + Γµµµ Γµµµ + Γνµν Γννν + 2Γνµµ + Γµνν (1.40)

Aqui, os 4 primeiros termos pertencem ao caso 2, e os 2 últimos, ao caso 1.


Com as equações 1.22 e 1.23, podemos escrever Γβµλ Γλνβ por extenso.
       
1 ∂gλλ 1 ∂gλλ 1 ∂gββ 1 ∂gββ
Γβµλ Γλνβ= + +
2gλλ ∂xµ 2gλλ ∂xν 2gββ ∂xµ 2gββ ∂xν
       
1 ∂gµµ 1 ∂gµµ 1 ∂gνν 1 ∂gνν
+ (1.41)
2gµµ ∂xµ 2gµµ ∂xν 2gνν ∂xµ 2gνν ∂xν
7
    
−1 ∂gµµ −1 ∂gνν
2
2gνν ∂xν 2gµµ ∂xµ
Todos os termos acima contêm uma derivada de um termo gii em relação xµ e
a xν . Como os gii são funções apenas de r e θ, µ e ν devem ser 1 e 2, a fim de
que os termos não sejam nulos. Sem perda de generalidade, seja µ = 1, ν = 2,
β = 0 e λ = 3. Teremos:
       
1 ∂gϕϕ 1 ∂gϕϕ 1 ∂gtt 1 ∂gtt
Γβµλ Γλνβ = + +
2gϕϕ ∂r 2gϕϕ ∂θ 2gtt ∂r 2gtt ∂θ
       
1 ∂grr 1 ∂grr 1 ∂gθθ 1 ∂gθθ
+ (1.42)
2grr ∂r 2grr ∂θ 2gθθ ∂r 2gθθ ∂θ
    
−1 ∂grr −1 ∂gθθ
2
2gθθ ∂θ 2grr ∂r
Substituindo cada gii e derivando, a equação se reduzirá a:
1 ∂ 1 ∂  cot θ
Γβµλ Γλνβ = r2 sen2 θ r2 sen2 θ =

(1.43)
2r2 sen2 θ
∂r 2 2
2r sen θ ∂θ r
Dessa forma, o terceiro termo de Rµν será nulo para qualquer µ e ν, com
execeção de R12 e R21 , quando será igual a cot θ/r.
Finalmente, vamos expandir o quarto termo da 1.28. Partindo da notação de
Einstein para a soma por extenso, teremos:
∂ h i ∂ h i ∂ h i
Γβµν β ln (|g|)1/2 = Γβµν β ln (|g|)1/2 + Γλµν λ ln (|g|)1/2 +
∂x ∂x ∂x
∂ h i ∂ h i
Γµµν µ ln (|g|)1/2 + Γνµν ν ln (|g|)1/2 (1.44)
∂x ∂x
Novamente, os primeiros dois termos serão nulos, pois possuem os três ı́ndices
distintos dois a dois. Os dois últimos termos se encaixam no caso 1.
   
β ∂ h 1/2
i 1 ∂gµµ ∂ h 1/2
i 1 ∂gνν ∂ h 1/2
i
Γµν β ln (|g|) = ln (|g|) + ln (|g|)
∂x 2gµµ ∂xν ∂xµ 2gνν ∂xµ ∂xν
(1.45)
Como antes, µ e ν devem ser 1 e 2 para que as derivadas sejam não nulas.
Tomando µ = 1 e ν = 2:
   
∂ h i 1 ∂grr ∂ h i 1 ∂gθθ ∂ h i
Γβµν β ln (|g|)1/2 = ln (|g|)1/2 + ln (|g|)1/2
∂x 2grr ∂θ ∂r 2gθθ ∂r ∂θ
(1.46)
 2
∂ h i 1 ∂r ∂ cot θ
⇒ Γβµν β ln (|g|)1/2 = 2 [ln |sen θ|] = (1.47)
∂x 2r ∂r ∂θ r
Ou seja, o quarto termo será nulo de Rµν para qualquer µ e ν, com exceção
de R12 = R21 , para os quais será − cot θ/r. Portanto, todos os Rµν com µ ̸= ν
serão zero, e poderemos trabalhar apenas com os Rµν calculados nas Eqs. 1.29
a 1.32.
8 1. Derivação da métrica de Schwarzschild

1.4 Coeficientes
Externamente à massa M considerada em nossos cálculos, todos os com-
ponentes do tensor de Ricci são zero. Assim, podemos tomar as Eqs. 1.29 a
1.32 como sistemas homogêneos de a e b para determinar uma métrica exata do
espaço em volta da massa M .
2b′
−b′′ + b′ a′ − b′2 − =0 (1.48)
r
2a′
b′′ + b′2 − b′ a′ − =0 (1.49)
r
e−2a (1 + b′ r − a′ r) − 1 = 0 (1.50)
2
R22 sen θ = 0 (1.51)

Somando as Eqs. 1.48 e 1.49, temos:


2(a′ + b′ )
− = 0 ⇒ a + b = cte. (1.52)
r
Sabemos que, no limite r −→ ∞, a métrica deve se reduzir à metrica de
Minkowski usual. Com isso, aplicamos o contorno:

para r −→ ∞, e2b −→ 1 e e2a −→ 1 (1.53)

Ou seja,
para r −→ ∞, b −→ 0 e a −→ 0 (1.54)
Usando a Eq. 1.52, podemos eliminar a e escrever a Eq. 1.50 na forma:

e2b + 2rb′ e2b = 1 (1.55)

O lado direito representa uma regra do produto da derivada de re2b cm relação


a r.
d(re2b )
=1 (1.56)
dr
Integrando em r e isolando e2b , com α como constante de integração:
α
e2b = 1 + (1.57)
r
Seja uma partı́cula de massa bastante reduzida, a fim de não perturbar o sistema
de forma significativa, liberada do repouso. Escrevendo a 1.14 para ela:

ds2 = −e2b dt2 (1.58)

Para intervalos temporais, podemos relacionar o tempo prórpio τ ao espaço-


tempo. Usando c = 1:
ds2 = −c2 dτ 2 = −dτ 2 (1.59)
9

Segue-se que:
 2
dt dt
= e−2b ⇒ = e−b (1.60)
dτ dτ
A mudança de variável de dt para dτ é útil devido à equação da geodésica, a
qual depende da derivada dxµ /dτ .

d2 xλ µ
λ dx dx
ν
Geodésica: + Γ µν (1.61)
τ2 dτ dτ
Vamos encontrar a geodésica para xλ = r no momento em que a partı́cula é
µ
solta (ou seja, dx
dτ = 0 para µ ̸= 0). O único termo não nulo será:
2
d2 r

dt
+ Γ100 =0 (1.62)
dτ dτ

Usando a Eq. 1.60 e o valor de Γ100 (Tabela 1.1):

d2 xλ
   
′ 2(b−a) −2b d 1 2b d 1 α α
= −(b e e =− e =− 1+ = 2 (1.63)
τ2 dr 2 dr 2 r 2r

Obtivemos, dessa forma, a relação entre a constante α e derivada da velocidade


em r. No limite de um campo gravitacional fraco, sabe-se que os resultados
devem corresponder ao campo previsto por Newton. Para G = 1:

d2 xλ α GM
= 2 = − 2 ⇒ α = −M (1.64)
τ2 2r r
Substituindo da Eq. 1.57 e lembrando que a = −b:
M 1
e2b = 1 − , e2a = e−2b = (1.65)
r 1− Mr

Finalmente, podemos usar esses valores na Eq. 1.14 e obter uma solução exata:

dr2
 
2 2M
ds = − 1 dt2 + 2M  + r2 dθ2 + r2 sen2 θdϕ2 (1.66)
r r −1

A Eq. 1.66 é a métrica de Schwarzschild.

1.5 Teorema de Birkhoff


O teorema de Birkhoff afirma que qualquer solução esfericamente simétrica
das equações de campo de Einstein (no vácuo) deve ser assintoticamente plana
e estática - ou seja, deve ser descrito pela métrica de Schwarzchild. A recı́proca
também é válida (teorema de Israel).
10 1. Derivação da métrica de Schwarzschild

1.5.1 Simetria esférica e geometria diferencial


Antes de derivar o teorema, faz-se necessário estabelecer alguns conceitos
importantes de geometria diferencial, a fim de manter o rigor matemático.

- Variedade (manifold): Uma variedade ou manifold diferenciável é um


espaço topológico localmente similar a um espaço vetorial euclidiano.

-Manifold pseudo-riemanniano: Um manifold psudo-riemanniano é


um manifold diferenciável com tensor métrico não degenerado em todo lugar.
Todo espaço tangente a ele pode ser descrito como um espaço vetorial pseudo-
euclidiano.

-Manifold lorentziano: Um manifold lorentziano é um manifold pseudo-


riemanniano no qual a métrica é do tipo (n − 1, 1). Na relatividade geral, o
espaço-tempo é descrito como um manifold lorentziano de métrica (3, 1).

Para o teorema de Birkhoff, interessam soluções esfericamente siétricas do


espaço-tempo - ou seja, manifolds lorentzianos 4D de métrica invariante sob
rotação. Uma propriedade importante desse tipo de manifold é que ele pode ser
folheado em esferas tridimensionais.

-Folheação: Uma folheação pode ser coloquialmente pensada como uma


decomposição de um manifold em submanifolds. Mais rigorosamente, define-se
uma folheação k-dimensional do manifold M como uma coleção de submanifolds
Li (folhas) tal que:
- ∪Li = M .
- Na vizinhança de cada ponto p, há um conjunto (U, x = (x1 , x2 ...xn )) tal
que U ∩ Li é descrito por xk+1 = ck+1 ...xn = cn , em que os ci são coeficientes
constantes.

1.5.2 Demonstração
Dada uma esfera S, para cada ponto, há um conjuto (U, x = (t, r, θ, ϕ)) tal
que U ∩ S é descrito por (t, r = constante). Vamos definir a seguinte superfı́cie
tridimensional:

Op = m ∈ M |há uma geodésica γ passando por m tal que γ(0) = p e γ̇(0) = v ∈ Tp⊥ S


Essa superfı́cie será, claramente, invariante diante de rotações, pois dois pontos
p e q distintos nunca serão parte da mesma esfera, e ortogonal a quaisquer
superfı́cies vizinhas. Além disso, as superfı́sicies ortogonais constituem um mapa
conforme das esferas. Isto é, definindo um mapa f do tipo

f : S1 → S2 , p → f (p) := Op ∩ S
11

pode-se demonstrar que f será bem definido; dois pontos não podem pertencer
à mesma esfera, um diefomorfismo local e invariante sob rotações. Ou seja,
localmente, a métrica terá a forma:
ds2 = dτ 2 (t, r) + Y 2 (t, r)dΩ2 (1.67)
Desenvolvendo a expressão:
ds2 = A(t, r)dt2 + 2B(t, r)drdt + C(t, r)dr2 + Y 2 (t, r)dΩ2 (1.68)
 
A B 0 0
B C 0 0 
Métrica: gij = 
0 0 Y 2
 (1.69)
0 
2 2
0 0 0 Y sen θ
Os autovalores da métrica serão:
1h p i
λ1,2 = A + C ± (A + C)2 − 4(AC − B 2 ) (1.70)
2
λ3 = Y 2 , λ4 = Y 2 sen2 θ (1.71)
Como a métrica é lorentziana, um dos valores deve ser negativo e os outros,
positivos. Ou seja, as funções devem obedecer a −AC − B 2 > 0. Definindo a
função D = D(t, r) tal que C = 2BD − AD2 , teremos:
1  p 
D= B ± B 2 − AC (1.72)
A
2 2 2 2
ds = A(dt + Ddr) + 2(B − AD)(dt + Ddr)dr + Y dΩ (1.73)
Vamos definir uma coordenada u = u(t, r) e funções W e H tais que, para uma
certa função f = f (t, r) :
∂f ∂f
du = f (dt + Ddr) = dt + 2 dr (1.74)
∂t ∂r
A B − AD
W = , H= (1.75)
f2 f
Aplicando à 1.73, obtemos a seguinte forma da métrica:
ds2 = W (u, r)du2 + 2H(u, r)dudr + Y 2 (u, r)dΩ2 (1.76)
Na forma matricial:
 
W H 0 0
H 0 0 0 
gij =   (1.77)
0 0 Y2 0 
0 0 0 Y 2 sen2 θ
H −1
 
0 0 0
H −1
0 0 0
g ij

=
 0 0 −W H −2 0

 (1.78)
 2 2
−1
0 0 0 Y sen θ
12 1. Derivação da métrica de Schwarzschild

Como antes, podemos obter os sı́mbolos de Christoffel não nulos:

Γuuu = H −1 (∂u H + ∂r W/2) Γrur = 2H −1 ∂r W


Γruu = 2H −2 [(∂u W − 2∂u H)W + H∂u W ] Γrrr = H −1 ∂r H
Γuθθ = −H −1 Y ∂r Y Γrθθ = H −2 (Y ∂r Y − H∂r Y )Y
Γθuθ = Γϕuϕ = Y ∂u Y Γθrθ = Γϕrϕ = Y ∂r Y
Γuϕϕ = sen2 θΓrθθ Γuϕϕ = sen2 θΓrθθ
Γθϕϕ = −senθ cos θ Γϕθϕ = (tan θ)−1

Tabela 1.2: Sı́mbolos de Christoffel não nulos.

Para a demonstração do teorema, os únicos componentes não nulos de Rµν


serão:  
2 2H ∂r Y
∂r H∂r Y − H∂r2 Y = −

Rrr = ∂r (1.79)
HY Y H
1
Ruu = W HY ∂r2 W − 2W HY ∂u ∂r H + 2W H∂r W ∂r Y
2H 3 Y
−4W H∂u H∂r Y − W Y ∂r W ∂r H + 2W Y ∂u H∂r H − 4H 3 ∂u2 + 2H 2 ∂u W ∂r Y )
(1.80)
−2H 2 ∂r W ∂u Y + 2H 2 ∂r H∂r Y )
1
Rur = −Y ∂r W ∂r H + 2Y ∂u H∂r H + HY ∂r2 W − 2HY ∂r ∂ − uH
2H 2
−4H 2 ∂r ∂u Y + 2H∂r W ∂r Y ) (1.81)
1
Rθθ = W HY ∂r2 Y + W H(∂r Y )2 − W Y ∂r H∂r Y + H 3 − 2H 2 ∂u ∂r Y
H3
−2H 2 ∂u Y ∂r Y + HY ∂r W ∂r Y ) (1.82)
Rϕϕ = Rθθ sen2 θ (1.83)
Como uma métrica lorentziana deve obedecer H ̸= 0, Rrr = 0 implica que
H = h(u)∂r Y com h(u) não nulo. Como dY = ∂u Y du + ∂r Y dr, podemos
reescrever a métrica em termos de (u, Y ).

ds2 = (W − 2h∂u Y )du2 + 2hdudY + Y 2 dΩ2 (1.84)

Sejam as variáveis ũ e r̃ definidas por dũ = hdu e r̃2 = Y 2 . Aplicando à métrica,


temos:
ds2 = W̃ dũ ± 2dũr̃ + r̃2 dΩ2 (1.85)
Ela possui a mesma forma da métrica na Eq. 1.76 - ou seja, os sı́mbolos de
Christoffel permanecem válidos fazendo u → ũ e r → r̃. Em particular, Rθθ = 0
terá a forma:
W̃ + r̃∂r̃ W̃ + 1 = 0 (1.86)
13

Essa expressão pode ser reescrita como:

∂r̃ W̃ 1
= − ⇒ ∂r̃ (ln W̃ + 1) = −∂r̃ ln r̃ (1.87)
W̃ + 1 r̃

Integração implica que, sendo M (ũ) uma função unicamente de ũ:

2M (ũ)
W̃ (ũ, r̃) = −1 (1.88)

Substituindo W̃ em Rũũ = 0:

1 dM (ũ)
=0 (1.89)
ũ2 dũ
Ou seja, M (ũ) é constante. Com isso, a métrica terá a forma:
 
2M
ds2 = − 1 − dũ2 ± 2dũdr̃ ± r̃2 dΩ2 (1.90)

Essa é a forma exata da métrica de Schwarzchild, provando o teorema.

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