Você está na página 1de 20

Equações Diferenciais Parciais: AULA 11

DITTER YATACO

UERJ

14 de Março de 2022
Recordemos o seguinte: Para o problema de Cauchy

a(x, y ) ux + b(x, y ) uy = c(x, y ), (x, y ) ∈ Ω,
(1)
u (σ(t), ρ(t)) = f (t), t ∈ I.

e a expressão
a (σ(t), ρ(t)) σ 0 (t)


∆(t) = .
b (σ(t), ρ(t)) ρ0 (t)

temos considerado 3 casos (e analisado 2).

CASO 1: ∆(t) 6= 0 para TODO t ∈ I.

Neste caso obtivemos que (1) tem uma única solução numa
vizinhança da curva inicial, isto é: o teorema de Existência e
Unicidade.
CASO 2: ∆(t) = 0 para TODO t ∈ I.
Isto significa que a curva inicial satisfaz
 0
σ (t) = λ(t) a (σ(t), ρ(t)) ,
(2)
ρ0 (t) = λ(t) b (σ(t), ρ(t)) .

onde λ(t) é definido em I. Isto é: a curva inicial é uma curva


característica plana.

Para Γ : t 7−→ (σ(t), ρ(t), f (t)), temos o seguinte:


Teorema
Se a curval inicial do problema (1) é uma caract. plana, temos
1. Se Γ for uma caract. espacial, o problema (1) tem infinitas
soluções.
2. Se Γ não for uma caract. espacial, o problema (1) não terá
solução.
CASO 3: Existem t0 , t1 ∈ I tais que ∆(t0 ) = 0 e ∆(t1 ) 6= 0.

Isto significa que a curva inicial é tangente a uma curva


característica plana em um determinado ponto.
O que acontecerá neste caso?

Para isto vamos considere o problema


(
uy = 0, (x, y ) ∈ R2 ,
(3)
u(1 − y 2 , y ) = f (y ), y ∈ R.

1◦ : a(x, y ) = 0, b(x, y ) = 1. Logo, as características planas

0 = 1 dx − 0 dy = dx =⇒ x =c

Então as curvas caract. planas são as retas verticais.


2◦ : Para a curva inicial x = 1 − y 2 temos o seguinte:

= 1 .3
2.

= .7

5


1.

2.
0
1

2
=

=
=
c y

c
c

c
c

c
0 1 x
• As caract. planas x = c, com c < 1 intersectam
à curva inicial em exatamente 2 pontos.
• A curva caract. plana x = 1 intersecta à curva
inicial no ponto (1, 0) de maneira tangente.
• As curvas característ. planas x = c, com c > 1
não intersectam à curva inicial.

3◦ : Note também que para qualquer vizinhança do ponto (1, 0)


(onde γ é tangente a uma caract. plana) temos:
I Sempre existe uma característica plana que intersecta γ
mais de uma vez.
I Existe outra característica plana que não intersecta γ.
Observação
A existência de uma característica plana intersectando γ mais
de uma vez obriga o dado inicial f a satisfazer alguma
condição para que exista solução.
I A existência de uma característica plana que não
intersecta γ faz com que solução, se existir, não seja
única, pois o valor da solução ao longo de tais
características não está determinado.
I Mesmo com a tangência, pode acontecer que, por cada
ponto de γ passe exatamente uma característica plana
que intersecta γ só nesse ponto: isto, de fato, permite
integrar ao longo das características planas, embora
possamos perder diferenciabilidade.
Exemplo (1)
Analisar o problema
(
ux (x, y ) = x 2 , (x, y ) ∈ R2 ,
(4)
u(t, t 3 ) = f (t), t ∈ R.

Solução:

1◦ : a(x, y ) = 1, b(x, y ) = 0. Logo


a (σ(t), ρ(t)) σ 0 (t)

1 1
= 3t 2 .

∆(t) = =
b (σ(t), ρ(t)) ρ0 (t) 0 3t 2

Assim
∆(t) = 3t 2 = 0 ⇐⇒ t = 0.
Logo temos tangencia no ponto (0, 0).
2◦ : As curvas características planas satisfazem

0 = 0 dx − 1 dy = −dy =⇒ y =c

A curva inicial é dada por y = x 3 , x ∈ R. E temos


y
c = 1.2

c = 0.5
c=0
0 x
c = −0.7
c = −1.2

A curva inicial é tangente à reta y = 0 em t = 0. Além disso,


cada característica plana intersecta γ em apenas um ponto.
3◦ : Da equação (4) obtemos

x3
u(x, y ) = + F (y ). (5)
3
Pela condição inicial

t3
f (t) = u(t, t 3 ) = + F (t 3 ).
3
t3 √
Logo F (t 3 ) = f (t) − . Então para t = 3 y , obtemos
3
√ y
F (y ) = f ( 3 y ) − . (6)
3

x3 − y √
Portanto a solução é dada por u(x, y ) = + f ( 3 y)
3
Observação

Como g(y ) = 3 y não é diferenciável, temos que a
diferenciabilidade de u(x, y ) depende da função f .

I Se f (y ) = y 3 , a solução é dada por

x3 − y x 3 2y
u(x, y ) = +y = + ,
3 3 3
a qual é C ∞ .

I Se f (y ) = y , a solução é dada por

x3 − y √
u(x, y ) = + 3 y,
3
que não é diferenciável em y = 0.
Exemplo (2)
Discuta a existência e unicidade do problema

5ux + 4uy = 0, (x, y ) ∈ R2 ,



(7)
u 5t, e4t − 1 = 4t − e4t , t ∈ R.


Solução:

1◦ : a(x, y ) = 5, b(x, y ) = 4. Logo


a (σ(t), ρ(t)) σ 0 (t) 5 5
 
= 20 e4t − 1 .

∆(t) = =
b (σ(t), ρ(t)) ρ0 (t) 4 4e4t

Assim
∆(t) = 0 ⇐⇒ e4t = 1 ⇐⇒ t = 0.
Logo temos tangencia no ponto (0, 0).
2◦ : As características são

0 = 4dx − 5dy = d (4x − 5y ) =⇒ 4x − 5y = k

A curva inicial é dada por t 7−→ 5t, e4t − 1 . E temos




−6 −4 =
0 3 5
= = k = =
y k k k k
k <0

k =0

k >0
x
3◦ : Observe o seguinte para as características 4x − 5y = k .
(i) Para k < 0, a característica 4x − 5y = k intersecta à curva
inicial em exatamente 2 pontos.

(ii) Para k = 0, a característica 4x = 5y intersecta somente


no ponto (0, 0) onde ela é tangente.

(iii) Para k > 0, a característica 4x − 5y = k NÃO intersecta a


curva inicial.
Logo, o plano cartersiano R2 é dividido em 3 conjuntos:
n o
• A = (x, y ) ∈ R2 ; 4x − 5y < 0 .
n o
• B = (x, y ) ∈ R2 ; 4x − 5y = 0 .
n o
• C = (x, y ) ∈ R2 ; 4x − 5y > 0 .
y B

x
C

4◦ : Seja C : s 7−→ (α(s), β(s)) uma curva característica. Logo


 0 d
α (s) = 5, (7) ds [u (α, β)] = 5 ux (α, β) + 4 uy (α, β)
0 ⇒
β (s) = 4. = 0.

Então u é constante ao longo das características planas.


Além disso, a curva inicial (x, y ) = (5t, e4t − 1) satisfaz
 
4x
y = exp − 1. (8)
5

5◦ : Análise de u no conjunto B.

1. Note que (0, 0) ∈ B. Além disso, também pertençe à curva


inicial. Logo, pela condição inicial obtemos
 
u(0, 0) = u 5(0), e4(0) − 1 = 4(0) − e4(0) = −1.

2. Como B é uma curva característica, então u é constante


ao longo de B. Assim

u(x, y ) = u(0, 0) = −1 para todo (x, y ) ∈ B. (9)


6◦ : Análise de u no conjunto A.

1) Seja (x, y ) ∈ A, então 4x − 5y < 0. Logo 4x − 5y = k ,


onde k < 0. Isto significa que (x, y ) pertence à reta de
equação
4x − 5y = k .
que é uma curva característica plana (contida em A).
y
A (x2 , y2 )

(x, y )

x
(x1 , y1 )
2) Sejam (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) os 2 pontos de interseção como
dado na figura acima. Como u é constante ao longo desta
característica, temos

u (x, y ) = u (x1 , y1 ) = u (x2 , y2 ) . (10)

Por outro lado


 
4x1 − k 4x1
y1 = e y1 = exp − 1. (11)
5 5

O que implica
 
4x1 4x1 k
− exp = −1
5 5 5
4x − 5y
= − 1. (12)
5
3) De (10), (11), (12) e condição inicial obtemos

u (x, y ) = u(x1 , y1 )
 x  x  
1 1
= u 5 · , exp 4 · −1
5 5
 
x1 4x1
= − exp
5 5
4x − 5y
= − 1.
5
4) Como (x, y ) foi arbitrário em A, temos

4x − 5y
u(x, y ) = − 1, ∀ (x, y ) ∈ A (13)
5
7◦ : De (9) e (13) temos que para todo (x, y ), com 4x − 5y ≤ 0

4x − 5y
u(x, y ) = − 1. (14)
5
8◦ : Na região C não temos interseção das características
planas com a curva inicial, logo existe uma infinidade de
soluções.

Como u é constante ao longo das características planas, todas


as soluções são da forma

u(x, y ) = f (4x − 5y ) , (15)

t
onde f ∈ C 1 é tal que f (t) = − 1, se t ≤ 0.
5

Você também pode gostar