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Aula teórica: 09 Tempo: 3 horas 30.09.2019


Tema 3: Integrais curvilíneas
. .

Objectivos
No fim desta aula, os estudantes devem ser capazes de:
• Calcular as integrais curvilíneas da primeira e da segunda espécies.
• Aplicar as integrais curvilíneas no cálculo de áreas de figuras planas e do trabalho realizado
por uma força ao longo de uma curva.
. .

3. Integrais curvilíneas

3.1. Integrais curvilíneas da primeira espécie

Seja C uma curva no plano R2 dada pela equação y = y(x), onde y(x) é uma equação definida
e diferenciável no intervalo [a; b].
Seja f (x, y) uma funcão definida em cada ponto (x, y) da curva C .
Agora construimos um conjunto de pontos Mi (xi ; yi ), i = 1, 2, 3, ..., n, que dividam a curva C
em n arcos elementares Si = M\ i−1 Mi e designamos por ∆Si ao comprimento de cada arco,
como se ilustra na figura abaixo.

Figura 1 (Partição da curva C em n arcos Si = M\


i−1 Mi elementares).

Para cada arco elementar Si escolhemos um ponto arbitrário (xi ; yi ) ∈ Si e formemos a soma
∑n
soma integral σn = f (xi , yi )∆Si
i=1

Definição 1 (Integral curvilínea da promeira espécie)


Se o limite de σn existe, quando o máximo de ∆Si tende para zero, e não depende da partição
da curva C e nem da escolha dos pontos (xi ; yi ), então diz-se integral curvilínea da primeira
espécie da função f (x, y) ao longo da curva C e designa-se por

n ∫
lim f (xi , yi )∆Si = f (x, y)ds,
max ∆Si →0
i=1 C

Onde, ds é o diferencial do arco formado pela curva C .

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3.1.1. Cálculo de integrais curvilineas da primeira especie

a) Curva C dada na forma Analítica √


Quando a curva C é dada por y = y(x), a ≤ x ≤ b, então ds = 1 + [y ′ (x)]2 dx e a integral
curvilínea da primeira espécie calcula-se através da fórmula:

∫ ∫b √
f (x, y)ds = f [x, y(x)] 1 + [y ′ (x)]2 dx
C a


3
Exemplo 1. Determinar a integral curvilínea (x + 4y 2 )ds, onde C é o arco da parábola
C
y = x2 no intervalo 0 ≤ x ≤ 1.

Resolução

∫ ∫1 ∫1 √
3 √ 1 3 25 5−1
(x + 4y )ds =
2
3
(x + 4x ) 1 + 4x2 dx = 2 2
(1 + 4x ) 2 d(1 + 4x ) = 
8 20
C 0 0

b) Curva dada na forma paramétrica


Quando a curva C é dada pelas equações x = x(t) e y = y(t), α ≤ t ≤ β , então ds =

[x′ (t)]2 + [y ′ (t)]2 dt e a integral curvilínea da primeira espécie é dada por:

∫ ∫β √
f (x, y)ds = f [x(t), y(t)] [x′ (t)]2 + [y ′ (t)]2 dt
C α


Exemplo 2. Calcule a integral xds, onde x = 2 cos t, y = 2 sin t e 0 ≤ t ≤ π4 .
C

Resolução
π π
∫ ∫4 √ ∫ √
4

xds = 2 cos t (−2 sin t) + (2 cos t) dt = 4 cos tdt = 2 2 


2 2

C 0 0

c) Curva dada na forma polar √


Quando a curva C é dada por ρ = ρ(θ), θ1 ≤ θ ≤ θ2 , então ds = [ρ′ (θ)]2 + ρ2 (θ)dθ e a
integral curvilínea da primeira espécie representa-se por:

∫ ∫θ2 √
f (x, y)ds = f (ρ cos θ, ρ sin θ) [ρ′ (θ)]2 + ρ2 (θ)dθ
C θ1

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3


π
Exemplo 3. Calcule a integral yds, onde ρ = cos θ, 0 ≤ θ ≤ .
2
C

Resolução
π π π
∫ ∫2 √ ∫ 2 ∫ 2
1
yds = ρ sin θ (− sin θ) + (cos θ) dθ = cos θ sin θdθ = − cos θd cos θ = 
2 2
2
C 0 0 0

Notas:

1) As fórmulas apresentadas anteriormente, para o cáculo de integral curvilínea de uma função


de duas variáveis, são análogas às utilizadas para uma função de três variaveis f (x, y, z), sobre
uma curva no espaco R3 .

2) A integral curvilinea da primeira especie não depende do sentido considerado para per-
correr a curva C , isto é, se A e B são as extremidades da curva C , entao
∫ ∫
f (x, y)ds = f (x, y)ds.
d
AB d
BA

3) Se a função f (x, y) for interpretada como densidade linear da curva C , então a in-
tegral curvilínea representa a massa dessa curva.

3.2. Integrais curvilíneas da segunda espécie

Definição 2 (Integrais curvilíneas da segunda espécie).



− −
→ −

Seja F = P i + Q j um campo vectorial cujas projecções sobre os eixos OX e OY são
as funções P (x, y) e Q(x, y), respectivamente, definidas nos pontos da curva regular C .

→ −
→ −
→ −

Seja −
→r = x i + y j um vector posição do ponto (x, y) em C , tal que d→ −r = i dx + j dy ,
então a integral curvilínea da segunda espécie é definida por
∫ ∫

→ → −
F · d r = P (x, y)dx + Q(x, y)dy
C C

3.2.1. Calculo da integral curvilinea da segunda espécie

a) Curva dada na forma analitica


Se a curva C é dada na forma y = y(x), a < x < b, a integral curvilínea da seguda espécie
calcula-se através da fórmula

∫ ∫b
P (x, y)dx + Q(x, y)dy = [P (x, y) + Q(x, y) · y ′ (x)]dx
C a

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Exemplo 4. Calcular a integral curvilinea 6x2 ydx + 10xy 2 dy ao longo da curva y = x3 , a
C
partir do ponto A(1, 1) até ao ponto B(2, 8).

Resolução

∫ ∫2
6x2 ydx + 10xy 2 dy = (6x5 + 10x7 · 3x2 )dx = 3132 
C 1

b) Curva dada na forma parametrica


Se a curva C é dada pelas equações x = x(t) e y = y(t), α ≤ t ≤ β , o integral curvilíneo da
segunda espécie calcula-se pela formula:

∫ ∫β
P (x, y)dx + Q(x, y)dy = {P [x(t), y(t)] · x′ (t) + Q[x(t), y(t)] · y ′ (t)}dt
C α


Exemplo 5. Determinar a integral curvilinea xdx − ydy , onde C é o arco da circunfe-
C
rencia dada por x = 2 cos t, y = 2 sin t.
i) Considere a orientação de A(2, 0) ao ponto B(0, 2), no sentido anti-horário.
ii) Tome o sentido oposto ao considerado em i).

Resolução

d , temos a variação do ângulo 0 ≤ t ≤ π . Deste modo,


i) Considerando a orientação AB 2
π π
∫ ∫2 ∫2
xdx − ydy = −8 sin t cos tdt = −4 sin 2tdt = −4.
d
AB 0 0
π
∫ ∫0 ∫2
ii) xdx − ydy = −8 sin t cos tdt = 4 sin 2tdt = 4 
d
BA
π
2
0

Notas:

1) Fórmulas análogas são válidas para o cálculo da integral curvilinea da segunda espécie sobre
uma curva no espaço R3 .

2) O integral curvilineo da segunda espécie, depende do sentido considerado para percorrer


a curva C , isto é, se A e B são as extremidades da curva C , então
∫ ∫
P (x, y)dx + Q(x, y)dy = − P (x, y)dx + Q(x, y)dy
d
AB d
BA

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3.2.2. Independência da trajectória na integral curvilínia da segunda espécie

Teorema 1 (Independência da trajectória na integral curvilínia da segunda espécie).


Se as funções P (x, y) e Q(x, y), juntamente com as suas derivadas parciais da primeira ordem,
são continuas em uma região simplesmente conexa D contendo a curva C, então a integral

∂Q ∂P
P (x, y)dx + Q(x, y)dy não depende da trajectória em D se e somente se = .
∂x ∂y
C

∫ ( )
2 2
Exemplo 6. Considere a integral 2xydx + x + dy .
y
C
a) Motre que a interal dada não depende da trajectória.

b) Mostre que a integral dada, desde o ponto A(0, 1) até B(3, 4) da curva C , tem o mesmo
valor se:

i) a curva C for dada por y = x + 1


ii) a curva C for dada por y = (x − 1)2
iii) a curva C for dada pela linha quebrada ACB , onde C(3, 1) (veja a figura abaixo).

Figura 2 (Representação das trajectórias descritas em i), ii) e iii)).

Resolução
∂Q ∂P
a) = = 2x. Portanto, pelo teorema 1, a integral não depende da trajectória.
∂x ∂y
b) Agora calculemos o valor da integral dada, considerando as trajectórias i), ii) e iii):
∫ ( ) ∫3 [ ( )]
2 2 2 2
i) 2xydx + x + dy = 2x(x + 1) + x + dx = 36 + 4 ln 2
y x+1
C 0
∫ ( ) ∫3 [ ]
2 2
ii) 2
2xydx + x + dy = 2 x(x − 1) + x − x +
2 3 2
dx = 36 + 4 ln 2
y x−1
C 0
∫ ( ) ∫3 ∫4 [ ( )]
2 2
iii) 2
2xydx+ x + 2
dy = [2x+(x +1)·0]dx+ 6y · 0 + 3 +
2
dy = 36+4 ln 2 
y y
C 0 1

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Teorema 1 (integral curvilinea da diferencial exacta)

Sejam A(x0 , y0 ) e B(x1 , y1 ) dois pontos da curva C compreendida totalmente em um deter-


minado conjunto simplesmente conexo. Considere também que as funções P (x, y) e Q(x, y),
∂Q ∂P
juntamente com as suas derivadas parciais da primeira ordem, são continuas e = .
∂x ∂y
Então, existe uma função diferenciável u(x, y) tal que du = P (x, y)dx + Q(x, y)dy e a integral
curvilínea não depende da trajectória C , pelo que é válida a fórmula:

∫ ∫B B

P (x, y)dx + Q(x, y)dy = du = u = u(x1 , y1 ) − u(x0 , y0 )
A
C A

Suponhamos que as funções P (x, y) e Q(x, y) estão definidas num ponto arbitrário (x0 , y0 ),
então a função u(x, y), do teorema anterior, pode ser determinada através das fórmulas:
∫x ∫y
i) u(x, y) − u(x0 , y0 ) = P (x, y0 )dx + Q(x, y)dy
x0 y0
∫y ∫x
ii) u(x, y) − u(x0 , y0 ) = Q(x0 , y)dy + P (x, y)dx
y0 x0


(3,4) ( )
2 2
Exemplo 7. Calcular a integral 2xydx + x + dy , apresentada no exemplo 6.
y
(0,1)

Resolução ( )
∂Q ∂P 2 2
Observe que = = 2x, então existe u(x, y) tal que du = 2xydx + x + dy
∂x ∂y y
Seja o ponto (0, 2) e determinemos u(x, y), isto é,
∫x ∫y ( )
2
u(x, y) = 2xdx + 2
x + dy = 2x2 + x2 (y − 2) + 2(ln y − ln 2) = x2 y + 2 ln y − ln 2
y
0 2

(3,4) ( ) (3,4)
2
Deste modo, 2
2xydx + x + dy = (x y + 2 ln y)
2
= 36 + 2 ln 2 
y (0,1)
(0,1)

Teorema 2(Fórmula de Green).

Sejam P (x, y) e Q(x, y) duas funções definidas numa região fechada D , cuja fronteira é de-
finida pela curva C percorrida no sentido positivo (sentido anti-horário). Suponhamos ainda
que as funções P e Q têm derivadas parciais continuas em D , então é válida a fórmula de Green
I ∫∫ ( )
∂Q ∂P
P (x, y)dx + Q(x, y)dy = − dxdy
∂x ∂y
C D

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7

I
Exemplo 8. Calcule a integral −y 2 dx + x2 dy , onde C é o contorno do triângulo cujos
C
vértices são os pontos A(0, 0), B(0, 1) e C(1, 0), percorrido no sentido positivo.

Resolução

Figura 3 (Representação da trajectória considerada).

I ∫∫ ∫1 ∫1−x ∫1
2
−y dx + x dy =
2 2
2(x + y)dxdy = 2 dx (x + y)dy = (1 − x2 )dx = 
3
C D 0 0 0

3.2.2. Aplicação da integral curvilínea

a) Cálculo de áreas de figuras planas

Considera a área de uma região plana e fechada D , cuja fronteira é definida pela curva C
percorrida no sentido positivo. Então, efctuando as escolhas adequadas de P e Q para garan-
∂Q ∂P
tir o cumprimento da condição − = 1, a área de D pode ser determinada através das
∂x ∂y
seguintes integrais:
I I I
1
i) Area(D) = xdy ii) Area(D) = − ydx iii) Area(D) = xdy − ydx
2
C C C

2 2 2
Exemplo 9. Determinar a área da astróide x 3 + y 3 = a 3 , a > 0

Resolução
Reescrevemos a equação desta linha em coordenadas paramétricas, isto é,
x = a cos3 t e y = a sin3 t, 0 ≤ t ≤ 2π .
I
1
Vamos aplicar a fórmula iii), isto é, Area(D) = xdy − ydx
2
C
3a2 3a2
Observe que xdy − ydx = 3a2 cos2 t sin2 tdt = sin2 2tdt = (1 − cos 4t)dt
4 8
I I2π
1 3a2 3πa2
Area(D) = xdy − ydx = (1 − cos 4t)dt = 
2 16 8
C 0

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8



b) Trabalho de uma força F

→ →
− −
→ −

O trabalho w de uma força F = P i + Q j + R k , cujas projecções sobre os eixos OX , OY
e OZ , são as funções P (x, y, z), Q(x, y, z) e R(x, y, z), respectivamente, ao longo do trajecto
C , é expresso pela integral
∫ ∫

→ − →
w= F · d r = P (x, y, z)dx + Q(x, y, z)dy + R(x, y, z)dz
C C

→ −
→ −
→ −

onde, −→
r = x i + y j + z k é o vector posição do ponto (x, y, z) em C e d−

r = i dx +

− −

j dy + k dz .

Exemplo 10. Seja C a parte da parábola y = x2 que se encontra entre os pontos A(0, 0)

→ →
− −

e B(3, 9) e considere F (x, y) = −y i + x j uma força que actua sobre esta curva.


Determinar o trabalho realizado por F de A a B ao longo da curva C .

Resolução

Figura 4 (Representação de alguns vectores de força F actuando sobre C ).

Na figura anterior, cada vector de força F(x, y) é ortogonal ao vector posição r(x, y) =

→ −

x i +y j .

→ −
→ −
→ −
→ →

Agora tomemos F = −y i + x j e d− →r = i dx + j dy . Então, o trabalho realizado pela força


F de A a B ao longo da curva C é dado por

∫ ∫ ∫3 ∫3

→ −
w= F · d→
r = −ydx + xdy = (2x − x )dx =
2 2
x2 dx = 9 .
C C 0 0

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