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(FGV – 2013) (C8H27) – Questão 22

1 Sr. Diretor do Imposto de Renda:


2 (...)
3 Minha dúvida, meu problema, Sr. Diretor, consiste na desconfiança de que sou, tenho sido
a vida
4 inteira um sonegador do Imposto de Renda. Involuntário, inconsciente, mas de qualquer forma
sonegador.
5 Posso alegar em minha defesa muita coisa: a legislação, embora profusa e até florestal, é
omissa ou não

6 explícita; os itens das diferentes cédulas não preveem o caso; o órgão fiscalizador jamais
cogitou disso;
7 todo mundo está nas mesmas condições que eu, e ninguém se acusa ou reclama contra si mesmo.
8 Contudo, não me conformo, e venho expor-lhe lealmente as minhas rendas ocultas.

9 A lei manda cobrar imposto a quem tenha renda líquida superior a determinada
importância; parece
10 claro que só tributam rendimentos em dinheiro. A seguir, entretanto, a mesma lei declara: “São
também
11 contribuintes as pessoas físicas que perceberem rendimentos de bens de que tenham a posse,
como se lhes

12 pertencessem.” E aqui me vejo enquadrado e faltoso. Tenho a posse de inúmeros bens que não
me
13 pertencem e que desfruto copiosamente. Eles me rendem o máximo, e nunca fiz constar de minha
14 declaração tais rendimentos.
15 Esses bens são: o Sol, para começar do alto (só a temporada de praia, neste verão que
acabou, foi uma
16 renda fabulosa); a Lua, que, vista do terraço ou da calçada da Avenida Atlântica, diante do mar,
me rendeu

17 milhões de cruzeiros-sonho; (...) as crianças brincando no play-ground ou a caminho da


escola; em
18 particular, três meninos que vêm e vão pelo ar, tão moleques e tão rendosos para este coração;
(...) certos
19 prazeres como andar por andar, ver figura em edições de arte, conversar sem sentido e sem
cálculo, um

20 filmezinho como Le petit poisson rouge, em que o gato salva o peixe para ser gentil com o
canário,
21 indicando um caminho aos senhores da guerra fria; e isso e aquilo e tudo mais de alta
rentabilidade... não
22 em espécie.
23 Estes os meus verdadeiros rendimentos, senhor; salários e dividendos não computados na
1
declaração.
24 Agora estou confortado porque confessei; invente depressa uma rubrica para incluir esses
lucros e taxe-me
25 sem piedade. Multe, se for o caso; pagarei feliz.
26 Atenciosas saudações.
Carlos Drummond de Andrade, Cadeira de balanço.

2
Questão 4 - Atenda ao que se pede.

A Reescreva o trecho “embora profusa e até florestal” (L. 5), substituindo a conjunção e os adjetivos
por expressões equivalentes e introduzindo um verbo, sem alterar o sentido do texto.
Resposta:
“Mesmo que (Ainda que etc.) seja abundante (extensa, copiosa, prolixa) e até complicada
(complexa,
labiríntica, emaranhada).”

B As palavras “renda (s)” e “rendimentos”, usadas várias vezes no texto, apenas no final foram
substituídas por “lucros” (L. 24). Que palavras poderiam substituir “rendosos” (L. 18) e “rentabilidade”
(L. 21), tendo em vista o contexto?
Resposta:
Seguindo o mesmo padrão da substituição feita pelo autor, os termos são: “lucrativos” e
“lucratividade”.

(UFMG – 2012) (C6H18) – questão 23

Texto I
EM DEFESA DOS ADJETIVOS

Muitas vezes nos mandam cortar nossos adjetivos. O bom estilo, conforme dizem, sobrevive
perfeitamente sem eles; bastariam o resistente arco dos substantivos e a flecha dinâmica e onipresente dos
verbos. Contudo, um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo. A luz azul se infiltra pelas
janelas frias, as lâmpadas fluorescentes emitem um murmúrio débil.
Substantivos e verbos bastam apenas a soldados e líderes de países totalitários. Pois o adjetivo é o
imprescindível avalista da individualidade de pessoas e coisas. Vejo uma pilha de melões na bancada de uma
quitanda. Para um adversário dos adjetivos, não há dificuldade: “Melões estão empilhados na bancada da
quitanda.” Todavia um dos melões é pálido como a tez de Talleyrand quando discursou no Congresso de
Viena; outro é verde, imaturo, cheio de arrogância juvenil; outro ainda tem faces encovadas e está perdido
num silêncio profundo e fúnebre [...]
Vida longa ao adjetivo! Pequeno ou grande, esquecido ou corrente. Precisamos de você, esbelto e
maleável adjetivo que repousa delicadamente sobre coisas e pessoas e cuida para que elas não percam o
gosto revigorante da individualidade. Cidades e ruas sombrias se banham de um sol pálido e cruel. Nuvens
cor de asa de pombo, nuvens negras, nuvens enormes e cheias de fúria, o que seria de vocês sem a retaguarda
dos voláteis adjetivos?
A ética também não sobreviveria um dia sem adjetivos. Bom, mau, sagaz, generoso, vingativo,
apaixonado, nobre – essas palavras cintilam como guilhotinas afiadas.
E também não existiriam as lembranças não fosse pelo adjetivo. A memória é feita de adjetivos. Uma
rua comprida, um dia abrasador de agosto, o portão rangente que dá para um jardim e ali, em meio aos pés
de groselha cobertos pelo pó do verão, os teus dedos despachados... (tudo bem, teus é pronome possessivo).

Texto II
Vamos chamar de nomes um grupo dc itens tradicionalmente chamados “substantivos” e
“adjetivos”: os nomes, nessa definição, são uma subclasse dos nominais.

PERINI, Mario. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola.


2010. p. 300.
a) Apresente dois argumentos de que o autor se vale, no Texto 1, para defender o emprego do adjetivo.

b) Relacionando o conteúdo dos textos e 2, analise a principal diferença entre eles.

Respostas:

Segundo Adam Zagajewski, o adjetivo é imprescindível para tranferir individualidade e sibjetividade


aos seres em geral, definidos fria e objetivamente pelos subjetivos ("um mundo sem adjetivos é triste como um
hospital no domingo", "cuida para que elas não percam o gosto revigorante da individualidade"). Além do
mais, o autor defende a sua utilização na ética para distinguir as ações de quem as pratica, colocando em
evidência as suas qualidades ou seus defeitos ("Bom, mau, sagaz, generoso, vingativo, apaixonado, nobre -
esssas palavras cintilam como guilhotinas afiadas"). Também as lembranças são resgatas pela sbjetividade de
quem evoca momentos do passado para registrar as sensações que apenas os adjetivos conseguem expressar
("E tambén ão existiram as lembranças não fosse pelo adjetivo. A memória é feita de adjetivos. Uma rua
comprida, um dia abrasador de agosto, o portão rangente").
Enquanto o texto 1 categoriza substantivos e adjetivos como classes distintas que nomeiam ou
caraxterizam os seres, o texto 2 propõe que se atribua a essas duas classes uma única designa.ão ("nomes"),
como uma subclasse dos nominais (substantivos, artigos, adjtivos, numerais e pronomes).
Questão 5 - Leia o seguinte texto.

A existência de todo grupo social pressupõe a obtenção de um equilíbrio relativo entre as


suas necessidades e os recursos do meio físico, requerendo, da parte do grupo, soluções mais
ou menos adequadas e completas, das quais depende a eficácia e a própria natureza daquele
equilíbrio. As soluções, por sua vez, dependem da quantidade e qualidade das necessidades a
serem satisfeitas. São estas, portanto, o verdadeiro ponto de partida, todas as vezes que o
sociólogo aborda o problema das relações do grupo com o meio físico.
Com efeito, as necessidades têm um duplo caráter natural e social, pois se a sua
manifestação primária são impulsos orgânicos, a satisfação destes se dá por meio de iniciativas
humanas que vão-se complicando cada vez mais, e dependem do grupo para se configurar. Daí
as próprias necessidades se complicarem e perderem em parte o caráter estritamente natural,
para se tornarem produtos da sociedade. De tal modo a podermos dizer que as sociedades se
caracterizam, antes de mais nada, pela natureza das necessidades de seus grupos, e os recursos
de que dispõem para satisfazê-las.
O equilíbrio social depende em grande parte da correlação entre as necessidades e sua
satisfação. E
sob este ponto de vista, as situações de crise aparecem como dificuldade, ou impossibilidade de
correlacioná-las.
Antonio Candido, Os parceiros do Rio
Bonito.

A Segundo o texto, as necessidades dos grupos sociais têm um “duplo caráter”. O que distingue um
caráter do outro?
Resposta:
Um é natural e o outro, social. O primeiro compreende as manifestações primárias, os impulsos
orgânicos,
que, para serem satisfeitos, pressupõe o segundo, que compreende as iniciativas humanas e que
depende do grupo para se configurar.
Grade de pontuação:
Receberá 100% dos pontos correspondentes a resposta correta e completa. Caso haja erro
gramatical ou
estrutural, haverá desconto de até 50% dos pontos.

B Atenda ao que se pede:


a) O referente dos pronomes sublinhados em “satisfazê-las” e “correlacioná-las” é o mesmo?
Explique.
Resposta:
Não. O primeiro pronome tem como referente “necessidades de seus grupos”; o segundo, “as
necessidades
e sua satisfação”.
Grade de pontuação:
Receberá 100% dos pontos correspondentes a resposta correta e completa. Resposta correta
apenas para
um dos pronomes receberá 25% dos pontos. Erro gramatical ou estrutural poderá redundar em
desconto, dependendo da gravidade do desvio.

b) Reescreva a frase “todas as vezes que o sociólogo aborda o problema das relações do grupo
com o meio físico”, pondo o verbo na voz passiva.
Resposta:
“todas as vezes que o problema das relações do grupo com o meio físico é abordado pelo
sociólogo”
Grade de pontuação:
Receberá 100% dos pontos correspondentes a resposta correta e completa. Posicionamento
incorreto de
elementos da nova frase redundará em desconto proporcional ao desvio.

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