Você está na página 1de 6

Ministério da Educação

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ


Campus Curitiba

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA DE


MÉTODOS MATEMÁTICOS

Demian Almeida Passos de Lara, demianlara@gmail.com


Petrônio Paulo de Souza Neto, eng.petronio@gmail.com

Resumo: O presente trabalho visa a obtenção da solução analítica da condução de calor unidimensional
transiente em uma placa semi-infinita com geração de calor utilizando a técnica da transformada integral.

1. INTRODUÇÃO

A solução analítica de Equações Diferenciais Parciais (EDP’s) da equação do calor torna-se mais complexa quando
envolve geração calor e condições de contorno não homogêneas. O método de separação de variáveis neste caso é
inviável. Portanto, outros métodos devem ser usados para a solução deste tipo de problema. Hahn e Özişik (2012) cita
duas ferramentas matemáticas capazes de resolver essas EDP’s: Função de Green e Técnica da Transformada Integral.
Neste trabalho é utilizada a Técnica da Transformada Integral para buscar a solução analítica da condução do calor
unidimensional transiente em uma placa semi-infinita com geração de calor.

2. TÉCNICA DA TRANSFORMADA INTEGRAL

A técnica da transformada integral é uma ferramenta sistemática, eficiente e direta para a solução de EDP’s com
condições de contorno homogêneas e não-homogêneas, em regime permanente ou transiente, em problemas de
condução de calor. Nesse método, as derivadas parciais de segunda ordem em relação as variáveis do espaço são
removidas da EDP da condução do calor. Por exemplo, em problemas transientes a derivadas parciais com relação ao
espaço são retiras e a EDP é transformada em uma Equação Diferencial Ordinária (EDO) de primeira ordem com
relação apenas ao tempo.
Essa técnica deriva do método clássico de separação de variáveis. Além disso, nesse método são utilizadas as
autofunções, autovalores e a norma na construção do par da transformada integral.
A solução de um problema de condução de calor unidimensional de um meio semi-infinito usando a transformada
integral pode ser resumida em três passos:

1. Desenvolver um par apropriado de transformação integral. Esse par é obtido considerando um problema de
autovalor apropriado da EDP e então representando a função T(x,t), definida no intervalo 0 ≤ x ≥ ∞, em termos
de autofunções do problema de autovalor. Assim, são obtidas a transformação integral, Eq.(1), e a fórmula de
inversão, Eq.(2).


T ( β,x )
T ( x,t ) = ∫ T ( β,t ) dβ
β=0 N ( β )


T (β,t ) = ∫ T ( β,x' ) T(x',t)dx'
x'=0

2. Remover a derivada parcial ∂2T / ∂x2 da EDP pela aplicação da transformada integral, utilizando o problema de
autovalor e as condições de contorno.
3. Resolver a EDO resultante da temperatura transformada utilizando a condição inicial transformada. Inverter a
transformação da temperatura pela fórmula da inversão para obter a solução desejada.

3. SOLUÇÃO DA EDP PELA TRANSFORMADA INTEGRAL

2
∂ T 1 ( ) 1 ∂T(x,t)
+ g x,t = em 0 < x < ∞, t > 0 (3)
∂x 2 k α ∂t

C.C.
∂T
∂x |
x=0
=0
1
Trabalho Final da Disciplina de Métodos Matemáticos
DE LARA, D.P.A., SOUZA NETO, P.P.

C.I. T ( t = 0 ) = F ( x ) em 0 ≤ x < ∞

Sendo k a condutividade térmica do material, g(x,t) a taxa de geração de calor e α a difusividade térmica. As
propriedades são consideradas constantes e unidades no S.I.

Figura 1. Esquema do problema de condução de calor unidimensional e sua condição de contorno.

3.1. 1º Passo

Os termos da Eq. (3) são multiplicados pela autofunção T(β,t), onde β são os autovalores, e então é feita a
integração ao longo da região R. No caso de meio semi-infinito, os autovalores β são contínuos, como resultado, a
fórmula da inversão é uma integração ao longo de β de zero ao infinito ao invés do somatório de autovalores discretos,
como é feito para um meio finito.
❑ ❑ ❑

∫ w ( x ) T ( β,t ) ∇ T ( x,t ) dV+ 1k ∫ w ( x ) T ( β,t ) g ( x,t ) dV = 1α ∂∂t ∫ w ( x ) T ( β,t ) T ( x,t ) dV


2

R R R

Onde w(x) é a função peso de Sturm-Liouville. Neste caso, w(x) = 1.


∫ T ( β,t ) ∇2 T ( x,t ) dV+ 1k g ( β,t ) = 1α ddtT (β,t)


R


g ( β,t ) =∫ T ( β,t ) g ( x,t ) dV (7
R


T (β,t ) =∫ T ( β,t ) T ( x,t ) dV (
R

Pelo Teorema de Green, o primeiro termo da Eq. (5) torna-se:

❑ s ❑
T ( β, x i )
∫ T ( β,t ) ∇ T ( x,t ) dV= - β T ( β,t ) + α ∑ ∫
2 2
ki
f i ( x i ,t)ds i
R i=1 s i

Substituindo a Eq.(8) na Eq.(6), tem-se:

d T (β,t) α
s ❑
T ( β, x i )
g ( β,t ) + α ∑ ∫
2
+ αβ T ( β,t ) = f i ( x i ,t)ds i
dt k i=1 s k i i

O segundo termo do lado direito da Eq.(9) inclui as condições de contorno do problema. Para um meio semi-
infinito i = 1. Hahn e Özişik (2012) quando utiliza o Teorema de Green na Eq.(8), o autor faz uso da condição de
contorno de terceira espécie, isto é:

∂T(x,t)
ki + h i T ( x,t ) = f i ( x,t )
∂x

2
Trabalho Final da Disciplina de Métodos Matemáticos
DE LARA, D.P.A., SOUZA NETO, P.P.

De acordo com a condição de contorno, Eq.(4a), fi(x,t) = 0. Portanto, a Eq.(9) torna-se:

d T (β,t) 2 α
+ αβ T ( β,t ) = g ( β,t )
dt k

A condição inicial será dada por:



T (β,t=0 ) =∫ T ( β,x ) F ( x ) dV= F (β)
R

3.2. 2º Passo

A Equação (11) é uma EDO de 1ª ordem, não-linear e não homogênea. A solução dessa EDO é dada por:

T (β,t ) = e
-h
[∫ e h
r ( t ) dt + C] , onde h= ∫ p ( t ) dt

De acordo com a Eq. (11), r ( t ) = α/k g (β,t) e p ( t ) = α β 2. Logo,


t
h= ∫ α β2 dt'= αβ 2 t
'
t =0

Portanto, a Eq.(13), torna-se:

[ ]
t
α
-α β2 t
∫ eα β t' g ( β,t') dt'+C
2

T (β,t ) = e (
k t =0
'

Utilizando a condição inicial, Eq.(12), e sabendo que em t = 0, g ( β,0 ) = 0.

[ ]
t
α
T (β,t=0 ) = e
0
k
∫ e0 g ( β,0 ) dt'
'
+ C = F (β)
t =0

Logo, da Eq. (16), C = F(β) . Substituindo esse resultado na Eq. (15), tem-se:

[ ]
t
α
- α β2 t
∫ e α β t' g ( β,t') dt'
2

T (β,t ) = e + F (β)
k t =0
'

3.3. 3º Passo

Neste terceiro passo é utilizada a equação da inversão, Eq.(1). No entanto, é necessário primeiro encontrar as
autofunções e a norma, N(β). Esta é definida como:


N ( β ) ≡ ∫ [ T(β,x') ] dx'
2

'
x =0

Para a obtenção das autofunções T(β,t) é necessário fazer a separação de variáveis para o caso homogêneo da Eq.
(3), isto é:

∂2 T 1 ∂T(x,t)
2
- =0 em 0 < x < ∞, t > 0 (
∂x α ∂t

Impondo que, T(x,t) = T(x)G(t), tem-se:


3
Trabalho Final da Disciplina de Métodos Matemáticos
DE LARA, D.P.A., SOUZA NETO, P.P.

2
d T(x) 1 dG(t) 2
G(t) 2 = T(x) = -β (
dx α dt

Onde –β2 é a constante de separação de acordo com Sturm-Liouville. Logo, as duas EDO’s resultantes são:

d 2 T(x)
2
+ β 2 T(x) = 0 (2
dx

dG(t) 2
+ αβ G(t) = 0 (22)
dt
Resolvendo a EDO da Eq.(21):

a = 0 e b = β2, temos que, a2-4b = -4β2 < 0 (Caso 3). Segundo Kreyszig (2011), a solução é dada por

−ax
T ( x )=e 2
[ Acos ( ωx )+ Bsen( ωx)] (23)
2
onde ω
2 a
= b - , logo ω = β. Portanto:
4

T ( x )=[ Acos ( βx )+ Bsen( βx) ] (24)

Da condição de contorno, Eq. (4a),

∂T(0,t)
∂x |
x=0
=
dT(0)
dx
G(t) = 0

Como G(t) ≠ 0, logo:

dT(0)
=0
dx
Derivando a Eq.(24), tem-se:

T ' ( x )=− Aβsen ( βx )+ Bβcos ( βx)(27)

Da condição de contorno, Eq.(26):

T ' (0)=− Aβsen ( 0 )+ Bβcos ( 0 )=0(28)


Como, β ≠ 0, logo B = 0.

T ( x )= Acos ( βx ) (29)

A Equação (29) está de acordo com a Tabela 6-1 do Hahn e Özişik (2012). Por fim, as autofunções são dadas por:

T ( β , x ) =cos ( βx ) (30)

Utilizando a Eq. (18), a norma é dada por:


π
∫ [ cos(β,x') ]
2
N ( β) = dx'=
x =0
' 2

4
Trabalho Final da Disciplina de Métodos Matemáticos
DE LARA, D.P.A., SOUZA NETO, P.P.

Substituindo as Eq. (17), (30) e (31) na Eq. (1), tem-se:

[ ]
∞ t

∫ 2π cos(βx)dβ αk e -αβ t ∫ e α β t' g ( β,t') dt' + e α β t F (β)


2 2 2

T ( x,t ) = (
'
β=0 t =0

Sabendo que:


g ( β,t' ) = ∫ T ( β,x' ) g ( x',t' ) dx' (3
x'=0


F ( β ) = ∫ T ( β,x' ) F(x')dx' (33
x'=0

Portanto, substituindo as Eq. (33a) e (33b) na Eq. (32), tem-se:

∞ ∞
2
∫e cos ( βx ) dβ ∫ F ( x ) cos ( β x ) d x dβ +
2
-αβ t ' ' '
T ( x,t ) =
π β=0 '
x =0

∞ t ∞

∫e cos (βx ) dβ ∫ ∫ g ( x ' ,t' ) cos ( β x ' ) eα β t' d x' dt'dβ
2 2
-αβ t
(34 )
kπ β=0 '
t =0 x =0
'

A integração com relação a β é solucionada usando a seguinte relação:

2 cos ( βx ) cos ( β x ) = cos β ( x- x ) + cos ( x+x' )


' '

De acordo com Hahn e Özişik (2012):

[ ]

2
∞ ( x - x' )
π -
∫e
2
-αβ t 4αt
cos β ( x - x' ) dβ = e
β=0 4αt

[ ]

2
∞ ( x + x' )
π -
∫e
2
-αβ t 4αt
cos β ( x + x' ) dβ = e
β=0 4αt

Logo,

{e[ ] + e[ ]}
2 2
∞ ( x - x' ) ( x + x' )
2 1 - -
∫ e-αβ t cos ( βx ) cos (βx') dβ = √ 4παt
2
4αt 4αt
π β=0

Por fim, utilizando a relação obtida na Eq.(37) na Eq.(34), tem-se:

∫ F(x') {e
T ( x,t ) =
1

[ -
( x - x' )2
4αt ] + e[ -
(x + x' ) 2
4αt ] }d x '

√ 4παt x' =0

∫ g ( x ,t' ) {e
+
α

t
1

['
-
( x - x' ) 2
4αt ] + e[
-
( x + x' ) 2
4αt ] }dx'dt' (38)
k t ' =0 √ 4πα(t- t ) x =0 '
'

4. RESULTADOS

5
Trabalho Final da Disciplina de Métodos Matemáticos
DE LARA, D.P.A., SOUZA NETO, P.P.

5. REFERÊNCIAS

Hahn, D. W., Özişik, M. N., 2012, “Heat Conduction”, 3rd ed., John Wiley & Sons, INC., USA.
Kreyszig, E., 2011, “Advanced Engineering Mathematics”, 10th ed., John Wiley & Sons, INC., USA.

Você também pode gostar