Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de fórmulas
23 de Outubro de 2020
Natal - RN
1 Introdução
1.1 Grandezas fı́sicas
O conceito de grandeza fı́sica é um dos conceitos mais básicos no estudo da fı́sica.
Elas são usadas para descrever fenômenos e sistemas fı́sicos. Além disso, grande-
zas fı́sicas são caracterizadas por terem dimensões 1 . Existem seis grandezas fı́sicas
fundamentais (também chamadas de grandezas primitivas) na qual todas as outras
grandezas (chamadas de grandezas derivadas) podem ser escritas como uma com-
binação destas, são elas2
[X] = M α Lβ T γ (1)
1
Não confunda o conceito de dimensão usado aqui com o conceito de dimensão fı́sica (dimensões
espaciais e temporais).
2
Geralmente se usa a letra grega θ para representar a dimensão da temperatura termodinâmica
ao invés de um T maiúsculo para não haver confusão com a dimensão de tempo.
3
A demonstração desse teorema estará presente no apêndice A.
1
Ex.: 1 A unidade de medida de uma força genérica F , no S.I., é o Newton (N).
Como força é o produto da massa m de um corpo pela sua aceleração a, então a
unidade de força é o produto da unidade de massa pela unidade de aceleração. Logo,
pelo teorema de Bridgman:
2 Análise Dimensional
De forma geral, a análise dimensional é a arte de prever como uma determinada
grandeza vai depender de outras grandezas presentes em uma certa situação ou
problema fı́sico. Esse processo de antecipação dispensa contas detalhadas, ou seja,
não é necessáro resolver explicitamente as equações que definem o problema. É
uma ferramenta poderosa, extremamente útil para uma série de tarefas como sim-
plificação de problemas fı́sicos, detecção de erros em uma teoria e principalmente no
desenvolvimento de uma intuição fı́sica mais aguçada.
[Y ] = M α Lβ T γ (2)
2
4. Comparando (3) com (2) e resolvendo para os expoentes a1 , (i = 1, 2, . . .)
obtemos
[X1aa ][X2a2 ] . . . = M α Lβ T γ (4)
lembrando que [C] = 1, uma vez que o mesmo é adimensional.
a1 α 1 + a2 α 2 + a3 α 3 + . . . = α
a1 β1 + a2 β2 + a3 β3 + . . . = β
a1 γ1 + a2 γ2 + a3 γ3 + . . . = γ
Determinando as soluçãos ai podemos, portanto, determinar a dependência de
Y em relação a Xi
3. Se for necessário tomar limites, deve-se tomar cuidado para que os limites
façam sentido, ou seja, para estarmos comparando, no limite, quantidades
com as mesmas dimensões5 .
r = n − 3. (5)
4
Letra grega pi maiúscula.
5
Em particular, dizer que x << 1 ou x >> 1 somente faz sentido se x for um número puro
assim como o 1.
3
3 Alguns exemplos de aplicação
3.1 Constante Gravitacional de Newton
Sabe-se da teoria da gravitação de Newton que a força de atração entre dois corpos
de massas M e m, separados por uma distância r é dada por
→
− Mm
F = G 2 r̂ (6)
r
onde r̂ é o versor6 que aponta na direção da reta suporte que liga os dois planeta
e G é a chamada constante gravitacional de Newton cujo valor é G = 6, 67 · 10−11
N · m2 · kg −2 .
Vamos determinar as dimensões da constante G utilizando análise dimensional. Pri-
meiramente, avaliamos a dimensão em ambos os lados da equação (6)
[M ][m]
[F ] = [G] · (7)
[r]2
Lembre-se que a grandeza força possui unidade o Newton que é expressa como o
produto da grandeza de massa pela grandeza de aceleração, ou seja, [F ] = M LT −2 .
Desenvolvendo a equação acima e resolvendo em [G] obtemos
[F ][r]2 M LT −2 · L2
[G] = =
[M ][m] M2
m3
[G] = M −1 L3 T −2 =
kg · s2
Note que as unidades de G estão corretas pois se analisarmos as grandezas ao invés
das dimensões envolvidas na equação (7) obtemos
N · m2 (kg · m · s−2 ) · m2 m3
[G] = = =
(kg)2 (kg)2 kg · s2
Note que com a análise dimensional podemos obter as dimensões das mais varia-
das constantes fı́sicas, basta conhecermos alguma equação que envolva a constante
fı́sica em análise, conhecendo as dimensões das outras variáveis podemos resolver
a equação dimensional e assim obter as dimensões da constante que desejamos. O
raciocı́nio é análogo para qualquer outra variável presente em alguma equação fı́sica.
6
Define-se versor como o vetor unitário atrelado ao eixo de referência do versor.
4
3.2 Perı́odo de um pêndulo
Vamos tentar determinar o perı́odo de um pêndulo simples e suas dependências
usando as nossas ferramentas de análise dimensional. Primeiramente, atente para a
Figura 1 abaixo.
7
Aqui vamos usar a letra grega τ para representar o perı́odo do pêndulo ao invés da letra T
para evitar confusão com a dimensão de tempo (T ).
5
Pelo princı́pio da homogeneidade dimensional, temos que os lados esquerdo e
direito da equação (7) devem ser dimensionalmente iguais, como no lado esquerdo
temos apenas a presença da dimensão T , então as outras grandezas L e M devem
possuir expoente nulo. Igualando os expoentes de cada dimensão em ambos os lados
da equação obtemos o seguinte sistema
α + γ = 0
β=0 (10)
−2γ = 1
A partir daqui já podemos tirar algumas conclusões interessantes. Primeiro que o
perı́odo de oscilação de um pêndulo simples não depende da massa do mesmo mas
somente do comprimento do fio ` e da aceleração da gravidade local g. Segundo,
mesmo que somente a análise dimensional não é suficiente para determinar a cons-
tante K(θ0 ), temos uma noção muito boa de como a equação se parece. E por fim,
mesmo que o perı́odo de um pêndulo dependa de uma constante K(θ0 ) desconhecida,
a razão entre o perı́odo de dois pêndulos diferentes (perı́odos τ1 e τ2 e comprimentos
`1 e `2 ), mas com o mesmo ângulo inicial θ0 , então essa constante se torna irrelevante
pois q
`1
τ1 K(θ 0 ) g τ `
= q =⇒ 1 = 1
τ2 K(θ0 ) `g2 τ2 `2
Para aqueles que já estudaram MHS, sabem que a constante adimensional K(θ0 ) =
2π 8 . Note que a análise dimensional é uma ferramenta poderosa que apesar de suas
limitações nos permite verificar como uma certa grandeza irá depender de outras,
consequentemente, prever muitas equações fı́sicas importantes.
8
O valor de K(θ0 ) surge naturalmente da resolução da equação diferencial do pêndulo simples,
mas não vamos nos preocupar com isso aqui.
6
3.3 Velocidade de um satélite em órbita rasante
Vamos agora determinar a velocidade de um satélite em órbita rasante. Imagine
um satélite executando uma órbita circular a uma altura h da superfı́cie da Terra,
dizemos que o satélite está a executar uma órbita rasante quando h << R de tal
forma que a distância do satélite até o centro da Terra é aproximadamente o raio
do planeta.
A princı́pio, podemos supor que a velocidade v de um satélite executando tal órbita
irá depender, a priori, da massa m do satélite, do raio do planeta R, da aceleração da
gravidade g e de alguma quantidade adimensional K (que analogamente ao exemplo
do perı́odo do pêndulo também será uma constante). Dessa forma, pelo teorema de
Bridgman, podemos escrever
v = K · mα Rβ g γ (12)
Agora vamos avaliar a dimensão de cada termo presente na equação (12)
9
Como o satélite se encontra próximo da superfı́cie, a força que o estará puxando em direção ao
planeta será a força peso P , mas como a órbita é circular temos que essa força será igual a força
2 √
centrı́peta Fcp . Igualando as forças você obtem mg = mv R o que implica v = gR, ou seja, K = 1
7
4 Seção de Problemas
→
− |Q||q|
F = k0 · êr
d2
1
onde k0 = 4πε 0
é a constante eletrostática medida no vácuo, ε0 é a constante
dielétrica também medida no vácuo (que é adimensional) e êr é o versor atre-
lado à reta suporte que liga as duas cargas. Sabendo que as cargas são medidas
em Coulomb (C), determine a dimensão da constante eletrostática k0 .
2. Sabe-se dos estudos de Fı́sica Moderna que a energia emitida por um fóton é
diretamente relacionada à frequência f e ao comprimento de onda λ do fóton.
Podemos exprimir a energia E de um fóton da seguinte forma
hc
E= = hf
λ
onde h é chamada de constante de Planck e c é a velocidade da luz. Dado o
exposto, determine as dimensões da constante h.
3. No estudo da teoria cinética dos gases, uma das equações mais importantes
presentes nesse campo de estudo é a equação geral dos gases, que diz que todo
gas ideal deve obedecer a equação
P V = nRT
8
4. Uma constante fı́sica que aparece em muitos resultados presentes em Ter-
modinâmica e em Fı́sica Moderna é a constante de Stefan-Boltzmann que é
definida como sendo
2π 2 kB
4
σ=
15h3 c2
onde h é a constante de Planck, c é a velocidade da luz no vácuo e kB é a
constante de Boltzmann que pode ser obtida por meio da razão R/NA , onde
R é a constante universal dos gases e NA o número de Avogadro. Diante do
exposto, determine as dimensões da constante de Stefan-Boltzmann.
c) Notou alguma semelhança entre as duas equações obtidas nos itens ante-
riores? Era esperada? Discuta sobre os resultados.
9
7. Na década de ’50, o fı́sico inglês G. I. Taylor estudou fotos de explosões como
as da figura abaixo.
Nas imagens acima é possı́vel ler o tamanho das explosões (uma quantidade
chamada de R com unidades de comprimento) em função do tempo t. Um
fato importante é que em explosões como essa a pressão do ar em torno da
explosão pode ser desprezada, enquanto somente a densidade volumétrica ρ do
ar é importante na análise. Diante dos dados fornecidos até então, determine
a energia E liberada na explosão.
10
9. Quanta energia gastamos para mexer o açúcar no nosso café? É claro que esse
problema é extremamente complicado e depende de muitos parâmetros. A
análise dimensional, contudo, permite simplificar as coisas um pouco. Podemos
imaginar que a potência P gasta para mexer o café dependerá da densidade
volumétrica ρ do café e de sua viscosidade µ (que possui unidade de massa
por comprimento e tempo, ou seja, kg · m−1 · s−1 ) e o tamanho do mexedor
(que podemos imaginar como sendo cilı́ndrico, com diâmetro d) e, enfim, a
velocidade v do movimento do mexedor.
c) Com base nos dados fornecidos até entãom determine a potência gasta
por um mexedor de café. Deixe sua resposta em função de Re ou de NP .
Dica: Faça uma análise análoga a que você fez na questão 8. e veja qual das
quantidades adimensionais faz sentido em ser colocada na equação para P .
a) Força.
b) Quantidade de Movimento.
c) Momento Angular.
d) Pressão.
e) Potência.
a) -1, 2, 2.
b) 2, -1, 2.
c) 2, 2, -1.
d) 2, 2, 1.
e) 2, 2, 2.
11
12. (ITA - 2005) Quando camadas adjacentes de um fluido viscoso deslizam re-
gularmente umas sobre as outras, o escoamento é dito laminar. Sob certas
condições, o aumento de velocidade provoca o regime de escoamento turbu-
lento, que é caracterizado por movimento aleatórios das partı́culas do fluido.
Observa-se, experimentalmente, que o regime de escoamento (laminar ou tur-
bulento) depende de um parâmetro adimensional (número de Reynolds) dado
por r = ρα v β dγ η τ em que ρ é a densidade do fluido, v, sua velocidade, η, seu co-
eficiente de viscosidade e d, uma distância caracterı́stica associada à geometria
do meio que circunda o fluido. Por outro lado, num outro tipo de experimento,
sabe-se que uma esfera de diâmetro D, que se movimenta num meio fluido,
sofre a ação de uma força de arrasto viscoso dada por F = 3πDηv. Assim
sendo, com relação aos respectivos valores de α, β, γ e τ , uma das soluções é
a) α = 1, β = 1, γ = 1, τ = −1.
b) α = 1, β = −1, γ = 1, τ = 1.
c) α = 1, β = 1, γ = −1, τ = 1.
d) α = −1, β = 1, γ = 1, τ = 1.
e) α = 1, β = 1, γ = 0, τ = 1.
13. (ITA - 2008) Define-se intensidade I de uma onda como a razão entre a
potência que essa onda transporta por unidade de área perpendicular à direção
dessa propagação. Considere para uma certa onda de amplitude A, freqüência
f e velocidade v, que se propaga num meio de densidade ρ, foi determinada
que a intensidade é dada por: I = 2π 2 f x ρvay . Indique quais são os valores
para x e y, respectivamente.
a) x = 2 ; y = 2
b) x = 1 ; y = 2
c) x = 1 ; y = 1
d) x = −2 ; y = 2
e) x = −2 ; y = −2
14. (ITA - 2009) Sabe-se que o momento angular de uma massa pontual é dado
pelo produto vetorial do vetor posição pelo seu momento linear. Então, em
termos das dimensões de comprimento (L), de massa (M), e de tempo (T), um
momento angular qualquer tem sua dimensão dada por:
a) L0 M 1 T −1 .
b) L1 M 0 T −1 .
c) L1 M 1 T −1 .
d) L2 M 1 T −1 .
e) L2 M 1 T −2 .
12
15. (ITA - 2010) Pela teoria Newtoniana da gravitação, o potencial gravitacional
devido ao Sol, assumindo simetria esférica, é dado por −V = GM/r, em que r
é a distância média do centro do corpo ao Sol. Segundo a teoria da relatividade
essa equação deve ser corrigida para −V = GM/r + A/r2 , em que A depende
de G, de M e da velocidade da luz, c. Com base na análise dimensional e
considerando K uma constante adimensional, assinale a opção que apresenta
a expressão da constante A, seguida da ordem de grandeza da razão entre o
termo de correção, A/r2 , obtido por Einstein, e o termo GM/r da equação de
Newton, na posição da Terra, sabendo que a priori k = 1.
a) A = kGM
c
e 10−5 .
kG2 M 2
b) A = c
e 10−8 .
kG2 M 2
c) A = c
e 10−3 .
kG2 M 2
d) A = c
e 10−5 .
kG2 M 2
e) A = c
e 10−8 .
16. (ITA - 2011) Um exercı́cio sobre a dinâmica da partı́cula tem seu inicio as-
sim enunciado: ”Uma partı́cula está se movendo com uma aceleração cujo
3
módulo é dado por µ(r + ar2 ), sendo r a distância entre a origem e a partı́cula.
Considere que a partı́cula foi lançada a partir de uma distância a com uma
√
velocidade inicial de 2 µa”.
Existe algum erro conceitual nesse enunciado? Por que razão?
17. (ITA - 2012) Ondas acústicas são ondas de compressão, ou seja, propagam-
se em meios compressı́veis. Quando uma barra metálica é golpeada em sua
extremidade,
p uma onda longitudinal propaga-se por ela com velocidade v =
Ea/ρ. A grandeza E é conhecida como módulo de Young, enquanto ρ é
a massa especı́fica e a uma constante adimensional. Qual das alternativas é
condizente à dimensão de E?
a) J/m2 .
b) N/m2 .
c) J/s · m.
d) kg · m/s2 .
e) dyn/cm3 .
13
18. (ITA - 2016) Considere um corpo esférico de raio r totalmente envolvido por
um fluı́do de viscosidade η com velocidade média v. De acordo com a lei de
Stokes, para baixas velocidades, esse corpo sofrerá a ação de uma força de
arrasto viscoso dada por F = −6πrηv. A dimensão de η é dada por
a) m · s−1
b) m · s−2
c) kg · m · s−2
d) kg · m · s−3
e) kg · m−1 · s−1
19. (ITA - 2017) Ondas gravitacionais foram previstas por Einstein em 1916 e di-
retamente detectadas pela primeira vez em 2015. Sob determinadas condições,
um sistema girando com velocidade angular w irradia tais ondas com potência
proporcional a Gcβ Qγ wδ , em que G é a constante de gravitação universal; c,
a velocidade da luz e Q, uma grandeza que tem unidade em kg · m2 . Assinale
a opção correta.
a) β = −5, γ = 2 e δ = 6
b) β = −3/5, γ = 4/3 e δ = 4
c) β = −10/3, γ = 5/3 e δ = 5
d) β = 0, γ = 1 e δ = 3
e) β = −10, γ = 3 e δ = 9
20. (ITA - 2018) Considere uma estrela de neutrons com densidade média de 5·1014
g/cm3 sendo que sua frequência de vibração radial ν é função do seu raio R,
de sua massa m e da constante da gravitação universal G. Sabe-se que ν
é dada por uma expressão monomial, em que a constante adimensional de
proporcionalidade vale aproximadamente 1. Então o valor de ν é da ordem de
a) 10−2 Hz
b) 10−1 Hz
c) 100 Hz
d) 102 Hz
e) 104 Hz
14
5 Respostas
5.1 Determimando algumas constantes fundamentais
1. [k0 ] = M L3 T −4 I −2
2. [h] = M L2 T −1
3. [R] = M L2 T −2 N −1 θ−1
4. [σ] = M T −3 θ−4
15