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Mecânica dos Fluidos

CAPÍTULO 7.

o Teoria da Semelhança e Análise Dimensional

7.1 Conceito de Semelhança

A Mecânica dos fluidos se desenvolveu através da experimentação e isso


principalmente com o uso de modelos reduzidos. A obtenção, por via
experimental, de leis que relacionam as grandezas intervenientes em um
fenômeno pode ser facilitada pela Analise Dimensional. A transposição para o
protótipo dos resultados obtidos sobre um modelo é regida pela Teoria da
Semelhança, que frequentemente se trata em conjunto com a analise
Dimensional.

Quando se considera dois sistemas semelhantes? São fisicamente


semelhantes relativamente a um conjunto de grandezas em primeiro lugar, de
modo que haja uma relação constante entre valores homólogos dessas
grandezas nos dois sistemas. Essa analise da relação é feita na maioria das
vezes utilizando o protótipo e o modelo reduzido.

Algumas semelhanças são fáceis de se observar como por exemplo a


semelhança geométrica que é a semelhança de formas e traduz-se pela
existência de uma relação constante entre comprimentos homólogos nos dois
sistemas.

A semelhança cinemática é a semelhança do movimento e consiste em


partículas homólogas descreverem percursos homólogos em tempos
proporcionais.

A semelhança dinâmica é a semelhança de forças e significa que partículas


homólogas sofrem a ação de forças cujas resultantes tem direção e sentido
iguais e cujas grandezas ou módulos são proporcionais.

7.1.1 Teorema de Vaschy-Buckingham

O teorema fundamental da Analise Dimensional (também conhecido por


teorema de Vaschy-Buckingham ou teorema dos πs) é um instrumento de
grande utilidade na investigação experimental em Mecânica dos Fluidos e na
Hidráulica.

Pode-se enunciar-se da seguinte forma:


Toda relação dimensionalmente homogênea entre n grandezas físicas:

F ( A1 , A2 , A3 ,... Ak , Al , Am ,... An )  0
n grandezas

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pode ser substituída por uma relação entre (n-p) parâmetros adimensionais:

 (1 ;  2 ;  3 ;...)  0

Sendo p o número de grandezas dimensionalmente independentes que


intervêm no fenômeno.

No caso geral da Mecânica dos Fluidos o valor de p é, no máximo, igual a 3,


ou seja, existem no máximo três grandezas que se podem tomar como
fundamentais, do ponto de vista da Análise Dimensional.

Os (n-p) parâmetros adimensionais π obtidos por esse procedimento são


independentes. Um parâmetro π não é independente se ele puder ser formado
por um produto ou quociente dos outros parâmetros do problema. Por
exemplo, se:

2.1 13 / 4
5  ou 6  então,
 2 . 3  32

Nem π5 e nem π 6 são independentes dos outros parâmetros adimensionais.

7.1.2 Método de determinação dos parâmetros ∏

Inicia-se listando todos os parâmetros que sabidamente (ou supostamente)


afetam o fenômeno de escoamento dado. Alguma experiência é necessária
para organização dessa lista. Contudo, é difícil errar se uma generosa seleção
de parâmetros for feita.

Exemplo prático em que se aplica um método passo a passo.

A força de arrasto F sobre uma esfera lisa depende da velocidade relativa, V,


do diâmetro da esfera, D, da massa especifica do fluido, ρ, e da viscosidade
do fluido, μ. Obtenha um conjunto de grupos adimensionais que possam ser
usados para correlacionar dados experimentais.

Resolução: Dados: F = f (ρ, V, D, μ) para uma esfera lisa.

1º. Passo: Liste todos os parâmetros envolvidos. Seja n o número de


parâmetros. Se todos os parâmetros pertinentes não forem incluídos, uma
relação pode ser obtida, entretanto ela não representará o fenômeno
completamente. Se houver inclusão de parâmetros que na verdade não tem
efeito sobre o fenômeno físico, o processo de análise dimensional mostrará
que eles não entram na relação buscada, ou então um ou mais grupos
adimensionais estranhos aos fenômenos serão obtidos, conforme mostrarão
os experimentos mais tarde.

F V D ρ μ n=5 parâmetros

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2º. Passo: Selecione um conjunto de dimensões fundamentais (primárias), por
exemplo: MLt ou FLt (em transferência de calor nós escrevemos T para
temperatura);

Para o presente exercício, vamos escolher M, L e t (de tempo);

3º. Passo: Liste as dimensões de todos os parâmetros em termos das


dimensões primárias. No caso chamou-se de p = No. de dimensões primárias.

F V D ρ μ
ML L L M M
t2 t L3 Lt

p = 3 dimensões primárias

4º. Passo: Selecione da lista um número r de parâmetros que, em conjunto,


incluam todas as dimensões primárias. Esses parâmetros serão todos
combinados com cada um dos parâmetros remanescentes, um por vez, e
serão chamados de parâmetros repetentes. Nenhum desses parâmetros pode
ter dimensões que sejam potencias de dimensões de outro parâmetro
repetente.
Selecionando: V D ρ (p = r =3 parâmetros repetentes);

5º. Passo: Estabeleça equações dimensionais combinando os parâmetros


selecionados no Passo 4 com cada um dos outros parâmetros para formar
grupos dimensionais. (Haverá n-p ou n-m equações.). Resolva as equações
adimensionais para obter os n – m grupos adimensionais.
No presente caso: n – m = n – p = 5 – 3 = 2 grupos adimensionais.
Estabelecendo as equações:

Resolução do exemplo prático:

As equações dimensionais serão duas (02):  1 e  2 .


Escrevendo a primeira:

 1   aU b D c F onde fazemos as substituição dos parâmetros dimensionais


em que 1  1 , deste modo escreve-se:

a b
M  L c  ML 
 3    L   2   M L T
0 0 0

   
L T  T 

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Equacionando os expoentes de M, L e T resultam:

M: a+1=0
L: -3a + b +c + 1 = 0
T: -b – 2 = 0

Resolvendo: a = -1; b = -2; c = -2;

Substituindo na expressão de  1 :

F
1  que é um adimensional.
 U 2  D2

Escrevendo a segunda:

 2   dU e D f  onde fazemos as substituição dos parâmetros dimensionais


em que  2  1 , deste modo escreve-se:

d e
M  L f  ML 
 3    L   M L T
0 0 0

 L  T  T 

Equacionando os expoentes de M, L e T resultam:

M: d+1=0
L: -3d + e + f - 1 = 0
T: -e – 1 = 0

Resolvendo: d = -1 ; f = -1 ; e = -1;

Substituindo na expressão de  2 :


2  que é um adimensional.
 U  D

Existe uma relação funcional de não dependência entre:

1  f  2  ou seja:

F   
 f    onde a forma da função f deve ser determinada
 U  D   U  D 
2 2

experimentalmente.

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Exercícios:

1) A velocidades muito baixas, a força de arrasto sobre um objeto é independente da


massa especifica do fluido. Assim a força, F , sobre uma pequena esfera é uma função
apenas da velocidade, V, da viscosidade do fluido, μ , e do diâmetro da esfera, D. Utilize
análise dimensional para expressar a força de arrasto como uma função dessas
variáveis.

2) Existem grande número de conjuntos adimensionais, determine um grupo que


considere a viscosidade, μ , o efeito da gravidade, g , e da pressão, p , sabendo-se que
uma dimensão geométrica linear, L , a massa especifica, ρ , e a velocidade, V , de um
determinado escoamento deve ter efeito praticamente em qualquer grupo, isto é, em
princípio considera-se os mesmos em todos os grupos formados (elementos repetentes).

RESPOSTAS:

1) π1 = F / V μ D

2) π1 = p / ρ V2

π2 = g . L / V2

π3 = μ/LVρ

3) Fazer a dedução dos parâmetros utilizando das dimensões em F; L; T. para o exemplo


prático resolvido (vide pag. 2).

4) A tensão de cisalhamento, τw, numa camada de fluido, depende da distância X em


relação a borda de ataque do objeto, da massa especifica ρ, da viscosidade dinâmica µ,
do fluido e da velocidade de corrente livre do escoamento U. Obtenha os grupos
adimensionais para essa questão.
w 
Respostas: 1  2  (a conferir)
 U 2
 U  X

5) Determinar a equação da distância percorrida por um corpo em queda livre,


considerando-se que a distância percorrida d depende do peso do corpo W, da
aceleração da gravidade g e do tempo t.

Resposta: d = K. g. t2

6) Define-se o Número de Reynolds como sendo função de massa especifica ρ, da


viscosidade dinâmica μ e, da velocidade média U do fluido. Depende ainda do
comprimento característico c (ou ι) do contorno da corrente fluida. Aplicando a Análise
Dimensional (Teorema dos π), obter o Numero de Reynolds.

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