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Análise Dimensional dos Escoamentos Forçados 1

2. ANÁLISE DIMENSIONAL DOS ESCOAMENTOS FORÇADOS

Consideremos o escoamento de água, sob pressão, em regime permanente e


uniforme, através de uma tubulação de seção qualquer, conforme indicado no
esquema abaixo. Analisemos este escoamento da seção (1) para a seção (2),
considerando as grandezas que estão envolvidas no fenômeno.

 
 D








 p2

e


Assim, como o escoamento se processa do ponto de maior energia (no caso


pressão) para o ponto de menor energia, observa-se que a energia total na seção
(2) é menor do que a energia em (1), pois há perda de carga entre as duas seções.

Verifica-se que neste fenômeno, as grandezas envolvidas são: r, m, DH , e, L, Dp,V.

2.1 Teorema de Buckingham (dos p):

" Se a lei de um fenômeno depende de n quantidades diferentes, que por sua vez
dependem de k, grandezas fundamentais, a lei que rege o fenômeno pode ser
escrita em função de (n-k) números adimensionais ", ou seja, se um fenômeno físico
puder ser descrito através de uma função F [ G 1, G2, ...,Gn ] = 0 das n grandezas
Gi, também poderá ser descrito através de uma função F [p1,p2, ...,pn-k ] = 0, de (n-k)
coeficientes adimensionais pi, independentes, quaisquer, da forma

pi = Ai G1a1. G2a2 . ..... Gnan (2.1)

onde: Ai = número puro


pi = p1, p2, ......, pn-k = conjunto completo dos coeficiente adimensionais;
k = característica da matriz dimensional;
n = número de grandezas envolvidas.
Hidráulica 2

2.2 Obtenção dos coeficientes adimensionais

2.2.1 Matriz Dimensional

É a matriz formada pelos expoentes das grandezas fundamentais (MLT ou FLT),


respectivamente de cada grandeza envolvida no fenômeno.

A tabela a seguir mostra as dimensões das grandezas em estudo, considerando o


sistema de dimensões FLT.

GRANDEZA SÍMBOLO UNIDADE DIMENSÃO


Velocidade média V m/s LT-1
Diâmetro hidráulico DH m L
Viscosidade absoluta m kgf.s/m2 FL-2T
Massa específica r kgf.s2/m4 FL-4T2
Rugosidade média e m L
Diferença de pressão Dp kgf/m2 FL-2
Comprimento L m L

logo, para o fenômeno estudado, tem-se a seguinte matriz dimensional, em FLT,

V D m r e Dp L
F 0 0 1 1 0 1 0
L 1 1 -2 -4 1 -2 1
T -1 0 1 2 0 0 0

2.2.2 Método do Sistema Probásico (Buckingham)

Desta matriz podem ser extraídos determinantes. Se entre os determinantes


extraídos de uma matriz houver um de ordem k que seja diferente de zero, e se
todos os outros de ordem maior do que k forem iguais a zero, diz-se que a
característica da matriz é k.

No caso em estudo, podem ser extraídos determinantes de ordem 3 ou de ordem 2.


Se houver um determinante de ordem 3 que seja diferente de zero, a característica
da matriz é 3, logo k = 3 e conseqüentemente existirá (n-k) = (7-3) = 4 coeficientes
adimensionais p’s ou seja,

F [p1, p2, p3 , p4 ] = 0 (2.2)

Portanto, para que um conjunto de k grandezas constitua um sistema probásico é


preciso que o determinante associado à sua matriz seja diferente de zero.

Se como exemplo, escolhermos as grandezas r, DH , e, como sistema probásico, o


determinante associado a sua matriz é
Análise Dimensional dos Escoamentos Forçados 3

1 0 0
-4 1 1 = 0 ( existem 2 colunas iguais )
2 0 0

logo, tais grandezas não constituem um sistema probásico. Da mesma forma, o


conjunto V, DH , e, cujo determinante

0 0 0
1 1 1 = 0 ( 2 colunas iguais ou uma linha de zeros)
-1 0 0

também não serve como sistema probásico. Se, entretanto, escolhermos as


grandezas r, V, DH , temos:

1 0 0
-4 1 1 ¹ 0
2 -1 0

podendo constituir-se como um sistema probásico. Observe que as grandezas


escolhidas refletem os tipos de grandezas envolvidas no fenômeno, a primeira
dinâmica, a segunda cinemática e a terceira geométrica.

Adotando este conjunto como sistema probásico, podemos determinar os 4


parâmetros adimensionais, quais sejam:

p1 = A1 ra1 Va2 DHa3 m1 e0 Dp0 L0

p2 = A2 rb1 Vb2 DHb3 m0 e1 Dp0 L0

p3 = A3 rc1 Vc2 DHc3 m0 e0 Dp1 L0

p4 = A4 rd1 Vd2 DHd3 m0 e0 Dp0 L1

substituindo as grandezas por suas dimensões, tem-se:

[ p1 ] = A1 [ F L-4 T2 ]a1 [ L T-1]a2 [ L ]a3 [ F L-2 T ]1 = F0 L0 T0

[ p1 ] = F a1 + 1 L -4a1 + a2 + a3 -2
T 2a1 - a2 + 1 = F0 L0 T0

resultando no sistema de equações:


Hidráulica 4

a1 + 1 = 0
-4a1 + a2 + a3 - 2 = 0
2a1 - a2 + 1 = 0

onde: a1 = -1
a2 = -1
a3 = -1

e, substituindo os expoentes em p1 , resulta:



p1 = A1 e, fazendo A1 = 1,
VD H

 VD H VD H
1   Þ Número de Reynolds (2.3)
 

da mesma forma, encontraremos os seguintes números adimensionais para os


restantes:


p2 = Þ Rugosidade relativa (2.4)
DH

p
p3 = 1 Þ Coeficiente de pressão (2.5)
V 2
2

L
p4 = Þ Fator de forma geométrica (2.6)
DH

É aconselhável que o aluno desenvolva p2 , p3 e p4 da mesma forma como foi feito


na determinação de p1 , para chegar aos valores acima.

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