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CHAPTER 5

TENSORES NA RELATIVIDADE

Nos capı́tulos anteriores introduzimos os principais conceitos que nos guiarão até a for-
mulação da Teoria da Relatividade Geral, são eles:

• As Transformações de Lorentz (TL) relacionam os referenciais S e S � que possuem uma


velocidade relativa constante u entre si;

• Os quadrivetores (vetores em 4-dimensões) formam quantidades escalares invariantes, que


não mudam de valor de um referencial para outro;

• Todo 4-vetor se transforma da mesma maneira de um referencial S para um referencial


S � conforme a matriz de transformação de Lorentz Λµν ;

• A nova definição de produto escalar a · b ≡ aµ bµ em 4 dimensões introduz o conceito de


4-vetores contravariantes aµ e covariantes bµ , que estão relacionados pelo tensor métrico
de Minkowski, aµ = ηµν aν e bµ = η µν bν .

Neste capı́tulo vamos generalizar os resultados válidos para 4-vetores e fazer um breve estudo
de 4-vetores e tensores e designar a notação usada neste trabalho.

5.1 Escalares, 4-vetores e Tensores


Um quadrivetor V α é também chamado de tensor de primeira ordem, pois ele possui apenas
um ı́ndice α. Um objeto T αβ é chamado tensor de segunda orderm, pois possui 2 ı́ndices α, β.
Um objeto K αβγ é chamado tensor de terceira orderm, pois possui 3 ı́ndices α, β, γ, e assim por
diante. Um escalar, por sua vez, é um tensor de ordem 0, já que ele é representado por apenas
um número, ou escalar.

5.1.1 Tensor de ordem 0


Um escalar é um tensor de ordem 0, representado por apenas um número. A velocidade
da luz c e a massa de repouso m0 de uma partı́cula são exemplos de escalares, ou tensores de
ordem 0. Na relatividade geral encontraremos outro escalar importante, o escalar de Ricci R.

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5.1.2 Tensor de ordem 1
Alguns exemplos de tensores de ordem 1 ou 4-vetores foram vistos anteriormente, como
4-vetor posição, 4-vetor velocidade, 4-vetor aceleração e 4-vetor momento.
Um tensor de ordem 1 ou 4-vetor possui apenas um ı́ndice e obedece à seguinte lei de
transformação:

V α → V α = Λαβ V β (5.1.1)
quando o sistema de coordenadas é transformado do referencial S para S � pelas TL por

xα → xα = Λαβ xβ . (5.1.2)
Mais precisamente, tal V α deve ser chamado de um vetor contravariante para distingui-lo
de um quadrivetor covariante, definido como Uα cuja regra de transformação é

Uα → Uα� = Λαβ Uβ (5.1.3)


onde

Λαβ ≡ ηαγ Λγδ η βδ (5.1.4)


A matriz que representa η βδ é numericamente igual a ηβδ , mas escrevemos nosso ı́ndice em
cima para estar de acordo com nossa convenção de somatório:

η βδ ηαδ = δαβ . (5.1.5)


Além disso temos η βδ = η δβ . Concluı́mos então que Λαβ é o inverso da matriz Λβα , tal que:

Λαγ Λαβ = δβγ (5.1.6)


que pode ser demonstrado explicitamente tomando-se as componentes de Λαγ e Λαβ explicita-
mente e somando sobre o ı́ndice α.
Isso mostra que o produto escalar de um quadrivetor contravariante com um quadrivetor
covariante é um invariante por TL:

Uα� V �α = Λαγ Uγ Λαβ V β = Λαγ Λαβ Uγ V β = δβγ Uγ V β = Uβ V β (5.1.7)


Como já foi dito anteriormente, para todo quadrivetor contravariante V α há um quadrivetor
covariante correspondente

Vα ≡ ηαβ V β (5.1.8)
e para todo quadrivetor covariante Uα há um contravariante correspondente

U α ≡ η αβ Uβ (5.1.9)
tal que:

η αβ Vβ = η αβ ηβγ V γ = δγα V γ = V α (5.1.10)

ηαβ U β = ηαβ η βγ Uγ = δαγ Uγ = Uα . (5.1.11)


Note que Vα ≡ ηαβ V β produz um quadrivetor covariante, pois

Vα� = ηαβ V �β = ηαβ Λβγ V γ = ηαβ η γδ Λβγ Vδ = Λαδ Vδ (5.1.12)

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em concordância com Uα� = Λαβ Uβ . Do mesmo modo U α ≡ η αβ Uβ produz um quadrivetor
contravariante.
O vetor covariante está em um espaço e o contravariante está em um outro espaço. A
métrica faz a ponte entre esses dois espaços. O produto escala Vµ V µ resulta em um invariante
de Lorentz.

5.1.3 Tensores de ordem 2 ou mais


Muitas grandezas fı́sicas não são escalares nem vetoriais, mas objetos mais complicados
chamados de tensores de ordem 2 ou mais.
Por exemplo, as equações do eletromagnetismo podem ser escritas em termos de um tensor
de segunda ordem, F µν . Veremos que a quantidade que representa o conteúdo material de uma
teoria de gravitação ou da cosmologia são escritos em termos de um tensor de segunda ordem,
T µν . Na relatividade geral existem também dois tensores importantes, o tensor de Ricci Rµν e
o tensor de Riemann Rµνγδ .
No caso geral, um tensor pode ter vários ı́ndices contravariantes e/ou covariantes com cor-
respondentes propriedades da transformação de Lorentz, por exemplo:

K γαβ → K �γαβ = Λγδ Λα� Λβµ K δ�µ . (5.1.13)


Como regra geral, cada componente ou ı́ndice contravariante de um tensor se transforma pela
matriz de TL Λαβ e cada componente covariante se transforma pela matriz inversa Λαβ .
Mais adiante encotraremos uma quantidade de três ı́ndices Γαµν que não se transforma da
maneira simples acima pelas TL, portanto essa quantidade não é um tensor, como veremos.

Também pode-se subir e baixar ı́ndices de um tensor usando o tensor métrico de Minkowski,
por exemplo:

K γαβ = η γµ ηαν ηβδ Kµ νδ (5.1.14)

5.2 Algumas propriedades gerais


Existem várias maneiras de formar tensores a partir de outros tensores, e algumas pro-
priedades gerais válidas para todos os tensores são:

1 - Combinação linear: Uma combinação linear dos tensores com os mesmos ı́ndices supe-
riores e inferiores é um tensor com os mesmos ı́ndices. Por exemplo, se Rαβ e S αβ são tensores,
e a e b são escalares, e nós definimos T αβ ≡ aRαβ + bS αβ então T αβ é um tensor,

T �αβ ≡ aR�αβ + bS �αβ = aΛαγ Λβδ Rγδ + bΛαγ Λβδ S γδ = Λαγ Λβδ T γδ (5.2.1)

2 - Produto direto: o produto das componentes de dois tensores resulta em um tensor cujos
ı́ndices superior e inferior consistem de todos os ı́ndices superior e inferior dos dois tensores
originais. Por exemplo, se Aα e B γβ são tensores e

K αγβ ≡ Aα B γβ (5.2.2)

então K αγβ é um tensor:

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K �αγβ ≡ A�α B �γβ = Λαδ Λγµ Λβ� Aδ B µ� = Λαδ Λγµ Λβ� K δµ� (5.2.3)

3 - Contração: definir um ı́ndice superior e inferior iguais e somando-os sobre seus valores
0,1,2,3 produz um tensor com esses dois ı́ndices ausentes. Por exemplo, se Rµν é um tensor de
ordem 2, a quantidade ηµν Rµν = Rµµ = R0 0 + R1 1 + R2 2 + R3 3 ≡ R é um tensor de ordem 0,
ou escalar.
Da mesma forma, para um caso mais geral, se Tβ αγδ é um tensor e T αγ = ηδβ Tβ αγδ = Tδ αγδ
então T αγ é um tensor,

T �αγ ≡ Tβ� αγβ


= Λαδ Λγµ Λβκ Λβ� T� δµκ = Λαδ Λγµ δκ� T� δµκ = Λαδ Λγµ T δµ (5.2.4)

4 - Simetria: Um tensor é simétrico se a troca de dois ı́ndices produz o mesmo tensor, por
exemplo, se Rµν = Rνµ dizemos que o tensor é simétrico. Também, para um tensor de ordem
mais alta, se Aαβγδ = Aγβαδ , dizemos que o tensor é simétrico nos ı́ndices α, γ.
Em particular, o tensor métrico de Minkowski é simétrico, η µν = η νµ , e portanto η µν =
ην µ ≡ ηνµ , e não é necessário indicar a separação dos ı́ndices referentes a linha e coluna na
representação matricial.

5 - Anti-simetria: Um tensor é anti-simétrico se a troca de dois ı́ndices produz um tensor com


sinal trocado, por exemplo, se F µν = −F νµ dizemos que o tensor é anti-simétrico. Também,
para um tensor de ordem mais alta, se Rαβγδ = −Rβαγδ , dizemos que o tensor é anti-simétrico
nos ı́ndices α, β.

5.3 Derivadas e operador gradiente


Embora qualquer vetor possa ser escrito na forma contravariante ou covariante, há alguns
vetores que aparecem mais naturalmente na forma contravariante e outros que aparecem com
mais naturalidade na forma covariante.
Em 3-dimensões o elemento diferencial de volume é d3 x = dx dy dz. No espaço-tempo de
4-dimensões a generalização é dxα , tal que o elemento dx0 ≡ cdt.
O diferencial dxα se tranforma como um 4-vetor contravariante:
∂x�α β
dxα → dx�α = dx (5.3.1)
∂xβ
�α
pois como vimos anteriormente, ∂x ∂xβ
= Λαβ é a maneira que se transforma um 4-vetor con-

travariante, V α = Λαβ V β .
Em 3-dimensões o operador gradiente é dado por ∇ � = ∂ î + ∂ ĵ + ∂ k̂ = ( ∂ , ∂ , ∂ )
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
em componentes vetoriais. A generalização para o espaço-tempo de 4-dimensões é ∂x∂α =

( ∂x∂ 0 , ∂x∂ 1 , ∂x∂ 2 , ∂x∂ 3 ), tal que a primeira componente é ∂x∂ 0 = 1c ∂t .
O operador gradiente ∂x∂α , por outro lado, obedece à regra de transformação de um 4-vetor
covariante:

∂ ∂ ∂xβ ∂
→ = (5.3.2)
∂xα ∂x�α ∂x�α ∂xβ
∂x β
β
e como vimos anteriormente, ∂x �α = Λα é a maneira que se transforma um 4-vetor covariante,

Uα� = Λαβ Uβ . Portanto o operador gradiente em 4 dimensões é covariante:

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∂ ∂
�α
= Λαβ β (5.3.3)
∂x ∂x
Uma notação mais compacta e intuitiva para o operador gradiente é:

≡ ∂β , (5.3.4)
∂xβ
deixando claro que o ı́ndice correspondente é covariante. Da mesma forma

≡ ∂β . (5.3.5)
∂xβ
α
Uma consequência é que a divergência de um vetor contravariante ∂V
∂xα
= ∂α V α é invariante.
Outra é que o produto escalar que representa o operador d’Alembertiano é também invariante,
∂ α ∂α ≡ �.

5.4 O tensor métrico de Minkowski


O tensor de Minkowski η αβ ou ηαβ é um objeto bastante importante. Ele possui o mesmo
valor em qualquer sistema de referência, ou seja, assim como os escalares, ele também é um
invariante por TL.
Por uma transformação de Lorentz,

η γδ → η �γδ = Λγα Λδ β η αβ (5.4.1)


multiplicando esta equação por ηδκ obtemos ηδκ η �γδ = ηδκ Λγα Λδ β η αβ = Λγα Λκα = δκγ , e portanto
ηδκ η �γδ = δκγ , de onde concluı́mos que η �γδ = η γδ .

Exercı́cio: Mostre, componente a componente, que η �γδ = η γδ = Λγα Λδ β η αβ .

Desta forma a relação entre o tensor métrico de Minkowski e a matriz de transformação de


Lorentz é: � �
�µν µ ν αβ ∂xµ ∂xν αβ
η = Λ αΛ β η = η . (5.4.2)
∂xα ∂xβ
Vale relembrar aqui o que são essas quantidades. η µν é uma quantidade puramente geométrica,
que define o produto escalar no espaço de Minkowski:
 
1 0 0 0
0 −1 0 0
ηµν = 0 0 −1 0  = η
 µν
(5.4.3)
0 0 0 −1
Λαβ é a matriz de transformação de Lorentz:
 
γ −βγ 0 0

∂xα −βγ γ 0 0 u 1
Λαβ = =   β= γ=� , (5.4.4)
∂xβ  0 0 1 0 c 1 − β2
0 0 0 1
que é uma quantidade dinâmica, dependente da velocidade u entre os referenciais inerciais S e
S �.
A relação acima mostra que uma transformação de coordenadas, no caso as TL, definem
uma métrica, no caso a métrica de Minkowski. Esta relação é bastante importante, e será
generalizada na relatividade geral.

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