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PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

CIRCUITOS ELÉTRICOS III

Prof. José Nilton Cantarino Gil

2- Introdução aos Circuitos Polifásicos

Um gerador C.A. projetado para desenvolver uma única tensão senoidal


para cada rotação do eixo é denominado um gerador de C.A. monofásico. Se
forem utilizados mais de um enrolamento, posicionados de uma determinada
maneira, o resultado será um gerador C.A. polifásico. Como o espaçamento
entre os enrolamentos é uniformemente distribuído podemos afirmar que serão
geradas n tensões, pressupondo que possuímos n enrolamentos, defasadas de
2. 𝜋⁄ rad ou 360⁄ graus.
𝑛 𝑛
Assim, em um circuito polifásico com n fases, teremos as seguintes
equações do valor instantâneo da tensão em cada fase:

𝑒1 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡) (eq. 1)

1
𝑒2 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡 − 2𝜋. ) (eq. 2)
𝑛
𝑖−1
𝑒𝑖 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡 − 2𝜋. ) (eq. 3)
𝑛
𝑛−1
𝑒𝑛 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡 − 2𝜋. ) (eq. 4)
𝑛

Lembrando sempre, como mostrado na aula anterior que, o fator √2. 𝑉


simboliza o valor de pico da forma de onda e o valor V, o valor eficaz da mesma.
Como os sistemas polifásicos que mais utilizamos são os sistemas
trifásicos, isto é, com n=3, podemos escrever as tensões em cada fase do sistema
da seguinte forma:

𝑒1 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡) (eq. 5)

2𝜋
𝑒2 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡 − ) (eq. 6)
3
4𝜋
𝑒3 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡 − ) (eq. 7) ou
3
2𝜋
𝑒3 = √2. 𝑉. cos⁡(𝜔𝑡 + ) (eq. 8)
3
É importante observar que as equações 7 e 8 são equivalentes, pois
podemos escrever a tensão atrasada em 240º ou adiantada de 120º da tensão de
referência.
Se consideramos que o valor de pico pode ser representado por EM,
então podemos mostrar a figura 1, que representa instantaneamente como são as
tensões em um circuito trifásico equilibrado.
Figura 1: Tensões em um circuito trifásico equilibrado

Fonte: UNESP, ELE 0941, prof. Malange


Segundo Boylestad(2012), um gerador trifásico usa três enrolamentos
posicionados a 120º um do outro (2𝜋⁄3 rad). Como os três enrolamentos possuem
o mesmo número de espiras e giram com a mesma velocidade angular, as tensões
induzidas nesses enrolamentos tem a mesma amplitude, forma de onda e
frequência. À medida que eixo do gerador gira acionado por uma fonte externa, as
tensões induzidas são geradas simultaneamente. Em particular, podemos afirmar
que: em qualquer instante de tempo, a soma fasorial das três tensões de fase de
um gerador trifásico é nula. A figura 2 mostra um gerador trifásico com seus
enrolamentos.
Figura 2: Gerador trifásico

Fonte: Boylestad, 2012


A figura 3 mostra as tensões de fase geradas pelo gerador da figura 2 e é
importante observar as relações de simetria que ocorrem a cada instante,
mostrando como a soma das 3 tensões geradas em qualquer instante resultarão em
um valor nulo.
Figura 3: Tensões de fase de um gerador trifásico

Fonte: Boylestad, 2012


Observando a figura 3 podemos ver que quando uma fase estiver em
zero volts, as outras 2 fases possuirão valões com o mesmo módulo, porém com
sinais opostos. No caso, observando o ponto 0 do eixo horizontal, enquanto a
tensão entre a fase C e o neutro (eCN) está positiva em 0,866 do valor de pico, a
tensão entre a fase B e o neutro (eBN) está negativa também em 0,866 do valor de
pico. Além disso, quando duas tensões estão no mesmo valo elas possuem 0,5 do
valor de pico enquanto a outra fase está com a polaridade oposta e atinge o valor
de pico.
Na análise de circuitos de corrente alternada é comum a utilização de
fasores para uma análise mais rápida e intuitiva em vez de ficarmos raciocinando
com as formas de onda senoidais como as que foram mostradas anteriormente.
Segundo Boylestad (2012), um fasor é um vetor radial girante, com
módulo (comprimento) constante e uma extremidade fixa na origem. Durante o
desenvolvimento da senoide, o fasor está no instante t=0, nas posições vistas na
figura 4.
Figura 4: Diagrama fasorial das tensões de fase do gerador

Fonte: Boylestad, 2012


Se somarmos vetorialmente (ou fasorialmente) as tensões de fase do
gerador, mostradas na figura 4, obteremos um valor nulo. A figura 5 mostra como
fica a soma fasorial das tensões.
Figura 5: Soma fasorial das tensões de fase do gerador

Fonte: Boylestad, 2012


O gerador conectado em Y

Quando os 3 terminais N mostrados na figura 2b são conectados entre si,


o gerador é denominado gerador trifásico conectado em Y, conforme mostra a
figura 6.
A letra Y formada pelos enrolamentos do gerador na figura, aparece
invertida para facilitar a notação. Quando não temos nenhum condutor ligado ao
ponto N (neutro) dizemos que é um gerador trifásico ligado em Y, de três fios.
Quando existe uma ligação ao neutro, o sistema é denominado de um gerador
trifásico ligado em Y, de 4 fios. A função do neutro será discutida à frente, em
detalhes, quando estivermos estudando a carga nos circuitos trifásicos.
Os três condutores que interligam as saídas A, B e C do gerador à carga
são denominados de linhas e na ligação Y fica claro que a corrente de linha é
igual à corrente de fase.
Figura 6: Gerador conectado em Y

Fonte: Boylestad, 2012


Na figura 6 as correntes identificadas por Ig são as correntes de fase do
gerador enquanto IL são as correntes de linha. No caso da ligação Y as correntes
de linha são as mesmas das correntes de fase do gerador. Já as tensões de fase
produzidas pelo gerador EAN, EBN e ECN refletem os valores produzidos em cada
fase do gerador e a carga é alimentada pela diferença de potencial entre 2 tensões
de fase, resultando em 3 tensões de linha que terão seus valore, resultante pelas
equações a seguir:
𝐸𝐴𝐵 = 𝐸𝐴𝑁 − ⁡ 𝐸𝐵𝑁 (eq. 9)
𝐸𝐵𝐶 = 𝐸𝐵𝑁 − ⁡ 𝐸𝐶𝑁 (eq. 10)
𝐸𝐶𝐴 = 𝐸𝐶𝑁 − ⁡ 𝐸𝐴𝑁 (eq. 11)
Vamos mostrar o valor resultante das equações 9, 10 e 11 na figura 7
para que possamos visualizar como ficam representadas as tensões de linha e de
fase no circuito.
Figura 7: Tensões de linha e de fase

Fonte: Boylestad, 2012


Fasorialmente, poderíamos calcular essas tensões com alguma
facilidade, ou seja:
𝐸𝐴𝑁 = ⁡ 𝐸𝜙𝑔 ∟0𝑜

𝐸𝐵𝑁 = ⁡ 𝐸𝜙𝑔 ∟−120𝑜

𝐸𝐴𝐵 = ⁡ 𝐸𝐴𝑁 − ⁡ 𝐸𝐵𝑁 = ⁡ 𝐸𝜙𝑔 ∟0𝑜 − 𝐸𝜙𝑔 ∟ − 120𝑜 = √3. 𝐸𝜙𝑔 ∟30𝑜

De forma idêntica, poderíamos fazer a mesma operação para as outras 2


tensões de linha, obtendo-se respectivamente:

𝐸𝐵𝐶 = √3.⁡⁡𝐸𝜙𝑔 ∟−90𝑜

𝐸𝐶𝐴 = √3.⁡⁡𝐸𝜙𝑔 ∟150𝑜


Generalizando, em um circuito trifásico as tensões de linha é √3 vezes
maiores que as tensões de fase.

𝐸𝐿 = √3. 𝐸𝜙

Sequência de fase no gerador conectado em Y

A sequência de fase pode ser determinada pela ordem pela qual os fasores
passam por um ponto fixo quando ocorre um giro no sentido anti-horário. Na
figura 8 podemos ver que a sequência de fase do gerador é ABC, pois se
imaginamos todo o diagrama fasorial girando no sentido anti-horário essa será a
ordem que as fases passarão pelo ponto P fixado.
Figura 8: Sequência de fase ABC

Fonte: Boylestad, 2012


Apesar da figura 8 mostrar o diagrama fasorial das tensões de fase, na
sequência ABC, poderíamos também utilizar as tensões de linha para demonstrar.
Caso utilizemos as tensões de fase, na sequência ABC teremos:
𝑬𝑨𝑵 = 𝐸𝐴𝑁 ∟0𝑜 (referência)
𝑬𝑩𝑵 = 𝐸𝐵𝑁 ∟ − 120𝑜
𝑬𝑪𝑵 = 𝐸𝐶𝑁 ∟+120𝑜
E utilizando as tensões de linha, teremos:
𝑬𝑨𝑩 = 𝐸𝐴𝐵 ∟0𝑜 (referência)
𝑬𝑩𝑪 = 𝐸𝐵𝐶 ∟ − 120𝑜
𝑬𝑪𝑨 = 𝐸𝐶𝐴 ∟+120𝑜
Como o ponto fixo pode escolhido em qualquer ponto do diagrama, a
mesma sequência de fase pode também ser dita como BCA ou CAB e é
importante porque mostra o sentido de rotação do campo girante, implicando
diretamente no sentido de rotação dos motores trifásicos. Caso invertamos a
sequência de fase para ACB ou CBA ou BAC teremos a inversão do sentido de
giro do campo ou do sentido de movimento dos motores trifásicos.
A sequência de fase é também muito importante quando vamos interligar
sistemas trifásicos em paralelo.

Gerador conectado em Y com uma carga conectada em Y

Sistemas trifásicos podem sem conectados em Y (estrela) ou  (delta ou


triângulo). Quando temos um gerador fechado em Y conectado a uma carga
também em Y dizemos que temos um sistema Y-Y. A figura 9 mostra um circuito
com esse tipo de conexão e caso a carga seja equilibrada poderemos retirar a
conexão do neutro uma vez que não haverá corrente no condutor que interliga os
neutros do gerador e da carga.
Figura 9: Sistema trifásico Y-Y a quatro fios

Fonte: Boylestad, 2012


Para que a carga seja equilibrada é necessário que as impedâncias Z1, Z2 e
Z3 possuam os mesmos valores em módulo e ângulo, caso que seria desnecessário
caso estivéssemos tratando de corrente contínua.
Se todas as cargas de uma empresa fossem trifásicas, em teoria não seria
necessário o condutor de neutro uma vez que não haveria circulação de corrente
por esse condutor, porém isso nunca ocorrerá na prática. Mais adiante,
discutiremos esses casos em mais detalhes quando abordarmos circuitos
desequilibrados.
Voltando ao exemplo mostrado na figura 9, estamos considerando a carga
equilibrada com Z1=Z2 = Z3, que por sua vez teremos os módulos das correntes de
linha e fase exatamente iguais.
𝑰𝜙𝑔 = 𝑰𝐿 = 𝑰𝜙𝐿 (eq. 12)
Como o gerador e a carga tem o neutro em comum, sendo a carga
equilibrada ou não, podemos afirmar que:
𝑬 𝜙 = 𝑽𝜙 (eq. 13)

𝑽𝜙
𝑰𝜙𝐿 = ⁡ 𝒁 (eq. 14)
𝜙
Sendo que os módulos das correntes de fase serão iguais se a carga for
equilibrada e diferente se for desequilibrada. Não devemos esquecer também que
em as tensões de linha em um sistema em Y é √3 vezes maior que a tensão de
fase e logo 𝑬𝐿 = √3. 𝑽𝜙 .
Exemplo: Para o sistema da figura a seguir, que possui sequência de fase ABC e
tensão de fase de 120 V, responda:
a) Quais os ângulos de fase 2 e 3;
b) O módulo das tensões de linha;
c) As correntes de linha;
d) Como o sistema é balanceado, mostre que IN=0.

a) Ângulos de fase 2 e 3
Para uma sequência de fase ABC, temos:
2= -120º e 3=+120º
b) Módulos das tensões de linha

c) Correntes de linha
d) Cálculo de IN

Aplicando a LKC temos:

Totalizando IN=0+j0=0 A.

Exercícios de fixação:
Referências Bibliográficas:
CHAPMAN, Stephen, J. Fundamentos de Máquinas Elétricas, 5 ed., Bookman
McGraw Hill, Porto Alegre, 2013

BOYLESTAD, Robert L. Introdução a análise de circuitos, 12 ed., Person


Prentice Hall, São Paulo, 2012

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