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PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

CONVERSÃO ELETROMECÂNICA DE ENERGIA II

Prof. José Nilton Cantarino Gil

ASSUNTO: Fundamentos de Máquinas C.A. – Parte 2

Tensão induzida em máquinas CA

Assim como um conjunto de correntes em um estator pode produzir um


campo magnético girante, um campo magnético girante pode produzir um
conjunto de tensões trifásicas nas bobinas do estator, segundo Chapman
(2013). Para início de nosso estudo vamos considerar apenas para análise o
comportamento de uma espira.
Vamos considerar que a figura 1 mostra um rotor girante com um campo
magnético senoidal (no caso um campo produzido por uma cossenóide)
distribuído no centro de uma bobina estacionária. Isto é o inverso que
estudamos anteriormente quando tínhamos um campo magnético
estacionário e uma bobina girante.
Figura 1: Campo magnético de um rotor que gira dentro de um estator

Fonte: Chapman, 2013


Vamos assumir que o vetor densidade de fluxo B no entreferro entre rotor e
estator varia de forma senoidal com a ângulo mecânico e o sentido de B é
sempre radialmente para fora do estator a partir do rotor. Se  for o ângulo
medido a partir do valor de pico da densidade de fluxo do rotor, o valor de B
em um ponto ao redor do estator será dado por:

𝐵 = 𝐵𝑀 cos 𝛼 (eq.1)

A equação da tensão induzida num condutor 𝑒 = (𝐯 × 𝐁) ∗ 𝐈 foi obtida


quando tínhamos um condutor se movendo em um campo magnético
estacionário e como nosso caso trata de um campo magnético em movimento
deveremos utilizá-lo como uma referência de forma tal que sua velocidade
relativa seja constante, isto é, que possa parecer estacionário em relação a
referência. Dessa forma a velocidade v será uma velocidade relativa entre o
campo girante e o deslocamento do condutor e a trataremos por vrel e aí
poderemos aplicar essa equação.
Na figura 1(a) é mostrada a espira do estator e a 1(b) mostra o vetor de campo
magnético e as velocidades, do ponto de vista de um campo magnético
estacionário e um condutor em movimento.
A tensão total induzida na bobina será a soma das tensões induzidas na
bobina em cada um de seus 4 lados. A análise da tensão induzida em cada
segmento da bobina será mostrada a seguir:
1) Segmento ab:
a.  =180º
b. B aponta radialmente para fora a partir do rotor
c. o ângulo entre v e B (no segmento) é 90º
d. o produto vetorial v x B aponta na direção de l

O sinal negativo é porque a polaridade da tensão é oposta à


polaridade assumida.

2) Segmento bc:
a. O produto vetorial v x B é perpendicular a direção l
b. A tensão induzida será zero

3) Segmento cd:
a.  = 0º
b. B aponta radialmente para fora da página a partir do rotor
c. o ângulo entre v e B (no segmento) é 90º
d. o produto vetorial v x B aponta na direção de l

4) Segmento da:
a. O produto vetorial v x B é perpendicular a direção l
b. A tensão induzida será zero

A tensão total induzida na bobina será


eind = eba+edc

eind=-vBMlcos(mt-180º )+ vBMlcos(mt ) (eq.2)

Sabendo-se que cos  = -cos( - 180º), temos

eind=vBMlcos(mt )+ vBMlcos(mt )

eind=2 vBMlcos(mt ) (eq.3)

Como a velocidade nos lados da bobina paralelos ao eixo do rotor é dada por
v=rm, podemos reescrever a equação 3 como:

eind=2( rm)BMlcos(mt )

eind=2rlBMm cos(mt ) (eq.4)

Finalmente, o fluxo de atravessa a bobina pode ser expresso como ɸ=2rlBM,


ao passo que m=e= para um estator de 2 polos. Assim a tensão induzida
poderá ser expressa como:

eind= ɸ cos(t) (eq.5)

A equação 5 mostra a tensão induzida em uma bobina de uma única espira.


Se a bobina tiver NC espiras, então podemos escrever que:

eind= Nc.ɸ cos(t) (eq.6)

Com isso deduzimos que a tensão induzida no estator de uma máquina CA


simples é senoidal, com amplitude que depende do fluxo ɸ, da velocidade
angular  e de uma constante que depende da construção da máquina (nesse
caso simples, Nc) e esse resultado é igual ao que observamos quando
analisamos uma espira simples girando em um campo magnético uniforme.
Como observação final devemos visualizar que na equação 6 temos a
presença do cosseno em vez do seno, mas isso deve-se unicamente às
referências adotadas, pois se girarmos a referência de 90º os valores seriam
escritos como sen(t).

Tensão induzida em um conjunto trifásico de bobinas no estator

Se tivermos 3 bobinas, cada uma com Nc espiras, forem dispostas ao redor


do magnético do rotor, como mostra a figura 2, as tensões induzidas em cada
bobina serão as mesmas, porém defasadas de 120º.
Figura 2: Produção de tensões trifásicas a partir de 3 bobinas distanciadas

Fonte: Chapman, 2013

Logo, um conjunto de correntes trifásicas pode gerar um campo


magnético girante uniforme no estator de uma máquina e um campo
magnético girante pode gerar um conjunto de tensões trifásicas.

Tensão eficaz em um estator trifásico

A tensão de pico em qualquer das fases de um estator trifásico desse tipo é:

Emax= Nc ɸ (eq.7)
Como =2..f, podemos escrever que:

Emax= 2.. Nc. ɸ .f (eq.8)

E a tensão eficaz em cada fase será:

EA= (2.. Nc. ɸ .f)/√ 2

EA= √ 2.. Nc. ɸ .f (eq.9)

É lógico que as tensões nos terminais do estator dependerão se estão


fechados em estrela ou triângulo. Se estiver em estrela a tensão nos terminais
deverá ser a tensão de fase multiplicada por √ 3. E se está em triângulo as
tensões de fase e linha serão as mesmas, simplesmente iguais a EA.

Exemplo (exemplo 3.2- Chapman) A partir de um gerador de 2 polos como


mostrado na figura 2, a densidade de fluxo magnético do rotor é 0,2T e a
velocidade de rotação mecânica do eixo é 3600 rpm. O diâmetro do estator
da máquina tem 0,5 m e o comprimento de sua bobina é 0,3 m, tendo 15
espiras por bobina. A máquina está fechada em Y.
(a) Quais as 3 tensões de fase do gerador em função do tempo?
(b) Qual a tensão de fase eficaz desse gerador?
(c) Qual a tensão eficaz nos terminais do gerador?
Conjugado induzido em uma máquina CA

A interação dos campos magnéticos do rotor e estator em uma máquina CA


produz um conjugado semelhante a dois imãs permanentes próximos que
tendem a se alinhar.
A distribuição de fluxo em uma máquina como a representada na figura 3,
que possui uma distribuição senoidal de fluxo no estator que aponta o
máximo para cima e uma única espira montada no rotor é:

Bs()= Bs.sen() (eq.10)

onde Bs é o valor da densidade de fluxo de pico; Bs() é positiva quando o


vetor densidade de fluxo aponta radialmente para fora da superfície do rotor
em direção à superfície do estator. O conjugado produzido nessa máquina
será em função da força em cada um dos condutores separadamente.
Figura 3: Máquina CA simplificada com distribuição senoidal de fluxo

Fonte: Chapman, 2013


A força induzida no condutor 1 é:

O conjugado no condutor é:

A força induzida no condutor 2 será:

O conjugado no condutor 2 será:

Portanto o conjugado na bobina do rotor será:

𝜏𝑖𝑛𝑑 = 2. 𝑟. 𝑖. 𝑙. 𝐵𝑠 . 𝑠𝑒𝑛(𝛼) (eq.11)

no sentido anti-horário.

A equação 11 pode ser escrita de forma mais conveniente se observarmos a


figura 4.
Figura 4: Componentes do campo magnético no interior da máquina da figura 3

Fonte: Chapman, 2013


Devemos observar 2 fatos:
1) A corrente i que flui no rotor produz ela própria um campo
magnético, cujo sentido (campo máximo) é dado pela regra da mão
direita (BR) e com magnitude (HR) diretamente proporcional a
corrente que flui no rotor:

2) O ângulo entre o valor de pico da densidade de fluxo magnético do


estator (Bs) e o valor de pico da intensidade do campo magnético (HR)
é . Além disso:

Combinando essas duas observações, o conjugado na bobina do rotor,


poderá ser escrito como:

(eq.12)

Em que K é uma constante que depende da construção da máquina.


Observe que tanto a magnitude como o sentido do conjugado podem
ser expressos pela equação:

(eq.13)
Como BR=.HR, podemos expressar essa equação também por:

(eq.14)
em que k=K/. Observe que geralmente k não é constante, porque a
permeabilidade magnética  varia com a quantidade de saturação
magnética da máquina.
A equação 14 possui uma constante que varia de máquina para
máquina e, portanto, a equação deve ser utilizada apenas para estudos
qualitativos do conjugado de máquinas CA, onde o valor de k não é
importante para nossos propósitos.
O campo magnético líquido será a soma vetorial dos campos do rotor
e estator:
Bliq = Bs + BR (eq.15)
Como Bs = Bliq - BR, então:

E como o produto vetorial de qualquer vetor por ele mesmo é zero,


temos:

(eq.16)

(eq.17)
Onde  é o ângulo entre BR e Bliq.
Essas equações nos ajudarão a entender o conjugado nas máquinas de
forma qualitativa, como por exemplo. Se em nossa análise o
conjugado se opõe ao movimento com certeza a máquina está
funcionando como gerador ao passo que se está no sentido do
movimento então funciona como motor.
Figura 5: Máquina síncrona simplificada mostrando os campos magnéticos do rotor e estator

Fonte: Chapman
A figura 5 mostra uma máquina síncrona simplificada com os campos
magnéticos e velocidade do eixo representados. Ao analisarmos os
dados que são utilizados nas equações 17 ou 16, usando a regra da mão
direita, vemos que o conjugado induzido é horário e portanto,
contraria o sentido de movimento do eixo da máquina. A máquina está
funcionando como um gerador.
Isolação dos enrolamentos em uma máquina CA
Uma das partes mais críticas do projeto de uma máquina CA é
a isolação dos enrolamentos. Caso a isolação se rompa a máquina
entra em curto-circuito e normalmente o custo do reparo da isolação é
muito elevado.
Para evitar o rompimento da isolação como resultado de
sobreaquecimento é necessário limitar as temperaturas máximas nos
enrolamentos. Normalmente isso é feito com a circulação de ar
ventilando os enrolamentos. Em última análise, podemos afirmar que
a potência máxima que pode ser fornecida pela máquina está
diretamente relacionada à temperatura máxima que estão submetidos
os enrolamentos.
A isolação raramente falha devido a um rompimento imediato
ao atingir uma temperatura crítica. Normalmente o aquecimento
produz uma destruição gradativa da isolação tornando-a sujeita a
falhas causadas por outras razões, como choques, vibrações ou stress
elétrico. Uma antiga regra prática diz que a vida útil esperada cai para
a metade cada vez que a temperatura excede 10% da temperatura
nominal.
Para a padronização dos limites de temperatura de isolação das
máquinas a NEMA (National Electrical Manufactures Association),
nos EUA, definiu uma série de classes de sistemas de isolação. Cada
classe especifica quanto de elevação de temperatura é permitido. Para
motores de potência elevada normalmente temos 3 classes de isolação:
B, F e H. Por exemplo um motor de indução de classe B não deve
exceder 80º C, 105º na classe F e 125º na classe H.
A figura 6 mostra a vida útil média do isolamento em milhares
de horas versus temperatura dos enrolamentos para diferentes classes
de isolação.
Figura 6: Vida útil da isolação

Fonte: Chapman, 2013


Na figura 6, uma temperatura de 140º por exemplo faria com que um
motor com isolação classe B tivesse uma vida útil de 12500 horas, um
motor de classe F em mais de 50.000 horas e não afetaria um motor
de classe H, que seria o adequado para essa situação de trabalho.

Fluxos e perdas de potência em máquinas CA

Tanto na operação como motor ou como gerador, a potência de


entrada será convertida na potência de saída mais as perdas observadas
no processo.
A eficiência (ou rendimento) de uma máquina CA é definida como:

(eq.18)
ou

(eq.19)
As perdas nas máquinas CA podem ser divididas em 4 categorias
básicas:

1- Perdas elétricas no cobre


As perdas no cobre são as que ocorrem por efeito joule nos
enrolamentos do rotor(campo) e estator(armadura) da máquina. As
perdas no cobre do estator são dadas, em uma máquina trifásica
por:

(eq.20)
onde IA é a corrente na armadura e RA é a resistência em cada
enrolamento de fase da armadura.
Em uma máquina síncrona (as máquinas de indução serão
abordadas de forma separada mais a frente), as perdas no cobre do
rotor serão dadas por:
(eq.21)

onde IF é a corrente de campo e RF é a resistência do enrolamento


de campo. Normalmente utilizamos a resistência na temperatura
normal de funcionamento.

2- Perdas no núcleo
As perdas no núcleo são por histerese e corrente parasita que estão
presentes nas partes metálicas da máquina. Essas perdas variam
com o quadrado da densidade de fluxo para o estator, como
descritas na revisão de magnetismo do início do curso e com a
potência de 1,5 da velocidade de rotação dos campos magnéticos
(n1,5), segundo Chapman (2013).

3- Perdas mecânicas
As perdas mecânicas em uma máquina CA são perdas associadas
a efeitos mecânicos como ventilação e atrito. As perdas por
ventilação devem-se ao atrito do ar e das partes móveis da máquina
e as por atrito ao atrito mecânico nos rolamentos. Segundo
Chapman, essas perdas variam com o cubo da velocidade mecânica
da máquina.
As perdas mecânicas e no núcleo são frequentemente relacionadas
a perdas rotacionais em vazio da máquina, porque quando está em
vazio, toda a potência de entrada é utilizada para suplantar essas
perdas.

4- Perdas suplementares ou variadas


São perdas que não se encaixem em nenhuma das categorias
anteriores. Não importa quanto cuidadosos formos na avaliação,
sempre ficarão de fora algumas perdas que serão enquadradas
nessa categoria. Como valores típicos, essas perdas por convenção
são consideradas 1% do valor nominal.

Normalmente, utilizamos a técnica dos chamados diagramas de fluxo de


potência para a avaliação da contabilização das perdas nas máquinas em
geral. A figura 7(a) mostra o diagrama de fluxo de potência de um gerador e
a 7(b) a de um motor. Na figura 7(a) a potência mecânica é a entrada e a
saída é a potência trifásica elétrica. Na figura 7(b) a entrada na máquina é
uma potência elétrica trifásica e na saída temos a potência convertida em
potência mecânica.
Figura 7: Diagrama de fluxo de potência de um gerador e de um motor trifásico

Fonte: Chapman, 2013

O ponto denominado Pconv presente nas figuras 7(a) e 7(b) é


idealmente o ponto de conversão da potência mecânica em elétrica e
vice-versa. A potência convertida Pconv = ind.m, porém essa não é a
potência que será a saída na máquina pois no motor teremos que
considerar as perdas mecânicas, no núcleo e as suplementares e no
gerador as perdas no cobre.

Regulação de tensão e regulação de velocidade

Normalmente os geradores são comparados entre si pelo uso de uma


figura de mérito denominada regulação de tensão. A regulação de
tensão é uma medida de capacidade de quanto um gerador pode
manter a constante sua tensão de saída nos terminais quando a carga
varia.

Em que VVZ é a tensão em vazio e VPC é a tensão em plena carga.


Para os motores, é usual compararmos por algo equivalente
relacionado à manutenção de sua velocidade quando a carga varia.
Dessa a regulação de velocidade de um motor é dada pela equação:

onde na primeira equação, nVZ é a velocidade em rpm em vazio e npc é


a velocidade em rpm a plena carga.
Já na segunda equação, VZ é a velocidade angular em rad/s em vazio
e PC é a velocidade angular em plena carga.

Exercícios de Fixação:
Referências Bibliográficas:
CHAPMAN, Stephen, J. Fundamentos de Máquinas Elétricas, 5 ed.,
Bookman McGraw Hill, Porto Alegre, 2013

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