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PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

CONVERSÃO ELETROMECÂNICA DE ENERGIA II

Prof. José Nilton Cantarino Gil

ASSUNTO: Geradores Sincronos

Segundo Chapman (2013), geradores síncronos ou alternadores são


máquinas síncronas utilizadas para converter potência mecânica em potência
elétrica CA. Vamos explorar a partir de agora o funcionamento dos geradores
síncronos operando isoladamente ou em conjunto com outros geradores.

Aspectos construtivos dos geradores síncronos

Em um gerador síncrono, um campo magnético é produzido no rotor


(podendo dependendo do projeto ser um imã permanente ou de um eletroímã obtido
pela aplicação de corrente contínua em um enrolamento desse rotor). Sendo o rotor
desse gerador acionado por uma máquina motriz primária, será gerado um campo
magnético girante dentro da máquina, que induzirá um conjunto de tensões nos
enrolamentos do estator do gerador. Como normalmente temos 3 conjuntos de
enrolamentos no estator dessas máquinas, defasados de 120o entre si, será
produzida então um conjunto de tensões trifásicas também defasadas de 120 o.
Como nas máquinas síncronas as expressões enrolamentos de rotor e enrolamentos
de campo são utilizadas no mesmo sentido, os termos de enrolamentos do estator
ou enrolamentos de armadura são também utilizados com o mesmo significado.
O rotor é essencialmente um grande eletroímã e seus polos podem ser
construídos de 2 formas: salientes ou não salientes.
A figura 1 mostra o desenho de um rotor de polos não salientes de uma
máquina síncrona:
Figura 1

Fonte: CHAPMAN (2013)


A figura 2 mostra rotores de polos salientes com diversos números de polos.
Entende-se que quando temos polos salientes significa que teremos protuberâncias
ou que os polos se projetam para fora.
Figura 2

Fonte: Chapman (2013)/ General Electric Company


A figura 2(a) mostra o desenho de um rotor de 6 polos salientes. Já na figura
2(b) temos uma fotografia de um rotor de 8 polos salientes, podendo-se ver os
enrolamentos dos polos individuais. Na figura 2(c) temos a fotografia de um único
polo saliente de um rotor, antes da colocação dos enrolamentos de campo e na 2(d),
um polo saliente já com os enrolamentos instalados.
De uma forma geral, CHAPMAN (2013) afirma que rotores de polos não
salientes não são utilizados em rotores com mais de 4 polos, ficando seu uso restrito
de 2 ou 4 polos. Acima desse número teremos sempre rotores de polos salientes.
Como o rotor está sujeito a campos magnéticos variáveis ele é construído
com lâminas delgadas para a redução das perdas por corrente parasita.
Como o rotor é um eletroímã ele deverá ser alimentado com C.C. Essa
alimentação pode ocorrer de 2 formas:
a) através de anéis e escovas alimentadas por uma fonte C.C. externa;
b) a partir de uma fonte de potência CC especial montada diretamente no eixo
do gerador síncrono.

Os anéis coletores são anéis de metal que envolvem completamente o eixo da


máquina, isolados eletricamente dele, e estão conectados aos enrolamentos de CC
do rotor. A energia é transferida externamente através de escovas estacionárias em
contato com cada anel coletor. Uma escova é um bloco de carbono semelhante a
grafite capaz de ser excelente condutor com um atrito muito baixo. Desse modo a
escova não desgasta o anel coletor, mas aumenta o grau de manutenção dessas
máquinas uma vez que o desgaste das escovas deve ser verificado regularmente
implicando em quedas de tensão nesses pontos.
Apesar desses problemas, em máquinas de menor porte, essa é a única forma de
viável de fornecimento de energia para o rotor. Nas máquinas de maior porte,
excitatrizes sem escovas são utilizadas para fornecimento de CC ao rotor. Essas
excitatrizes são pequenos geradores trifásicos de CA com seus circuitos de campo
montados no estator e circuito de armadura montado no eixo. A tensão CA é
convertida em CC através de retificadores também montados no eixo do gerador,
conforme é mostrado na figura 3:

Figura 3

Fonte: Chapman (2013)


A figura 3 mostra que o estator da excitatriz é alimentado por corrente
continua retificada e controlada pelo reostato RF. No eixo do gerador estão
montados a armadura da excitatriz com seus três enrolamentos que irão gerar uma
tensão CA trifásica, o retificador trifásico que deverá converter a CA gerada em
CC para alimentar o campo principal do gerador síncrono, cujo enrolamento
também está no rotor. Tudo isso ocorrendo sem que exista nenhum anel coletor ou
escova presente e logo, com muito menos manutenção requerida uma vez que não
há contatos mecânicos. A figura 4, mostra a fotografia de um rotor de um gerador
síncrono com uma excitatriz.

Figura 4

Fonte: Chapman (2013)/Westinghouse Electric Company


Caso necessitemos tornar a excitação completamente independente de
quaisquer fontes de potência externas, uma pequena excitatriz piloto é
frequentemente incluída no sistema. Entenda-se por excitatriz piloto, um pequeno
gerador CA com imãs permanentes montados no rotor e sua armadura montada no
estator do gerador. A figura 5 mostra como ficará o arranjo de um gerador síncrono
que não depende de nenhuma fonte de potência externa, utilizando a excitatriz
piloto. A figura 6 mostra a fotografia de um gerador síncrono de grande porte, em
corte, que utiliza excitatriz piloto para fornecimento da energia ao estator da
excitatriz principal que por sua vez alimentará com CC o rotor do gerador síncrono.
Pode ser observado também na figura 6 o rotor de polos salientes.
Figura 5

Fonte: Chapman, (2013)

Figura 6

Fonte: Chapman (2013) / General Electric Company


Velocidade de rotação de um gerador síncrono

Nos geradores síncronos, a frequência elétrica produzida está sincronizada


ou vinculada à velocidade mecânica da rotação do gerador. A taxa de rotação dos
campos magnéticos da máquina está relacionada com a frequência elétrica do
estator por meio da equação 1.

𝑛𝑚 𝑃
𝑓𝑠𝑒 = (eq.1)
120
Onde
fse = frequência elétrica, em Hz
nm = velocidade do campo magnético em rpm (igual a velocidade do rotor
nas maquinas síncronas;
P = número de polos.
Como o rotor gira com a mesma velocidade que o campo magnético, essa
equação relaciona a velocidade de rotação do rotor com a frequência elétrica
resultante. Como devemos gerar energia com frequência de 50 ou 60 Hz, podemos
verificar que por exemplo:
a) frequência = 50 Hz
se o gerador tem 2 polos: deve girar a 3000 rpm
se o gerador tem 4 polos: deve girar a 1500 rpm

b) frequência = 60 Hz
se o gerador tem 2 polos: deve girar a 3600 rpm
se o gerador tem 4 polos: deve girar a 1800 rpm

Tensão interna gerada por um gerador síncrono


O valor da tensão induzida em uma dada fase do estator é dado pela equação
2, a seguir:
𝐸𝐴 = √2. 𝜋. 𝑁𝐶 . 𝜙𝑓 (eq.2)
onde Nc é o número de espiras da bobina de cada fase do estator,  o fluxo
magnético e f a frequência ou velocidade angular.
A tensão induzida depende do fluxo  da máquina, a frequência ou
velocidade de rotação e da construção da máquina, uma vez que o circuito
magnético vai influir diretamente. Quando uma máquina síncrona já teve seus
problemas construtivos resolvidos, essa equação é normalmente reescrita
destacando-se as grandezas que variam durante o funcionamento da máquina, como
a seguir:

𝐸𝐴 = 𝑘. 𝜙.  (eq.3)

onde k é uma constante que representa os aspectos construtivos da máquina. Caso


a velocidade angular seja expressa em radianos elétricos por segundo, então
podemos afirmar que:

𝑁𝑐
𝐸𝐴 = (eq.4)
√2

Mas caso  seja expresso em radianos mecânicos por segundo, então:

𝑁𝐶 .𝑃
𝐸𝐴 = (eq.5)
√2

Onde P é o numero de polos.


A tensão interna gerada EA é diretamente proporcional ao fluxo e à
velocidade, mas o fluxo depende da corrente da corrente que flui no circuito de
campo do rotor.
A figura 7 (a) mostra como a corrente IF do circuito de campo do gerador
relaciona-se com o fluxo magnético  . Como EA é diretamente proporcional ao
fluxo, ela também será proporcional à corrente de campo IF na região linear da
curva de magnetização, conforme mostrado em 7(b).

Figura 7

Fonte: Chapman (2013)


A figura 7 (b) também é conhecida como a curva de magnetização ou
característica em vazio (CAV) da máquina.

Circuito equivalente de um gerador síncrono


Quando analisamos um gerador síncrono vemos que a tensão EA gerada só é
igual à tensão nos terminais do gerador (tensão de fase, V) quando não há corrente
circulando na armadura. Se considerarmos todos os fatores que fazem com que
exista essa diferença poderemos construir um circuito equivalente para um gerador
síncrono.
Os principais fatores que causam essa diferença são:
1. Distorção do campo magnético do entreferro pela corrente que flui no
estator, denominada reação de armadura;
2. Autoindutância das bobinas da armadura;
3. Resistência das bobinas de armadura;
4. Efeito do formato dos polos salientes do rotor.
Assim exploraremos os 3 primeiros e deduziremos um modelo de máquina a
partir deles. Os efeitos dos polos salientes serão ignorados nesse momento sem
perder precisão considerável. Assim, nesse momento estaremos considerando
todos os geradores como máquinas com rotores cilíndricos.
Figura 8 – Desenvolvimento de um modelo de reação da armadura

Fonte: Chapman (2013)

A figura 8(a) mostra o campo girante quando produz a tensão E A gerada


internamente e essa tensão irá produzir uma corrente IA que na figura 8(b) está
atrasada em relação à tensão, em virtude da carga ter características indutivas. Esta
corrente irá produzir seu próprio campo magnético BS que por sua vez produz sua
própria tensão Eest como mostra a figura 8(c). O campo magnético BS é somado a
BR, distorcendo-o e resultando no campo Bliq como mostrado em 8(d) e a tensão
Eest será somada a EA, produzindo V na saída de fase. Se X for uma constante de
proporcionalidade, então a tensão de reação da armadura poderá ser expressa como:
Eest= - jXIA (eq.6)

Como a tensão de fase é a diferença entre a tensão gerada E A e tensão de


reação da armadura Eest, então poderemos escrever:

V = EA - jXIA (eq.7)

Figura 9 – Modelo com a reação da armadura

Fonte: Chapman (2013)

Se aplicarmos a LKT ao circuito mostrado na figura 9, iremos perceber que


a expressão resultante é a mesma que descreve a reação de armadura(eq.7), e
portanto a tensão de reação de armadura pode ser modelada como um indutor em
série com uma fonte que fornece a tensão gerada.
EA - jXIA - V = 0 (eq.8)

Ao consideramos os demais efeitos provenientes da autoindutância e da


resistência do enrolamento deveremos acrescer no modelo uma resistência de
armadura RA e uma reatância indutiva XA em série. Como teremos 2 indutâncias
sendo somadas (X e XA), iremos substituí-la por uma equivalente que chamaremos
de XS. Assim poderemos escrever:
XS = X + XA (eq.9)

V = EA - jXIA - jXAIA - RAIA (eq.10)

V = EA - j (X+XA) IA - RAIA (eq.11)

V = EA - jXS IA - RAIA (eq.12)

Para concluir podemos agora construir o modelo de um gerador síncrono


trifásico, como o da figura 10, permitindo que a saída seja fechada em estrela ou
triângulo. Caso fecharmos em estrela a tensão no terminal VT (que no caso será a
mesma tensão de linha) relaciona-se com a tensão de fase por:
𝑉𝑇 = 𝑉𝐿 = √3. 𝑉𝜙 (eq.13)

Caso o fechamento seja em triângulo, então a tensão de fase é igual à tensão de


linha que será igual a tensão no terminal VT. Assim:
VT = V
A figura 10 mostra o circuito equivalente de um gerador síncrono trifásico:
Figura 10: Circuito equivalente de um gerador síncrono trifásico

Fonte: Chapman (2019)


Atentar para o fato de que as 3 fases só apresentarão as mesmas tensões e
correntes quando estiverem alimentando cargas equilibradas (ou balanceadas). No
caso de cargas desequilibradas então técnicas de análise mais sofisticadas deverão
ser utilizadas. Em nosso curso nos fixaremos na análise com cargas equilibradas.

Exercícios Propostos:
1) (Problema 4.1, Chapman) Em uma cidade da Europa é necessário fornecer
1000 kW de potência em 60Hz. As únicas fontes de potência disponíveis
operam em 50Hz. Decide-se gerar a potência por meio de um conjunto de
motor-gerador consistindo de um motor síncrono que aciona um gerador
síncrono. Quantos polos deve ter cada uma das duas máquinas para que a
potência de 50 Hz seja convertida em 60 Hz?
2) (Problema 4.2, Chapman) Um gerador síncrono de 13,8kV, 50 MVA, fator de
potência 0,9 atrasado, ligado em Y e de quatro polos tem uma reatância
síncrona de 2,5Ω e uma resistência de armadura de 0,2Ω. Em 60Hz, as perdas
por atrito e ventilação são de 1MW e as perdas no núcleo são de 1,5MW. O
circuito de campo tem uma tensão CC de 120V e a IF máxima é 10 A. A corrente
do circuito de campo é ajustável no intervalo de 0 a 10 A. A CAV desse gerador
é mostrada a seguir:

a) Qual é o valor da corrente de campo necessária para tornar a tensão terminal


VT (ou tensão de linha VL) igual a 13,8 kV, quando o gerador está operando
a vazio?
b) Qual o valor da tensão interna EA quando o gerador está funcionando nas
condições nominais?
c) Qual a tensão de fase Vɸ desse gerador em condições nominais?
d) Quando o gerador está operando em condições nominais, quanta corrente de
campo é necessária para tornar a tensão de terminal VT igual a 13,8kV?
e) Suponha que esse gerador esteja operando em condições nominais quando
a carga é removida sem que a corrente de campo seja alterada. Qual seria a
tensão de terminal do gerador?

3) (Problema 4.3, item a, Chapman) Assuma que a corrente de campo do gerador


da questão anterior foi ajustada para 5 A. Qual a tensão de terminal desse
gerador se ele for conectado a uma carga em delta com uma impedância de 24Ω
atrasada em 25º?

Em caso de dúvida podem me contatar pelo email jnilton@ubm.br.

Referências Bibliográficas:
CHAPMAN, Stephen, J. Fundamentos de Máquinas Elétricas, 5 ed., Bookman
McGraw Hill, Porto Alegre, 2013

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