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MÁQUINAS

ELÉTRICAS I

Vinícius Novicki Obadowski


Gerador síncrono II
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir o circuito equivalente do gerador síncrono trifásico.


„„ Reconhecer os parâmetros do circuito equivalente do gerador sín-
crono trifásico.
„„ Apresentar a construção do diagrama fasorial do gerador síncrono
trifásico.

Introdução
A análise dos componentes de um gerador síncrono é essencial para estu-
dos mais avançados na área de sistemas de energia e máquinas elétricas.
Por exemplo, ao trabalhar com estudos de curto-circuito, sistemas de
partida e efeitos de saturação magnética, é importante que você detenha
o conhecimento a respeito do comportamento de cada parâmetro que
serve como modelo da máquina. Além disso, você deve compreender
aspectos mais específicos do modelo matemático, em especial o circuito
equivalente e seus parâmetros, os quais são as representações da interação
eletromecânica descritas de uma forma objetiva e compacta, como será
visto nas próximas seções.
A partir deste capítulo, você será capaz de definir o circuito equiva-
lente, reconhecer os parâmetros do circuito e apresentar a construção
do diagrama fasorial do gerador síncrono.

Circuito equivalente
Tradicionalmente, quaisquer estudos que envolvam sistemas ditos elétricos —
isto é, aqueles que interagem com campos eletromagnéticos, como sistemas de
distribuição de energia, usinas solares, conversores de frequência, etc. — são
realizados por meio de circuitos equivalentes. Estes são representações mate-
máticas da realidade, que nos auxiliam na avaliação, verificação e análise do
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comportamento dos sistemas representados. Os geradores síncronos também


têm uma representação equivalente, a qual será estudada nesta seção, porém,
primeiro, você deve recapitular alguns conceitos da construção dos geradores,
pois é a partir deles que se definirá o circuito equivalente.
Os dois principais componentes da máquina síncrona são: estator (ele-
mento fixo) e rotor (elemento girante). No caso de um gerador, a tensão do
estator (também chamada de tensão da armadura) é produzida em função da
presença de campo magnético no rotor, enquanto se aplica um torque ao eixo
da máquina. Imaginando um estator, você percebe que ele é constituído por
três bobinas trifásicas. Como consequência, você pode deduzir que, do ponto
de vista elétrico, existem alguns elementos mínimos nas bobinas do estator:
resistência do enrolamento e autoindutância das bobinas, cuja presença faz
com que, durante a operação em carga do gerador, a tensão dos terminais da
máquina seja diferente daquela calculada que surge nas bobinas em função
da conversão eletromecânica de energia.

Neste capítulo, você está vendo o modelo considerando um gerador de polos lisos e
com circuito de campo disponível. O estudo de máquinas síncronas com polos salientes
e/ou com magnetos permanentes normalmente envolve mais detalhes e demanda
uma análise do comportamento da distribuição do campo no entreferro. Entretanto,
as equações apresentadas aqui podem ser utilizadas. Na prática, você verificará que
os valores obtidos são imprecisos.

Segundo Chapman (2013), a tensão EA difere da tensão dos terminais, Vϕ,


em função desses dois elementos e, também, devido à presença ou não de
saliência nos polos. Todavia, nessa primeira análise, a presença desse efeito
será negligenciada, visto que seu estudo está normalmente contido na análise
da dinâmica de máquinas elétricas.
Outro ponto que merece destaque é a presença da chamada reação da
armadura, pois, como a passagem de corrente pelo estator também provoca
um campo magnético, este novo campo acaba influenciando o original que
produziu a corrente em primeiro lugar. Essa influência, na verdade, provoca
uma distorção no campo original — matematicamente, os modelos de autoin-
dutância e resistência do enrolamento representam esse efeito.
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Logo, pode-se representar uma das fases da máquina como sendo a tensão
interna produzida pela conversão eletromecânica subtraída da tensão de reação
da armadura.

(1)

onde Vϕ é a tensão de uma das fases, EA é a tensão interna, e VRA é a tensão


de reação da armadura. Conforme apresentado anteriormente, essa tensão é
a representação simplificada da soma da queda de tensão na autoindutância
e na resistência da armadura:

(2)

onde Xs é o valor da reatância indutiva (também chamada de reatância


síncrona), do enrolamento da armadura (estator), RA é a resistência do enro-
lamento, e IA é a corrente da armadura. Você pode perceber que, na realidade,
ao substituir a equação (2) na equação (1), você obterá uma equação (3) que
pode ser graficamente representada por um circuito elétrico:

(3)

Porém, cabe ressaltar que o gerador síncrono estudado é trifásico e, con-


siderando que todos os três enrolamentos são construídos da mesma forma, o
circuito equivalente dos três é idêntico. A fim de caracterizar isso, sempre que
você ver a notação 1, 2 ou 3 nas variáveis, ela se refere à identificação rápida
das fases A, B e C, respectivamente. Você deve evitar empregar a notação com
letras para variáveis neste momento, pois poderia ocasionar alguma confusão
com os termos referentes à armadura do gerador.
Outro ponto que não foi analisado ainda é a estrutura do circuito de campo.
Nele, considera-se que o campo magnético é alimentado por uma fonte externa
e dispõe de uma resistência variável para efetuar o controle da corrente que
passa pelo circuito do rotor. Lembre-se de que a alimentação do circuito de
campo é realizada em corrente contínua. Essa modelagem também não discorre
sobre a presença de excitatrizes, pois, dado que a alimentação é externa, esse
modelo vale tanto para geradores com anéis deslizantes e escovas como aqueles
sem escovas. A Figura 1, a seguir, apresenta o circuito elétrico completo,
considerando as três fases e o circuito de campo.
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Figura 1. Circuito equivalente por fase do gerador síncrono.


Fonte: Chapman (2013, p. 202).

No caso de um gerador com magnetos permanentes, o circuito equivalente seria o


mesmo, porém sem a possibilidade de alterar a magnitude da tensão EA por meio da
corrente de campo. O valor seria constante para qualquer situação de operação. Caso
tenha interesse sobre esse tema em particular, recomenda-se que consulte Chapman
(2013) ou o trabalho de Teixeira (2006), que trata especificamente da modelagem
desse tipo de máquina.
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Para deixar mais clara a aplicação do circuito equivalente, suponha que você precise
realizar uma verificação nos valores de saída do gerador (tensão e corrente nominais).
Ao inspecionar os dados de placa, você anota que a reatância síncrona tem valor de
2Ω na frequência nominal, e a tensão nominal, com conexão em estrela, é 380 V.
Sabendo que essa máquina é de 20 kW, e você está realizando essa verificação com
o gerador à plena carga e a fator de potência 0,92 indutivo, estime o valor interno da
tensão e a corrente nominal.

Resposta:
conhecendo o fator de potência e a potência nominal, você pode estimar a potência
aparente, para então calcular a corrente de carga.

P 20
S= = = 21,74 kV A
FP 0,92

Como a máquina está conectada em estrela, a corrente pode ser expressa como:

S = √3 · 380 · ia

21,74 · 103
ia = = 33,03 A
√3 · 380

Tendo em mãos a corrente da armadura, pode-se empregar o circuito equivalente


para estimar a tensão interna. Lembrando-se de que, no circuito equivalente, usa-se
a tensão de fase, e não a de linha.

Ea = jXsia + 220∠0°

Ea = j2 · 33,03∠arccos(0,92) + 220∠0°

Ea = j66,06∠25,63° + 220∠0°

Ea = 281. 02∠5. 83°V


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Parâmetros do circuito equivalente


Na seção anterior, você pode perceber como os enrolamentos influenciam
na determinação do circuito equivalente. Cabe agora entender como esses
parâmetros são mensurados e como podem ser empregados em estudos de
geradores síncronos.
O circuito equivalente do enrolamento do estator é composto por três
parâmetros: tensão interna, reatância síncrona e resistência do enrolamento.
Cada um deles é determinado de uma maneira diferente, e são relevantes para
determinação de outros valores atinentes às máquinas síncronas.

Tensão interna, reatância síncrona e resistência do enrolamento são utilizadas na


determinação de estudos específicos, como curto-circuito, carga máxima, eficiência,
estabilidade transitória, além de vários outros conforme a necessidade de apresentar
em seu futuro ambiente de trabalho.

O primeiro parâmetro a ser avaliado é a tensão interna, EA, cuja definição


vem dos fundamentos das máquinas elétricas com o auxílio da teoria eletro-
magnética. O termo “tensão interna” é dado em função de esse valor só ser
mensurável enquanto não houver corrente circulando pelos enrolamentos da
máquina. Em uma rápida análise em uma das fases do circuito equivalente da
Figura 1, você verá que, ao manter o circuito em aberto, a tensão Vϕ é igual a
EA e, ao ser conectada uma carga no circuito, a passagem de corrente elétrica
faz com que haja uma queda de tensão na impedância síncrona (RA + jXS),
também chamada de reação da armadura. Logo, para uma correta estimativa
da tensão interna, deve-se optar pela realização de ensaios sem carga, a fim
de aferir esses valores.
Por outro lado, a reação da armadura contém informações relevantes para
análise do comportamento do gerador quando em carga — por exemplo, esti-
mar o efeito sobre o gerador quando submetido a uma sobrecarga, pois, nessa
condição, a reação da armadura se sobressai frente à tensão interna, mitigando a
operação do gerador ou, até mesmo, colocando em risco a integridade estrutural
da máquina. Outro ponto relevante é que o conhecimento desses parâmetros
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auxilia na estimativa das perdas por efeito Joule nos enrolamentos, que, por
sua vez, serve como base para estudos de dissipação térmica do gerador.
No circuito de campo, há dois parâmetros principais: a resistência total do
enrolamento de campo e a indutância de campo. O primeiro remete à soma da
resistência do enrolamento propriamente dito e à de uma resistência variável
usada para controlar o circuito de campo, enquanto que o último se refere à
indutância mútua do enrolamento dos polos magnéticos, empregado somente
em estudos transitórios envolvendo o circuito de campo.

Em estudos qualitativos dos geradores síncronos, normalmente é ignorada a resistên-


cia da armadura, pois, em geral, ela é muitas vezes menor que a reatância síncrona.
Porém, essa hipótese conduz a resultados imprecisos, mas com a correta ordem de
grandeza. Lembre-se de usar esse artifício apenas para avaliações rápidas a respeito
do comportamento geral da máquina.

Alguns geradores mais modernos não funcionam com resistências variáveis, mas por
meio de retificador controlado, que permite ao conversor estático regular o nível de
tensão do enrolamento de campo. Isso, que por sua vez, limita a corrente e o próprio
campo magnético gerado pelos polos.

Construção do diagrama fasorial


Com base no circuito equivalente, é possível desenhar o diagrama fasorial
do gerador síncrono, cuja principal vantagem prover um meio visual para
compreensão da influência de variações dos parâmetros nas tensões, sem
necessariamente requerer o uso de cálculos.
Além disso, ao usar o diagrama fasorial, você desenvolve uma visão mais
intuitiva de como elementos externos à máquina, tais como o fator de potência
ou o aumento de carga, influenciam na tensão interna e na tensão terminal
da máquina.
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A Figura 2, a seguir, mostra um circuito equivalente do gerador síncrono


por fase. Com base nele, todas as figuras seguintes serão construídas.

Figura 2. Circuito equivalente de uma fase do gerador síncrono.


Fonte: Chapman (2013, p. 204).

Como você pode perceber, o circuito é bastante similar àquele apresentado


na Figura 1, porque, na prática, se considera que o gerador contém todas
as suas fases balanceadas, isto é, construídas de forma similar. Logo, essa
simplificação pode ser assumida. Você verá três casos distintos de diagrama
fasorial, considerando a situação do fator de potência: adiantado, atrasado e
unitário. Em cada um deles, você perceberá que a corrente de carga altera a
magnitude da tensão interna, mas não o ângulo entre ela e a tensão terminal.
As Figuras 3, 4 e 5 apresentam os diagramas fasoriais para fator de potência
unitário, atrasado e adiantado, respectivamente.

Figura 3. Diagrama fasorial com fator de potência unitário.


Fonte: Chapman (2013, p. 204).
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Figura 4. Diagrama fasorial com fator de potência atrasado.


Fonte: Chapman (2013, p. 205).

Figura 5. Diagrama fasorial com fator de potência adiantado.


Fonte: Chapman (2013, p. 205).

A construção de cada um dos diagramas partiu de um mesmo gerador,


alterando-se somente o ângulo da corrente da carga IA. Como, em todos os
casos apresentados, a corrente de campo é a mesma, isso significa dizer que
o campo magnético também é o mesmo em todos os casos. Então, como você
pode perceber nos dois últimos casos, para uma mesma corrente de campo, a
tensão terminal é menor com o fator de potência atrasado. Nesse caso, uma
das maneiras de se compensar isso é por meio do aumento da magnitude
da corrente de campo, de forma a aumentar a magnitude da tensão interna.
Lembre-se de que:
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onde ϕ é o valor do fluxo magnético na máquina, k é a constante de cons-


trução, e ω é a velocidade do rotor em radianos por segundo. Como, em um
gerador síncrono, a velocidade é constante a despeito da carga, e a constante
de construção não é alterável, resta somente o fluxo magnético ser modificado.
Com isso, você poderá ajustar a tensão do gerador adequadamente conforme
a carga.

Referência

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

Leituras recomendadas
BIM, E. Máquinas elétricas e acionamento. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
INSTALAÇÕES elétricas – aula 09 – máquinas síncronas I. São Paulo: UNIVESP, 31 maio
2016. 1 vídeo (16 min). Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=XvpefxDraN4. Acesso em: 14 maio 2019.
INSTALAÇÕES elétricas – aula 10 – máquinas síncronas II. São Paulo: UNIVESP, 31 maio
2016. 1 vídeo (21 min). Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=VgovRhgmzlo. Acesso em: 14 maio 2019.
SADIKU, M.; MUSA, S.; ALEXANDER, C. Análise de circuitos elétricos com aplicações. Porto
Alegre: AMGH, 2014.
TEIXEIRA, F. H. P. Metodologia para projeto, construção e ensaios em máquina síncrona de
imã permanente — MSIP. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006. Disponível
em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18133/tde-27112006-085220/. Acesso
em: 14 maio 2019.

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