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MÁQUINAS

ELÉTRICAS II

Sofia Maria Amorim Falco Rodrigues


Motores de indução III
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os circuitos equivalentes do motor de indução trifásico.


„„ Diferenciar os ensaios de rotor bloqueado e rotor a vazio.
„„ Descrever as características de desempenho do MIT.

Introdução
As máquinas de indução trifásicas são amplamente utilizadas, incluindo
as mais diversas aplicações industriais. Entender o funcionamento de um
motor de indução trifásico é algo indispensável.
Neste capítulo, você verá como definir circuitos equivalentes de ele-
mentos importantes do motor de indução trifásico, como o estator e o
rotor, além de aprender a representá-lo em sua integridade. A modelagem
será importante para a compreensão do funcionamento, em estudos,
além de ser usada em análises sobre as perdas que ocorrem ao longo
do funcionamento e na delimitação da capacidade de entrega, a partir
do estudo das potências do motor e dos conjugados desenvolvidos. Por
último, você verá algumas ferramentas adicionais para análise e estudo
do desempenho, partindo dos pressupostos da modelagem e da visua-
lização gráfica das relações entre a potência e o conjugado, relacionadas
às velocidades desenvolvidas pelo motor de indução trifásico.
2 Motores de indução III

1 Circuitos equivalentes do motor


de indução trifásico
Sabe-se que o funcionamento do motor de indução é baseado na indução que
acontece no rotor, por meio do estator. Essa influência do estator no rotor pode
ser relacionada ao funcionamento do transformador elétrico — assim como
este, o motor de indução pode ser modelado através de um circuito elétrico.

Circuito equivalente do estator


Considere um motor de indução polifásico, alimentado por um sistema de
tensões polifásicas equilibradas, com ligação da alimentação em estrela.
É possível obter um circuito elétrico equivalente ao estator desse motor, repre-
sentado para uma fase, que, dada a condição de equilíbrio, poderá ser replicado
para as demais fases do sistema, considerando os devidos deslocamentos de
120°, no caso de uma máquina trifásica, por exemplo.
Assim, considerando o funcionamento do estator: há um fluxo magnético
produzido no entreferro, em decorrência da alimentação do estator do motor
e da influência do estator no rotor, estabelecendo o campo magnético girante
resultante, que é um dos principais parâmetros de funcionamento de um
motor de indução trifásico. Por outro lado, devido ao próprio enrolamento
do estator, a tensão total vista nele divergirá da força magnética produzida,
considerando-se que há uma impedância de dispersão no estator e, nela, uma
queda de tensão. Pelas definições similares ao padrão primário e secundário
do transformador elétrico, define-se a impedância de dispersão do estator
como (UMANS, 2014):

Z1 = R1 + jX1 (1)

A queda de tensão no estator é, então, dada por:

(2)

sendo Ê2 a tensão de fase gerada em decorrência do fluxo magnético no en-


treferro e a corrente Î1 no próprio estator do motor.
Motores de indução III 3

Além disso, assim como no caso da obtenção do circuito elétrico para


representação do transformador, a corrente que circula no estator pode ser
decomposta em duas componentes principais: a corrente devido à magnetização
e a corrente que circula na carga — denominadas corrente de excitação Îϕ e
corrente da carga Î2, respectivamente. A corrente de excitação é dada pela
contribuição responsável pelo estabelecimento do fluxo magnético visto no
entreferro e, com isso, também poderá estar em função da tensão de fase
gerada em razão desse fluxo. Além disso, Îϕ pode ser decomposta, ainda, em
outras duas componentes: a corrente devido às perdas no núcleo de cobre e
a corrente devido à magnetização — denominadas corrente de perdas Îc
e corrente de magnetização Îm, respectivamente. Sabe-se, também, que a
corrente Îc está em fase com a tensão gerada pelo fluxo no entreferro (Ê2), e
a de magnetização está atrasada, com relação a essa mesma tensão, em 90°.
Por último, a corrente de carga é responsável pela produção da força magne-
tomotriz, que corresponde à própria força induzida no rotor, que faz com que
circule corrente nele.
O circuito do estator é tomado semelhantemente ao do transformador, e o
ramo em derivação corresponde às contribuições de perdas no núcleo, devido à
magnetização. Logo, há uma resistência de perdas no cobre e uma reatância
de magnetização, denominadas Rc e Xm, respectivamente, e dadas em função
da frequência nominal do próprio estator do motor e de uma estimativa do
valor da tensão E2, próximo ao que será esperado durante a operação do motor
de indução. Assim, na Figura 1, a seguir, tem-se o circuito por fase, para a
representação do estator.

Figura 1. Circuito equivalente do estator.


4 Motores de indução III

Como visto, o circuito equivalente do estator do motor de indução é o


mesmo estabelecido para o primário de um transformador. O passo seguinte
será a inclusão do circuito que representa o rotor desse motor.

Circuito equivalente do rotor


Assim como o estator, o rotor terá uma impedância equivalente, também
modelada como uma impedância de dispersão. Nesse caso, inicialmente,
considere como uma impedância secundária, assim como no transformador.
Há uma resistência e uma reatância, e a impedância pode ser calculada pela
relação já estabelecida entre a tensão gerada pelo fluxo resultante no entre-
ferro e a própria corrente na carga, com base, também, na própria lei de Ohm
(UMANS, 2014),

(3)

sendo a impedância, matematicamente, também escrita como:

Z2 = R2 + jX2 (4)

Na prática, o que deve ser feito na modelagem do circuito do rotor é deter-


minar a impedância. Para entender como isso ocorre, considere novamente o
exemplo do transformador. A impedância do rotor, nesse caso, corresponde
à impedância de um secundário estacionário. Para determiná-la, deve-se
considerar que ela deve representar a tensão e a corrente referidas ao primário.
Assim, as grandezas do rotor devem ser referidas ao estator. Relembrando:
no caso do transformador, ao analisar do ponto de vista do primário dele, o
enrolamento do secundário poderá ser substituído por um enrolamento secun-
dário equivalente, multiplicando-se a impedância pelo quadrado do número de
espiras do transformador. Então, de modo similar, deve-se “substituir” o rotor
por um equivalente, com as mesmas especificações práticas e a capacidade
de produção de força magnetomotriz, por exemplo. Essa relação estabelecida
de substituição é, na prática, mais relevante ainda no caso de um motor cujo
rotor é do tipo gaiola de esquilo, devido à sua própria construção.
Logo, para compreender de fato a modelagem do circuito equivalente ao
rotor, deve-se relembrar alguns aspectos importantes do próprio funciona-
mento do motor de indução trifásico. Quando o motor é alimentado através
do estator, há o surgimento de tensões induzidas no rotor do motor, e, em
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geral, o valor dessa tensão resultante, considerando-se todas as contribui-


ções, é influenciado diretamente pelo escorregamento do motor. Sabe-se que,
quanto mais expressivo for o movimento relativo entre os campos magnéticos
girantes (estator e rotor), maior será a tensão induzida resultante e, também, a
frequência do rotor. Logicamente, nessa condição, também é de conhecimento
que o movimento relativo máximo é quando, de fato, o motor está parado ou
o rotor está bloqueado de alguma forma.
Por outro lado, quando o motor apresenta a velocidade síncrona como
a velocidade de rotação, a tensão resultante induzida é nula, e a frequência
no rotor também estará zerada; ou, ainda, quando a velocidade de rotação
está fora desses valores críticos, tem-se que tanto a tensão induzida quanto
a frequência do rotor serão diretamente proporcionais ao escorregamento.
Dessas duas condições distintas de funcionamento, surgem as metodologias
para a obtenção dos parâmetros do circuito equivalente do motor de indução
trifásico: os ensaios de rotor bloqueado e o rotor a vazio — que serão espe-
cificadas com detalhes para a realização e obtenção de todos os parâmetros
do circuito na subseção seguinte, entretanto se deve considerá-las a este ponto
para entender como o circuito do rotor é modelado.
A tensão induzida no rotor depende do valor máximo, como já visto, que
ocorre quando ele está bloqueado. Matematicamente, tem-se (CHAPMAN,
2013):

ER = sER0 (5)

onde ER0 é o valor da tensão induzida com o rotor bloqueado.


Já a frequência do rotor depende novamente da frequência do campo do
estator e do próprio escorregamento:

fr = sfs (6)

Considerando diretamente a impedância do rotor do motor, sabe-se que


ele é formado por uma resistência e uma reatância. A resistência do rotor é
constante, não depende do escorregamento apresentado pelo motor, e sim
de aspectos diretamente construtivos. Já a reatância, por sua vez, depende
da indutância do rotor do motor, da frequência dele e da corrente também
induzida, ou seja, depende de fato do escorregamento apresentado pelo motor.
Então, definindo como LR a indutância do rotor, tem-se, matematicamente:

XR = ωrLR = 2πfrLR (7)


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A relação de frequência da Equação (6) pode ser expressa por:

XR = 2πfrLR → XR = sXR0 (8)

onde XR0 é o valor obtido da reatância quando o rotor está bloqueado.


A corrente que circula no rotor também pode ser definida em função dos
parâmetros dele. Assim, tem-se que, pela lei de Ohm:

(9)

Além disso, também é possível obter a corrente em função dos parâmetros


com o rotor bloqueado:

(10)

Logo, com essas informações, é possível definir o circuito equivalente do


rotor do motor de indução, conforme a Figura 2, a seguir.

Figura 2. Circuito equivalente do rotor.

Esse circuito estará modelado para variações no escorregamento e pode ser


redefinido com todos os efeitos do escorregamento na resistência do rotor, de
forma semelhante e considerando a relação vista na Equação (10). A seguir,
será visto o circuito equivalente final do motor de indução, considerando a
necessidade de referir os parâmetros de modelagem do rotor para o estator,
assim como é feito no caso do transformador elétrico.
Motores de indução III 7

Circuito equivalente final


Considere as seguintes proposições para que o rotor seja referido para o estator
e, assim, obtido o circuito final para representação do motor de indução trifá-
sico. Conforme já visto, em uma das etapas para determinação dos parâmetros
do circuito que modela o motor de indução trifásico, o rotor estará bloqueado.
Nessas condições, a impedância vista é somente a de curto-circuito do rotor,
obtendo-se, por meio da Equação (3), a seguinte relação para a impedância
de dispersão do rotor equivalente (Z2 s), na frequência de escorregamento:

(11)

sendo que Nef é a relação de espiras efetiva entre o enrolamento do estator e


o do rotor modelado (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014). Ademais, o índice
2s dirá respeito às grandezas referidas do rotor, de agora em diante, e os
parâmetros novos vistos na Equação (11), para a tensão e a corrente, são a
tensão induzida devido ao fluxo magnético resultante no entreferro e a corrente
induzida, respectivamente, ambos no rotor equivalente.

Caso esteja no objetivo da modelagem obter a corrente e a tensão referentes ao rotor


real, essa relação estabelecida para as espiras deve ser conhecida para que após serem
obtidos os valores do rotor equivalente, seja possível replicá-los para o rotor real. Por
outro lado, na prática, as aproximações equivalentes já são válidas. Assim, um rotor
equivalente poderá ser usado para representar tanto um real do tipo gaiola de esquilo
quanto um bobinado, por exemplo.

Supondo, novamente, que o rotor é um elemento móvel, deve-se considerar


o movimento relativo que há entre os campos girantes do rotor e do estator.
Sabe-se que a Equação (11), da impedância do rotor referido, pode ser reescrita
em função da frequência do estator, como:

Z2s = R2 + jsX2 (12)


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Note que a frequência utilizada na definição da reatância é a do estator.


Por outro lado, como a frequência do rotor pode ser obtida a partir dessa, é
possível reescrever o circuito visto na Figura 2 com os elementos referidos
para o estator e na frequência de escorregamento, conforme Figura 3, a seguir.

Figura 3. Circuito do rotor equi-


valente, considerando os parâ-
metros referidos para o estator.

Voltando novamente para as definições do funcionamento do motor,


entende-se que o fluxo estabelecido é oriundo de efeitos tanto da corrente
do estator Î1 quanto da corrente de carga equivalente Î2, a qual, por meio da
análise do funcionamento, pode ser reescrita matematicamente como:

Î2s = Î2 (13)

Por fim, considerando o funcionamento com relação à tensão, tem-se


que, devido ao movimento relativo e ao escorregamento, a tensão induzida
gerada em função do fluxo no entreferro pode ser escrita em função da tensão
referida, como:

sE2 = E2s (14)

Além disso, como o ângulo de defasagem com a força é de 90°, ambas as


tensões têm o mesmo sentido fasorial nas respectivas frequências de definição.
Logo, a mesma relação vista na Equação (14) é válida para os valores de fase
das tensões:

sÊ2 = Ê2s (15)


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Assim, usando a relação da corrente e a que foi estabelecida para a tensão,


a impedância pode ser reescrita como:

Z2 = R2/s + jX2 (16)

Essa é a impedância equivalente de um rotor equivalente estacionário.


Uma aproximação válida para a obtenção do circuito equivalente final, junto
com os demais parâmetros, como pode ser vista na Figura 4, a seguir.

Figura 4. Circuito equivalente do motor de indução trifásico.


Fonte: Adaptada de Umans (2014).

Portanto, o resultado final é o circuito equivalente, que é monofásico e


replicável para as demais fases, conforme mencionado no início da seção. Note
que os efeitos combinados da carga e do próprio rotor aparecerão combinados
e referenciados no parâmetro R2/s, que está em função do escorregamento
intencionalmente — pois lembre-se de que a carga mecânica está diretamente
relacionada ao escorregamento. A corrente que circula na impedância refletida
do rotor é igual à componente de carga, representada na própria corrente do
estator. Por último, a queda de tensão nessa impedância é a mesma da tensão
obtida no circuito do estator (Ê2). Logo, como, ao refletir, a frequência usada
para os parâmetros do rotor torna-se a própria frequência do estator, todos os
fenômenos no funcionamento do motor que ocorrem no rotor contêm, também,
a frequência do estator.
10 Motores de indução III

Parâmetros do circuito equivalente


Considere, ainda, o circuito equivalente da Figura 4. Como já mencionado,
para a obtenção dos parâmetros desse tipo de circuito, existem duas formas
práticas principais: os ensaios a vazio e de rotor bloqueado.
Inicialmente a vazio, o motor deve receber tensão nominal de uma rede
trifásica balanceada, manter seu funcionamento e medir os valores fornecidos
de potência ativa, tensão e corrente. Nessa situação, o motor apresenta um
escorregamento nulo ou, na prática, muito próximo de zero. Isso pode explicar
o fato de que, nesse ensaio, a resistência do rotor refletida no estator (R2'/s) é
muito maior que a reatância de magnetização (Xm), o que, na prática, torna
essa última como um curto-circuito. Esses efeitos geram uma simplificação
no circuito final do motor e permitem obter uma parte dos parâmetros do
circuito total equivalente.
Ao estabelecer o ensaio com o rotor bloqueado, o motor deve receber um
valor de tensão que forneça sua corrente nominal, e, então, mede-se novamente
os valores da potência ativa, da tensão e da corrente resultantes. Como o
escorregamento do motor será máximo, ou seja, s = 1, a reatância de magne-
tização torna-se muito maior, não só comparada à reatância e à resistência do
rotor, mas, também, à impedância dele como um todo. Logo, na prática, isso
permite simplificações ao circuito equivalente final proposto (Figura 4), sendo
possível obter os demais parâmetros restantes do circuito equivalente final.
Na seção seguinte, serão vistos dois parâmetros importantes do funciona-
mento do motor de indução trifásico: a potência e o conjugado desenvolvido
— obtidos por meio de relações de funcionamento e, principalmente, dos
parâmetros obtidos, para a representação do motor em um circuito equivalente.

2 Relações de perdas, potências e


conjugado a partir de circuitos
equivalentes do motor de indução
Como já visto, um motor de indução pode ser compreendido e descrito ma-
tematicamente como um transformador rotativo. Com isso, existem relações
análogas a serem feitas para o motor de indução, sobre a potência e as perdas
observadas. Ademais, considere o funcionamento normal de um motor de
indução, onde há a potência do fluxo produzido, resultante no entreferro.
Como os enrolamentos do rotor (secundário) estão em curto-circuito, a saída
é a potência mecânica fornecida. Assim, a potência elétrica inicial, também
Motores de indução III 11

definida como potência de entrada, relaciona-se diretamente com a potência de


entreferro estabelecida e é descontada de perdas que eventualmente ocorrem,
resultando na potência mecânica.

Relação de potência e perdas


Considere, inicialmente, um motor trifásico, cuja alimentação do estator é
fornecida por meio de tensões e correntes trifásicas. A potência de entrada
dá-se a partir do que é fornecido pela rede, e a primeira perda a ser descontada
está relacionada ao próprio estator, sendo definida como perda no cobre do
estator. Em seguida, o estator induzirá tensões e correntes no rotor, sendo
essa relação= estabelecida através do entreferro, com a potência resultante
denominada potência de entreferro. Então, do processo de indução no rotor,
outras perdas também devem ser descontadas, representadas pelas perdas no
cobre do rotor. Por último, existem perdas no núcleo do estator, que podem ser
eventualmente consideradas: perdas relacionadas ao atrito existente entre as
partes do rotor e a estrutura restante do motor e as relacionadas à ventilação,
juntamente com perdas suplementares que também podem ser consideradas
conforme a necessidade de modelagem do motor. A potência resultante de
todo esse processo de perdas descontadas é denominada potência de saída do
motor, convertida em potência mecânica.
Para compreender quando se deve ou não desprezar certas perdas do motor,
considere que um motor de indução trifásico está funcionando à velocidade
próxima da síncrona. Nesse caso, o movimento relativo entre os campos
girantes sobre a própria superfície do rotor do motor é bastante lento. É pos-
sível desprezar as perdas relacionadas ao núcleo do rotor em diversos casos
gerais. Por outro lado, no caso apresentado da velocidade de rotação próxima
à síncrona, essas perdas são maiores com relação ao estator. Assim, elas
podem ser simplesmente contabilizadas por meio da potência dada em watts
ou, ainda, analisando a diferença final da potência mecânica, embora, muitas
vezes, essas perdas no núcleo são representadas pela resistência Rc, usualmente
considerando o circuito equivalente definido.
Analisando as demais perdas passíveis de serem desprezadas, considere
novamente que o motor está à velocidade próxima da síncrona. Sabe-se que,
quanto maior for a velocidade desenvolvida, mais propenso o motor estará às
perdas por atrito, ventilação e outras relacionadas a aspectos construtivos do
motor. Por outro lado, analisando novamente com relação às perdas ditas pelo
núcleo, sabe-se que, em velocidades maiores, o motor está menos propenso a
esse tipo de perda oriunda de elementos do núcleo do estator ou, até mesmo,
12 Motores de indução III

do núcleo do rotor. Por esse mesmo motivo, geralmente, quando a velocidade


do motor é variável, frequentemente se considera que todas essas perdas
passíveis de serem desprezadas são constantes.
Veja o desenvolvimento do exemplo seguinte para avaliação da eficiência
de um motor de indução trifásico a partir da potência e de suas perdas.

Considere um motor de indução trifásico, cujos placa e manual fornecem as seguintes


especificações e parâmetros:
„„ tensão nominal de 480 V;
„„ frequência de alimentação de 60 Hz;
„„ ligação em estrela;
„„ potência nominal de 38,94 HP;
„„ corrente nominal de 50 A;
„„ fator de potência de 0,8 indutivo;
„„ perdas no cobre do estator de 1000 W;
„„ perdas no cobre do rotor de 700 W;
„„ perdas por atrito e ventilação de 500 W;
„„ perdas no núcleo de 2000 W.
Pede-se a potência obtida no entreferro, a convertida e a de saída, além da eficiência
do motor.
Para resolver isso, o primeiro passo é definir a potência de entrada do sistema, com
relação às demais, que é dada por:

Assim, a potência no entreferro é o resultado da potência de entrada menos as


perdas no cobre do estator e as perdas no núcleo, conforme:

Pentreferro = Pentrada – PCS – Pnúcleo = 33,25 – 1 – 2 = 30,25 kW

A potência convertida é a obtida no entreferro do motor, descontadas as perdas em


decorrência do próprio enrolamento do rotor. Assim, tem-se:

Pconv = Pentre – PCR = 30,25 – 0,7 = 29,55 kW


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Por último, a potência de saída é a que será convertida em mecânica, porém se


deve descontar eventuais perdas por atrito, ventilação ou perdas suplementares, caso
existam. Logo, no exemplo, tem-se a seguinte relação, considerando que as perdas
suplementares são nulas, pois nada foi informado pelo fabricante, tampouco em
outros dados de ensaio:

Psaída = Pconv – PAeV – Psup = 29,55 – 0,5 – 0 = 29,05 kW

Note que isso resulta exatamente na potência nominal fornecida nos dados de placa
do motor de indução, pois:

38,94 HP.746 = 29,05 kW

Enfim, pede-se, ainda, que seja avaliada a eficiência do motor. Para isso, é necessário
contabilizar a fração entre a potência de entrada e a de saída, que, em porcentagem,
resulta em:

Note que, não só no exercício anterior, mas em qualquer caso prático, caso
as perdas no núcleo sejam desprezíveis e não haja necessidade de contabilizar
as por atrito e ventilação e demais perdas suplementares, esse cálculo será
reduzido e mais simplificado.
Agora, será apresentada a forma mais direta para o cálculo dessas perdas e
potências, a partir dos parâmetros do circuito e das tensões e correntes. Essas
relações são obtidas a partir da própria análise do circuito equivalente do motor.
Assim, a corrente de fase, de entrada do sistema, pode ser obtida em função
da impedância equivalente total, tal que (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014):

(17)

Essa impedância equivalente é dada por:

(18)
14 Motores de indução III

Com isso, já é possível definir as perdas e as potências apresentadas.


Iniciando pelo cálculo das perdas no cobre do estator, sabe-se, por análise,
que elas são calculadas pela potência:

PCS = 3I 21R1 (19)

multiplicada por 3 para considerar a alimentação trifásica do estator.


Já as perdas de núcleo são consideradas, em função dos parâmetros do
circuito, como a potência única seguinte, novamente contabilizando as três
fases – nesse caso, também, tanto o estator quanto o rotor, pois, em geral, esse
tipo de perda é maior no estator, conforme já visto.

Pnúcleo = 3E 21Rc (20)

Considerando somente o circuito do rotor, é possível definir a potência


resultante no entreferro do motor de indução. Assim, escrevendo em termos
dos parâmetros desse circuito, tem-se que a potência no entreferro pode ser
calculada por:

Pentreferro = 3I 22 R2/s (21)

Além disso, como visto no rotor, também existem perdas de cobre, que
podem ser consideradas pela resistência do rotor. A seguinte relação para
cálculo é válida:

PCR = 3I 2R R2 (22)

Logo, a potência mecânica desenvolvida, ou potência convertida, é dada


pela relação com as demais potências, obtendo-se diretamente:

(23)
Motores de indução III 15

Note que todas as potências e perdas diretamente relacionadas à carga têm influência
direta do escorregamento do motor — algo já esperado devido ao próprio funciona-
mento do motor de indução trifásico e às implicações já existentes.

Como já visto em outro momento, o conjugado pode ser relacionado di-


retamente à potência mecânica do motor. Considerando esse fato, a seguir,
são vistas as relações entre a potência e o conjugado induzido no motor de
indução trifásico.

Relação entre potência e conjugado induzido


O conjugado induzido em um motor surge a partir da força induzida, magne-
tomotriz, em função da área de comprimento, a qual é decorrente da tensão
induzida no rotor do motor a partir do campo magnético girante produzido
pelo estator. Conforme já visto, esse conjugado, que é induzido, pode ser
estimado pelo resultado de entrega em função da potência mecânica, tornando
a seguinte relação em função da potência convertida válida para seu cálculo
(CHAPMAN, 2013):

(24)

Na Equação anterior, lembre-se de que ωmotor é a velocidade desenvolvida


pelo motor (em rad/s) e, por isto, o conjugado induzido também é dito conjugado
desenvolvido pela máquina de indução.
Por outro lado, pelas relações vistas, também é possível expressar o conju-
gado, em função do escorregamento, dos parâmetros do motor e das potências,
resultando em:

(25)
16 Motores de indução III

Assim, a partir da Equação (25), constata-se algo importante: é possível,


de fato, obter a potência no entreferro diretamente a partir do valor do con-
jugado desenvolvido pelo motor. Esse fato pode ser interessante ao longo da
modelagem do circuito equivalente, por exemplo. Para esclarecer as demais
informações acerca do conjugado e do cálculo das perdas e das potências,
considere o exemplo seguinte, onde são utilizadas as relações entre as potências,
especialmente as informações do circuito equivalente do motor.

Considere um motor de indução trifásico com os seguintes dados de placa: 480 V;


18,65 kW; 60 Hz; quatro polos e ligação em estrela. Além disso, tem-se à disposição o
circuito equivalente desse motor, monofásico, cujos valores do rotor foram obtidos
referidos ao estator.

Durante um ensaio, obteve-se algumas informações adicionais. Sabe-se que as perdas


rotacionais são constantes e incluem as perdas no núcleo, tanto a contribuição do
estator quanto do rotor. Assim, no ensaio, houve perdas rotacionais de 1100 W e um
escorregamento do rotor de cerca de 2% à condição de plena carga.
Busca-se obter, então, a velocidade do motor, a corrente no estator, o fator de
potência, as potências convertida e de saída, os torques induzidos e na carga e, por
último, a eficiência desse motor de indução.
O primeiro passo é calcular a velocidade síncrona, pois, conforme solicitado, deseja-se
saber a velocidade do motor, ou seja, a velocidade de rotação. Assim, tem-se a seguinte
velocidade em rpm para o circuito apresentado:
Motores de indução III 17

Como o escorregamento é 2%, a velocidade do motor será:

Para encontrar a corrente do estator, é necessário obter a impedância equivalente,


pois ela é dada por:

Assim, analisando o circuito, percebe-se que a impedância equivalente será dada


pela impedância do estator, mais o equivalente resultante da magnetização e dos
parâmetros do rotor refletidos no estator. Logo, é necessário achar esse equivalente.
Para isso, os valores do rotor referidos para o estator são dados por:

O equivalente do secundário resulta em:

E o equivalente será:

Por último, como no cálculo da corrente, é necessário o valor da tensão de fase no


estator, e foi dado o valor da tensão nominal. Tem-se, então, que:

com fase 0° sendo considerada como referência.


18 Motores de indução III

Assim, a corrente vale:

O fator de potência do motor corresponderá ao valor do cosseno do ângulo. Assim,


tem-se:

FP = cos(33,66°) = 0,832

Já a potência convertida será obtida a partir, inicialmente, da potência de entrada,


a qual será calculada semelhantemente ao que foi visto no exemplo anterior. Assim,
é possível obtê-la por meio de:

As primeiras perdas a serem descontadas podem ser no cobre do estator que,


calculadas a partir de parâmetros do circuito. Elas são dadas por:

PCS = 3I21R1 = 3.19,72.0,641≈ 746 W

Como a potência no entreferro é diretamente relacionada à potência convertida


pelo escorregamento, conforme também já visto, ela é obtida e valerá:

Pentreferro = Pentrada – PCS = 13,6 – 0,746 ≈ 12,85 kW

A potência convertida será em função do escorregamento:

Pconv = (1 – s)Pentreferro = (1 – 0,2)12,85 ≈ 12,6 kW

Portanto, a potência que é de fato entregue será a de entreferro menos as demais


perdas a serem descontadas, que, neste caso, conforme as informações do próprio
enunciado, foram condensadas unicamente como perdas rotacionais:

Psaída = Pentreferro – Protacionais = 12,85 – 1,1 = 11,75 kW

O conjugado do motor poderá ser calculado em função das relações de potência.


Pede-se, inicialmente, o conjugado induzido, que pode então ser dado pela relação
entre a potência no entreferro e a velocidade do campo girante produzido no estator:
Motores de indução III 19

Já o conjugado de saída, ou conjugado da carga, é dado em função do que, de fato,


é entregue à carga. Por isso, pode-se usar a potência de saída e a própria velocidade
desenvolvida pelo motor para calculá-lo:

Por fim, solicitou-se o cálculo, assim como no exemplo anterior, da eficiência do


motor, que é dada pela relação entrada e saída, tal que:

Note que, no exercício anterior, não houve representação para a resistência


Rc, o parâmetro que modela as perdas no cobre no estator. Isso poderá ocorrer
em casos semelhantes a esse, quando forem informadas simplesmente as
perdas rotacionais, por exemplo. Ademais, na subseção seguinte, será vista a
obtenção do circuito equivalente de Thévenin, juntamente com informações
importantes acerca da relação entre o conjugado, os aspectos construcionais do
motor e com os parâmetros de seu circuito equivalente, além das velocidades
apresentadas pelo motor.

Circuito equivalente de Thévenin


Considere um motor de indução trifásico, representado por um circuito equi-
valente genérico, mas do mesmo formato apresentado no exemplo anterior,
em que não há o parâmetro de perdas no cobre do estator. Para calcular o
circuito equivalente de Thévenin, considere a abertura dos terminais logo
após a reatância de magnetização, obtendo-se o circuito da Figura 5, a seguir.
20 Motores de indução III

Figura 5. Circuito equivalente de Thévenin de


entrada, incluindo os parâmetros de magneti-
zação e do estator.

A tensão de Thévenin equivalente corresponde à tensão na reatância de


magnetização, tal que (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014):

(26)

Já a impedância equivalente de Thévenin vale:

(27)

Por outro lado, sabe-se, construtivamente, que a reatância de magnetização


será, na prática, muito maior que a do enrolamento do estator e, também, que
a resistência dele. Assim, é possível reescrever a equação da tensão como:

(28)

e a equação da impedância como:

(29)
Motores de indução III 21

pois a impedância de magnetização somada à do enrolamento é muito maior


que a própria resistência dele. Assim, obtido o circuito equivalente de Thévenin
da entrada, tem-se o seguinte circuito resultante, na Figura 6.

Figura 6. Circuito equivalente de Thévenin de entrada com o circuito do rotor.

Agora, o próximo passo é obter os valores referentes ao circuito do rotor


refletido. Assim, tem-se que a corrente I2 pode ser calculada como:

(30)

Além disso, desse circuito simplificado, é possível chegar a outros pa-


râmetros já obtidos como a potência no entreferro e o conjugado induzido,
como será visto a seguir, bem como prosseguir com as análises relacionadas
ao desempenho do motor de indução trifásico.

3 Avaliação de desempenho a partir de perdas,


potência e conjugado

Circuito equivalente de Thévenin e cálculo de potência


e conjugado induzido
Como mencionado anteriormente, a potência no entreferro poderá ser obtida a
partir de parâmetros do equivalente de Thévenin. Tem-se, então, que, usando
22 Motores de indução III

a Equação (30) para o cálculo da corrente secundária, a potência no entreferro


será (CHAPMAN, 2013):

(31)

O conjugado entregue, por sua vez, pode ser calculado, a partir da Equação
(25), como (UMANS, 2014):

(32)

ou, ainda:

(33)

onde P é o número de polos do estator, e fs, a frequência do campo magnético


girante dele.
Por outro lado, considerando o circuito equivalente de Thévenin, tem-se:

(34)

ou seja:

(35)

Assim, por essa relação do conjugado da carga, expresso conforme a


Equação (34), estabelece-se, diretamente, a relação entre o conjugado eletro-
mecânico em função do escorregamento do motor, que pode ser observada em
curvas características contidas em manuais do motor ou, até mesmo, obtidas
durante ensaio, para auxílio na análise e classificação de motores, conforme
visto a seguir.
Motores de indução III 23

Desempenho acerca do conjugado, da potência


e da velocidade
Um exemplo da curva que exibe a relação entre o conjugado e a velocidade
é visto a seguir, na Figura 7, considerando três tipos padrões de motores de
indução do tipo gaiola de esquilo.

Figura 7. Curvas características de conjugado com relação à


variação da velocidade, para os três tipos principais de motor
de indução trifásico com rotor gaiola de esquilo.
Fonte: Adaptada de Petruzella (2013).

Note que, conforme a necessidade da carga, determinado tipo de motor


poderá ser mais adequado do que outro, devido ao torque de partida, por
exemplo. Além disso, situações como a capacidade da máquina à plena carga
(à velocidade o quão próxima possível da síncrona) e o conjugado máximo
possível ao longo do funcionamento (considerando motores de curvas do tipo
B e C) podem ser outros meios para efetuar a escolha de um motor frente a
alternativas disponíveis.
24 Motores de indução III

A curva característica de um motor, com relação ao seu conjugado e à sua velocidade,


pode ser obtida por meio de curvas de corrente ou densidade do campo magnético
no rotor, fator de potência no rotor e campo magnético do movimento relativo,
também com relação à velocidade. Para ver mais detalhes, consulte a referência de
Chapman (2013, p. 331).

Além disso, você já deve ter ouvido falar que uma máquina de indução opera
não só como motor, mas, também, a partir de potência mecânica, fornecendo
energia elétrica. Esse é o gerador elétrico, e essa condição de funcionamento
também pode ser compreendida e avaliada pela relação estabelecida entre a
potência, o conjugado desenvolvido e a velocidade do motor. Ademais, para a
frenagem de um motor de indução em funcionamento, é possível correlacionar
esses parâmetros, conforme Figura 8, a seguir.

Figura 8. Curva característica completa de uma máquina de indução, correlacionando o


conjugado produzido e fornecido e a velocidade desenvolvida pelo motor.
Fonte: Adaptada de Umans (2014).
Motores de indução III 25

O desempenho do motor está diretamente relacionado ao seu torque e à sua


capacidade de entrega à carga. Além disso, com relação à figura, observe que
há três regiões de operação distintas, com valores específicos de velocidade,
conjugado e da relação de escorregamento estabelecida no motor. Por último,
como já visto, o conjugado está relacionado à potência apresentada pelo motor,
o que também refletirá na análise gráfica. Para compreender essa relação, na
região de operação motora, considere a Figura 9, a seguir, onde é apresentada
a curva do conjugado em função da velocidade e, também, a curva da potência
com relação à velocidade.

Figura 9. Curva do conjugado e curva da potência, ambas com relação à velocidade.


Fonte: Adaptada de Umans (2014).

Note que, em geral, a capacidade máxima de entrega à carga tanto de


potência quanto de conjugado corresponde a valores maiores com relação às
capacidades nominais, à plena carga. Essa entrega máxima ocorre com valores
elevados de escorregamento do motor.
26 Motores de indução III

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.


PETRUZELLA, F. D. Motores elétricos e acionamentos. Porto Alegre: AMGH, 2013. (Série
Tekne).
UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

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