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MÁQUINAS

ELÉTRICAS E
ACIONAMENTOS
Motores de
indução trifásicos
para operações
industriais
Cassio Hideki Fujisawa

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir os principais parâmetros de um motor de indução trifásico (MIT).


>> Descrever as principais atividades industriais que utilizam MIT.
>> Demonstrar exemplos da especificação de MIT.

Introdução
Nas indústrias, uma parcela significativa do consumo de energia elétrica é relativa
ao uso de motores. Isso é justificado pois inúmeras tarefas são realizadas por
essas máquinas, que possuem controle simples, grande possibilidade de tarefas e
alto rendimento. Dentre elas podemos destacar o motor de indução trifásico, que
é o mais popular de todos por possuir baixo custo de fabricação e manutenção
e elevada robustez.
Neste capítulo, você vai estudar de forma particular o uso do motor de in-
dução trifásico (MIT) na indústria, começando por uma breve explicação de seus
componentes e em seguida seu princípio de funcionamento, e com isso permitir
um claro entendimento de seus principais parâmetros. Na seção seguinte, você
estudará as atividades mais comuns em que os motores são aplicados com a
2 Motores de indução trifásicos para operações industriais

complementação de elementos mecânicos que os auxiliam. E, por último, você


conhecerá as especificações essenciais para a escolha e o dimensionamento dos
motores em um projeto de uma planta industrial.

MIT: do funcionamento à caracterização


Antes de definir os principais parâmetros do motor de indução, vamos re-
lembrar seus componentes e o princípio de funcionamento baseado em
Umans (2014).
As máquinas elétricas rotativas possuem duas partes: o estator e o rotor
— como os nomes sugerem, o estator é a parte estática da máquina, enquanto
o rotor é a parte móvel (ou rotativa). Ambas as partes são construídas com
material ferromagnético para facilitar a passagem do fluxo magnético e com
isso otimizar a conversão de energia. Esse motor recebe energia elétrica e
entrega energia mecânica através de seu eixo, e nesse processo existe uma
variação de energia magnética. Para movimentar o rotor sobre o eixo, existe
um espaçamento com relação ao estator que se chama entreferro (em inglês,
air-gap).
Como já foi comentado, o fluxo magnético é essencial para o funcionamento
do motor, e a conversão entre energia elétrica e magnética é feita através
de dois enrolamentos fundamentais: um alojado no estator; outro no rotor.
No caso de máquinas com mais de dois polos e/ou mais de uma fase, existe
mais de um enrolamento de estator, porém isso não altera o princípio de
funcionamento descrito a seguir.
O enrolamento do rotor pode ser de dois tipos principais.

„„ Bobinado: quando o enrolamento é similar ao do estator, em que


condutores de cobre são agrupados formando uma bobina. Neste caso,
são necessários anéis coletores para permitir a variação da resistência
elétrica desse circuito que fica em uma parte móvel (ou rotativa).
„„ Gaiola de esquilo: formado, em geral, por barras de alumínio e curto-
-circuitadas em suas extremidades e isolado eletricamente de qualquer
estrutura externa. Dessa forma, não possui os anéis coletores.

O segundo tipo de rotor é o mais usado nos motores de indução, pois


reduz o custo e a complexidade em comparação a outros tipos, e é extrema-
mente robusto, reduzindo os custos de manutenção. Por esses motivos é o
motor elétrico mais utilizado mundialmente. A Figura 1 ilustra o rotor gaiola
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de esquilo (a) e o estator (b), onde pode-se notar as aletas de alumínio no


rotor que são curto-circuitadas nas extremidades formando o enrolamento
(portanto, ausência de bobinas por condutores de cobre); no estator são per-
ceptíveis as bobinas de cobre alojadas nas ranhuras da estrutura de material
ferromagnético. É visível que na parte externa da carcaça do motor estão
presentes aletas para dissipação de calor que é produzido inevitavelmente
em sua operação.

a b

Figura 1. Rotor (a) e estator (b) da máquina de indução.


Fonte: Adaptada de lucag_g/Shutterstock.com.

Analisando especificamente a máquina de indução trifásica em sua ope-


ração como motor, podemos considerar os seguintes passos:

1. A energia fornecida pela rede elétrica é conduzida pelos condutores


do enrolamento de armadura que produzirão o fluxo magnético.
2. Esse fluxo circulará pelos materiais ferromagnéticos do estator e
do rotor e terá um comportamento particular que chamaremos de
campo girante. Pode-se imaginar como se fosse um ímã imaginário
rotacionando no eixo, com a velocidade (ns dada em rotações por
minuto rpm) em função da frequência elétrica (fe) definida pela rede
e do número de polos (Npólos),
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120
= (1)
pólos

3. Com o enrolamento do rotor sendo imerso pelo campo girante, surgirá


tensão e corrente elétrica induzida, de acordo com a lei de Faraday,
que de forma simplificada pode ser expressa pela seguinte equação,

= (2)

onde e é a tensão induzida, λ é o fluxo magnético concatenado pelo


enrolamento, e t é o tempo.

4. A interação entre o fluxo magnético produzido pelo enrolamento do


rotor e o fluxo magnético do enrolamento do estator resultará no
conjugado eletromagnético, que, a menos de algumas perdas, será o
conjugado entregue à carga mecânica através do eixo.

Essas etapas do processo de funcionamento foram enumeradas com o


intuito de facilitar o entendimento da conversão eletromecânica do motor,
mas não necessariamente ocorrem de forma sequencial; elas podem ocorrer
de forma simultânea.
A Figura 2 apresenta o comportamento do conjugado eletromagnético
com relação à velocidade mecânica de um motor típico. Essa velocidade
é apresentada como uma porcentagem da velocidade síncrona do campo
girante magnético. É possível notar que quando a velocidade atinge 100% da
velocidade síncrona (ou seja, se igualam), o conjugado é nulo. Isso pode ser
facilmente justificado pela equação (2), que estabelece que a tensão induzida
surgirá apenas quando houver variação de fluxo magnético, e para situação
de igualdade entre a velocidade do motor e a velocidade do campo girante,
o fluxo magnético visto pelo enrolamento alojado no rotor será constante,
ou seja, de variação nula.
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Figura 2. Curva de conjugado por velocidade.


Fonte: Umans (2014, p. 347).

Ainda utilizando a Figura 2, podemos analisar a região de operação do


motor que fica na região mais à direita, no entorno de 100% do conjugado
nominal (eixo y) e um pouco abaixo dos 100% da velocidade síncrona (eixo x).
Nessa região, nota-se uma pequena variação de velocidade para uma faixa
mais significativa de conjugado. A característica desse motor de sempre operar
com uma velocidade diferente da síncrona (e inferior) pode ser quantificada
pelo termo escorregamento, que nada mais é do que a diferença da velocidade
mecânica do eixo do rotor com a velocidade síncrona do campo magnético
produzido pelo enrolamento do estator.
Feita essa revisão do motor de indução, vamos agora discutir sobre
seus principais parâmetros na hora do dimensionamento em uma aplicação
industrial:

„„ potência;
„„ tensão elétrica;
„„ número de polos;
„„ carcaça.
6 Motores de indução trifásicos para operações industriais

Potência dada em cavalos (em inglês horse power, HP) é a potência de


saída que o motor entrega em seu funcionamento nominal — quando é ali-
mentado com o nível de tensão especificado, suporta essa potência de saída,
consumindo para isso a corrente descrita nos dados de placa (ou seja, seu
valor especificado) e operando com o rendimento também definido em placa.

O termo nominal é muito utilizado, principalmente em equipamentos


elétricos, e refere-se à operação na qual o dispositivo foi projetado,
ou seja, um determinado nível de tensão, nível de corrente, carga mecânica no
eixo (no caso de motores), e para essa situação de operação ele apresenta o
seu melhor desempenho em termos de rendimento e atendimento da potência
especificada sem prejudicar a sua vida útil.

Deve-se tomar o cuidado de não confundir essa potência de saída,


que é a potência mecânica do motor, com a potência de entrada,
que é a potência elétrica consumida por essa máquina.

A Figura 3 apresenta o fluxo de potência do motor de indução, sendo o


sentido da esquerda para direita, com a entrada da potência elétrica (Pentrada),
várias perdas no processo de conversão de energia elétrica para mecânica
e outras potências da própria operação, como o atrito e a ventilação. Todas
essas apontam para baixo e, por fim, tem-se a potência mecânica (Psaída).
Nessa figura, além de algumas equações das potências de entrada e saída,
tem-se duas potências intermediárias: PEF, que é a potência de entreferro, ou
seja, a potência que é transferida através do entreferro, e a Pconv, a potência
após a conversão eletromecânica, mas antes sofre mais algumas perdas até
se chegar na potência final (CHAPMAN, 2013).
Motores de indução trifásicos para operações industriais 7

Figura 3. Diagrama do fluxo de potência no motor de indução.


Fonte: Chapman (2013, p. 322).

Portanto, a partir da Figura 3, fica clara a diferença entre a potência


Psaída, usualmente dada em cavalos (cv), e a Pentrada, que é a potência elétrica
importante para o dimensionamento da instalação elétrica.
A tensão elétrica define qual tensão de linha (ou tensão trifásica) que deve
alimentar o motor para seu correto funcionamento. Para motores industriais,
os valores típicos são: 220, 380 ou 440 V. Mas para motores com aplicações
especiais, a tensão pode chegar a 13.800 V (WEG EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS,
2010). A potência elétrica de entrada é uma função da tensão e da corrente,
por isso, para um motor de mesma potência, quanto maior a tensão, menor
será a corrente. É comum os motores terem mais de um tipo de conexão, o que
permite certa flexibilidade em sua operação em termos de nível de tensão.
Isso é possível para arranjos série/paralelo e estrela/triângulo.
Outro importante parâmetro é o número de polos que impacta direta-
mente na velocidade síncrona do campo magnético girante, juntamente com
a frequência elétrica da tensão de alimentação, conforme a Equação (1). Como
a rotação do eixo é apenas um pouco abaixo dessa velocidade síncrona, pois
sempre existe o escorregamento, a quantidade de polos da máquina torna-
-se um importante parâmetro para a definição da velocidade, que em uma
aplicação industrial é um importante fator no projeto. Lembrando que para
o tipo de motor Dahlander, existe a possibilidade de chaveamento entre as
ligações das bobinas de tal forma a alterar entre 2/4 polos ou 4/8 polos, o que
consequentemente altera também a velocidade do motor (FILIPPO FILHO, 2010).
8 Motores de indução trifásicos para operações industriais

Por fim, tem-se a carcaça do motor de indução, que é definida pela potência
e pela rotação do motor. Ela possui algumas variações conforme sua aplica-
ção, podendo ser fechada ou aberta. Por exemplo, no caso de uma carcaça
fechada, haveria o impedimento de entrada de poeira ou de água, porém
com menor dissipação de calor através da ventilação. Existem variados tipos
de vedações, além de alguns tipos possíveis do material da sua construção:
ferro fundido, aço ou alumínio. A especificação da carcaça é feita pela altura
da base do motor até o centro do eixo.
Nesta seção foi revisado o funcionamento do motor de indução e foram
apresentadas suas principais características para uma aplicação industrial.
Vamos agora descrever suas aplicações na indústria e as peculiaridades em
cada uma delas.

Motor de indução, o mais utilizado


nas indústrias
O motor de indução com rotor gaiola de esquilo é o tipo de máquina elétrica
rotativa mais utilizado no mundo por sua robustez e baixo custo — tanto de
fabricação como de manutenção — e, se for considerado o uso cada vez mais
frequente dos inversores de frequência, também se torna um motor de fácil
controle (BIM, 2012; UMANS, 2014).
Nesta seção, você conhecerá algumas aplicações desse motor em variados
tipos de indústria, mas antes vamos analisar as três principais finalidades
segundo Fillippo Filho (2010):

„„ deslocamento de fluido;
„„ manipulação de carga;
„„ processamento de materiais.

A primeira finalidade poderia ainda ser classificada em dois tipos: flui-


dos incompressíveis e compressíveis. Exemplos dos fluidos incompressíveis
seriam: água, óleos hidráulicos, combustíveis e soluções químicas, e os equi-
pamentos responsáveis pelo deslocamento desses materiais são a bomba
centrífuga, que pode ser de fluxo radial, axial ou misto, conforme a Figura 4,
e a bomba de deslocamento positivo, ilustrada na Figura 5. Na utilização
dessas bombas é comum o conjugado resistente (ou conjugado de carga)
ser muito elevado no momento da partida do motor; esse problema poderia
ser contornado com o uso de motores de rotor bobinado, mas outra solução
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seria o alívio do conjugado resistente apenas nesse momento inicial. Essa


solução seria a redução da pressão com o uso de válvulas de alívio e que
seriam retornadas à posição normal, logo que o motor alcançasse a operação
próxima da nominal.

a b c

Figura 4. Bombas centrífugas: (a) radial, (b) axial e (c) mista.


Fonte: Godoi e Assunção (2019, p. 125).

Figura 5. Bomba de deslocamento positivo do tipo cilindro-pistão e engrenagens.


Fonte: Godoi e Assunção (2019, p. 123).

Na situação do deslocamento de fluidos compressíveis, como o gás ou o


vapor, existem dois equipamentos típicos:

„„ ventilador, em que a diferença da pressão do fluido na entrada e saída


é muito pequena e por isso seu funcionamento é parecido com a da
bomba centrífuga;
10 Motores de indução trifásicos para operações industriais

„„ compressor, equipamento que impõe grande pressão aos fluidos, uti-


lizado em frigorífico e ar-condicionado. Nesse tipo de problema são
utilizadas as relações de expansão do gás com resfriamento e com-
pressão do gás com aquecimento. Na Figura 6 pode ser visto o ciclo de
refrigeração elementar, com a presença do compressor ao lado direito.

Figura 6. Ciclo de refrigeração elementar.


Fonte: Cukla, Santos e Espartel (2018, p. 72).

Da mesma forma que no deslocamento de fluidos incompressíveis, para


este caso existe o problema do elevado conjugado de partida, que pode ser
contornado de maneira similar, aliviando a pressão do sistema com o auxílio
de válvulas.
A segunda finalidade dos motores de indução é a manipulação de cargas,
que de forma geral seria o transporte da carga para uma posição superior
ou inferior, usando um guindaste, ou em um deslocamento horizontal ou
inclinado através de uma esteira.
Motores de indução trifásicos para operações industriais 11

Nesta finalidade é muito comum o uso do dispositivo de acoplamento


para alterar a velocidade de rotação do motor para a velocidade de carga,
ou para transmitir o movimento quando a carga se encontra afastada,
ou ainda para converter um movimento de rotação em translação (BIM, 2012).
Exemplos desses dispositivos são: engrenagem, polia, correia, engrenagem-
-rosca, como ilustrado na Figura 7.

Figura 7. Dispositivos de acoplamento.


Fonte: Stein et al. (2018, p. 176).

As engrenagens são utilizadas quando o motor está próximo da carga


e se deseja uma troca da velocidade de rotação, ou também a combinação
engrenagem-cremalheira que proporciona a transmissão entre rotação e
translação. No caso das polias, que podem ser fixas ou móveis e interliga-
das por cabos, pode ocorrer a redução do conjugado aplicado pelo motor, a
depender do seu arranjo, sendo talha simples, em blocos ou diferencial. Já as
correias, utilizadas juntamente com as polias, são aplicadas quando as cargas
estão distantes o suficiente, o que impede o uso de engrenagens, e em certas
situações elas próprias podem servir de elementos transportadores de carga.
12 Motores de indução trifásicos para operações industriais

Como você já deve imaginar, ao adicionar algum dispositivo de acopla-


mento no nosso sistema, surgirão novas perdas, que refletem no rendimento,
conforme ilustra o Quadro 1.

Quadro 1. Rendimento dos dispositivos de acoplamento

Tipo de acoplamento Rendimento (%)

Direto 100

Polia-correia plana 95-98

Polia-correia em V 97-99

Roda dentada 97-98

Engrenagem 96-99

Fonte: Adaptado de Filippo Filho (2010).

A última finalidade é o processamento de materiais, em que o motor de


indução é aplicado de forma bem particular em cada tipo de indústria, e por
isso não existe um tratamento genérico que possa ser feito. Uma aplicação
desse tipo seria como uma máquina operatriz, que a partir de seu movimento
rotatório realiza tarefas como torno, fresadora, mandril e serra circular,
ou seja, a ação de desbaste, corte e conformação nos materiais em uma
indústria de manufatura (LIXANDRÃO, 2018).
Outra aplicação é na indústria de cerâmica e de mineração, em que o motor
atua como a força propulsora do moinho de bolas. Este equipamento tem a
função de moer materiais duros e possui a forma de um tambor com bolas
que se movimentam livremente em seu interior. O movimento de rotação é
que provoca o atrito entre tais bolas e o material a ser moído (WEG EQUIPA-
MENTOS ELÉTRICOS, 2010).
Além da discussão de todas essas aplicações na indústria, podemos abor-
dar também uma característica do motor de indução com rotor gaiola de
esquilo. Em sua construção típica, esse motor possui a curva de conjugado
por velocidade, conforme a Figura 2, em que seu conjugado de partida é
relativamente baixo, com elevada corrente, e a sua operação nominal se
estabelece com baixo escorregamento. No entanto, existem outras cons-
truções do rotor de gaiola de esquilo e que são normalizadas pela National
Electrical Manufactures Association (NEMA), dos Estados Unidos da América,
apresentando outras respostas de conjugado, desde a partida até a velocidade
Motores de indução trifásicos para operações industriais 13

nominal. Podemos destacar quatro tipos principais denominados de A a D,


conforme a Figura 8.

Figura 8. Curvas típicas de conjugado por velocidade


para quatro classes (NEMA) de rotores.
Fonte: Chapman (2013, p. 347).

Para obter esses quatro perfis de conjugado apresentados na Figura 8, são


variados basicamente dois aspectos das aletas de alumínio do rotor gaiola de
esquilo: a área de sua seção transversal, que impacta diretamente no valor
de resistência; e na proximidade relativa ao enrolamento de estator, o qual
influencia no seu fluxo de dispersão, e consequentemente na sua reatância
de dispersão. Como na situação de partida até a operação nominal do motor,
o escorregamento varia devido à velocidade de rotação do eixo, e, sendo
a frequência elétrica do circuito do rotor uma função do escorregamento,
espera-se que a reatância varie significativamente durante todo esse pro-
cesso. Além disso, o escorregamento (e indiretamente a velocidade do eixo)
em que o conjugado máximo ocorre é uma função da resistência elétrica do
rotor (CHAPMAN, 2013).
14 Motores de indução trifásicos para operações industriais

Portanto, dependendo da classe NEMA, tem-se um conjugado de partida


mais elevado (classe D), ou intermediário (classe C), mas ainda com reduzida
corrente de partida comparado com a classe padrão (classe A). Por outro
lado, pode-se analisar o escorregamento de operação, que se torna distinto
para cada classe, analisando a região à direita da Figura 8. Lembrando que o
rendimento do motor é influenciado pelo valor de escorregamento — quanto
menor, melhor é o motor.
Vistas essas diferenças, podemos associar cada classe com a sua aplicação
típica segundo Del Toro (1994):

„„ Classe A: cargas que não necessitem de alto torque de partida, o que


elevaria demasiadamente sua corrente. Suas aplicações são: ventila-
dores, foles, bombas centrífugas, maioria das ferramentas mecânicas
e para trabalho com madeira.
„„ Classe B: aplicação similar da classe A, mas com menor corrente de
partida e pior fator de potência em situação de operação.
„„ Classe C: cargas que trabalhem com velocidade constante. Conjugado
máximo na partida e superior a das classes anteriores e com menor
corrente para essa situação. Suas aplicações são: transportadoras,
compressores, britadeiras, agitadores e bombas especiais.
„„ Classe D: torque de partida máximo e superior a todas as classes,
mas com elevado escorregamento na operação. Aplicações em cargas
de grande inércia e uso intermitente: tesouras, prensas, estamparia,
caldeiras, elevadores e guindastes.

Nesta seção, você estudou as principais finalidades do motor de indução


com breve descrição dos sistemas mecânicos envolvidos, e ao final foram
abordadas classes do rotor gaiola de esquilo que permitem variadas apli-
cações. Na próxima seção, você conhecerá os dados de especificação dos
motores para algumas aplicações.

Especificações do MIT
Para a escolha do motor de indução trifásico que atenda satisfatoriamente
à carga presente na indústria sem que haja qualquer dano que reduza seu
tempo de vida útil, é necessária a análise das seguintes características para
uma correta especificação (PETRUZELLA, 2013):
Motores de indução trifásicos para operações industriais 15

„„ Potência mecânica: usualmente expressos em hp (horse power), ou


em W (watt).
„„ Tensão: tensão de alimentação do motor.
„„ Correntes:
■■ plena carga (ou nominal): corrente elétrica na operação na qual ele foi
projetado. Essa corrente é utilizada para parametrizar os sensores;
■■ rotor bloqueado: corrente elétrica no momento da partida;
■■ fator de serviço: valor para operação sem que haja danos ao motor.
Por exemplo: 1,15 indica que a corrente pode ficar 15% acima da
nominal por tempo indeterminado sem danos.
„„ Classe NEMA: identifica o tipo de rotor e sua curva característica de
conjugado por velocidade (foi detalhado na seção anterior).
„„ Rendimento: relação entre a potência mecânica de saída e a potência
elétrica de entrada. O rendimento é de 75% a 98%.
„„ Dimensões da carcaça: é a altura entre a base do motor e o centro
do eixo.
„„ Frequência elétrica: 50 Hz ou 60 Hz, o segundo valor para a rede elétrica
brasileira.
„„ Velocidade a plena carga: velocidade do rotor quando o motor estiver
operando em seus valores nominais, ou seja, entregando a potência
nominal.
„„ Requisito de carga: a característica do conjugado resistente de carga
define o tipo de motor mais adequado para determinada aplicação.
■■ Carga de conjugado constante para toda faixa de velocidade, dessa
forma, o aumento de velocidade provocará inevitavelmente um
aumento de potência.
■■ Carga de conjugado variável (tipo parabólico): aumenta o conjugado
conforme aumenta a velocidade, consequentemente a potência.
■■ Carga de potência constante (conjugado hiperbólico): elevado con-
jugado de partida com redução no aumento de velocidade, e por
isso preserva a potência que é o produto entre eles.
■■ Carga de inércia elevada exige um alto conjugado de partida, mas
em sua operação normal permite baixo conjugado.
„„ Temperatura:
■■ Temperatura ambiente: indica a máxima temperatura ambiente para
uma operação segura do motor. Tipicamente assume valor de 40 °C,
mas pode ter valores superiores em casos especiais.
■■ Aumento de temperatura: valor esperado da situação de repouso
até o funcionamento contínuo a plena carga.
16 Motores de indução trifásicos para operações industriais

■■ Em média existe uma diferença de 5 °C a 15 °C entre a temperatura


medida do enrolamento e o ponto mais quente do enrolamento,
esse valor deve ser considerado no cálculo total de temperatura
que deve estar abaixo de seu limite permitido.
■■ Classe de isolamento: letra que identifica qual a temperatura máxima
de operação do motor sem que ele sofra danos.
„„ Regime de serviço: identifica se a carga será de uso contínuo ou
intermitente.
„„ Conjugado:
■■ Conjugado de partida: valor necessário para a partida do motor.
■■ Conjugado mínimo: valor mínimo que o conjugado de motor atinge
desde a sua partida até o ponto de operação.
■■ Conjugado máximo: valor máximo (acima do valor nominal) em que
o motor pode ser operado sem que haja danos.
■■ Conjugado nominal: valor para o funcionamento do motor na situação
de potência e velocidade nominais.
„„ Carcaça do motor:
■■ Motores abertos a prova de gotejamento: são motores que permitem
a incidência de líquidos em uma inclinação de até 15° do eixo vertical,
sem que se danifique, mesmo tendo a carcaça aberta.
■■ Motores totalmente fechados arrefecidos por ventilador: são uti-
lizados em locais sujeitos a umidade, poeira e sujeiras em geral.
■■ Motores totalmente fechados, não ventilados: são motores de potên-
cia reduzida (até 5 hp) e que realizam a dissipação de calor apenas
pela sua carcaça. São utilizados em locais que a presença do venti-
lador externo poderia causar problemas com sujeiras do ambiente.
■■ Motores a prova de explosão: são motores utilizados em ambiente
susceptíveis a explosivos, ou outro combustível como gases
inflamáveis.

Neste capítulo você aprendeu sobre a aplicação do motor de indução


trifásico na indústria, começando por uma breve revisão de seu funciona-
mento, seguida da descrição de seus principais parâmetros para qualificá-los.
Na seção seguinte foram abordadas as principais finalidades desse tipo de
motor, descrevendo alguns dispositivos mecânicos necessários para seu
melhor entendimento, além dos quatro tipos de rotor gaiola de esquilo pa-
dronizados pela NEMA, e que possuem aplicações distintas. E, ao final, foram
especificadas as características relevantes do motor para o seu correto
dimensionamento de acordo com a atividade demandada.
Motores de indução trifásicos para operações industriais 17

Em um edifício de 15 andares será instalado um elevador de carga


no último andar, para transportar uma carga equivalente a 1000 kg.
Essa carga é equivalente, pois em um elevador é utilizado um contrapeso que
reduz o conjugado necessário para movimentá-lo.
A rede elétrica disponível é de 380 V e 60 Hz. A velocidade do elevador deverá
ser de 60 m/min, o tambor conectado ao cabo de sustentação da cabine possui
raio de 30 cm, e um redutor acoplado ao eixo de 54/1, ou seja, a velocidade do
motor é reduzida para a movimentação da cabine.
Especifique um motor adequado para essa aplicação.

Solução:

Para o cálculo da velocidade de rotação do tambor (nelev), devemos utilizar a


velocidade da cabine (v) com o raio do tambor (r),

60
= = = 31,83 RPM
2∙ ∙ 2 ∙ ∙ 0,3

Em seguida, através do redutor podemos encontrar a velocidade do eixo


do motor (n),

n = nelev ∙ red = 31,83 ∙ 54 = 1.719 RPM

Agora que já temos a velocidade de operação do motor, precisamos deter-


minar a sua potência. Para isso calcularemos o conjugado no tambor (Telev) para
movimentar uma carga de 1000 kg.

Telev = F ∙ r = 1.000 ∙ 0,3 = 300 kgf ∙ m

Para convertermos kgf em N, basta multiplicar pela aceleração da gravidade


(g = 9,8 m/s2),

Telev = 300 ∙ g = 300 ∙ 9,8 = 2.940 Nm

Convertendo a rotação do tambor em rad/s,

2 2
= ∙ = 31,83 ∙ = 3,33 rad/s
60 60

utilizando a equação de potência em função do conjugado,

Pelev = T ∙ ω = 2.940 ∙ 3,33 = 9.790 W


18 Motores de indução trifásicos para operações industriais

A partir dos dados de potência (9,79 kW) e velocidade (1719 RPM), podemos
encontrar o motor W22 IR3 Premium Trifásico da WEG:
„„ Carcaça: 132 M/L
„„ Potência: 11 kW (15 cv)
„„ Número de polos: 4
„„ Frequência: 60 Hz
„„ Tensão: 220 V / 380 V
„„ Rotação nominal: 1760 RPM
„„ Conjugado nominal: 6,09 kgfm (59,68 Nm)
„„ Grau de proteção: IP55
Esse motor atende à disponibilidade da rede elétrica (tensão e frequência),
possui uma velocidade um pouco superior da calculada, mas com valor próximo.
Sua potência é superior à calculada, conforme o esperado, e possui uma margem
pois não foi considerado o rendimento do sistema de acoplamento (redutor).

Referências
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2012. 568 p.
CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH; Book-
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2018. 161 p.
DEL TORO, V. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: LTC, 1994. 574 p.
FILIPPO FILHO, G. Motor de indução. São Paulo: Érica, 2010. 246 p.
GODOI, P. J. P. M.; ASSUNÇÃO, G. S. C. Mecânica dos fluidos. Porto Alegre: Sagah, 2019. 215 p.
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motorizado de levantamento das escovas. Jaraguá do Sul; São Bernardo do Campo:
Weg, 2010. 4 p. Disponível em: https://static.weg.net/medias/downloadcenter/h70/h17/
WEG-sistema-motorizado-de-levantamento-das-escovas-602-catalogo-portugues-br.
pdf. Acesso em: 16 mar. 2021.
Motores de indução trifásicos para operações industriais 19

Leituras recomendadas
SIMONE, G. A. Máquinas de indução trifásicas. 2. ed. São Paulo: Érica, 2010. 352 p.
WEG MOTORES A. Guia de especificação: motores elétricos. Jaraguá do Sul: Weg, 2021.
67 p. Disponível em: https://static.weg.net/medias/downloadcenter/h32/hc5/WEG-
-motores-eletricos-guia-de-especificacao-50032749-brochure-portuguese-web.pdf.
Acesso em: 16 mar. 2021.

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