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Universidade Zambeze

Faculdade de Ciências e Tecnologia


Curso de Engenharia Eléctrica

Máquinas Eléctricas

Tema 4:
Máquina Assíncrona

3◦ Ano de Licenciatura

Preparado por MSc. Majequete, Duarte

Beira, Outubro de 2019


Tema 4: Máquina Assíncrona

4. MÁQUINA ASSÍNCRONA
4.1 Introdução

Como já vimos nas unidades anteriores, as máquinas eléctricas transformam energia eléctrica em
energia mecânica (energia rotacional) e vice-versa, A energia mecânica tem a propriedade de
movimentar os mais diversos tipos de máquinas. Neste capítulo iremos tratar das máquinas de
indução, um tipo de máquina eléctrica rotativa muito utilizada como motor, exemplos dessa
aplicação são encontrados em grande variedade no nosso dia-a-dia. É importante referir que a
máquina de indução pode operar como motor ou gerador, embora o motor eléctrico seja a sua
aplicação principal. Apesar de motores monofásicos serem mais presentes no nosso dia-a-dia
(como em aparelhos electrodomésticos, tais como liquidificadores e processadores de alimento),
nosso foco serão as máquinas trifásicas.
Concentraremos nosso estudo nesse tipo de máquina, pois é largamente utilizada em aplicações
industriais visto que possui uma faixa ampla de potências na faixa de dezenas ou centenas de
cavalos de potência. São utilizados em bombas, ventiladores, compressores, usinas de fabricação
de papel/têxtil e em muitas outras aplicações.
A máquina de indução é um tipo de máquina eléctrica CA de característica de construção robusta.
Essa máquina foi criada por Nikola Tesla, no século XIX, e o seu desenvolvimento e
popularidade foram rápidos, e atribui-se essa popularidade ao facto de ser uma máquina de
construção relativamente simples. Assim como as demais máquinas, ela é basicamente formada
por duas partes: um rotor, sendo esse a parte rotativa da máquina, e um estator que é a parte
estacionária.
A principal aplicação da máquina de indução é no modo motor, entretanto, ela também pode
operar no modo gerador. Contudo, a eficiência desse modo não é satisfatória, pois é necessário
que exista uma magnetização suficiente na máquina para que o fenómeno de indução possa
ocorrer neste modo de operação. Dessa forma, normalmente a máquina de indução opera como
geradora apenas se conectada à rede eléctrica ou se é excitada por meio de capacitores
fornecendo a potência reactiva necessária.

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As máquinas de indução também recebem o nome de máquinas CA assíncronas visto que a
velocidade do rotor será sempre em um valor próximo da velocidade síncrona, mas nunca igual a
ela.
Isso se deve ao fenómeno da indução magnética (por isso o nome máquina de indução) que
ocorre na máquina. Nesse fenómeno a corrente criada no rotor gera um campo magnético que
tende a se alinhar com o campo magnético indutor (campo magnético girante), fazendo o rotor
girar no mesmo sentido que ele.

4.2 Característica construtiva de máquina assíncrona

A Figura 4.1 mostra a estrutura construtiva da máquina de indução, onde pode-se verificar as
principais partes da máquina. O estator é construído utilizando lâminas de aço magnético
empilhadas de forma a reduzir ao máximo as perdas por corrente de Foucault e histerese
magnética. Podemos perceber que isso é uma prática recorrente em núcleos de máquinas
eléctricas, sendo utilizado também nas máquinas CC e transformadores. O material do núcleo é
de alta permeabilidade magnética, ou seja, facilita a criação de um campo magnético elevado
com forças electromotrizes relativamente baixas.

Figura 4.1 Máquina assíncrona

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sendo assim, trata-se de um enrolamento trifásico, também denominado de enrolamento de


campo primário. O enrolamento trifásico do estator é composto por três bobinas dispostas a 120°
mecânicos, podendo ser conectado em estrela ou triângulo, é fabricado, na maior parte das
máquinas, com fios de cobre isolados entre si e alocados em ranhuras.
O rotor pode ser basicamente de dois tipos: o rotor bobinado ou gaiola de esquilo. Quando o
rotor for do tipo gaiola de esquilo, a máquina de indução possui baixo custo de construção e
manutenção. Já motores com rotor bobinado
aos acessórios necessários para sua utilização, não obstante oferecer uma vantagem de se ter o
acesso aos terminais do rotor o que já não acontece com o rotor de gaiola de esquilo.

A estrutura de um rotor bobinado pode ser observada na figura 4.2. O núcleo do rotor é
constituído por material ferromagnético laminado com as bobinas trifásicas alojadas sobre essa
estrutura. A conexão dos terminais do enrolamento do rotor é feita por meio de três anéis de
deslizamento no eixo do rotor que, para causar o efeito de indução, deve ser fechado em si (ou
seja, curto-circuitado). Contudo, este curto-circuito dos enrolamentos não é feito directamente no
rotor bobinado, mas sim através de reóstatos de arranque (partida) conectados aos anéis, da
forma como mostrado na figura 4.3.

Figura 4.2 Rotor bobinado

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Figura 4.3 Circuito de rotor bobinado de máquina assíncrona

Esse reóstato é composto por resistências ligadas em estrela que podem ser variadas de um valor
máximo até um valor mínimo de forma a limitar a corrente de partida. De forma análoga ao que
é feito nas máquinas CC, no momento da partida, a resistência é máxima e no momento que a
velocidade do rotor vai aumentado, o valor da resistência do reóstato é reduzido até zero no
instante que a máquina atinge a velocidade nominal.
O mesmo reóstato pode ser utilizado posteriormente para fazer o controlo da velocidade da
máquina. Contudo, o dimensionamento do reóstato tem um importante papel não somente para a
partida da máquina, como também na operação, pelo que

tipo de accionamento, dispositivos de protecção adequados como fusíveis e relés de protecção,


são extremamente necessários, o que requer um maior investimento assim como uma maior
necessidade de manutenção da máquina, aumentando assim os custos.
Para máquinas de menor porte, normalmente o rotor é do tipo chamado rotor gaiola de esquilo
como ilustrado na figura 3.4, que também é composto por um núcleo de material ferromagnético,
mas possui ranhuras na superfície, nas quais estão alojadas as barras condutoras de cobre ou
alumínio, que são electricamente conectadas nas extremidades por anéis. A diferença é que neste
tipo de rotor não há acesso aos terminais, e os parâmetros eléctricos são determinados em sua
construção. Ainda, este tipo de rotor não requer o isolamento dos condutores ao núcleo de ferro,
sendo por muitas vezes fabricados directamente fundidos na estrutura do núcleo.

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Figura 4.4. Rotor em curto-circuito (gaiola de esquilo) de máquina assíncrona

4.3 Princípio de funcionamento de Máquina Assíncrona

Quando o enrolamento do estator é alimentado por uma fonte trifásica CA, surge nos
enrolamentos um campo magnético girante que atravessa o entreferro e o rotor, induzindo tensão
no rotor (do tipo bobinado) ou nas correntes (gaiola de esquilo), fazendo com que a energização
do rotor ocorra apenas por indução. Se o enrolamento do rotor bobinado for colocado em curto-
circuito, perfazendo um circuito fechado, circularão correntes induzidas que produzirão um
campo magnético no rotor em oposição ao campo do estator, resultando na produção de torque e
no giro do rotor em uma dada velocidade.
O resultado do surgimento das correntes no rotor pode ser observado na figura 4.5. Percebe-se
que na região onde as correntes do estator estão entrando (cruzes), as correntes no rotor estão
saindo (pontos), hav
rotor. Esse desalinhamento está caracterizado pela diferença entre os eixos do campo magnético
do rotor e do campo magnético do estator.
Sendo assim, existe sempre um ângulo de desfasagem entre os eixos, mas a tendência é que o
campo magnético no rotor busque o alinhamento com o campo magnético girante do estator.
Esse ângulo de desfasagem entre os eixos magnéticos do rotor e do estator é o responsável pela
produção de um conjugado rotacional. Para que este ângulo exista, o movimento do rotor deve se

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dar no mesmo sentido e com velocidade mais baixa que o campo magnético girante, de forma
que as correntes induzidas sejam formadas por meio do movimento relativo entre os campos
magnéticos. Como resultado, a velocidade real do eixo do motor será muito próxima da
velocidade síncrona, mas nunca se igualará a ela.

Figura 4.5. Desfasamento dos campos magnéticos do estator e rotor numa máquina assíncrona

A velocidade de rotação real do motor de indução é sempre um valor abaixo da velocidade


síncrona, no entanto, a velocidade real tem uma relação com a velocidade síncrona devido à
tendência de alinhamento dos campos. Dessa forma, ao se variar os parâmetros que definem a
velocidade síncrona, como o número de polos ou a frequência eléctrica da rede, o valor da
velocidade de rotação mecânica também será alterado. Algumas máquinas de indução são
construídas permitindo a variação do número de polos de modo que podem ser conseguidas mais
de uma velocidade de rotação.
A velocidade síncrona de rotação é definida como a velocidade de rotação do campo magnético
girante, e essa pode ser dada em radianos por segundo (rad/s) ou em rotações por minuto (rpm), e
depende da frequência da corrente de excitação do campo e do número de polos da máquina.
Portanto, a velocidade do campo magnético girante é dependente dos aspectos construtivos dos
enrolamentos da máquina e da frequência da rede ou da fonte de alimentação.

(rad/s) (1)

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(rpm) (2)

Devido às características construtivas, se o circuito de enrolamento do estator for alimentado


com uma fonte trifásica CA e o enrolamento do rotor for mantido em aberto, surgirá um campo
magnético girante no entreferro, que terá a frequência síncrona de rotação e induzirá tensão no
enrolamento do rotor que está em aberto na mesma frequência. As equações 3 e 4 apresentam a
tensão induzida para o enrolamento do estator e do rotor, respectivamente, em que kw1 e kw2 são
os coeficientes dos enrolamentos definidos pelos aspectos construtivos e são, normalmente,
muito próximos em valor.
(3)

(4)

Considerando a característica das tensões, pode-se escrever uma relação de transformação dada
pelas tensões do estator e do rotor com base no número de espiras em cada enrolamento. Assim,
a estrutura estática da máquina de indução de rotor bobinado se assemelha a de um
transformador trifásico.
Ainda considerando o caso de rotor bobinado, se o enrolamento do estator for conectado a uma
fonte de alimentação de corrente alternada trifásica, e os terminais dos enrolamentos do rotor
forem curto-circuitados, a tensão induzida nos enrolamentos do rotor fará induzir correntes que
irão interagir com o campo magnético no entreferro, produzindo um torque. De acordo com a Lei
de Lenz, o sentido do giro seguirá o mesmo sentido do campo, de forma que a velocidade
relativa entre o campo magnético girante e do enrolamento do rotor diminua. Portanto, essa
diferença entre a velocidade do campo girante produzido pelo estator e a velocidade do giro
mecânico do rotor é denominada por escorregamento, e é dada pela equação 5.

( )
(5)

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Onde:
S – escorregamento
ns – velocidade síncrono
n – velocidade do rotor
O valor do escorregamento pode ser expresso em números decimais ou em percentagem. No
momento de arranque a velocidade de rotação é nula e, dessa forma o escorregamento é igual a 1
(ou 100%). A frequência relativa da tensão e corrente, ambas induzidas no rotor, é determinada
pela diferença das velocidades, conforme equação 6.

( ) (6)

A f2 é denominada frequência de escorregamento no rotor. Assim, o comportamento eléctrico de


uma máquina de indução (assíncrona) é similar ao de um transformador, mas apresentando a
característica adicional da transformação de frequência produzida pelo movimento relativo entre
os enrolamentos do estator e do rotor. Na realidade, uma máquina de indução de rotor bobinado
pode ser usada para realizar conversão de frequência.
As correntes induzidas no rotor também produzem um campo magnético girante, que gira na
velocidade dada pela equação 7.

(7)

Como os campos tendem a se alinhar, o campo magnético do estator pode ser visualizado como
arrastando o campo magnético do rotor. Entretanto, se é exercido um torque no eixo do rotor,
uma força electromotriz pode ser induzida. Dessa maneira, com a máquina em movimento,
podem ser obtidos três modos de operação: motor, gerador e freio, dependendo dos alinhamentos
da velocidade da máquina e do campo magnético girante.
A figura 4.6 mostra o comportamento das velocidades em cada um dos modos de operação,
considerando também o valor do escorregamento. Na figura 4.6 (a) o rotor gira na direcção do
campo magnético girante do estator e a velocidade do rotor é menor do que a do campo girante,

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então opera como motor. Na operação da máquina no modo gerador (figura 4.6 (b)), o rotor gira
na direcção do campo magnético girante mas, nesse caso, a velocidade do rotor é maior que a do
campo magnético girante. No modo freio (figura 4
campo magnético do estator, produzindo um torque frenante.

Figura 4.6. Modo de operação duma máquina assíncrona

Os três modos de operação podem também serem reflectidos na característica de conjugado em


função da velocidade de rotação do eixo da máquina e do escorregamento, conforme ilustra a
figura 4.7. Portanto, no mo -
-
-se que o
gráf

responsável pela produção de torque. Finalmente, na operação como gerador tem-se a velocidade
de rotação maior que a velocidade síncrona e o escorregamento negativo. Verifica-se, ainda, que
o torque se torna negativo (torque para a produção de tensão induzida).

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Figura 4.7. Gráfico de torque em função da velocidade do rotor e escorregamento

4.4 Desempenho de Máquina assíncrona em regime permanente

Para muitas análises do comportamento da máquina em regime permanente, é interessante que se


conheça o seu circuito equivalente. Tratando-se de uma máquina de indução, devido aos aspectos
construtivos apresentados anteriormente, pode-se concluir que o circuito equivalente desse tipo
de máquina rotativa se assemelha muito ao circuito equivalente de um transformador.
De facto, a máquina de indução é também conhecida como um transformador generalizado. A
justificativa para isso é o facto já estudado de que a energia presente no estator (analogamente ao
primário do transformador) induz tensões e correntes no rotor (analogamente ao secundário do
transformador, quando em carga), sem que haja cone

condições-limite, se o rotor tiver o seu giro bloqueado, ou seja, se for possível manter o rotor
estático, a frequência da tensão induzida será a mesma do sinal do estator.

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Na diversa literatura são várias as formas de se relacionar a frequência do sinal induzido no rotor
(f2) e a frequência do sinal de excitação do estator (f1). Vamos adoptar uma que é mais usual,
conforme a equação 6, onde S corresponde ao escorregamento da máquina

As considerações anteriores sobre fluxo e ondas de fmm podem ser expressas facilmente na
forma de um circuito equivalente para a máquina de indução polifásica, em regime permanente.
Nesse desenvolvimento, apenas máquinas com enrolamentos polifásicos simétricos e excitados
por tensões polifásicas equilibradas é que são consideradas.

Figura 4.8. Circuito equivalente de rotor e escorregamento

Como em muitas outras discussões de dispositivos polifásicos, é útil pensar que as máquinas
trifásicas estão ligadas em Y, de modo que as correntes e tensões sejam sempre expressas por
valores de fase. Nesse caso, podemos deduzir o circuito equivalente para uma fase, ficando
subentendido que as tensões e correntes nas demais fases podem ser obtidas por meio de um
simples deslocamento adequado da fase que está sendo estudada ( 120° no caso de uma
máquina trifásica).
Primeiro, considere as condições no estator. A onda de fluxo de entreferro, girando
sincronicamente, gera forças contra-electromotrizes (fcems) polifásicas equilibradas nas fases do
estator. A tensão de terminal do estator difere da fcem pela queda de tensão na impedância de
dispersão do estator Z1 = R1 + j X1. Assim,

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( ) (8)

Onde
V1 = Tensão de fase de terminal do estator
Ê1 = FCEM (de fase) gerada pelo fluxo de entreferro resultante
Î1 = Corrente do estator
R1 = Resistência efectiva do estator
X1 = Reactância de dispersão do estator

O fluxo de entreferro resultante é criado pelas fmms combinadas das correntes de estator e rotor.
Exactamente como no caso de um transformador, a corrente de estator pode ser decomposta em
duas componentes: uma componente de carga e uma componente de excitação (magnetização).
A componente de carga Î2 produz uma fmm que corresponde à fmm da corrente do rotor. A
componente de excitação Îϕ é a corrente de estator adicional que é necessária para criar o fluxo
de entreferro resultante e é uma função da fem Ê1. A corrente de excitação pode ser decomposta
em uma componente de perdas no núcleo Îc, em fase com Ê1, e uma componente de
magnetização Îm, atrasada 90º em relação a Ê1. No circuito equivalente, a corrente de excitação
pode ser levada em consideração incluindo-se um ramo em derivação, formado por uma
resistência de perdas no núcleo Rc em paralelo com uma reactância de magnetização Xm, ligado
a Ê2, como na figura 4.8. Normalmente, ambas (Rc e Xm) são determinadas para a frequência
nominal do estator e para um valor de E1 próximo do valor esperado de operação.
Pode se assumir que esses valores permanecem constantes quando pequenos desvios em E2
ocorrerem durante o funcionamento normal da máquina assíncrona (motor).
O circuito equivalente da figura 4.8 que representa os fenómenos ocorridos no estator, é
exactamente igual ao usado para representar o primário de um transformador. Para completar o
modelo do circuito equivalente, devem ser incluídos os efeitos do rotor. Do ponto de vista do
circuito equivalente do estator da figura 4.8, o rotor pode ser representado por uma impedância
equivalente .

(9)

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Essa impedância corresponde à impedância de dispersão de um secundário equivalente


estacionário. Para completar o circuito equivalente, devemos determinar o valor de que
represente as tensões e correntes em termos das grandezas do rotor referidas ao estator.
Como vimos antes sobre os transformadores, do ponto de vista do primário, o enrolamento do
secundário de um transformador pode ser substituído por um enrolamento secundário
equivalente que tem o mesmo número de espiras que o enrolamento do primário. Em um
transformador, no qual a relação de espiras e os parâmetros do secundário são conhecidos, isso
pode ser feito referindo a impedância do secundário ao primário.
Portanto, essa impedância é multiplicada pelo quadrado da relação de espiras entre o primário e o
secundário. O circuito equivalente resultante é perfeitamente geral do ponto de vista das
grandezas do primário.
De modo semelhante, no caso de uma máquina de indução polifásica (motor), quando o rotor é
substituído por um rotor equivalente, tendo um enrolamento polifásico com os mesmos números
de fases e espiras que o estator mas produzindo a mesma fmm e fluxo de entreferro que o rotor
real, o desempenho não será alterado quando for observado do ponto de vista dos terminais do
estator. Esse conceito adoptado aqui, é especialmente útil no modelamento de rotores de gaiola
“enrolamentos de fase”
Portanto, o circuito equivalente do estator da máquina de indução difere-se do circuito do
transformador pela magnitude dos parâmetros envolvidos, uma vez na máquina de indução as
correntes de magnetização serem maiores devido ao entreferro. Também as características
construtivas do enrolamento do estator sobre o núcleo de ferro (na periferia, em vez de
envolvendo, como nos transformadores) acarretam em reactâncias de dispersão maiores.

Já para o rotor da máquina, o circuito equivalente por fase também é definido por uma
resistência (R2) em série com uma reactância (sX2), conforme a figura 4.9 (a). Quando a máquina
está parada, E2 é a tensão induzida no enrolamento do rotor e X2 é a reactância do rotor. No
entanto, quando a máquina está em operação com um escorregamento S, a frequência da tensão
induzida no rotor será dada pela equação 6, logo, tanto a tensão induzida como a reactância
indutiva terão seus valores afectados e podem estes valores serem escritos em termos do
escorregamento como sE2 e sX2.
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Dessa forma, podemos ter circuitos alternativos para representar o circuito do rotor, conforme
mostrado nas figuras 4.9 (b) e (c), adoptando-se como tensão de entrada a tensão induzida E2

Figura 4.9. Circuito do rotor da máquina de indução (a) em termos da tensão induzida sE2; (b) em termos
da tensão E2; (c) separando a resistência do rotor

Podemos partir do circuito da figura 4.9 (a) e escrever a corrente que percorre o enrolamento do
rotor conforme mostra a equação 10, cujo circuito é representado na figura 4.9 (a).

(10)

Dividindo o denominador e o numerador da equação (10) pelo escorregamento, obtemos a


equação (11), que representa o circuito da figura 4.9 (b).

(11)

É importante ressaltar o facto de que as equações 10 e 11 apresentam algumas diferenças


conceituais. Enquanto a corrente obtida pela equação 11 é uma corrente alternada cuja frequência
corresponde à frequência síncrona de rotação (f1), a corrente obtida pela equação 10 tem a
frequência igual à do sinal induzido no rotor, que é a de escorregamento (f2). Outra diferença
corresponde à reactância de dispersão, que, na equação 10, tem o seu valor alterado devido a
frequência do sinal, e assim pode ser escrita em função do escorregamento, mas a resistência se
mantém fixa. Contudo, na equação 11 e, consequentemente, no circuito da figura 4.9 (b), a
reactância é fixa com a frequência, correspondendo à frequência f1. Neste caso, os efeitos reais
da diferença de frequência devem ser reflectidos no valor da resistência do enrolamento do rotor.
Em outras palavras, o circuito da figura 4.9 (a) é o circuito visto do rotor, enquanto o da figura
4.9 (b) é o circuito visto pelo estator, e quando adicionado a figura 4.8 forma-se o circuito

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equivalente duma máquina assíncrona (motor) referido do lado estator, conforme ilustra a figura
4.10.

Figura 4.10. Circuito equivalente por fase de motor assíncrono trifásico equilibrado visto de lado do
estator.

4.5.1 Análise do circuito equivalente


O circuito equivalente por fase visto antes pode ser usado para determinar uma ampla variedade
de características de desempenho das máquinas de indução polifásicas em regime permanente.
Estão incluídas as variações de corrente, velocidade e perdas que ocorrem quando as exigências
de carga e conjugado são alteradas. Incluem-se também o conjugado máximo e o de partida.
Entretanto, observe que na prática os parâmetros do circuito equivalente podem depender das
condições de operação.
O circuito equivalente mostra que a potência total Pg transferida através do entreferro desde o
estator é:

( ) (12)

As perdas totais I2R do rotor, Protor, podem ser calculadas a partir das perdas I2R no rotor
equivalente como:
(13)

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Agora, a potência electromagnética Pmec desenvolvida pela máquina assíncrona (motor) pode ser
determinada subtraindo a dissipação de potência do rotor (equação 13) da potência de entreferro
na equação 12, obtendo-se:
(14 -a)

( ) (14 -b)

ou, de forma equivalente,

( ) (14 –c)

Comparando a equação 12 com a equação (14-c), obtêm-se:


( ) (15 -a)

(15 –b)

Vemos então que, da potência total fornecida através do entreferro para o rotor, a fração (1 – S) é
convertida em potência mecânica e a fração S é dissipada como perdas I2R nos condutores do
rotor. De forma similar, a potência dissipada no rotor pode ser expressa em termos da potência
electromecânica como

( ) (16)

Das equações 15-b e 16, é evidente que um motor de indução operando com um escorregamento
elevado não é um dispositivo eficiente. A dissipação de potência do rotor por fase do estator
corresponde à potência dissipada na resistência R2, ao passo que a potência electromecânica por
fase do estator é igual à potência entregue à resistência R2(1 − S)/S.

4.5.2 Conjugado electromecânico


O conjugado electromecânico Tmec correspondente à potência Pmec pode ser obtido lembrando
que a potência mecânica é igual ao conjugado vezes a velocidade angular. Assim,
( ) (17)

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O uso das equações (14 –c) e (15 –a) leva a


( ⁄ )
(18)

Com a velocidade angular mecânica síncrona ωs sendo dada por:

(19 –a)

Onde ωe é a frequência eléctrica fe expressa em rad/s como


(19 –b)

A equação 18 pode ser escrita em termos da frequência eléctrica ωe como

( )( ⁄ ) (20)

O conjugado mecânico Tmec e a potência Pmec não são os valores de saída disponíveis no eixo
porque o atrito, a ventilação e as perdas suplementares não foram ainda considerados.
Obviamente, é correcto subtrair o atrito, a ventilação e outras perdas rotacionais de Tmec ou Pmec.
Assume-se, em geral, que os efeitos das perdas suplementares podem ser subtraídos do mesmo
modo. O restante está disponível como potência de saída no eixo em forma de trabalho útil.
Assim,
(21 –a)

(21 –b)

Em que Prot e Trot são a potência e o conjugado associados ao atrito, à ventilação e às demais
perdas rotacionais.

4.6 Determinação de parâmetros a partir de ensaios a vazio e com rotor bloqueado

Os parâmetros de circuito equivalente necessários para o cálculo do desempenho de um motor de


indução polifásico submetido a uma carga, podem ser obtidos dos resultados de um ensaio a
vazio, de um ensaio de rotor bloqueado e das medidas das resistências CC dos enrolamentos do

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estator. As perdas suplementares, que devem ser levadas em consideração quando valores
exactos de rendimento devem ser calculados, também podem ser medidas por ensaios a vazio
com o motor.

4.6.1 Ensaio a vazio


Como no caso do ensaio em circuito aberto de um transformador, o ensaio a vazio ou em circuito
aberto de um motor de indução fornece informações em relação à corrente de excitação e às
perdas a vazio. Em geral, esse ensaio é executado em frequência nominal e com tensões
polifásicas equilibradas aplicadas aos terminais do estator.
Depois de o motor terminal ter funcionado por um tempo suficiente para que os mancais se
lubrifiquem apropriadamente, as leituras são executadas na tensão nominal.
A vazio, a corrente do rotor é apenas a mínima necessária para produzir conjugado suficiente
para superar as perdas por atrito e ventilação associadas à rotação. As perdas a vazio I2R do rotor
são, portanto, muito baixas e podem ser desprezadas. Ao contrário do núcleo magnético contínuo
de um transformador, o caminho de magnetização do motor de indução inclui um entreferro, o
que aumenta significativamente a corrente de excitação necessária. Assim, contrastando com o
transformador, cujas perdas I2R a vazio no primário são desprezíveis, no caso do estator do
motor de indução as perdas I2R a vazio podem ser consideráveis devido a essa corrente de
excitação maior.

4.6.2 Ensaio de rotor bloqueado


Como no caso do ensaio em curto-circuito de um transformador, o ensaio de rotor bloqueado ou
travado de um motor de indução fornece informações sobre as impedâncias de dispersão. O rotor
é bloqueado, de modo que não possa girar (sendo o escorregamento, portanto, igual à unidade), e
tensões polifásicas equilibradas são aplicadas aos terminais do estator.

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Exercícios de Aplicação sobre Máquinas Assíncronas

1. Uma máquina de indução (motor) trifásica, tetrapolar, de 380 V e 60Hz trabalha a plena carga
com uma velocidade de 1755 rpm. Calcule:
a) A sua velocidade síncrona,
b) O escorregamento,
c) A frequência do sinal induzido no rotor

2. Se a frequência do sinal induzido no rotor de um motor trifásico de seis polos, de 50Hz for de
3Hz, calcule:
a) O escorregamento,
b) A velocidade do rotor.

3. O campo magnético produzido por um motor assíncrono trifásico gira a uma velocidade de
900 rpm.
a) Se a frequência da tensão aplicada é de 60Hz, determine o número de polos do motor.
b) Quando o rotor gira a uma velocidade de 800 rpm, qual é o escorregamento percentual do
motor?

4. Uma máquina de indução (motor) trifásica, de seis polos conectados em estrela, 230 V, 60Hz,
tem como parâmetros por fase o seguinte: R1 = 0 5Ω R2 = 0 25Ω X1 = 0 75Ω X2 = 0 5Ω Xm =
00Ω Rc = 500Ω A 50 W
motor considerando o escorregamento de 2.5%.

5. Um motor de indução trifásico, 6 pólos, 60 Hz, ligado em estrela, 380 V, tem os seguintes
parâmetros, referidos ao estator:
R1 = 0,294 Ω X1 = 0,503 Ω R2 = 0,144 Ω, X2 = 0,109 Ω Rc = 136,8 Ω e Xm = 13,25 Ω. As
perdas totais por atrito, ventilação e no ferro podem ser consideradas constante, valendo 403 W e
independente da carga. Para um escorregamento de 2%, determinar:

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Tema 4: Máquina Assíncrona
a) Velocidade do rotor.
b) Potência de saída
c) A corrente do estator
d) O factor de potência do motor
e) Rendimento do motor

6. Um motor de indução trifásico, ligado em estrela, de seis polos, 460 V (tensão de linha), 20
kW e 60 Hz tem os seguintes valores de parâmetros por fase, referidos ao estator: R1 = 0,271 Ω
R2 = 0,188 Ω X1 = 1,12 Ω, X2 = 1,91 Ω Xm = 23,10 Ω. Assumindo que as perdas totais de atrito,
de ventilação e no núcleo são de 320 W constantes independentemente da carga que acciona.
Para um escorregamento de 1,6%, calcule a velocidade:
a) O conjugado e a potência de saída, a corrente de estator, o factor de potência e o rendimento,
quando o motor trabalha em tensão e frequência constantes.

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