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Máquinas Eléctricas
Tema 4:
Máquina Assíncrona
3◦ Ano de Licenciatura
4. MÁQUINA ASSÍNCRONA
4.1 Introdução
Como já vimos nas unidades anteriores, as máquinas eléctricas transformam energia eléctrica em
energia mecânica (energia rotacional) e vice-versa, A energia mecânica tem a propriedade de
movimentar os mais diversos tipos de máquinas. Neste capítulo iremos tratar das máquinas de
indução, um tipo de máquina eléctrica rotativa muito utilizada como motor, exemplos dessa
aplicação são encontrados em grande variedade no nosso dia-a-dia. É importante referir que a
máquina de indução pode operar como motor ou gerador, embora o motor eléctrico seja a sua
aplicação principal. Apesar de motores monofásicos serem mais presentes no nosso dia-a-dia
(como em aparelhos electrodomésticos, tais como liquidificadores e processadores de alimento),
nosso foco serão as máquinas trifásicas.
Concentraremos nosso estudo nesse tipo de máquina, pois é largamente utilizada em aplicações
industriais visto que possui uma faixa ampla de potências na faixa de dezenas ou centenas de
cavalos de potência. São utilizados em bombas, ventiladores, compressores, usinas de fabricação
de papel/têxtil e em muitas outras aplicações.
A máquina de indução é um tipo de máquina eléctrica CA de característica de construção robusta.
Essa máquina foi criada por Nikola Tesla, no século XIX, e o seu desenvolvimento e
popularidade foram rápidos, e atribui-se essa popularidade ao facto de ser uma máquina de
construção relativamente simples. Assim como as demais máquinas, ela é basicamente formada
por duas partes: um rotor, sendo esse a parte rotativa da máquina, e um estator que é a parte
estacionária.
A principal aplicação da máquina de indução é no modo motor, entretanto, ela também pode
operar no modo gerador. Contudo, a eficiência desse modo não é satisfatória, pois é necessário
que exista uma magnetização suficiente na máquina para que o fenómeno de indução possa
ocorrer neste modo de operação. Dessa forma, normalmente a máquina de indução opera como
geradora apenas se conectada à rede eléctrica ou se é excitada por meio de capacitores
fornecendo a potência reactiva necessária.
A Figura 4.1 mostra a estrutura construtiva da máquina de indução, onde pode-se verificar as
principais partes da máquina. O estator é construído utilizando lâminas de aço magnético
empilhadas de forma a reduzir ao máximo as perdas por corrente de Foucault e histerese
magnética. Podemos perceber que isso é uma prática recorrente em núcleos de máquinas
eléctricas, sendo utilizado também nas máquinas CC e transformadores. O material do núcleo é
de alta permeabilidade magnética, ou seja, facilita a criação de um campo magnético elevado
com forças electromotrizes relativamente baixas.
A estrutura de um rotor bobinado pode ser observada na figura 4.2. O núcleo do rotor é
constituído por material ferromagnético laminado com as bobinas trifásicas alojadas sobre essa
estrutura. A conexão dos terminais do enrolamento do rotor é feita por meio de três anéis de
deslizamento no eixo do rotor que, para causar o efeito de indução, deve ser fechado em si (ou
seja, curto-circuitado). Contudo, este curto-circuito dos enrolamentos não é feito directamente no
rotor bobinado, mas sim através de reóstatos de arranque (partida) conectados aos anéis, da
forma como mostrado na figura 4.3.
Esse reóstato é composto por resistências ligadas em estrela que podem ser variadas de um valor
máximo até um valor mínimo de forma a limitar a corrente de partida. De forma análoga ao que
é feito nas máquinas CC, no momento da partida, a resistência é máxima e no momento que a
velocidade do rotor vai aumentado, o valor da resistência do reóstato é reduzido até zero no
instante que a máquina atinge a velocidade nominal.
O mesmo reóstato pode ser utilizado posteriormente para fazer o controlo da velocidade da
máquina. Contudo, o dimensionamento do reóstato tem um importante papel não somente para a
partida da máquina, como também na operação, pelo que
Quando o enrolamento do estator é alimentado por uma fonte trifásica CA, surge nos
enrolamentos um campo magnético girante que atravessa o entreferro e o rotor, induzindo tensão
no rotor (do tipo bobinado) ou nas correntes (gaiola de esquilo), fazendo com que a energização
do rotor ocorra apenas por indução. Se o enrolamento do rotor bobinado for colocado em curto-
circuito, perfazendo um circuito fechado, circularão correntes induzidas que produzirão um
campo magnético no rotor em oposição ao campo do estator, resultando na produção de torque e
no giro do rotor em uma dada velocidade.
O resultado do surgimento das correntes no rotor pode ser observado na figura 4.5. Percebe-se
que na região onde as correntes do estator estão entrando (cruzes), as correntes no rotor estão
saindo (pontos), hav
rotor. Esse desalinhamento está caracterizado pela diferença entre os eixos do campo magnético
do rotor e do campo magnético do estator.
Sendo assim, existe sempre um ângulo de desfasagem entre os eixos, mas a tendência é que o
campo magnético no rotor busque o alinhamento com o campo magnético girante do estator.
Esse ângulo de desfasagem entre os eixos magnéticos do rotor e do estator é o responsável pela
produção de um conjugado rotacional. Para que este ângulo exista, o movimento do rotor deve se
dar no mesmo sentido e com velocidade mais baixa que o campo magnético girante, de forma
que as correntes induzidas sejam formadas por meio do movimento relativo entre os campos
magnéticos. Como resultado, a velocidade real do eixo do motor será muito próxima da
velocidade síncrona, mas nunca se igualará a ela.
Figura 4.5. Desfasamento dos campos magnéticos do estator e rotor numa máquina assíncrona
(rad/s) (1)
(4)
Considerando a característica das tensões, pode-se escrever uma relação de transformação dada
pelas tensões do estator e do rotor com base no número de espiras em cada enrolamento. Assim,
a estrutura estática da máquina de indução de rotor bobinado se assemelha a de um
transformador trifásico.
Ainda considerando o caso de rotor bobinado, se o enrolamento do estator for conectado a uma
fonte de alimentação de corrente alternada trifásica, e os terminais dos enrolamentos do rotor
forem curto-circuitados, a tensão induzida nos enrolamentos do rotor fará induzir correntes que
irão interagir com o campo magnético no entreferro, produzindo um torque. De acordo com a Lei
de Lenz, o sentido do giro seguirá o mesmo sentido do campo, de forma que a velocidade
relativa entre o campo magnético girante e do enrolamento do rotor diminua. Portanto, essa
diferença entre a velocidade do campo girante produzido pelo estator e a velocidade do giro
mecânico do rotor é denominada por escorregamento, e é dada pela equação 5.
( )
(5)
( ) (6)
(7)
Como os campos tendem a se alinhar, o campo magnético do estator pode ser visualizado como
arrastando o campo magnético do rotor. Entretanto, se é exercido um torque no eixo do rotor,
uma força electromotriz pode ser induzida. Dessa maneira, com a máquina em movimento,
podem ser obtidos três modos de operação: motor, gerador e freio, dependendo dos alinhamentos
da velocidade da máquina e do campo magnético girante.
A figura 4.6 mostra o comportamento das velocidades em cada um dos modos de operação,
considerando também o valor do escorregamento. Na figura 4.6 (a) o rotor gira na direcção do
campo magnético girante do estator e a velocidade do rotor é menor do que a do campo girante,
responsável pela produção de torque. Finalmente, na operação como gerador tem-se a velocidade
de rotação maior que a velocidade síncrona e o escorregamento negativo. Verifica-se, ainda, que
o torque se torna negativo (torque para a produção de tensão induzida).
condições-limite, se o rotor tiver o seu giro bloqueado, ou seja, se for possível manter o rotor
estático, a frequência da tensão induzida será a mesma do sinal do estator.
Na diversa literatura são várias as formas de se relacionar a frequência do sinal induzido no rotor
(f2) e a frequência do sinal de excitação do estator (f1). Vamos adoptar uma que é mais usual,
conforme a equação 6, onde S corresponde ao escorregamento da máquina
As considerações anteriores sobre fluxo e ondas de fmm podem ser expressas facilmente na
forma de um circuito equivalente para a máquina de indução polifásica, em regime permanente.
Nesse desenvolvimento, apenas máquinas com enrolamentos polifásicos simétricos e excitados
por tensões polifásicas equilibradas é que são consideradas.
Como em muitas outras discussões de dispositivos polifásicos, é útil pensar que as máquinas
trifásicas estão ligadas em Y, de modo que as correntes e tensões sejam sempre expressas por
valores de fase. Nesse caso, podemos deduzir o circuito equivalente para uma fase, ficando
subentendido que as tensões e correntes nas demais fases podem ser obtidas por meio de um
simples deslocamento adequado da fase que está sendo estudada ( 120° no caso de uma
máquina trifásica).
Primeiro, considere as condições no estator. A onda de fluxo de entreferro, girando
sincronicamente, gera forças contra-electromotrizes (fcems) polifásicas equilibradas nas fases do
estator. A tensão de terminal do estator difere da fcem pela queda de tensão na impedância de
dispersão do estator Z1 = R1 + j X1. Assim,
( ) (8)
Onde
V1 = Tensão de fase de terminal do estator
Ê1 = FCEM (de fase) gerada pelo fluxo de entreferro resultante
Î1 = Corrente do estator
R1 = Resistência efectiva do estator
X1 = Reactância de dispersão do estator
O fluxo de entreferro resultante é criado pelas fmms combinadas das correntes de estator e rotor.
Exactamente como no caso de um transformador, a corrente de estator pode ser decomposta em
duas componentes: uma componente de carga e uma componente de excitação (magnetização).
A componente de carga Î2 produz uma fmm que corresponde à fmm da corrente do rotor. A
componente de excitação Îϕ é a corrente de estator adicional que é necessária para criar o fluxo
de entreferro resultante e é uma função da fem Ê1. A corrente de excitação pode ser decomposta
em uma componente de perdas no núcleo Îc, em fase com Ê1, e uma componente de
magnetização Îm, atrasada 90º em relação a Ê1. No circuito equivalente, a corrente de excitação
pode ser levada em consideração incluindo-se um ramo em derivação, formado por uma
resistência de perdas no núcleo Rc em paralelo com uma reactância de magnetização Xm, ligado
a Ê2, como na figura 4.8. Normalmente, ambas (Rc e Xm) são determinadas para a frequência
nominal do estator e para um valor de E1 próximo do valor esperado de operação.
Pode se assumir que esses valores permanecem constantes quando pequenos desvios em E2
ocorrerem durante o funcionamento normal da máquina assíncrona (motor).
O circuito equivalente da figura 4.8 que representa os fenómenos ocorridos no estator, é
exactamente igual ao usado para representar o primário de um transformador. Para completar o
modelo do circuito equivalente, devem ser incluídos os efeitos do rotor. Do ponto de vista do
circuito equivalente do estator da figura 4.8, o rotor pode ser representado por uma impedância
equivalente .
(9)
Já para o rotor da máquina, o circuito equivalente por fase também é definido por uma
resistência (R2) em série com uma reactância (sX2), conforme a figura 4.9 (a). Quando a máquina
está parada, E2 é a tensão induzida no enrolamento do rotor e X2 é a reactância do rotor. No
entanto, quando a máquina está em operação com um escorregamento S, a frequência da tensão
induzida no rotor será dada pela equação 6, logo, tanto a tensão induzida como a reactância
indutiva terão seus valores afectados e podem estes valores serem escritos em termos do
escorregamento como sE2 e sX2.
Apontamentos de Máquinas Eléctricas Por: MSc. DMajequete @ 2019 Página 14
Tema 4: Máquina Assíncrona
Dessa forma, podemos ter circuitos alternativos para representar o circuito do rotor, conforme
mostrado nas figuras 4.9 (b) e (c), adoptando-se como tensão de entrada a tensão induzida E2
Figura 4.9. Circuito do rotor da máquina de indução (a) em termos da tensão induzida sE2; (b) em termos
da tensão E2; (c) separando a resistência do rotor
Podemos partir do circuito da figura 4.9 (a) e escrever a corrente que percorre o enrolamento do
rotor conforme mostra a equação 10, cujo circuito é representado na figura 4.9 (a).
(10)
(11)
equivalente duma máquina assíncrona (motor) referido do lado estator, conforme ilustra a figura
4.10.
Figura 4.10. Circuito equivalente por fase de motor assíncrono trifásico equilibrado visto de lado do
estator.
( ) (12)
As perdas totais I2R do rotor, Protor, podem ser calculadas a partir das perdas I2R no rotor
equivalente como:
(13)
Agora, a potência electromagnética Pmec desenvolvida pela máquina assíncrona (motor) pode ser
determinada subtraindo a dissipação de potência do rotor (equação 13) da potência de entreferro
na equação 12, obtendo-se:
(14 -a)
( ) (14 -b)
( ) (14 –c)
(15 –b)
Vemos então que, da potência total fornecida através do entreferro para o rotor, a fração (1 – S) é
convertida em potência mecânica e a fração S é dissipada como perdas I2R nos condutores do
rotor. De forma similar, a potência dissipada no rotor pode ser expressa em termos da potência
electromecânica como
( ) (16)
Das equações 15-b e 16, é evidente que um motor de indução operando com um escorregamento
elevado não é um dispositivo eficiente. A dissipação de potência do rotor por fase do estator
corresponde à potência dissipada na resistência R2, ao passo que a potência electromecânica por
fase do estator é igual à potência entregue à resistência R2(1 − S)/S.
(19 –a)
( )( ⁄ ) (20)
O conjugado mecânico Tmec e a potência Pmec não são os valores de saída disponíveis no eixo
porque o atrito, a ventilação e as perdas suplementares não foram ainda considerados.
Obviamente, é correcto subtrair o atrito, a ventilação e outras perdas rotacionais de Tmec ou Pmec.
Assume-se, em geral, que os efeitos das perdas suplementares podem ser subtraídos do mesmo
modo. O restante está disponível como potência de saída no eixo em forma de trabalho útil.
Assim,
(21 –a)
(21 –b)
Em que Prot e Trot são a potência e o conjugado associados ao atrito, à ventilação e às demais
perdas rotacionais.
estator. As perdas suplementares, que devem ser levadas em consideração quando valores
exactos de rendimento devem ser calculados, também podem ser medidas por ensaios a vazio
com o motor.
1. Uma máquina de indução (motor) trifásica, tetrapolar, de 380 V e 60Hz trabalha a plena carga
com uma velocidade de 1755 rpm. Calcule:
a) A sua velocidade síncrona,
b) O escorregamento,
c) A frequência do sinal induzido no rotor
2. Se a frequência do sinal induzido no rotor de um motor trifásico de seis polos, de 50Hz for de
3Hz, calcule:
a) O escorregamento,
b) A velocidade do rotor.
3. O campo magnético produzido por um motor assíncrono trifásico gira a uma velocidade de
900 rpm.
a) Se a frequência da tensão aplicada é de 60Hz, determine o número de polos do motor.
b) Quando o rotor gira a uma velocidade de 800 rpm, qual é o escorregamento percentual do
motor?
4. Uma máquina de indução (motor) trifásica, de seis polos conectados em estrela, 230 V, 60Hz,
tem como parâmetros por fase o seguinte: R1 = 0 5Ω R2 = 0 25Ω X1 = 0 75Ω X2 = 0 5Ω Xm =
00Ω Rc = 500Ω A 50 W
motor considerando o escorregamento de 2.5%.
5. Um motor de indução trifásico, 6 pólos, 60 Hz, ligado em estrela, 380 V, tem os seguintes
parâmetros, referidos ao estator:
R1 = 0,294 Ω X1 = 0,503 Ω R2 = 0,144 Ω, X2 = 0,109 Ω Rc = 136,8 Ω e Xm = 13,25 Ω. As
perdas totais por atrito, ventilação e no ferro podem ser consideradas constante, valendo 403 W e
independente da carga. Para um escorregamento de 2%, determinar:
6. Um motor de indução trifásico, ligado em estrela, de seis polos, 460 V (tensão de linha), 20
kW e 60 Hz tem os seguintes valores de parâmetros por fase, referidos ao estator: R1 = 0,271 Ω
R2 = 0,188 Ω X1 = 1,12 Ω, X2 = 1,91 Ω Xm = 23,10 Ω. Assumindo que as perdas totais de atrito,
de ventilação e no núcleo são de 320 W constantes independentemente da carga que acciona.
Para um escorregamento de 1,6%, calcule a velocidade:
a) O conjugado e a potência de saída, a corrente de estator, o factor de potência e o rendimento,
quando o motor trabalha em tensão e frequência constantes.