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MÁQUINAS

ELÉTRICAS I

Vinícius Novicki Obadowski


Gerador síncrono I
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os aspectos construtivos dos geradores síncronos.


„„ Definir velocidade síncrona.
„„ Reconhecer a tensão gerada no estator.

Introdução
Geradores síncronos são as máquinas elétricas mais comumente usa-
das para geração de energia elétrica, empregadas em fontes eólicas,
usinas hidrelétricas de barragem e a fio d’água, plantas termoelétricas
a carvão, gás natural ou vapor aquecido pela fissão nuclear de átomos
de urânio. Naturalmente, além dessas aplicações de grande porte, você
pode encontrar geradores síncronos em pequenas unidades geradoras,
como centrais de cogeração, biomassa e aproveitamento hidráulico em
pequenas quedas d’água.
Para saber como dimensionar um gerador para qualquer uma dessas
aplicações, você precisa conhecer o seu funcionamento, seus principais
parâmetros, além de detalhes a respeito da sua construção. A comunhão
desses conceitos servirá para atuar com quaisquer geradores, indepen-
dentemente de seu porte, pois os princípios construtivos são idênticos
em uma máquina de 10 kW como em outra de 100 MW.
Tendo isso em mente, neste capítulo, você será apresentado aos
princípios construtivos dos geradores síncronos, à velocidade síncrona
e à tensão gerada no estator.
2 Gerador síncrono I

Construção de geradores síncronos


Do ponto de vista elétrico, um gerador síncrono é constituído por um rotor,
movimentado por uma máquina primária, e um estator, de onde surgem as ten-
sões e correntes elétricas decorrentes da conversão eletromecânica de energia.
Lembre-se de que as turbinas hidráulicas, as turbinas a vapor ou quaisquer
outros elementos mecânicos capazes de transmitir conjugado por meio de um
eixo mecânico são chamados de máquinas primárias.
O rotor da máquina síncrona é a fonte de campo magnético, podendo ser
construído com polos lisos ou salientes, além de outras duas formas: com
magnetos permanentes ou com eletroímãs. O objetivo para ambas as formas
é o mesmo: permitir que o rotor seja fonte de campo magnético. Para o caso
de ímãs permanentes, é autoevidente que a presença deles faz com que um
campo magnético constante seja estabelecido perpetuamente na máquina. A
função do eletroímã é a mesma, com apenas a diferença de que é possível
ajustar a intensidade do campo magnético a qual a máquina está submetida.
A Figura 1, a seguir, traz um exemplo ilustrativo da construção de um
rotor de polos lisos, com as visões lateral e frontal. Perceba que esse é um
rotor com eletroímã, dado pela presença de um enrolamento de campo; além
disso, estão apontados a direção e o sentido do vetor densidade magnética
gerado por esse circuito de campo.

Figura 1. Representação simbólica de um rotor com dois polos lisos.


Fonte: Chapman (2013, p. 192).
Gerador síncrono I 3

O uso de polos salientes ou polos lisos é relacionado a custo de fabricação e aplicação.


Normalmente, devido a dificuldades construtivas, rotores de alta velocidade (1200 RPM
(rotações por minuto) ou mais) empregam polos lisos, enquanto, para baixas rotações
(1200 RPM ou menos), usa-se rotores de polos salientes. Além disso, existem algumas
diferenças na forma de onda da tensão, porém esse estudo está além do abordado
neste capítulo. Caso tenha interesse, verifique os capítulos referentes ao tema em
Chapman (2013) e Bim (2009).

A presença de um eletroímã parece, à primeira vista, um desperdício de energia, visto


que é possível empregar um ímã permanente. A possibilidade de variar o campo
magnético permite que o gerador síncrono consuma ou forneça energia reativa —
problema bastante comum e com graves consequências às indústrias e usinas.

Por outro lado, a Figura 2a apresenta um rotor de seis polos salientes, com
o detalhamento de um segmento do polo saliente, marcando nele o circuito
de campo daquele polo, a indicação norte e um apontamento à presença de
anéis deslizantes. A Figura 2b serve como um complemento, pois fornece a
visão de um gerador síncrono real de oito polos salientes.

Atente-se ao detalhe dos enrolamentos de campo em cada um dos polos, relembrando


alguns conceitos de teoria eletromagnética: quanto maior o número de espiras, mais
intenso será o campo magnético produzido por elas. Consequentemente, ao trabalhar
em um projeto dessas máquinas, não se esqueça do fenômeno de saturação magnética.
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Figura 2. (a) Rotor de um gerador síncrono de seis polos salientes. (b) Rotor com oito polos
salientes (rotor de eletroímãs).
Fonte: Chapman (2013, p. 193).

A Figura 3, a seguir, detalha um polo saliente avulso. Nela, você pode


identificar a laminação do polo e os enrolamentos ao seu redor. A laminação
visa a reduzir perdas por correntes parasitas, pois a presença de um campo
magnético em um condutor provoca tensão, e, no caso de um rotor ferromagné-
tico, surge também uma corrente. A presença de corrente e tensão no material
do rotor faz com que ele esquente e perca energia para o ambiente, então,
aquecendo a máquina. A laminação faz com que a resistividade intrínseca
do material se eleve, reduzindo as correntes parasitas e, consequentemente,
as perdas relativas a elas.
Outro ponto de destaque na construção de um rotor com eletroímã é a
presença de anéis deslizantes e escovas. Dado que o rotor está em constante
movimento rotacional, a alimentação do circuito de campo merece atenção.
Retomamos a Figura 2a, na qual estão indicados os dois anéis: um para o polo
positivo e outro para negativo. Duas escovas deslizam sobre os anéis para
manter constantemente contato com eles, garantindo a alimentação do circuito.
Entretanto, as escovas e os anéis devem ser alvos frequentes de manutenção,
em função do atrito entre eles. Outro aspecto negativo da presença desses
elementos é a queda de tensão nas escovas decorrente do desgaste, podendo
gerar faísca e falhas na operação do gerador.
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Figura 3. Detalhe de um polo saliente.


Fonte: Chapman (2013, p. 193).

Alternativamente, é possível alimentar o circuito de campo em um rotor com


eletroímã por meio de uma fonte de corrente contínua montada diretamente
no eixo da máquina. Essa solução é chamada de excitatriz brushless (termo
inglês que significa “sem escovas”), na qual um pequeno gerador, também
síncrono, tem sua saída retificada, a fim de alimentar o circuito de campo da
máquina principal. Essa solução técnica é a adotada para máquinas de grande
porte (maiores que 10 MW). A Figura 4, a seguir, apresenta um esquema
elétrico da excitatriz brushless.
É importante destacar que esse componente é composto por um gerador
síncrono e um retificador estático montado no rotor dessa excitatriz. A tensão
de saída do retificador é a fonte de alimentação do circuito de campo do rotor
da máquina principal. Cabe aqui destacar que a excitatriz é um gerador síncrono
construído de forma distinta da usual — analisando a Figura 4, você perceberá
que a alimentação externa é feita no estator da excitatriz, e a energia é gerada
no rotor, o que indica que a construção é feita de forma inversa a um gerador
síncrono tradicional. Em outras palavras, o circuito de campo está montado no
estator, enquanto a saída de tensão trifásica está no rotor; na máquina síncrona
tradicional, o circuito de campo está no rotor, e a saída fica no estator.
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Figura 4. Esquema elétrico da excitatriz brushless.


Fonte: Chapman (2013, p. 194).

Como você pode notar, é necessário que uma fonte externa de energia
ainda seja disponibilizada para que a máquina tenha seu circuito de campo
alimentado, embora agora não se tenha a indesejada perda nas escovas e nos
anéis. Porém, existe um meio de excitar o circuito de campo sem utilizar uma
fonte externa: por meio do uso de uma excitatriz piloto, que é muito similar à
excitatriz brushless, porém sem a necessidade de uma fonte externa. A Figura 5
apresenta um esquema elétrico dessa abordagem.
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Figura 5. Esquema elétrico da excitatriz piloto.


Fonte: Chapman (2013, p. 196).

Como você pode perceber, a excitatriz brushless ainda está lá, sendo que
a diferença é que passa a ser possível alimentá-la por meio de outro gerador
síncrono de ímãs permanentes. Assim, embora se exija uma construção mais
detalhada e uma montagem de duas máquinas auxiliares no eixo principal,
o ganho é que a máquina funciona independentemente da presença de uma
fonte externa. A Figura 6, a seguir, apresenta uma visão em recorte de uma
máquina que demonstra essa estrutura.
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Figura 6. Diagrama em corte de uma máquina síncrona — ao final do


eixo, perceba a presença da excitatriz piloto.
Fonte: Chapman (2013, p. 196).

Velocidade síncrona
A particularidade que distingue as máquinas elétricas síncronas dos outros
tipos é sua operação na velocidade síncrona. Um gerador síncrono sempre
produz tensões na frequência síncrona — isso é a característica marcante
dessa máquina, pois mesmo pequenas variações na sua velocidade levam a
alterações na frequência. Com base nos fundamentos de máquinas elétricas
de corrente alternada (CA), você sabe que o campo magnético da máquina
síncrona, por ser constante — isto é, não varia seu módulo com o tempo —,
produz tensões no estator conforme os enrolamentos são “cortados” pelas
linhas de campo do rotor.
Isso faz com que, quanto mais polos uma máquina tenha, maior seja o
número de vezes que um dado enrolamento é cortado por diferentes polos
(norte e sul). Consequentemente, para uma dada velocidade, quanto maior
for o número de polos, maior também será a frequência elétrica. A seguinte
equação resume esse conceito matematicamente.
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onde fe é a frequência elétrica da tensão de saída da máquina síncrona (em


Hertz), nm é a velocidade mecânica do rotor RPM, e P é o número de polos da
máquina. Para compreender melhor, considere o exemplo a seguir.

Dois geradores síncronos, de 10 e 12 polos, estão conectados a uma turbina a vapor com
rotação nominal de 1200 RPM. Calcule a frequência gerada por cada um dos geradores.
Resposta:

Logo, a frequência elétrica do gerador 1 é 100 Hz, e do gerador 2 é 120 Hz. Embora
sejam frequências não tradicionais em sistemas elétricos, é bom ter conhecimento
do conceito da equação, pois, eventualmente no meio profissional, você deparar-se-á
com casos atípicos.

Tensão interna do estator


Sobre os fundamentos das máquinas de corrente alternada, você sabe que a
tensão gerada em cada fase do estator é expressa por:

onde Ea é a tensão em cada fase, NC é o número de espiras por fase, ϕ é o


valor do fluxo magnético, e f é a frequência elétrica. Essa expressão, embora
adequada ao gerador síncrono, não é prática do ponto de vista da engenharia,
pois parâmetros como NC e f não variam de forma relevante durante a operação.
Nos livros mais tradicionais da área, como Chapman (2013), Bim (2009) e
Umans (2014), o uso corrente é uma redução dada por:

Ea = Kϕω

onde K é uma constante que representa características de construção do


gerador síncrono. Se o valor ω é expresso em radianos elétricos, a constante vale:
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Enquanto que, se for dado em radianos mecânicos, é necessário considerar


a quantidade de polos também na expressão:

Normalmente, durante seu trabalho como engenheiro, esse parâmetro é


fornecido, pois ele está associado à geometria física da máquina. Além disso,
considerando que dimensões perfeitas como as assumidas nos exemplos
didáticos não são por vezes práticas, o valor de K nem sempre é facilmente
verificável por meio da equação, embora ele não seja muito diferente.
O objetivo mais relevante nesta seção é que você saiba perceber as duas
variáveis de influência na tensão interna: o fluxo magnético e a velocidade
do eixo, expressos por ϕ e ω. Em estudos mais aprofundados de geradores
síncronos, você verá como essa relação influencia outros parâmetros da má-
quina, como curva a vazio e curvas de magnetização. Lembre-se de sempre
rever conceitos de máquinas elétricas ao estudar o detalhamento de qualquer
máquina, como é o caso da síncrona.

BIM, E. Máquinas elétricas e acionamento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.


CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

Leitura recomendada
TEIXEIRA, F. H. P. Metodologia para projeto, construção e ensaios em máquina síncrona de
imã permanente - MSIP. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) — Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006. Disponível
em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18133/tde-27112006-085220/. Acesso
em: 1 maio 2019.

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