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MÁQUINAS

ELÉTRICAS II

Anselmo Cukla
Motores de indução V
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir os motores monofásicos.


„„ Demonstrar a teoria do campo girante duplo e o circuito equivalente
do motor monofásico.
„„ Descrever o motor split-phase.

Introdução
Os motores monofásicos são máquinas elétricas de indução e amplamente
utilizados, principalmente, em ambientes domésticos, antes do que em
ambientes industriais, mas frequentemente em residências, lojas, comér-
cios, fazendas, etc. Geralmente, sua potência é abaixo de 10 CV. Apresenta
inúmeras aplicações, tais como em bombas d’água, ventiladores, esteiras,
aspiradores de pó, liquidificador, etc. É provável que, neste momento,
você tenha em casa cinco ou mais motores monofásicos instalados
(PETRUZELLA, 2013; UMANS, 2014). Chamamos de motor monofásico
aquele que não é ligado a uma rede trifásica, mas alimentado com uma
fase (127 ou 220 V) e um neutro.
Neste capítulo, você vai estudar a definição e as características prin-
cipais de motores de indução monofásicos, seu princípio de funciona-
mento, assim como o circuito equivalente e o campo girante duplo que
acontece sobre um único enrolamento. Finalmente, será descrito o motor
de fase dividida, ou split-phase, com suas características construtivas e
seu princípio de funcionamento.
2 Motores de indução V

1 Introdução aos motores de indução


monofásicos
Os motores monofásicos e os elétricos, em geral, são máquinas rotativas que
convertem energia elétrica em mecânica. Muitos dos conceitos aplicados a
motores trifásicos são, também, aos monofásicos, com a grande diferença
de que estes últimos são alimentados somente com uma fase e um neutro
(comumente utilizados em todas as residências) e, internamente, precisam
de um bobinado auxiliar para a partida. Em sua grande maioria, os motores
monofásicos são de pequeno porte, embora sejam vistos motores monofásicos
de até 10 CV, com tensões de alimentação de 440 V.
De acordo com Chapman (2013) e Petruzella (2013), os motores monofásicos
estão compostos por três partes principais: estator, rotor e carcaça — utilizada
como estrutura de fixação e proteção. O estator é a parte fixa ou estática do
motor e feito de chapas de aço, que também formam ranhura onde é colocado
o enrolamento de fio de cobre (bobinado) e está alocado o circuito auxiliar
de partida. O rotor é a parte girante de um motor, normalmente formado por
barras metálicas curto-circuitadas, chamadas de gaiola de esquilo, fixadas
sobre um eixo de aço, que transfere a potência mecânica à carga. Na Figura 1,
a seguir, são apresentados o rotor e o estator de um motor monofásico.

Figura 1. Rotor e estator de um motor elétrico monofásico.


Fonte: robert8/Shutterstock.com.
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Por tanto, o motor monofásico apresenta um enrolamento distribuído


no estator, similar a uma fase de um motor trifásico, e um rotor de gaiola
de esquilo. Quando o estator é alimentado com corrente alternada, cria um
campo distribuído, mas estático. Diferentemente dos motores trifásicos ou
polifásicos, o motor monofásico não apresenta um campo magnético girante,
mas um estacionário e pulsante como o tempo. Devido à ausência desse
campo girante, os motores monofásicos não funcionam da mesma forma que
trifásicos, por exemplo, e precisam ser projetados especialmente para essas
aplicações (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014).

Motor universal
É um dos modelos mais simplificados, em que uma potência elétrica em CA
(corrente alternada) é aplicada a uma máquina em CC (corrente contínua) e o
par conjugado ou torque no eixo do motor vem dado por (1):

τind = KϕIA (1)

onde τind é o torque produzido, ϕ é o fluxo magnético, IA é a corrente elétrica


da armadura da máquina, e K = Np/πa (CHAPMAN, 2013):

„„ N = número de espiras;
„„ p = número de polos;
„„ a = dependendo do tipo de enrolamento, pode ser igual ao número de
polos ou a 2.

Dessa forma, quando a polaridade da tensão aplicada ao motor CC for in-


vertida, o sentido do fluxo e da corrente também são invertidos. Por apresentar
sempre os mesmos sinais, o par conjugado sempre terá mesmos sinal e sentido
de aplicação. Devido às grandezas do fluxo e da corrente serem variáveis,
serão obtidos valores de par conjugado pulsando ou variantes, mas sempre em
um único sentido. Um motor desse tipo pode ser visto na Figura 2, a seguir.
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Figura 2. Circuito de um motor elétrico universal.


Fonte: Chapman (2013, p. 566).

No circuito dessa figura, observa-se que uma fonte CA alimenta a armadura


do motor, onde R A é a resistência da armadura, Lg é a indutância equivalente
do motor, EA é a tensão na armadura, e VT é a tensão de entrada.
Essa teoria é válida para motores CC tipo série: o campo e a corrente elétrica
mudam de direção no mesmo momento devido ao conjunto comutador e às
escovas. No entanto, no caso de motores tipo CC em derivação, o campo e a
corrente não são invertidos no mesmo momento, afetando o par conjugado
do motor e produzindo faíscas nas escovas. Para solucionar esse problema e
um motor CC série funcionar com alimentação CA, devem ser modificados
alguns aspectos construtivos, tal como laminar a estrutura do entreferro do
estator e dos polos (CHAPMAN, 2013; PETRUZELLA, 2013).
Motores cujos estatores e polos são laminados são chamados de motores
universais, devido à possibilidade de funcionarem tanto em CA como CC.
Na Figura 3, a seguir, é apresentado um gráfico do par conjugado versus
velocidade do motor universal, sendo aplicada tanto uma fonte CC como
uma CA.
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Figura 3. Características de um motor universal funcionando


em CA e CC.
Fonte: Chapman (2013, p. 567).

Observando essa figura, nota-se que, quando alimentado em CC, o motor


apresenta maior velocidade para um mesmo par conjugado. De acordo com
Chapman (2013) e Umans (2014), o fato de apresentar melhor desempenho em
CC deve-se, basicamente, a dois motivos: 1) a reatância da armadura aumenta
significativamente quando alimentada com uma fonte CA de 50 ou 60 Hz e
apresenta uma queda de tensão no indutor equivalente — dessa forma, o valor
de EA é menor quando alimentado em CA, além de que, como EA = Kϕωm (sendo
ωm é a velocidade angular em RPM), o motor terá uma velocidade de giro
menor para um mesmo par conjugado e determinada corrente de armadura;

2) devido à tensão máxima em CA ser Vmax =√2 ∙ Vef (Vef é a tensão eficaz), é
provável que aconteça uma saturação magnética próximo ao pico da corrente
máxima em CA, produzindo uma diminuição do fluxo magnético e, portanto,
uma diminuição do par conjugado, de acordo com a Equação (1).
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Motores monofásicos
Também conhecidos como motores monofásicos de indução, é uma máquina
que utiliza um rotor de gaiola de esquilo e um estator alimentado com uma
fase e um neutro, tal como apresentado na Figura 4, a seguir.

Figura 4. Características construtivas de um motor


monofásico.
Fonte: Chapman (2013, p. 569).

Observe que o estator, diferentemente dos motores trifásicos, possui so-


mente enrolamento de uma fase, ou seja, um enrolamento. Devido a esse fato,
o estator não produz um campo magnético girante, mas um campo magnético
pulsante. Consequentemente, os motores monofásicos não possuem um par
conjugado na partida (CHAPMAN, 2013; PETRUZELLA, 2013).
No momento em que o motor está em repouso e é alimentado instantanea-
mente, o fluxo do estator é crescente e decrescente sempre num sentido. Por
não haver um campo magnético girante, não há movimentos entre as barras do
rotor e o campo produzido pelo estator, não sendo produzida, assim, nenhuma
tensão induzida e, portanto, nenhum par conjugado de partida. No entanto,
existe uma corrente circulando no estator, que produz um campo magnético
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induzido (dϕ/dt) e uma corrente induzida no rotor pelo efeito transformador.


Mas não é produzido um torque devido ao fato de os campos magnéticos do
estator e rotor estarem alinhados, tal como apresentado em (2):

τind = kBrotor × BS = kBRBS sin 180º = 0 (2)

que pode ser verificada na Figura 5, a seguir, dado que, quando o motor está
bloqueado ou parado, existe uma equivalência com um transformador, onde
o bobinado do secundário está em curto circuito.

Figura 5. Motor monofásico bloqueado.


Fonte: Chapman (2013, p. 570).

Observe que o vetor do campo magnético produzido pelo estator BS é


paralelo ao campo produzido pelo rotor BR, gerando, assim, um torque nulo
na partida (τind = 0). Esse inconveniente impediu, por algum tempo, que os
motores fossem comercializados no mercado. No entanto, verificou-se que,
quando o motor já estivesse girando, existia um par conjugado induzido que
produzia um torque líquido e, assim, mantinha o motor girando. Esse fato
se justifica basicamente por duas teorias de funcionamento: a dos campos
cruzados e a do duplo campo girante dos motores de indução monofásicos
(CHAPMAN, 2013; PETRUZELLA, 2013).
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2 Teoria do duplo campo girante e


circuito equivalente
De acordo com Chapman (2013), a teoria define que o campo magnético
pulsante, induzido dentro do motor monofásico, pode ser decomposto em
dois campos girantes, com a mesma amplitude, mas com sentido contrário.
Portanto, o par conjugado, ou torque produzido no eixo da máquina, é a soma
dos torques individuais produzidos por cada campo. A densidade de cada
campo estacionário pode ser escrita de acordo com (3):

BS (t) = (Bmax cos ωt)ĵ (3)

Quando o campo gira em sentido horário (ho), o vetor definido em (3) pode
ser escrito de acordo com (4):

(4)

E, quando o giro do campo é em sentido anti-horário (aho), pode ser escrito


de acordo com (5):

(5)

Veja que a soma de (3) e (4) é o campo magnético pulsante estacionário


BS , produzido no próprio estator, de acordo com (6):

BS (t) = Bho (t) + Baho (t) (6)


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De acordo com (3) a (6), na Figura 6, é decomposto o campo girante


em dois campos da mesma amplitude, mas com sentidos de giros opostos.
Observe que, em qualquer um dos casos, a soma de Bho e Baho terá sem-
pre a resultante sempre em uma linha vertical — no caso, BS. Dessa forma,
o campo estacionário sempre será pulsante, e não girante, mas gerado a partir
de dois campos girantes.

Figura 6. Decomposição do campo girante.


Fonte: Chapman (2013, p. 571).

A resposta de um motor monofásico é dada a cada um dos campos que nele


agem, de modo que a da velocidade e do par conjugado estão associadas a
esses campos. Observe, na Figura 7, a seguir, que o par conjugado (ou torque)
resultante, que age no rotor do motor monofásico, é nulo quando a velocidade é
nula, ou seja, na partida, o motor monofásico não apresenta um par conjugado
líquido para iniciar o movimento (CHAPMAN, 2013).
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Figura 7. Par conjugado versus velocidade de um motor monofásico. (Linha tracejada: par
conjugado parcial. Linha cheia: par conjugado resultante.)
Fonte: Chapman (2013, p. 572).

Veja que as linhas tracejadas é o par conjugado parcial produzido por cada
um dos campos girantes do motor (Bho e Baho), e a linha contínua representa
o torque líquido do motor. Por outro lado, observe que, quando o motor está
parado, a corrente no estator é elevada. Nesse momento, o valor da reatância
indutiva também é elevado, produzindo um atraso da tensão com a corrente
de quase 90º, e, em consequência, é gerado um campo magnético no rotor que
está a quase 180º de defasagem com o campo do estator, tal como apresentado
na Figura 8, a seguir.
O par conjugado gerado na partida é proporcional ao ângulo entre os
campos BR e BS. Devido ao ângulo entre esses dois vetores ser de quase 180º,
o valor do conjugado apresenta um valor muito baixo.
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Figura 8. Partida do motor forçado a girar em sentido anti-horário (retrógrada).


Fonte: Chapman (2013, p. 574).

Além das pulsações do conjugado, existem pulsos do dobro da frequência no estator,


devido aos efeitos do campo magnético progressivo e retrógado, que ocorrem em
um ciclo de onda da fonte CA. Essas pulsações geram vibrações no motor e, portanto,
ruídos e desgastes no sistema mecânico. Como essas pulsações não são possíveis
de serem eliminadas, os projetistas devem considerar esses efeitos no momento da
elaboração do projeto mecânico do motor monofásico.
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Circuito equivalente do motor monofásico


O circuito equivalente de um motor monofásico assemelha-se ao circuito equi-
valente de um transformador, cujo circuito secundário está curto-circuitado.
Dessa forma, podemos definir um circuito similar ao apresentado na Figura 9,
onde R1,principal e X1,principal são as resistências e reatâncias de dispersão do circuito
primário, ou do enrolamento principal do motor, Xm,principal é a reatância de
magnetização, e R2,principal e X2,principal são a resistência e a reatância do rotor blo-
queado, respectivamente (CHAPMAN, 2013; PETRUZELLA, 2013; UMANS,
2014). Por outro lado, é aplicada uma tensão V̂ na bobina do estator, que produz
uma corrente Îprincipal, e Êprincipal é a força contraeletromotriz gerada no motor.
Como mencionado anteriormente, Umans (2014) define que o campo girante
duplo é decomposto em campos que giram em forma progressiva e retrógrada,
ambos com a mesma amplitude. Quando o motor está bloqueado, os campos
girantes progressivo e retrógrado estão alinhados e no mesmo sentido, e cada
um dos vetores é a metade do vetor resultante do campo pulsante.
A Figura 9a apresenta os efeitos somente no circuito primário relativos
ao campo pulsante, quando o rotor está bloqueado. Já a Figura 9b se refere
a uma divisão dos efeitos dos campos retrógrado e progressivo que agem no
motor monofásico. Por último, a Figura 9c apresenta o circuito em condições
normais de trabalho, quando o motor opera em velocidade nominal, e está
funcionando com o campo magnético progressivo no enrolamento principal,
e com um escorregamento s, e cuja frequência do campo progressivo é de sfe,
onde fe é a frequência da rede que alimenta o motor.
Veja que o efeito do escorregamento reflete na impedância do circuito
equivalente, sendo 0,5 R2,principal/s + j0,5 X2,principal em paralelo com j0,5 Xm,principal.
O circuito da Figura 9c apresenta, também, as reações internas do estator devido
aos efeitos magnéticos, que é representado por um fator 2 – s, representado
na porção “b” do circuito.
Considerando a Figura 9c, a impedância do circuito pode ser calculada de
acordo com (7) e (8):

(7)

(8)
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Figura 9. Circuito equivalente de um motor monofásico à indução: (a) com rotor bloqueado,
(b) partida do motor apresentando os efeitos do campo magnético; (c) funcionamento
normal.
Fonte: Umans (2013, p. 522).

Como a relação dos efeitos dos campos progressivo e retrógrado no estator


é de 0,5Zf e 0,5Zb, respectivamente, por consequência, é possível afirmar que,
quando o motor está trabalhando na sua velocidade nominal, a impedância do
campo progressivo é maior do que quando o motor está bloqueado, e, portanto,
a força contraeletromotriz, Êprincipal,f. Da mesma forma, Umans (2014) ainda
define que o campo retrógrado é menor quando o motor está em funciona-
mento — e, portanto, sua força contraeletromotriz também é menor, Êprincipal,b.
Agora, é possível calcular o par conjugado ou torque eletromagnético do
campo progressivo mediante a Equação (9):

(9)
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onde Tprincipal,f é o torque em (N ∙ m), Pentreferro,f é a potência em Watts entregue


pelo estator ao campo progressivo, e ωs é a velocidade angular síncrona em
radianos por segundo (s–1). Se a impedância de magnetização é puramente
indutiva, a potência do entreferro é absorvida pela impedância 0,5Zf, de acordo
com (10):

Pentreferro,f = I2principal0,5Rf (10)

onde a componente Rf é a parte resistiva da impedância do campo progressivo.


Da mesma forma, o conjugado interno do campo retrógrado pode ser
calculado de acordo com (11):

(11)

onde Pentreferro,b é a potência transferida do estator ao campo retrógrado, e


Rb é o valor resistivo da impedância do campo retrógrado Zb. Já, o cálculo do
par conjugado produzido pelo campo retrógrado, que tem sentido contrário
ao campo progressivo, pode ser realizado por meio de (12):

(12)

onde Tmec é o par conjugado resultante.


Devido às correntes no rotor serem produzidas por duas componentes de
campos diferentes, as perdas que acontecem no rotor são a soma das perdas
individuais. Dessa forma, podemos verificar as seguintes perdas:

„„ perdas causadas pelo campo magnético progressivo (13):

Pprogr = sPentreferro,f (13)

„„ perdas ocasionadas pelo campo retrógrado (14):

Pretr = (2 – s)Pentreferro,b (14)


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„„ perdas totais (15):

Ptot = Pretr + Pprog = sPentreferro,f + (2 – s)Pentreferro,b (15)

A potência efetiva, que é convertida em potência mecânica, pode ser cal-


culada de acordo com (16):

Pmec = (1 – s)ωsTmec = (1 – s)(Pentreferro,f – Pentreferro,b) (16)

Na expressão (16), é considerado que o conjugado interno Tmec e a potência


efetiva interna Pmec são os valores de saída no eixo do motor. É importante
destacar que, para essa expressão, não foram consideradas outras perdas
relacionadas ao funcionamento do motor, tais como ventilação, atrito, entre
outras (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014).

3 Motor split-phase
Até o momento, foram abordados sobre o funcionamento do motor em re-
gime permanente e em rotor bloqueado, mas não foi ainda explicado como é
realizada a partida dos motores monofásicos. Existem vários métodos para
partida de motores, tais como os motores split-phase ou motores de fase
dividida, os motores monofásicos com capacitor de partida e os motores com
capacitor permanente. Todos esses métodos utilizam um circuito auxiliar, que
permite a partida do motor para seu correto funcionamento (CHAPMAN,
2013; PETRUZELLA, 2013; UMANS, 2014). A seguir, você verá o método
e o funcionamento do motor de fase dividida, sendo que os demais serão
abordados em outros capítulos.

Motor de fase dividida — características construtivas


Esse tipo de configuração de motores monofásicos possui, basicamente, quatro
componentes principais: o enrolamento principal, o enrolamento auxiliar ou
de partida, o rotor de gaiola e o interruptor centrífugo — tal como apresentado
na Figura 10, a seguir.
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Figura 10. Circuito esquemático de motor de fase dividida.

Observe que entre aos bornes 1 e 2 é ligado o enrolamento principal do


motor. Normalmente, a secção do enrolamento principal é maior do que a do
bobinado auxiliar, devido ao fato das exigências de trabalho. Ainda, pode ser
visto que há um interruptor centrífugo, que está na posição “normalmente
fechado”, o qual deve ser desligado logo após a partida. Dessa forma, na partida,
ele sempre inicia ligado, permitindo o acionamento do enrolamento auxiliar.
Após a partida, o interruptor é desligado por efeito centrífugo, desligando
o circuito auxiliar. O enrolamento auxiliar é o encarregado de dar partida
ao motor monofásico e dar o par conjugado inicial para que o motor inicie o
movimento de partida (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014). A secção do fio do
bobinado auxiliar é pequena, devido ao fato de trabalha por um curto período.

Funcionamento do motor de fase dividida


Em geral e de acordo com Petruzella (2013), os motores monofásicos e o motor
de fase dividida utilizam um rotor de gaiola de esquilo similar ao dos motores
trifásicos. Na Figura 11, a seguir, são apresentados os elementos e o circuito
auxiliar de um motor de fase dividida.
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Figura 11. Principais elementos e circuito auxiliar de um motor de fase


dividida.
Fonte: Petruzella (2013, p. 141).

No estator do motor monofásico de fase dividida, também está alojado


o circuito auxiliar de partida. Por isso, esse tipo de motor possui dois tipos
de enrolamento: o de trabalho principal e o auxiliar. Para permitir que haja
par conjugado na partida do motor, o enrolamento auxiliar está deslocado
90º elétricos do principal, permitindo, assim, um máximo torque no início
de funcionamento. O circuito auxiliar de partida é ligado em série com um
interruptor, acionado em forma centrífuga, e o circuito auxiliar é desligado
automaticamente após alcançar um 75% da velocidade nominal do motor.
A defasagem elétrica entre os dois enrolamentos é obtida pela diferença
entre a reatância indutiva dos enrolamentos em questão, assim como o des-
locamento físico entre eles dentro do estator. Dessa forma, o enrolamento de
partida é alocado no topo do estator e apresenta um número baixo de espiras.
Já o bobinado do enrolamento principal, normalmente, é alocado na parte
inferior das ranhuras do estator, apresentando uma reatância indutiva maior
do que o circuito auxiliar. Com a defasagem elétrica, é resolvido o problema
da partida dos motores monofásico, onde é possível a geração de um campo
girante com um torque líquido permanente (PETRUZELLA, 2013). A Figura
12, a seguir, apresenta o esquema de como é gerado o campo girante para um
motor de fase dividida.
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Figura 12. Geração do campo girante em um motor de fase dividida.


Fonte: Petruzella (2013, p. 141).

Podemos definir, então, que o campo girante é produzido devido a seu


aspecto construtivo, principalmente. Assim, quando uma linha CA alimenta
o motor de fase dividida, o enrolamento de partida adianta-se 45º elétricos
do enrolamento principal. Devido ao fato de a magnetização ser produzida
pelas correntes que circulam nos enrolamentos, podemos dizer que os cam-
pos magnéticos também seguem esse padrão, ou seja, defasados entre eles.
Assim, devido à corrente elétrica variar ao longo do tempo, os polos norte e
sul também mudam de posição, girando em sentido horário. Por outro lado,
veja que, no mesmo momento que o campo girante “atravessa” os condutores
da gaiola do rotor, é induzida uma corrente elétrica nele (CHAPMAN, 2013;
PETRUZELLA, 2013).
Uma vez que o motor esteja em funcionamento, é importante que o cir-
cuito auxiliar de partia seja desativado. O desligamento do circuito auxiliar
de partida é normalmente uma chave mecânica centrífuga ou eletrônica, que
permite que, após a partida, seja desconectado automaticamente. Um modelo
desse tipo de chave é apresentado na Figura 13, a seguir.
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Figura 13. Chave centrífuga do circuito auxiliar de motores de indução monofásicos.


Fonte: Petruzella (2013, p. 142).

O interruptor centrífugo é um mecanismo que roda sobre o eixo do motor e


pode interagir com um interruptor fixo estacionário, cujos terminais são ligados
em série com o circuito auxiliar de partida. Assim, quando o motor alcança
uma velocidade próxima aos 75% da velocidade nominal de trabalho, uma
força centrífuga aciona uma mola e permite o desligamento dos enrolamentos
auxiliares de partida do motor. A partir desse momento, o motor continua
em operação unicamente com o enrolamento principal. Dessa forma, sempre
que motores de fase dividida utilizarem esse tipo de interruptor, você poderá
escutar um barulho na partida e na parada, a perceber o clique do interruptor
centrífugo sendo acionado ou desligado (PETRUZELLA, 2013).
Dentre os motores monofásicos, os motores de fase dividida são os mais
utilizados, devido à sua simplicidade e ao baixo custo de fabricação — embora
esses motores apresentem um par conjugado de partida baixo ou moderado e
potências típicas próximas de ½ hp.
Quando o terminal do enrolamento de partida, ou o enrolamento de tra-
balho, é invertido, produz uma inversão de giro no motor monofásico. Isso é
particularmente útil para aplicações em ventiladores, ferramentas de escritório,
furadeiras, entre outras, nas quais o motor não realiza a partida com carga
(CHAPMAN, 2013; PETRUZELLA, 2013).
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Outros tipos de motores de fase dividida permitem a alimentação com


diferentes níveis de tensão. Na Figura 14, a seguir, é apresentado um desses
motores com seu respectivo circuito interno.

Figura 14. Motor de fase dividida com diferentes tensões de alimentação.


Fonte: Petruzella (2013, p. 142).

Esse motor tem terminais extras que permitem a conexão de dois níveis
de tensão de linha. Quando o motor opera com a menor tensão, os dois en-
rolamentos principais e os dois enrolamentos de partida são conectados em
paralelo. De forma contrária, quando o motor é alimentado com a maior tensão
de linha, os enrolamentos principais são ligados em série, mas o enrolamento
de partida é conectado em paralelo com um dos enrolamentos principais
(PETRUZELLA, 2013).
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Você está analisando o projeto de um motor monofásico de indução de baixa potência


pela figura seguinte, conhecendo a curva de velocidade versus torque de um motor
monofásico. A partir disso, em que situação ideal o rotor está girando, mas não há um
par conjugado líquido aplicado no rotor do motor?

Resposta:
A partir do gráfico, você pode observar que a situação ideal é a velocidade de sincro-
nismo, pois, nessa situação hipotética, existe velocidade no eixo (nsinc), mas o torque
ou par conjugado aplicado ao rotor é nulo τind = 0. A diferença é que, quando o rotor
está bloqueado, o par conjugado é nulo, mas a velocidade também é nula.

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.


PETRUZELLA, F. D. Motores elétricos e acionamentos. Porto Alegre: AMGH, 2013. (Série
Tekne).
UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

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