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Universidade Zambeze

Faculdade de Ciências e Tecnologia


Curso de Engenharia Eléctrica

3◦ Ano de Licenciatura

Apontamentos de Máquinas Eléctricas II

Tema:

Máquinas Síncronas

Compilado por: MSc. Majequete, Duarte

Beira, 2020
Máquinas Síncronas

MÁQUINAS SÍNCRONAS

1.1 Introdução

As máquinas síncronas se encontram entre os três tipos mais comuns de máquinas eléctricas
rotativas. Elas são denominadas síncronas porque em regime estacionário operam a velocidades
e frequências constantes. A semelhança da maioria de máquinas rotativas, a máquina síncrona é
também capaz de operar nos dois regimes, portanto, no regime motor ou no regime gerador.
Portanto, como são poucos os sistemas de accionamentos industriais que requerem velocidades
fixas e constantes, raramente as máquinas síncronas se aplicam como motores eléctricos, quando
comparados com os motores de indução ou de corrente contínua, sendo indicada a sua aplicação
apenas para casos que requerem velocidades de transmissão constantes, e para esses casos
apresentam vantagens de poderem regular simultaneamente o factor de potência na instalação.
Face ao inconveniente acima apresentado, as máquinas síncronas são mais aplicadas no regime
de gerador para produção de energia eléctrica nos diferentes tipos de centrais ou estações de
produção.
A operação de um gerador síncrono se baseia na lei de Faraday de indução eletromagnética, e
funciona de uma maneira muito semelhante a um gerador de corrente contínua, em que a geração
de fems se realiza pelo movimento relativo de condutores e fluxo magnético. No entanto, é óbvio
que um gerador síncrono não possui o comutador a semelhança duma máquina de cc.
As partes fundamentais de uma máquina síncrona são a estrutura do campo magnético, com o
enrolamento excitado com cc, e a armadura, que frequentemente conta com um enrolamento
trifásico onde se gera a fem alternada. Actualmente, quase todas as máquinas síncronas têm o
circuito da armadura no estator, e o circuito do campo no rotor. O enrolamento cc de excitação
do circuito do campo principal da máquina se conecta à fonte cc externa através dos anéis
colectores e escovas. De realçar que em algumas máquinas, o circuito de excitação do campo não
dispõe das escovas, isto é, possui uma excitação sem escovas através dos díodos giratórios. Em
alguns casos o estator que possui os enrolamentos da armadura é similar ao rotor de uma
máquina de indução polifásica.

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1.2 Características construtivas de Máquinas Síncronas

A seguir se apresentam alguns factores que governam a construção de máquinas síncronas:


1. Forma de excitação: A estrutura do circuito do campo é em geral a parte giratório da
máquina síncrona e é alimentado através de um sinal cc para produzir o fluxo magnético.
A excitação cc pode conseguir através de um gerador cc auto-excitado que é acoplado no eixo
(veio) do rotor da máquina. Esse gerador cc é chamado de excitatriz. A corrente continua gerada
desta maneira alimenta o enrolamento do campo da máquina síncrona, como mostrado na figura
1.1. Em máquinas de baixa velocidade e com capacidades (potências) elevadas, como geradores
hidroeléctricos, a excitatriz pode ser autoexcitado. Os problemas de manutenção de geradores cc
directamente acoplados impõem limitações a esta forma de excitação para máquinas de grandes
potências (100 MW).
A outra forma de excitação se obtém com díodos de silício e tirístores, que não oferecem
problemas de excitação para máquinas síncronas grandes. Os dois tipos de sistema de excitação
estáveis são:
a) Sistemas estáticos com díodos estacionários ou tirístores, em que se alimenta a corrente ao
rotor através de anéis colectores
b) Sistemas sem escovas, com rectificadores montados no veio da máquina e que giram com o
rotor evitando assim a necessidade de escovas e anéis colectores.

Figura 1.1 - Vista em corte de una máquina síncrona de polos salientes

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2. O circuito do campo e velocidade da máquina: Como dito antes que nas condições
estacionárias, a máquina síncrona funciona a velocidade constante. Esta velocidade ns coincide
com a velocidade síncrona, isto é, com a velocidade do campo girante, de acordo com a
expressão (1.1)

(rpm) (1.1)

Onde: P – é o número de polos da máquina,


f – é a frequência da corrente gerada ou, fornecida à maquina,
– é a velocidade síncrona (rpm)

Desta maneira, uma máquina síncrona de dois polos, 60 Hz, deve girar a 3600 rpm, enquanto a
velocidade síncrona de uma máquina de 12 polos, 60 Hz, é de apenas 600 rpm. O circuito do
campo do rotor depende da velocidade da máquina. Assim, os turbos geradores que são
máquinas de alta velocidade têm rotores cilíndricos (lisos) conforme a figura 1.2 (a). As
máquinas de polos lisos são caracterizadas por possuir um rotor de pequeno diâmetro, grande
comprimento e eixo na posição horizontal, de forma que as bobinas no rotor estejam distribuídas
uniformemente. Dada a sua característica, a máquina síncrona de polos lisos é geralmente usado
como gerador em centrais termoeléctricas, nas quais as fontes primárias de energia são as
turbinas a vapor ou a gás, e essas turbinas possuem baixa inércia rotacional o que possibilita os
rotores a atingirem elevadas velocidades, e dai possuir poucos polos. Para os casos de máquinas
de baixas velocidades, o exemplo de geradores hidroeléctricos e os grupos geradores, aplicam
rotores de polos salientes, conforme se pode observar na figura 1.2 (b). Estes rotores são menos
onerosos sob ponto de vista construtivo quando comparados com os polos lisos, e são
caracterizados por um espaço variável nas faces polares. Podendo identificar-se esse tipo de rotor
pelo seu diâmetro grande e comprimento pequeno, e normalmente, o eixo é vertical. Esses não
são adequados para máquinas de altas velocidades devido as excessivas forças centrífugas e aos
esforços mecânicos elevados que se desenvolvem em velocidades de ordem de 3600 rpm.

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(a) Polo liso

(b) Polo saliente

Figura 1.2 Estrutura do rotor da máquina síncrona (a) polos lisos, (b) polos salientes

3. Estator: O estator duma máquina síncrona é semelhante ao de uma máquina assíncrona


polifásica (figura 1.3) e os enrolamentos do estator são trifásicos dispostos entre eles em 120°
angulares (conectados em configuração estrela ou triângulo) e que quando alimentados com
tensão trifásica produzem um campo magnético girante, o mesmo que ocorre com as máquinas
assíncronas ou de indução. Não há essencialmente diferença entre o estator duma máquina de
rotor liso e uma de rotor saliente. Os estatores dos geradores hidroeléctricos têm em geral, uma

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armadura de diâmetro grande comparado com outros tipos de geradores. O núcleo de estator está
formado por pacotes laminados de alta qualidade, com enrolamentos imbricados alojados nas
ranhuras.
4. Refrigeração: posto que as máquinas síncronas são construídas em dimensões
extremamente grandes, e são desenhados para suportar correntes altas. Uma unidade de corrente
da armadura pode ser da ordem de 10 A/mm em uma máquina bem desenhada. Ademais, a carga
magnética do núcleo é tal que se satura em muitas regiões. As cargas eléctricas e magnéticas nas
máquinas síncronas produzem calor, que deve se dissipar convenientemente.
Dessa maneira, a forma em que as partes activas de uma máquina se arrefecem determina sua
estrutura física global. Além do ar, existem outros refrigerantes usados nas máquinas síncronas e
que fazem parte o óleo, hidrogénio e hélio.
5. Barras de amortecimento: até agora foi feita referência dos enrolamentos de uma máquina
síncrona, a armadura trifásica e do campo, se indicou assim mesmo que em regime estacionário a
maquina opera a velocidade síncrona. No entanto, como qualquer outra máquina eléctrica, a
síncrona experimenta regimes transitórios durante o arranque e nas condições anormais.
Durante os transitórios, o rotor pode suportar oscilações mecânicas e sua velocidade sai do
sincronismo, o que constitui um fenómeno indesejável na utilização de máquinas eléctricas. Para
contrariar este fenómeno, é montado no rotor um conjunto adicional de enrolamentos que se
assemelham a um motor de indução, e este conjunto é conhecido como enrolamento
amortecedor. Quando a velocidade do rotor difere da velocidade síncrona, são induzidas
correntes no enrolamento, e este actua como motor de rotor em curto-circuito duma máquina de
indução, produzindo um torque que restaura a velocidade síncrona. Ademais, as barras
amortecedoras proporcionam um meio de arranque de máquina como motor síncrono, que doutra
maneira não seria possível ter um arranque próprio.

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Figura 1.3 - Rotor duma máquina síncrona.

1.3 Sistema de excitação em máquinas síncronas


Como discutido nos parágrafos anteriores, os enrolamentos que constituem os polos do circuito
de excitação duma máquina síncrona são alimentados com corrente contínua, e esta corrente
provém de um sistema tradicional de um dínamo excitatriz do tipo shunt que está montado no
veio do grupo, cuja saída se aplica ao rotor do alternador através de anéis deslizantes com suas
correspondentes escovas. Excitatriz é um gerador cc convencional, em que as vezes substitui-se
toda ou parte da sua excitação por uma excitatriz piloto com objectivo de melhorar a rapidez de
resposta.
Na figura 1.4 se mostra uma versão do sistema, donde pode se observar cada um desses
elementos. As máquinas síncronas mais pequenas não precisam ter excitatriz piloto, e a excitatriz
principal trabalha em forma de derivação (shunt), alimentando directamente o indutor ou campo
da máquina síncrona.
Devido as dificuldades de comutação nos dínamos quando essas giram a grandes velocidades,
tem-se desenvolvido de alguns anos para cá, excitatrizes de ca que com ajuda de rectificadores
de silício alimentam os polos da máquina com cc. O campo destas excitatrizes provém

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geralmente de outra excitatriz ca com íman permanente cuja saída foi retificada previamente,
conforme se indica na figura 1.5.

Figura 1.4 – Sistema de excitação com excitatriz

Actualmente se emprega um sistema de excitação sem escovas. O esquema é similar ao da figura


1.4 no qual a excitatriz principal tem uma disposição inversa a da anteriormente apresentada.
Neste caso, o enrolamento trifásico da excitatriz está colocado no rotor, e o indutor no estator. A
saída em ca da excitatriz se converte em cc através de rectificadores montados no veio e que
alimenta directamente o rotor do gerador ca sem necessidade de anéis colectores e escovas
(rectificadores giratórios). A regulação de tensão nos geradores ca (alternadores) se realiza
através de reóstatos intercalados nos circuitos do campo da excitatriz principal.

Figura 1.5 – Sistema de excitação electrónico

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1.4 Princípio de operação de máquinas síncronas
Como discutido antes, a máquina síncrona é reversível, isto é, ela pode funcionar no regime de
gerador ou regime de motor, e a escolha do regime depende da função a que se pretende. A
seguir vamos analisar sucintamente os aspectos qualitativos de cada regime.

2. Gerador Síncrono
A operação de um gerador síncrono se baseia na lei indução electromagnética de Faraday, e
trabalha de forma semelhante a um gerador de corrente contínua em que a geração da fem se
baseia no movimento relativo entre os condutores e o fluxo magnético, ademais, o gerador
síncrono tem anilhas colectoras em vez de comutador.
Os componentes básicos de um gerador síncrono são o circuito do campo magnético (indutor)
que possui o enrolamento excitado por uma corrente continua, e a armadura (induzido) na qual
ocorre o fenómeno de transformação de energia mecânica em eléctrica que é induzida nos seus
enrolamentos uma fem alternada. Quase todos os geradores síncronos modernos têm armadura
fixa e indutor móvel (giratório). O enrolamento do indutor instalado sobre a estrutura giratória se
conecta a excitatriz, a qual proporciona a corrente contínua através dos anéis colectores e
escovas, sendo que alguns geradores não têm escovas e a excitação é por meio de díodos
montados no veio da máquina.
Como o rotor está sujeito a campos magnéticos variáveis, independentemente se é de polos
salientes ou lisos, esses devem ser de barras laminada para reduzir as perdas por correntes
parasitas (correntes de Foucault).

2.1 Frequência da tensão gerada


O valor da tensão gerada por um gerador CA depende da intensidade do campo e da velocidade
do rotor. Como a maioria dos geradores funciona com velocidade constante (geradores
síncronos), o valor da fem induzida (ou tensão gerada) é controlado através da excitação do
campo. A frequência da fem gerada depende do número de pólos do campo e da velocidade do
rotor, como mostra a expressão abaixo:

[rpm] (2.1)

[rad/s]

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Onde: f → frequência da tensão gerada, Hz
p → número total de polos da máquina
ns → velocidade do rotor, rotações por minuto (rpm)
→ velocidade angular (rad/s)

2.2 Circuito equivalente de gerador síncrono


A fem por fase gerada pelo gerador síncrono na condição em vazio é semelhante a gerada pelo
gerador cc, portanto, esta tensão não é a que aparece nos terminais do gerador síncrono quando
este opera em carga e isso deve-se a vários factores que provocam a queda liderando a diferença
entre a fem induzida na condição em vazio e a tensão nominal a plena carga, os quais são:
1. A distorção do campo magnético do entreferro causado pela corrente da armadura, chamada
reacção da armadura;
2. A auto-indutância das bobinas que constituem os enrolamentos da armadura;
3. A resistência das bobinas da armadura;
4. O efeito da configuração do rotor de polos salientes.
Para estabelecer o circuito equivalente de gerador síncrono não se toma em conta o efeito dos
polos salientes na operação da máquina, e considera-se que ela é de polos lisos. Essa
consideração levará a uma certa imprecisão dos resultados quando a máquina seja de polos
salientes, mas esses erros são relativamente pequenos.
O primeiro efeito mencionado e de maior duração, é a reacção do induzido. Quando o rotor
(indutor) gira, é induzida a tensão em vazio nos enrolamentos da armadura, a qual resulta em

circulação de correntes quando é conectada uma carga nos terminais da máquina (figura 2.1
(a) e (b)). Essa corrente origina um campo magnético na armadura, e este cria distorção do
campo magnético original e unidireccional do indutor, modificando a tensão resultante induzida
por fase. Este efeito é conhecido como reacção do induzido pelo facto da corrente da armadura
afectar o campo magnético que o originou quando a máquina funciona em vazio.
Como estão presentes as tensões nos enrolamentos da armadura, a tensão resultante de uma fase
será a soma da tensão e a tensão de reacção do induzido , isto é:

(2.2)

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A tensão da reacção do induzido é directamente proporcional a corrente que circula pela
armadura , e para uma carga indutiva a tensão atrasa 90º em relação a dita corrente, e daí a
tensão de reacção do induzido pode ser expressa como:
(2.3)
Por conseguinte, a tensão da reacção do induzido pode ser considerada como uma indutância em
série com a tensão internamente gerada pelo gerador síncrono.

(a) Circuito monofásico equivalente

(b) Circuito trifásico equivalente conectado em estrela


Figura 2.1 - Circuito equivalente de um gerador síncrono

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Ao aplicar a lei de Kirchoff no circuito da figura 2.1, resulta conforme a expressão:
(2.4)

Além do efeito da reacção da armadura, a bobina da armadura também apresenta a auto-


inductância e resistência. Se for denominada essa auto-inductância por , e por a sua
correspondente reactância e por a sua resistência, então a diferença total entre e será
dada pela seguinte expressão:
(2.5)

Mas como os efeitos da reacção da armadura e a auto-inductância são apresentados por


reactância, é habitual combinar as duas quantidades em uma única reactância conhecida como
reactância síncrona da máquina, que é representada por .

(2.6)

Com relação ao exposto é possível estabelecer o circuito equivalente de um gerador síncrono


monofásico e trifásico, tal como é mostrado na figura 2.1, na qual se tem uma fonte de corrente
continua que alimenta o circuito do campo (indutor) e a mesma é representada por uma
inductância em série com uma resistência variável que serve para regular a corrente de excitação
no circuito do campo. O que resta do circuito equivalente corresponde aos componentes por fase
da impedância da armadura e da carga que se conecta nas pontas do gerador. Nos geradores
trifásicos, a diferença com circuito monofásico é o ângulo de 120º correspondente ao
desfasamento entre a tensão e corrente entre as fases. Note-se que as três fases podem estar
conectadas em estrela ou em triângulo.

2.3 Diagrama Fasorial do Gerador Síncrono


Como a tensão do gerador síncrono é alternada e geralmente representa-se por fasores, e como
estes têm magnitude e ângulo, a relação entre eles deve ser expressa em duas dimensões. As
grandezas e presente em uma fase são graficamente representadas de forma que seja
evidente a relação entre elas, com a qual se obtém o diagrama fasorial do gerador síncrono, que é
dependente do factor de potência da carga que é conectada à maquina.

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Quando o gerador alimenta uma carga com um factor de potência unitário, isto é, uma carga
puramente resistiva, a tensão difere da tensão nominal a plena carga por fase nas quedas
de tensão por resistência e reactância. A corrente no induzido e a tensão está em fase e seu
diagrama pode ser representado como se mostra no gráfico (figura 2.2).

Figura 2.2 - Diagrama fasorial de gerador síncrono com FP unitário

Para essas condições a magnitude da fem gerada em vazio pode ser determinada pela expressão:

√( ) (2.7)
Onde: - fem gerada em vazio
- Tensão nominal por fase a plena carga
- Corrente nominal por fase a plena carga
- Resistência efectiva da armadura por fase
- Reactância síncrona
- Ângulo do factor de potência da carga

O diagrama fasorial anterior pode comparar-se com os diagramas fasoriais do gerador síncrono
funcionando com cargas de factor de potência atrasado e adiantado, os quais são representados
nas figuras 2.3 e 2.4, nos quais se observa que para tensão e corrente da armadura, ambos por
fase, se requere gerar uma tensão para cargas com factor de potência atrasada que para cargas
com factor de potência adiantada. Por conseguinte, para argas indutivas é necessário uma maior

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corrente de excitação nos polos indutores para aumentar o campo magnético e obter a mesma
tensão com carga nos terminais do gerador.
Alternativamente, para manter constante a tensão nos terminais do gerador que alimenta uma
carga capacitiva, a tensão gerada na condição de vazio deve ser menor da obtida com a carga de
factor de potência atrasada.

Figura 2.3 – Diagrama fasorial para uma carga com FP atrasado

√( ) ( ) (2.8)

Cos – corresponde a factor de potência da carga

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Figura 2.4 – Diagrama fasorial para uma carga com FP adiantado

√( ) ( ) (2.9)

Na prática, o que encontramos são cargas com desfasamento intermediário, entre totalmente
indutiva, capacitiva ou resistiva. Nesses casos o campo de reacção da armadura pode ser
decomposto em dois campos, um transversal e outro desmagnetizante (carga indutiva) ou
magnetizante (carga capacitiva). Somente o campo transversal tem um efeito frenante,
consumindo desta forma potência mecânica da máquina primária. O efeito magnetizante ou
desmagnetizante é compensado alterando-se a corrente de excitação.

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Figura 2.5 - Característica a vazio (tensão gerada x corrente de excitação).

2.4 Torque e Potência de um gerador síncrono


Um gerador síncrono transforma a potência mecânica em eléctrica monofásica ou trifásica. A
fonte de potência mecânica comummente chamada de máquina primária, pode ser um motor
diesel, uma turbina a vapor, uma turbina hidráulica ou qualquer outro dispositivo que
proporcione o movimento ao gerador síncrono. Independentemente do tipo da fonte primária que
se utilize, este deve ter propriedades de manter a velocidade constante para qualquer valor da
carga que for conectada nos terminais do gerador, já que ao contrário, a frequência do sinal
gerado irá flutuar em função do valor das diferentes velocidades.
Conforme o fluxo de potência que se mostra na figura 2.6, é visível que devido a perdas de
potência que ocorrem na máquina durante a transformação, nem toda potência mecânica que
entra no gerador saí da mesma.

Figura 2.6 – Diagrama de fluxo de potência de um gerador síncrono

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Potência eléctrica de saída = Potência mecânica de entrada – (Perdas rotacionais + Perdas eléctricas)
Potência eléctrica desenvolvida = Potência mecânica de entrada – Perdas rotacionais

Conforme a mesma figura, observa-se que a potência mecânica na entrada é a potência no eixo
do gerador, isto é:
(2.10)

Enquanto a potência mecânica convertida em potencia eléctrica é expressa por:


(2.11)
Onde:
– fem por fase gerada em vazio
– Corrente nominal por fase na armadura
- Ângulo formado ente e

A potência eléctrica trifásica real fornecida pelo gerador síncrono pode ser representada em
grandezas por linha, como:

√ (2.12)

E a grandeza por fase, será:


(2.13)

Como a reactância síncrona é muito maior quando comparado da resistência efectiva por fase da
armadura, sem cometer um erro apreciável e para casos de análise, pode-se desprezar o valor da
resistência e determinar uma expressão mais útil para avaliar a potência fornecida pelo gerador,
para isso utilizar-se-á o diagrama fasorial simplificado de acordo com a figura 2.7, na qual se
despreza o efeito da resistência da armadura.

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Figura 2.7 – Diagrama fasorial simplificado do gerador síncrono

Conforme o triângulo rectângulo obc, se obtém:


(2.14a)
E do triângulo rectângulo abc, se obtém:
(2.14b)
Ao igualar as duas expressões anteriores se obtém a expressão algébrica com a qual pode se
determinar a potência de saída da máquina:
(2.14c)

Ao substituir esta última igualdade na expressão (2.13) se obtém:

(2.15)

Da expressão (2.15) se observa que a potência do gerador síncrono depende do ângulo que

existe entre e , e esse ângulo é conhecido como o ângulo de torque da máquina. A

potência máxima que um gerador síncrono pode produzir (gerar) é obtida quando o ângulo =

90º, para o qual o sen = 1.

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(2.16)

A partir da expressão (2.17a) pode se encontrar uma expressão alternativa para o torque induzido
( ) em um gerador síncrono, tal se é mostrado na expressão (2.17b).
(2.17a)

(2.17b)

2.5 Parâmetros de gerador síncrono


Para análise do comportamento dos geradores síncronos existem cinco parâmetros principais que
devem ser considerados, os quais são:
a) Resistência Ohmica e efectiva: a resistência óhmica é a resistência eléctrica que um
condutor oferece na passagem da corrente eléctrica. Neste caso, as cargas eléctricas circulam no
condutor na mesma direcção e se distribuem uniformemente em toda secção transversal do
condutor. Esta resistência representa-se por e é a resistência que se mede em corrente
contínua, e a sua magnitude se determina pela lei de Ohm.

(2.18a)

O outro valor da resistência, é a resistência efectiva (resistência eficaz) que se obtém em corrente
alternada e se define como resistência eléctrica aparente. Essa resistência é representada por
e seu valor é maior da resistência óhmica devido a certos efeitos tais como:
 Efeito Kelvin ou pelicular
 Efeito das correntes parasitas
 Efeito de perdas por histerese
 Efeito de perdas dieléctricas
Nas máquinas eléctricas, a resistência efectiva é difícil de se medir já que ela varia em função do
tipo de núcleo da bobina, isto é, se é núcleo de ar ou de ferro. Portanto, foi experimentalmente

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determinado que a resistência efectiva varia em função da constante, a qual relaciona as
resistências efectiva e a ohmica da bobina, isto é,

(2.18b)

O valor da constante K depende do tipo de indutor do gerador síncrono e da frequência da


corrente, pelo que para gerador síncrono de polos salientes, o K varia de 1.2 a 2.0, e para certos
cálculos pode se considerar o valor médio que é 1.6.

Para máquinas de polos lisos, o valor de K varia entre 2.5 a 4, e também pode se considerar o
valor médio de 3.25.

De forma aproximada, a resistência efectiva pode se determinar mediante a medição da potência


que a bobina absorve (perdas no cobre), da tensão e corrente quando esta é alimentada por uma
tensão reduzida em ca mediante o uso da seguinte expressão:

(2.18c)

b) Reactância de dispersão: o conjunto de linhas de força magnética que formam o campo


magnético em máquinas ou qualquer outro dispositivo eléctrico nunca se aproveitam totalmente
já que uma pequena quantidade do fluxo se dispersa e circula através do ar e é denominado por
fluxo de dispersão. O fluxo magnético de dispersão relacionado com a corrente gera a auto-
indução na bobina do induzido, a qual em conjunto com a velocidade angular geram a reactância
de dispersão.
Conforme exposto acima, a corrente alternada que circula pelas bobinas da máquina deve vencer
a resistência efectiva e a reactância. A magnitude da reactância não depende da temperatura nem
do comprimento do condutor através do qual a bobina é feita, mas sim depende da frequência da
corrente ca e da auto-indução e ela é representada por , e sua unidade Ohm. Para a determinar
pode se usar a seguinte expressão:

(2.19)

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c) Impedancia: A impedância da máquina é a combinação da resistência ohmica e a reactância,


ambos da máquina. Ela é representada pela letra Z e é expressa também em ohms, conforme a
expressão:

√ (2.20)

Para corrigir a impedância por temperatura, apenas procede-se corrigindo a resistência já que a
reactância não depende da temperatura.

Com relação ao circuito equivalente do gerador síncrono existem três parâmetros que devem ser
conhecidos para auxiliar no estudo do comportamento do gerador quando funciona em vazio
assim como em carga. Para a obtenção desses parâmetros, os geradores são submetidos a ensaios
laboratoriais donde se obtém gráficos que relacionam a corrente de excitação ( ) e a fem gerada
em vazio ( ) e que relaciona a corrente que circula pela armadura ( ) quando o gerador
funciona em carga e a corrente de excitação, e com elas determinar os parâmetros da máquina
síncrona. Para tal, os geradores são submetidos a ensaio em vazio e em curto-circuito e além
desses pode se utilizar um método simples, conhecido como método de impedância síncrona,
para determinar seus parâmetros.

O ensaio em vazio consiste em por o gerador em marcha em vazio e a velocidade nominal, e vai
se reduzindo a corrente de excitação a zero ( ). Posteriormente vai se aumentando a
corrente de excitação por etapas até que a tensão de saída em vazio atingir aproximadamente a
125% da tensão nominal por fase do gerador, e nesse instante faz-se a leitura dos instrumentos de
medida, da tensão em vazio por fase ( ) e da corrente de excitação ( ) que circula pelo indutor
do gerador. Com as leituras obtidas se constrói o gráfico aproximado ao que se mostra na figura
2.8.

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Figura 2.8 – Característica em vazio de um gerador síncrono

Da figura anterior observa-se que ela não começa de zero quando a corrente de excitação é nula,
devido ao magnetismo remanescente que origina uma pequena tensão ( ) chamada de tensão
remanescente. A partir desse ponto a curva começa a aumentar linearmente até ao ponto onde a
curva começa a inclinar devido ao início do fenómeno de saturação magnética do entreferro,
chegando ao ponto tal que com aumento grande da corrente de excitação se obtenha um pequeno
aumento de tensão gerada em vazio. Com este gráfico é possível obter tensão gerada em vazio
para qualquer valor de corrente de excitação. A região linear “oc” do gráfico se denomina linha
do entreferro da característica de vazio.

O ensaio em curto-circuito consiste em curto-circuitar os terminais de saída do gerador através


de um amperímetro ca, e posteriormente aumentar gradualmente a corrente de excitação partindo
de zero até a um valor tal que pelo amperímetro na saída do gerador flua uma corrente
aproximadamente de 125% da corrente nominal do gerador, fazendo leituras simultâneas de
corrente de excitação e do curto-circuito da armadura do gerador ( ). Com as leituras
obtidas se constrói a curva, a qual deve ser uma linha recta semelhante a mostrada na figura 2.9.

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Máquinas Síncronas

Figura 2.9 – Característica de curto-circuito de um gerador síncrono

A tensão que se obtém nos terminais do gerador estando estas em curto-circuito se chama tensão
de impedância, e o seu valor deve ser pequeno, o suficiente para haver a circulação pela
armadura o seu valor nominal.
Com os dados que se podem obter com as características anteriores, determina-se a impedância
interna da máquina a qual se denomina de impedância síncrona, e representa-se por ( ), e sua
magnitude determina-se pela expressão:

(2.21)

De onde:
EA é a tensão em vazio por fase, que se obtém da característica em vazio a um determinado valor
de corrente de excitação durante o ensaio em vazio.
IA é a corrente de curto-circuito por fase, que se obtém da característica do curto-circuito a
mesma corrente de excitação com a qual se determina a tensão em vazio EA.

Com a resistência efectiva que se determinou pelas expressões () ou () e a impedância síncrona,


pode se determinar a reactância síncrona ( ) do gerador síncrono mediante o uso da expressão:

√ (2.22)

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Máquinas Síncronas
2.6 Gerador síncrono funcionando em forma isolada
O comportamento do gerador síncrono a baixa carga varia conforme o valor do factor de
potência da carga que é conectada ao gerador. O primeiro caso a considerar é nas condições do
gerador funcionar de forma isolada.
Em um gerador síncrono, a fem induzida é a tensão que deve ser gerada na condição do
gerador em vazio para que o gerador funcione à sua tensão e carga nominais. Na prática é difícil
de aferir com instrumentos de medidas, e só é possível determinar por via de aproximação
através das expressões 2.7, 2.8 e 2.9, devido a dificuldade que se tem para quantificar a reacção
de induzido no gerador como consequência a conexão de carga na saída do gerador, tendo em
vista que os factores que afectam o valor de tensão com carga são:
1) Queda de tensão no circuito do induzido ( )
2) Queda de tensão por reactância do induzido ( )
3) Queda de tensão por reacção do induzido ( )

Geralmente é conhecida a tensão nominal a plena carga e devidas as quedas de tensão antes
descritas, é necessário regular a tensão gerada em vazio a um valor alto ou baixo de modo que
quando for conectada uma carga ao gerador, se garanta a tensão nominal nos terminais de saída
do gerador. Este processo é conhecido como Regulação de Tensão, e representa a capacidade da
máquina de manter constante a tensão nominal para qualquer variação da carga.
A regulação de tensão pode ser determinada pela expressão (2.23), na qual as suas unidades
podem ser por unidade ou percentuais.

(2.23)

( )

Conforme os diagramas vetoriais e factor de potência das cargas resistiva, inductiva e capacitiva,
deve em geradores síncronos monofásicos ou polifásicos cumprir-se o seguinte:
( ) ( ) (2.24)
Onde:
EA – Tensão gerada em vazio por fase
Vr - tensão nominal por fase

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Máquinas Síncronas
IARa - Queda de tensão por fase devido a resistência efectiva no circuito do induzido
IaXa – Queda de tensão por fase devido a reactância do induzido
Ear – Queda de tensão por fase devido a reacção do induzido, a qual pode ser de magnetização,
magnetização cruzada ou desmagnetização,
IaZs – Queda de tensão devido a impedância síncrona

Em geradores síncronos com factor de potência unitário, isto é, a corrente da armadura por fase
em fase com a tensão por fase no induzido, a reacção de induzido é de magnetização cruzada e a
queda de tensão por reacção de induzido está atrasada 90◦ em relação a tensão gerada.
Nos geradores com factor de potência atrasado, isto é, a corrente da armadura por fase atrasada
90◦ em relação a tensão nominal por fase, a reacção do induzido é desmagnetizante e a queda de
tensão está atrasada 180◦ em relação a tensão gerada.
Em geradores com factores de potência adiantado, isto é, a corrente da armadura por fase
avançado em 90◦ em relação a tensão nominal por fase, a reacção do induzido é desmagnetizante
e a queda de tensão por reacçãao está em fase com a tensão gerada devido ao fluxo magnético no
entreferro.
Aumentar a carga significa aumentar a potenciam útil e ou reactiva tomada do gerador, no qual
aumenta-se também a corrente do induzido. Como a resistência do campo indutor varia dentro de
certos limites pré determinados, a corrente de excitação e o fluxo magnético são constantes
devido a manutenção constante da velocidade angular da máquina primária (máquina motriz) e
assim a tensão gerada internamente pelo gerador (EA) será constante.

Se o gerador funciona com factor de potência atrasado, ao aumentar a carga com o mesmo factor
de potência irá aumentar a corrente da armadura (Ia), conservando o ângulo inicial em relação
a tensão Vr. por conseguinte, a queda de tensão por reacção do induzido será maior comparado
com a queda obtida antes do aumento do valor da carga com o mesmo ângulo que provoca a
diminuição da tensão nominal com carga Vr.

Se o gerador está funcionando com carga resistiva (FP =1) apresenta o mesmo fenómeno anterior
com a variante de que a tensão nominal com carga Vr diminui ligeiramente.

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Máquinas Síncronas
Por último considera-se o caso do gerador funcionar com carga de factor de potência adiantado,
neste caso quando se aumenta a carga, a queda de tensão por reacção do induzido é magnetizante
e tende a diminuir a tensão gerada internamente pelo gerador o que faz com que a tensão
nominal aumente em relação a tensão que tinha antes do aumento da carga.

Normalmente é desejável que a tensão de saída aplicada à carga permaneça constante


independentemente da variação da carga, para tal deve se variar o valor de tensão interna gerada
EA sem modificar o valor da frequência, e isso consegue-se variando o fluxo magnético da
seguinte forma:
1) Diminuir a resistência do campo magnético do enrolamento do indutor (Rf), o que aumenta a
corrente de excitação do campo do gerador;
2) Aumentar a corrente de excitação, o que contribui no aumento do fluxo magnético da máquina;
3) Aumentar o fluxo magnético, o que eleva o valor da tensão interna gerada pela máquina;
4) Aumentar EA, o que vai incrementar a tensão nominal Vr nos terminais do gerador.

O procedimento anterior é conhecido como regulação de tensão do gerador submetido a cargas


variáveis, no qual para compensar os efeitos da reacção do induzido são instalados reguladores
de tensão na excitatriz para aumentar ou diminuir de forma automática a corrente de excitação no
enrolamento do campo do gerador susceptível a variação de carga e do factor de potência.

2.7 Operação em paralelo de geradores síncronos


Nas redes eléctricas constantemente se obtém variações contínuas de cargas e nas condições da
demanda de energia eléctrica ser muito elevada, requer-se conectar um ou mais geradores
síncronos em paralelo com os que estão já alimentando a carga, e com essa associação dos
geradores poderá satisfazer a demanda de energia. Com esse procedimento consegue-se
aumentar a capacidade do sistema de geração em poder satisfazer a demanda de energia em
função das necessidades dos consumidores. Há numerosas vantagens na subdivisão de um
sistema gerador em várias centrais menores, tanto do ponto de vista económico quanto do ponto
de vista estratégico. Estas vantagens também se aplicam ao uso de várias unidades geradoras
(geradores) menores, em lugar de uma única máquina maior, embora esta última tenha um
rendimento maior quando carregada à sua capacidade nominal.

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Máquinas Síncronas
As principais vantagens da operação de geradores em paralelo são:
1. Se um único gerador de grande potência constitui uma estação geradora e, por uma razão
qualquer, deixa de funcionar, com isto deixará de funcionar também a estação geradora;
enquanto, se um dos vários geradores menores necessitar de um reparo, os demais ainda estarão
disponíveis para fornecer o serviço necessário;
2. Um único gerador, para operar com rendimento máximo, deverá ser carregado até sua
capacidade nominal. Não é económico operar um grande gerador se as cargas a serem
alimentadas são pequenas. Vários geradores menores, operando em paralelo, podem ser
removidos ou adicionados, de forma a atender as flutuações da demanda; cada gerador pode ser
operado à sua capacidade nominal ou próximo dela, funcionando assim a estação no seu
rendimento máximo;
3. Se há necessidade de um reparo ou de uma parada geral para manutenção, os geradores
menores facilitam as operações, do ponto de vista de peças de reposição ou reserva, bem como
dos serviços a executar;
4. Quando aumentar a demanda média do sistema ou da estação geradora, instalar-se-ão unidades
adicionais para acompanhar o acréscimo da demanda. O capital empregue inicialmente será
menor e o seu crescimento corresponderá ao crescimento da demanda média;
5. Há limites físicos e económicos para a capacidade possível de uma única máquina. Por
exemplo, em uma determinada estação geradora, a carga pode chegar a 10 milhões de kVA.
Embora existam operando geradores de até centenas de milhares de kVA, não se constroem
máquinas com capacidade suficiente para suprir toda demanda da estação geradora ou do sistema.

A maioria das centrais eléctricas possui vários geradores CA funcionando em paralelo a fim de
aumentar a potência disponível. Antes de dois geradores serem ligados em paralelo é preciso que:
a) As tensões dos geradores sejam iguais;
b) Os ângulos de fase das tensões dos geradores sejam iguais;
c) As frequências das tensões dos geradores sejam iguais; e
d) A ordem de sequência das fases nos pontos da conexão seja a mesma.

Quando forem atingidas estas condições, os dois geradores poderão ser conectadas e
funcionando em sincronismo. A operação de se colocar os geradores em sincronismo chama-se

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sincronização. O sincronismo pode ser efectuado também entre o gerador e o sistema de energia
(barramento infinito) e essa operação do paralelismo em geradores síncronos de grande porte é
feita por aparelhos especiais chamados sincroscópios.
Conectando geradores em paralelo, a distribuição da potência activa depende do conjugado da
máquina primária, enquanto a distribuição da potência reactiva depende da excitação do campo
de cada gerador. Portanto, as máquinas primárias mostram uma tendência de queda na rotação
com o aumento da potência activa (carga) o que é necessário para termos uma distribuição
estável da potência activa.

2.8 Fenómenos Transitórios em Geradores Síncronos


Quando o torque aplicado no eixo, ou a carga do gerador variam bruscamente, apresenta-se um
estado transitório durante um certo tempo até que o gerador volte ao regime permanente de
funcionamento. Exemplo desse estado é quando o gerador é conectado em paralelo com um
sistema de operação, inicialmente gira mais rápido e a maior frequência que o sistema de
potência. Depois de conectado em paralelo, há um período de transição antes que gerador seja
acoplado à linha e gire na frequência da rede, enquanto fornece uma pequena potencia à carga.
Exactamento no tempo que se obtém quando se fecha o interruptor de acoplamento,
origina-se a circulação de corrente do estator. Como o rotor de gerador gira mais rápido que a
velocidade síncrona do sistema, segue desfasado e em avanço em relação a tensão Vr do sistema.
Como visto antes, o torque sobre o eixo do gerador corresponde a expressão:
(2.25)

Este torque tem direcção contrária a da direcção do movimento e aumenta à medida que aumenta
o ângulo de fase entre EA e Vr. Este torque é oposto a direcção do movimento e frena o gerador
até que este entre em sincronismo com o resto do sistema de potência.
O mesmo fenómeno ocorre se o gerador girando a uma velocidade menor da velocidade síncrona
é conectada em paralelo com sistema de potência, no qual o rotor pela influência do campo
magnético resultante irá produzir um torque na direcção do movimento da máquina. Este torque
leva o rotor a atingir a velocidade síncrona do sistema no qual o gerador está conectado.
A condição transitória mais severa que um gerador pode apresentar é o curto-circuito trifásico,
que em sistemas de potência designa-se por falha.

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Máquinas Síncronas

Figura 2.10 – Corrente de falha trifásica nos terminais do gerador síncrono

Na figura 2.11- está representada a componente simétrica da corrente alternada, a qual divide-se
em três períodos: Aproximadamente o primeiro ciclo depois da falha, a componente ca é muito
grande e diminui rapidamente, e este ciclo é chamado de período subtransitório. Passado este
ciclo, a corrente continua diminuindo lentamente até alcançar o estado estacionário, o qual
corresponde o período transitório. Finalmente o tempo que decorre até que a corrente alcance o
estado permanente é conhecido como período de estado estacionário.

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Figura 2.11- Gráfico de correntes de armadura em função do tempo de gerador em curto-circuito

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3. MOTOR SÍNCRONO
3.1 Introdução
Como seu nome indica, um motor síncrono funciona em condições de estado estável a uma
velocidade fixa chamada velocidade síncrona. Como discutido no capítulo anterior, a velocidade
síncrona só depende da frequência da tensão aplicada ao motor e ao número de polos da máquina.
Em outras palavras, a velocidade de um motor síncrono é independente da carga desde que se
mantenha dentro da capacidade do motor, e se o torque de carga (torque resistente) exceder ao
torque máximo que pode ser desenvolvimento pelo motor, este simplesmente se detém e o torque
resultante torna igual a zero.
Por este tipo de motor não ter uma característica de auto arranque, precisa para seu
funcionamento um meio auxiliar que o impulsione até que se sincronize com a tensão da rede
que o alimenta.
Os motores síncronos podem ser monofásicos ou polifásicos, e são utilizados com maior
frequência pelas indústrias, devido ao facto de possuírem características especiais de
funcionamento. O alto rendimento e o facto de poderem trabalhar como compensador síncrono
para corrigir o factor de potência da rede, se destacam como os principais motivos que resultam
na escolha dos motores síncronos para accionamento de diversos tipos de cargas. Altos torques,
velocidade constante mesmo com variações de carga e baixo custo de manutenção, são também
características especiais de funcionamento que proporcionam inúmeras vantagens económicas e
operacionais ao usuário.

3.2 Princípio de Funcionamento do Motor Síncrono


Como já é do conhecimento, a aplicação de uma tensão alternada CA trifásica nos enrolamentos
do estator duma máquina produz um campo magnético girante e este faz se sentir sobre o rotor.
Neste caso, quando o rotor do motor síncrono é energizado com uma tensão de corrente contínua
CC, ele se comporta como um íman suspenso em um campo magnético que se move procurando
se alinhar com o campo magnético girante do estator. Quando o campo magnético produzido
pelo estator (circuito campo) gira, o rotor gira em sincronismo com o campo. Quando o campo
magnético girante é forte, ele exerce uma intensa força de torção sobre o rotor (torque ou
conjugado), levando este ao movimento de rotação accionando assim a carga.

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Máquinas Síncronas

Figura 3.1 Principio de funcionamento de Motor síncrono

Á semelhanças dos motores de indução, os motores síncronos têm enrolamentos no estator que
produzem um campo magnético girante. Mas, ao contrário do motor de indução, o circuito do
rotor de um motor síncrono é alimentado por uma fonte CC. O rotor engata na mesma rotação do
campo magnético girante do estator e o acompanha com a mesma velocidade, ou seja, ocorre um
acoplamento magnético entre os campos do rotor e do estator. Se o rotor sair do sincronismo (se
desacoplar magneticamente) não se desenvolve nenhum torque e o motor frena (imobiliza-se),
isto é, ou o motor síncrono funciona à velocidade síncrona ou não funciona.
A velocidade do campo magnético girante depende da frequência da rede CA, e como a
frequência da rede é constante, os motores síncronos são, na prática, motores de uma única
velocidade. Eles são utilizados em aplicações que requerem velocidade constante desde a
condição em vazio até a condição de plena carga. Observe-se que em um motor síncrono,
operando a velocidade síncrona, não há fem induzida no rotor, pois não há movimento relativo
entre o campo girante e o rotor, portanto, não há variação na quantidade das linhas de fluxo que
cortam os condutores do rotor (S = 0).

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3.3 Partida de Motores Síncronos
Uma das desvantagens do motor síncrono puro é que ele não pode partir de uma posição de
repouso apenas com a aplicação da tensão CA trifásica ao estator. Como o motor síncrono
desenvolve um torque somente quando gira na velocidade síncrona, ele não tem partida própria e
consequentemente precisa de algum dispositivo que faça o rotor girar até atingir a velocidade
síncrona. No instante em que a tensão CA trifásica é aplicada ao estator, é produzido um campo
magnético girante de alta velocidade. Este campo girante passa diante dos polos do rotor tão
rapidamente que o rotor não tem oportunidade de partir, isto é, de se acoplar magneticamente ao
campo girante. Inicialmente o polo norte do rotor é repelido em um sentido – pelo polo norte do
campo girante que se aproxima, e logo em seguida é repelido no sentido contrário – pelo mesmo
polo norte do campo girante que passou muito rapidamente e já se afasta.

(a) Pólo NORTE do estator se aproximando

(b) Pólo NORTE do estator se afastando.


Figura 3.2 Torque resultante nulo na partida do motor síncrono, quando o rotor está parado.

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Máquinas Síncronas
No processo de partida de um motor síncrono o seu rotor deve ser levado até uma velocidade
suficientemente próxima da síncrona, para que ele possa se acoplar magneticamente com o
campo girante e entrar em sincronismo. Existem alguns meios pelos quais o rotor pode ser
levado próximo a velocidade síncrona, que são: (1) um motor CC acoplado ao eixo do motor
síncrono; (2) a utilização da excitatriz como motor CC, durante a partida; (3) um pequeno motor
de indução com, no mínimo, um par de polos a menos que o motor síncrono; e (4) a utilização
dos enrolamentos amortecedores, para que a partida se dê como a de um motor de indução do
tipo gaiola de esquilo ou do tipo rotor bobinado (com 5 anéis, ver fig. 3.4).

(a) Pólo saliente do rotor de um motor síncrono. (b) Enrolamento amortecedor para partida.
Figura 3.3 Enrolamento amortecedor de um motor síncrono, para partida como rotor de gaiola.

O motor síncrono arranca como um motor de indução, acelera a carga até o ponto onde o
conjugado do motor iguala ao conjugado resistente da carga. Usualmente este ponto ocorre a 95%
da velocidade síncrona, ou acima, e nesta situação a tensão cc de excitação é aplicada no rotor
que sincroniza, ou seja, irá acelerar a inércia combinada do rotor mais a da carga até a velocidade
síncrona necessária. As características da carga a ser accionada determinam as condições de
aceleração e sincronismo.
Para a partida do motor síncrono com carga, a melhor técnica é utilizar um rotor bobinado de
motor de indução, no lugar do enrolamento em gaiola nas faces polares, o chamado enrolamento
amortecedor tipo rotor bobinado. Reconhece-se imediatamente este rotor, pois utiliza cinco anéis
colectores: dois para o enrolamento do campo cc e três para o enrolamento bobinado do rotor
ligado em estrela. O desempenho na partida deste motor é semelhante ao de um motor de

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indução de rotor bobinado, uma vez que se utiliza uma resistência externa para melhorar o torque
de partida.
O motor parte com toda a resistência externa por fase, como mostra a figura 3.4, e com o
enrolamento de campo CC curto-circuitado. Ele se aproxima da velocidade síncrona à medida
que se reduz a resistência e, quando se aplica uma tensão CC ao enrolamento de campo, o motor
entra em sincronismo. Combinando o torque de partida elevado do motor de indução de rotor
bobinado (até três vezes o torque nominal de plena carga) com as características de
funcionamento de velocidade constante e correcção do factor de potência inerentes ao motor
síncrono, este tipo de motor síncrono encontrou muitas aplicações nos casos em que se requer
partida sob carga, além de velocidade constante.

Figura 3.4 Diagrama esquemático de um motor síncrono com enrolamento amortecedor bobinado.

Decididamente, o método de partida mais comum para motores síncronos é o que usa os
enrolamentos amortecedores para que a partida se dê como se o motor fosse de indução. Este
método é o mais simples e não requer máquinas auxiliares especiais.
O principal método utilizado para partida dos motores síncronos é a partida assíncrona através da
gaiola de esquilo com o enrolamento do rotor curto-circuitado ou conectado a uma resistência
usualmente chamada resistência de partida ou resistência de descarga. Através da partida
assíncrona, o rotor acelera a uma velocidade muito próxima da velocidade síncrona, com um
pequeno escorregamento em relação ao campo girante. Neste momento, aplica-se uma corrente
contínua no enrolamento do rotor, levando o motor ao sincronismo. Nas máquinas com escovas,

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Máquinas Síncronas
utiliza-se um relé de aplicação de campo, enquanto nos motores brushless, utiliza-se um circuito
electrónico de disparo instalado junto de um disco girante. A função deste circuito electrónico e
do relé de aplicação de campo é gerir a sequência de partida do motor síncrono, desde o
fechamento (curto-circuito) do rotor até a aplicação da corrente no campo.

3.4 Características do Motor Síncrono


O motor síncrono é em todos aspectos igual a um gerador síncrono, excepto a direcção do fluxo
de potência que é oposta. Devido a inversão da direcção do fluxo de potência da máquina, pode
se esperar que a direcção do fluxo da corrente no estator do motor também se inverta. Portanto, o
circuito equivalente de um motor síncrono é exactamente igual ao circuito equivalente de um
gerador síncrono, excepto em que a direcção de referência de I está invertida (fig. 3.5). Como
mencionado antes no estudo do gerador síncrono, os enrolamentos podem estar conectados em
estrela ou em triângulo.

Figura 3.5 - Circuito equivalente por fase do motor síncrono de polos lisos.

̇ ̇ ̇ ( ) (3.1)

Em quanto o motor está funcionando em velocidade síncrona, o rotor é excitado com a corrente
directa cc e isso produz polos N e S alternos em redor da circunferência do rotor (fig. 3.6). Se
nesse instante os polos permanecem em frente de polos de polaridades opostas, no estator se cria
uma forte atracção magnética entre eles. Esta atracção mútua mantém juntos os polos do rotor e
do estator, e o rotor é literalmente obrigado a sincronizar-se com o campo giratório. Portanto, o
momento de torção desenvolvido neste instante é chamado de momento de torção de ajuste ao
sincronismo.

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Máquinas Síncronas
O torque de ajuste ao sincronismo de um motor síncrono é poderoso, pelo que a corrente
contínua de excitação deve ser aplicado no momento certo. Por exemplo, se os polos emergentes
N e S do rotor estiverem em frente aos polos do estator N e S, a repulsão magnética resultante irá
produzir um choque mecânico violento. O motor irá desacelerar imediatamente e a protecção
será activada. Na prática, os motores de arranque síncrono são projectados para detectar o
instante preciso em que excitação deve ser aplicada, e o motor acelera automaticamente e
sincroniza-se com o campo rotativo.
Quando o motor gira em velocidade síncrona, não é induzida qualquer tensão no enrolamento da
gaiola de esquilo, por isso não circula corrente. Portanto, o comportamento de um motor
síncrono é inteiramente diferente do de indução. Basicamente, um motor síncrono gira á custa da
atracção magnética entre os polos do rotor e os polos opostos do estator.
Para inverter o sentido de rotação de um motor síncrono basta simplesmente trocar a posição de
duas fases da fonte que alimenta o estator, sejam elas quaisquer.

Figura 3.6 - Posições relativas do polo do estator e do polo do rotor

3.5 Efeito da Carga Sobre os Motores Síncronos


Quando um motor síncrono funciona sem carga, os polos do rotor são directamente opostos aos
do estator e seus eixos geométricos coincidem (fig. 3.7 (a)) e o rotor engata-se magneticamente
para acompanhar o campo magnético giratório e não há variação na velocidade, isto é, continua a
girar em sincronismo com o campo girante. No entanto, se aplicarmos uma carga mecânica, os
polos do rotor ficam atrasados um pouco sobre os polos do estator, mas o rotor continua a girar
em velocidade síncrona. Portanto, o deslocamento angular dos polos do rotor em relação aos
polos do estator é chamado de ângulo de torque ou ângulo de carga α, e este ângulo mecânico
aumenta progressivamente à medida que se aumenta a carga (fig. 3.7 (b)). Não obstante, a

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atracção magnética mantém o rotor ligado ao campo rotativo e o motor desenvolve um torque ou
momento de torção (torque) cada vez mais poderosa à medida que aumenta o ângulo, mas existe
um limite. Se a carga mecânica exceder o binário ou limite crítico do motor, os polos do rotor de
repente se afastam dos polos do estator e o motor frena (detém a marcha).
Um motor que dessincroniza-se cria uma grande perturbação na rede ou na fonte que o alimenta,
e quando isso ocorre a protecção deverá ser activada. Isso protege o motor porque tanto o
enrolamento de gaiola de esquilo, como o estator ficam superaquecidos rapidamente e a máquina
pára de funcionar em velocidade síncrona.
O torque crítico depende da força magnetomotriz fmm desenvolvida pelos polos do rotor e
estator, e por sua vez a fmm dos polos do rotor depende da corrente de excitação If, enquanto a
do estator depende da corrente alternada que flui nos enrolamentos do estator. O momento de
torque crítico geralmente é 1,5 a 2,5 vezes o torque da carga total nominal.
O ângulo mecânico α entre os polos do rotor e do estator tem uma relação directa com a corrente
do estator, e á medida que o ângulo aumenta a corrente também aumenta. Isso é de se esperar
porque um ângulo maior corresponde a uma carga mecânica maior e o aumento da potência só
pode acontecer a partir da fonte alimentação trifásica ca.
Quando um motor síncrono funciona sem carga o ângulo de torque é praticamente 0º, e a força
contra-electromotriz induzida no estator pelo campo cc do rotor Vg é, desprezando as perdas do
motor, igual à tensão da rede ou fonte aplicada nos terminais Vt (figura 3.8 (a)).

(a) Sem carga. (b) Com carga.


Figura 3.7 - Posições relativas do polo do estator e do polo do rotor (campo CC).

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Figura 3.8 - Diagrama de fasores para condições de cargas diferentes e excitação de campo CC constante

Onde:
Vt → tensão aplicada nos terminais do estator ou tensão da rede eléctrica, V;
Vg → tensão induzida nos enrolamentos do estator ou força contra-electromotriz, V;
Vr → tensão resultante nos enrolamentos do estator (Vt + Vg), V;
I → corrente nos enrolamentos do estator ou corrente solicitada à rede pela carga, A;
α → desfasagem entre os pólos do estator e os pólos do rotor, ou ângulo de carga, °;
θ → desfasagem entre a tensão Vt e a corrente I solicitadas da rede, ou ângulo do factor de
potência, °,

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Máquinas Síncronas
Aumentando-se a carga e, consequentemente, o ângulo de torque, a posição da fase de Vg varia
em relação a Vt, o que permite um fluxo de corrente maior no estator para suportar a carga
adicional (figura 3.8 (b)). As tensões Vt e Vg não estão mais em sentidos opostos (180º). A sua
tensão resultante Vr faz com que uma corrente I circule nos enrolamentos do estator. A corrente
I no estator segue Vr com um desfasamento de aproximadamente 90º, devido à alta indutância
dos enrolamentos do estator.
O factor de potência do motor síncrono é determinado por θ que é o ângulo de fase entre Vt e I.
Um aumento na carga resulta em um ângulo de torque α grande, que produz um aumento de Vr e
I (figura 3.8 (c)). Se a carga mecânica for muito alta, o rotor sai de sincronismo e causa uma
paragem do motor. O valor máximo do torque que um motor síncrono pode desenvolver sem
perder o seu sincronismo é chamado de torque de perda de sincronismo. E se isso acontecer e o
motor síncrono tiver um enrolamento em gaiola (enrolamento amortecedor), ele continuará a
funcionar como um motor de indução.
Pode-se entender melhor o funcionamento de um motor síncrono referindo-se ao circuito
equivalente mostrado na figura 3.9, que representa uma fase de um motor conectado em estrela.
É idêntico ao circuito equivalente do um gerador de corrente alternada, porque ambas as
máquinas são construídas da mesma maneira. Portanto, o fluxo Φ criado pelo rotor induz uma
tensão Vg no estator, e esse fluxo depende da corrente cc de excitação If, isto é, Vg varia com a
excitação.
Como já vimos, os polos do rotor e do estator ficam alinhados sem carga. Sob essas condições, a
tensão Vg induzida estará em fase com a tensão da fonte Vt. Se for ajustada a excitação de modo
que Vg = Vt, o motor "flutua" e a corrente de linha torna praticamente nula (zero). Na verdade, a
corrente necessária é para compensar as perdas por fricção nos rolamentos e atrito do ar no
entreferro e, portanto, é insignificante.
Quando se aplica uma carga mecânica ao eixo sucede que o campo do rotor fica atrasado em um
ângulo α em relação ao campo do estator, e com esse deslocamento mecânico Vg atinge seu
valor máximo pouco mais tarde do que antes. Por causa desse deslocamento Vg ficará alguns
graus eléctricos atrás de Vt e resumindo entende-se que o deslocamento mecânico produz uma
mudança de fase eléctrica entre Vg e Vt.
O desfasamento produz uma diferença de potencial Vr através da reactância síncrona Xs dada por:
(3.2 a)

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Por conseguinte flui pelo circuito uma corrente que é dada por:
(3.2 b)

( )

Figura 3.9 - Circuito equivalente por fase de um motor síncrono com excitação

Por a reactância síncrona Xs ser indutiva, a corrente vai 90 ° atrás de Vr (note-se que Vr equivale
Ex) e o seu diagrama fasorial em carga é mostrado na figura 3.8 (b). Como I está quase em fase
com Vt, o motor absorve energia activa. Esta potência é transformada totalmente em energia
mecânica, com excepção de pequenas perdas no cobre e no ferro do estator.
Na prática, a tensão de excitação Vg é ajustada para ser maior ou menor que a tensão de
alimentação Vt, e o seu valor depende da potência de saída do motor e do factor de potência
desejado.

3.6 Potência e momento de torque


Quando um motor síncrono opera em carga, absorve uma potência activa da rede ou da fonte que
o alimenta. Essa potência é dada pela mesma equação que se utiliza quando se trata de gerador
síncrono, que é:
( )
(3.3a)

Como em caso de geradores, a potência activa absorvida pelo motor depende da tensão de
alimentação Vt, da tensão de excitação Vg e do ângulo de fase entre eles. Se omitirmos as perdas

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relativamente pequenas no ferro e as eléctricas I2R no estator, toda a energia é transmitida para o
rotor através do entreferro. Isto é semelhante a potência Pg transmitida através do entreferro do
motor de indução. No entanto, em um motor síncrono as perdas eléctricas I2R no rotor são
compensadas completamente pela fonte CC. Em consequência, toda a energia transmitida através
do entreferro é disponível em forma de potência mecânica. Assim, a potência mecânica
desenvolvida por um motor síncrono é expressa através da equação:
( )
(3.3b)

Onde: Pmec – Potência mecânica do motor por fase, em W


Vg - Tensão de fase induzida por If, em V
Vt – Tensão de fase da fonte, em V
Xs – Reactância síncrona por fase, Ω
δ – Ângulo do momento de torque (momento de torção) entre Vg e Vt (graus eléctricos)

A expressão (3.3b) indica que a potência mecânica se incrementa com o ângulo do momento de
torção, e seu valor máximo se alcança quando δ = 90°. Nessas condições os polos do rotor
estarão à metade entre os polos N e S do estator, e a potência pico Pmax por fase será dada pela
expressao:
( )
(3.3c)

Quanto ao Momento de Torque T, pode se dizer que este é directamente proporcional a potência
mecânica porque a velocidade do rotor é fixa, e este se obtém através da equação:

(3.3d)

Onde: T – momento de torque por fase, em N.m


Pmec – potência mecânica por fase, em W
N – velocidade síncrona, em rpm
9.55 – Constante, sendo seu valor exacto ⁄
O momento de torque que um motor síncrono pode desenvolver se chama momento de torque
critico ou limite, e ocorre quando δ = 90°. Note-se que à semelhança dos geradores síncronos,

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existe uma relação precisa entre o ângulo mecânico, o ângulo do momento de torque e o número
de polos da máquina, que é dada por:

(3.3e)

3.7 Excitação de Campo Usada para Alterar o Factor de Potência do Motor Síncrono
Para uma carga mecânica constante, pode-se variar o factor de potência de um motor síncrono
desde um valor indutivo até um valor capacitivo ajustando-se a sua excitação de campo cc
(figura 3.11). A excitação de campo é ajustada de modo que FP=1,0 (figura 3.11 (b)). Para a
mesma carga, quando se aumenta a excitação de campo, a força contra-electromotriz Vg aumenta.
Isto provoca uma variação na fase entre a corrente I no estator e a tensão nos terminais Vt, de
modo que o motor funciona com um factor de potência capacitivo (figura 3.11 (c)). Se a
excitação do campo cc for reduzida abaixo do valor representado no gráfico da figura 3.11 (b), o
motor funciona com um factor de potência indutivo (figura 3.11 (a)). Um exemplo de curva V
para um motor síncrono, obtida de um fabricante, mostra como a corrente do estator varia, para
uma carga constante e com a excitação do campo cc do rotor (figura 3.10). O factor de potência
também pode ser lido quando se varia a corrente de campo.

Figura 3.10 - Curvas V para um motor síncrono de 15 kVA.

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Figura 3.11 - Diagrama de fasores para condições de carga constante e excitação de campo cc variável

3.8 Correcção do Factor de Potência com a Utilização de Motores Síncronos


Os sistemas de potência de energia eléctrica são baseados não somente em potência activa (kW)
gerada, mas também no factor de potência no qual ela é fornecida. Penalidades podem ser
aplicadas ao consumidor, quando o factor de potência da carga está abaixo de valores
especificados (@ 0,8 para casos de Moçambique). Estas penalidades (multas) ocorrem devido ao
facto de que o baixo factor de potência representa um aumento da potência reactiva (kvar)

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requerida e consequentemente, um aumento da capacidade dos equipamentos de geração e
transmissão de energia eléctrica. Nas indústrias, geralmente predominam as cargas reactivas
indutivas, que são os motores de indução de pequeno porte ou de rotação baixa, as quais
requerem considerável quantidade de potência reactiva (kvar), consumida para produzir o campo
magnético dos motores. Para suprir a necessidade do consumo de potência reactiva, além da
possibilidade de utilização de bancos de capacitores, os motores síncronos são frequentemente
utilizados com esta finalidade.
O factor de potência dos motores síncronos pode ser facilmente controlado devido ao facto de
possuírem uma fonte separada de excitação CC. Desta forma, podem tanto aumentar a potência
activa sem consumo de potência reactiva (motor com factor de potência unitário), quanto gerar
um excedente de potência reactiva necessária a outras cargas (por exemplo: motor com factor de
potência 0,8 capacitivo).
Desta forma, o motor síncrono, dependendo da aplicação, pode fornecer a potência útil de
accionamento mecânico com redução benéfica da potência total do sistema, o que significa um
menor valor da conta de energia.
Uma vantagem incrível do motor síncrono é que ele pode funcionar com um factor de potência
unitário (cos θ = 1,0). Variando-se a intensidade do campo cc, o factor de potência total de um
motor síncrono pode ser ajustado ao longo de uma faixa considerável. Assim, o motor síncrono
pode simular uma carga capacitiva através da linha. Inúmeros motores síncronos são construídos
sem qualquer extensão dos eixos, ostensivamente projectados somente para correcção do factor
de potência e para serem operados sem qualquer carga mecânica. Qualquer motor síncrono
superexcitado, funcionando sem carga, pode ser classificado como compensador síncrono ou
capacitor síncrono. Se um sistema eléctrico estiver funcionando com um factor de potência
indutivo, os motores síncronos ligados através da linha e ajustados para um factor de potência
capacitivo podem melhorar (isto é, aumentar) o factor de potência do sistema. Qualquer melhoria
no factor de potência aumenta a capacidade de fornecimento de carga, aumenta a eficiência e, em
geral, melhora as características de funcionamento do sistema.

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Máquinas Síncronas

I. Referências bibliográficas dos temas


KOSOW, Irving L. Maquinas eléctricas e transformadores. São Paulo: Globo, 1995
HENRIQUE, Hélio. Apostilha de Geradores de Corrente alterna. IFRN - Campus Mossoró,
WILDI, Theodore. Máquinas Eléctricas y Sistemas de Potência. 6ª Edição. México, 2007
CHAPMAN, Stephen J. Máquinas Eléctricas. 5ª edição. McGraw Hill. México, 2012
FREITAS Jr, L.C. & SILVA, R. S. Máquinas Eléctricas. Editora e distribuidora educacional SA,
2018
NASAR, S. A. & UNNEWEHR, L.E. Electromecânica y Máquinas Eléctricas. Editora Limusa,
México
MORA, Jesus Fraile. Máquinas Eléctricas, 6ª Edição. McGrawHill

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