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Selênio Feio da Silva (1); Evaristo Clementino Rezende dos Santos Júnior(2); Alexandre Andrade
Brandão Soares (3); Felipe Rodrigues Ribeiro (4); Jeferson de Oliveira Bezerra (5)
(1) Graduado em Engenharia Civil – UFPA; Mestrado em Estruturas – UnB; Doutorado em Estruturas e
Construção Civil – UnB
(2) Graduado em Engenharia Civil – UNAMA; Mestrado em Estruturas e Construção Civil – UnB
(3) Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Civil – UNAMA
(4) Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Civil – UNAMA
(5) Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Civil – UNAMA
Travessa do Chaco, nº729, apto. 503 – Belém. CEP: 66087080 - evaristorezende@gmail.com
Resumo
As avaliações sísmicas de segurança de barragens são conduzidas em fases progressivas; cada fase
sucessiva pode requerer um nível diferente de análise. O nível apropriado da análise deve ser baseado na
classificação da conseqüência de uma falha na barragem, na severidade do movimento de terra, e na
configuração da barragem. Este artigo apresenta uma modificação proposta ao Método do Coeficiente
Sísmico, através de uma aproximação analítica proposta para o cálculo da pressão hidrodinâmica, para
uma avaliação sísmica preliminar de segurança em barragens de concreto gravidade. O método consiste na
determinação de forças de inércia na barragem e do efeito das pressões hidrodinâmicas do reservatório. Os
resultados obtidos são utilizados na análise da estabilidade sísmica de uma seção típica de barragem.
Palavra-Chave: Análise de Tensões. Pseudo-Estático. UHE Tucuruí. Coeficientes de Estabilidade.
Abstract
Seismic safety assessments are normally conducted in progressive phases; each successive phase may
require a different level of analysis. The appropriate level of analysis should be based on the consequence
classification of the dam, the severity of ground motion, and the dam configuration. This paper presents a
modified approach to the Seismic Coefficient Method, a through an analytical approach proposed for
calculating the hydrodynamic pressure including water compressibility, for a simplified seismic safety
evaluation in concrete dams. Its consist of determination of inertia forces on the dam and the effect of
hydrodynamic pressures from the reservoir. The results are used in the analysis of the seismic stability of a
typical section of the dam.
Keywords: Analysis of Stresses. Pseudo-Static. UHE Tucuruí. Coefficient of Stability.
2 Método Pseudo-Estático
O Método Pseudo-Estático ou Método do Coeficiente Sísmico corresponde a uma das
formas de análise sísmica de barragens. Neste nível de análise as forças de inércia
induzidas pelo sismo são calculadas como o produto entre a massa e a aceleração da
estrutura (suposta uniforme ao longo da altura da barragem). A amplificação dinâmica das
forças de inércia ao longo da altura da barragem, devido à flexibilidade da estrutura, não é
considerada. LECRERC et al. (2000) considera o sistema Barragem–Reservatório–
Fundação (BRF) como um corpo rígido, com um período de vibração igual a zero. Estas
considerações permitem determinar o campo de pressões hidrodinâmicas que surgem
devido ao movimento de corpo rígido da barragem. WESTERGAARD (1933) demonstrou
analiticamente, através da solução da equação de Laplace, a distribuição de pressões ao
longo da interface fluido-estrutura, para um movimento translacional de uma fronteira
rígida em um fluido incompressível (Figura 3). Seus resultados levaram a uma distribuição
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parabólica de pressões, proporcional à aceleração do sismo, e atuante na interface fluido-
estrutura ao longo da altura da barragem. As forças que surgem devido ao sismo (forças
hidrodinâmicas e de inércia) podem então ser combinadas para uma análise estática
equivalente de tensões e estabilidade sísmica.
BARRAGEM
RESERVATÓRIO
S4: p=0
p V
S1:
n
g 2 p x, y 0 S3: p=0 H
y
S2:
p
x
n
V
g
Figura 3: Barragem Rígida em um Fluido Incompressível. (Fonte: SILVA et al. (2009))
As principais limitações deste método surgem da não consideração: da elasticidade da
estrutura, da variação da aceleração da fundação com o tempo, da capacidade de
amortecimento da estrutura e da alternância e características de curta duração da carga
sísmica (PRISCU (1985)). Adicionalmente este método não leva em consideração os
efeitos de compressibilidade do fluido. Por desconsiderar a elasticidade da estrutura, uma
análise Pseudo-Estática torna-se adequada caso a barragem possa ser tratada como um
corpo rígido. A desconsideração da variação da aceleração da fundação com o tempo
limita o método a análises através de coeficientes sísmicos, que definem a aceleração
local a ser utilizada em projeto. Este procedimento torna as análises independentes das
características particulares de cada sismo. A alternância e característica de curta duração
da carga sísmica são consideradas apenas em níveis de análise dinâmica, que possam
representar variações da resposta ao longo do tempo. A desconsideração da capacidade
de amortecimento da estrutura impede uma representação mais realista do sistema físico
envolvido. Entretanto, segundo Priscu (1985), apesar de todas estas desvantagens o
método ainda continua sendo empregado devido ao seu caráter simplificado e rotineiro.
Em aplicações práticas, inicialmente se faz uma análise com modelos lineares
simplificados para avaliação de forças de inércia, interação Barragem–Reservatório–
Fundação (BRF) e mecanismos resistentes da barragem, de modo a verificar as
exigências de desempenho. Nesta fase procura-se avaliar o aumento relativo das tensões
com a adição das cargas sísmicas e uma estimativa refinada da distribuição de tensões
não é necessária. Nestas condições o primeiro método de análise geralmente utilizado é o
pseudo-estático (coeficiente sísmico).
Este estudo faz uma adaptação, através da utilização de uma formulação aproximada
proposta para o cálculo da pressão hidrodinâmica, ao Método do Coeficiente Sísmico.
Portanto, este trabalho tem por objetivo ilustrar de uma forma simples, através de um
estudo de caso (perfil típico aproximado da barragem de Tucuruí), as alterações
introduzidas na barragem (em termos de tensões) e a determinação dos coeficientes de
estabilidade sísmica, quando um sismo se faz presente, mostrando as modificações
introduzidas nas grandezas características do problema por este tipo de solicitação.
(Equação 2)
Aproximação analítica (Westergaard)
(Equação 3)
No caso de incompressibilidade do fluido c , a Equação 1 se torna a equação de
Laplace (LAMB (1945)).
(Equação 4)
Baseando-se na idéia proposta por WESTERGAARD (1933), de uma formulação
aproximada para o cálculo da pressão hidrodinâmica, e através da experiência de outras
pesquisas com traçados de gráficos de funções e ainda da observação do comportamento
gráfico da pressão hidrodinâmica exata na face da barragem ao longo da altura, SILVA
(2006) propôs uma função de aproximação para a pressão hidrodinâmica na face da
barragem:
(Equação 5)
A equação 5 corresponde à aproximação analítica proposta para o cálculo da pressão
hidrodinâmica na face da barragem. A análise comparativa das expressões obtidas para a
pressão hidrodinâmica é exibida na tabela 1. O símbolo εR corresponde ao erro relativo
percentual (equação 6).
(Equação 6)
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Tabela 1: Pressão hidrodinâmica: solução exata (em séries), aproximação analítica (Westergaard),
aproximação analítica (proposta). (Fonte: Modificada de SILVA, SOUZA & PEDROSO (2006)).
Pressão Hidrodinâmica adimensional:
Aproxim. Analítica Aproxim. Analítica
Solução Exata (em séries)
(Westergaard) (proposta)
0.0 0.7425 0.8750 (εR =17.85 %) 0.7692 (εR =3.60 %)
0.1 0.7374 0.8301 (εR =12.57 %) 0.7500 (εR =1.71 %)
0.2 0.7223 0.7826 (εR =8.35 %) 0.7273 (εR =0.69 %)
0.3 0.6966 0.7321 (εR =5.10 %) 0.7000 (εR =0.49 %)
0.4 0.6596 0.6778 (εR =2.76 %) 0.6667 (εR =1.08 %)
0.5 0.6103 0.6187 (εR =1.38 %) 0.6250 (εR =2.41 %)
0.6 0.5467 0.5534 (εR =1.23 %) 0.5714 (εR =4.52 %)
0.7 0.4659 0.4793 (εR =2.88 %) 0.5000 (εR =7.32 %)
0.8 0.3627 0.3913 (εR =7.89 %) 0.4000 (εR =10.28 %)
0.9 0.2256 0.2767 (εR =22.65 %) 0.2500 (εR =10.82 %)
1.0 0.0000 0.0000 (εR =0.00 %) 0.0000 (εR =0.00 %)
5 Estudo de Caso
MELO & PEDROSO (2005), estabelece que as relações entre os esforços atuantes no
corpo da barragem e as tensões desenvolvidas no maciço será analisado um perfil de
largura unitária pela teoria geral de vigas (Figura 7).
15. 865 m
86. 865 m
0. 71
2m
71. 427 m
Tabela 3: Sumário dos principais parâmetros para o cálculo das forças estáticas. (Fonte: SILVA &
PEDROSO, (2005)).
Esforço Parâmetro
Peso próprio c = 23.544 kN/m3
Força hidrostática do reservatório a = 9.81 kN/m3
aH de montante variando linearmente até jusante,
Subpressão na base
onde seu valor é zero
Redução da sub-pressão Dreno localizado a 2.00 m do paramento de
XW
C
HS YW
YS
W
L
C
U
XU
b) Pressão Hidrostática:
(Equação 13)
c) Subpressão:
(Equação 14)
Em resumo:
Tabela 4: Esforços na seção da base. (Fonte: SILVA et al. (2009)).
Distância do esforço ao
Esforços estático Momento gerado
centro
Peso próprio: 993 505.50 kN.m
A força de inércia da barragem (EQH e EQV), por metro de barragem, é calculada como
sendo o peso do perfil vezes a aceleração do sismo na direção considerada, ou seja:
(Equação 16)
(Equação 17)
Figura 10: Forças provocadas pelo sismo.(Fonte: SILVA & PEDROSO, (2005)).
O efeito das forças sísmicas na estrutura pode ser computado no cálculo das novas
tensões e parâmetros de segurança. O sinal positivo antes das forças sísmicas
horizontais indica força aplicada na direção da barragem para o reservatório, enquanto o
sinal negativo indica o sentido contrário. Para a força sísmica vertical (EQV) o sinal
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positivo indica força na mesma direção da força peso da barragem (para baixo), enquanto
que o sinal negativo o sentido contrário.
Será feito um estudo de parâmetros que serão indicados na tabela 7. Os esforços Rh e Rv
correspondem a resultante horizontal e vertical, respectivamente; Me é o momento
resultante na metade da base; as tensões normais verticais são calculadas pela
expressão:
(Equação 18)
Onde:
é a inclinação da face a jusante.
(Equação 23)
(Equação 24)
(Equação 25)
(Equação 26)
Tabela 9: Avaliação de momentos à montante – análise das estabilidades.(Fonte: SILVA & PEDROSO,
(2005)).
Momento à montante
Momento Momento ao
(W+HS+U) (EQH+Hd) EQV
resistente tombamento
1.0 0 0 Mr = MHs + MW Mt = MU
Mr = MHs + MW + MEQH+Hd +
1.0 + 1.0 + 0.3 Mt = MU
0.3MEQV
1.0 - 1.0 + 0.3 Mr = MHs + MW + 0.3MEQV Mt = MU + MEQH+Hd
1.0 + 1.0 - 0.3 Mr = MHs + MW + MEQH+Hd Mt = MU + 0.3MEQV
Mt = MU + MEQH+Hd +
1.0 - 1.0 - 0.3 Mr = MHs + MW
0.3MEQV
6 Conclusão
Apesar do Brasil por muito tempo ser considerado assísmico, hoje em dia sabe-se que
ocorrem todos os dias pequenos tremores de terra que são registrados por sismógrafos
nacionais. Por este motivo torna-se necessário a consideração de tensões produzidas
pela ação do sismo;
Tanto a aproximação analítica de Westergaard, quanto a aproximação analítica proposta,
fornecem bons resultados, para a pressão hidrodinâmica, quando comparadas às
soluções exatas em séries (Tabela 1 e Figura 4);
Para as alturas entre y=0 (base) e y=40%H, e em y=90%H, a aproximação analítica
proposta para a pressão hidrodinâmica é a que mais se aproxima da solução exata
(Tabela 1);
Ao comparar os resultados da “Tabela 10” com os coeficientes de segurança dados pelo
CDA-1999, verifica-se que o perfil adotado atende na maioria dos casos as exigências
das normas, caracterizando com isto um perfil corretamente projetado, aspecto que
poderia preliminarmente (sob reservas) permitir inferências positivas para um caso como
o da barragem em análise.
7 Referências
ELETRONORTE. Tucuruí. Disponível em: <http://www.eln.gov.br>. Acesso em: 3 dez.
2009.
LECRERC, M., LÉGER, P. and TINAWI, R. (2000) – “CADAM 2000 user’s manual.”
Versão 1.0.1. Montreal: École Polytechnique de Montreal.
SILVA, S. F.; SANTOS JUNIOR, E. C. R.; SOARES, A. A. B.; RIBEIRO, F. R., Uma
Modificação ao Método Pseudo-Estático Através de uma aproximação Analítica Proposta
a Pressão Hidrodinâmica. Revista Traços, v.11, n. 24, pág. 47 - 59, 2010.