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Análise estrutural em barragens gravidade de concreto: Método

pseudo-estático, estudo de caso UHE Tucuruí


Structural Analysis in concrete gravity dams: pseudo-static method, case study UHE
Tucuruí

Selênio Feio da Silva (1); Evaristo Clementino Rezende dos Santos Júnior(2); Alexandre Andrade
Brandão Soares (3); Felipe Rodrigues Ribeiro (4); Jeferson de Oliveira Bezerra (5)

(1) Graduado em Engenharia Civil – UFPA; Mestrado em Estruturas – UnB; Doutorado em Estruturas e
Construção Civil – UnB
(2) Graduado em Engenharia Civil – UNAMA; Mestrado em Estruturas e Construção Civil – UnB
(3) Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Civil – UNAMA
(4) Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Civil – UNAMA
(5) Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Civil – UNAMA
Travessa do Chaco, nº729, apto. 503 – Belém. CEP: 66087080 - evaristorezende@gmail.com

Resumo
As avaliações sísmicas de segurança de barragens são conduzidas em fases progressivas; cada fase
sucessiva pode requerer um nível diferente de análise. O nível apropriado da análise deve ser baseado na
classificação da conseqüência de uma falha na barragem, na severidade do movimento de terra, e na
configuração da barragem. Este artigo apresenta uma modificação proposta ao Método do Coeficiente
Sísmico, através de uma aproximação analítica proposta para o cálculo da pressão hidrodinâmica, para
uma avaliação sísmica preliminar de segurança em barragens de concreto gravidade. O método consiste na
determinação de forças de inércia na barragem e do efeito das pressões hidrodinâmicas do reservatório. Os
resultados obtidos são utilizados na análise da estabilidade sísmica de uma seção típica de barragem.
Palavra-Chave: Análise de Tensões. Pseudo-Estático. UHE Tucuruí. Coeficientes de Estabilidade.

Abstract
Seismic safety assessments are normally conducted in progressive phases; each successive phase may
require a different level of analysis. The appropriate level of analysis should be based on the consequence
classification of the dam, the severity of ground motion, and the dam configuration. This paper presents a
modified approach to the Seismic Coefficient Method, a through an analytical approach proposed for
calculating the hydrodynamic pressure including water compressibility, for a simplified seismic safety
evaluation in concrete dams. Its consist of determination of inertia forces on the dam and the effect of
hydrodynamic pressures from the reservoir. The results are used in the analysis of the seismic stability of a
typical section of the dam.
Keywords: Analysis of Stresses. Pseudo-Static. UHE Tucuruí. Coefficient of Stability.

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1 Atividade sísmica: generalidades
A atividade sísmica mundial, através das concentrações dos epicentros delimita áreas da
superfície terrestre como se fossem as peças de um quebra cabeça. A distribuição dos
sismos é uma das maiores evidências dos limites destas peças, chamadas placas
tectônicas.
O restante da Terra é considerada como sendo assísmica. Entretanto, nenhuma região da
Terra pode ser considerada como completamente livre de terremotos. Até pouco tempo
atrás o Brasil era considerado assísmico devido a dois fatos: a falta de registro e
divulgação por estações sismográficas nacionais e por ele estar localizado no centro da
placa Sul-Americana, conseqüentemente longe das atividades geológicas das bordas das
placas.
Com inicio na década de 60 o monitoramento sísmico brasileiro (figura 1) mostrou que,
apesar de baixa, a sismicidade brasileira não pode ser desprezada, pois todos os dias
pequenas movimentações são registradas pelos sismógrafos nacionais (MELO &
PEDROSO (2005)).

Figura 1: Mapa da sismicidade natural brasileira. (Observatório Sismológico – UnB (2009))


Portanto, algumas obras de segurança nacional, como as barragens, se utilizam de
estudos mais aprofundados que levam em consideração as tensões produzidas pela ação
do sismo. Durante a análise SILVA et al. (2009), determinaram coeficientes de segurança
como os de tombamento, flutuação e deslizamento a partir da aceleração do solo que um
sismo produz.
A maioria das estruturas, na Engenharia Civil, são apenas elementos (partes) de um
sistema maior, chamado de sistema global, composto por vários elementos ou
subsistemas (Figura 2).

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Figura 2: Sistema global e subsistemas (Fonte: RIBEIRO, (2006))
Quando submetidas a carregamentos dinâmicos, estas estruturas interagem com os
outros elementos do sistema global, estabelecendo assim uma transferência mútua de
energia vibratória. A influência desta interação, no comportamento dinâmico da estrutura,
é determinada pelas propriedades mecânicas de todos os subsistemas do sistema global,
pelo mecanismo de interação e pelo tipo de carregamento dinâmico. Segundo RIBEIRO
(2006), as barragens pertencem exatamente a esta categoria de estrutura.
Cinco níveis de análise são definidos em função do grau de complexidade do fenômeno
envolvido na interação do sistema barragem-reservatório-fundação (BRF), dos
procedimentos de modelização do sistema em questão e da representação do movimento
sísmico, a saber:
1. Análise preliminar (Nível 0);
2. Método Pseudo-Estático ou Método do Coeficiente Sísmico (nível I);
3. Método Pseudo-Dinâmico ou Método de Chopra ou Resposta Espectral (Nível II);
4. Análise da história linear no tempo ou no domínio da freqüência (Nível III);
5. Análise da história não linear no tempo (Nível IV).
Numa metodologia progressiva para avaliação da segurança sísmica de barragens
concreto gravidade, a escolha do método mais apropriado de análise depende
principalmente da severidade do sismo esperado na área, da importância da estrutura e
de suas conseqüências (danos e falhas), das propriedades mecânicas iniciais e das
condições estruturais da barragem, da precisão demandada pela análise e (até certo
ponto) da vida útil que ainda resta à estrutura (MELO & PEDROSO (2005)).

2 Método Pseudo-Estático
O Método Pseudo-Estático ou Método do Coeficiente Sísmico corresponde a uma das
formas de análise sísmica de barragens. Neste nível de análise as forças de inércia
induzidas pelo sismo são calculadas como o produto entre a massa e a aceleração da
estrutura (suposta uniforme ao longo da altura da barragem). A amplificação dinâmica das
forças de inércia ao longo da altura da barragem, devido à flexibilidade da estrutura, não é
considerada. LECRERC et al. (2000) considera o sistema Barragem–Reservatório–
Fundação (BRF) como um corpo rígido, com um período de vibração igual a zero. Estas
considerações permitem determinar o campo de pressões hidrodinâmicas que surgem
devido ao movimento de corpo rígido da barragem. WESTERGAARD (1933) demonstrou
analiticamente, através da solução da equação de Laplace, a distribuição de pressões ao
longo da interface fluido-estrutura, para um movimento translacional de uma fronteira
rígida em um fluido incompressível (Figura 3). Seus resultados levaram a uma distribuição
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parabólica de pressões, proporcional à aceleração do sismo, e atuante na interface fluido-
estrutura ao longo da altura da barragem. As forças que surgem devido ao sismo (forças
hidrodinâmicas e de inércia) podem então ser combinadas para uma análise estática
equivalente de tensões e estabilidade sísmica.
BARRAGEM
RESERVATÓRIO

S4: p=0

 p   V
S1:
n
g  2 p  x, y   0 S3: p=0 H

y
S2:   
p
x
n
V
g
Figura 3: Barragem Rígida em um Fluido Incompressível. (Fonte: SILVA et al. (2009))
As principais limitações deste método surgem da não consideração: da elasticidade da
estrutura, da variação da aceleração da fundação com o tempo, da capacidade de
amortecimento da estrutura e da alternância e características de curta duração da carga
sísmica (PRISCU (1985)). Adicionalmente este método não leva em consideração os
efeitos de compressibilidade do fluido. Por desconsiderar a elasticidade da estrutura, uma
análise Pseudo-Estática torna-se adequada caso a barragem possa ser tratada como um
corpo rígido. A desconsideração da variação da aceleração da fundação com o tempo
limita o método a análises através de coeficientes sísmicos, que definem a aceleração
local a ser utilizada em projeto. Este procedimento torna as análises independentes das
características particulares de cada sismo. A alternância e característica de curta duração
da carga sísmica são consideradas apenas em níveis de análise dinâmica, que possam
representar variações da resposta ao longo do tempo. A desconsideração da capacidade
de amortecimento da estrutura impede uma representação mais realista do sistema físico
envolvido. Entretanto, segundo Priscu (1985), apesar de todas estas desvantagens o
método ainda continua sendo empregado devido ao seu caráter simplificado e rotineiro.
Em aplicações práticas, inicialmente se faz uma análise com modelos lineares
simplificados para avaliação de forças de inércia, interação Barragem–Reservatório–
Fundação (BRF) e mecanismos resistentes da barragem, de modo a verificar as
exigências de desempenho. Nesta fase procura-se avaliar o aumento relativo das tensões
com a adição das cargas sísmicas e uma estimativa refinada da distribuição de tensões
não é necessária. Nestas condições o primeiro método de análise geralmente utilizado é o
pseudo-estático (coeficiente sísmico).
Este estudo faz uma adaptação, através da utilização de uma formulação aproximada
proposta para o cálculo da pressão hidrodinâmica, ao Método do Coeficiente Sísmico.
Portanto, este trabalho tem por objetivo ilustrar de uma forma simples, através de um
estudo de caso (perfil típico aproximado da barragem de Tucuruí), as alterações
introduzidas na barragem (em termos de tensões) e a determinação dos coeficientes de
estabilidade sísmica, quando um sismo se faz presente, mostrando as modificações
introduzidas nas grandezas características do problema por este tipo de solicitação.

3 Formulação Proposta Para o Método Pseudo-Estático

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O problema geral de mecânica dos fluidos que envolvem a questão possui três variáveis a
serem determinadas: a densidade (), a pressão (p) e a velocidade (V). Para a solução do
problema são necessárias três equações fundamentais: equação da continuidade,
equação de quantidade de movimento e equação de estado. A solução destas equações
gerais, no entanto, é difícil e algumas hipóteses simplificadoras devem ser utilizadas para
se obter uma solução fechada para o problema, sendo elas: fluido não viscoso,
homogêneo e incompressível; escoamento irrotacional; pequenos deslocamentos em
torno da posição de equilíbrio (fluido acústico); pequenas inclinações das ondas de
superfície; não há descontinuidade do meio (fontes e sumidouros); reservatório de
paredes rígidas.
Aplicando-se estas hipóteses às equações gerais e eliminando-se a velocidade, chega-se
a equação da onda dada em termos das pressões (p):
(Equação 1)
Onde:
p é a pressão hidrodinâmica;
c é a velocidade do som no meio fluido;
é o operador de derivada espacial.
A pressão hidrodinâmica na face da barragem , que resulta do movimento de uma
estrutura e condições de contorno definidas (Figura 3) apresenta a seguinte solução,
segundo SILVA & PEDROSO (2005):
 Solução Exata (em séries):

(Equação 2)
 Aproximação analítica (Westergaard)

(Equação 3)
No caso de incompressibilidade do fluido c   , a Equação 1 se torna a equação de
Laplace (LAMB (1945)).
(Equação 4)
Baseando-se na idéia proposta por WESTERGAARD (1933), de uma formulação
aproximada para o cálculo da pressão hidrodinâmica, e através da experiência de outras
pesquisas com traçados de gráficos de funções e ainda da observação do comportamento
gráfico da pressão hidrodinâmica exata na face da barragem ao longo da altura, SILVA
(2006) propôs uma função de aproximação para a pressão hidrodinâmica na face da
barragem:

(Equação 5)
A equação 5 corresponde à aproximação analítica proposta para o cálculo da pressão
hidrodinâmica na face da barragem. A análise comparativa das expressões obtidas para a
pressão hidrodinâmica é exibida na tabela 1. O símbolo εR corresponde ao erro relativo
percentual (equação 6).
(Equação 6)
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Tabela 1: Pressão hidrodinâmica: solução exata (em séries), aproximação analítica (Westergaard),
aproximação analítica (proposta). (Fonte: Modificada de SILVA, SOUZA & PEDROSO (2006)).
Pressão Hidrodinâmica adimensional:
Aproxim. Analítica Aproxim. Analítica
Solução Exata (em séries)
(Westergaard) (proposta)
0.0 0.7425 0.8750 (εR =17.85 %) 0.7692 (εR =3.60 %)
0.1 0.7374 0.8301 (εR =12.57 %) 0.7500 (εR =1.71 %)
0.2 0.7223 0.7826 (εR =8.35 %) 0.7273 (εR =0.69 %)
0.3 0.6966 0.7321 (εR =5.10 %) 0.7000 (εR =0.49 %)
0.4 0.6596 0.6778 (εR =2.76 %) 0.6667 (εR =1.08 %)
0.5 0.6103 0.6187 (εR =1.38 %) 0.6250 (εR =2.41 %)
0.6 0.5467 0.5534 (εR =1.23 %) 0.5714 (εR =4.52 %)
0.7 0.4659 0.4793 (εR =2.88 %) 0.5000 (εR =7.32 %)
0.8 0.3627 0.3913 (εR =7.89 %) 0.4000 (εR =10.28 %)
0.9 0.2256 0.2767 (εR =22.65 %) 0.2500 (εR =10.82 %)
1.0 0.0000 0.0000 (εR =0.00 %) 0.0000 (εR =0.00 %)

A figura 4 representa o comportamento da pressão hidrodinâmica na face da barragem ao


longo da altura y (em y=0, tem-se a base da barragem).

Figura 4: Pressão hidrodinâmica na face da barragem ao longo da altura p(0,y/H).(Fonte: Modificada de


SILVA, SOUZA & PEDROSO (2006)).
A partir dos resultados obtidos, tanto a aproximação analítica de Westergaard, quanto a
aproximação analítica proposta, fornece bons resultados para a pressão hidrodinâmica
quando comparadas às soluções exatas em séries (Figura 4 e Tabela 1).
As curvas de pressão hidrodinâmica na face da barragem, obtidas pela função de
aproximação analítica de Westergaard e pela função de aproximação analítica proposta
por SILVA (2007), são a favor da segurança em relação à solução exata em séries.
Resultados estes que qualificam suas utilizações para as finalidades práticas em projetos
de engenharia.
Após a validação da formulação 5, é possível determinar a força hidrodinâmica (equação
7) que atua sobre a barragem na ocorrência de um sismo. Essa determinação é possível
com a integração da pressão hidrodinâmica ao longo da altura da barragem (H).
(Equação 7)

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Através da força hidrodinâmica é possível calcular as tensões que atuam na
barragem, juntamente com a análise da estabilidade mediante o cálculo dos coeficientes
de segurança.

4 Histórico UHE de Tucuruí


A Usina Hidroelétrica (UHE) de Tucuruí (Figura 6) está localizada a aproximadamente
400 km de Belém, no município de Tucuruí, sudoeste do estado do Pará.
Sua construção foi iniciada em 1976. A obra principal, sendo uma barragem de terra,
quebrou todos os recordes mundiais de terraplenagem da época. Pode-se destacar
ainda as obras da casa de força, do vertedouro (o maior do mundo), da eclusa e da
grande linha de transmissão que interliga Tucuruí à usina hidroelétrica de Sobradinho no
Nordeste do Brasil.
A 1ª etapa da usina, com 4 000 MW de potência, foi inaugurada em 22 de Novembro de
1984 pelo presidente João Batista de Oliveira Figueiredo (Figura 5). Segundo a
ELETRONORTE (2009), a construção da segunda etapa da usina elevou a capacidade
final instalada de aproximadamente de 8 000 MW, em meados de 2007.
A ELETRONORTE (2009) apresenta a barragem com um vertedouro composto de 23
blocos dotados de comportas de 20 metros x 21 metros, com capacidade de vazão de
110 000 m³/s, sendo assim, na época, o maior do mundo.

Figura 6: Vista da barragem da Usina Hidroelétrica de Tucuruí.(Fonte: Arquivo Pessoal).

5 Estudo de Caso
MELO & PEDROSO (2005), estabelece que as relações entre os esforços atuantes no
corpo da barragem e as tensões desenvolvidas no maciço será analisado um perfil de
largura unitária pela teoria geral de vigas (Figura 7).

Figura 7: Seção Transversal 3D.(Fonte: Modificado de MELO & PEDROSO, (2005)).


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O perfil de barragem estudado é mostrado na figura 8; possui altura de 86.865 m e largura
da base de 71.427 m, tendo, portanto uma relação base altura de 82%, com uma crista de
20.851 m de largura. A barragem é de concreto gravidade. Essas dimensões aproximam-
se de um perfil típico da usina hidroelétrica (Tucuruí).
20. 851 m

15. 865 m
86. 865 m

0. 71

2m

71. 427 m

Figura 8: Perfil teórico da barragem em estudo.(Fonte: SILVA & PEDROSO,(2005)).

Os parâmetros de resistência a serem utilizados no cálculo do Coeficiente de Segurança


ao Deslizamento estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Propriedades de resistência dos materiais na base da barragem (interface com a


fundação).(Fonte: SILVA & PEDROSO, (2005)).
Ângulo de atrito (p) 55°
Valores de pico
Adesão (ca) 100 kPa
Ângulo de atrito (res) 40°
Valores residuais
Adesão (ca) 50 kPa

Para a determinação dos carregamentos atuantes (peso próprio, força hidrostática e


subpressão) é necessária a adoção de valores médios para densidades do concreto e da
água, além da posição do dreno, assim como a lei de distribuição das pressões nas juntas
de fissuração e interface barragem-fundação.

Tabela 3: Sumário dos principais parâmetros para o cálculo das forças estáticas. (Fonte: SILVA &
PEDROSO, (2005)).
Esforço Parâmetro
Peso próprio c = 23.544 kN/m3
Força hidrostática do reservatório a = 9.81 kN/m3
aH de montante variando linearmente até jusante,
Subpressão na base
onde seu valor é zero
Redução da sub-pressão Dreno localizado a 2.00 m do paramento de

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na base montante. Redução baseada no CDSA-ACSB (1995)
com eficiência de 67% (K2 = 33%)

5.1 Análise Estática


Utilizando os parâmetros descritos anteriormente, Tabela 2 e Tabela 3, pode-se obter
analiticamente os esforços atuantes na seção horizontal da base da barragem (interface
barragem-fundação). Esses valores estão apresentados na Tabela 4 e são resultados da
utilização de um procedimento manual, descrito passo-a-passo a seguir, com base na
ilustração da figura 9.

XW

C
HS YW

YS
W
L
C

U
XU

Figura 9: Esforços estáticos atuantes.(Fonte: SILVA & PEDROSO, (2005)).

► Peso próprio: W (Equação 8)

► Força Hidrostática: HS (Equação 9)

► Sub-pressão: U (Equação 10)

► Momento no Centro da Seção: M


■ Centro de Massa:

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a) Peso:
(Equação 11); (Equação 12)

b) Pressão Hidrostática:
(Equação 13)

c) Subpressão:
(Equação 14)

Em resumo:
Tabela 4: Esforços na seção da base. (Fonte: SILVA et al. (2009)).
Distância do esforço ao
Esforços estático Momento gerado
centro
Peso próprio: 993 505.50 kN.m

Força hidrostática: 1 071 838.56 kN.m

Subpressão: 142 776.90 kN.m

Momento no centro da seção: M= +142 776.90 + 1 071 838.56 – 993 505.50

A partir desses dados e dos parâmetros de resistência, Tabela 4, pode-se determinar


alguns indicadores que caracterizam a estabilidade da estrutura, tais como as tensões
estáticas e coeficientes de segurança ao deslizamento, tombamento e flutuação.

5.2 Aplicação do Método


A análise sísmica pseudo-estática consiste em calcular duas forças que ocorrem na
barragem, a força hidrodinâmica do reservatório e a força de inércia da estrutura. A partir
desse cálculo novos parâmetros de segurança são calculados devido à nova configuração
de estabilidade da estrutura. Os dados do terremoto estudado nessa estrutura estão
descritos na Tabela 5, que são um pouco exagerados para o caso Brasileiro.

Tabela 5: Dados do sismo estudado. (Fonte: SILVA & PEDROSO, (2005)).


Esforços Valor
Horizontal 0.150 g
Acelerações de pico
Vertical 0.100 g
Horizontal 0.075 g
Acelerações de sustentação
Vertical 0.050 g

As acelerações de pico são utilizadas na análise de tensões enquanto as acelerações de


sustentação são usadas na análise de estabilidade global. A pressão hidrodinâmica do
reservatório é calculada, no método pseudo-estático, em função da aceleração horizontal
do solo (AH) e altura da barragem (h), através da equação 15:
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(Equação 15)

A força de inércia da barragem (EQH e EQV), por metro de barragem, é calculada como
sendo o peso do perfil vezes a aceleração do sismo na direção considerada, ou seja:

(Equação 16)
(Equação 17)

V é o volume do perfil da barragem; c é o peso específico do concreto; e AH é a


aceleração horizontal do sismo e AV é a aceleração vertical do sismo. As forças Hd, EQH
e EQV possuem natureza oscilatória, o método Pseudo-Estático não considera este
efeito. Na prática o que é feito é uma combinação das forças usuais (peso próprio, força
hidrostática e subpressão) com as forças provocadas pelo sismo (Hd, EQH e EQV). Os
coeficientes de combinação entre as forças sísmicas horizontais (Hd e EQH) e as forças
sísmicas verticais (EQV) são “1.0” e “0.3”, respectivamente, [28], representados na Figura
10.

Figura 10: Forças provocadas pelo sismo.(Fonte: SILVA & PEDROSO, (2005)).

As combinações e os coeficientes aparecem na tabela 6. Como o estudo aqui efetuado


envolve uma análise da estabilidade global do perfil usam-se as acelerações de
sustentação horizontal e vertical. Seus valores são da ordem de 0.05g a 0.075g, onde “g”
é a aceleração da gravidade (SILVA (2005)).

Tabela 6: Combinações de carregamentos.(Fonte: SILVA & SILVA, (2006)).


Forças Sísmicas Forças Sísmicas
Forças Estáticas
Horizontais Verticais
(W+Hs+U)
(EQH+Hd) (EQV)
Combinação I 1.00 0 0
Combinação II 1.00 1.00 0.3
Combinação III 1.00 1.00 0.3
Combinação IV 1.00 1.00 0.3
Combinação V 1.00 1.00 0.3

O efeito das forças sísmicas na estrutura pode ser computado no cálculo das novas
tensões e parâmetros de segurança. O sinal positivo antes das forças sísmicas
horizontais indica força aplicada na direção da barragem para o reservatório, enquanto o
sinal negativo indica o sentido contrário. Para a força sísmica vertical (EQV) o sinal
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positivo indica força na mesma direção da força peso da barragem (para baixo), enquanto
que o sinal negativo o sentido contrário.
Será feito um estudo de parâmetros que serão indicados na tabela 7. Os esforços Rh e Rv
correspondem a resultante horizontal e vertical, respectivamente; Me é o momento
resultante na metade da base; as tensões normais verticais são calculadas pela
expressão:
(Equação 18)

Sendo Ac a área do fundo da barragem em contato com o solo, y é a distância do ponto,


onde o momento atua, até um dos extremos da base da barragem (ou seja, metade da
base) e corresponde ao momento de inércia no fundo da barragem na análise de 1m de
barragem.
As tensões principais podem ser calculadas pela expressão:
(Equação 19)

Onde:
é a inclinação da face a jusante.

O parâmetro “ec” corresponde a uma excentricidade em relação à metade da base:


(Equação 20)

As tensões cisalhantes são obtidas pelas seguintes expressões:


(Equação 21)
(Equação 22)

Avaliando os esforços resultantes em função da aceleração horizontal (AH) e da


aceleração vertical (AV), proveniente do sismo, as seguintes forças podem ser calculadas
(Figura 11):

Figura 11: Forças de inércia horizontais.(Fonte: SILVA & PEDROSO, (2005))


.
Conforme o citado anteriormente, a aproximação analítica proposta por WESTERGAARD
(1933) e a aproximação analítica proposta por SILVA (2007) são válidas para serem
usadas em projetos de engenharia. Visto isso, este trabalho irá determinar as tensões que
atuam na barragem e os coeficientes de estabilidade, utlizando as formulações propostas
por SILVA (2007).
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►Força Hidrodinâmica (hidrostática – curva analítica aproximada de Silva):

(Equação 23)

►Força Horizontal (massa de concreto):

(Equação 24)

►Força Vertical (massa de concreto):

(Equação 25)

Tabela 7: Avaliação da Segurança Sísmica – Análise das Tensões.


C
ANÁLISE DAS TENSÕES: aH = 0.075g e aV = 0.05g
O
M RH RV Me  ZM  ZJ  PM  PJ e
B (kN) (kN) (kN.m) (kPa) (kPa) (kPa) (kPa) (m)
I 37 011 74 016 221 110 -776 -1 296 -1 170 -1 954 2.99
II 46 277 72 742 550 616 -371 -1 666 -559 -2 511 7.57
III 27 745 72 742 -78 582 -1 111 -926 -1 674 -1 396 -1.08
IV 46 277 75 290 520 802 -442 -1 667 -666 -2 512 6.92
V 27 745 75 290 -108 396 -1 182 -927 -1 781 -1 397 -1.44

SILVA (2005) define que os critérios de falha, consistem em confrontar a oferta e a


demanda de uma estrutura ou elemento de estrutura, em termos da capacidade portante
ou deformabilidade da mesma.
São verificados três critérios de falha para barragens gravidade de concreto. Estes
critérios consistem na avaliação da estabilidade do maciço quanto ao tombamento, ao
deslizamento e a flutuação do perfil teórico analisado.

a) Coeficiente de Segurança ao Tombamento (CST): Verifica a tendência de


rotação da barragem em relação a sua base. O momento resistente ao
tombamento (Mr) são forças que produzem momentos no sentido anti-horário,
como o peso da água acima do paramento de montante (quando há inclinação
nesse paramento), a força da água de jusante e o peso da estrutura; o
momento das forças que contribuem para o tombamento (Mt) são devido as
forças de subpressão e força horizontal da água no reservatório de montante.
Sendo assim, o coeficiente é obtido pela razão entre esses dois parâmetros
(MELO & PEDROSO (2005)).

(Equação 26)

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b) Coeficiente de Segurança ao Deslizamento (CSD): é a relação entre as forças
que agem no sentido de deslocar a estrutura, como a força hidrostática, as
forças devido a sismos, impacto de corpos ou ondas contra a estrutura, e as
forças que resistem a esse deslocamento, como a força de atrito e a resistência
ao cisalhamento entre as superfícies desllizantes (MELO & PEDROSO (2005)).
(Equação 27)
Onde:
 RV é a resultante das forças que atuam na vertical;
 RH é a resultante das forças que atuam na horizontal;
 é o ângulo de atrito em graus (residual ou pico);
 Ca é a coesão;
 Ac é a área de contato entre as superfícies deslizantes;
Para essa análise utilizou-se os parâmetros de resistência apresentados na Tabela 5.

c) Coeficiente de Segurança à Flutuação (CSF): verifica a tendência do


levantamento da barragem pela subpressão em relação às forças que mantém
a barragem estável (MELO & PEDROSO (2005)). corresponde ao
somatório das forças verticais e “U” corresponde à subpresão.
(Equação 28)
Tabela 8: Avaliação dos momentos à jusante – análise das estabilidades.(Fonte: SILVA & PEDROSO,
(2005)).
Momento à jusante
Momento Momento ao
(W+HS+U) (EQH+Hd) EQV
resistente tombamento
1.0 0 0 Mr = MW Mt = MHs + MU
Mt = MHs + MU + MEQH+Hd +
1.0 + 1.0 + 0.3 Mr = MW
0.3MEQV
1.0 - 1.0 + 0.3 Mr = MW + MEQH+Hd Mt = MHs + MU + 0.3MEQV
1.0 + 1.0 - 0.3 Mr = MW + 0.3MEQV Mt = MHs + MU + MEQH+Hd
Mr = MW + MEQH+Hd +
1.0 - 1.0 - 0.3 Mt = MHs + MU
0.3MEQV

Tabela 9: Avaliação de momentos à montante – análise das estabilidades.(Fonte: SILVA & PEDROSO,
(2005)).
Momento à montante
Momento Momento ao
(W+HS+U) (EQH+Hd) EQV
resistente tombamento
1.0 0 0 Mr = MHs + MW Mt = MU
Mr = MHs + MW + MEQH+Hd +
1.0 + 1.0 + 0.3 Mt = MU
0.3MEQV
1.0 - 1.0 + 0.3 Mr = MHs + MW + 0.3MEQV Mt = MU + MEQH+Hd
1.0 + 1.0 - 0.3 Mr = MHs + MW + MEQH+Hd Mt = MU + 0.3MEQV
Mt = MU + MEQH+Hd +
1.0 - 1.0 - 0.3 Mr = MHs + MW
0.3MEQV

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Tabela 10: Avaliação da Segurança Sísmica – Análise das Estabilidades.(Fonte: SILVA et al., (2009)).
C ANÁLISE DAS ESTABILIDADES: aH = 0.075g e aV = 0.05g
O
RH RV CSD CSD CST CST
M Pico Res. Mon. Jus. CSF
(KN) (KN)
B
I 37 011 74 016 3.05 1.77 12.77 2.45 7.79
II 46 277 72 742 2.40 1.40 14.17 2.00 7.67
III 27 745 72 742 4.00 2.33 5.67 2.55 7.67
IV 46 277 75 290 2.48 1.44 12.50 2.09 7.91
V 27 745 75 290 4.13 2.41 5.32 2.68 7.91

6 Conclusão
Apesar do Brasil por muito tempo ser considerado assísmico, hoje em dia sabe-se que
ocorrem todos os dias pequenos tremores de terra que são registrados por sismógrafos
nacionais. Por este motivo torna-se necessário a consideração de tensões produzidas
pela ação do sismo;
Tanto a aproximação analítica de Westergaard, quanto a aproximação analítica proposta,
fornecem bons resultados, para a pressão hidrodinâmica, quando comparadas às
soluções exatas em séries (Tabela 1 e Figura 4);
Para as alturas entre y=0 (base) e y=40%H, e em y=90%H, a aproximação analítica
proposta para a pressão hidrodinâmica é a que mais se aproxima da solução exata
(Tabela 1);
Ao comparar os resultados da “Tabela 10” com os coeficientes de segurança dados pelo
CDA-1999, verifica-se que o perfil adotado atende na maioria dos casos as exigências
das normas, caracterizando com isto um perfil corretamente projetado, aspecto que
poderia preliminarmente (sob reservas) permitir inferências positivas para um caso como
o da barragem em análise.

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