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1ª Frequência Perigosidade Geológica

Módulo I – Perigosidade Sísmica

1) Explique o conceito operacional e geodinâmico de falha ativa e quais as suas implicações cronológicas.
Explique o conceito de taxa de atividade, como se determina e como condiciona a sismogénese nas falhas ativas.

Conceito geodinâmico de falha ativa: falha com evidências de movimentação no regime tectónico corrente numa região,
sendo assim expectável a ocorrência de novos deslocamentos no contexto deste enquadramento tectónico; esta
definição de falha ativa não se fundamenta num intervalo de tempo fixado à priori para a idade dos últimos movimentos
na falha - o período de tempo a que se reporta depende do momento da história geológica regional em que se
estabeleceu o regime tectónico que vigora atualmente nessa região.
Conceito operacional de falha ativa: falha com evidências de atividade tectónica num período de tempo suficientemente
curto (num passado suficientemente recente) para que seja expectável a ocorrência de novos movimentos num futuro
próximo (p. ex. o tempo de vida de um empreendimento em estudo). É um conceito que estipula um intervalo de tempo
para a atividade tectónica, variável em função da sua aplicação; tipicamente, quanto mais sensível é o empreendimento
em estudo maior é o período considerado, de forma a garantir a identificação de falhas ativas com ciclos sísmicos longos
(falhas lentas).
Taxa de atividade de uma falha ativa: a taxa (ou grau) de atividade de uma falha ativa é um parâmetro que corresponde
à velocidade média de deslocamento da falha, num intervalo de tempo determinado pela idade dos marcadores
geológicos deslocados; corresponde, assim, à razão entre o rejeito produzido pela falha em referências geológicas
deslocadas e a idade dessas referências; no Globo Terrestre existem falhas ativas com taxas de atividade muito diversas
(condicionadas pelo ambiente tectónico), desde “falhas rápidas” (102mm/ano) a “falhas lentas” (taxas da ordem de 10-
2-10-4mm/ano).
A taxa de atividade das falhas ativas controla a recorrência dos sismos que geram: para um dado sismo máximo
expectável (ou sismo característico), de magnitude M (que é função da dimensão da falha, uma vez que esta controla
os parâmetros da rutura – área e deslocamento cossísmico), quanto mais
rápida é a falha menor é o intervalo de recorrência desse sismo.

1 - Falha lenta, 3 - Falha rápida


v3>v2>v1 ⇒ Δt3<Δt2<Δt1
dt – deslocamento acumulado;
t – tempo;
Δti – intervalo médio de recorrência
Para o mesmo deslocamento cossísmico (di, ou seja, para a mesma magnitude
do sismo característico - M, proporcional ao deslocamento).

2) Explique sucintamente o caracter cíclico da sismogénese e comente a sua periodicidade. Refira fatores que
podem contribuir para a variação da duração do ciclo sísmico das falhas sismogénicas.

A geração dos sismos tectónicos em falhas ativas sismogénicas ocorre por um processo designado “ressalto elástico”,
onde implica a ocorrência de um ciclo sísmico caracterizado por duas etapas:
1) uma etapa mais ou menos longa em que ocorre acumulação de tensão e de deformação elástica nas rochas
envolventes a uma falha ativa, que se encontra bloqueada por forças de atrito;
2) uma etapa quase instantânea em que a falha cede por ter sido atingida e ultrapassada a sua resistência ao corte,
ocorrendo o ressalto elástico, acompanhado da libertação da energia de deformação elástica que se tinha acumulado
durante a etapa anterior – esta energia é libertada na forma de calor na zona de falha, ondas elásticas (ondas sísmicas)
e energia de deformação permanente (fracturação, dobramento…).

A sismogénese é, um processo cíclico, caracterizado pelo


designado “ciclo sísmico”, repetindo-se no tempo.
Contudo, embora cíclico, caracteristicamente não é
periódico, ou seja, a repetição no tempo não se faz de
forma regularmente espaçada. Esta irregularidade de
ocorrência no tempo pode dever-se a vários fatores,
entre os quais:
1. Variação do campo da tensão tectónica regional,
nomeadamente no valor e/ou orientação das
tensões atuantes e na sua taxa de acumulação;
2. Variação da resistência das falhas ativas ao longo do tempo, particularmente pela intervenção de fluidos que
interferem no valor das tensões efetivas que atuam nas zonas de falha; o efeito dos fluidos é reduzir as tensões
efetivas, reduzindo assim a resistência friccional das falhas;
3. Variação dos ciclos sísmicos por interação entre falhas vizinhas; a rutura numa falha altera instantaneamente o
campo de tensões nas rochas envolventes, podendo assim alterar o estado de tensão em falhas ativas vizinhas,
aproximando-as ou afastando-as do fim do seu ciclo sísmico, ou seja, adiantando ou retardando a rutura
sismogénica nessa falha (e alterando consequentemente o seu ciclo sísmico).

3) Explique a relação de escala que existe na sismogénese entre a dimensão dos parâmetros de rotura nas falhas
e a dimensão dos sismos gerados, referindo o conceito de Momento Sísmico (Mo). Que implicações tem na estimativa
do potencial sismogénico das falhas ativas.

A magnitude sísmica pretende quantificar a dimensão dos sismos, ou seja, da energia libertada pelas ondas sísmicas. A
escala de Richter utiliza a amplitude das vibrações registadas em sismógrafos para calcular a magnitude. Este relaciona
a distância em relação a amplitude máxima registada: quanto mais longe está o epicentro e quanto maior for a
amplitude, então maior magnitude tem, e vice-versa. Baseando-se sempre na amplitude máxima registada das ondas.
O momento sísmico é um momento escalar da força que desencadeia a rotura sísmica: Mo= μ u A. Quanto maior o
esforço para a rotura, maior o μ e maior a magnitude. A partir deste conceito, obtém-se a magnitude do momento que
descreve de forma mais adequada a dimensão dos sismos, em particular dos grandes eventos.
Relativamente ao potencial sismogénico, a taxa de atividade das falhas ativas condiciona o intervalo médio de
recorrência dos sismos que elas geram: para a mesma magnitude as falhas rápidas geram sismos com intervalos de
recorrência menores; as falhas lentas geram sismos com intervalos de recorrência mais longos.
4) Exponha sucintamente como se quantifica a perigosidade sísmica pelas vias determinista e probabilista. Que
outros parâmetros intervêm na quantificação do risco sísmico?

Método determinista: considera-se um sismo de controlo – tipicamente o maior sismo expectável – capaz de afetar o
sítio em estudo, e calcula-se a aceleração (ou outro parâmetro cinemático das vibrações) no sítio, resultante da
ocorrência desse sismo.

Nesta metodologia, a recorrência do sismo de controlo não intervém. Ele é considerado, independentemente de ser
mais ou menos provável a sua ocorrência. É uma metodologia conservativa, comummente utilizada para o cálculo de
sismos de projeto de empreendimentos sensíveis.

Método probabilista: a perigosidade é quantificada pela probabilidade de um parâmetro de movimento do solo no sítio
em estudo (sítio x) (geralmente a aceleração, Ax) exceder um valor de referência desse parâmetro (no caso da
aceleração, Ar), num dado período de tempo, Δt:

𝑷𝑨𝒙 ≥ 𝑨𝒓 𝒆𝒎 𝜟𝒕
Nesta metodologia, mais complexa, considera-se a contribuição de todos os sismos, de diferente magnitude e
consequentemente de diferente recorrência, gerados por todas as fontes sísmicas relevantes para o sítio. Para cada
valor da aceleração no sítio contribuem sismos de diferentes magnitudes, com diferentes recorrências (ou seja;
diferentes probabilidades de ocorrência), localizados a diferentes distâncias (devido ao efeito de atenuação, diferentes
magnitudes a diferentes distâncias, vão gerar acelerações idênticas, cuja probabilidade de ocorrência vai ser o
somatório de todas as contribuições para esse valor de aceleração).

O risco sísmico integra, para além da perigosidade (relacionada com a sismogénese e, como tal, dependente de fatores
naturais):

▪ A vulnerabilidade dos elementos expostos ao risco, que quantifica a maior ou menor suscetibilidade à ação
sísmica dos elementos expostos ao risco (maior vulnerabilidade implica maior danificação face a igual
solicitação sísmica);
▪ A exposição dos elementos sujeitos ao risco, que integra o valor desses elementos e a sua distribuição no espaço
(e também no tempo, nomeadamente no que se refere à distribuição da população e às atividades
socioeconómicas).

5) Conceitos de dispersão e atenuação das ondas sísmicas.

A atenuação das ondas sísmicas é retratada pela diminuição da intensidade do movimento vibratório do solo, com a
distância à fonte, num dado meio de propagação. Esta intensidade depende da energia libertada na fonte (expressa
pela magnitude), da distância entre as fontes sísmicas e o local analisado. Esta pode ser:

1. Atenuação inelástica, onde dá-se a absorção de energias dos materiais constituintes do meio (por não serem
totalmente elásticos e por dissipação de energia nas heterogeneidades e interfaces do meio), ou seja, a
energia que se perde por transferência para outra fonte de energia (como a energia térmica);
2. Atenuação por efeito geométrico, devido à expansão das frentes de onda no meio elástico.

As ondas R e L têm maior amplitude à medida que se afastam do epicentro, sendo estas as interações entre as P e S
(estas duas perdem energia à medida que se afastam do epicentro).

6) Exponha sucintamente os diversos efeitos, ou fenómenos danosos que podem ser desencadeados pela
geração de sismos tectónicos contribuindo, assim, para o risco associado.

Para além da ação direta das ondas sísmicas, os sismos geram, ou podem gerar diversos fenómenos capazes de
causarem danos aos habitantes das regiões atingidas, sobre o edificado e em infraestruturas construídas por eles, bem
como no meio ambiente, e que contribuem para o risco a que a população está exposta:
1. Rutura superficial cossísmica na falha que gera o sismo – a rutura superficial na falha sismogénica, que
geralmente se observa em sismos superficiais (prof. ≤ 20-15 km) de M≥6, gera deslocamentos permanentes na
superfície topográfica que causam danos em todo o edificado e infra estruturas localizadas sobre o traçado da
rutura superficial; os danos circunscrevem-se à zona da rutura superficial e à sua vizinhança imediata;
2. Deslizamentos de vertente (escorregamentos) – em regiões de relevo acidentado, as vibrações sísmicas acima
de uma intensidade moderada geralmente desencadeiam numerosos escorregamentos de vertente com forte
potencial de destruição nas áreas de sopé; quando os deslizamentos ocorrem em vertentes de vales fluviais
podem causar o barramento das linhas de água, gerando barragens instáveis que desenvolvem albufeiras a
montante, originando o perigo de inundação súbita a jusante;
3. Movimentos de levantamento e de subsidência cossísmicos – quando a falha sismogénica se situa numa área
litoral, os deslocamentos verticais da crosta associados à deformação brusca resultante de rutura na falha e
respetivo ressalto elástico produzem perturbações nas áreas costeiras, nomeadamente inundação marinha nas
áreas subsidentes, e levantamento noutras áreas, com impacto nas zonas de ocupação humana,
particularmente infraestruturas portuárias, e em ecossistemas presentes nessas áreas;
4. Cedência do solo por efeito de liquefação, quando ocorrem sedimentos suscetíveis a este fenómeno
(tipicamente sedimentos arenosos saturados de água) – a ação das ondas sísmicas nestes sedimentos conduz
a um maior empacotamento granular que gera um aumento da pressão da água intersticial conduzindo ao
desenvolvimento de sobrepressão; a água intersticial passa a suportar os grãos e o sedimento perde capacidade
de sustentação do edificado que nele esteja construído.
5. Tsunamis – ruturas superficiais cossísmicas em falhas submarinas com uma componente de deslocamento
vertical importante geram deformação do fundo do mar e produzem o deslocamento da coluna de água
sobrejacente, originando ondas de tsunami; estas têm uma grande capacidade de destruição, mesmo a grandes
distâncias da falha sismogénica; caracteristicamente compõem-se de várias ondas que se deslocam a grande
velocidade quando a profundidade da água é levada (bacias oceânicas).

7) Exponha sucintamente os conceitos de magnitude e intensidade sísmica. Indique os principais parâmetros


ou fatores de que dependem e como interferem nos respetivos valores.

A magnitude sísmica é um parâmetro obtido por via instrumental (a partir de sismogramas), que quantifica a dimensão
de um sismo na fonte, ou seja, proporcional (não é igual) à energia sísmica irradiada a partir da fonte sísmica (falha
sismogénica) durante o sismo.

Existem várias escalas de magnitude, para além da de Richter, todas contínuas com base logarítmica, ou seja, um
aumento de uma unidade de magnitude corresponde a um incremento da energia sísmica irradiada num fator de 10; o
valor máximo de magnitude registado (pouco superior a 9…) reflete a dimensão das maiores falhas sismogénicas no
globo terrestre.

A energia libertada num sismo, em resultado da rutura de uma falha e o respetivo ressalto elástico, não irradia apenas
do foco. A energia é irradiada a partir de toda a superfície de rutura na falha sismogénica e vai ocorrendo à medida que
a rutura se propaga a partir do foco; assim, a energia é irradiada a partir de toda a área de rutura, embora
diacronicamente, à medida que esta cresce; o foco é apenas o local (na falha) onde o processo se inicia;

A intensidade sísmica é um parâmetro não instrumental, que quantifica a severidade das vibrações sísmicas produzidas
por um sismo em cada local afetado, com base:
▪ No grau de perceção pelos habitantes do local;
▪ Nos efeitos sobre objetos e o edificado desse local;
▪ Nos efeitos produzidos sobre o meio ambiente, nesse local.

É um parâmetro quantitativo discreto (assume apenas valores inteiros segundo uma escala de intensidades); existem
várias escalas de intensidade para além da Mercalli Modificada, na sua maioria compreendendo 12 graus (de I a XII).

Assim, um sismo tem muitas intensidades associadas. A avaliação da intensidade é feita da forma mais objetiva possível,
de modo a atender à variabilidade da densidade populacional e da vulnerabilidade do edificado. A intensidade sísmica
não depende da densidade populacional nem da resistência das construções; quando é avaliada em relação com um
sismo, esses fatores devem ser atendidos para que não haja enviesamento do resultado. A intensidade num local
depende (entre outros fatores) da distância à falha sismogénica (por atenuação), e não da distância ao foco ou ao
epicentro do sismo.

A intensidade pretende caracterizar o melhor possível a severidade das vibrações sísmicas num local (pode ser
convertida num parâmetro cinemático, como a aceleração máxima do solo, PGA), independentemente de
condicionantes externas, como o número de habitantes, ou a maior ou menor resistência das construções. O valor
deverá ser o mesmo, independentemente destes fatores.

A magnitude depende: da dimensão da rutura sísmica, nomeadamente da área de rutura na falha sismogénica e
também do deslocamento médio cossísmico, que aumenta com a área.

A intensidade depende:

▪ Da magnitude do sismo (>M ⇒ >I, para as outras condições idênticas);


▪ Da distância à fonte sismogénica, ou seja, à falha, devido ao efeito da atenuação das ondas sísmicas (> distância
⇒ <I, de acordo com uma lei de atenuação);
▪ Dos efeitos de sítio, nomeadamente a geologia presente no local (sedimentos pouco coesos amplificam as
vibrações aumentando consequentemente as intensidades) e a topografia (efeito variável);
▪ Da diretividade (locais situados perto da falha sismogénica e do lado para o qual a rutura sísmica se propagou
sofrem intensidades maiores, por amplificação das ondas sísmicas devida a efeito Doppler – interferência
construtiva).

Uma falha ativa com taxa de deslizamento rápida tende a produzir sismos de magnitude mais elevada (maior
deslocamento) e período de retorno mais curto que uma falha ativa com taxa de deslizamento mais lenta.
A atenuação das ondas sísmicas deve se ao facto de a intensidade do movimento vibratório do solo diminuir com a
distância ao epicentro. Esta pode ser elástica, relacionada com a dispersão geométrica por expansão das frentes de
onda num meio elástico, ou inelástica, devido à absorção de energia pelos materiais constituintes de um meio não
totalmente elástico e heterogéneo. A magnitude é um dos parâmetros básicos para estimar a intensidade do
movimento do solo num sítio.
Em relação aos efeitos de sítio, as ondas são modificadas pela constituição das rochas, por exemplo, nas aluviões há
uma ampliação das ondas sísmicas.

8) Explique em que consiste a lei da recorrência de Gutenberg-Richter e a sua aplicação na avaliação da


perigosidade sísmica.

A Lei de Gutenberg – Richter relaciona o número total de sismos registados com as suas magnitudes (é uma lei
exponencial). Baseia-se na análise dos catálogos sísmicos, sismicidade histórica e instrumental numa região. O nº de
sismos num período de tempo distribui-se exponencialmente em função da magnitude (exponencial negativa).

Possível extrapolar a lei de recorrência baseada no catálogo sísmico, para as magnitudes elevadas, sendo que, a partir
da recorrência de sismos de menor magnitude registados infere-se a recorrência de sismos de maior magnitude, não
registados, de acordo com a lei G-R regional.

Extrapolação pela lei G-R não permite estimar parâmetros importantes para avaliação da perigosidade sísmica:
magnitude dos sismos máximos; distribuição dos sismos máximos no tempo, pois os sismos são cíclicos mas não
periódicos - acumulação de tensões varia no tempo, resistência das falhas varia no tempo, falhas vizinhas interferem
alterando os ciclos sísmicos; tempo decorrido desde o último evento, pois o processo sismogénico tem memória, sendo
melhor caracterizado por modelos de recorrência dependentes do tempo.

9) Exponha sucintamente o mecanismo de geração dos sismos tectónicos. Aborde a problemática da ciclicidade
e da perigosidade dos eventos sísmicos no contexto dos modelos teóricos de recorrência (tempo,
deslizamento, e tempo-deslizamento previsíveis).

O mecanismo sismogénico pode ser explicado pelo Modelo do Ressalto Elástico proposto por Reid. Este
modelo diz que há uma acumulação de tensão formando deformação elástica e acumulação de energia. A
cedência (rutura) numa falha dá-se quando há queda de tensão provocando ressalto elástico (deslocamento).
A libertação da energia acumulada dá-se sob a forma de calor e de ondas elásticas (ondas sísmicas).
Há 3 modelos teóricos de recorrência:
I. Modelo de Tempo/Deslizamento Previsíveis: Ciclo sísmico uniforme onde Reid admite que uma falha
segue sempre ressaltos iguais que geram sempre sismos com a mesma magnitude e são periódicos.
II. Modelo de Tempo Previsível: Admite-se que uma falha origina sismos de magnitudes diferentes, mas
a periodicidade é previsível.
III. Modelo de Deslizamento Previsível: Admite-se que uma falha origina sempre sismos com a mesma
magnitude, mas não há periodicidade entre eles.

10) Explique sucintamente o conceito de ciclo sísmico no contexto do mecanismo de geração dos sismos
tectónicos. Recorrendo a um gráfico, indique a variação, no decurso do tempo, da tensão e do deslocamento
numa falha para o caso simplificado de sismos uniformes.

Os sismos tectónicos são gerados em falhas ativas sismogénicas pelo mecanismo do ressalto elástico, que, na versão
simplificada (modelo original de Reid), envolve duas etapas que compõem o que se designa por ciclo sísmico: (60%)

1. Etapa mais ou menos longa de carga dinâmica, em que se acumula tensão na falha e nas rochas
envolventes, e se acumula a deformação elástica resultante – corresponde à fase de acumulação de energia
(potencial) elástica;
2. Etapa quase instantânea, muito curta, de rutura na falha, com a sua cedência associada a um deslocamento
rápido (ressalto elástico); dá-se libertação da energia elástica acumulada previamente nas rochas (na fase
inter-sísmica), sob a forma de calor e de vibrações mecânicas (elásticas) que se propagam pelas rochas
envolventes (as ondas sísmicas) constituindo o sismo; ocorre simultaneamente uma queda de tensão na
zona de falha.

Δt – período de recorrência do sismo uniforme;


Δd – deslocamento cossísmico médio na falha associado
a cada sismo uniforme.
11) Discuta os conceitos de perigosidade de risco sísmico. Exponha sucintamente os fenómenos associados aos
eventos sísmicos e que geram perigosidade.

A perigosidade consiste no efeito potencial de ondas sísmicas e nos fenómenos que lhe estão associados em
determinado local. É expressa pela probabilidade de ocorrência de vibrações sísmicas com determinada severidade
nesse local, num dado período de tempo.

O risco trata-se da avaliação da perigosidade, vulnerabilidade e exposição de elementos às ondas sísmicas. No que toca
à vulnerabilidade, esta incide sofre os elementos expostos e a sua suscetibilidade à ação sísmica. Por sua vez, a exposição
desses elementos, que contempla o valor e a distribuição destes.

A atividade sísmica encontra-se associada a diferentes fenómenos catastróficos, tais como:

▪ Rutura superficial, que consiste na rutura da superfície topográfica devido ao movimento de falhas ativas. Isto
acontece quando a rutura sísmica tem lugar a baixa profundidade e apresenta magnitudes elevadas (>6),
gerando escarpas de falha que atingem a superfície topográfica e que provocam estragos nas estruturas.
▪ Escorregamentos de terreno, sendo esta a maior causa de danos associados a sismos de grande intensidade,
não se verificando esta ocorrência de forma catastrófica em sismos de I<8.
▪ Levantamento e subsidência cossísmica, ocorrendo este em falhas junto ao litoral. À medida que a placa
oceânica vai subductando, a placa sobrejacente vai deformando-se de forma elástica, resultando em
modificações diferenciadas na superfície topográfica, gerando subsidências ou levantamentos que podem gerar
tsunamis.
▪ Liquefação, ou seja, alteração do comportamento de material granular incoerente saturado de água, de sólido
para fluido, por ação do aumento da pressão de água nos poros. As vibrações sísmicas fazem com que haja
redução da porosidade e aumento da pressão do fluido intersticial, que faz com que o sedimento se comporte
como um fluido;
▪ Fluidização, acompanha frequentemente a liquefação e trata-se do arraste dos grãos pelo fluxo de água em
subpressão para zonas de menos pressão, geralmente para cima. Isto vai perturbar a estrutura sedimentar
original e gerar vulcões de sedimento (sismitos) que provocam colapso de edifícios, etc.
▪ Tsunamis, consistem em ondas originadas por um movimento vertical brusco que gera perturbações na coluna
de água. O seu embate na costa é muito destrutivo e de difícil mitigação.

12) Explique sucintamente 3 metodologias que permitem estimar a magnitude do sismo máximo espectável que
uma falha ativa tem o potencial de gerar.

É possível extrapolar lei de recorrência de Gutenberg-Richter, baseada no catálogo sísmico, para as magnitudes elevadas
(M): a partir da recorrência de sismos de menor magnitude – registados – infere-se a recorrência de sismos de maior
magnitude – não registados – de acordo com a lei G-R regional.

Extrapolação pela lei G-R não permite estimar parâmetros importantes para avaliação da perigosidade sísmica:

- magnitude dos sismos máximos;


- distribuição dos sismos máximos no tempo: estima-se o intervalo médio de recorrência → mas sismos são
cíclicos, não periódicos (clustering);
- tempo decorrido desde o último evento: processo sismogénico tem memória → melhor caracterizado por
modelos de recorrência dependentes do tempo (probabilidade condicional: probabilidade de ocorrência em Δt
depende do intervalo médio de recorrência, variabilidade e tempo decorrido).

Sismos grandes → recorrência média >> período da sismicidade histórica: na sua maioria sismos desconhecidos:

→ testemunhados no registo arqueológico → Arqueossismologia


→ testemunhados no registo geológico → Paleossismologia
A Paleossismologia estuda sismos testemunhados no registo geológico, principalmente sismos pré-históricos: a sua
ocorrência, localização, idade e dimensão. Paleossismólogos interpretam as evidências geológicas criadas pelos
paleossismos: focalizam-se na deformação da topografia, rochas superficiais (geralmente sedimentos) e solos durante
os sismos. Esta investigação permite estudar a distribuição dos paleossismos no espaço e no tempo (em períodos de
tempo longos - milhares ou dezenas de milhares de anos).

Evidência geológica de paleossismos – pode ser:

▪ “direta” (on-fault – “na falha”) – localizada sobre, ou muito perto do traço superficial da falha sismogénica
▪ “indireta” (off-fault – “fora da falha”) – localizada mais ou menos distanciada da falha sismogénica.

13) Uma vez identificada uma falha ativa numa região em estudo, explique sucintamente que metodologias
permitem caracterizar o seu potencial sismogénico a partir da informação geológica (magnitude do sismo
máximo expectável e respetiva recorrência).

São várias as metodologias que permitem caracterizar o potencial sismogénico das falhas ativas a partir da informação
geológica, nomeadamente no que respeita à magnitude do sismo máximo que é expectável a falha em estudo gerar, e
o seu intervalo de recorrência:

1. A partir da informação geológica cartográfica (da cartografia geológica da falha ativa em estudo):

A cartografia da falha em estudo permite conhecer o seu comprimento à superfície topográfica. Estabelecendo
um modelo de segmentação da falha, ou assumindo que ela tem capacidade para romper em todo o seu
comprimento superficial ao gerar o sismo máximo, é possível estimar a respetiva magnitude usando correlações
empíricas entre comprimento de rutura superficial na falha e magnitude sísmica (usualmente as relações de
Wells e Coppersmith, 1994);

Para estimar o respetivo intervalo de recorrência é necessário conhecer a taxa de atividade da falha – existem
gráficos que permitem estimar diretamente o intervalo de recorrência do sismo máximo (assumido como sismo
uniforme) em função da magnitude, para cada taxa de atividade.

2. A partir de informação geológica obtida em afloramento – geralmente em resultado de estudos de paleossismologia


com recurso à abertura de trincheiras:

O sismo máximo é reconhecível pelos rejeitos associados às ruturas superficiais identificadas em corte (nas
paredes das trincheiras); a magnitude é inferida a partir de correlações empíricas entre deslocamento
superficial cossísmico (máximo ou médio) e magnitude (usualmente as relações de Wells e Coppersmith, 1994);

O respetivo período de recorrência é estimado com base na idade dos diversos eventos reconhecidos nos
estudos paleossismológicos (por relações de corte e sobreposição; presença de cunhas coluviais correlativas),e
eventualmente confrontado/testado com o valor da atividade calculada para a falha (deslocamento por
evento/período de recorrência taxa de atividade).

14) Explique sucintamente os diferentes critérios que permitem identificar as falhas ativas presentes numa região,
explicitando os que se reportam ao comportamento das falhas a longo prazo e a curto prazo.

A. Critérios geológicos – caracterizam a atividade das falhas a longo prazo, ou seja, à escala temporal geológica –
tipicamente dezenas a centenas de milhares de anos (eventualmente abrangendo todo o Quaternário ~ 2,6 Ma).
A.1. Critério de corte / estratigráfico – a falha é considerada ativa por afetar (deformar e/ou cortar) formações
geológicas (geralmente sedimentos) de idade compreendida no período de atividade tectónica considerado;
A.2. Critérios geomorfológicos – a falha é considerada ativa por:
Apresentar expressão morfológica indicadora de deslocamentos recentes à superfície topográfica ou perto
da superfície topográfica, deformando-a:
▪ Falhas apresentando escarpas de aspeto jovem, resultantes de deslocamentos da falha à superfície
topográfica (ruturas superficiais sucessivas);
▪ Falhas deslocando elementos geomorfológicos de idade “recente”, tipicamente a rede hidrográfica
(desvio de linhas de água por ruturas superficiais sucessivas), ou correspondendo a superfícies
morfológicas “jovens” (p.ex. terraços fluviais ou marinhos);
B. Critérios geofísicos (sismológico e geodésico) – caracterizam a atividade das falhas na atualidade (a curto prazo),
tipicamente as últimas centenas (sismicidade histórica) a dezenas de anos (sismicidade instrumental e medições
geodésicas).
B.1. Critério sismológico – falhas evidenciando atividade sísmica correlativa (sismos históricos e/ou
instrumentais); baseia-se na correlação espacial entre os sismos (localização de epicentros e/ou
preferencialmente de hipocentros) e as falhas;
B.2. Critério geodésico – falhas evidenciando deformação atual junto à superfície topográfica, indicada por
medições geodésicas de elevada precisão (geralmente geodesia espacial – GPS, InSAR).

15) Explique sucintamente como, em estudos de paleossismologia com recurso a abertura de trincheiras, é
possível identificar diferentes paleo-eventos sísmicos, datá-los e estimar a sua magnitude (recorra a cortes
esquemáticos, se necessário).
A. A abertura de trincheiras em estudos de paleossismologia, e o estudo dos afloramentos expostos nas suas paredes
permite identificar paleoeventos sísmicos e caracterizá-los através de:
A.1. relações de corte e de sobreposição entre superfícies de rutura da falha e horizontes (marcadores)
geológicos recentes aflorantes (sedimentos, rochas vulcânicas, horizontes de solo); e/ou
A.2. deposição de sedimentos correlativos de escarpas associadas às ruturas superficiais cossísmicas – prismas
coluviais;
B. A idade dos paleoeventos é constrangida:
B.1. através da idade dos sedimentos (ou de outros marcadores geológicos utilizados como referência) afetados
pelas respetivas ruturas e a idade daqueles que selam essas ruturas, estando compreendida nesse intervalo;
B.2. pode também ser inferida através da idade de prismas coluviais correlativos das respetivas ruturas
superficiais, e sucessivamente afetados pelas ruturas posteriores.
C. A magnitude dos paleoeventos é inferida pela relação que existe entre os rejeitos detetados nas paredes da trincheira
e a magnitude sísmica, expressa através de leis (relações) empíricas de regressão entre deslocamento superficial
máximo ou médio cossísmico e a magnitude; geralmente utilizam-se as relações de Wells e Coppersmith (1994).

Evento 1 (E1): posterior a “a” e anterior a “b”; correlativo do coluvião 1 (col1);


Evento 2 (E2): posterior a “b” e anterior a “c”; correlativo do coluvião 2 (col2).
Ressalto Elástico – Mecanismo Sismogénico

O conceito fundamental subjacente ao modelo do ressalto elástico é que os sismos resultam da libertação de energia
de deformação elástica (energia potencial) acumulada nas rochas por ação de tensões (que as deformam). Esta
acumulação de deformação (é a deformação que efetivamente resulta na geração dos sismos, embora seja devida à
ação da tensão) ocorre ao longo de um período que corresponde à duração do ciclo sísmico, e que, considerando vários
ciclos sucessivos, corresponde ao intervalo de recorrência;
Outro conceito subjacente, e fundamental na sismogénese, é que a libertação da energia de deformação elástica ocorre
por cedência em falhas pré-existentes no maciço rochoso deformado, que se comportam como descontinuidades
mecanicamente mais fracas do que as rochas envolventes; assim, em, vez de haver neo-ruptura das rochas, ocorre
rutura (por reativação recorrente…) em falhas com resistência por atrito embora mais fracas do que as rochas
envolventes; esta rutura dá-se quando a tensão de corte na falha supera a resistência do atrito; a lei geral que rege este
processo é a lei de Byerlee ( = ( -p)), onde é o coeficiente de atrito estático das rochas na zona de falha 0,75, é
a tensão normal total que atua na “superfície” da falha, e p é a pressão de fluidos na zona de falha);
Ao dar-se a rutura na falha, as rochas envolventes recuperam (parcialmente, porque resta sempre alguma deformação
permanente) a forma inicial (comportamento elástico…), ocorrendo o ressalto elástico (recuperação rápida da
deformação elástica que tinham adquirido durante o período inter-sísmico do ciclo).

Módulo II– Perigosidade Vulcânica

1) Descreva as situações em que podem desencadear-se erupções hidromagmáticas. De que modo a presença
de água contribui para o aumento do hazard vulcânico?

A atividade hidrovulcânica pode ocorrer em muitas situações uma vez que a água está presente praticamente em todo
o lado: rios, lagos, sedimentos superficiais saturados, reservatórios artificiais, glaciares, aquíferos e no mar. Em contacto
com lava a água sofre vaporização, criando uma película de vapor instável. Na zona de contacto, a lava arrefecida pela
água apresenta um gradiente térmico muito marcado relativamente ao interior que se encontra ainda a elevada
temperatura; esta situação cria tensões térmicas elevadas que levam à fragmentação da lava arrefecida. Essa
fragmentação aumenta a área de contacto entre lava e água e produz um incremento das tensões. A fragmentação
explosiva propaga-se, portanto, para o interior do corpo magmático.
O contacto entre água de um aquífero e um corpo rochoso sobreaquecido (sem contacto direto com líquidos
magmáticos) pode provocar explosões freáticas que fragmentam as rochas suprajacentes, criando uma cratera (maar)
e projetando piroclastos exclusivamente formados por rocha preexistente fragmentada sem qualquer componente
juvenil. Episódios freáticos ou freato-magmáticos podem ocorrer no decurso todo o tipo de erupções. Dois tipos de
erupções exclusivamente hidrovulcânicas são as surtsianas (envolvendo magmas basálticos) e as freato-plinianas
(envolvendo magmas mais ácidos), equivalentes, respetivamente, a erupções havaianas e/ou estrombolianas e plinianas
em ambiente subaquático.

A água é um dos fatores que contribui para o aumento do hazard ou perigosidade vulcânica, na medida em que está
associada à formação de lahares. Os lahares são uma mistura, quente ou fria, de água e fragmentos rochosos, que fluem
a grande velocidade pelas vertentes de um vulcão e/ou vales fluviais que o entalham. Quando estão em movimento,
assemelham-se a uma massa de cimento líquido (mais ou menos viscosa) que carrega fragmentos de rocha que podem
variar desde partículas da dimensão das argilas até blocos de mais de 10 m de diâmetro. Os lahares podem apresentar
dimensões e velocidades variáveis, dependendo dos volumes envolvidos, dos declives presentes e dos desníveis
percorridos.
Uma erupção pode desencadear um lahar diretamente, pela fusão rápida de neve ou gelo existente no topo do vulcão
ou pela projeção de água de um lago de cratera ou caldeira. Mais frequentemente, os lahares formam-se na
consequência de intensas chuvas que acompanham ou se seguem a uma erupção (a escorrência superficial da água da
chuva pode facilmente erodir os fragmentos vulcânicos soltos, depositados sobre as vertentes do vulcão, ou o solo e
vegetação das vertentes e vales fluviais). Alguns dos maiores lahares iniciaram-se como escorregamentos de rochas,
alteradas pela atividade hidrotermal e saturadas de água, no flanco do vulcão. Os escorregamentos podem ser
despoletados por erupções, sismos, precipitação, ou apenas pela ação da gravidade em terrenos com declive
frequentemente elevado.
Os lahares podem ser desencadeados nos seguintes cenários:
▪ no decurso de erupções, por fusão de neve ou gelo pela atividade eruptiva, ou na sequência de precipitação
forte;
▪ após o final de uma erupção, na sequência de precipitação forte, ou pela libertação súbita da água de um lago;
▪ sem que ocorra erupção, na sequência de escorregamentos súbitos.

2) Piroclastos: o que são e como se classificam quanto à dimensão e natureza? Discorra sobre a perigosidade
associada à queda de cinzas.

Piroclastos são fragmentos de rocha pré-existente ou partículas de lava em fusão independentemente da sua dimensão
projetados para o ar por explosões ou arrastados por gases sobreaquecidos no interior de colunas eruptivas ou repuxos
de lava.

Os piroclastos podem apresentar dimensão variável: Quanto à sua natureza, os piroclastos incluem:

• Cinzas: <2mm • Partículas de lava (elementos juvenis)


• Lapilli: 2-64mm • Fragmentos de rochas (elementos líticos)
• Bombas e blocos:> 64mm • Minerais pré-formados (cristais)

Os principais efeitos relacionados com a queda de cinzas vulcânicas são:

• Escuridão durante o dia (leva a redução da visibilidade)


• Colapso de telhados devido ao peso das cinzas (principalmente quando molhadas por chuvas)
• Danos em maquinaria e veículos (devido à abrasão das cinzas) e entupimento de filtros
• Terrenos agrícolas e culturas destruídos
• Estradas escorregadias e intransitáveis
• Entupimento de sistemas de drenagem
• Riscos acrescidos para a aviação e aeroportos que, em certos casos, têm de fechar
• Problemas para a saúde pública (particularmente no foro respiratório)

3) Descreva o estilo eruptivo surtsiano e os perigos relacionados com erupções desse tipo. Refira uma erupção
apresentando estas características. Pode uma erupção sustsiana passar a estromboliana?

A atividade surtsiana é um dos estilos eruptivos hidrovulcânicos, isto é, vulcanismo em que existe interação entre água
e um corpo magmático. As erupções surtsianas envolvem magmas basálticos e são o equivalente a erupções havaianas
e/ou estrombolianas, mas em ambiente subaquático.
Numa erupção basáltica submarina de pequena de pequena profundidade a atividade caracteriza-se por explosões
discretas e separadas por pequenos intervalos de tempo. Cada explosão projeta jatos negros de partículas basálticas
muito fragmentadas, misturadas com água, enquanto que, do centro eruptivo eleva-se também uma potente pluma
branca de vapor de água, que ascende continuamente com movimentos convolutos. Esta atividade dura algum tempo,
o suficiente para se edificar um cone em torno do centro eruptivo, podendo criar uma ilha se emergir. Se a água
continuar a chegar às condutas, este estilo eruptivo mantém-se, no entanto, a partir do momento em que o contacto
entre lava e água cessar a erupção passa a apresentar um estilo havaiano-estromboliano, sendo este característico de
atividade subaérea.
Duas erupções que apresentaram estas características foram a dos Capelinhos (Faial, Açores) e a de Surtsey (Islândia).
O maior perigo associado ao vulcanismo subaquático, está associado ao vulcanismo que ocorre em regiões onde existem
coberturas glaciares. Aqui as erupções ocorrem sob o gelo, podendo ocorrer libertação súbita de enormes volumes de
água de fusão quando a parede do glaciar rompe, originando inundações repentinas que podem destruir uma vasta
área.

4) Porque são consideradas as escoadas ou fluxos piroclásticos como um dos fenómenos vulcânicos mais
perigosos? Descreva as características principais (génese, dinâmica e estrutura).

As escoadas piroclásticas são misturas densas e quentes de gases e fragmentos de rocha (com dimensões entre cinzas
e grandes blocos) que se deslocam rente ao solo a velocidades elevadas, a partir de um centro eruptivo. Estas escoadas
podem resultar de uma erupção explosiva que gere uma coluna eruptiva, que pode colapsar por perda de sustentação,
mas também podem resultar do colapso de um doma em crescimento ou de uma escoada ácida espessa ao longo de
uma vertente íngreme, formando uma avalancha de rocha incandescente.

Grande parte destas escoadas são constituídas por partes, num fluxo basal de fragmentos mais grosseiros que se
desloca rente ao solo e uma nuvem turbulenta de cinzas que se eleva desse corpo basal. Os fluxos piroclásticos podem
ser de 3 tipos:

• Ignimbritos ou fluxos de pedra-pomes e cinzas


• Nuvens ardentes ou fluxos de blocos e cinzas
• Escórias e cinzas

Estas escoadas podem provocar destruição por impacto direto, havendo soterramento dos locais atravessados, podem
provocar a fusão de neve e gelo (originando lahares), bem como incendiar plantações, floresta e edifícios, pois
encontram-se a temperatura muito elevadas. Nas margens das escoadas, a inalação de gases e cinzas quentes provocará
a morte ou ferimentos graves a pessoas e animais.

5) Indique em que região(ões) do território português existe risco vulcânico. Quais os tipos de Hazard
expectáveis; tenha em linha de conta as erupções históricas, o quimismo dos magmas e o contexto geodinâmico e
geográfico.

As regiões do país suscetíveis à perigosidade vulcânica são o arquipélago dos Açores e, em menor grau, a ilha da
Madeira.
Nos Açores são conhecidos eventos que envolveram magmas de composição basáltica, apresentando um estilo
eruptivo havaiano – estromboliano, produzindo episódios efusivos. Também é possível reconhecer erupções que
envolveram magmas mais evoluídos, geralmente de composição traquítica, sendo, portanto muito mais perigosos que
os outros eventos, pois produzem erupções com características plinianas, altamente explosivas e podem gerar escoadas
piroclásticas e lahares altamente destrutivos.
As erupções submarinas conhecidas encontram-se associadas a magmas de composição basáltica, sendo que, as suas
características eruptivas são controladas por diversos fatores, um dos quais é a profundidade a que se encontram
centros eruptivos. Naquelas que se iniciaram em regiões de profundidade reduzida, em que ocorre forte atividade
explosiva freato-magmática resultante da interação entre a lava e a água do mar em condições de pressão hidrostática
pouco elevada, constituindo assim, episódios vulcânicos em elevada explosividade e que produzem grande quantidade
de materiais piroclásticos.
As ilhas de S. Miguel, Terceira, Faial, Pico, S. Jorge e Graciosa são as que apresentam maior probabilidade de erupção
dada a sua história geológica recente. São particularmente elevados os riscos inerentes à ocorrência de erupção
plinianas ou sub-plinianas, com emissão de importantes volumes de pedra-pomes e formação de escoadas piroclásticas
(ignimbritos, nuvens ardentes e surges) e lahares.
A atividade vulcânica na ilha da Madeira encontra-se num estado que pode ser considerado de dominância pois o
intervalo entre erupções nas formações eruptivas mais recentes é relativamente longo. No entanto, existem evidências
para que o vulcanismo não se encontre ainda extinto.
Não existem manifestações secundárias de vulcanismo na ilha, no entanto, em várias obras recentes de abertura de
túneis rodoviários ou de galerias de captação de água foram detetadas emanações de CO2, provavelmente de origem
vulcânica. Estas quantidades de CO2 podem constituir perigo.

6) Aplicou, nas aulas práticas, dois processos de quantificação das erupções vulcânicas, o Índice de Explosividade
Vulcânica (VEI) e a Magnitude (M): explique em que se baseiam e quais principais semelhanças e diferenças. Quais os
processos de classificação quantitativa de erupções vulcânicas? Em que se baseiam e como se determinam?

Classificar as erupções vulcânicas com base no seu carácter quantitativo é a maneira mais eficaz de classificá-las. Pode
ser utilizado para tal o Índice de Explosividade Vulcânica e a magnitude.

VEI
O VEI define-se essencialmente por 2 parâmetros, o volume de piroclastos emitidos e a altura da coluna, permite dividir
as erupções pela sua dimensão e explosividade. Quanto mais elevado o VEI de uma erupção, maior a sua explosividade
e, consequentemente a sua perigosidade. Determina-se através de uma escala que começa pelo índice 0,
correspondente a uma erupção não explosiva, e é aberta para os índices mais elevados. Em tempos históricos, as
maiores erupções observadas atingiram VEI 7.

MAGNITUDE
𝑀 = [(𝐿𝑜𝑔10 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑘𝑔) − 7]

A magnitude é um valor obtido através de uma escala logarítmica da massa dos produtos extruídos (tanto derrames
lávicos como material piroclástico), ou seja, quantifica todo o material extruído (piroclastos + derrames).

Quando estamos perante erupções exclusivamente explosivas os valores de ambos processos são equivalentes, já
quando as erupções são mais efusivas eles acabam por diferir, sendo o valor da magnitude superior ao do VEI.

7) Quais os fatores intrínsecos aos magmas que favorecem a explosividade numa erupção vulcânica?

O fator intrínseco aos magmas que favorece a explosividade de uma erupção é a composição química da lava. Quanto
maior o conteúdo em sílica, maior a sua viscosidade, sabe-se também que os magmas mais ácidos são mais ricos em
voláteis que os magmas básicos e o grau de polimerização aumenta com o teor em sílica na lava, tornando-a mais
viscosa. Assim sendo, nas lavas básicas e, por isso, mais fluidas, os gases exsolvidos escapam-se com mais facilidade do
líquido magmático, enquanto que, nas lavas ácidas, a sua elevada viscosidade torna este escape mais difícil. A expansão
das vesículas de gás provoca a fragmentação da lava em níveis superficiais da conduta e a sua expulsão de um modo
explosivo, impulsionada pela pressão dos gases, assim sendo, a composição química da lava condiciona o grau de
explosividade das erupções, sendo normalmente baixo em lavas básicas e vai aumentado à medida que há incremento
no conteúdo em sílica do líquido magmático.

8) Indique qual o fator extrínseco ao magma que contribui para uma maior explosividade do processo eruptivo.
Descreva de que modo isso sucede.

O fator extrínseco aos magmas que favorece a explosividade de uma erupção é o fator ambiental. As erupções podem
ocorrer ao ar (subaéreas) ou debaixo de água (subaquáticas). O contacto da lava com água pode ocorrer com corpos de
água subterrânea, níveis freáticos ou com corpos de água livre (ex.: glaciares, rios, mar…), esta interação pode ser
altamente explosiva, dependendo da proporção água/magma e da pressão confinante, uma vez que, a profundidade a
que se dá a interação água/lava, seja em corpos de água subterrânea ou corpos de água livre, pode inibir a explosividade
devido ao predomínio da pressão litostática ou hidrostática, respetivamente. Em alguns casos, a erupção pode
desencadear-se apenas pelo contacto entre água subterrânea e corpos de rocha aquecidos por intrusões que não
atingem a superfície, sendo que, neste caso pode dar-se uma erupção explosiva, resultado da vaporização da água
subterrânea que fragmenta as rochas encaixantes e suprajacentes.

9) Descreva sucintamente os processos de monotorização geodésica aplicados à previsão vulcânica.

A ascensão de magma para bolsadas situadas em níveis pouco profundos antecede geralmente qualquer erupção
vulcânica, essa movimentação de magma produz alterações, diminutas, mas detetáveis na topografia, resultantes do
aumento de volume do vulcão. Os processos utilizados na deteção da deformação da superfície são a inclinometria
(através de aparelhos que detetam variações muito pequenas de declive), bem como utilizando geodesia de precisão
através de distanciómetros ou GPS e os sistemas de deteção remota por Interferometria de Radar. O distanciómetro
eletrónico (EDM) é um instrumento que envia um sinal eletromagnético e recebe o seu reflexo a partir de um refletor
determinando a distância a partir do desfasamento do sinal. O GPS diferencial permite medir deslocamentos horizontais
e verticais com mais rigor (precisão milimétrica), tendo como vantagens: não requer intervisibilidade; quaisquer
condições climatéricas; são portáteis; instalação simples; transmissão de dados quase em tempo real; medição em
intervalos curtos. A Interferometria de Radar consiste na comparação de imagens (de radar obtidas por satélite) da
mesma área, obtidas antes e após a deformação, que se combinam para gerar um padrão de interferência. O que
corresponde a uma mudança da distância entre o satélite e o terreno. Tem como vantagem utilizar radiação na gama
do radar, sendo indiferente a nuvens e à noite.

10) Indique em que situações podem ocorrer emissão de dióxido de carbono por sistemas vulcânicos ativos. Quais
as principais características que tornam as emissões de CO2 altamente perigosa. Dê um exemplo de evento vulcânico
em que este gás teve um papel principal.
Os vulcões libertam diariamente grandes quantidades deste gás para a atmosfera, no entanto, na maioria dos casos não
representa uma ameaça direta à vida, isto porque normalmente sofre uma rápida diluição na atmosfera, originando
concentrações baixas. Contudo, em determinadas circunstâncias este gás pode atingir concentrações letais para
pessoas e animais. Como o CO2 é mais denso que o ar, pode acumular-se em áreas deprimidas ou ambientes fechados,
assim sendo, em regiões onde ocorram emissões deste gás, devem ser evitadas as zonas deprimidas, pois estas podem
conter “lagos” de CO2.
Para se perceber melhor o perigo associado a este gás, pode pensar-se no exemplo do Lago Nyos, onde a libertação
súbita de CO2 provocou a morte de todos os seres vivos num raio de 25Km. No fundo do lago existia uma grande
quantidade de CO2, resultado de fenómenos de desgaseificação, sendo que, a pressão de gás seria de cerca de 15bar,
com a pressão a aumentar ao longo do tempo, havendo libertação súbita de gás quando a água é perturbada, devido a
sismos ou escorregamentos, por exemplo.

11) Em que consistem e quais as principais diferenças entre Previsão Geral e Previsão específica? Indique quais as
técnicas principais utilizadas em Previsão Geral e quais os resultados que se podem obter.

A previsão geral baseia-se no conhecimento da história eruptiva do vulcão (passado geológico e histórico), tendo como
principais objetivos conhecer: os sistemas vulcânicos ativos; a história eruptiva de cada vulcão ativo no período histórico
e pré-histórico; os estilos eruptivos que o vulcão é capaz de gerar e a dimensão dos eventos vulcânicos produzidos no
período estudado, bem como o período de retorno ou intervalo de recorrência. Para isso, utilizam-se informações
essencialmente geológicas (Vulcano-estratigrafia), cartográficas (cartografia geológica), históricas (vulcanismo
histórico) e estatísticas (distribuição temporal das erupções). Como produto final temos Mapas Geológicos, Mapas de
Risco, Mapas de Perigosidade, que serão úteis no planeamento regional, para a ocupação de território, estabelecimento
de planos de evacuação, medidas a desenvolver pela Proteção Civil e a produção de mapas de risco (interesse para
seguradoras).
A previsão específica trata da monitorização ou vigilância do comportamento do vulcão (presente e passado
instrumental), que permite a previsão, isto é, quando e onde é mais provável que ocorra uma erupção e qual o tipo e a
dimensão do evento vulcânico esperado. Para isso, utilizam-se técnicas predominantemente geofísicas, geoquímicas e
geodésicas. Estas compreendem a deteção e quantificação de um conjunto de fenómenos percursores de uma erupção,
tais como, a determinação de modificações topográficas resultantes da deformação do edifício vulcânico, o controlo da
sismicidade, determinações de temperatura superficial e variações na composição e volume dos gases emitidos por
sistemas hidrotermais ativos.

12) Quais as principais técnicas utilizadas na deteção de deformações topográficas em regiões vulcânicas ativas?
Indique as suas características, vantagens e desvantagens.

A ascensão de magma para bolsadas situadas em níveis pouco profundos antecede qualquer erupção vulcânica. Essa
movimentação de magma produz alterações na topografia do edifício vulcânico resultantes do aumento de volume do
vulcão. As alterações manifestam-se sob a forma de variações de declive das vertentes, aparecimento de protuberâncias
e aumento da distância entre pontos.
Ao aumento do volume do edifício vulcânico, inflação, segue-se deflação após o início da erupção em resultado do
esvaziamento das bolsadas magmáticas que a alimentam.
Os processos utilizados na deteção destas variações são a inclinometria (que utiliza aparelhos que detetam variações
muito pequenas de declive – inclinómetros), os processos geodésicos (utilizando geodesia de precisão por
distanciómetros e GPS) e os sistemas de deteção remota (Interferometria de Radar – InSAR) utilizando imagens de
satélite na gama do radar.
▪ Inclinómetro Eletrónico contém um recipiente cheio com um fluido condutor e uma “bolha” para medir
mudanças de inclinação
▪ Distanciómetro Eletrónico é um instrumento que envia um sinal eletromagnético e recebe o seu reflexo a partir
de um refletor. Dependendo da distância entre o EDM e o refletor, o comprimento de onda do sinal de retorno
estará fora de fase com o sinal enviado. O instrumento compara o desfasamento entre os dois sinais e calcula
a distância eletronicamente.
▪ GPS permite medir deslocamentos horizontais e estimar deslocamentos verticais. Tem várias vantagens tais
como não requer que as marcas de referência sejam intervisíveis, as medições podem ser feitas com quaisquer
condições atmosféricas e são portáteis podendo transmitir os dados em tempo real.
▪ Interferometria de Radar (InSAR) consiste na comparação de imagens da mesma área obtidas antes e após a
deformação, que se combinam para gerar um padrão de interferência representado por franjas de cores do
espectro visível. Cada franja corresponde a uma mudança da distância de cerca de 3cm entre o satélite e o
terreno.

13) Em certas regiões vulcanicamente ativas existe a possibilidade de se produzirem jökulhlaups. O que são e qual
o processo de geração deste tipo de perigo vulcânico?

‘’Fluxo de Lama’’ de grande volume formado pela libertação súbita de água de fusão resultante de uma erupção sub-
glaciar.
Em regiões onde existem coberturas glaciares, normalmente em latitudes ou altitudes elevadas (ex.: Islândia, Andes),
as erupções podem ocorrer sob o gelo, nestas circunstâncias dá-se a fusão do gelo em torno do vulcão, criando uma
caverna cheia de água no seio do glaciar, tendo esta atividade eruptiva características de vulcanismo subaquático. O
maior perigo associado a estas erupções é a libertação súbita de enormes volumes de água de fusão, após rompimento
da parede do glaciar. Estas inundações repentinas, muito comuns dos vulcões sub-glaciares da Islândia designam-se de
jökulhlaups, uma espécie de lahar, mas de dimensões muito superiores, tanto em termos de volume de água envolvido,
como em área afetada.

14) Exponha técnicas ate agora utilizadas com sucesso na mitigação do risco associado a derrames lávicos,
indicando situações em que foram utilizadas. Refira aspetos éticos que justifiquem a não utilização das técnicas
referidas.

Se a erupção acontece, a informação decorrente da previsão geral e da previsão específica são complementares e
permitirão antecipar a evolução do fenómeno eruptivo. Se se tratar de vulcanismo ácido, fortemente explosivo não há
medidas de mitigação possíveis e a evacuação atempada é a única solução. Nos casos de atividade efusiva a
perigosidade vulcânica pode ser mitigada até certo ponto.
A finalidade das Barreiras é a de desviar a trajetória da lava para zonas de menor valor económico. As barreiras têm que
ser calculadas para resistir à pressão da massa de lava (que depende da espessura da escoada) e à velocidade da escoada
(que é função da viscosidade e do declive do terreno por onde flui). A sua utilização está dependente do início da
erupção de modo a saber-se o local dos centros eruptivos, o caminho que a lava seguirá e as áreas sensíveis a proteger.
É necessário ter em conta que a construção de barreiras é um trabalho demorado e dispendioso e que necessita que
exista material disponível nas proximidades em quantidade suficiente para as edificar. Foi utilizada em Itália em 1983 e
1992 no vulcão Etna.
O Arrefecimento de Frentes de Escoada com Água implica a existência de água em abundância que é continuamente
bombada para a frente da escoada, funcionando a frente arrefecida como uma barreira. Utilizado na Islândia em 1973
(Heimaey).
O Desvio de Escoadas através da Utilização de Explosivos consiste na abertura de brechas nos bordos dos derrames de
modo a desviar parte da lava do canal principal reduzindo o seu débito e capacidade de avanço. Este processo coloca
problemas complexos pois a utilização de explosivos é muito delicada. Utilizado no Etna em 1983 e 1982.
Existem problemas éticos relacionados com estas medidas de Mitigação ma vez que a imposição de barreiras com vista
à proteção de determinadas escoadas lávicas pode conduzir o fluxo lávico para locais próximos igualmente habitados.
Por vezes é a última ou a única medida de mitigação possível é a Evacuação. É utilizada em casos de povoações na
iminência de serem atingidas por derrames lávicos ou localizadas na área de queda de piroclastos ou suscetíveis de
serem atingidas por escoadas piroclásticas.
A evacuação pode ser decidida voluntariamente pela população, mas é da competência dos decisores políticos. Esta
decisão é sempre difícil de tomar pois implica o abandono de bens móveis e imóveis e perturba a organização social e
económica.

15) Os tsunamis podem ser gerados por sismos com rutura superficial do fundo marinho, por impactos meteóricos,
por movimentos de massa (em regiões submersas ou que entrem no mar) e por erupções vulcânicas. Descreva de que
modo um vulcão (com ou sem erupção) pode estar relacionado com a formação de um tsunami e refira casos históricos
ou pré-históricos em que tal tenha sucedido.

São ondas que atingem grande altura ao aproximar-se da linha de costa provocando enorme destruição. Os tsunamis
de origem vulcânica estão associados a vulcões insulares ou situados no litoral e podem ser desencadeados por
erupções explosivas com colapso de caldeira ou pelo colapso súbito do flanco de grandes edifícios vulcânicos resultantes
ou não de erupção.
A erupção da Cracatoa – Indonésia (1883) gerou um tsunami de 12 a 40 metros de altura. O edifício vulcânico entrou
em colapso, formando uma caldeira com cerca de 5 Km e reduziu 450 metros de envergadura a uma depressão de 275
metros de profundidade, o tsunami destruiu cerca de 300 aldeias piscatórias.
O vulcão Tera na Ilha Santorini atingiu todo o litoral do Mediterrâneo e se pensa ter sido a causa do desaparecimento
da cultura Minóica e originado a lenda de Atlântida.
Em muitas ilhas como na do Pico e do Fogo existem cicatrizes de colapso e depósitos correlativos nos seus flancos
submersos, que dão mostras de grandes escorregamentos que provocaram ondas gigantescas – tsunamis.

16) Relacione o grau de perigosidade vulcânica com estilo eruptivo, composição magmática e enquadramento
tectónico.

A distribuição global do vulcanismo está intimamente relacionada com a tectónica de placas. Os vulcões ocorrem em
três situações geotectónicas:
▪ Ambiente interplaca: associado a fronteiras de placa divergentes (dorsais oceânicas)
▪ Ambiente interplaca: ao longo de fronteiras convergentes onde ocorre subducção
▪ Ambiente intraplaca: no interior das placas relacionados com Hot spots
A erupção de lava pode ser efusiva com derrames de lava líquida ou explosiva através da projeção de fragmentos de
lava líquida, acompanhados ou não por fragmentos de rocha pré-existente.
A explosividade de uma erupção está relacionada com a composição química da lava. Quanto maior o conteúdo em
sílica, maior a quantidade de fluidos e a sua viscosidade. O grau de polimerização aumenta com o teor em sílica na lava,
tornando-a mais viscosa.
Assim, nas lavas básicas, mais fluidas, os gases escapam-se com facilidade do líquido magmático, enquanto que nas
lavas ácidas, a sua viscosidade torna difícil o escape dos gases.
A composição química da lava condiciona o grau de explosividade da erupção que é baixo em lavas básicas e aumenta
com o incremento do conteúdo em sílica do líquido magmático.
Outro fator que contribui para a explosividade é a presença de água em contacto com a lava. A água pode corresponder
a níveis freáticos (subterrâneos) ou a corpos de água livres como lagos, rios, glaciares ou o mar. As erupções em que
ocorre interação explosiva entre água e lava tomam a designação de hidromagmáticas ou freato-magmáticas. Uma
erupção pode ser desencadeada pelo contacto entre água subterrânea e corpos de rocha aquecidos por intrusões que
não atingem a superfície. Nesse caso pode ocorrer uma erupção explosiva, resultante da vaporização da água
subterrânea que fragmenta as rochas encaixantes e suprajacentes, que é designada por freática, uma vez que os
materiais fragmentados expelidos são apenas constituídos por rocha pré-existente.
A lava extruída de um modo efusivo, sob a forma de um líquido que escorre sobre a superfície topográfica, origina
derrames ou escoadas lávicas.
A lava fragmentada e os fragmentos líticos, extruídos de um modo explosivo, originam depósitos de piroclastos.

17) Emanação de CO2 c/ Lago Nios

Os vulcões libertam diariamente grandes quantidades deste gás para a atmosfera, no entanto, na maioria dos casos não
representa uma ameaça direta à vida, isto porque normalmente sofre uma rápida diluição na atmosfera, originando
concentrações baixas. Contudo, em determinadas circunstâncias este gás pode atingir concentrações letais para
pessoas e animais. Como o CO2 é mais denso que o ar, pode acumular-se em áreas deprimidas ou ambientes fechados,
assim sendo, em regiões onde ocorram emissões deste gás, devem ser evitadas as zonas deprimidas, pois estas podem
conter “lagos” de CO2.
Para se perceber melhor o perigo associado a este gás, pode pensar-se no exemplo do Lago Nyos, onde a libertação
súbita de CO2 provocou a morte de todos os seres vivos num raio de 25km. No fundo do lago existia uma grande
quantidade de CO2, resultado de fenómenos de desgaseificação, sendo que, a pressão de gás seria de cerca de 15bar,
com a pressão a aumentar ao longo do tempo, havendo libertação súbita de gás quando a água é perturbada, devido a
sismos ou escorregamentos, por exemplo.

18) Gases

O magma contém gases dissolvidos que são libertados para a atmosfera durante as erupções. Os gases são também
libertados do magma que permanece abaixo da superfície (constituindo intrusões) ou do magma que se encontra em
ascensão para a superfície através de uma conduta vulcânica. Nestes casos os gases podem escapar-se continuamente
para a atmosfera através das rochas e do solo por condutas vulcânicas, fumarolas ou sistemas hidrotermais.
Há diversos tipos de gases vulcânicos. O mais abundante é o vapor de água, mas encontram-se ainda gases como o
dióxido de carbono (CO2), o dióxido de enxofre (SO2), o sulfato de hidrogénio (H2S), o hidrogénio (H2), o monóxido de
carbono (CO), o ácido clorídrico (HCl) e o ácido fluorídrico (HF).
Os efeitos dos gases são as chuvas ácidas, abaixamento da temperatura, redução da camada de ozono, asfixia e
envenenamento.
As mudanças observadas nas emissões de gases podem relacionar-se com variações na taxa de alimentação magmática
do sistema vulcânico, mudança do tipo de magma ou alteração dos trajetos seguidos pelos gases até á superfície.
O principal objetivo da monitorização de gases num vulcão é a determinação de mudanças na sua quantidade e
composição, particularmente do dióxido de carbono e do dióxido de enxofre.
O método de estudo dos gases vulcânicos baseia-se na quantificação das taxas de emissão de gases numa pluma
eruptiva, na amostragem direta e análise laboratorial de gases, na monitorização contínua in-situ e na monitorização
de desgaseificação através do solo.

19) VEI (Volcanic Explosivity Index) e Magnitude

VEI
Índice de explosividade vulcânica, este índice, definido essencialmente por 2 parâmetros, altura da coluna e o volume
de piroclastos, permite dividir erupções pela sua dimensão e explosividade. Uma vez que os estilos eruptivos descritos
correspondem a um contínuo de manifestações vulcânicas a maneira de classificar uma erupção é através de dados
quantitativos.
A mais recente escala de magnitude, definida pelo volume de piroclastos emitidos e a altura da coluna, permite dividir
as erupções pela sua dimensão e explosividade.
Quanto mais elevado o VEI de uma erupção, maior a sua magnitude e a sua perigosidade.
Os 2 processos de quantificação são distintos pois o índice de explosividade vulcânica quantifica apenas a componente
piroclástica, volume de piroclastos ou altura da coluna, enquanto que a magnitude se aplica a todo o material extruído.
No caso de erupções predominantemente explosivas os valores de índice de explosividade e magnitude são
equivalentes, o mesmo não se passa quando se trata de erupções em que os derrames constituem uma proporção
significativa dos produtos emitidos, neste caso o valor de magnitude é superior ao de índice de explosividade vulcânica.

Magnitude de uma erupção


Outra proposta para quantificar a dimensão de uma erupção deve-se a Pyle (2000) e é designada Magnitude. O valor
da Magnitude (M) é obtido através de uma escala logarítmica da massa (em kg) dos produtos extruídos, quer se 11 trate
de derrames, quer de material piroclástico. A fórmula empírica proposta por Pyle é M = [(Log10 Massa em kg)-7] Os
dois processos de quantificação são distintos pois o VEI quantifica apenas a componente piroclástica (volume de
piroclastos ou altura da coluna), enquanto que a Magnitude se aplica à totalidade do material extruído. No caso de
erupções predominantemente ou exclusivamente explosivas os valores de VEI e M são equivalentes, o mesmo não se
passando quando se trata de erupções em que os derrames constituem uma proporção significativa dos produtos
emitidos. Neste caso o valor de M tende a ser superior ao do VEI.

20) Hazard ou Perigosidade Vulcânica

Toda a atividade vulcânica origina perigos variados, direta e indiretamente, quer pelos produtos emitidos durante a
erupção, quer por efeitos secundários durante ou após a erupção. O risco vulcânico advém da destruição e mortes
causadas por derrames lávicos, queda de material piroclástico de granulometria variada, fluxos de material piroclástico
a elevadas velocidade e temperatura, fluxos de lama e detritos (lahares) ou inundações, avalanchas de rochas em fusão
ou não, emissão de grandes volumes de gases asfixiantes, tóxicos, ácidos, ou com efeito de estufa, e tsunamis.

21) Atividade Havaiana

As erupções havaianas caracterizam-se por emissão de lava basáltica muito fluída de um modo efusivo. A atividade é
constituída por repuxos de lava contínuos que alimentam derrames aa ou pahoehoe, geralmente volumosos e rápidos
devido à fluidez da lava.
A emissão de material piroclástico é diminuta acumulando-se sob a forma de lapilli ou escórias em torno do centro
eruptivo, originando cones ou cristas de escórias soldadas.
Uma parte do material piroclástico de menor dimensão ascende, acabando por cair por ação da gravidade quando a
coluna eruptiva se dilui, arrefece e perde capacidade de sustentação.
22) Atividade Estromboliana

Atividade vulcânica que envolve lavas de composição basáltica que pode variar desde pequenas projeções de piroclastos
até descargas que produzem colunas eruptivas superiores a 1 Km de altura, acompanhados ou não por emissão de
escoadas.
O material projetado é constituído por fragmentos piroclásticos da dimensão dos lapilli e bombas. Em emissões de
maior duração forma-se uma pequena coluna de cinzas que se pode elevar algumas centenas de metros antes de ser
dispersa pelo vento.

23) Atividade Vulcaniana

Caracteriza-se por erupções de pequena magnitude, mas a s colunas eruptivas elevam-se muito alto atingindo às vezes
10 a 20 Km. Por esta razão os produtos piroclásticos são dispersos por áreas mais extensas.
É mais violentamente explosiva, por vezes destruindo parte do edifício vulcânico e produzindo grande quantidade de
material piroclástico finamente fragmentado.
Envolve lavas com viscosidade mais elevada. Este facto origina a formação de domas e agulhas na fase final da erupção
quando a lava já se encontra desgaseificada e é extruída de um modo não explosivo.
Durante o crescimento de domas e agulhas podem ocorrer colapsos gravíticos dando origem a nuvens ardentes.

24) Atividade Hidrovulcânica

A atividade surtsiana é um dos estilos eruptivos hidrovulcânicos.


A atividade hidrovulcânica pode ocorrer em muitas situações uma vez que a água está presente praticamente em todo
o lado.
Em contacto com a lava a água sofre vaporização, criando uma película de vapor instável no contacto com a lava, a qual
é arrefecida superficialmente. Na zona de contacto com a água, a lava arrefecida apresenta um gradiente térmico muito
marcado relativamente ao interior a elevada temperatura, criando-se tensões térmicas elevadas que levam à
fragmentação da lava arrefecida. Essa fragmentação aumenta a área de contacto entre a lava e a água e produz um
incremento das tensões. A fragmentação explosiva propaga-se para o interior do corpo magmático.
O contacto entre a água de um aquífero e um corpo rochoso sobreaquecido pode provocar explosões freáticas que
fragmentam as rochas suprajacentes, criando uma cratera e projetando piroclastos formados por rocha pré-existente.

25) Atividade Peleana

Ocorre associada a erupções com vários estilos eruptivos. Os episódios peleanos caracterizam-se pela formação de
nuvens ardentes resultantes do colapso gravítico ou da explosão de domas de lavas em crescimento ou da extrusão de
agulhas de lava viscosa.
As nuvens ardentes são escoadas ou fluxos piroclásticos constituídos por blocos de rocha maciça e cinzas, cuja massa
principal se desloca rente ao solo encoberta por uma nuvem carregada de cinzas que se eleva do corpo principal. Estes
fluxos piroclásticos podem cobrir distâncias importantes a grandes velocidades, encontrando-se a temperaturas
elevadas.

26) Atividade Pliniana

Caracteriza-se por grandes erupções explosivas associadas a magma ácidos, gerando colunas eruptivas sustentadas que
se elevam a grande altura acima dos centros vulcânicos.
Estas erupções geram depósitos piroclásticos de queda, frequentemente de pedra pomes e cinzas, podendo produzir
escoadas piroclásticas, explosões freato-magmáticas e originar lahares.
27) Interferência entre vulcões centrais e fissurais.

Sem interferência: alimentação do vulcanismo fissural não interfere


com câmaras magmáticas existentes; geralmente é o cenário de
menor perigosidade.

Com interferência: alimentação do vulcanismo fissural interfere


com uma câmara magmática existente, provocando uma erupção
de magmas evoluídos; geralmente é o cenário de maior
perigosidade.

Propagação lateral do vulcanismo: vulcanismo fissural é alimentado


pela propagação lateral da fonte do vulcanismo central, envolvendo
magmas da mesma composição; cenário de perigosidade
intermédia.

28) Isopacas e Isopletas

ISOPACAS
Isolinhas de espessura estratigráfica, i.e., linhas num mapa que unem os pontos com igual espessura de um particular
corpo geológico; representam a verdadeira espessura estratigráfica (e não a espessura vertical), i.e. medida
perpendicularmente ao plano de estratificação. Em vulcanologia são usadas para representar a variação da espessura
estratigráfica de um determinado depósito piroclástico em particular.
ISOPLETAS
Isolinhas que representam a ocorrência ou frequência de um fenómeno em função de duas variáveis, i.e. linhas num
mapa que unem pontos em que uma determinada variável apresenta um valor constante. Em vulcanologia são usadas
para representar a variação das dimensões máximas de um determinado elemento constituinte de um depósito
piroclástico (e.g. média dos 3 maiores fragmentos de uma determinada composição nos vários afloramentos de um
depósito piroclástico em particular).

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