Você está na página 1de 7

GEOLOGIA DE ENGENHARIA

ESTIMATIVA DO PICO DE
ACELERAÇÃO SÍSMICA
(PGA) PARA BARRAGENS DE
REJEITO NO BRASIL
Felipe CRUZ | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Fernanda MATARAZO | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Lucas FARIA | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Thiago BRETAS | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Marcelo RIUL | Engenheiro Hidrotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia

RESUMO ABSTRACT

No Brasil, eventos sísmicos são rela vamente raros, entretanto, a Seismic events are very rare in Brazil; however, the seismicity is not
sismicidade não é nula. Visando a segurança das barragens de rejeito null. Aiming at the safety of Brazilian Tailing Dams, the regula on NBR
brasileiras, a NBR 13028:2017 salienta que o potencial de sismicidade na 13028:2017 recommends the evalua on of the poten al for seismicity
área do empreendimento seja avaliado. A norma ainda recomenda a of region studied. The standards also recommend the use, in early stages
u lização, em etapas iniciais de estudo sísmico, do critério sugerido pela of seismic study, the criteria suggested by Canadian Dam Associa on to
Canadian Dam Associa on para es mar o Peak Ground Accelera on (PGA) es mate the PGA (Peak Ground Accelera on) of the region. Therefore,
da região. Portanto, o trabalho se propõe a explicitar a metodologia para the paper proposes to explain the methodology for determining the
determinação dos picos de aceleração sísmica, PGACalibrado, e a par r desse peaks of seismic accelera on, PGACalibrado, and de ne the coe cients used
resultado de nir os coe cientes u lizados nas análises pseudo-está cas. in the pseud-sta c analyses. Seismic studies of 12 regions throughput
Apresentam-se estudos sísmicos de 12 localidades situadas ao longo do the country is presented, evalua ng the PGAReal for the return periods
País, avaliando os PGAReal para os períodos de retorno de 2.475, 5.000 e of 2.475, 5.000 and 10.000 years, comparing them to the seismic threat
10.000 anos, comparando-os aos mapas de ameaças sísmicas do Brasil maps of Brazil published by Assumpção et. al (2016) where it presents
publicados por Assumpção et. al (2016), onde apresenta-se os valores de the PGAMap for the studied areas with the probability of occurrence
PGAMap para regiões analisadas, com a probabilidade de ocorrência de 10% of 10% and 2% in return periods of 475 and 2.475 years respec vely.
e 2%em períodos de retorno de 475 e 2.475 anos, respec vamente. Após se A er obtaining the PGAMap for the return periods, a mathema cal
obter os PGAMap para os períodos de retorno supracitados, desenvolveu-se calcula on was developed through exponen al projec ons to es mate
um cálculo matemá co por meio de projeções exponenciais para es ma va the PGACalibrado for return periods greater than 2.475 years. The current
desse parâmetro para períodos de retorno superiores a 2.475 anos. Esta research proposes, based on methodology developed for es ma ng the
pesquisa propõe, com base na metodologia desenvolvida para a es ma va PGAMap, a calibra on model for this parameter correla ng it with the
do PGAMap, um modelo de calibração desse parâmetro, correlacionando-o PGAReal, obtained through seismic studies located in the study areas, thus
com o PGAReal, ob do através de estudos sísmicos localizados nas áreas de direc ng the values obtained closer to the real values. It is important to
estudo, direcionando, dessa forma, os valores ob dos para mais próximos emphasize that the PGA es mate proposed in this study is chosen for the
aos valores reais. É importante salientar que a es ma va do PGA proposta ini al phases of the project, in the case of detailed projects, it is necessary
neste estudo é indicada para as fases iniciais do projeto. No caso de projetos that a pseudo-sta c analysis is carried out with the obtainment of the
detalhados, sugere-se que a análise pseudo-está ca seja realizada com a PGA, through a seismic study of the region of implementa on of the
obtenção do PGA através de um estudo sísmico da região da implantação projected structure.
da estrutura projetada.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 125


ESTIMATIVA DO PICO DE ACELERAÇÃO SÍSMICA (PGA) PARA BARRAGENS DE REJEITO NO BRASIL

1. INTRODUÇÃO Segundo a IAG-USP (2019), a intensidade das vibrações


de um sismo depende da distância do epicentro. Um sismo

A
s análises sísmicas eram tratadas como uma veri cação rela vamente pequeno, mas raso, pode causar sérios danos bem
pouco necessária na maioria do território brasileiro, próximo ao epicentro (grande intensidade). Da mesma forma,
entretanto, no século XXI, principalmente após as sismos maiores podem não causar dano algum na super cie
empresas detentoras de pilhas e barragens de mineração (baixa intensidade) por ter o foco muito profundo. Assim, a
aderirem aos projetos de design review, esse po de análise escala Mercalli não é muito apropriada para medir o “tamanho”
começou a ser estudada com o detalhamento devido. Desde de um sismo, ou seja, a energia total liberada pela ruptura.
então, estudos sísmicos das áreas de implantação das estruturas A aceleração produzida por um sismo, a qual está relacionada
de mineração vem sendo realizados, conforme a orientação com a intensidade de movimento em determinado local, é o
da NBR13028:2017, tópico 5.3.6 - Estudos sísmicos, explicita: parâmetro mais comumente u lizado para a análise sísmica
“Recomenda-se, para as etapas iniciais de estudo, a u lização de taludes. A aceleração máxima horizontal é o valor absoluto
do critério sugerido pela Canadian Dam Associa on (CDA), que da aceleração horizontal ob do no acelerograma. O efeito das
indica a adoção da aceleração da gravidade resultante do Sismo acelerações ver cais sobre a estrutura é reduzido, mas não deve
Máximo Provável (Maximum Credible Earthquake - MCE) para ser desconsiderado. Usualmente, considera-se que a aceleração
análises pseudoestá cas”. de pico ver cal é dois terços da aceleração máxima horizontal.
Segundo Mejía (2015), sismos são fenômenos naturais No entanto, em locais próximos ao epicentro, as acelerações
causados por falhas geológicas e por fenômenos vulcânicos que ver cais podem adquirir valores mais elevados (Mejía, 2015,
podem provocar deslizamentos de terra. apud Suarez, 2009).
Mejía (2015) apud Suarez (2019) a rmam que os dois Movimentos com altos picos de aceleração não são,
parâmetros mais importantes para es mar a grandeza de um necessariamente, os mais destru vos, uma vez que o tempo
terremoto são a magnitude e a intensidade. A magnitude é uma de ocorrência do terremoto intervém de forma importante no
medida quan ta va, relacionada com a energia sísmica liberada no comportamento dos solos (Mejía, 2015, apud Suarez, 2009).
foco e com a amplitude das ondas registradas pelos sismógrafos. As ondas sísmicas são movimentos vibratórios das par culas
Richter (1935) de niu a magnitude dos terremotos locais como: das rochas que se transmitem segundo super cies concêntricas
o logaritmo de base 10 da amplitude máxima da onda sísmica, devido à libertação súbita de energia no foco sísmico. Quando
expressa em milésimos de milímetro (mícron), registrado em ocorre um sismo, diferentes pos de ondas são produzidos.
um sismógrafo padrão, a uma distância de 100 quilômetros do Segundo Mooney (1984), em um meio homogêneo, dois
epicentro do evento; e a intensidade sísmica é um conceito que é pos de ondas elás cas podem ser observados: as ondas de
aplicado para iden car o grau de destruição ou efeitos locais de corpo, que são divididas em longitudinais (compressionais
um terremoto. A intensidade, a qual é uma medida rela va da força ou P) e transversais (cisalhantes ou S), e as ondas super ciais.
sísmica em um dado ponto, depende da magnitude do sismo, da As ondas de corpo possuem a capacidade de se propagarem
profundidade da liberação de energia, das caracterís cas sicas da tanto na super cie como no interior dos materiais. Já as ondas
zona do local e da distância até o epicentro. super ciais, como o próprio nome já diz, se propagam apenas
A magnitude e a intensidade podem ser relacionadas pela na super cie e têm sua amplitude rapidamente atenuada com
Equação 1 Gutenberg e Richter (1954) a profundidade. Segundo Freitas (2020) apud (Sjogren, 1984),
as ondas longitudinais são aquelas em que o movimento das
Magnitude= 1 + 2/3 × Intensidade [1] par culas ocorre na mesma direção de propagação das ondas.
Quando ocorre um sismo, elas são as primeiras ondas a serem
Uma maneira de medir a intensidade de um sismo ou terremoto registradas, por isso são denominadas de ondas primárias ou
é pelo efeito que ele causa. A classi cação mais u lizada para os ondas P. Além disso, elas se propagam tanto em meios sólidos
efeitos de um sismo é a chamada “Escala Mercalli”, com graus que quanto em uidos, pois todos esses meios são compressíveis.
variam de I a XII, conforme os efeitos nas pessoas, construções e na Já nas ondas transversais, o movimento das par culas é
própria natureza. Portanto, é uma escala que não envolve medida perpendicular à direção de propagação da onda. A passagem
direta com instrumentos, mas apenas classi ca a intensidade dessas ondas provoca variações de forma no meio através de
das vibrações segundo a percepção do ser humano e os estragos esforços cisalhantes. Sendo a rigidez a principal propriedade
causados, sendo u lizada de maneira super cial e apenas relacionada à velocidade de propagação dessas ondas, as ondas
conceitual devido ao seu grau de subje vidade e observação local. transversais não se propagam em meios uidos, uma vez que

126WWW.CBDB.ORG.BR
a rigidez é zero. Além disso, essas ondas são mais lentas que 2. SISMICIDADE NO BRASIL
as ondas longitudinais, logo, são registradas depois, sendo
denominadas de ondas S (ondas cisalhantes). No Brasil, eventos sísmicos são rela vamente raros. Entretanto, a
As ondas super ciais são ondas que se formam na super cie sismicidade não é nula e precisa ser levada em conta para as análises
livre e podem ser diferenciadas em ondas Rayleigh e Love, de estabilidade pseudo-está cas. Com isso, a norma que rege as
que se dis nguem pelo po de movimento que as par culas barragens de rejeito brasileiras, a NBR 13028:2017, salienta que
exercem durante sua trajetória. Nas ondas Rayleigh, as par culas o potencial de sismicidade na área do empreendimento deve ser
se deslocam no plano ver cal em um movimento elíp co e avaliado. O Brasil se encontra numa região “estável”, referida como
retrógrado, perturbando, além da super cie livre do meio, as intraplaca, onde os sismos têm pequenas profundidades. Raramente
par culas abaixo deste, tendo sua amplitude diminuída com chegam a 40 km e correspondem a pequenas rupturas na crosta
o aumento da profundidade. Já nas ondas Love, as par culas superior. Nenhuma região intraplaca está totalmente isenta de
vibram horizontalmente e perpendicularmente ao sen do de pequenos tremores. Em alguns casos raros, sismos intraplaca podem
propagação da vibração, correspondendo a superposições de a ngir magnitudes altas, acima de 7, e serem catastró cos.
ondas S com vibrações horizontais concentradas nas camadas A NBR 15421:2006, mesmo não abrangendo estruturas de
mais externas da Terra (Dourado, 2012). mineração, é a norma brasileira que aborda sismicidade em
Na Figura 1 apresenta-se como as par culas do meio se estruturas, baseando-se em um trabalho desenvolvido no ano
movimentam com a passagem de cada po de onda. de 1995. A norma estabelece a divisão do território brasileiro

Figura 1 - Movimento das partículas associado a passagem de diferentes ondas (Freitas, 2020)

Uma vez que são as primeiras ondas a serem registradas em zonas, conforme apresentado na Figura 2, considerando um
pelos geofones, econsequentemente, serem de mais fácil período de recorrência de 475 anos, ou seja, a probabilidade
iden cação nos sismogramas, as ondas longitudinais são de ocorrência de 10% em 50 anos. O zoneamento apresentado
as principais a serem analisadas a par r dos métodos de vai da Zona 0, com aceleração caracterís ca em solo Classe B
prospecção sísmica (re exão e refração). Entretanto, a par r do (rocha) de 0,025 vezes a aceleração da gravidade (0,025g) até a
desenvolvimento das metodologias de ensaios em anos mais Zona 4, que tem aceleração caracterís ca de 0,15g. Ressalta-se
recentes, a caracterização do meio a par r da propagação das que, apesar de estar em vigor, cabe uma revisão de norma, com
ondas S e das ondas super ciais também tem sido possível. a inserção de novos dados sobre a sismologia no Brasil.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 127


ESTIMATIVA DO PICO DE ACELERAÇÃO SÍSMICA (PGA) PARA BARRAGENS DE REJEITO NO BRASIL

de maior sismicidade do Brasil. Também, parte da área do MT e


Goiás (GO) veram certa relevância. Por úl mo, no modelo C foram
de nidas oito áreas sismicamente a vas no território brasileiro, no
qual parte do MT mostrou-se como o local com maiores valores de
aceleração, seguido dos estados do RN e CE.
Segundo Nobrega et al (2019) apud Assumpção et al. (2016), os
modelos usaram a Ground Mo on Predic on Equa on (GMPE):
métodos de atenuação da intensidade sísmica dos pesquisadores
Silva, Gregor e Darragh. Os mapas foram, então, integrados entre
si, aplicando-se diferentes pesos a cada um deles. No modelo nal,
não houve a consideração da in uência da a vidade sísmica andina,
sendo possível que este fator provoque, ainda, alterações no mapa
no sen do de aumentar a aceleração, principalmente nos estados
mais a oeste do País. A Figura 4 ilustra o mapa de ameaça sísmica
para períodos de retorno T = 475 anos e 2.475 anos.

Figura 2 - Zonas de acelerações sísmicas conforme ABNT


NBR: 15421:2006 – Terrenos Classe B (Rocha)

Como a NBR 15421:2006 não abrange estruturas especiais


(entre elas estão as estruturas de mineração), precisou-se
avaliar outro po de literatura para a de nição dos PGA a serem
u lizados no Brasil. Assumpção et al. (2016), inicialmente,
ponderam que a delimitação das “zonas sísmicas” não é uma
tarefa trivial e fácil, sendo a melhor alterna va a consideração
de vários modelos alterna vos, cada um com um peso num
esquema de árvore lógica. Figura 4 - Mapa de ameaça sísmica para T = 475 e 2.475 anos
Nobrega et al. (2019) apresentam três modelos independentes (Assumpção et al., 2016)
de zona sísmica, considerando ainda nessas propostas os
métodos de suavização descritos em Pichiner (2014). Os mapas
resultantes de cada modelo são indicados na Figura 3.
No modelo A foram de nidas 11 áreas-fontes dis ntas para todo 3. PROPOSTA PARA ESTIMATIVA DO
o território brasileiro no qual os estados do Ceará (CE) e Rio Grande PICO DE ACELERAÇÃO SÍSMICA
do Norte (RN) apresentaram-se como os locais com maiores
perigos sísmicos (ambos formam uma mesma fonte sísmica) e, Avaliou-se 13 estudos sísmicos em diferentes regiões do
também, o Mato Grosso (MT). O modelo B foi processado com Brasil, comparando os resultados ob dos, denominados nesta
15 fontes e, novamente, CE e RN apresentaram-se como os locais pesquisa de PGAReal, com os resultados ob dos através do mapa
de ameaça sísmica de Assumpção
et al. (2016), denominados como
PGAMap. A Tabela 1 apresenta o
quadro resumo u lizado para o
desenvolvimento da pesquisa.

Figura 3 - Mapas de ameaça


sísmica (Nobrega et al. (2019)
apud Assumpção et al, 2014)

128WWW.CBDB.ORG.BR
Local PGAReal PGAMap Período de retorno Fonte

Pará 1 0,090 0,167 10000 Arquivo pessoal

Pará 2 0,027 0,077 5000 Arquivo pessoal

QF 1 0,200 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 2 0,168 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 3 0,203 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 3 0,110 0,203 5000 Arquivo pessoal

QF 3 0,063 0,170 2475 Arquivo pessoal

QF4 0,070 0,160 2475 Arquivo pessoal

QF5 0,070 0,160 2475 Arquivo pessoal

QF4 0,150 0,230 10000 Arquivo pessoal

QF5 0,150 0,230 10000 Arquivo pessoal

Pará 2 0,049 0,093 10000 Arquivo pessoal

Pará 2 0,018 0,060 2475 Arquivo pessoal

SE 1 0,030 0,120 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

NE 1 0,069 0,170 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

RJ 1 0,067 0,120 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

OS 1 0,130 0,200 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

QF 1 0,100 0,170 2475 Arquivo pessoal

QF 2 0,065 0,170 2475 Arquivo pessoal

QF 6 0,201 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 6 0,076 0,170 2475 Arquivo pessoal

NE 2 0,200 0,251 10000 Arquivo pessoal

Legendas: QF (Quadrilátero Ferrífero), SE (Sudeste), NE (Nordeste), RJ (Rio de Janeiro) e OS (O�shore Sudeste)

Tabela 1: Quadro resumo dos PGA’s obtidos

Os mapas de ameaça sísmica do Brasil propostos por Assumpção anos, por meio de cálculo matemá co através de projeções
et al. (2016) consideram períodos de retorno de 475 anos com exponenciais com base na tendência dos valores ob dos para
probabilidade de ocorrência de 10% em 50 anos e de 2.475 anos os PGAMap com período de retorno de 475 e 2.475 anos. Vale
com probabilidade de ocorrência de 2% em 50 anos, como foram ressaltar que por se tratar de uma extrapolação, há possibilidade
apresentados na Figura 4. Este estudo es pulou uma extrapolação de ajustes devido a uma possível dispersão. A Figura 5 apresenta a
para obtenção de uma PGAMap com período de retorno de 10.000 extrapolação proposta para obtenção.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 129


ESTIMATIVA DO PICO DE ACELERAÇÃO SÍSMICA (PGA) PARA BARRAGENS DE REJEITO NO BRASIL

Nota-se que a linha de convergência está pra camente


sobreposta à linha de tendência do grá co apresentado na
Figura 7, com uma regressão também muito próxima a unidade.
Porém, os autores deste trabalho perceberam que ao aplicar a
correlação proposta pela Equação 2, apesar da convergência
quase que total com o PGAReal, alguns PGAEs mado caram abaixo
dos valores do PGAReal. Como entende-se que, para es mar
um PGA, essa es ma va deva ser igual ou maior que o PGAReal,
propôs-se a u lização do limite superior da correlação entre
Figura 5 - Extrapolação para projeção do PGAMap proposta nesta pesquisa PGAReal x PGAEs mado. A Equação 3 apresenta a correção proposta
para obtenção do PGACorrigido.

Fez-se uma correlação entre o PGAMap e o PGAReal apresentados PGAEs mado= 0,011 × e11,698PGAmap + 0,02 [3]
na Tabela 1 e obteve-se uma correlação entre as duas medidas. A
Figura 6 apresenta a correlação entre o PGAReal x PGAMap. A Figura 8 apresenta a correlação entre PGAReal x PGACorrigido.

Figura 6 - Correlação entre PGAReal x PGAMap Figura 8 - Correlação entre o PGAReal x PGACorrigido

Com a correlação entre o PGAReal x PGAMap ob da com sucesso


e com uma regressão muito próxima a unidade, estabeleceu-se a 4. CONCLUSÕES
Equação 2:
O presente trabalho conclui que a avaliação da sismicidade
PGAEs mado= 0,011 × e11,698PGAmap [2] no território brasileiro é um po de estudo necessário e
que sua aplicação vem crescendo, principalmente quando
De posse dessa nova formulação obteve-se o PGAEs mado para direcionamos para os projetos e obras de mineração. Com
cada PGAMap analisado e comparou-se os PGAEs mado com os PGAReal, a necessidade de se realizar análises pseudo-está cas
obtendo a correlação apresentada na Figura 7. asser vas e a contento com a NBR13028:2017, torna-se
necessário es mar o valor do pico de aceleração sísmica para
projetos em regiões sem um estudo de sismicidade realizado
ou em andamento. Nota-se que o mapa de ameaça sísmica
do Brasil elaborado por Assumpção et. al. (2016) possui um
PGA mais elevado que os PGA’s ob dos em estudos sísmicos.
Em um estudo sísmico desenvolvido pelo próprio autor, ele
reconhece que é provável que o mapa de ameaça sísmica do
Brasil (Assumpção et. al, 2016) esteja in uenciado pelos sismos
mais próximos em relação aos pesos considerados nos estudos
sísmicos locais, além de ser conservador, incluindo contribuições
Figura 7 - Correlação entre PGAReal x PGAEstimado de sismos de magnitude muito pequena (até 3,00 mb).

130WWW.CBDB.ORG.BR
Ressalta-se que a u lização do mapa de ameaças sísmicas do propaga on in laterally heterogeneous structures, Australian Bureau and Mineral
Brasil (Assumpção et. al, 2016) não é recomendada para obtenção Resources. Geology and Geophysics Report 258, pp. 159-165.

de es ma vas de PGA pelos elevados valores apresentados. Os Nobrega, P. G. B.; Souza, B. R. S.; Felipe M. L. C.; Nobrega, S. H. S. (2019). Sobre os
mapas de perigo sísmico para o projeto de estruturas. In: 61° Congresso Brasileiro
autores sugerem que seja realizada uma calibração dos PGAs, caso
do Concreto – CBC, Fortaleza.
resolva-se adotar os valores sugeridos por Assumpção et. al (2016).
Pirchiner, M. (2014). Técnicas de suavização aplicadas à caracterização de fontes
Os autores propõem a u lização da Equação 3 para a realização
sísmicas e à análise probabilís ca de ameaça sísmica. 106 f. Dissertações (Mestrado)
da es ma va do PGA, com base nos mapas de ameaça sísmica
- Curso de Mestrado em Modelagem Matemá ca da Informação, Escola de
propostos por Assumpção et al. (2016). Vale ressaltar que os Matemá ca Aplicada, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2014.
autores propõem a es ma va do PGA para as fases iniciais do Richter, C.F. (1935). An Instrumental Magnitude Scale, Bull. Seismol. Soc. Amer., 25,
projeto. No caso de projetos detalhados, sugere-se que a análise 1-32.
pseudo-está ca seja realizada com a obtenção do PGA através de
um estudo sísmico da região da implantação da estrutura projetada.

Felipe CRUZ
É Engenheiro Civil, Especialista em Geotecnia pela PUC Rio,
5. PALAVRAS CHAVE Mestre em Geotecnia (COPPE/UFRJ) e Doutorando em
Geotecnia pela UERJ. Com mais de 20 anos de experiência
em Geotecnia, atuou em Fundações, Estabilidade de Taludes,
Coe ciente de Aceleração Sísmica, PGA (Peak Ground
Pilhas de Rejeito e Barragens. Atualmente, trabalha como
Accelera on), Análise Pseudo-Está ca. Engenheiro Geotécnico Sênior na BVP e é professor dos cursos
de pós-graduação em Geotecnia da PUC Minas e FATEC-PR.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Lucas Gonçalves de FARIA


É Engenheiro Civil formado pelo Centro Universitário de Belo
Horizonte e Técnico em Estradas formado pelo Centro Federal de
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017). NBR 13028. Mineração- Elaboração
Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atua como Engenheiro
e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de
Geotécnico na BVP em projetos de Barragens e Pilhas.
sedimentos e reservação de água – Requisitos
Assumpção, M.; (2016). Intraplate stress eld in South America from earthquake
Fernanda Yamaguchi MATARAZO
focal mechanisms. Journal of South American Earth Sciences. É Engenheira Civil e Pós-graduada em Engenharia Geotécnica
Assumpção, M.; Dias, F. L.; Zevallos, I.; Nalibo , J. B. (2016), Intraplate stress eld in e Engenharia de Segurança do Trabalho. Atualmente, trabalha
South America from earthquake focal mechanisms. Journal of South American Earth como Engenheira Geotécnica na BVP em projetos de Barragens
Sciences doi: 10.1016 e Pilhas e é professora do curso de Pós-graduação em
Canadian Dam Associa on – CDA (2019). Technical Bulle n: Applica on of Dam Geotecnia da PUC Minas.
Safety Guidelines to Mining Dams. English edi on. Canadá.
Dourado, J.C (2012). Ondas Sísmicas. 2012. UNESP – Métodos Sísmicos e Radar de Thiago BRETAS
penetração no solo aplicados aos levantamentos geológicos. Ins tuto de Geociências É Engenheiro Civil, Pós-graduado em Estruturas de Concreto
e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio Armado e Fundações e Mestre em Geotecnia (UFOP).
de Mesquita Filho”. Possui mais de 20 anos de experiência, com forte atuação
em modelagens numéricas 2D e 3D, por equilíbrio-limite e
Freitas, M. D. N (2020). Análise da Integridade Física de Barragens de Terra a par r
elementos nitos, de Barragens, Pilhas, Cavas e Sistemas de
de Métodos Sísmicos. Tese de mestrado apresentada ao Ins tuto de Geociências e
Estabilização. Atualmente, trabalha como Líder de Geotecnia na
Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
BVP e é professor dos cursos de Pós-graduação em Geotecnia
Mesquita Filho”.
da PUC Minas e do Ins tuto Minere.
Gutenberg. B.; Richter. C. F. (1956). Earthquake Magnitude, Intensity, Energy and
Accelera on (second paper), Bull. Seismol Soc. Amer., 46, 2, 105-145.
Marcelo RIUL
Ins tuto de Astronomia, Geo sica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São
É Engenheiro Civil (Universidade Estadual Paulista/1995),
Paulo (IAG-USP). (2019). Introdução à Sismologia. XXI Escola de Verão, São Paulo.
Especialista em Obras Hidráulicas Fluviais e Marí mas
Mejía J. L. L (2015). Estabilidade de Talude com Efeito Sísmico a Par r dos Métodos (Universidade de São Paulo/2008), em Engenharia Urbana
de Equilíbrio Limite e de Elementos Finitos. Tese de mestrado Programa de Pós (Universidade Federal de São Carlos/2000) e em Saneamento e
Graduação em Engenharia Civil, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Meio Ambiente (Universidade Estadual de Minas Gerais/1998).
Mooney, W. D (1984). An interpreta on of synthe c seismograms for a two- Possui 25 anos de atuação com par cipação em mais de 100
dimensional structure, workshop proceedings: Interpreta on of seismic wave grandes projetos (Mineração, Meio Ambiente e Infraestrutura).

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 131

Você também pode gostar