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DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE BÁSICA DO VENTO

EM JOAÇABA-SC E ESTUDO DO SEU EFEITO EM


EDIFICAÇÃO DE CONCRETO ARMADO
Guilherme Leonel Salvador
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Brasil, salvador.gui100@gmail.com

Jhulis Marina Carelli


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Brasil, jhulis.carelli@unoesc.edu.br

RESUMO:

O conhecimento do regime de ventos de uma região, e os efeitos da ação deste fenômeno nas
edificações é revestido de grande importância para a concepção estrutural de edifícios de concreto
armado mais altos e esbeltos. Dessa forma, a proposta de determinar a velocidade básica do vento em
Joaçaba – SC e analisar os efeitos da ação do vento em uma estrutura de concreto armado mostra-se
interessante, proporcionando o conhecimento da velocidade do vento que realmente ocorre na região,
trazendo maior refino ao conhecimento já existente, além de verificar o quanto uma variação da
velocidade básica do vento pode impactar na estrutura. Para calcular a velocidade básica do vento, os
dados obtidos nas medições da estação de Joaçaba – SC, foram submetidos ao mesmo tratamento
estatístico usado na criação do mapa das isopletas da NBR 6123 (ABNT, 1988). Tal procedimento
visa garantir a confiabilidade desses dados, identificando possíveis anomalias nos registros. Após a
aprovação dos dados na triagem estatística, foi possível calcular a velocidade básica do vento. Dada
a variabilidade do parâmetro fator de forma, optou-se por calcular quatro velocidades, cada uma
usando um valor diferente para o fator de forma. Chegou-se a resultados entre 44,05 m/s e 49,36 m/s.
Percebeu-se que o primeiro apontou para um regime de ventos de acordo com o sugerido pela norma,
afirmando assim, a veracidade do que vem sendo usado atualmente. O segundo, apresentou-se 9,69%
acima do limite superior indicado na norma. Para analisar o efeito da variação na velocidade do
vento, foi aplicado em uma estrutura de concreto armado a velocidade básica recomendada pela
norma, de 44 m/s e a maior velocidade básica encontrada neste estudo, comparando o comportamento
dos esforços na estrutura e alguns parâmetros estruturais, como forças horizontais, deslocamento
frequente, coeficiente Gama–Z, momento de tombamento e momento de segunda ordem. Os
parâmetros estruturais analisados, com exceção do Gama-Z, que se manteve inalterado, apresentaram
de modo geral aumento de 25% a 27% com o acréscimo de 12,27% na velocidade básica do vento.
Evidenciando assim, a relevância das cargas geradas pelo vento no dimensionamento de uma
estrutura de concreto armado. Os pilares foram os elementos estruturais mais afetados pela ação do
vento, visto que, de acordo com o modelo estrutural adotado, a carga do vento é aplicada como força
horizontal concentrada nos pilares dos pórticos que funcionam como elemento de contraventamento,
garantindo a estabilidade global do edifício.

PALAVRAS-CHAVE: Vento. Velocidade. Força. Análise estrutural.

1 INTRODUÇÃO influenciará nos esforços, nas deformações, e no


resultado final das seções dos elementos
No processo de dimensionamento estrutural é resistentes.
de grande importância a correta consideração, Dentre as cargas variáveis consideradas no
por parte do projetista, das cargas que atuam na cálculo estrutural, ocorre a ação do vento. Em
estrutura. A mensuração dessas cargas edifícios mais altos e esbeltos esse carregamento
assume especial importância, produzindo de ar ao adquirir uma certa velocidade, quando
esforços adicionais na estrutura. As encontra a superfície de uma estrutura inerte,
considerações referentes ao efeito do vento nas produz nela uma pressão (SÁLES et al., 1994).
edificações são prescritas pela NBR 6123 Segundo Chamberlain (2016) o caso mais
(ABNT, 1988). fácil de identificar tal fenômeno é quando uma
A norma brasileira apresenta uma velocidade frente fria chega na área e choca-se com o ar
de referência como parâmetro meteorológico quente, produzindo vento. Esse tipo de
básico. O cálculo da força devida ao vento parte fenômeno pode ser observado antes do início de
do valor da velocidade básica do vento (V0) uma chuva.
indicado pela norma através de um mapa de
isopletas. Neste mapa, a velocidade básica (V0) 2.1 VALORES UTILIZADOS PARA
é obtida observando o valor de cada curva e a DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DO
localização da edificação. Esta carta de isopletas VENTO
foi obtida a partir dos registros das rajadas
máximas anuais de 49 estações do Serviço de De acordo com Padaratz (1977) existem duas
Proteção ao Voo do Ministério da Aeronáutica, correntes no que se refere à fixação da
situadas nos principais aeroportos do país. velocidade básica do vento, para determinação
Desde a época de elaboração do mapa, da velocidade de cálculo. Davenport (1965) apud
inúmeras estações meteorológicas novas foram Padaratz (1977), estudando o espectro do vento
instaladas em todo o território nacional. Só em natural, sugere como parâmetro útil para base do
Santa Catarina atualmente são mais de 30 estudo do vento, a velocidade média calculada
estações em operação. Uma delas localiza-se no sobre um período de 10 minutos a 1 hora. Ele se
município de Joaçaba – SC, fornecendo os dados baseia no fato de que a média sobre poucos
para esse estudo. segundos não leva em conta a influência das
Desse modo, a determinação da velocidade sequências de rajadas, que produzem efeitos
básica do vento (V0) em Joaçaba –SC, usando os dinâmicos em uma estrutura.
dados registrados pela estação meteorológica Newberry (1967) apud Padaratz (1977),
instalada na cidade no fim do ano de 2007, se deu porém, é de opinião que interessam para o
seguindo os passos indicados por Padaratz projeto estrutural cargas do vento agindo sobre
(1977). Assim, os dados foram submetidos a poucos segundos; a maioria das construções tem
mesma triagem estatística usada na elaboração frequências naturais altas em relação as
do mapa das isopletas apresentado na norma. frequências predominantes do espectro do vento
Concomitantemente, para aplicação da natural, onde o efeito dinâmico torna-se então
velocidade do vento foi concebida uma estrutura desprezível (PADARATZ, 1977).
de concreto armado, onde foi possível comparar Assim sendo, de acordo com o critério
o quanto uma alteração na velocidade do vento adotado na norma Britânica, a análise é baseada
impacta no cálculo da estrutura. Para tanto, no valor máximo provável da velocidade
observou-se o comportamento dos esforços nos “instantânea” a qual se admite originar uma
elementos estruturais, além de alguns solicitação estática. No Brasil, foi adotado para o
indicadores estruturais como o coeficiente projeto da NB-5 o mesmo enfoque da norma
Gama-Z, as forças horizontais, o deslocamento Britânica. Consequentemente se faz necessário o
frequente no topo da edificação, o momento de uso de velocidades de rajadas (PADARATZ,
tombamento de cálculo e o momento de segunda 1977).
ordem de cálculo.
2.2 MODELAGEM ESTATÍSTICA PARA
ANÁLISE DOS DADOS E DETERMINAÇÃO
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA VELOCIDADE BÁSICA

Vento, é o deslocamento de massas de ar A predição da velocidade do vento é obtida


decorrentes das diferenças de temperatura e, através do ajuste de uma distribuição de
principalmente, pressão na atmosfera. A massa probabilidade de valores extremos aplicados a
registros de velocidades máximas anuais ɣ: Fator de forma;
absolutas, coletadas em estações meteorológicas R: Período de retorno.
de superfície (FERREIRA, 2005).
A teoria dos valores extremos (TVE) vem 2.2.1 Correção do fator de forma (ɣ)
sendo bastante utilizada em campos ligados a
eventos raros. A modelagem de valores extremos De acordo com Padaratz (1977) os valores de
de fenômenos da natureza tais como velocidade ɣ se apresentam fortemente tendenciosos,
de vento, nível da água de rio ou mar, altura de devendo serem corrigidos pelo coeficiente B(n)
onda ou umidade é importante em estatística citado por Riera; Viollaz e Reimundin (1977). A
ambiental pois o conhecimento de valores correção é feita multiplicando o fator de forma
extremos de tais eventos é crucial na prevenção pelo coeficiente B(n), que é função do número
de catástrofes (PINHEIRO, 2013). de anos (N) de registros existentes.
Consoante Bautista (2002) os fundamentos da
teoria dos valores extremos (TVE) foram 2.2.2 Fator de forma único (ɣo único)
inicialmente expostos por Fisher e Tippett
(1928), que definiram os três tipos possíveis de Consoante Padaratz (1977) há uma grande
distribuições assintóticas dos valores estremos, variabilidade do estimador do fator de forma (ɣ)
conhecidas como de Gumbel, de Fréchet e de correspondente a cada estação de registro.
Weibull, respectivamente. Torna-se portanto pouco recomendável o
Para determinação da velocidade básica do emprego dos valores individuais do ɣ no cálculo
vento Thom (1968) apud Padaratz (1977), das velocidades básicas de referência. Desse
recomenda a distribuição de Fréchet, alegando modo, o referido autor optou pelo critério do
que as séries mais extensas de velocidade fator de forma comum para todo o território
máximas anuais do vento disponíveis até o nacional.
momento nos Estados Unidos e na Rússia O fator de forma único determinado por
melhor se ajustaram à referida distribuição, além Padaratz (1977) é dado pela razão entre o
de ser eleita como o modelo que melhor se aplica somatório dos anos de registro da estação
ao cálculo da velocidade básica do vento em multiplicado pelo respectivo fator de forma
situações de poucos registros. corrigido e o somatório dos anos de registros.
A distribuição de Fréchet é dada pela Equação
1, onde ɣ e β são parâmetros que devem ser 2.2.3 Distribuição secundária para
estimados: determinação de anomalias
ɣ
= ≤ = exp − (1) Torna-se necessário usar uma segunda
distribuição de probabilidades com o propósito
de comparar os parâmetros de distribuição
A equação usada para calcular a velocidade
obtidos, pois surge dúvida quanto ao grau de
básica do vento é deduzida, segundo Vieira Filho
precisão dos registros relativos às estações.
(1975) a partir da função de distribuição de
Comparando desta forma os valores encontrados
Fréchet (Equação 1), explicitada para a variável
através do emprego de dois métodos diferentes,
que representa o dado de velocidade do vento,
verificam-se significativas diferenças entre os
num período de recorrência de R anos.
parâmetros obtidos para uma mesma estação
O valor da velocidade básica do vento (V0) é
(PADARATZ, 1977).
obtido através da Equação 2:
Como distribuição secundária Padaratz
(1977) sugere a aplicação do método de Gumbel.
0= (2) Para a estação ser considerada sem anomalias, ou
!
seja, com dados confiáveis, a diferença entre o
fator de forma (ɣ) obtido pelo método da máxima
Onde: verossimilhança e o fator de forma (ɣ) obtido
V0: Velocidade básica do vento; pelo método dos mínimos quadrados não deve
β: Velocidade característica; ser maior que 20%.
Porém, estudos mais recentes realizados por devem ser calculadas separadamente para os
Yilmaz e Çelik (2008) apud Gelatti (2009), onde elementos de vedação e suas fixações, para
Weibull foi usada como distribuição principal na partes da estrutura e para a estrutura como um
abordagem estatística de séries de ventos todo.
extremos, e outras nove distribuições foram Como regra geral admite-se que o vento pode
usadas para realizar um comparativo, indicam a soprar de qualquer direção e no sentido
distribuição de Weibull como mais aceitável. horizontal. Define-se o termo barlavento como
Zaharim et al (2008) apud Gelatti (2009) afirma sendo a região de onde sopra o vento, em relação
que Weibull fornece um excelente ajuste para a edificação e sotavento a região oposta a aquela
dados de velocidade do vento. Em seu trabalho de onde sopra o vento (NBR 6123; ABNT,
Gelatti (2009) conclui que a adoção da 1988).
distribuição de Weibull como método de A ação do vento pode ser considerada de duas
verificação de anomalias se firmou como uma formas: estática e dinâmica. É importante
escolha favorável. ressaltar que, cargas devidas ao vento são
essencialmente dinâmicas, já que as pressões
2.2.4 Intervalo de confiança pra o parâmetro de variam pelas flutuações da velocidade do vento,
forma pelos vórtices criados no fluxo e por alterações
na linha de corrente (BLESSMANN, 1989).
Na presença de séries com número reduzido A NBR 6123 (ABNT, 1988) postula que as
de registros, os estimadores dos parâmetros das forças estáticas devidas ao vento são
distribuições de valores extremos apresentam determinadas a partir da velocidade básica do
grande variabilidade, principalmente o fator de vento (V0), adequada ao local onde a estrutura
forma (ɣ). Torna-se necessário poder concluir se será construída, sendo esta multiplicada
tais diferenças se devem ao fato de que os (Equação 3) pelos fatores S1, S2 e S3 para ser
correspondentes valores dos parâmetros sejam obtida a velocidade característica do vento (Vk):
realmente diferentes ou se são consequência da
variabilidade do estimador (PADARATZ, Vk=V0×S1×S2×S3 (3)
1977).
O cálculo do intervalo de confiança é A velocidade característica do vento permite
realizado a partir dos limites pré determinados determinar a pressão dinâmica do vento pela
por Riera, Viollaz e Reimundin (1977) apud Equação 4:
Padaratz (1977), que relacionam o fator de forma
único e o fator de forma corrigido da estação. 8 = 0,613 × 9 : (4)
Estes intervalos descrevem que há noventa por
cento de chance de o fator de forma da estação Chama-se pressão dinâmica de vento por
estar entre os limites superior e inferior. Esses conta da sua origem, vindo de uma força
limites são demostrados na Tabela 1, onde n é o dinâmica, porém, seu efeito calculado é
número de anos de registros. equivalente a uma força estática.

Tabela 1 - Intervalo de confiança dos fatores de forma 2.3.1 Variáveis para determinação da
Intervalo de Confiança dos Fatores de Forma velocidade característica (Vk)
&'
n=5 " 0,68 ≤ ≤ 2,78 = 0,90
&' ú*+,'
&' A velocidade básica do vento (V0) é definida
n=10 " 0,74 ≤ ≤ 1,81 = 0,90
&' ú*+,'
&' pela NBR 6123 (ABNT, 1988) como a
n=20 " 0,79 ≤ ≤ 1,45 = 0,90
&' ú*+,' velocidade de uma rajada de 3 s, excedida em
&'
n=30 " 0,82 ≤ ≤ 1,33 = 0,90 média uma vez em 50 anos, a 10 m acima do
&' ú*+,'
terreno, em campo aberto e plano. A
2.3 FORÇAS DEVIDAS AO VENTO probabilidade que a velocidade básica do vento
(V0) seja igualada ou excedida neste período é
De acordo com a NBR 6123 (ABNT, 1988) de 63%.
as forças devidas ao vento sobre uma edificação A velocidade básica do vento (V0) para todo
território nacional é obtida a partir do mapa de edifício (CARVALHO; PINHEIRO, 2013).
isopletas contido na NBR 6123 (ABNT, 1988).
O fator topográfico S1 avalia a topografia do 2.4.1 Ações na estrutura
local, levando em consideração as variações do
relevo do terreno. O fator S1 é igual a unidade Entende-se por ações na estrutura, segundo a
para terreno ao menos aproximadamente em NBR 8681 (ABNT, 2003) as causas que
nível, sendo maior que um quando as condições provocam esforços ou deformações nas
topográficas causarem uma aceleração do vento estruturas. Do ponto de vista prático, as forças e
(colinas, morros, taludes, escarpas, certos vales, as deformações impostas pelas ações são
etc). Será menor que a unidade nos raros casos consideradas como se fossem as próprias ações.
de proteção topográfica (BLESSMANN, 1990). As deformações impostas são por vezes
O fator S2 considera o efeito combinado da designadas por ações indiretas e as forças, por
rugosidade do terreno, da variação da velocidade ações diretas.
do vento com a altura acima do terreno e das As ações são classificadas pela NBR 8681
dimensões da edificação ou parte da edificação (ABNT, 2003) segundo sua variabilidade no
em consideração (NBR 6123; ABNT, 1988). tempo em três categorias:
Por fim, o fator S3 baseado em conceitos • Ações permanentes;
estatísticos, considera o grau de segurança • Ações variáveis;
requerido e a vida útil da edificação. Este fator • Ações excepcionais.
varia conforme a utilização da edificação,
seguindo a lógica que este fator majora a As ações permanentes são divididas em
velocidade do vento se os efeitos do vento na diretas (advém dos pesos próprios dos elementos
edificação podem prejudicar pessoas que o da construção, de equipamentos fixos e outras
utilizam (NBR 6123; ABNT, 1988). ações permanentes aplicadas) e indiretas
(protensões, recalques de apoio e retração de
2.3.2 Força devida ao vento materiais).
As ações variáveis advém de cargas
A força global do vento que atua sobre uma acidentais das construções, bem como efeitos,
edificação ou parte dela é obtida pela soma tais como forças de frenação, de impacto e
vetorial das forças do vento que aí atuam. A centrífugas, os efeitos do vento, das variações de
componente da força global na direção do vento, temperatura, de pressões hidrostáticas e
denominada força de arrasto (Fa), é obtida hidrodinâmicas. São classificadas em normais ou
através da Equação 5: especiais em função de sua probabilidade de
ocorrência durante a vida da construção:
Fa=Ca×q×Ae (5)
2.4.2 Elementos estruturais resistentes a ação
Ela é função da área frontal efetiva de ação do do vento
vento (Ae), da pressão dinâmica do vento (q) e
do coeficiente de arrasto (Ca). Conforme afirmam Carvalho e Pinheiro
(2013) normalmente as estruturas de concreto
2.4 EFEITO DO VENTO EM armado são formadas de elementos prismáticos,
EDIFICAÇÕES DE CONCRETO ARMADO elementos com uma dimensão bem maior que as
outras duas, e seção transversal constante. Um
As estruturas, mesmo as mais simples, estão arranjo interessante para absorver as ações de
sempre sujeitas, além das ações gravitacionais, ventos são os pórticos constituídos por pilares e
às ações laterais decorrentes, principalmente, por vigas.
efeito de ventos. No caso de estruturas de grande Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), na
altura ou que têm relação entre altura e maior composição estrutural muitas vezes é
dimensão em planta grande, esses efeitos se interessante arranjar os elementos estruturais de
tornam mais importantes e podem inclusive, modo a proporcionarem aumento de rigidez em
desencadear situações de instabilidade do direções críticas a estes conjuntos. Em seu item
15.4.3 a norma define contraventamento com a 2.4.4 Estabilidade Global
seguinte redação: “Por conveniência de análise,
é possível identificar, dentro da estrutura, Consoante a NBR 6118 (ABNT, 2014) as
subestruturas que, devido à sua grande rigidez a estruturas de concreto devem ser projetadas e
ações horizontais, resistem à maior parte dos construídas de modo que, sob as condições
esforços decorrentes dessas ações. Essas ambientais previstas na época do projeto e
subestruturas são chamadas subestruturas de quando utilizadas conforme preconizado em
contraventamento”. projeto, conservem sua segurança, estabilidade e
As caixas de elevadores e escadas, bem como aptidão em serviço durante o prazo
os pilares-parede de concreto armado, correspondente à sua vida útil.
constituem exemplos de subestruturas de Alguns fatores relevantes podem influenciar
contraventamento. Por outro lado, mesmo diretamente na estabilidade global das estruturas
elementos de pequena rigidez podem, em seu de edifícios: as ações atuantes (dentre elas a ação
conjunto, contribuir de maneira significativa na do vento), a rigidez dos elementos estruturais,
rigidez a ações horizontais, devendo então ser possíveis redistribuições de esforços, interação
incluídos na estrutura de contraventamento solo-estrutura e o modelo estrutural adotado
(CARVALHO; PINHEIRO, 2013). (MONCAYO, 2011).
De acordo com Araújo (2010) as lajes têm a As deformações existentes nas estruturas
função de diafragma rígido que distribui os permitem calcular os efeitos de segunda ordem,
esforços de vento para os pilares e faz o conjunto que de acordo com o item 15.4.1 da NBR 6118
de elementos dos pavimentos trabalharem de (ABNT, 2014), podem ser divididos em efeitos
maneira unificada. Esforços horizontais são globais, locais e localizados de segunda ordem.
absorvidos por núcleo rígidos verticais que
ligados às fundações, transferem essas forças 2.4.5 Coeficiente Gama-Z
para o solo.
O coeficiente Gama-Z (Equação 6) é um
2.4.3 Efeitos de segunda ordem parâmetro que avalia, de forma simples e
bastante eficiente, a estabilidade global de um
Efeitos de 2ª ordem são aqueles que se somam edifício com estrutura de concreto armado.
aos obtidos em uma análise de primeira ordem Também é capaz de estimar os esforços de
(em que o equilíbrio da estrutura é estudado na segunda ordem por uma simples majoração dos
configuração geométrica inicial), quando a esforços de primeira ordem (MONCAYO,
análise do equilíbrio passa a ser efetuada 2011).
considerando a configuração deformada. Os
efeitos de 2ª ordem, em cuja determinação deve ɣ@ = ∆BCDC,E (6)
ser considerado o comportamento não linear dos B ,CDC,E
materiais, podem ser desprezados sempre que
não representarem acréscimo superior a 10% nas Onde:
reações e nas solicitações relevantes na estrutura M ,GHG,I = é o momento de tombamento, ou
(NBR 6118; ABNT, 2014). seja, a soma dos momentos de todas as forças
Conforme descrito pelo item 15.4.2 da NBR horizontais da combinação considerada, com
6118 (ABNT, 2014) As estruturas são seus valores de cálculo, em relação à base da
consideradas de nós fixos, quando os estrutura;
deslocamentos horizontais dos nós são inferiores ∆JK'K,L = é a soma dos produtos de todas as
a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem, por forças verticais atuantes na estrutura, na
decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem são combinação considerada, com seus valores de
desprezíveis. cálculo, pelos deslocamentos horizontais de seus
As estruturas de nós móveis são aquelas onde respectivos pontos de aplicação, obtidos da
os deslocamentos horizontais são superiores a análise de primeira ordem.
10% dos esforços de 1ª ordem, em decorrência, A grande limitação do coeficiente Gama-Z é
os efeitos globais de 2ª ordem são importantes. que ele só pode ser aplicado em estruturas com 4
andares ou mais, e, além disso, considerando É uma estação meteorológica do tipo automática,
respostas superiores a 1,30 os valores podem onde a coleta, armazenamento e transmissão dos
divergir bastante em relação a resultados obtidos dados se dá de modo informatizado, sem auxilio
por meio de uma análise de segunda ordem mais humano (Fotografia 1).
rigorosa (OLIVEIRA, 2009).
Fotografia 1 – Estação meteorológica
2.4.6 Índice de esbeltez de corpo rígido

Este indicador avalia a esbeltez do edifício, é


recomendado por Fonte et al (2005) como
primeira avaliação da esbeltez da estrutura. De
cálculo simples e em função apenas de
parâmetros geométricos, é capaz de indicar a
necessidade de maior atenção quanto à
estabilidade global. A equação 7 expressa o
índice de esbeltez:
P
MN,O = (7)
QR,S

Onde:
βx, y = Índice de esbeltez de corpo rígido; 3.1 DESENVOLVIMENTO DO
H = Altura total da edificação; CÁLCULO DA VELOCIDADE BÁSICA DO
Lx, y = Largura média, em planta das direções VENTO
x e y.
Os dados foram recebidos em sua forma bruta
De acordo com Fonte et al (2005), os limites do INMET, em formato de planilha, havendo 24
para classificação das edificações segundo o medições diárias (uma por hora), registradas em
índice de esbeltez são (Tabela 2): m/s, desde o dia 01 de novembro de 2007.
Como critério inicial para filtragem dos
Tabela 2 - Classificação da edificação segundo o índice de dados, definiu-se, com base em estudos
esbeltez anteriores, que caso, para determinado ano de
βx, y ≤ 4 Edifício de pequena esbeltez registro, mais de seis meses não apresentassem
4 < βx, y ≤ 6 Edifício de média esbeltez
leituras, o valor da velocidade máxima do vento
βx, y ≥ 6 Edifício de alta esbeltez
para aquele ano seria descartado.
Desse modo, o ano de 2007 foi descartado,
haja visto que os registros deste ano se iniciaram
3 MATERIAIS E MÉTODOS
no mês de novembro. Ainda o ano de 2016
Os dados de velocidade máxima de vento para também foi descartado por não atingir 6 meses
a análise estatística foram obtidos junto ao de registro na época de elaboração deste
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, trabalho. Os demais anos, de 2008 a 2015,
responsável pela estação localizada no apresentaram registros consistentes, sendo
município de Joaçaba – SC. Foi requisitado o usados para o cálculo, totalizando uma série com
número máximo de anos de registros disponíveis registros de velocidades máximas de 8 anos.
no banco de dados do INMET. A partir dos dados obtidos, extraiu-se as
A estação está locada a uma altitude de 776 máximas velocidades anuais de rajada, em m/s
metros, segundo latitude 27°10’09” S, longitude para a estação de Joaçaba – SC (Tabela 3):
51°33’32” W, no Aeroporto Santa Terezinha,
município de Joaçaba – SC.
A estação entrou em operação em setembro
de 2007, estando atualmente em funcionamento.
Tabela 3 - Velocidades máximas anuais de rajada Os valores do fator de forma (ɣ) e velocidade
ANO VELOCIDADE MÁXIMA (m/s) característica (β) obtidos para cada distribuição
2008 22,10
foram os seguintes (Tabela 4):
2009 24,00
2010 23,90
2011 28,20 Tabela 4 - Parâmetros obtidos para a estação
2012 25,30 Distribuição de Distribuição de
2013 25,60 Fréchet Weibull
2014 27,90 Fator de forma
11,91 12,04
2015 26,70 (ɣ)
Velocidade
24,02 26,02
característica (β)
3.1.1 Critérios para aceitação da estação
Como admite-se que há certo erro de
Foi adotado a mesma metodologia usada por
tendência em função da quantidade de anos de
Padaratz (1977), cujo trabalho deu origem as
registros, o fator de forma (ɣ) foi corrigido
velocidades da norma, permitindo assim
segundo o coeficiente B(n), obtendo-se assim o
comparações entre a velocidade básica obtida
fator de forma corrigido (ɣo). Para oito anos de
nesta estação e as velocidades normatizadas.
registro o valor de B(n) é 0,820. Desse modo, o
Os critérios de aceitação das estações usados
fator de forma corrigido (ɣo) é indicado na
por Padaratz (1977) estão elencados a seguir:
Tabela 5.
• As estações devem possuir 5 anos de
registros; Tabela 5 - Fator de forma corrigido (ɣo)
• A diferença entre os fatores de forma Fator de Coeficie Fator de forma
corrigidos segundo Fréchet e Gumbel ser igual forma (ɣ) nte B(n) corrigido (ɣo)
ou inferior a 20% do maior deles; Distribuição
11,91 0,820 9,77
• O fator de forma da estação deve estar de Fréchet
Distribuição
contido dentro das curvas do intervalo de 12,04 0,820 9,87
de Weibull
confiança nas duas distribuições.
Analisando a diferença entre os dois fatores
Entretanto, de acordo com Gelatti (2009),
de forma corrigidos (ɣo) chegou-se a uma
optou-se por alterar a distribuição secundária
variação de 1,08% entre os dois resultados,
usada para verificar anomalias. Padaratz (1997)
estando bem abaixo do máximo estipulado de
usou a distribuição de Gumbel, porém, neste
20%. Portando, a estação é aceita neste critério,
estudo será usado para a distribuição secundária
sendo isenta de anomalias.
Weibull, considerando igualmente os demais
O intervalo de confiança proposto por Riera,
critérios de aceitação elencados por Padaratz
Viollaz e Reimundin (1977) apud Padaratz
(1977)
(1977) foi apresentado na Tabela 1. Para
determinação destes limites é necessário o fator
3.1.2 Parâmetros de distribuição
de forma único (ɣo único). Neste trabalho foi
adotado o fator de forma único (ɣo único)
Os parâmetros de distribuição (velocidade
encontrado por Padaratz (1977), assumindo o
característica, β) e (fator de forma, ɣ), são
valor de ɣo único = 5,73 para a distribuição de
variáveis da equação que determina a velocidade
Fréchet e ɣo único = 5,87 para a distribuição de
do vento. Conforme o segundo critério de
Weibull.
aceitação, o parâmetro de forma (ɣ) deve ser
De posse dos limites do intervalo de
calculado pelas distribuições Fréchet e Weibull,
confiança e do fator de forma único (ɣo único)
e apresentar variação de no máximo 20% entre
foi possível traçar o gráfico com a curva máxima
os dois resultados, atestando sua validade.
e a curva mínima para cada distribuição. Tais
Com o intuito de agilizar e tornar mais
limites foram calculados multiplicando o fator de
confiável o cálculo dos parâmetros dos modelos
forma único (ɣo único) pelos valores limitadores
estatísticos, o processo de cálculo foi
dos respectivos anos de registro (Tabelas 6 e 7).
automatizado através do software estatístico
EasyFit 5.6.
Tabela 6 - Intervalo de confiança do fator de forma 3.1.3 Fator de forma único final (ɣo único
corrigido - Fréchet final)
Distribuição de Fréchet ɣo único = 5,73
Anos de Limite Limite
registros inferior superior Na etapa anterior foi usado o fator de forma
n=5 3,896 ≤ ɣo ≤ 15,929 = 0,90 único (ɣo único) para definir o intervalo de
n = 10 4,240 ≤ ɣo ≤ 10,371 = 0,90 confiança dos dados. Esse fator de forma único
n = 20 4,527 ≤ ɣo ≤ 8,309 = 0,90 foi definido por Padaratz (1977) usando todas as
n = 30 4,699 ≤ ɣo ≤ 7,621 = 0,90
estações do Brasil por ele analisadas,
independente da aprovação das mesmas nos três
Tabela 7 - Intervalo de confiança do fator de forma
corrigido - Weibull critérios de aceitação.
Distribuição de Weibull ɣo único = 5,87 Com tal intervalo definido, Padaratz (1977)
Anos de Limite Limite identificou as estações que não apresentaram
registros inferior superior anomalias, estações estas que ficaram dentro dos
n=5 3,992 ≤ ɣo ≤ 16,321 = 0,90 intervalos de confiança. Estas estações aceitas
n = 10 4,345 ≤ ɣo ≤ 10,627 = 0,90
n = 20 4,638 ≤ ɣo ≤ 8,513 = 0,90
foram usadas para definir um novo fator de
n = 30 4,814 ≤ ɣo ≤ 7,808 = 0,90 forma único, denominado de fator de forma
único final (ɣo único final). Para o cálculo final
Observando os Gráficos 1 e 2, aferiu-se o da velocidade básica do vento usa-se o fator de
enquadramento da estação de Joaçaba nos forma único final (ɣo único final).
limites do intervalo de confiança da distribuição Das 49 estações distribuídas pelo Brasil
de Fréchet e nos limites do intervalo de estudadas por Padaratz (1977), o mesmo
confiança da distribuição de Weibull, atendendo concluiu que 29 delas possuíam anomalias,
assim, o terceiro critério de aceitação da estação. restando 20 estações confiáveis para o cálculo do
fator de forma único final (ɣo único final),
Gráfico 1 – Intervalo de confiança do fator de forma – resultando em ɣo único final = 6,369.
Fréchet De modo análogo, Gelatti (2009) refez toda a
Limite Mínimo triagem estatística realizada por Padaratz (1977)
18 Limite Máximo usando as mesmas estações e mesmos dados
Fator de forma - Fréchet

16 iniciais, porém usou o software Easy Fit 5.1 para


14 Estação de
calcular os parâmetros de distribuição, ao passo
12 Joaçaba
10 que Padaratz (1977) fez estes cálculos
8 manualmente.
6 Assim, Gelatti (2009) chegou a resultados
4 com pequenas variações em relação aos de
2
0
Padaratz (1977). A autora concluiu que das 49
0 10 20 30 estações analisadas apenas 17 delas
Anos de registros apresentavam anomalias, restando 32 estações
confiáveis para o cálculo do fator de forma único
Gráfico 2 - Intervalo de confiança do fator de forma – final (ɣo único final).
Weibull
Limite Mínimo
Ainda, ela incluiu mais quatro estações
catarinenses (Itajaí, Campos Novos, Campo
18
Limite Máximo Belo do Sul, São Francisco do Sul) consideradas
16
Fator de forma - Weibull

14
por ela sem anomalias no cálculo do ɣo único
Estação de
12 Joaçaba
final, perfazendo um total de 36 estações. Assim,
10 chegou a um ɣo único final = 5,418. Cerca de
8 15,3% de variação em relação ao determinado
6 por Padaratz (1997). Gelatti (2009) classificou
4 esse resultado como conservador, pois um baixo
2
fator de forma resulta em uma velocidade de
0
0 10 20 30
vento mais alta.
Anos de registros Pode-se incluir a estação de Joaçaba – SC no
cálculo do fator de forma único final (ɣo único Ilustração 1 - Planta de forma da estrutura
final), haja visto que a mesma não possui
anomalias. Acrescentando a estação aos dados
obtidos por Padaratz (1977) obtém-se um ɣo
único final = 6,433. Já, acrescentando a estação
de Joaçaba – SC aos dados obtidos por Gelatti
(2009) obtém-se um ɣo único final = 5,470. Por
ser uma estação só, e não apresentar muitos anos
de registro, ela acaba influenciando pouco no
resultado do fator de forma único final (ɣo único
final).
A Tabela 8 resume os diferentes valores do
fator de forma único final (ɣo único final):

Tabela 8 - Diferentes valores para o ɣo único final


Autor ɣo único final
Padaratz (1977) 6,369
Gelatti (2009) 5,418
Padaratz (1977) + Estação
6,433
Joaçaba - SC
Gelatti (2009) + Estação
5,470
Joaçaba - SC

Esclarece-se que o fator de forma único final


(ɣo único final) foi calculado somente para a
distribuição de Fréchet, pois é esta que é usada
no cálculo final da velocidade básica do vento.

3.2 CONCEPÇÃO DA ESTRUTURA


PARA ESTUDO DO EFEITO DO VENTO
Constituída de 18 pavimentos, com altura
Com o intuito de aferir numericamente quanto piso a piso de 3,00 metros cada, totalizando
uma variação na velocidade básica do vento assim, um edifício com 54,00 metros de altura.
pode impactar em uma estrutura, foi O índice de esbeltez de corpo rígido (βx, y), da
desenvolvido um projeto estrutural acadêmico, a estrutura em questão foi de βx = 4,22 e βy = 2,55.
fim de verificar essas variações, observando uma Considerando os limites indicados por Fonte et
série de parâmetros estruturais. al (2005) conclui-se que o edifício exibiu a
A estrutura foi analisada considerando o valor situação mais crítica na direção X, tendo índice
da velocidade básica do vento indicado na NBR de média esbeltez de corpo rígido nesta direção.
6123 (ABNT, 1988) e o maior valor obtido neste A destinação adotada para o edifício foi
estudo. Para a análise foi utilizado o software de residencial. As cargas verticais foram
cálculo estrutural Eberick V9, da empresa consideradas de acordo com a NBR 6120
AltoQi. (ABNT, 1980). Nas lajes de todos os pavimentos
Trata-se de uma estrutura reticulada, (menos o último) foi lançado uma carga
composta por pórticos e com núcleo rígido, com acidental de 150 kg/m² e permanente de 100
dimensões em planta (12,80 m x 21,20 m) que kg/m². No último pavimento a carga acidental
buscaram atender as medidas usuais dos terrenos usada foi de 50 kg/m² e a carga permanente foi
da zona central da cidade de Joaçaba –SC. Na de 100 kg/m². Na escada a carga acidental foi de
Ilustração 1 tem-se a planta de forma da 250 kg/m² e permanente de 100 kg/m². Em todas
estrutura. as vigas foram consideradas paredes de blocos
cerâmicos com peso específico de 2300 kg/m³ e
altura de 2,40 m. A resistência característica do
concreto usada foi de 25 MPa.
O arranjo foi concebido de modo simétrico, 3.2.1 Dados usados para o cálculo da carga do
sem preocupação com implicações vento
arquitetônicas. As sobrecargas foram lançadas
iguais em todas as regiões da planta. Todos os 18 Os dados informados ao software relativos ao
pavimentos possuíam as plantas iguais e os cálculo da carga do vento levaram em
elementos estruturais foram mantidos com consideração que a edificação se localiza na zona
dimensões constantes e usuais. Os pilares não central da cidade de Joaçaba – SC. Foram
sofreram mudança de alinhamento, ou seja, não informados os seguintes dados de entrada:
ocorreram transições. • Maior dimensão da edificação: entre 20 e
As lajes foram do tipo maciça, com 10 cm de 50 metros;
espessura. As vigas possuíam dimensões de 20 • Rugosidade do terreno: categoria IV;
cm por 60 cm. Haviam pilares com dimensões de • Fator topográfico S1 = 1,1;
25 cm por 60 cm e 25 cm por 80 cm. Ainda, a • Fator estatístico S3= 1,0;
estrutura possuía em sua região central, dois • Vento nas direções X e Y;
pilares-parede com dimensões de 20 cm por 200 • Coeficiente de arrasto calculado
cm. Após lançamento no software Eberick V9, automaticamente pelo software.
foi possível visualizar o pórtico espacial da
estrutura, demostrado na Ilustração 2. A estrutura foi calculada usando o valor da
velocidade básica do vento indicada pela NBR
Ilustração 2 - Pórtico espacial da estrutura 6123 (ABNT, 1988). A região de Joaçaba – SC
localiza-se entre as curvas de 40 m/s e 45 m/s,
com uma proximidade maior da curva de 45 m/s.
Portanto, usou-se o valor de 44 m/s no cálculo.
Posteriormente, a estrutura foi novamente
calculada usando o maior valor encontrado neste
estudo. Todos os outros parâmetros e
características da estrutura foram mantidos
iguais, sendo a variação na velocidade básica do
vento a única mudança.

3.2.2 Parâmetros estruturais analisados

Os parâmetros comparados no cálculo da


estrutura com diferentes velocidades básicas de
vento foram as forças horizontais na direção X e
Y, o deslocamento frequente no topo da
edificação, o coeficiente Gama-Z, o momento de
tombamento de cálculo e o momento de segunda
ordem de cálculo.
O deslocamento frequente no topo da
edificação foi comparado com o valor do
deslocamento limite, que é indicado na NBR
6118 (ABNT, 2014) como sendo a altura total da
edificação dividido por 1700. Como a estrutura
em estudo possui 54,00 metros de altura, o
deslocamento limite é de 3,18 cm.
O momento de tombamento de cálculo é o
resultado da soma dos momentos de todas as
forças horizontais em relação à base da
edificação. Ao passo que, o momento de segunda
ordem de cálculo corresponde à soma dos
produtos de todas as forças verticais, pelos para 6,433), consequentemente, a velocidade
deslocamentos horizontais de seus respectivos básica (V0) diminui, passa de 44,32 m/s para
pontos de aplicação, obtidos na análise de 44,05 m/s. Essa variação não é expressiva,
primeira ordem. mantendo a estação na mesma situação anterior,
Por fim, foi avaliado o comportamento dos ou seja, dentro do intervalo indicado pela norma,
esforços solicitantes na estrutura, verificando próximo ao limite superior.
quais elementos estruturais foram mais afetados Porém, ao considerar um fator de forma mais
pela carga do vento e se a mudança na velocidade baixo, como o calculado por Gelatti (2009), que
básica do vento acarretou em alterações considera algumas estações catarinenses,
significativas nos esforços solicitantes. observa-se um resultado mais alto para a
velocidade básica do vento, cerca de 9,69%
acima do limite superior de 45,00 m/s, indicado
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO pela norma para a região. Se comparado ao
DOS RESULTADOS resultado obtido usando o fator de forma de
Padaratz (1977), o aumento foi de 11,37%.
A velocidade básica do vento (V0) para a Acrescentando a estação de Joaçaba aos cálculos
estação de Joaçaba – SC foi determinada a partir de Gelatti (2009), o resultado obtido foi 8,93%
da função de distribuição de Fréchet. O período acima do limite superior da norma.
de retorno (R) usado foi de 50 anos, o valor da Quanto as comparações da aplicação de
velocidade característica (β) obtido através do diferentes velocidades de vento em uma
software estatístico EasyFit foi de 24,02 m/s. estrutura de concreto armado obteve-se os
Adotando os diferentes fatores de forma (ɣ) resultados apresentados a seguir. Ressalta-se que
obteve-se as seguintes velocidades apresentadas esses resultados valem para essa estrutura,
na Tabela 9. servindo como ferramenta de comparação
particular deste estudo.
Tabela 9 - Velocidades básica da estação de Joaçaba – SC A comparação entre velocidade básica e carga
Autor ɣ
Velocidade básica horizontal total se deu confrontando o valor de
(m/s) 44,00 m/s, tomado como velocidade básica
Padaratz 6,369 44,32 indica pela norma para a região e o valor mais
Gelatti 5,418 49,36 crítico encontrado neste estudo, de 49,40 m/s.
Padaratz + Estação de
Joaçaba
6,433 44,05 Portanto, uma diferença de 5,40 m/s entre as
Gelatti + Estação de duas velocidades ou 12,27%. A Tabela 10 revela
5,470 49,02
Joaçaba os resultados obtidos.

Verifica-se como o fator de forma tem Tabela 10 - Velocidade básica do vento X carga
importância no resultado final do cálculo. Uma horizontal total
Carga horizontal total (tf)
variação neste parâmetro altera Velocidade (m/s)
Eixo X Eixo Y
significativamente a velocidade básica do vento. 44,00 151,67 74,63
Um fator de forma mais baixo resulta em uma 49,40 191,18 94,03
velocidade de vento mais alta.
Tomando como base o fator de forma O aumento de 12,27% na velocidade básica
sugerido por Padaratz (1977), usado na do vento resultou em um aumento de 26,05%, ou
elaboração do mapa das isopletas da NBR 6123 39,51 tf, na carga horizontal total no eixo X e um
(ABNT, 1988), chegou-se a um resultado dentro aumento de 25,99%, ou 19,40 tf na carga
do intervalo atualmente proposto pela norma, horizontal total do eixo Y.
próximo ao limite superior, o que é condizente Os deslocamentos no topo da edificação
com a localização da estação, confirmando, sofreram significativa diferença com a mudança
desse modo, a veracidade do que é indicado pela da velocidade básica do vento. A Tabela 11
norma. apresenta esses resultados.
Ao incluir a estação de Joaçaba nos cálculos,
o fator de forma sofre pequeno aumento (6,369
Tabela 11 - Velocidade básica do vento X deslocamento Esse resultado já era esperado após a
frequente no topo da edificação avaliação dos momentos de tombamento e
Deslocamentos
Velocidade Deslocamento
frequentes (cm)
segunda ordem, haja visto que o aumento entre
(m/s) limite (cm) eles foi proporcional, aproximadamente 26%,
X+ Y+
44,00 3,18 2,91 1,67 mantendo assim o valor do Gama-Z.
49,40 3,18 3,67 2,11 Verificou-se que o aumento da velocidade
básica do vento ocasionou acréscimos nos
Na direção X+ houve um aumento de 0,78 cm esforços solicitantes dos pilares da estrutura.
no deslocamento frequente no topo da Inclusive, alguns pilares apresentaram
edificação, ou seja, de 26,12%. Do mesmo problemas no dimensionamento (a estrutura
modo, na direção Y+ o aumento foi de 0,44 cm, havia sido dimensionada para a velocidade
representando um acréscimo de 26,35%. Com o básica de 44,00 m/s, porém de modo não
aumento na velocidade básica do vento, o meticuloso, sem se tomar cuidado com
deslocamento frequente no topo da edificação na diminuição de consumos e otimização de
direção X+ ultrapassou o deslocamento limite armaduras).
recomendado pela NBR 6118 (ABNT, 2014). Observou-se que nas vigas o aumento dos
O momento de tombamento e o momento de esforços foi menor se comparado aos pilares, em
segunda ordem apresentaram variações muito algumas vigas houve aumento na armadura,
próximas entre si com a mudança da velocidade porém não ocorreu erros de dimensionamento
básica do vento, tanto no eixo X, quanto no eixo nesses elementos. Nas lajes foi verificado que
Y, conforme Tabelas 12 e 13. não houve alteração nos esforços solicitantes.
Percebe-se assim, que os pilares são os
Tabela 12 – Velocidade básica do vento X Momento de elementos estruturais mais afetados pela força do
tombamento vento.
Velocidade Momento de tombamento (tf.m)
(m/s) Eixo X Eixo Y
Investigando os esforços em alguns pilares da
44,00 4794,57 2358,17 estrutura, observa-se por exemplo, no P13 um
49,40 6043,63 2972,51 acréscimo na carga normal de compressão de
quase 10% nos pavimentos inferiores.
Tabela 13 - Velocidade básica do vento X Momento de Neste mesmo pilar, os momentos, tanto de
segunda ordem topo como de base, nos dois eixos, apresentaram
Velocidade Momento de segunda ordem (tf.m) acréscimos semelhantes, em sua maioria, na
(m/s) Eixo X Eixo Y
44,00 311,62 180,09
faixa de 16% a 24%.
49,40 389,83 226,79 Já no P10, que é um pilar-parede, a carga
normal de compressão aumentou em até 4% nos
Com o V0 = 49,40 m/s o momento de pavimentos superiores, mas apresentou menos
tombamento aumentou 26,05% nos dois eixos de 1% de aumento nos primeiros 6 pavimentos,
(X e Y) em relação ao momento de tombamento chegando ao primeiro pavimento com
com V0 = 44,00 m/s. O momento de segunda praticamente a mesma carga. Referente aos
ordem apresentou aumento de 25,10% no eixo X momentos, observou-se a mesma tendência do
e 25,93% no eixo Y. pilar anterior, com, aumentos na faixa de 17% a
O coeficiente Gama-Z não sofreu alterações 25%.
com a mudança na velocidade básica do vento. Essa situação onde o vento carrega
Como pode ser visto na Tabela 14, tanto no eixo principalmente os pilares, gerando maiores
X, quanto no eixo Y, ele manteve-se inalterado. momentos fletores, reflete o modelo estrutural
adotado, onde o contraventamento se dá por
Tabela 14 - Coeficiente Gama-Z pórticos constituídos de pilares e vigas, além do
Coeficiente Gama-Z núcleo rígido (pilares-parede). A carga total do
Velocidade (m/s)
Eixo X Eixo Y vento em cada pavimento é aplicada na forma de
44,00 1,07 1,08 cargas horizontais concentradas em cada pilar
49,40 1,07 1,08
dos pórticos.
Salienta-se que alterações das dimensões que possui certa variabilidade, dada a
iniciais dos elementos e da própria estrutura dificuldade para sua estimação. Ainda,
poderiam mudar os resultados finais da análise, comparando as velocidades máximas de cada
mas que, de maneira comparativa, foi possível ano e o resultado do cálculo, obtido a partir da
verificar que o vento tem impacto relevante nas função de distribuição de Fréchet, percebe-se
estruturas, em especial nas de maior porte. como a velocidade básica calculada é bem mais
alta que as máximas anuais, tal situação é típica
da distribuição de Fréchet, que sabidamente é a
5 CONCLUSÃO distribuição que apresenta resultados mais
conservadores, sobretudo em situação de poucos
Através da compreensão dos fundamentos da anos de registros, estando a favor da segurança.
NBR 6123 (ABNT, 1988) – Forças devidas ao O desenvolvimento do trabalho também
vento em edificações, foi possível perceber a consistiu na verificação dos efeitos da aplicação
importância de se conhecer e prever os efeitos da de diferentes velocidades de vento em uma
força do vento em estruturas de concreto armado, estrutura de concreto armado, onde foi aferido a
fomentando o aprofundamento no assunto, magnitude destes efeitos. Os pilares foram os
sobretudo no que diz respeito aos procedimentos principais elementos estruturais afetados pela
para determinação do valor da variável carga do vento.
velocidade básica do vento, que é o ponto de Observando os parâmetros estruturais
partida para o cálculo da força do vento. percebeu-se um padrão de variação nesses
A coleta e organização dos registros de indicadores em função da velocidade do vento.
medições da velocidade do vento registrados em De modo geral, o aumento de 12,27% na
Joaçaba – SC, permitiu conhecer o regime de velocidade básica do vento, ou seja, de 44,00 m/s
ventos da região, no tocante a suas velocidades. para 49,40 m/s, ocasionou aumentos na ordem de
Analisando os dados, pode-se perceber a 25% a 27% no carregamento lateral, no
eficiência da estação, onde raramente ocorria deslocamento frequente no topo da edificação e
alguma falha nas leituras. nos momentos de tombamento e de segunda
Todavia, para esses dados serem ordem. Já em relação ao coeficiente Gama-Z, a
considerados confiáveis para uso na ação do vento não resultou em alterações, uma
determinação da velocidade básica do vento se vez que a variação do momento de tombamento
faz necessário um tratamento estatístico e do momento de segunda ordem (variáveis da
adequado para tal situação. Após modelagem fórmula do Gama-Z) foram idênticas.
estatística, os dados se mostraram adequados Assim, ao final das análises efetuadas
para o cálculo, isso significa que a estação não observou-se que as cargas geradas pelo vento são
possui anomalias em seus registro que poderiam importantes no dimensionamento de uma
conduzir a um resultado errôneo. estrutura de concreto armado, por consequência,
Assim, o cálculo da velocidade básica do o correto conhecimento da velocidade básica do
vento em Joaçaba – SC foi realizado usando vento na região onde a estrutura será executada
quatro valores para a variável fator de forma. O também torna-se importante.
menor dos resultados foi de 44,05 m/s,
apontando para um regime de ventos de acordo
com o sugerido pela norma, afirmando assim, a REFERÊNCIAS
veracidade do que vem sendo usado atualmente.
Porém, ao se usar o fator de forma indicado por ARAÚJO, José Milton de. Curso de Concreto Armado.
outro autor, o resultado obtido aumentou para Volume 3. 3ª. ed. Rio Grande: Dunas, 2010.
49,36 m/s, uma velocidade 9,69% acima do ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
limite superior da norma e 12,03% maior que o TÉCNICAS. NBR 6118 - Projeto de Estruturas de
resultado anterior. Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
Foi notório como o cálculo da velocidade
básica do vento apresenta considerável variação _____. NBR 6120 – Cargas para o cálculo de estruturas
de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1980.
em função do valor usado para o fator de forma,
_____. NBR 6123 – Forças devidas ao vento em
edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988. PINHEIRO, Eliane Cantinho. Contribuições em
inferência e modelagem de valores extremos. Tese de
_____. NBR 8681 – Ações e segurança nas estruturas - doutorado - Instituto de Matemática e Estatística da
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