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RESUMO:
O conhecimento do regime de ventos de uma região, e os efeitos da ação deste fenômeno nas
edificações é revestido de grande importância para a concepção estrutural de edifícios de concreto
armado mais altos e esbeltos. Dessa forma, a proposta de determinar a velocidade básica do vento em
Joaçaba – SC e analisar os efeitos da ação do vento em uma estrutura de concreto armado mostra-se
interessante, proporcionando o conhecimento da velocidade do vento que realmente ocorre na região,
trazendo maior refino ao conhecimento já existente, além de verificar o quanto uma variação da
velocidade básica do vento pode impactar na estrutura. Para calcular a velocidade básica do vento, os
dados obtidos nas medições da estação de Joaçaba – SC, foram submetidos ao mesmo tratamento
estatístico usado na criação do mapa das isopletas da NBR 6123 (ABNT, 1988). Tal procedimento
visa garantir a confiabilidade desses dados, identificando possíveis anomalias nos registros. Após a
aprovação dos dados na triagem estatística, foi possível calcular a velocidade básica do vento. Dada
a variabilidade do parâmetro fator de forma, optou-se por calcular quatro velocidades, cada uma
usando um valor diferente para o fator de forma. Chegou-se a resultados entre 44,05 m/s e 49,36 m/s.
Percebeu-se que o primeiro apontou para um regime de ventos de acordo com o sugerido pela norma,
afirmando assim, a veracidade do que vem sendo usado atualmente. O segundo, apresentou-se 9,69%
acima do limite superior indicado na norma. Para analisar o efeito da variação na velocidade do
vento, foi aplicado em uma estrutura de concreto armado a velocidade básica recomendada pela
norma, de 44 m/s e a maior velocidade básica encontrada neste estudo, comparando o comportamento
dos esforços na estrutura e alguns parâmetros estruturais, como forças horizontais, deslocamento
frequente, coeficiente Gama–Z, momento de tombamento e momento de segunda ordem. Os
parâmetros estruturais analisados, com exceção do Gama-Z, que se manteve inalterado, apresentaram
de modo geral aumento de 25% a 27% com o acréscimo de 12,27% na velocidade básica do vento.
Evidenciando assim, a relevância das cargas geradas pelo vento no dimensionamento de uma
estrutura de concreto armado. Os pilares foram os elementos estruturais mais afetados pela ação do
vento, visto que, de acordo com o modelo estrutural adotado, a carga do vento é aplicada como força
horizontal concentrada nos pilares dos pórticos que funcionam como elemento de contraventamento,
garantindo a estabilidade global do edifício.
Tabela 1 - Intervalo de confiança dos fatores de forma 2.3.1 Variáveis para determinação da
Intervalo de Confiança dos Fatores de Forma velocidade característica (Vk)
&'
n=5 " 0,68 ≤ ≤ 2,78 = 0,90
&' ú*+,'
&' A velocidade básica do vento (V0) é definida
n=10 " 0,74 ≤ ≤ 1,81 = 0,90
&' ú*+,'
&' pela NBR 6123 (ABNT, 1988) como a
n=20 " 0,79 ≤ ≤ 1,45 = 0,90
&' ú*+,' velocidade de uma rajada de 3 s, excedida em
&'
n=30 " 0,82 ≤ ≤ 1,33 = 0,90 média uma vez em 50 anos, a 10 m acima do
&' ú*+,'
terreno, em campo aberto e plano. A
2.3 FORÇAS DEVIDAS AO VENTO probabilidade que a velocidade básica do vento
(V0) seja igualada ou excedida neste período é
De acordo com a NBR 6123 (ABNT, 1988) de 63%.
as forças devidas ao vento sobre uma edificação A velocidade básica do vento (V0) para todo
território nacional é obtida a partir do mapa de edifício (CARVALHO; PINHEIRO, 2013).
isopletas contido na NBR 6123 (ABNT, 1988).
O fator topográfico S1 avalia a topografia do 2.4.1 Ações na estrutura
local, levando em consideração as variações do
relevo do terreno. O fator S1 é igual a unidade Entende-se por ações na estrutura, segundo a
para terreno ao menos aproximadamente em NBR 8681 (ABNT, 2003) as causas que
nível, sendo maior que um quando as condições provocam esforços ou deformações nas
topográficas causarem uma aceleração do vento estruturas. Do ponto de vista prático, as forças e
(colinas, morros, taludes, escarpas, certos vales, as deformações impostas pelas ações são
etc). Será menor que a unidade nos raros casos consideradas como se fossem as próprias ações.
de proteção topográfica (BLESSMANN, 1990). As deformações impostas são por vezes
O fator S2 considera o efeito combinado da designadas por ações indiretas e as forças, por
rugosidade do terreno, da variação da velocidade ações diretas.
do vento com a altura acima do terreno e das As ações são classificadas pela NBR 8681
dimensões da edificação ou parte da edificação (ABNT, 2003) segundo sua variabilidade no
em consideração (NBR 6123; ABNT, 1988). tempo em três categorias:
Por fim, o fator S3 baseado em conceitos • Ações permanentes;
estatísticos, considera o grau de segurança • Ações variáveis;
requerido e a vida útil da edificação. Este fator • Ações excepcionais.
varia conforme a utilização da edificação,
seguindo a lógica que este fator majora a As ações permanentes são divididas em
velocidade do vento se os efeitos do vento na diretas (advém dos pesos próprios dos elementos
edificação podem prejudicar pessoas que o da construção, de equipamentos fixos e outras
utilizam (NBR 6123; ABNT, 1988). ações permanentes aplicadas) e indiretas
(protensões, recalques de apoio e retração de
2.3.2 Força devida ao vento materiais).
As ações variáveis advém de cargas
A força global do vento que atua sobre uma acidentais das construções, bem como efeitos,
edificação ou parte dela é obtida pela soma tais como forças de frenação, de impacto e
vetorial das forças do vento que aí atuam. A centrífugas, os efeitos do vento, das variações de
componente da força global na direção do vento, temperatura, de pressões hidrostáticas e
denominada força de arrasto (Fa), é obtida hidrodinâmicas. São classificadas em normais ou
através da Equação 5: especiais em função de sua probabilidade de
ocorrência durante a vida da construção:
Fa=Ca×q×Ae (5)
2.4.2 Elementos estruturais resistentes a ação
Ela é função da área frontal efetiva de ação do do vento
vento (Ae), da pressão dinâmica do vento (q) e
do coeficiente de arrasto (Ca). Conforme afirmam Carvalho e Pinheiro
(2013) normalmente as estruturas de concreto
2.4 EFEITO DO VENTO EM armado são formadas de elementos prismáticos,
EDIFICAÇÕES DE CONCRETO ARMADO elementos com uma dimensão bem maior que as
outras duas, e seção transversal constante. Um
As estruturas, mesmo as mais simples, estão arranjo interessante para absorver as ações de
sempre sujeitas, além das ações gravitacionais, ventos são os pórticos constituídos por pilares e
às ações laterais decorrentes, principalmente, por vigas.
efeito de ventos. No caso de estruturas de grande Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), na
altura ou que têm relação entre altura e maior composição estrutural muitas vezes é
dimensão em planta grande, esses efeitos se interessante arranjar os elementos estruturais de
tornam mais importantes e podem inclusive, modo a proporcionarem aumento de rigidez em
desencadear situações de instabilidade do direções críticas a estes conjuntos. Em seu item
15.4.3 a norma define contraventamento com a 2.4.4 Estabilidade Global
seguinte redação: “Por conveniência de análise,
é possível identificar, dentro da estrutura, Consoante a NBR 6118 (ABNT, 2014) as
subestruturas que, devido à sua grande rigidez a estruturas de concreto devem ser projetadas e
ações horizontais, resistem à maior parte dos construídas de modo que, sob as condições
esforços decorrentes dessas ações. Essas ambientais previstas na época do projeto e
subestruturas são chamadas subestruturas de quando utilizadas conforme preconizado em
contraventamento”. projeto, conservem sua segurança, estabilidade e
As caixas de elevadores e escadas, bem como aptidão em serviço durante o prazo
os pilares-parede de concreto armado, correspondente à sua vida útil.
constituem exemplos de subestruturas de Alguns fatores relevantes podem influenciar
contraventamento. Por outro lado, mesmo diretamente na estabilidade global das estruturas
elementos de pequena rigidez podem, em seu de edifícios: as ações atuantes (dentre elas a ação
conjunto, contribuir de maneira significativa na do vento), a rigidez dos elementos estruturais,
rigidez a ações horizontais, devendo então ser possíveis redistribuições de esforços, interação
incluídos na estrutura de contraventamento solo-estrutura e o modelo estrutural adotado
(CARVALHO; PINHEIRO, 2013). (MONCAYO, 2011).
De acordo com Araújo (2010) as lajes têm a As deformações existentes nas estruturas
função de diafragma rígido que distribui os permitem calcular os efeitos de segunda ordem,
esforços de vento para os pilares e faz o conjunto que de acordo com o item 15.4.1 da NBR 6118
de elementos dos pavimentos trabalharem de (ABNT, 2014), podem ser divididos em efeitos
maneira unificada. Esforços horizontais são globais, locais e localizados de segunda ordem.
absorvidos por núcleo rígidos verticais que
ligados às fundações, transferem essas forças 2.4.5 Coeficiente Gama-Z
para o solo.
O coeficiente Gama-Z (Equação 6) é um
2.4.3 Efeitos de segunda ordem parâmetro que avalia, de forma simples e
bastante eficiente, a estabilidade global de um
Efeitos de 2ª ordem são aqueles que se somam edifício com estrutura de concreto armado.
aos obtidos em uma análise de primeira ordem Também é capaz de estimar os esforços de
(em que o equilíbrio da estrutura é estudado na segunda ordem por uma simples majoração dos
configuração geométrica inicial), quando a esforços de primeira ordem (MONCAYO,
análise do equilíbrio passa a ser efetuada 2011).
considerando a configuração deformada. Os
efeitos de 2ª ordem, em cuja determinação deve ɣ@ = ∆BCDC,E (6)
ser considerado o comportamento não linear dos B ,CDC,E
materiais, podem ser desprezados sempre que
não representarem acréscimo superior a 10% nas Onde:
reações e nas solicitações relevantes na estrutura M ,GHG,I = é o momento de tombamento, ou
(NBR 6118; ABNT, 2014). seja, a soma dos momentos de todas as forças
Conforme descrito pelo item 15.4.2 da NBR horizontais da combinação considerada, com
6118 (ABNT, 2014) As estruturas são seus valores de cálculo, em relação à base da
consideradas de nós fixos, quando os estrutura;
deslocamentos horizontais dos nós são inferiores ∆JK'K,L = é a soma dos produtos de todas as
a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem, por forças verticais atuantes na estrutura, na
decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem são combinação considerada, com seus valores de
desprezíveis. cálculo, pelos deslocamentos horizontais de seus
As estruturas de nós móveis são aquelas onde respectivos pontos de aplicação, obtidos da
os deslocamentos horizontais são superiores a análise de primeira ordem.
10% dos esforços de 1ª ordem, em decorrência, A grande limitação do coeficiente Gama-Z é
os efeitos globais de 2ª ordem são importantes. que ele só pode ser aplicado em estruturas com 4
andares ou mais, e, além disso, considerando É uma estação meteorológica do tipo automática,
respostas superiores a 1,30 os valores podem onde a coleta, armazenamento e transmissão dos
divergir bastante em relação a resultados obtidos dados se dá de modo informatizado, sem auxilio
por meio de uma análise de segunda ordem mais humano (Fotografia 1).
rigorosa (OLIVEIRA, 2009).
Fotografia 1 – Estação meteorológica
2.4.6 Índice de esbeltez de corpo rígido
Onde:
βx, y = Índice de esbeltez de corpo rígido; 3.1 DESENVOLVIMENTO DO
H = Altura total da edificação; CÁLCULO DA VELOCIDADE BÁSICA DO
Lx, y = Largura média, em planta das direções VENTO
x e y.
Os dados foram recebidos em sua forma bruta
De acordo com Fonte et al (2005), os limites do INMET, em formato de planilha, havendo 24
para classificação das edificações segundo o medições diárias (uma por hora), registradas em
índice de esbeltez são (Tabela 2): m/s, desde o dia 01 de novembro de 2007.
Como critério inicial para filtragem dos
Tabela 2 - Classificação da edificação segundo o índice de dados, definiu-se, com base em estudos
esbeltez anteriores, que caso, para determinado ano de
βx, y ≤ 4 Edifício de pequena esbeltez registro, mais de seis meses não apresentassem
4 < βx, y ≤ 6 Edifício de média esbeltez
leituras, o valor da velocidade máxima do vento
βx, y ≥ 6 Edifício de alta esbeltez
para aquele ano seria descartado.
Desse modo, o ano de 2007 foi descartado,
haja visto que os registros deste ano se iniciaram
3 MATERIAIS E MÉTODOS
no mês de novembro. Ainda o ano de 2016
Os dados de velocidade máxima de vento para também foi descartado por não atingir 6 meses
a análise estatística foram obtidos junto ao de registro na época de elaboração deste
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, trabalho. Os demais anos, de 2008 a 2015,
responsável pela estação localizada no apresentaram registros consistentes, sendo
município de Joaçaba – SC. Foi requisitado o usados para o cálculo, totalizando uma série com
número máximo de anos de registros disponíveis registros de velocidades máximas de 8 anos.
no banco de dados do INMET. A partir dos dados obtidos, extraiu-se as
A estação está locada a uma altitude de 776 máximas velocidades anuais de rajada, em m/s
metros, segundo latitude 27°10’09” S, longitude para a estação de Joaçaba – SC (Tabela 3):
51°33’32” W, no Aeroporto Santa Terezinha,
município de Joaçaba – SC.
A estação entrou em operação em setembro
de 2007, estando atualmente em funcionamento.
Tabela 3 - Velocidades máximas anuais de rajada Os valores do fator de forma (ɣ) e velocidade
ANO VELOCIDADE MÁXIMA (m/s) característica (β) obtidos para cada distribuição
2008 22,10
foram os seguintes (Tabela 4):
2009 24,00
2010 23,90
2011 28,20 Tabela 4 - Parâmetros obtidos para a estação
2012 25,30 Distribuição de Distribuição de
2013 25,60 Fréchet Weibull
2014 27,90 Fator de forma
11,91 12,04
2015 26,70 (ɣ)
Velocidade
24,02 26,02
característica (β)
3.1.1 Critérios para aceitação da estação
Como admite-se que há certo erro de
Foi adotado a mesma metodologia usada por
tendência em função da quantidade de anos de
Padaratz (1977), cujo trabalho deu origem as
registros, o fator de forma (ɣ) foi corrigido
velocidades da norma, permitindo assim
segundo o coeficiente B(n), obtendo-se assim o
comparações entre a velocidade básica obtida
fator de forma corrigido (ɣo). Para oito anos de
nesta estação e as velocidades normatizadas.
registro o valor de B(n) é 0,820. Desse modo, o
Os critérios de aceitação das estações usados
fator de forma corrigido (ɣo) é indicado na
por Padaratz (1977) estão elencados a seguir:
Tabela 5.
• As estações devem possuir 5 anos de
registros; Tabela 5 - Fator de forma corrigido (ɣo)
• A diferença entre os fatores de forma Fator de Coeficie Fator de forma
corrigidos segundo Fréchet e Gumbel ser igual forma (ɣ) nte B(n) corrigido (ɣo)
ou inferior a 20% do maior deles; Distribuição
11,91 0,820 9,77
• O fator de forma da estação deve estar de Fréchet
Distribuição
contido dentro das curvas do intervalo de 12,04 0,820 9,87
de Weibull
confiança nas duas distribuições.
Analisando a diferença entre os dois fatores
Entretanto, de acordo com Gelatti (2009),
de forma corrigidos (ɣo) chegou-se a uma
optou-se por alterar a distribuição secundária
variação de 1,08% entre os dois resultados,
usada para verificar anomalias. Padaratz (1997)
estando bem abaixo do máximo estipulado de
usou a distribuição de Gumbel, porém, neste
20%. Portando, a estação é aceita neste critério,
estudo será usado para a distribuição secundária
sendo isenta de anomalias.
Weibull, considerando igualmente os demais
O intervalo de confiança proposto por Riera,
critérios de aceitação elencados por Padaratz
Viollaz e Reimundin (1977) apud Padaratz
(1977)
(1977) foi apresentado na Tabela 1. Para
determinação destes limites é necessário o fator
3.1.2 Parâmetros de distribuição
de forma único (ɣo único). Neste trabalho foi
adotado o fator de forma único (ɣo único)
Os parâmetros de distribuição (velocidade
encontrado por Padaratz (1977), assumindo o
característica, β) e (fator de forma, ɣ), são
valor de ɣo único = 5,73 para a distribuição de
variáveis da equação que determina a velocidade
Fréchet e ɣo único = 5,87 para a distribuição de
do vento. Conforme o segundo critério de
Weibull.
aceitação, o parâmetro de forma (ɣ) deve ser
De posse dos limites do intervalo de
calculado pelas distribuições Fréchet e Weibull,
confiança e do fator de forma único (ɣo único)
e apresentar variação de no máximo 20% entre
foi possível traçar o gráfico com a curva máxima
os dois resultados, atestando sua validade.
e a curva mínima para cada distribuição. Tais
Com o intuito de agilizar e tornar mais
limites foram calculados multiplicando o fator de
confiável o cálculo dos parâmetros dos modelos
forma único (ɣo único) pelos valores limitadores
estatísticos, o processo de cálculo foi
dos respectivos anos de registro (Tabelas 6 e 7).
automatizado através do software estatístico
EasyFit 5.6.
Tabela 6 - Intervalo de confiança do fator de forma 3.1.3 Fator de forma único final (ɣo único
corrigido - Fréchet final)
Distribuição de Fréchet ɣo único = 5,73
Anos de Limite Limite
registros inferior superior Na etapa anterior foi usado o fator de forma
n=5 3,896 ≤ ɣo ≤ 15,929 = 0,90 único (ɣo único) para definir o intervalo de
n = 10 4,240 ≤ ɣo ≤ 10,371 = 0,90 confiança dos dados. Esse fator de forma único
n = 20 4,527 ≤ ɣo ≤ 8,309 = 0,90 foi definido por Padaratz (1977) usando todas as
n = 30 4,699 ≤ ɣo ≤ 7,621 = 0,90
estações do Brasil por ele analisadas,
independente da aprovação das mesmas nos três
Tabela 7 - Intervalo de confiança do fator de forma
corrigido - Weibull critérios de aceitação.
Distribuição de Weibull ɣo único = 5,87 Com tal intervalo definido, Padaratz (1977)
Anos de Limite Limite identificou as estações que não apresentaram
registros inferior superior anomalias, estações estas que ficaram dentro dos
n=5 3,992 ≤ ɣo ≤ 16,321 = 0,90 intervalos de confiança. Estas estações aceitas
n = 10 4,345 ≤ ɣo ≤ 10,627 = 0,90
n = 20 4,638 ≤ ɣo ≤ 8,513 = 0,90
foram usadas para definir um novo fator de
n = 30 4,814 ≤ ɣo ≤ 7,808 = 0,90 forma único, denominado de fator de forma
único final (ɣo único final). Para o cálculo final
Observando os Gráficos 1 e 2, aferiu-se o da velocidade básica do vento usa-se o fator de
enquadramento da estação de Joaçaba nos forma único final (ɣo único final).
limites do intervalo de confiança da distribuição Das 49 estações distribuídas pelo Brasil
de Fréchet e nos limites do intervalo de estudadas por Padaratz (1977), o mesmo
confiança da distribuição de Weibull, atendendo concluiu que 29 delas possuíam anomalias,
assim, o terceiro critério de aceitação da estação. restando 20 estações confiáveis para o cálculo do
fator de forma único final (ɣo único final),
Gráfico 1 – Intervalo de confiança do fator de forma – resultando em ɣo único final = 6,369.
Fréchet De modo análogo, Gelatti (2009) refez toda a
Limite Mínimo triagem estatística realizada por Padaratz (1977)
18 Limite Máximo usando as mesmas estações e mesmos dados
Fator de forma - Fréchet
14
por ela sem anomalias no cálculo do ɣo único
Estação de
12 Joaçaba
final, perfazendo um total de 36 estações. Assim,
10 chegou a um ɣo único final = 5,418. Cerca de
8 15,3% de variação em relação ao determinado
6 por Padaratz (1997). Gelatti (2009) classificou
4 esse resultado como conservador, pois um baixo
2
fator de forma resulta em uma velocidade de
0
0 10 20 30
vento mais alta.
Anos de registros Pode-se incluir a estação de Joaçaba – SC no
cálculo do fator de forma único final (ɣo único Ilustração 1 - Planta de forma da estrutura
final), haja visto que a mesma não possui
anomalias. Acrescentando a estação aos dados
obtidos por Padaratz (1977) obtém-se um ɣo
único final = 6,433. Já, acrescentando a estação
de Joaçaba – SC aos dados obtidos por Gelatti
(2009) obtém-se um ɣo único final = 5,470. Por
ser uma estação só, e não apresentar muitos anos
de registro, ela acaba influenciando pouco no
resultado do fator de forma único final (ɣo único
final).
A Tabela 8 resume os diferentes valores do
fator de forma único final (ɣo único final):
Verifica-se como o fator de forma tem Tabela 10 - Velocidade básica do vento X carga
importância no resultado final do cálculo. Uma horizontal total
Carga horizontal total (tf)
variação neste parâmetro altera Velocidade (m/s)
Eixo X Eixo Y
significativamente a velocidade básica do vento. 44,00 151,67 74,63
Um fator de forma mais baixo resulta em uma 49,40 191,18 94,03
velocidade de vento mais alta.
Tomando como base o fator de forma O aumento de 12,27% na velocidade básica
sugerido por Padaratz (1977), usado na do vento resultou em um aumento de 26,05%, ou
elaboração do mapa das isopletas da NBR 6123 39,51 tf, na carga horizontal total no eixo X e um
(ABNT, 1988), chegou-se a um resultado dentro aumento de 25,99%, ou 19,40 tf na carga
do intervalo atualmente proposto pela norma, horizontal total do eixo Y.
próximo ao limite superior, o que é condizente Os deslocamentos no topo da edificação
com a localização da estação, confirmando, sofreram significativa diferença com a mudança
desse modo, a veracidade do que é indicado pela da velocidade básica do vento. A Tabela 11
norma. apresenta esses resultados.
Ao incluir a estação de Joaçaba nos cálculos,
o fator de forma sofre pequeno aumento (6,369
Tabela 11 - Velocidade básica do vento X deslocamento Esse resultado já era esperado após a
frequente no topo da edificação avaliação dos momentos de tombamento e
Deslocamentos
Velocidade Deslocamento
frequentes (cm)
segunda ordem, haja visto que o aumento entre
(m/s) limite (cm) eles foi proporcional, aproximadamente 26%,
X+ Y+
44,00 3,18 2,91 1,67 mantendo assim o valor do Gama-Z.
49,40 3,18 3,67 2,11 Verificou-se que o aumento da velocidade
básica do vento ocasionou acréscimos nos
Na direção X+ houve um aumento de 0,78 cm esforços solicitantes dos pilares da estrutura.
no deslocamento frequente no topo da Inclusive, alguns pilares apresentaram
edificação, ou seja, de 26,12%. Do mesmo problemas no dimensionamento (a estrutura
modo, na direção Y+ o aumento foi de 0,44 cm, havia sido dimensionada para a velocidade
representando um acréscimo de 26,35%. Com o básica de 44,00 m/s, porém de modo não
aumento na velocidade básica do vento, o meticuloso, sem se tomar cuidado com
deslocamento frequente no topo da edificação na diminuição de consumos e otimização de
direção X+ ultrapassou o deslocamento limite armaduras).
recomendado pela NBR 6118 (ABNT, 2014). Observou-se que nas vigas o aumento dos
O momento de tombamento e o momento de esforços foi menor se comparado aos pilares, em
segunda ordem apresentaram variações muito algumas vigas houve aumento na armadura,
próximas entre si com a mudança da velocidade porém não ocorreu erros de dimensionamento
básica do vento, tanto no eixo X, quanto no eixo nesses elementos. Nas lajes foi verificado que
Y, conforme Tabelas 12 e 13. não houve alteração nos esforços solicitantes.
Percebe-se assim, que os pilares são os
Tabela 12 – Velocidade básica do vento X Momento de elementos estruturais mais afetados pela força do
tombamento vento.
Velocidade Momento de tombamento (tf.m)
(m/s) Eixo X Eixo Y
Investigando os esforços em alguns pilares da
44,00 4794,57 2358,17 estrutura, observa-se por exemplo, no P13 um
49,40 6043,63 2972,51 acréscimo na carga normal de compressão de
quase 10% nos pavimentos inferiores.
Tabela 13 - Velocidade básica do vento X Momento de Neste mesmo pilar, os momentos, tanto de
segunda ordem topo como de base, nos dois eixos, apresentaram
Velocidade Momento de segunda ordem (tf.m) acréscimos semelhantes, em sua maioria, na
(m/s) Eixo X Eixo Y
44,00 311,62 180,09
faixa de 16% a 24%.
49,40 389,83 226,79 Já no P10, que é um pilar-parede, a carga
normal de compressão aumentou em até 4% nos
Com o V0 = 49,40 m/s o momento de pavimentos superiores, mas apresentou menos
tombamento aumentou 26,05% nos dois eixos de 1% de aumento nos primeiros 6 pavimentos,
(X e Y) em relação ao momento de tombamento chegando ao primeiro pavimento com
com V0 = 44,00 m/s. O momento de segunda praticamente a mesma carga. Referente aos
ordem apresentou aumento de 25,10% no eixo X momentos, observou-se a mesma tendência do
e 25,93% no eixo Y. pilar anterior, com, aumentos na faixa de 17% a
O coeficiente Gama-Z não sofreu alterações 25%.
com a mudança na velocidade básica do vento. Essa situação onde o vento carrega
Como pode ser visto na Tabela 14, tanto no eixo principalmente os pilares, gerando maiores
X, quanto no eixo Y, ele manteve-se inalterado. momentos fletores, reflete o modelo estrutural
adotado, onde o contraventamento se dá por
Tabela 14 - Coeficiente Gama-Z pórticos constituídos de pilares e vigas, além do
Coeficiente Gama-Z núcleo rígido (pilares-parede). A carga total do
Velocidade (m/s)
Eixo X Eixo Y vento em cada pavimento é aplicada na forma de
44,00 1,07 1,08 cargas horizontais concentradas em cada pilar
49,40 1,07 1,08
dos pórticos.
Salienta-se que alterações das dimensões que possui certa variabilidade, dada a
iniciais dos elementos e da própria estrutura dificuldade para sua estimação. Ainda,
poderiam mudar os resultados finais da análise, comparando as velocidades máximas de cada
mas que, de maneira comparativa, foi possível ano e o resultado do cálculo, obtido a partir da
verificar que o vento tem impacto relevante nas função de distribuição de Fréchet, percebe-se
estruturas, em especial nas de maior porte. como a velocidade básica calculada é bem mais
alta que as máximas anuais, tal situação é típica
da distribuição de Fréchet, que sabidamente é a
5 CONCLUSÃO distribuição que apresenta resultados mais
conservadores, sobretudo em situação de poucos
Através da compreensão dos fundamentos da anos de registros, estando a favor da segurança.
NBR 6123 (ABNT, 1988) – Forças devidas ao O desenvolvimento do trabalho também
vento em edificações, foi possível perceber a consistiu na verificação dos efeitos da aplicação
importância de se conhecer e prever os efeitos da de diferentes velocidades de vento em uma
força do vento em estruturas de concreto armado, estrutura de concreto armado, onde foi aferido a
fomentando o aprofundamento no assunto, magnitude destes efeitos. Os pilares foram os
sobretudo no que diz respeito aos procedimentos principais elementos estruturais afetados pela
para determinação do valor da variável carga do vento.
velocidade básica do vento, que é o ponto de Observando os parâmetros estruturais
partida para o cálculo da força do vento. percebeu-se um padrão de variação nesses
A coleta e organização dos registros de indicadores em função da velocidade do vento.
medições da velocidade do vento registrados em De modo geral, o aumento de 12,27% na
Joaçaba – SC, permitiu conhecer o regime de velocidade básica do vento, ou seja, de 44,00 m/s
ventos da região, no tocante a suas velocidades. para 49,40 m/s, ocasionou aumentos na ordem de
Analisando os dados, pode-se perceber a 25% a 27% no carregamento lateral, no
eficiência da estação, onde raramente ocorria deslocamento frequente no topo da edificação e
alguma falha nas leituras. nos momentos de tombamento e de segunda
Todavia, para esses dados serem ordem. Já em relação ao coeficiente Gama-Z, a
considerados confiáveis para uso na ação do vento não resultou em alterações, uma
determinação da velocidade básica do vento se vez que a variação do momento de tombamento
faz necessário um tratamento estatístico e do momento de segunda ordem (variáveis da
adequado para tal situação. Após modelagem fórmula do Gama-Z) foram idênticas.
estatística, os dados se mostraram adequados Assim, ao final das análises efetuadas
para o cálculo, isso significa que a estação não observou-se que as cargas geradas pelo vento são
possui anomalias em seus registro que poderiam importantes no dimensionamento de uma
conduzir a um resultado errôneo. estrutura de concreto armado, por consequência,
Assim, o cálculo da velocidade básica do o correto conhecimento da velocidade básica do
vento em Joaçaba – SC foi realizado usando vento na região onde a estrutura será executada
quatro valores para a variável fator de forma. O também torna-se importante.
menor dos resultados foi de 44,05 m/s,
apontando para um regime de ventos de acordo
com o sugerido pela norma, afirmando assim, a REFERÊNCIAS
veracidade do que vem sendo usado atualmente.
Porém, ao se usar o fator de forma indicado por ARAÚJO, José Milton de. Curso de Concreto Armado.
outro autor, o resultado obtido aumentou para Volume 3. 3ª. ed. Rio Grande: Dunas, 2010.
49,36 m/s, uma velocidade 9,69% acima do ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
limite superior da norma e 12,03% maior que o TÉCNICAS. NBR 6118 - Projeto de Estruturas de
resultado anterior. Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
Foi notório como o cálculo da velocidade
básica do vento apresenta considerável variação _____. NBR 6120 – Cargas para o cálculo de estruturas
de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1980.
em função do valor usado para o fator de forma,
_____. NBR 6123 – Forças devidas ao vento em
edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988. PINHEIRO, Eliane Cantinho. Contribuições em
inferência e modelagem de valores extremos. Tese de
_____. NBR 8681 – Ações e segurança nas estruturas - doutorado - Instituto de Matemática e Estatística da
Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. Universidade De São Paulo, São Paulo, 2013. 155 p.
BAUTISTA, Ezequiel Abraham López. A distribuição SÁLES, José Jairo de; MALITE, Maximiliano;
generalizada de valores extremos no estudo da GONÇALVES, Roberto Martins. Ação do Vento nas
velocidade máxima do vento em Piracicaba, SP. Edificações. Apostila - Escola de Engenharia de São
Dissertação (Mestre) – Escola Superior de Agricultura Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1994.
Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba,
2002. 47p. VIEIRA FILHO, J. M. S. Velocidades máximas do
vento no Brasil. Dissertação (Mestre) – UFRGS, Porto
BLESSMANN, Joaquim. Ação do vento em edifícios. 2ª Alegre, 1975. 62 p.
ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1989. 77 p.