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Construção de um protótipo de túnel de vento

Enderson Helinton Ramos (FAE) endersonhr@hotmail.com


João Vicente de Oliveira e Silva (FAE) jvicenteosilva@ig.com.br

Professor Tiago Luis Haus (FAE) tiago.haus@saofrancisco.edu.br

O presente trabalho propõe a construção de um túnel de vento didático. O trabalho tem por
objetivo demonstrar que é possível transferir da escala natural em escala menor,
acontecimentos aerodinâmicos em corpos submetidos a esses eventos. É quase impossível
realizar testes em escala natural e financeiramente inviável, por isso o uso de protótipos é
amplamente utilizado para simulações, apresentando resultados satisfatórios. A teoria física
e matemática para que tal processo seja admitido, está embasada na mecânica dos fluídos,
principalmente na formulação de Daniel Bernoulli (1700-1782) para fluídos de fluxo
permanente e incompressível. A construção do túnel de vento aqui proposto é básico e
sintetizado, não levando em conta nesse momento, medições escalares e simulações
computacionais. Servirá para demonstrar a influência do fluído (ar) em elementos
submergidos ao mesmo, demonstrando o trajeto que o fluído percorre internamente ao túnel
e externamente ao objeto de estudo e na importância de cada compartimento construtivo e
design do protótipo. As áreas da engenharia que abordam esses conceitos requerem uma
forte componente experimental para desenvolvimento tecnológico. Foram obtidos resultados
satisfatórios concernentes aos testes realizados com o túnel construído. Foi possível
visualizar a camada limite de objetos testados e qual o comportamento da mesma de acordo
com a forma dos mesmos. Verificou-se também a ocorrência dos dois tipos de
escoamentos, o laminar e o turbulento e sua forte influência na mecânica dos fluídos. Os
túneis de vento sempre desempenharam um papel importante na engenharia, assim, essa
instalação sugere ser uma ferramenta oportuna para didática dos alunos.

Palavra chave: Túnel de vento, Aerodinâmica, Mecânica dos fluídos.

1. INTRODUÇÃO

A importância do estudo dos fluidos é inquestionável. Sem ele não se


poderia verificar os acontecimentos físicos que controlam boa parte da tecnologia
moderna. Muitos programas computacionais de simulação já foram criados para
identificar precocemente os acontecimentos aerodinâmicos aplicáveis na construção
civil, automóveis, aviões, cápsulas espaciais, paraquedismo, etc. Mas ainda sim, se
faz necessário lançar mão de equipamentos que simulam eventos aerodinâmicos
que influenciam no projeto, custo e eficácia do objeto de estudo.

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O modelo considerado para construção do protótipo é o do tipo subsônico
(túneis de baixa velocidade do fluxo do ar), o mesmo já projetado e construído por
Donald D. Baals (NASA) e usado de forma vasta em instituições de ensino por todo
mundo.
O equipamento terá por finalidade fazer testes aerodinâmicos, melhorando a
didática de ensino, evidenciando a importância do estudo da mecânica dos fluídos.
Será percebido nesses estudos, por exemplo, a verificação do melhor modelo
aerodinâmico a ser aplicada na indústria aeronáutica e automobilística, buscando
economia de combustível, diminuição do nível de ruído, dirigibilidade, entre outros
fatores importantes que permeiam o mercado consumidor e a sustentabilidade
ambiental.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. TÚNEL DE VENTO
É um equipamento ou instalação usada para estudar a interação entre
corpos sólidos ou gel e correntes de ar sob condições controladas. Túneis de vento
são amplamente aplicados para determinação de parâmetros em projetos da
indústria automotiva, aeronáutica e da construção civil. São também em estudos
sobre impacto ambiental, energia eólica e meteorologia. O túnel de vento faz uma
simulação, produzindo uma corrente de ar que flui sobre o objeto. São formados
basicamente por um corredor com área para ensaio, ventilador e sensores para
medições diversas. Permitem medir pressões, ressonância, vibrações, entre outros
efeitos do ar em movimento, concluindo se o objeto de estudo suportará e/ou
responderá as forças quando solicitado (LOTURCO, 2012).

2.1.1. TIPO QUANTO A VELOCIDADE DE FLUXO


Como comentando anteriormente, foi escolhido o túnel de vento tipo
subsônico para o projeto e construção, devido ao baixo custo. Esse túnel tem como
característica a velocidade de fluxo do fluído, que é no máximo 135 m/s. Em termos
de números de Mach, está na casa de 0,4 números. Mach é uma unidade de
velocidade compreendida na relação entre velocidade do objeto com a velocidade
do som nas mesmas condições de temperatura e pressão.

2.1.2. TIPO QUANTO A FORMA

Existem vários túneis de vento classificados de acordo com a sua forma. A


forma escolhida aqui é a de circuito aberto do tipo ventilador. Como o nome já diz,
as extremidades do túnel são abertas ao ambiente, tendo o ventilador como
equipamento que faz o movimento do ar. Não é um túnel indicado para ser usado na
indústria aeronáutica, pois sua qualidade de aferição de informações é inferior
comparado aos túneis supersônicos de circuito fechado. Mas são amplamente
usados na indústria civil e para fins didáticos.

2.2. ALGUMAS APLICAÇÕES DO TÚNEL DE VENTO

O túnel de vento é empregado para várias finalidades, mas aqui, nesse


trabalho será abordada apenas para indústria aeronáutica e automobilística.

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2.2.1. APLICAÇÃO AERONÁUTICA

Segundo Monqueiro e Moraes, os ensaios aerodinâmicos têm por finalidade


determinar forças como a de sustentação, arrasto, lateral, momentos de rolagem
arfagem e guinada (termos usados na aeronáutica). Com essas forças há
possibilidade em levantar curvas muito importantes para análise aerodinâmica
(figura 01). Sem esses dados, seria impossível construir uma aeronave supersônica,
por exemplo.

Figura 01 – Maquete da Aeronave F-18E

2.2.2. APLICAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA

Conforme Monqueiro e Moraes a indústria automobilistica usa-se do túnel de


vento para estudos das melhores formas aerodinamicas possíveis para veiculos
terrestres (figura 02). O estudo proporciona o aumento ou diminuição do arrasto e da
aderencia do veiculo no solo. Isso está interligado diretamente ao consumo de
combustível, segurança e na viabilidade economica do mesmo.

Figura 02 – Carro de F1 em teste num túnel de vento

2.3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O tipo de túnel de vento é determinado conforme a velocidade do fluxo de ar e


quanto à forma. A velocidade do ar é medida a partir do número de Mach. O número
de Mach foi descoberto pelo físico austríaco Ernest Mach. Segundo Fox e McDonald
(2006), o número de Mach é determinado pela seguinte expressão:

3

 =

Onde:
Ma: número de Mach
V: velocidade média relativa do objeto
C: é a velocidade do som (340,29 m/s ao nível do mar)

A tabela a seguir enquadra os túneis de vento de acordo com a sua


velocidade de fluxo (MACH. IN INFOPÉDIA, 2012).

TIPO Número de Mach


Subsônica Ma < 1
Sônica Ma = 1
Supersônica 1,2 < Ma < 5
Hipersônica Ma > 5
Obs: 1 (Ma) = 1.234,80(km/h)

O número de Reynolds é um coeficiente adimensional amplamente usado


como parâmetro de medição de fluxo. Foi usado primeiramente pelo físico e
engenheiro hidráulico Osborne Reynolds (1842-1912). É a base que constitui o
comportamento real pelo uso de modelos físicos reduzidos. O número de Reynolds
é um dos conceitos mais importantes em testes de túnel de vento. É definida como a
relação de forças de inércia para as forças viscosas em um fluxo de acordo com a
seguinte equação:

. .
=
Onde:
R: número de Reynolds
: massa específica do fluído
: viscosidade dinâmica do fluído
: velocidade do escoamento
D: diâmetro da seção de escoamento

Segundo Monqueiro e Moraes, uma aeronave de tamanho real possui um


número de Reynolds de 10 milhões. Para efetuarmos a semelhança dinâmica sobre
um modelo de teste e consequentemente a do túnel de vento, utiliza-se a seguinte
expressão:


 = .
Onde:
Vm é a velocidade do modelo
Vr é a velocidade real
Dr é o diâmetro da seção real
Dm é o diâmetro da seção do modelo

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2.4. COMPONENTES DO TÚNEL DE VENTO

O túnel de vento é composto por cinco componentes básicos, o diagrama


abaixo coletado do sitio da NASA, demonstra de forma simples o seu funcionamento
(figura 03). Generalizando, o túnel de vento cria um fluxo de ar, que pode ser de alta
ou baixa velocidade, de acordo com objeto de estudo, permitindo medições das
forças resultantes sobre o modelo de teste.

Figura 03 – As partes de um túnel de vento circuito aberto (adaptado a lingua portuguesa)

2.4.1. CÂMARA DE TRANQUILIZAÇÃO


A câmara de tranquilização é responsável pela retificação do escoamento,
diminuindo assim o nível de turbulência antes do cone de contração. O
dimensionamento incorreto da câmara pode originar forças imprevisíveis na seção
de teste acarretando assim, em erros de medições. Também pode ser usada uma
composição de colméia e telas para uniformizar o escoamento do ar (DA PAZ
SENA, 2006).

2.4.2. CONE DE CONTRAÇÃO OU BOCAL CONVERGENTE


A finalidade do cone de contração é exatamente o de convergir o fluído para
um volume menor, aumentando assim sua velocidade. À medida que o ar
movimenta-se da área maior (câmara de tranquilização) para a área menor (seção
de teste), há um aumento gradativo da velocidade do ar sem o desenvolvimento de
turbulência (The parts of a wind tunnel, 2012).
A equação de Bernoulli a seguir modela o efeito desse aumento de
velocidade. Considerou-se que o escoamento interno ao túnel de vento é
bidimensional, permanente e incompressível, para fins matemáticos (FOX e
McDonald, 2006).

 
+ +  . ℎ = 
 2
Onde:
P: pressão em pascal
: massa específica do fluído
 : velocidade do fluído
 : aceleração da gravidade
ℎ : deslocamento

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2.4.3. SEÇÃO DE TESTE
Após o fluído passar pelo o cone de contração, o ar entra na seção de teste
a uma velocidade desejada. É onde acontece o teste efetivamente, com o objeto de
estudo. Nessa região estão instalados todos os instrumentos para medir as forças
interessantes que influenciam na sustentação e arrasto, como tubo pitot e a balança
de carga. A coleta dos dados na seção de teste é de grande valia, pois serão usados
no dimensionamento de asas para aviões, por exemplo ("as partes de um Túnel de
Vento", 2012).
Segundo Monqueiro e Moraes, para obtenção da velocidade na seção de
teste, coloca-se em prática o efeito Venturi. Com a diminuição da área da seção
transversal do cone de contração no sentido convergente, há um aumento da
velocidade. O esquema pode ser identificado na figura 04.

Fonte: Túneis de vento (baixo subsônico) Monqueiro e Moraes

Figura 04 – Esquema de funcionamento de um Venturi

2.4.4. DIFUSOR
A próxima seção do túnel de vento é o difusor. Segundo FOX e McDonald a
finalidade do difusor é exatamente o de aumentar a vazão em um volume de
controle. O difusor é uma parte muito importante do túnel de vento, pois reduzirá o
investimento na construção do mesmo reduzindo os custos operacionais, pois
somente na região de testes há necessidade que o ar escoe com altas velocidades
(The parts of a wind tunnel, 2012).

2.4.5. CAIXA DO VENTILADOR


Finalmente, a ultima parte do túnel de vento é chamada caixa do ventilador.
Nessa seção é onde são instalados os ventiladores que fazem a sucção do ar
através do túnel de vento (The parts of a wind tunnel, 2012). Devem ser
dimensionados adequadamente para que se obtenham resultados satisfatórios.

2.5. TÚNEL DE VENTO

Após verificações quanto a aplicação e custo para construção do túnel de


vento, chegou-se a conclusão que a melhor opção de projeto é usar materiais já
prontos encontrados no mercado, como o tubo de PVC por exemplo. Isso facilitará
na montagem do protótipo mas ao mesmo tempo não irá prejudicar na proposta do
projeto (figura 05).

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Figura 05: Túnel de vento

3. CONCLUSÃO

Apesar da evolução de softwares que simulam um túnel de vento, esse é ainda


a principal ferramenta para o desenvolvimento tecnológico para máquinas e
equipamentos que dependem direta e indiretamente do vento como fluído para
funcionar. O túnel de vento construído permitiu uma experiência prática no
aprendizado da mecânica dos fluídos.
O cronograma inicial proposto foi atendido, houve apenas um atraso na
execução dos testes, que interferiu no projeto escrito. Mas na apresentação do
projeto a banca, o túnel construído e a realização dos testes foram demonstrados
em slide. No “Projeto de Graduação 1” foi proposto a construção de um túnel de
vento modelo de Baals. Após a coleta de orçamentos dos materiais, o valor para
construção desse modelo ficou inviável. Com recursos próprios, foi construído um
túnel de vento mais simples e com materiais com um custo inferior. Ainda assim as
características principais do túnel de vento subsônico aberto foram preservadas.
Foram testados vários objetos como esfera, cubo e cilindro, mas obteve-se
maior sucesso com os objetos perfil assimétrico NACA e um perfil de um automóvel,
pois à máquina de fumaça disponível não foi apropriada para realização desse tipo
de teste. Houve certa dificuldade também em conciliar o projeto com a execução do
protótipo, pois os materiais aplicados foram encontrados de forma acabada para
compra, como o tubo de PVC e o ventilador levando a várias revisões do projeto
para adequação do material. Foi um trabalho exaustivo que demandou muito tempo
e estudo.
Apesar das dificuldades encontradas em reunir material suficiente para
idealização do projeto, acredita-se que a pesquisa e a construção do protótipo
atenderam a sua proposta inicial. O túnel de vento construído, como já informado é
básico e didático, mas permite o incremento posterior de equipamentos que não
foram considerados na construção. O protótipo estará disponível para realização de
estudo futuro e melhorado por outros alunos da FAE que venham a ter interesse ao
assunto.
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É evidente que o estudo possa ser ainda mais aprofundado, pois a
engenharia brasileira ainda carece dessa tecnologia. O que foi proposto aqui é
apenas um inicio ao estudo dessa disciplina tão importante.

4. REFERÊNCIAS

Barlow, J.B., Rea, W.H., Pope, A., Low-Speed Wind Tunnel Testing,
Wileyinterscience, United States of America, 603 - 728p. 1999.

LOTURCO, Bruno (on line). Engenharia do vento


Disponível em:
http://www.revistatechne.com.br/engenhariacivil/156/artigo1677141.asp
acessado em 29/05/2012

National Aeronautics and Space Administration. NASA's Wind Tunnels


Disponível em:
http://www.nasa.gov/centers/langley/news/factsheets/WindTunnel_prt.htm
acessado em 23/05/2012

Monqueiro, Luiz Henrique e Moraes, Luís Fernando Gouveia. Túneis de Vento


(Baixo Subsônico). Ano desconhecido. 15p. Artigo – Centro técnico aeroespacial
(CTA) e Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) / Túnel de Vento (ASA-L).

Infopédia (on line). Mach. Porto: Porto Editora, 2003-2012.


Disponível em: http://www.infopedia.pt/$mach
acessado em 23/05/2012

Fox, R.W., McDonald, A.T., Pritchard, P.J., Introdução à Mecânica dos Fluidos,
Editora LTC, 6a ed., Rio de Janeiro, RJ, 616 - 798p., 2006.

The Parts of a Wind Tunnel (on line). The Parts of a Wind Tunnel.
Disponível em: http://sln.fi.edu/flights/first/tunnelparts/index.html
Acessado em 23/05/2012

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