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TÍTULO: DESENVOLVIMENTO DE PERFIS COM ALTA PERFORMANCE AERODINÂMICA POR MEIO DE

INTERPOLAÇÃO GEOMÉTRICA DE PERFIS JÁ EXISTENTES

CATEGORIA: CONCLUÍDO

ÁREA: CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

SUBÁREA: Engenharias

INSTITUIÇÃO: Centro Universitário de Excelência Eniac - ENIAC

AUTOR(ES): RAFAELA MARTINS LUZ VASQUES, JONATHAN MARTINS FERRO

ORIENTADOR(ES): MARCUS VALERIO ROCHA GARCIA, EDILSON ALEXANDRE CAMARGO, THIAGO


ALEXANDRE ALVES DE ASSUMPÇÃO

COLABORADOR(ES): MARCIO DIAS FELIX CPF: 324.260.028-24 EMAIL:


MARCIO.FELIX@ENIAC.EDU.BR TITULAÇÃO: ESPECIALISTA

Realização: IES parceiras:


1. RESUMO

No âmbito da competição SAE Brasil Aerodesign, o desenvolvimento de novos perfis


aerodinâmicos se faz necessário devido às restrições regulamentares. Neste
sentido, este trabalho apresenta uma breve revisão de literatura específica, assim
como o desenvolvimento de um perfil aerodinâmico utilizando-se de método
alternativo aos métodos tradicionais. Portanto, o objetivo do trabalho em questão foi
apresentar uma proposta de modelagem matemática para novos perfis
aerodinâmicos, baseada em modelos de interpolações de perfis aerodinâmicos já
existentes, realizando análises numéricas utilizando o software XFRL5. Por meio
desta interpolação, buscou-se aumentar a eficiência do coeficiente de sustentação,
comparando a influência das mudanças dos parâmetros utilizados nas simulações
com dados já conhecidos. Para a apresentação dos resultados, foram construídos
gráficos referentes às curvas aerodinâmicas para os novos perfis, comparados-as
com as curvas dos perfis já existentes. Com base nos resultados obtidos, foi
possível observar…

Palavras-chave: Aerodinâmica. Perfil aerodinâmico. Eficiência aerodinâmica.


Projeto de perfis.

2. INTRODUÇÃO

O que faz um avião voar? Esta talvez seja uma das primeiras perguntas que
ficam ecoando na cabeça dos seres humanos ao ver um objeto tão grande sair do
solo e ganhar os céus. Pode-se dizer que são vários os fatores, mas com certeza os
maiores responsáveis são: o formato das asas e o conjunto que gera o impulso
(motor e as hélices).
A SAE BRASIL (2022) organiza todos os anos uma competição chamada
AeroDesign para os alunos de Engenharia, que visa promover a troca de
conhecimentos entre engenheiros experientes e alunos sobre técnicas e
conhecimentos de engenharia aeronáutica, através de um desafio real de projeto
aeronáutico, desde a sua concepção, detalhamento, construção e testes.  No âmbito
desta competição, busca-se o desenvolvimento de aeronaves rádio controladas
leves, capazes de transportar a maior relação entre quantidade de carga e peso
estrutural possível, ou seja, quanto maior for a carga admissível e menor for o peso

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estrutural da aeronave, mais interessante se torna o projeto. Além disso, outros
requisitos fazem parte da competição, incentivando mais pesquisas em cima do
desenvolvimento da aeronave.
Neste sentido, busca-se no projeto de sua asa, a utilização de perfis
aerodinâmicos capazes de gerar altos valores de coeficiente de sustentação sem
que este perca a sua eficiência aerodinâmica. É importante ressaltar também que a
facilidade construtiva é, na maioria das vezes, uma restrição de projeto para as
equipes participantes.

3. OBJETIVOS

O presente trabalho teve como objetivo propor um método de


desenvolvimento de perfil aerodinâmico por meio da interpolação geométrica de
perfis já existentes.
Para tanto, foram estabelecidos algumas metas quanto ao perfil
aerodinâmico, tais como:
● Obter valores de coeficiente de sustentação iguais ou superiores aos
gerados por perfis já existentes;
● Desenvolver menor arqueamento médio se comparado aos perfis já
existentes;
● Desenvolver bordo de fuga com maior espessura;
● Realizar análises numéricas para avaliar a viabilidade operacional do
perfil desenvolvido.

4. METODOLOGIA

Perfis aerodinâmicos são geometrias ou seções que, quando submetidos a


um determinado ângulo de ataque com relação ao sentido contrário do fluxo de ar,
produzem forças de sustentação, arrasto e momento de arfagem (ROSKAM, 1997).
Neste sentido, perfis de alta performance são aqueles munidos de características
aerodinâmicas que maximizam a geração de sustentação e minimizam a geração de
arrasto. De acordo com Anderson (1999), as forças aerodinâmicas e os momentos
em um corpo imerso em ar são devidos a apenas duas fontes básica:
1. Distribuição de pressão sobre a superfície do corpo.
2. Distribuição de tensão de cisalhamento sobre a superfície do corpo.

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A Figura 1 apresenta o resultado da interação entre estas fontes,
apresentando por meio dos vetores a disposição das forças atuantes em um perfil.

Figura 1 – Forças atuantes em um perfil

Fonte: Anderson, 1999


Na Figura 1, o termo L é a força de sustentação, D é a força de arrasto, N a
força normal à superfície do corpo e R a força resultante, sendo a eficiência
aerodinâmica dada pela relação entre a força de sustentação e força de arrasto
(L/D). Estas forças são mensuradas em termos de coeficientes adimensionais,
tornando os cálculos e as análises mais consistentes.
As forças aerodinâmicas partem principalmente do formato geométrico do
perfil levando em consideração as suas características paramétricas, sendo que
estas podem variar de acordo com a necessidade de um projeto específico. A Figura
2 apresenta a anatomia de um perfil aerodinâmico.
Figura 2 – Perfil aerodinâmico com a nomenclatura para os parâmetros
geométricos de um perfil

Fonte: Miranda, 2014


O bordo de ataque é o setor geométrico em que se considera a entrada do
fluxo de ar, assim, o bordo de fuga é o setor geométrico em que se considera a
saída do fluxo de ar. A linha de corda é a distância entre o bordo de ataque e o
bordo de fuga.

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A espessura do perfil representa a altura máxima entre o intradorso e o
extradorso do perfil, medida perpendicularmente a linha de corda. O arqueamento
representa a máxima distância entre a linha de arqueamento médio e a linha de
corda.
Os coeficientes de sustentação e arrasto de um perfil, são geralmente
determinados através de ensaios em túneis de vento ou em softwares CFD que
simulam um túnel de vento, sendo função da geometria, do número de Reynolds e
do ângulo de ataque, este último, o termo utilizado para definir o ângulo alfa (α) entre
a linha de corda e o vento relativo assim como mostra a Figura 3.
Figura 3 – Representação para o ângulo de ataque

Fonte: Miranda, 2014.


De acordo com Gudmundsson (2013), o número de Reynolds é a medida da
razão entre as forças inerciais e viscosas em um fluxo de fluido, sendo de grande
importância para definição das características do escoamento e da separação da
camada limite sobre a superfície do perfil. O contato do fluido com o corpo gera uma
camada limite de fluxo laminar que se degenera, transitando para um fluxo
turbulento a medida em que há um aumento do número de Reynolds, este fenômeno
de transição acontece a um valor de número de Reynolds (Re) local de
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aproximadamente 5 𝑥 10 . Para o cálculo do número de Reynolds a seguinte
equação pode ser utilizada.
ρ𝑉𝐶
𝑅𝑒 = µ

na qual, ρ remete a densidade do ar na altitude, V é a velocidade do escoamento, C


é a distância entre o bordo de ataque e o bordo de fuga e μ é a viscosidade do ar. As
análises aerodinâmicas em um perfil, levam em consideração o número de Reynolds
como sendo uma das condições de contorno para a obtenção dos resultados.

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Segundo Gudmundsson (2013), a manufatura moderna de aeronaves exige o
desenvolvimento de novos perfis aerodinâmicos visando alta eficiência, tendo como
consequência a redução de custo de operação e um menor impacto ambiental.
Atualmente, estes perfis são geralmente desenvolvidos utilizando-se de softwares
computacionais e duas metodologias tradicionais, estas sendo, Direct Analysis
Method e Inverse Airfoil Design Method em que suas descrições detalhadas
encontram-se fora do escopo deste trabalho. Alguns softwares podem ser
encontrados em suas versões gratuitas, como é o caso do XFRL5 comumente
utilizado na indústria aeronáutica e acadêmica, possibilitando um menor custo
operacional das análises.
As curvas aerodinâmicas possuem características semelhantes, no entanto,
com valores diferentes de acordo com a eficiência aerodinâmica de cada perfil
(RAYMER, 1992). A Figura 4a apresenta as curvas de coeficiente de sustentação
versus o ângulo de ataque para um perfil hipotético, enquanto que, a Figura 4b,
apresenta as curvas de coeficiente de arrasto versus o ângulo de ataque para o
mesmo perfil a números de Reynolds que variam de cem mil a quinhentos mil com
intervalos de cem mil.
Figura 4 – Características das curvas aerodinâmicas de um perfil

(a) (b)
Fonte: Airfoiltools, 2022
O coeficiente de sustentação (Cl) possui um valor máximo a um determinado
ângulo de ataque (α) onde a partir destes valores, há uma queda na geração de
sustentação. Estes valores variam de acordo com o número de Reynolds, sendo que
seus valores máximos chamados de coeficiente de sustentação máximo (Clmax) e
ângulo de estol (αmax), respectivamente. No desenvolvimento de um novo perfil, a
busca por um maior ângulo de estol e um maior valor de coeficiente de sustentação

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máximo é prioridade na maioria das vezes, isso se deve a variação no ângulo efetivo
da aeronave mediante perturbações provocadas por rajadas de vento.
Diferentemente do coeficiente de sustentação, o coeficiente de arrasto (Cd),
possui um valor mínimo a um determinado ângulo de ataque. Neste caso, no
desenvolvimento de um novo perfil, é priorizada a busca por menores valores de Cd
a ângulos de ataque mais próximos de zero, isso se dá pelo fato de que, é buscado
para a aeronave, menor resistência ao avanço a um menor ângulo de operação, o
que aumenta o banco de arfagem para a aeronave garantindo maior segurança
durante o voo.
Segundo Roskam (1997), os coeficientes de sustentação e arrasto são
diretamente influenciados pelos parâmetros geométricos do perfil aerodinâmico
conforme relações são apresentadas a seguir.
1 – Quanto maior o arqueamento do perfil, maior o coeficiente de sustentação
máximo para este perfil.
2 – Quanto maior a espessura do perfil, maior o ângulo de estol deste perfil.
3 – Quanto maior o arqueamento e a espessura do perfil, maior o coeficiente
de arrasto.
4 – Quanto maior o raio do bordo de ataque, maior a geração de sustentação
a elevados ângulos de ataque, todavia, maior a geração de arrasto de pressão.
5 – O gap do bordo de fuga influência no gradiente de pressão adverso e na
facilidade construtiva das seções transversais da asa a depender das restrições de
projeto da aeronave.
Selig (1996) apresenta um estudo das características de perfis considerados
capazes de gerar altos valores de coeficientes de sustentação a baixos números de
Reynolds, e em suas análises de caráter experimental foram realizadas em túneis de
vento convencionais, conforme mostrado na Figura 5.

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Figura 5 – Perfis geradores de altos valores de sustentação

Fonte: Selig, 1996.

Geralmente, estes perfis são utilizados em aeronaves que realizarão missões


a baixas velocidades operacionais, pois são aeronaves que necessitam da
capacidade de transportar elevada quantidade de carga em regimes de escoamento
incompressíveis como é o caso das aeronaves destinadas a participar da
competição SAE Brasil AeroDesign, competição de engenharia volta a estudantes
de cursos superiores a nível nacional e internacional.

5. DESENVOLVIMENTO

Para o desenvolvimento do presente trabalho foi realizada a interpolação


geométrica de perfis já existentes. Os perfis foram interpolados intercalando suas
principais características como, por exemplo, a união entre um perfil capaz de gerar
altos valores de sustentação e um perfil com baixo valor de arqueamento médio,
tendo em mente as restrições para o projeto de uma nova aeronave. Com este
método é possível prever as características do novo perfil gerado, o que possibilita a
diminuição no tempo de projeto. Além disso, o método permite desconsiderar a
utilização de cálculos analíticos apresentados em metodologias tradicionais de
projeto de perfis.
Nesta proposta de desenvolvimento para um perfil, foram interpolados, por
meio do software XFRL5, alguns perfis apresentados anteriormente. A Figura 6
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apresenta a utilização da ferramenta para a primeira interpolação entre o perfil
S1223 e o perfil FX 74-CL5, considerando uma influência geométrica de 50%.
Figura 6 – Resultado para interpolação entre perfis já existentes

Fonte: Autor, 2022


O procedimento foi repetido até que as características geométricas previstas
para o projeto fossem obtidas. A Figura 7 apresenta o fluxograma de interpolações,
por conveniência, na qual apenas os perfis que obtiveram o melhor desempenho são
apresentados.
Figura 7 – Fluxograma de interpolações

Fonte: Autor, 2022.

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6. RESULTADOS

A Figura 8 apresenta os coeficientes de sustentação e arrasto para os perfis


em que, as condições de contorno para as análises numéricas são apresentadas na
Tabela 1.
Figura 8 – Curvas aerodinâmicas para os perfis

Fonte: Autor, 2022.

Tabela 1 – Condições de contorno para as análises numéricas


Método Re α [⁰]
Batch Analysis 300000 -15 ~ 20
Fonte: Autor, 2022

De acordo com os resultados, podemos perceber a superioridade dos novos


perfis, onde os denominados ENIAC 1309 e ENIAC 2515, atendem aos objetivos de
projeto, garantindo elevados valores de coeficiente de sustentação que permite
maior carga transportada pela aeronave, baixos valores de coeficiente de arrasto,
melhora no desempenho da aeronave em sua corrida de decolagem, além de
possuir formatos geométricos de baixo arqueamento, o que facilitou a manufatura da
asa.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que os objetivos do presente trabalho foram alcançados, é


possível afirmar que o método pode ser utilizado como uma alternativa no
desenvolvimento de novos perfis aerodinâmicos, obtendo-se assim elevada

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economia em se tratando de recursos computacionais e operacionais. É importante
ressaltar que, análises numéricas utilizando diferentes softwares podem ser
realizadas para fins comparativos aos resultados apresentados neste trabalho.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON,J. D. Aircraft performance and design. vol. 1. WCB/McGraw-Hill


Boston, MA,1999.

GUDMUNDSSON S. General aviation aircraft design: Applied Methods and


Procedures. Butterworth-Heinemann, 2013.

MIRANDA, J. R. Fundamentos de Engenharia Aeronáutica. Cengage Learning,


2014.

Polars for S1223. S1223 aerodynamic polars, 2022. Disponível em:


http://airfoiltools.com/airfoil/details?airfoil=s1223-il.

RAYMER, D. P. Aircraft design: A conceptual approach. AIAA Education series,


1992.

ROSKAN, J. Airplane Aerodynamics and Performance. DAR Corporation, Kansas,


1997.

SAE BRASIL, 2022. Disponível em:


https://saebrasil.org.br/programas-estudantis/aero-design-sae-brasil/ Acessado em
18/08/2022

SELIG, S. M. Summary of Low-Speed Airfoil Data Volume 2. SoarTech


publications, 1996.

XFLR5, analysis tool for airfoils. Free, 6.47. Disponível em:


http://www.xflr5.tech/xflr5.htm.

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