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Processo de otimização multidisciplinar de aeronaves por evolução diferencial

Conference Paper · April 2018

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4 authors, including:

Tobias Morais André Rezende Dessimoni Carvalho


Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
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6 FORUM SAE BRASIL AERODESIGN 2018

Processo de otimização multidisciplinar de aeronaves por


evolução diferencial
Guilherme Hiroiti Gomes Miyadaira
Roberto Martins de Castro Neto; André Rezende Dessimoni Carvalho
Tobias Souza Morais
Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO detalhado. A equipe Tucano Aerodesign utiliza uma adaptação


deste mesmo conceito. Durante o projeto conceitual, diversas
configurações de aeronaves são analisadas e aquela com maior
A integração multidisciplinar é essencial para a
potencial segue para o Processo de Otimização
coesão de um projeto aeronáutico. Dessa forma, o presente
Multidisciplinar de Aeronaves (POMAER). Ao término da
artigo aborda uma metodologia para a integração entre áreas
otimização, a melhor aeronave é selecionada, e as principais
de aerodinâmica, desempenho, estabilidade e estruturas
geometrias são congeladas, dando início ao projeto preliminar
durante o projeto conceitual. Todo o processo é aliado a um
e detalhado.
algoritmo de evolução diferencial acelerada, o qual objetiva a
maior pontuação da competição de acordo com o regulamento
proposto. Por fim, uma análise de sensibilidade é realizada METODOLOGIA
para avaliar a melhor aeronave dentre perturbações que podem
ocorrer por incertezas no projeto. Neste artigo, o regulamento Evolução diferencial acelerada
SAE Aerodesign Brasil 2017 é utilizado como exemplo.
O algoritmo de evolução diferencial proposto por [9]
INTRODUÇÃO é reconhecido pela sua capacidade de escapar de ótimos
locais, como discutido em [10]. Dessa forma, o POMAER
A necessidade de otimização em projetos complexos utiliza como algoritmo de otimização uma adaptação da
que exigem elevada relação de compromisso, como o projeto evolução diferencial proposta em [11].
aeronáutico, estimulou a pesquisa e desenvolvimento de
metodologias de otimização multidisciplinar (MDO). Foram O algoritmo de otimização foi executado
publicados diversos estudos até o momento. Alguns deles são simultaneamente em 4 computadores. Cada execução nos 4
voltados para o projeto conceitual [1], [2]; outros, para o computadores compõe um ciclo (150 gerações por
projeto detalhado [3], [4]. Uma análise geral de diversas computador). A cada ciclo de otimização, milhares de
estruturas de MDO é apresentada em [5]. aeronaves candidatas são analisadas através de uma estimativa
da sua pontuação na competição e diversos ciclos são
A maioria das publicações são voltadas para a realizados para aumentar a probabilidade de convergência em
otimização de desempenho de aeronaves de grande escala, um mínimo global. Os parâmetros da evolução diferencial
como em [6]. Neste artigo, uma metodologia de MDO escrita utilizados são apresentados na Tabela 1, onde D é o número de
em MATLAB é apresentada para o projeto da aeronave da variáveis de otimização.
equipe Tucano Aerodesign participante da competição SAE
Brasil Aerodesign. O evento é composto de uma competição Tabela 1 - Parâmetros da evolução diferencial.
de relatórios de projeto e uma de voo. Para tanto, é imposto Número da população 10*D
um regulamento com as principais restrições geométricas e de Número de gerações 150
grupos motopropulsores da aeronave. No ano de 2017, a Fator de perturbação (F) 0,8
principal restrição foi a de que a geometria da aeronave, na Probabilidade de crossover (CR) 0,8
condição de decolagem, deveria ser elaborada de tal modo que Estratégia DE/rand/1/bin
fosse interna a um hangar cônico com dimensões pré-
estabelecidas. As estratégias da evolução diferencial são definidas
em [9] e estabelecem a regra matemática utilizada na geração
Segundo [7] e [8], o projeto de uma aeronave é de novos indivíduos (vetores). Para o caso DE/rand/1/bin, o
dividido em três fases: projeto conceitual, preliminar e vetor alvo é escolhido aleatoriamente; é utilizado a diferença
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entre apenas dois vetores na obtenção do vetor doador; e o comprometida. Assim, a altura da asa é definida como a
cruzamento é do tipo binomial (executado em cada variável de menor possível atendendo ao limite de ângulo de rotação na
forma independente). decolagem estabelecido para cada indivíduo (Figura 2). Com
isso, toda a geometria da asa e sua posição no cone é
As variáveis de otimização foram definidas de tal delineada.
forma que possam abranger uma aeronave genérica de
configuração definida no projeto conceitual (monoplano com
trem de pouso convencional). São elas: corda da raiz da asa;
ângulo de incidência da asa; porcentagem das estações da asa;
afilamentos; diedros; enflechamentos; torção geométrica;
perfis aerodinâmicos da asa e empenagem horizontal;
alongamento e afilamento da empenagem horizontal; limite de
ângulo de rotação na decolagem e distância horizontal do trem
de pouso ao CA da asa.

A modelagem contida no POMAER utilizada para


estimar a pontuação de voo com base nos valores das variáveis
de otimização é dividida em cinco módulos: geométrico,
aerodinâmica, estabilidade e controle, desempenho e cargas e
Figura 2 - Relação da altura da asa e ângulo máximo de
estruturas. Cada um é apresentado nas seções seguintes.
rotação em solo.
Módulo geométrico A posição do trem de pouso também é otimizada,
pois possui grande influência na altura da asa e no
O módulo geométrico é responsável por calcular as dimensionamento do profundor (Figura 3).
dimensões da aeronave que atendam aos requisitos
geométricos do regulamento (hangar cônico) com base nos
valores das variáveis de otimização.

Figura 3 - Influência da posição do trem de pouso.

Ainda no módulo geométrico, a posição da


empenagem horizontal é definida. Quanto mais baixa a
Figura 1 - Representação de uma asa genérica. empenagem estiver, maior poderá ser seu braço devido ao
cone e, consequentemente, necessitará de uma menor
A partir das variáveis de otimização, para que a empenagem para atender aos requisitos de estabilidade e
geometria da asa (Figura 1) esteja definida, resta apenas o controle. Entretanto, novamente o ângulo de rotação em solo é
valor de sua envergadura, calculada de tal forma que seja a prejudicado pelo tail clearence. Dessa forma, a posição
maior possível dentro do limite do cone. No entanto, este valor longitudinal e a altura do bordo de fuga da empenagem
é diretamente relacionado com a altura da asa - até então não horizontal são definidas pelo ângulo de rotação em solo
definida. Quanto mais baixa a asa, maior pode ser sua (Figura 2). O completo dimensionamento da empenagem
envergadura. Entretanto, a rotação da aeronave em solo é horizontal é discutido no módulo de estabilidade e controle.
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Módulo de aerodinâmica Módulo de estabilidade e controle

O módulo de aerodinâmica é responsável por obter os O módulo de estabilidade e controle possui a


coeficientes aerodinâmicos da aeronave que são utilizados finalidade de dimensionar a empenagem horizontal e penalizar
pelo módulo de desempenho; e suas derivadas, utilizadas pelo as aeronaves que não atenderem aos requisitos impostos pela
módulo de estabilidade e controle. equipe. Dessa forma, aeronaves que possuem voo inviável são
descartadas. As análises realizadas envolvem estabilidade e
Devido às possíveis geometrias da asa com diedro e controle longitudinal estática. São elas: margem estática,
enflechamento, o módulo de aerodinâmica utiliza a teoria da trimagem, e controle durante decolagem. Este módulo,
linha sustentadora linear moderna [12]. A solução juntamente com o módulo de desempenho, também é
aerodinâmica para ângulos de ataque maiores é dada pela responsável por avaliar a posição longitudinal do CG.
teoria da linha sustentadora não linear clássica [13], a qual não
aceita diedro e enflechamento. A desconsideração do diedro é A partir dos valores de alongamento, afilamento e
corroborada por [2], [14] e [15]. Para o enflechamento, perfil aerodinâmico obtidos das variáveis de otimização, a
aplicou-se uma correção proposta por [16]. A convergência da empenagem horizontal foi dimensionada com a seguinte
região linear da curva de CL x alpha entre os dois métodos foi lógica:
avaliada e aplicou-se um fator de correção de 3% (Figura 4).
1- Calcula-se a área de empenagem horizontal
necessária para manter margem estática igual a
10% para várias posições horizontais de CG
(adaptado de [18] e [19]);

2- Calcula-se o downforce necessário para vencer o


momento de rotação em torno do trem de pouso
(decolagem) para cada posição horizontal do CG.
Com isso, a área da empenagem horizontal é
calculada tendo em vista os valores dos
coeficientes aerodinâmicos para a deflexão
máxima de profundor all-move;

Figura 4 - Correção para a curva CL x alpha. 3- Dessa forma, a posição de CG selecionada é


aquela que fornece a menor área de empenagem
A correção efetuada é realizada na curva não linear, horizontal que atenda os dois requisitos (Figura
visto que, neste cálculo, os valores de enflechamento e diedro 5), gerando menor arrasto e menor downforce
são negligenciados. Dessa forma, tem-se que os valores de durante a decolagem, fase avaliada no módulo de
dCL/dalpha e CL0 da curva ajustada é igual àquele obtido pela desempenho.
LLT moderna. Para isso, a curva não linear é transladada
apenas na horizontal, alterando-se o ângulo de estol e A margem estática de 10% foi adotada como critério
mantendo-se o valor de CL máximo. de estabilidade e controle pela experiência da equipe em anos
anteriores.
Os perfis da asa e empenagem foram adotados como
variáveis de otimização. Para isso, um banco de dados foi
formado com perfis otimizados durante o pré-projeto,
utilizando o Xfoil6.99 como solver.

O arrasto parasita de estruturas como trem de pouso,


fuselagem e boom são estimados seguindo [17].

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aeronave são calculadas, obtendo-se a aceleração, velocidade e


descolamento. Os valores de tração para cada velocidade são
obtidos através de um banco de dados que inclui as curvas de
tração dinâmica de alguns grupos motopropulsores, incluindo
os motores OS0.55AX e MAGNUM−XLS.61A. O motor
utilizado entra como uma variável de otimização. As forças de
sustentação e arrasto da aeronave são obtidas através da
comunicação com o módulo de aerodinâmica, o qual fornece
os coeficientes aerodinâmicos para diversos números de
Reynolds e ângulos de ataque. O coeficiente de atrito é
estimado com base em aeronaves de anos anteriores da equipe.

A iteração é interrompida quando a aeronave atinge a


velocidade de decolagem, definida como a velocidade na qual
a sustentação da asa é igual a soma do peso e da sustentação
da empenagem horizontal. O CL utilizado em lift-off é aquele
calculado para o ângulo máximo de rotação estabelecido.
Assim, calcula-se o comprimento de pista necessário para a
Figura 5 - Avaliação da posição do CG. decolagem com a massa de 3 kg. Todo o procedimento é
realizado novamente com um acréscimo de massa enquanto o
Para uma aeronave genérica, nem sempre a menor comprimento de pista for menor que 60 metros. Dessa forma,
área de empenagem é mais vantajosa, pois pode-se trabalhar encontra-se o MTOW de cada indivíduo.
com diversos perfis aerodinâmicos. No entanto, o aerofólio da
empenagem horizontal e da asa são variáveis de otimização. A avaliação do desempenho em decolagem considera
Dessa forma, para um mesmo alongamento e perfil, a busca toda a rotação da aeronave no final da pista. Quando a
pela menor área é interessante do ponto de vista de distância percorrida passa de 53 metros, ocorre a deflexão do
desempenho (redução de arrasto e downforce na decolagem). profundor e a aeronave começa a rotacionar em torno do trem
de pouso principal. A completa rotação (ângulo definido por
Através de uma comunicação com o módulo variável de otimização) ocorre aos 57 metros. Assim,
geométrico, a empenagem horizontal é dimensionada dentro considera-se toda a variação dos coeficientes aerodinâmicos
do cone com a área, alongamento e afilamento selecionados. devido ao acréscimo do ângulo de ataque. Idealmente, a
Caso não seja possível, a aeronave é penalizada. completa rotação ocorreria nos 60 metros de pista. No entanto,
o piloto não possui a sensibilidade exata para que isso ocorra,
Por fim, a trimagem é analisada [20]. Caso o ângulo e a aeronave corre o final da pista totalmente rotacionada. Os
de trimagem para voo reto e nivelado a 110% da velocidade de valores de 53 e 57 metros foram estimados com base em
estol seja maior que o ângulo de estol da aeronave, o indivíduo estudo da característica do piloto (Figura 6).
também é penalizado. O alto valor do ângulo de trimagem
aceitável é justificado pois trata-se de uma aeronave rádio-
controlada para competição.

Módulo de desempenho

Devido à restrição do regulamento para decolagem


em até 60 m, esta fase torna-se limitante para o projeto de uma
aeronave participante da competição. Dessa forma, o módulo
de desempenho analisa o comportamento da aeronave durante
a decolagem com a finalidade de obter o MTOW de cada
indivíduo.

Para isso, o tempo é discretizado em intervalos de Figura 6 - Forças longitudinais durante decolagem. Nota-se o
0,05 segundos. Inicialmente, a massa total da aeronave é ganho em arrasto no fim da pista devido à rotação.
considerada igual a 3 kg. A cada passo, as forças atuantes na
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A velocidade do vento de proa tem impacto geométricas, diedro e enflechamento), na tração do motor, CL
significante na carga paga da aeronave. Assim, um estudo e CD. A incerteza na tração do motor é justificada pelas
estatístico [21] do vento no local e período da competição foi oscilações da sua rotação percebidas em ensaios. Tais
realizado. Dessa forma, as análises de desempenho incertezas são implementadas da seguinte forma: para cada
consideram uma velocidade do vento de proa de 3 m/s. variável, um valor randômico de -1 a 1 é gerado e
multiplicado por uma amplitude definida pela equipe. Esse
Módulo de cargas e estruturas valor é então somado ao valor da variável de projeto e a
função objetivo ocorre normalmente.
O módulo de cargas e estruturas é responsável pela
estimativa de peso vazio da aeronave candidata. Três etapas Com isso, pode-se avaliar a sensibilidade que as
são utilizadas. A primeira calcula a massa de balsa utilizada na variáveis de projeto possuem na pontuação da aeronave. Uma
construção da asa e da empenagem com base na espessura das aeronave muito sensível deve-se ser evitada, pois uma
chapas, densidade, área coberta do bordo de ataque, bordo de pequena mudança não intencional nas dimensões da aeronave
fuga e nervuras e área de entelagem. A segunda etapa estima a resultará em pontuação de voo baixa na competição.
massa de componentes fixos da aeronave, tais como: motor,
servos, trem de pouso, rodas, bequilha e componentes RESULTADOS
eletrônicos. A terceira etapa utiliza uma comunicação entre o
MATLAB e o solver de elementos finitos NASTRAN para o
dimensionamento da longarina da asa. A distribuição de
sustentação é obtida através do método de Schrenk [22]. Após
uma estimativa do raio da longarina de carbono vazado, a
solução 101 é realizada iterativamente reduzindo-se o raio da
longarina até que sua deflexão na ponta da asa seja menor que
18 mm e a tensão máxima obtida seja menor que a tensão de
escoamento do material. O valor de deflexão máxima
permitida foi estimado a partir da asa da aeronave Tucano
2016, na qual sua deflexão ao término da corrida de
decolagem anulava o valor de diedro. Para simular a Figura 7 - Tucano 004 (com modificações do projeto
influência da balsa, o modelo em NASTRAN conta com preliminar e detalhado).
rigidezes impostas.
Foram realizados 13 ciclos de otimização, sendo os
Função pontuação dois últimos robustos. A cada ciclo, os limites laterais foram
estreitados de acordo com a convergência. Três aeronaves com
Como o objetivo do processo de otimização é obter a pontuações próximas resultaram do processo de otimização
melhor aeronave para a competição SAE Brasil Aerodesign, o (Tabela 2). A aeronave 2 (Figura 7) foi selecionada devido à
valor otimizado é a pontuação de voo da aeronave. Com a maior facilidade de construção, visto que não há
estimativa de peso vazio calculada no módulo de cargas e enflechamento.
estruturas e o MTOW calculado no módulo de desempenho, a
pontuação é obtida pelas equações apresentadas no Tabela 2 - Variações entre 3 aeronaves ótimas.
regulamento. O algoritmo de evolução diferencial acelerada Dimensão Aer. 1 Aer. 2 Aer. 3
busca a minimização do valor negativo da pontuação (ou seja, Envergadura da asa [m] 2,57 2,61 2,60
Geral

maximiza a pontuação). Corda da raiz da asa [m] 0,51 0,52 0,50


Âng. de incidência [deg] 0 0 0
Análise de sensibilidade Envergadura [m] 0,61 0,65 0,56
Estação 1

Afilamento 1,00 1,00 1,00


Devido a imprecisões geométricas durante a Enflechamento [deg] 0,00 0,00 0,00
construção da aeronave (como abaulamento da entelagem e Diedro [deg] 0,00 0,00 0,00
fixação da asa com o correto ângulo de incidência), as Envergadura [m] 0,55 0,45 0,56
Estação 2

aeronaves do processo de otimização passam por uma análise Afilamento 0,76 0,76 0,81
de sensibilidade. Incertezas são aplicadas em algumas
Enflechamento [deg] -4,00 0,00 -3,47
variáveis de otimização (ângulo de incidência, torções
Diedro [deg] 0,00 0,00 -4,00
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Envergadura [m] 0,08 0,16 0,13


Estação 3

Afilamento 0,41 0,40 0,42


Enflechamento [deg] 4,44 0,00 8,00
Diedro [deg] -15,00 -15,00 -8,40
Δ Pontuação [%] 0,06 0,00 -0,38

Após a seleção da aeronave resultante da otimização,


análises de estabilidade e controle não lineares e latero-
direcionais estáticas foram realizadas simultaneamente ao
dimensionamento da empenagem vertical e ailerons ([19], [20]
e [23]) para que possibilitasse a sua construção e voo.

Um protótipo de baixo custo foi construído e


ensaiado para validação do desempenho de decolagem da
aeronave estimado no POMAER. A Tabela 3 compara
resultados obtidos do modelo e do ensaio (obtidos com
telemetria).

Tabela 3 - Comparação entre ensaio e modelo.


Voo 1 Voo 2
Dados Real Previsto Diferença Real Previsto Diferença
AD 750 m 750 m - 850 m 850 m -

Vproa 0 m/s 0 m/s - 0,9 m/s 0,9 m/s -

Sg 54,6 m 59,6 m 9,16% 56,8 m 59,5 m 4,75%


17,10 17,12
TOW 0,12% 18,10 kg 17,83 kg 1,49
kg kg
Figura 8 - Comparação entre modelo e telemetria.

Para a aeronave resultante do POMAER, a curva de


Os dados do voo 1 mostraram que o modelo físico
carga paga obtida é mostrada na Figura 9. Considerando
subestimou o desempenho da aeronave, visto que a distância
altitude densidade de 1000 metros e velocidade do vento de
de decolagem real foi menor que a prevista. Sabendo disso,
proa de 1 m/s (médias na competição de 2017) e peso vazio de
para o voo 2, o peso colocado na aeronave foi maior que o
2,790 kg (aeronave mais leve construída), a pontuação de voo
previsto e, ainda assim, a performance da aeronave foi
esperada é de 208,18. Somada com as pontuações de
superior ao modelo. Com base nos resultados apresentados,
bonificação, relatório e apresentação que a equipe obteve, a
fatores multiplicativos de até 5% foram adicionados aos
pontuação final é de 491,69. A diferença final para a equipe
valores de CL, CD e coeficiente de atrito de tal forma a ajustar
campeã da competição é de 6,94 pontos abaixo.
o modelo. A Figura 8 compara dados de aceleração,
velocidade e deslocamento entre o ensaio e o previsto,
mostrando modelagem satisfatória.

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matemática e inviável do ponto de vista de engenharia.


Também é necessário conhecer quais análises não fazem parte
do POMAER, pois os resultados dos ciclos de otimização
podem apresentar problemas durante tais avaliações que
exijam modificações no projeto da aeronave. A aeronave
TUCANO 004, obtida utilizando a metodologia deste artigo,
apresentou ocorrência de dutch roll para velocidades próximas
ao estol, item não analisado no POMAER. Assim, um
acréscimo de superfícies verticais foi analisado e
implementado durante o projeto detalhado, prejudicando o
desempenho da aeronave em decolagem e reduzindo
pontuação. O problema apresentado pode ser solucionado
através da implementação da metodologia apresentada em [6].

REFERÊNCIAS
[1] Warren Hoburg, Pieter Abbeel. Geometric
Programming for Aircraft Design Optimization. AIAA
Figura 9 - Curva de CP da aeronave resultante.
JOURNAL, 2014.
[2] Ilan Kroo, Steve Altus, Robert Braun, Peter Gage, Ian
CONCLUSÕES ESPERADAS Sobieski. Multidisciplinary Optimization Methods for
Aircraft Preliminary. AIAA. 1994.
A partir dos resultados mostrados, nota-se que a [3] A. A. Giunta, O. Golividov, D. L. Knill, B. Grossman,
metodologia de MDO apresentada fornece uma aeronave R. T. Haftka, W. H. Mason, L. T. Watson.
competitiva dentro do ambiente da SAE Brasil Aerodesign. Multidisciplinary Design Optimization of Advanced
Além disso, por ser constituído por módulos, o POMAER Aircraft Configurations. 1996.
pode ser facilmente ajustado para atender a outros [4] Tomasz Goetzendorf-Grabowski, Jacek Mieloszyk.
regulamentos ou ainda uma aeronave comercial, como, por Unconventional Configurations - Design and
exemplo, otimizando o consumo de combustível através de Optimization. ICAS. 2016.
alterações no módulo de desempenho e pontuação. [5] Joaquim R. R. A. Martins, Andrew B. Lambe.
Multidisciplinary Design Optimization: A Survey of
No ano de 2017, todo o processo de otimização levou Architectures. AIAA. 2013.
9 semanas. Sendo 6 semanas dedicadas à implementação da [6] Mccullers, L. A. Aircraft configuration optimization
linha sustentadora moderna, correção de erros cometidos e including optimized flight profiles. 1984.
aperfeiçoamento do módulo geométrico e de desempenho. [7] Sadraey, Mohammad H. Aircraft Design. Wiley, 2013.
Apenas as últimas 3 semanas contemplaram, efetivamente, os [8] Raymer, D. P. Aircraft Design: A conceptual
ciclos de otimização. Dessa forma, quando comparado à Approach. AIAA, 1992.
metodologia de projeto com base histórica (aeronaves de anos [9] R. Storn, K. Price. Differential evolution: a simple and
anteriores), o tempo demandado pelo POMAER é maior. efficient adaptive scheme for global optimization over
Entretanto, devido a integração multidisciplinar, o POMAER continuous spaces. International Computer Science
consegue extrair uma boa relação de compromisso entre as Institute. 1995.
variáveis de projeto. Além disso, o resultado das análises [10] Fran Sérgio Lobato, Valder Steffen Jr, Antônio J. Silva
realizadas neste processo continua sendo utilizado no projeto Neto. Resolução de Problemas Inversos em Processos
preliminar e detalhado como estimativa para análises Difusivos e Transferência Radiativa usando o
aprofundadas, reduzindo-se o tempo total de projeto. Algoritmo de Evolução Diferencial. 2011.
[11] Fran Sérgio Lobato, Valder Steffen Jr. Multi-Objective
Mesmo com os ganhos apresentados, é preciso ser Optimization Problems. Springer International
cauteloso na utilização do POMAER. O projetista deve Publishing, 2017.
entender como as variáveis trabalham dentro dos módulos [12] Philips, W., Snyder, D., 2000. Modern Adaptation of
para que possa analisar os resultados dos ciclos de otimização. Prandtl, Journal of Aircraft, vol. 37.
Dessa forma, evita-se que o resultado seja apenas uma solução [13] Carvalho, A. R. D., Brito, P. P. C., Nonlinear Lifting

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Line Implementation and Validation for Aerodynamic


and Stability Analysis. CILAMCE 2017 Proceedings of
the Iberian Latin-American Congress on Computational
Methods in Engineering.
[14] Barbosa, Á. A. F. Influência da asa em gaivota nos
coeficientes aerodinâmicos de uma aeronave. São
Carlos. 2015.
[15] O., B. M. J. House R. Wind-Tunnel Investigation of
Effect of Yaw on Lateral-Stability Characteristics.
Washington. NACA Report 703, 1939.
[16] Anderson, J. J. D. Aircraft Performance and Design.
Mc Graw Hill, 1999.
[17] Sadraey, Mohammad. Aircraft Performance: Analysis.
VDM Verlag Dr. Müller, 2011.
[18] Etikin, B. Dynamics of Flight. Wiley, 1959.
[19] Roskam, J. Methods for Estimating Stability and
Control Derivatives of Conventional Subsonic
Airplanes. 1971.
[20] Roskam, J. Airplane Flight Dynamics and Automatic
Flight Controls. 2001.
[21] ICEA. Banco de Dados Climatológicos.
http://clima.icea.gov.br/clima.
[22] Rodrigues, Luiz Eduardo Miranda josé. Fundamentos
da Engenharia Aeronáutica: Aplicações ao Projeto SAE
Aerodesign. 2011.
[23] Nelson, R. C. Flight Stability and Automatic Control.
McGraw-Hill Book Company. 1976.

CONTATO
Guilherme Hiroiti Gomes Miyadaira – Universidade Federal
de Uberlândia
guilhermemiyadaira@hotmail.com

Roberto Martins de Castro Neto – Universidade Federal de


Uberlândia
roberto10mcn@hotmail.com

André Rezende Dessimoni Carvalho – Universidade Federal


de Uberlândia
andre.rdc@hotmail.com

Tobias Souza Morais – Universidade Federal de Uberlândia


tobias@ufu.br

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