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ELEMENTOS DA DINÂMICA DE FLUIDOS COMPUTACIONAL – CFD

Introdução

Uso de CFD para predizer (prever e explicar) escoamentos internos e externos


cresceu muito no final do século XX e continua crescendo mais acentuadamente na
atualidade.
Na década de 1980, CFD só era dominada no meio acadêmico, usualmente
associada a pesquisas de doutorado e pós-doutorado.
O aparecimento de estações de trabalho (microcomputadores) e a descoberta de
algoritmos eficientes permitiram o desenvolvimento de programas comerciais, que
foram empregados tanto na pesquisa como na indústria.

Os programas em uso hoje em dia ainda requerem conhecimentos específicos


dos usuários que precisam discernir os resultados numéricos obtidos, especialmente
em casos de situações complexas e do estudo de casos novos. Geralmente, cursos
com 4 anos (doutorado) são requeridos para se dominar completamente o assunto.
Entretanto, a indústria requer resultados em menos tempo.
As técnicas mais comuns utilizadas em CFD são as conhecidas como diferenças
finitas, volumes finitos e elementos finitos. Mais recentemente se pesquisa a técnica de
elementos de contorno, mas não se atingiu desenvolvimento comparável às demais. A
dinâmica dos fluidos computacional lida com sistemas de equações altamente não-
lineares, envolvendo aspectos físicos muito complexos e necessitando a solução de
equações diferenciais parciais elípticas (equilíbrio sem dependência no tempo),
parabólicas (difusivos / convectivos com dependência no tempo) e hiperbólicas
(convectivos com dependência no tempo). No caso dos elementos de contorno, há
necessidade de cálculo de integrais infinitas (no sentido do cálculo do valor principal de
Cauchy), ainda muito difícil de se calcular.
Os programas comerciais mais conhecidos, como Phenics, Fluent, CFX, CFD++
usam a técnica de volumes finitos.
O conhecimento teórico adequado para o uso efetivo desses programas
comerciais é:
a) discretização espacial (domínio espacial do problema) e geração de malha
(o conhecimento em alguma ferramenta CAD também ajuda muito para a geração da
geometria);
b) dinâmica dos fluidos e métodos numéricos: equações de conservação e
constitutivas que modelam os escoamentos viscosos, condições de contorno, física da
turbulência e modelos de turbulência, além dos diversos métodos numéricos para
resolver cada um desses termos de forma consistente e numericamente estável para
se garantir a convergência;

c) método de discretização das equações diferenciais parciais: discretização


das equações de transporte para os fenômenos difusivos, convectivos e termos-fonte;
discretização para fenômenos transitórios; processos iterativos para obtenção da
solução; algoritmos para solução das equações discretizadas; implementação das
condições de contorno;

d) métodos de volumes de controle (idem);

O que é CFD?

CFD, de acordo com Versteeg e Malalaeskera (An Introduction to


Computational Fluid Dynamics – the finite volume method), é a análise de sistemas
que envolvem escoamento de fluido, transferência de calor e outros fenômenos como
reações químicas, através de simulações em computadores.

Exemplos de aplicações:

a) aerodinâmica de veículos (terrestres, aéreos): arrasto e sustentação


b) hidrodinâmica de navios

c) usinas: combustão em turbinas a gás e outros motores de combustão interna

d) turbomáquinas: escoamento em passagens entre pás fixas e rotativas,


difusores, etc.
e) equipamentos elétricos e eletrônicos: resfriamento, incluindo microcircuitos

f) engenharia de processos químicos: mistura e separação


g) ambientes externo e interno de edifícios: carga eólica, aquecimento e
ventilação

h) engenharia marítima: carga em estruturas off-shore

i) hidrologia e oceanografia: escoamentos em rios, estuários e oceanos

j) meteorologia: previsão do tempo

k) engenharia biomédica: escoamento de sangue em artérias e veias

Desde 1960 a indústria aeroespacial tem utilizado CFD para projeto, pesquisa,
desenvolvimento e fabricação de aviões e de seus motores. Mais recentemente CFD
tem sido usada para cálculo de câmaras de combustão de turbinas a gás, fornalhas de
caldeiras, câmaras de combustão de motores a pistão.
Deseja-se que se chegue a um estágio de desenvolvimento de CFD equivalente
aos atuais de CAE, o que ainda não foi conseguido devido à enorme complexidade dos
escoamentos e dos sistemas que os modelam.
Recentemente tem-se observado uso bastante difundido de CFD graças ao
estágio de desempenho aceitável a que se chegou e ao uso de interfaces amigáveis,
que não afugentam o usuário comum.

Há muitas vantagens de se usar CFD no lugar de ensaios para o projeto de


sistemas de fluidos:

a) redução substancial de tempo e custo de novos projetos

b) possibilidade de estudo de sistemas de modo controlado, que na parte


experimental são difíceis ou impossíveis de serem realizados (por exemplo,
sistemas muito grandes)

c) possibilidade de estudo de sistemas sob condições perigosas e além dos


limites usuais de desempenho (por exemplo, acidentes)

d) níveis de detalhes praticamente ilimitados.

Estatísticas empresariais mostram que o uso de CFD diminui muito o tempo de


projeto e a qualidade do mesmo através de técnicas de otimização. Temos o exemplo
de dados referentes ao projeto do AA330/A340 AIRBUS.

• Redução do arrasto: de 10% comparado com o modelo AA310 e 33%


comparado com o MD11;

• Projeto utilizando CFD: 800 diferentes tipos de asas analisados em 2 anos;


custo £ 500 000;

• Projeto utilizando túnel de vento: 800 diferentes tipos de asas analisados


em 150 anos; custo £ 65 000 000;
O custo de um experimento depende do número de pontos e do número de
configurações ensaiados. CFD pode produzir grandes volumes de resultados sem
necessidade de despesas extras. É barato fazer estudos paramétricos e otimização.
Entretanto, requer-se pessoal bastante qualificado para manipular os programas,
compreender o fenômeno físico e interpretar os resultados. Pessoal não habilitado
pode não enxergar a extensão dos resultados ou, mesmo, utilizá-los inadequadamente,
podendo comprometer os resultados do projeto, visto que uma solução numérica que
obteve convergência, não significa que os resultados estão corretos.

Como funciona um programa de CFD?

Os programas de CFD são estruturados em torno de algoritmos numéricos que


resolvem problemas de escoamento. Programas comerciais sempre têm sofisticadas
interfaces com os usuários para a entrada de dados e exame dos resultados. Assim,
todos têm:

a) um pré-processador: que permite a entrada de um problema de


escoamento para o programa de CFD, através de uma interface
amigável:

• definição da geometria da região de interesse (domínio computacional);


• geração de malha (subdivisão do domínio em um número adequado de
sub-domínios sem interseções, exceto fronteiras – malha de células,
volumes de controle, elementos)

• escolha dos fenômenos físicos e químicos a serem modelados

• definição das propriedades do fluido;

• especificação das condições de contorno nas células da fronteira do


domínio.

Conhece-se o escoamento a partir das pressões e temperaturas estáticas e das


velocidades em todo o domínio e em cada instante. Portanto, CFD está ligada ao
cálculo de P, T e V do escoamento, cujos valores são obtidos a partir de nós ou
volumes adequadamente colocados em cada célula. A precisão da solução CFD é
função do número de células da malha e, em geral, quanto mais fina for a malha
melhor a precisão da solução. Porém, deve-se conhecer a ordem das grandezas
envolvidas para que o código computacional não se torne instável devido ao alto nível
de refinamento, que também pode causar problemas durante a solução numérica.
A malha precisa ter células de tamanhos apropriados ao cálculo preciso das
propriedades e, portanto, não precisa que sejam todas iguais. As células precisam ser
menores nas regiões de altos gradientes das propriedades do fluido para evitar
problemas de estabilidade no método numérico utilizado.
Ao se iniciar o cálculo de CFD usualmente parte-se de uma malha que não é a
apropriada e, na medida em que se vai conhecendo as propriedades do escoamento,
vai-se refinando essa malha. Alguns programas fazem o refinamento automático,
baseado em algum critério escolhido pelo usuário, por exemplo o gradiente de pressão
ou temperatura. Outros requerem a intervenção do usuário, o que exige profundo
conhecimento desse assunto.
O tratamento e a geração da malha é tão importante quanto os cuidados na
solução das equações das leis de conservação. Muitas vezes o tempo utilizado para a
geração da malha é maior ou igual ao tempo na qual se obtém a solução do problema.
Os programas CFD têm seus geradores de malhas, mas é comum usar gerador
de malhas de diferentes procedências. Em geral, a geração de malha é uma tarefa
muito difícil e demorada, podendo-se recorrer a empresas/consultorias especializadas
quando a geometria do problema for muito complexa.

b) um solver: baseado numa técnica específica (volumes finitos, diferenças


finitas, elementos finitos, por exemplo), que realiza:

• aproximação das variáveis por funções simples (variação linear,


parabólica, etc.)

• a discretização das equações que modelam o escoamento, incorporando


essas funções, obtendo-se um sistema de equações algébricas ao invés
do sistema de equações diferenciais/integrais
• solução do sistema de equações algébricas

As diferenças entre as diversas técnicas estão no modo como as variáveis são


aproximadas e na discretização.

c) um pós-processador: para tratar e apresentar convenientemente os


resultados dos cálculos CFD. Faz-se uso extensivo de gráficos (figuras e contornos
apresentados anteriormente), dada a grande capacidade das estações de trabalho
(microcomputadores), para que se visualizem:

• geometria do domínio e malha


• vetores velocidades e outros
• curvas de nível (isolinhas)
• figuras 2 e 3D

• trajetórias de partículas
• manipulação de vistas (zoom, rotação, etc.)

• gráficos coloridos
• animações (estudos dinâmicos)

• geração de arquivos de dados de entrada para outras aplicações e


programas.

Como resolver problemas com CFD

Não se deve esquecer que os escoamentos são de física complexa e, portanto,


os resultados de CFD não podem ser melhores do que os modelos físicos e químicos
usados. Também, o usuário de CFD deve ter profundos conhecimentos em todas as
áreas afins, para poder avaliar os resultados obtidos.
Antes de usar CFD deve-se identificar o problema, formulá-lo em termos de seus
fenômenos físicos e químicos, decidir por modelo 2 ou 3D, incluir ou não efeitos de P e
T ambientes na densidade do fluido, etc.

É preciso também conhecer profundamente o algoritmo utilizado no programa,


uma vez que problemas de não convergência, não consistência e não estabilidade
podem estar presentes:
• convergência: resultados numéricos se aproximam da realidade

• consistência: sistema algébrico é equivalente ao sistema de equações


diferenciais

• estabilidade: os erros são amortecidos durante os cálculos.


Em geral, se o algoritmo é consistente e estável, tem-se convergência, segundo
Lax.
Malhas muito finas muitas vezes não são possíveis porque erros de
arredondamento mascaram os cálculos (como mencionado anteriormente). Os
engenheiros estão sempre procurando soluções confiáveis obtidas com malhas menos
refinadas possíveis.

Métodos

a) diferenças finitas – descreve uma variável y do problema de


escoamento por meio de pontos de amostragem colocados nos nós de
uma grade. A variável y é expandida em série de Taylor, truncada, para
gerar aproximação das derivadas de y por diferenças finitas, em termos
dos pontos de amostragem e de seus vizinhos.
Depende do número de termos dessa série truncada o número de vizinhos a
serem utilizados.
b) Elementos finitos – utiliza funções suaves por parte para aproximar as
variáveis em cada elemento. Se essas aproximações são substituídas
nas equações que modelam o escoamento, elas não são completamente
verificadas, gerando-se erros. Procura-se minimizar esses erros através
de funções-peso. Obtém-se um sistema de equações algébricas
envolvendo os coeficientes das funções aproximantes. Resolvido esse
sistema, todas as funções ficam determinadas (para cada célula).

c) Volumes finitos – descreve uma variável y do problema de escoamento


por meio de pontos de amostragem colocados nos sub-volumes
(elementos) em que o domínio foi dividido. As equações que modelam o
escoamento são integradas em todos esses elementos. A discretização
envolve a substituição de aproximações do tipo diferenças finitas. Após a
integração tem-se um sistema de equações algébricas, que é resolvido
iterativamente.

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