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AVALIAÇÃO, ESTUDO E RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIAS DO SISTEMA 

DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS NAS LINHAS AÉREAS 


DE TRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA DE UMA EMPRESA DE TRANPORTE 
DE PASSAGEIROS SOBRE TRILHOS

Menção Honrosa no Prêmio Alstom de Tecnologia Metro-Ferroviária; trabalho


apresentado no Seminário Técnico da Feira Negócios nos Trilhos, outubro de
2004, São Paulo

Autor: Mário Pereira Alves, Assistente Técnico Executivo I da CPTM


Email: marioa@cptm.sp.gov.br

1. RESUMO

As descargas atmosféricas são uma das principais causas de interrupções nas linhas
aéreas de transmissão e distribuição de energia elétrica. Seus efeitos destrutivos
freqüentemente se estendem a equipamentos e as instalações conectadas, com
possibilidade de causar danos pessoais e materiais irreversíveis. A interrupção do
fornecimento de energia provoca atrasos e paralisações na circulação de trens, com
perda de arrecadação e comprometimento da imagem da empresa.

Esta Empresa possui instalado e em funcionamento aproximadamente 640


Kmcorridosde linhas aéreas de tração em 3kVcc e 547 km de linhas auxiliares nas
classes de tensão de 4,4 kV até 33 KV. As linhas aéreas estão distribuídas
principalmente na região metropolitana de São Paulo, que, possui uma das maiores
concentrações de raios do estado de São Paulo, conforme dados do INPE.

Todos esses fatores determinam a importância do estudo e avaliação das linhas aéreas
desta Empresa frente às descargas atmosféricas, permitindo conhecer a extensão do
problema e propor melhorias para diminuir o índice de desligamentos e falhas no
sistema.

Neste trabalho, a avaliação e o estudo do sistema de proteção contra descargas


atmosféricas das linhas aéreas foi efetuada com a aplicação de normas e publicações
internacionais IEEE STD 1410-1997 “GUIDE FOR IMPROVING LIGHTNING
PERFORMANCE OF ELETRIC POWER OVERHEAD DISTRIBUTION LINES ” E IEEE
STD 1243-1997 “ GUIDE FOR IMPROVING THE LIGHTNING OF TRANSMISSION
LINES”. Estas normas fazem referencia a um software, o qual, utilizamos para efetuar o
estudo.

Este programa permitiu avaliar o desempenho de uma linha aérea de 6,6 KV e de 33


KV, frente às descargas atmosféricas e analisar as possíveis soluções a serem
implementadas, com a finalidade de minimizar os efeitos decorrentes dos surtos
atmosféricos que atingem as linhas aéreas.

A melhoria deste sistema de proteção reduzirá o custo direto devido a danos em


equipamentos e serviços de manutenção e, indiretos decorrentes dos atrasos na
circulação de trens.
 

2. DESCARGAS ATMOSFÉRICAS

2.1. Introdução

Os danos materiais e os transtornos ocasionados pelas descargas atmosféricas em um


meio ferroviário de transporte de passageiros é enorme, motivo pelo qual, foi
necessário reavaliar todos os conceitos existentes estudando com profundidade o
assunto e buscando soluções, que, possibilitem reduzir os danos aos sistemas. 
Organizações como o IEEE, desenvolveram grupos de trabalho e metodologias para
estudo, discussão e estimativa de desempenho de linhas de transmissão e distribuição
frente às descargas atmosféricas. 
Realizamos este estudo para o sistema elétrico de tração ferroviário avaliando e
aplicando os conceitos e o programa computacional “FLASH” amparado nas seguintes
publicações: 
-IEEE Std 1410, “Guide for Improving the Lightning Performance of Eletric Power
Overhead Distribution Lines, aplicável a linhas aéreas com tensão inferior a 69 KV”; 
-IEEE Std 1243, “Guide for Improving the Lightning Performance of Transmission Lines,
aplicável às linhas aéreas com tensão superior a 69 kV”. 
Estas normas permitem estimar o de desempenho das linhas aéreas de um sistema de
alimentação típico ferroviário, frente às descargas atmosféricas e, verificar a efetividade
das opções de melhoria de desempenho das linhas. As opções para a redução das
falhas causadas por descargas atmosféricas estão informadas e discutidas nestas
publicações. Além das publicações, o IEEE desenvolveu o programa computacional
“FLASH”, incluído no IEEE Std 1243, que simplifica e facilita a metodologia de cálculos
utilizados na estimativa da taxa de falhas das linhas de distribuição e transmissão
devido às descargas atmosféricas. 
Realizamos inúmeras simulações para duas estruturas típicas da rede aerea de tração
com redes auxiliares instaladas acima destas estruturas, e obtivemos importantes
resultados que permitem reavaliar todos os conceitos de projeto utilizados até hoje.  
Este programa computacional utiliza-se de conceitos que merecem ser melhor
elucidados, e que, discorreremos a seguir.

2.2. Nível Cerâunico e Densidade de Descargas para a Cidade de São Paulo

 Para efeito de estudos e projetos elétricos utiliza-se a densidade de descargas para a


terra (Ng) que é o número de descargas para a terra por Km 2 ao ano. As estatísticas
mais conhecidas fazem referência ao número de dias de trovoadas por ano (Td) ou ao
número de horas de trovoadas por ano (Th) que se registram em uma determinada
região. Ambos os valores são conhecidos como nível cerâunico. As expressões
utilizadas para se determinar o Ng são:

  
  

Para estimar o comportamento de uma linha deve-se levar em consideração que a


densidade de descargas a terra varia aproximadamente entre 0 a 20, e que devido à
variação existente entre os anos consecutivos, os mapas de descargas são elaborados
tomando o ponto médio de pelo menos cinco anos consecutivos.

  

Figura 1: Densidade de raios na região Metropolitana de São Paulo e Vale do


Paraíba durante o período de 1999 a 2002 (INPE).

As informações relativas ao nível isocerâunico do Brasil foram obtidas da NBR


5419/2003.

Sabe-se que o número esperado de descargas diretas a cada ano, por 100 km de linha
de distribuição depende, entre outros fatores da altura, largura da estrutura e
principalmente do parâmetro   que, relaciona o numero de dias de trovoadas por ano
com a incidência de raios/km2/ano.

Na figura “1”, apresentamos a densidade de descargas na região metropolitana da São


Paulo e Vale do Paraíba coletada pela rede de localização de descargas do INPE no
período de 1999 a 2002.

Para este trabalho consideramos o valor   obtido das normas, acrescido de um fator
de segurança, visto que, as estimativas que estão sendo realizadas serão aplicadas a
um sistema ferroviário, que, possui uma vida útil bastante longa, e principalmente, em
virtude do clima de nosso “habitat” estar em um contínuo processo de transformação,
sendo possível que, em um determinado ano, para uma determinada região da Grande
São Paulo tenhamos valores de “NG” acima dos valores estatísticos coletados até o
momento pelos institutos especializados de nosso País.

Desta forma, para este trabalho, adotamos  equivalente a 9 (nove) raios/km 2/ano.

3. Performance de Linhas Aéreas de Energia Elétrica Frente às Descargas


Atmosféricas

 3.1. Sobretensão por Descarga Inversa

As descargas atmosféricas atingem a estrutura de sustentação ou o sistema de


blindagem (cabos pára-raios) e ao fluírem pelas estruturas para a terra elevam os seus
potenciais.

Dependendo dos valores da resistência de aterramento e da magnitude dos raios, a


diferença de potencial que se estabelece entre a estrutura e os condutores podem
ultrapassar a suportabilidade dos isoladores, rompendo a isolação e provocando um
curto-circuito na linha, com seu conseqüente desligamento.

3.2. Modelo Eletrogeométrico

Este modelo permite calcular a distancia mínima ymin, (que é à distância entre o canal
descendente e a estrutura terrestre a partir da qual ocorrerá o fechamento do percurso
entre os canais descendentes e ascendentes, originada na estrutura terrestre) dentro
da qual um raio atingirá diretamente a linha.O modelo eletrogeométrico é baseado no
conceito de que, uma linha aérea ou outro objeto, possui um certo raio de atração que
aumenta conforme a sua altura e é dependente da magnitude da corrente da descarga
atmosférica. A equação adotada pelo IEEE Std 1410 para o cálculo do raio de atração
do líder é dada pela equação:

Com:  rs = distância de atração do condutor (m) 


rg = distância de atração da terra (m) 
Io = corrente de pico da descarga atmosférica

 Este modelo é utilizado para realizar o cálculo do fator de blindagem, para a estimativa
de faiscamento por sobretensão induzida e, para o numero de descargas diretas na
linha de distribuição e neste caso aplicado ao sistema elétrico de tração.
  

  Figura 2: Aplicação do Modelo Eletrogeométrico (IEEE- Std 1410).

Em campo aberto, sobretensões induzidas somente afetarão linhas com baixos níveis
de isolação e/ou sobre solos com condutividade precária.

Como exemplo, para o caso de uma linha aérea sem aterramento sobre um solo com
boa condutividade, o número de descargas inversas devido a sobretensão induzida
excederá o número de descargas diretas, somente se o nível básico de
isolamento(CFO) for menor que 75 kV;

Contudo, se a condutividade do solo for precária, o número de disrupções por


sobretensão induzida poderá ser dez vezes maior do que, comparativamente a um solo
com condutividade ideal. Em áreas com objetos blindantes a disrupção por
sobretensão induzida torna-se um problema. Presume-se que a disrupção por
sobretensão induzida será eliminada em uma linha de distribuição com nível básico de
isolamento de 300 kV ou mais.

Pode-se confirmar esta afirmação pela analise do gráfico da figura 3 apresentado


abaixo:
  

Nota: A altura da linha de distribuição é 10 m. 


Figura 3: Número de disrupcões nos isoladores devido a sobretensão induzida
em relação ao nível de isolação da linha de distribuição.

3.3. Nível de Isolamento de Linhas de Até 69 kV

A maior parte das construções aéreas utilizam-se vários tipos de material isolante para
proteção contra os raios. 
Os mais comuns componentes isolantes usados em construções de linhas de
distribuição aéreas são de porcelana, ar, madeira, polímeros e fibra de vidro. Cada
elemento possui sua própria resistência de isolamento. 
Quando materiais isolantes são utilizados em série, o nível de isolamento resultante
não é a soma dos níveis associados de cada um dos componentes, mas algo menor
que tal valor. 
Os seguintes fatores afetam as taxas de falhas por descargas atmosféricas nas linhas
de distribuição e torna-se complexo a estimativa do nível total de isolação.

- Condições atmosféricas, incluindo-se a densidade do ar, umidade, chuva e


contaminação atmosférica; 
- Polaridade e taxa de crescimento da tensão;
- Fatores físicos como formato do isolador, forma da ferragem metálica e configuração
do isolador (montagem vertical, horizontal ou com um ângulo de inclinação).

 
3.4. Aplicação de Proteção para Linhas Energizadas Contra Raios Diretos, por
Meio de Cabo Guarda ou Pára-Raios .

Cabos guardas ou pára-raios são cabos aterrados colocados acima dos condutores
energizados, com a finalidade de interceptar descargas atmosféricas que poderiam, de
outra forma, atingi-los. 
A corrente da descarga é desviada para a terra através de um condutor de aterramento
da estrutura. Para ser efetivo, o cabo guarda deve ser aterrado em cada poste.  
A Corrente de surto da descarga atmosférica fluindo através da impedância de
aterramento da estrutura causam uma elevação de potencial, que, ocasiona uma
grande diferença de potencial entre o condutor de aterramento e os condutores
energizados.Esta diferença de potencial pode causar descarga inversa, através da
isolação entre o cabo de aterramento, e um dos condutores protegidos mais próximos. 
O fenômeno da descarga inversa significa uma restrição substancial na eficácia do
cabo guarda nas aplicações de linhas com tensões inferiores a 69 kV. 
Desta forma, os cabos guardas podem prover proteção efetiva somente se:

- Boas práticas de projeto forem usadas para prover suficiente nível de isolação (CFO)
entre o condutor de descida de aterramento e os condutores energizados; 
- Baixas resistências de aterramento da estrutura forem obtidas;

A Figura 3 pode ser usada para se estimar o número de disrupções por sobretensão
induzida para o projeto de cabo guarda. Para circuitos aéreos com tensões inferiores a
69 kV, a adição de um cabo guarda irá reduzir o número de disrupções nos isoladores
por sobretensão induzida

4 . Metodologia Utilizada Para Realização Do Calculo Do Número Esperado De


Descargas Diretas E Indiretas Nas Linhas Aéreas E Considerações Técnicas A
Respeito Das Vantagens Em Se Aplicar Cabo Guarda E Melhorar O Nível Básico
De Isolamento (CFO)

 Pela equação de Ericsson’s, obtida da norma IEEE, obteve-se o número esperado de


descargas diretas a cada ano por 100 km de linha energizada.

Pelo gráfico da figura 3, obteve-se o número esperado de descargas indiretas a cada


ano por 100 km de linha. 
O cálculo do numero esperado de descargas indiretas ocorridas em virtude de raios
que atingiram o solo, arvores ou construções, nas proximidades da linha a ser
protegida é dado por “Ni”, que é o número esperado de sobretensões induzidas (fase-
terra) a cada ano, por 100 km de linha, com amplitude maior que um dado valor “V” em
kV. 
De acordo com a norma, sabe-se que o número de descargas induzidas é
apreciavelmente reduzido pela aplicação de cabos guardas. 
Para a rede aérea de tração cuja isolação para impulso atmosférico é de 180 kV, sendo
resultante da associação de dois isoladores do tipo Suspensão-Concha Bola e de
mensageiros situado à aproximadamente 6,6 metros, teremos segundo o gráfico da
figura 3, a atenuação do número de descargas indiretas. 
Percebe-se neste caso que a aplicação de um Cabo Guarda atenua em
aproximadamente oito vezes o número de descargas indiretas na linha protegida. 
Infelizmente, o nosso sistema elétrico de tração e distribuição trabalha com um nível
básico de isolação para descargas atmosféricas entre 90kV e 180 kV e, de acordo com
a curva da fig 3 utilizada, o efeito das voltagens induzidas é mais atenuado para níveis
básicos de isolamento superiores a 240 kV com a utilização do Cabo Guarda, e sem
Cabo Guarda para valores superiores a 320 kV. 
Os aspectos positivos relativos aos cálculos apresentados são os seguintes:

- Os valores calculados são máximos, pois, não consideram construções e árvores nas
proximidades, e esta redução é significativa, devendo ser avaliada para toda sua
extensão. 
- A isolação da rede aérea de tração é aproximadamente o dobro da isolação dos
circuitos de distribuição instalados sempre acima desta rede, de forma que, o efeito das
descargas indiretas é minimizado pela isolação maior, e as descargas diretas são
bastante atenuadas pela “proteção“ dos cabos dos circuitos de distribuição que, no
entanto, não tem esta função e não fornecem proteção efetiva, sendo necessário a
aplicação de cabos guardas.

Não será nosso objetivo, nesta etapa, avançarmos na apuração dos valores de
redução dos efeitos das descargas atmosféricas em razão das construções próximas
dos circuitos de alimentação elétrica de tração.

5. Simulação do Programa Flash no Estudo da Performance da Rede Aérea de


Tração e Auxiliares Frente às Descargas Atmosféricas

 5.1. Considerações

Foram analisadas duas estruturas típicas de 6,6 e de 33 kV em.que se aplicou o


programa Flash versão1.7 amparado pelas normas IEEE STD 1243 e STD 1410,
aplicando-se o índice de 9 raios/km²/ano (escolhidos pela análise dos dados do INPE).

Analisamos duas estruturas típicas da Empresa, avaliando o número de descargas


reversas e as falhas de blindagens de acordo com a configuração atual existente para
resistências de aterramento de 10 W , 50 W e 100 W , com um ou dois Cabos Guardas
em ângulos de blindagem ideais, bem como prevendo a possibilidade de substituição
de isoladores, aumentando-se a distancia de arco direto e, portanto, a isolação da linha
auxiliar instalada logo acima da rede aérea de tração.

O gráfico abaixo é ilustrativo e demonstra a seqüência de ações adotadas para reduzir


o numero de descargas reversas utilizando-se primeiramente das medidas de menor
custo.

As ações seqüenciais são as seguintes:

- substituição de isoladores com maior distancia de arco direto( 0,14m ; 0,185m;


0,21m).

- redução da resistência ôhmica de aterramento( de 10 ohms para 5 ohms ).


- colocação de mais um cabo guarda com a melhor geometria de proteção.

- aplicação de um dos cabos guardas como proteção do circuito auxiliar de 6,6 KV


instalado acima da estrutura da rede aerea de tração.

- retirada da linha auxiliar de alimentação da sinalização em 6,6 KV.

  

Para conhecer os dados e resultados completos das simulações será necessário


consultar os documento completo que foi recentemente apresentado e aprovado pela
banca do curso de especialização de tecnologia Metro-ferroviaria concluído na USP em
2004.

Percebe-se que ausência de linhas auxiliares instaladas logo acima das estruturas de
sustentação da rede aerea de tração minimizam enormemente o efeito das descargas
reversas.

Obviamente, embora o custo seja bastante elevado deve-se avaliar a possibilidade de


remanejar a linha auxiliar existente aplicando-a lateralmente ou de forma
subterrânea,de qualquer forma, entendemos que é oportuno, e será muito útil para
projetos futuros conhecer os efeitos de não se utilizar linhas aéreas auxiliares
instaladas ao longo da mesma estrutura.

6. ANÁLISE

 6.1. Cabos Guardas

 A rede aérea de tração esta naturalmente protegida pelas linhas auxiliares utilizadas
para suprimento de energia ao sistema de sinalização, alem disto, em diversos trechos
contam com um cabo guarda colocado nas extremidades das estruturas da rede aérea.
A colocação de cabos guardas ao longo de toda a rede aérea, possibilita a redução dos
efeitos das descargas indiretas pelo efeito de acoplamento capacitivo entre estes cabos
e os cabos de energia,

O estudo do melhor posicionamento dos cabos guardas permitem melhorar a


blindagem e minimizar o numero de descargas reversas ocorridas pela falha de
blindagem.

Deve-se ressaltar, que, embora exista uma rede aérea de distribuição atenuando os
efeitos das descargas diretas, é recomendável utilizar os cabos guardas para
protegerem a rede aérea de tração, se possível à própria rede de alimentação dos
circuitos de sinalização e auxiliar de 33 kVca, o trem e todos os equipamento de
sinalização ao longo da via, bem como os equipamentos instalados nas imediações e
no próprio corpo das estações.

6.2. Equalização de Potencial

 No caso das estações, a malha de aterramento que estão interligadas a gaiola de
“faraday” estações, deverão ser conectadas ao ponto de aterramento dos cabos
guardas, objetivando a equalização de potencial entre estes sistemas de aterramento,
e também a fim de propiciar a redução da resistência ôhmica equivalente.

6.3. Analise das Necessidades e Viabilidade de Alteração do Projeto

6.3.1. Blindagem

 Nas linhas existentes, não é uma tarefa simples mudar o posicionamento dos cabos,
mantendo-os conforme recomendado pelo programa “Flash”, pois, será necessário o
desenvolvimento de dispositivos de fixação apropriados para cada tipo de Torre e
Poste, lembrando-se que, na passagem de estruturas para poste, a posição do Cabo
Guarda provavelmente poderá ficar longe da configuração ideal.

Deve-se realizar todos os esforços, aplicando-se as melhores técnicas de engenharia,


a fim de possibilitar o remanejamento e/ou novas instalações de cabos guardas de
forma a posicioná-los adequadamente a fim de propiciar a melhor blindagem.

O programa flash sugere esta posição geométrica ideal deve ser aplicada como
premissa básica em todas as simulações realizadas.

- A norma IEEE STD 1243, ilustra bem a necessidade de se realizar blindagens com
ângulos menores á medida que a altura do cabo guarda aumenta e, as condições do
ambiente representado por NG igualmente aumentam.

6.3.2. Isolação das Linhas de Tração, de Sinalização e Auxiliares

Pelo programa FLASH verificou-se que é necessário aumentar a isolação dos circuitos
de sinalização e auxiliares de 33 kVca para atenuar os números de descargas
reversas.
Poderemos especificar isoladores com maior distancia de arco direto combinados com
cruzetas e fixações em madeira ou fibra de vidro.

6.3.3. Instalação de Pára-Raios e Gap’s Entre os Cabos Guardas e a Rede Aérea


de Tração

 - Pára-raios ou “Gap’s” instalados ao longo da rede aérea podem atenuar bastante o


nível da tensão induzida e, portanto, diminuir o número de disrupções
significativamente.

- Esta alternativa já foi bastante aplicada pela FEPASA no interior Paulista na década


de 1980, sendo também empregada em trechos da rede aérea de tração, desta
empresa, com bastante sucesso.

A aplicação mista de pára-raios instalados nos circuitos das linhas de sinalização


protegendo os equipamentos ao longo das linhas e, a aplicação de um ou dois cabos
guardas com Gap’s na rede aérea, devem atenuar bastante os efeitos das descargas
indiretas e reversas nestes circuitos, lembrando se que, pela norma IEEE STD 1410
item 8.2, conclui-se que é recomendável realizar o espaçamento entre “Pára-Raios” no
mínimo a cada 225 metros.

Da norma IEEE STD 1410 pode-concluir, que, acima de 300 metros, a atenuação já
perde consideravelmente o seu efeito.

A mesma atenuação não é conseguida para descargas diretas, sendo pouco


representativa para isolação (CFO) de 150 kV; sendo necessário espaçamento entre
aterramentos da ordem de 75 metros, o que encareceria muito o projeto (conforme
IEEE STD 1410 item 8.3.1 fig. 10).

6.4. Resultados Obtidos

 Baseado nas normas mencionadas e utilizando-se o programa flash, obtivemos


diversas simulações com dados resultantes de descarga de retorno; bem como, uma
avaliação da situação das blindagens nas linhas de 6,6 kV e 33 kV.

Pelo padrão escolhido não pudemos apresentar o estudo detalhado, obtido através do
programa FLASH,que se se encontra disposto no anexo “III” e as telas de simulação
correspondentes, dispostas nos anexos “I” e “II” o qual poderemos enviar para consulta
caso se considere necessário.

O estudo completo abrange a expectativa de descargas diretas, indiretas e reversas


(programa FLASH) que, poderão ocorrer nos circuitos de tração e nas linhas auxiliares
de alimentação de sinalização e das retificadoras instaladas ao longo das linhas desta
Companhia.

Para as linhas de tração os resultados são os seguintes:

  Rede Aérea de Tração (Descargas Ano)


Descargas Descargas Indiretas Descargas
Diretas S/ Cabo Guarda C/ cabo Guarda Reversas
Linha A 54,74 2,06 0,24 30,95
Linha D 35,86 1,35 0,155 20,28
Linha E 48,13 1,81 0,21 *
Linha F 37,75 1,42 0,16 *
Linha B 40,11 1,51 0,173 22,68
Linha C 33,97 1,28 0,14 19,21

Tabela “1”: Numero Estimado de Descargas Diretas Indiretas e Reversas na Rede


Aérea De Tração por Ano em Cada Linha da desta Empresa.

(*) Não realizamos estudo específico para as descargas reversas nas estruturas da
rede aérea das linhas “E/F”.

Para as linhas de sinais de 6,6 kV presentes nas linhas “B/C” e nas linhas auxiliares de
33 kV, calculamos o numero das descargas diretas indiretas e reversas(pelo programa
FLASH) conforme apresentamos na planilha abaixo.

Rede Aérea de Sinalização 6,6 kV (linhas B/C)

Número estimado de Descargas / Ano


Descargas Indiretas
Descargas Descargas
  S/ Cabo C/ Cabo Reversas
Diretas
Guarda Guarda
Linha B 47,94 36,72 13,77 23,09
Linha C 40,61 31,10 11,66 19,56

Tabela “2”: Número Estimado de Descargas Diretas Indiretas e Reversas na Rede


de Sinalização nas linhas “B” e “C”.

Rede Aérea Auxiliar de 33 kVca

Número Estimado de Descargas / Ano


Descargas Descargas Indiretas Descargas
 
Diretas S/ Cabo Guarda C/ Cabo Guarda Reversas
Linha A 63,24 3,54 0,41 30,95
Linha D 41,43 2,32 0,27 20,28

Tabela “3”: Número Estimado de Descargas Diretas Indiretas e Reversas na Rede


Auxiliar de Alimentação das Retificadoras nas linhas “A” e “D”.
 

A s descargas reversas foram calculadas pelo programa Flash considerando-se as

instalações nas condições atuais com 1 cabo guarda e R = 10 Ω.

A redução do número de descargas indiretas, decorrente da aplicação do cabo guarda,


foi obtido do gráfico da figura 3 obtido da norma STD IEEE 140 ENGL 1997.

Deve-se ressaltar que os valores obtidos são máximos, pois, existem árvores postes e
outras estruturas menores instaladas ao longo das linhas que atenuam estes
efeitos.Como pretendemos no futuro, apurar os dados e analisar estatisticamente,
poderemos rever os valores obtidos.

Seguindo-se esta metodologia, e buscando-se reduzir os valores de descargas


reversas, estabelecendo-se o compromisso de atender ao ângulo ótimo de blindagem,
foi possível avaliar tecnicamente quais seriam as medidas necessárias para minimizar
os efeitos das descargas elétricas oriundas de surtos atmosféricos nas linhas de
tração.

7. CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

 Pelo estudo apresentado, seguindo-se as recomendações técnicas obtidas das


simulações do programa FLASH e das normas IEEE, temos as seguintes
recomendações técnicas a expor:

-Para futuros projetos deve-se estabelecer qual será a confiabilidade desejada para
cada linha de alimentação, buscando-se avaliar economicamente a possibilidade de se
projetar uma linha auxiliar subterrânea ou melhorar as condições de aterramento e
isolação, protegendo-a também com cabos guardas.

-A junção de duas ou mais linhas aéreas de diferentes classes de tensão sob a mesma
estrutura, resultam numa grande economia no momento inicial do investimento.

Esta concepção de projeto ainda é muito aplicada, e ocasionam impactos a médio e


longo prazo, cujos prejuízos decorrentes de danos aos equipamentos do sistema de
tração e atrasos na circulação de trens, não tornam indicado a sua prática.

-Em projetos futuros, em que exista a necessidade econômica em se aproveitar a


mesma estrutura para suportar outras linhas, deve-se avaliar o custo beneficio desta
ação considerando-se os prejuízos decorrentes do maior numero de descargas a
médio e longo prazo.

As ações necessárias para melhoria do sistema de proteção contra descargas


atmosféricas para os sistemas elétricos de tração e das linhas auxiliares serão:

A) Aumentar a isolação dos circuitos de sinalização e auxiliares em 33 kVca para


atenuar os números de descargas reversas, especificando-se isoladores com maior
distancia de arco direto e aumentando-se a isolação equivalente, pela utilização de
cruzetas e fixações em fibra de vidro.

B) A aplicação de isoladores para os cabos guardas permite garantir o nível básico de
isolamento da linha até certo nível de tensão gerada pelos raios, no entanto, para as
estruturas metálicas este princípio não é aplicável, face á baixa isolação destas linhas,
de forma que, neste caso o cabo guarda deve ser conectado a estrutura com a menor
resistência ôhmica possível.

C) Aplicar para raios nas linhas auxiliares e de alimentação dos circuitos de


sinalização, corrigindo-se a malha de terra para valores inferiores a 10 Ohms;
preferencialmente 5 Ω.Deve-se executar estas medidas, pelo menos nas imediações
em que os equipamentos elétricos estão sendo alimentados pelas linhas auxiliares,
bem como, nas proximidades das subestações.

D) Efetuar adequadamente a blindagem das linhas que, estatisticamente, e pelos


resultados obtidos, são mais severamente afetadas por descargas atmosféricas.

E) Deve-se utilizar centelhadores ou para raios entre a linha de 3 kVcc e o cabo


guarda, a fim de se atenuar as sobretensões induzidas por descargas diretas no
sistema aéreo de proteção, ou decorrentes de descargas indiretas ocorridas nas
imediações das linhas.

F) Garantir a equalização de potencial entre aterramentos circunvizinhos pela


interligação dos aterramentos existentes e a executar do cabo de proteção da rede
aérea, com os diversos aterramentos dos demais sistemas de sinalização e estações,
instalados ao longo das linhas, buscando-se a equalização de potencial; porém, nas
situações específicas em que não houver a possibilidade de danos a equipamentos
ligados à malha de terra, pela corrente de retorno de tração, ou de curto circuito em
3kVcc.

G) Sabe-se que, o efeito indutivo dos cabos de descida e/ou das estruturas aterradas,
causam um efeito de elevação de potencial entre o ponto de “entrada” da corrente de
surto e o “terra”, concluindo-se, que, quando o aterramento for realizado por cabos,
deve-se especificá-los com a menor indutância possível e sua instalação deve possuir
a menor metragem e ser bem retilíneo.

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