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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Educação .t. .Tecnologia
i. .g. .o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Impedância de surto de Sistemas Multicondutores


Verticais
(Surge impedance of Vertical Conductors System)

André Filipe Borges Oliveira Silva1


Rafael Silva Alípio 2
Marco Aurélio O. Schroeder3
Tarcísio Antônio S. Oliveira4
Márcio Matias Afonso5

Este trabalho apresenta um modelo eletromagnético satisfatório para o cálculo da impedância


de surto de um condutor posicionado verticalmente em relação ao solo quando atingido por
uma descarga atmosférica. Atualmente, no estado de Minas Gerais, a maioria dos
desligamentos do sistema de energia elétrica é causada pela incidência de descargas
atmosféricas nos elementos do sistema elétrico de potência. Este fenômeno gera enormes
prejuízos tanto para a companhia de energia elétrica quanto para os consumidores. A precisa
determinação da impedância de surto de elementos condutores verticais corresponde a um
passo imprescindível para a determinação do perfil de sobretensão que estes elementos estarão
sujeitos no caso de incidência de descarga atmosférica. Os valores de impedância de surto
obtidos com o modelo desenvolvido neste trabalho apresentaram uma excelente concordância
com os valores de medição disponíveis na literatura técnica.

Palavras-chave: Impedância de Surto, Sistemas Multicondutores, Sobretensões Atmosféricas Transitórias.


Key words: Surge Impedance, Vertical Multiconductor Systems, Atmospheric Transient Overvoltage.

1 INTRODUÇÃO t o. Em part icular, a preci sa d eterminação d a


impedância de surto tem um papel fundamental na
previsão da elevação de potencial na torre em caso
de descarga atmosférica e, conseqüentemente, em um
melhor dimensionamento da cadeia de isoladores.
As descargas atmosféricas correspondem à prin- Vários modelos para a torre de transmissão fo-
cipal causa de desligamentos não programados do sis-
ram propostos na tentativa de estimar a impedância
tema de energia elétrica. Dados da Cemig (Companhia
de surto, [1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9]. Uma modelagem da
Energética de Minas Gerais) revelam que aproximada-
torre de transmissão por meio de um cili ndro
mente 70% dos problemas ocorridos nos sistemas de
posicionado verticalmente em relação ao solo foi pro-
transmissão são devidos às descargas atmosféricas. Nos
sistemas de distribuição este índice é ainda mais seve- posta em [1, 2, 3, 4, 5, 7]. Uma modelagem da torre
ro: 90%. Este ambiente eletromagneticamente hostil de transmissão por meio de um cone foi realizada em
decorre das características naturais peculiares do rele- [8]. Uma aproximação da torre baseada na teoria de
vo e clima do estado de Minas Gerais e dos elevados quadripolos de circuitos elétricos foi proposta em [9].
valores de resistividade do solo mineiro. Modelos de simulação computacional por meio do
O desempenho das torres de transmissão sob EMTP (Electromagnetic Transients Program) também
condição de descarga atmosférica depende de mui- foram propostos em [10, 11].
tos fatores, como da construção e da geometria da Neste trabalho, os resultados obtidos a partir
torre, das impedâncias de surto próprias e mútuas de uma modelagem proposta em [1, 2, 3, 4, 5] são
dos condutores que a compõem, da impedância de comparados com resultados de outros autores e com
aterramento e da forma de onda da corrente de sur- resultados provenientes de medição encontrados na

1
Aluno do 7º período do Curso de Engenharia Industrial Elétrica do CEFET-MG, bolsista da FAPEMIG. andre.fbos@gmail.com.
2
Aluno do Mestrado em Modelagem Matemática e Computacional do CEFET-MG, bolsista do CEFET-MG. rafael.alipio@gmail.com.
3,4, 5
Doutores em Engenharia Elétrica pela UFMG, Mestres em Engenharia Elétrica pela UFMG, Professores Adjuntos do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) do CEFET-
MG. Grupo de Eletromagnetismo Aplicado (GEAP) - Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado e Controle de Processos Industriais (LEACOPI) - Av. Amazonas, 7675 – 30510-000
– BH/MG – Tel: (31)3319-5257. schroeder@des.cefetmg.br, tarcisio@des.cefetmg.br e marciomatias@des.cefetmg.br.

Recebido em: 28/05/2008; Aceito em: 09/07/2008. Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 49-61, jan./abr. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Educação
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. . Tecnologia
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literatura técnica internacional [7, 8, 13, 19]. A verifi- Em [12], os autores propõem uma correção
cação de que esta modelagem apresenta resultados para a fórmula de Jordan e estendem a sua utilização
bastante imprecisos quando comparados com os va- para o cálculo da impedância de surto mútua entre
lores de medição disponíveis na literatura técnica vários condutores.
gerou a necessidade de aperfeiçoamento. Um mode- Apesar da dedução da Eq. 1 não estar presente
lo de simulação no ATP (Alternative Transients em [13], pode-se supor que Jordan utilizou o méto-
Program) considerando as bases do modelo desen- do das imagens com o sentido incorreto da corrente
volvido em [1, 2, 3, 4, 5] é proposto, neste artigo, no condutor imagem e calculou o potencial vetor
para o condutor vertical. Este é simulado como seg- magnético ( A) em um ponto genérico e a indutância
mentos representados por linhas de transmissão ho- própria do sistema a partir da integração da expres-
rizontais e um degrau de corrente é aplicado para são dL = Ady ao longo do condutor; dy representa um
i
simular a descarga atmosférica. Os resultados alcança- elemento diferencial de comprimento do condutor
dos apresentam excelente concordância com os re- e i a corrente que o percorre. Em [12] os autores
sultados disponíveis na literatura técnica. consideraram o sentido correto para a corrente no
condutor imagem e a partir da multiplicação da
indutância própria obtida do sistema pela velocidade
da luz, obtiveram a Eq.1, que é a mesma obtida por
TAKAHASHI, H. [14].
2 ESTUDO DO ESTADO DA ARTE

2.1.1 Extensão da fórmula de Jordan para um sistema


O desempenho de condutores verticais frente multicondutor vertical
às descargas atmosféricas é objeto de intensa pesquisa
e apesar dos vários trabalhos existentes na literatura
técnica nacional [1, 2, 3, 4, 5, 11] e internacional [7,
8, 9, 10, 12, 13, 14, 19], resultados suficientemente
satisfatórios parecem ainda não terem sido alcançados. Nenhuma referência no trabalho de Jordan [13]
Isso acontece porque a proposição de modelos refina- é feita a respeito do acoplamento mútuo entre dois
dos para torres de transmissão em regime transitório condutores posicionados verticalmente em relação ao
não é uma tarefa trivial. Este componente do sistema solo. Os autores estenderam a aplicação da fórmula
elétrico pode apresentar diferentes configurações, ta- de Jordan para a obtenção da impedância de surto
manhos, alturas, seções retas, posicionamento das mútua entre dois condutores verticais.
mísulas e número de circuitos suportados. Além disso, Para tanto, os autores calcularam dLM =
Ady
,
posicionam-se verticalmente em relação ao solo, o que onde o numerador desta expressão é computado ino
usualmente agrega maior complexidade quando se trata segundo condutor enquanto que o denominador é a
do cálculo dos campos eletromagnéticos associados. A corrente que percorre o primeiro condutor.
seguir, é feita uma descrição geral dos principais tra- A impedância de surto mútua foi obtida pela
balhos que abordam a temática sob estudo. multiplicação da indutância mútua do sistema pela
velocidade da luz é dada pela seguinte expressão [12]:

2h + 4h 2 + d 2 d d2 (2)
Z M = 60 ln + 3 − − 60 1 + 2
d h 4h
2.1 Revisão, extensão e validação das fórmulas de
Jordan para o cálculo da impedância de surto de
condutores verticais [12]

2.2 Metodologia para o cálculo da impedância de surto


de um condutor vertical proposta por alunos de
Em 1934, JORDAN, C. A. [13] publicou um dos iniciação científica do CEFET-MG [1, 2, 3, 4, 5]
primeiros trabalhos na área, o qual permaneceu como
referência durante quase 30 anos quando se tratava
do cálculo da impedância de surto de condutores
verticais em relação ao solo. Entretanto, um erro nas
deduções de Jordan foi encontrado e uma expressão Em trabalho realizado por alunos de iniciação
corrigida foi proposta [12,14]: científica do CEFET-MG [1, 2, 3, 4 e 5], a ferramenta
matemática “Potencial Vetor Magnético” [15, 17] foi
Z = 60 ln
h r
+ 90 − 60 (1) utilizada para a determinação da indutância externa
r h própria de um condutor posicionado verticalmente

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em relação ao solo e, posteriormente, procedeu-se o 2.3 Metodologia de cálculo da impedância de surto


cálculo da impedância de surto. O solo foi modelado de uma torre de transmissão proposta por
como um condutor elétrico com resistividade dife- WAGNER e HILEMAN
rente de zero. Para tanto, foi utilizado o conceito de
profundidade de penetração complexa [6] que con-
templa o fato do solo não ser um condutor elétrico
perfeito. O potencial vetor magnético foi computado
Em uma abordagem diferente, WAGNER, C. F.
considerando-se a contribuição das correntes nos
e HILEMAN, A. R. [7] propõem uma aproximação para
condutores real e imagem [15, 17].
uma torre de transmissão também por meio de um
Os autores obtiveram a indutância própria ex-
cilindro de raio r e comprimento h e utilizando o
terna do condutor por meio da expressão dL = Ady .
potencial vetor magnético ( A) .
A integração desta equação ao longo do condutor i
Os autores consideraram a corrente de surto
forneceu um resultado complexo para a indutância.
uniformemente distribuída ao longo da superfície do
Análises de sensibilidade realizadas pelos autores
cilindro e calcularam o potencial vetor magnético em
mostraram que a parte real desta indutância comple-
um ponto genérico de sua superfície por meio da
xa se mostrou sempre muito maior que a parte imagi-
integração das contribuições de todos os elementos
nária, fazendo com que toda a indutância pudesse
infinitesimais de corrente superficial.
ser aproximada apenas pela sua parte real.
Os autores realizaram a derivação do resulta-
Sabe-se que a impedância característica de
do encontrado e posteriormente aplicaram na Eq. 8:
uma linha de transmissão é dada pela seguinte ex-
pressão [17]:
∂A (8)
∫ E ⋅dL = − ∫ ∂t ⋅ dL
R + jωL (3)
Zc =
j ωC
onde E e dL representam o campo elétrico devido
a corrente e um elemento diferencial de comprimen-
Para fenômenos de alta freqüência e despre- to, respectivamente. Obtiveram:
zando-se os efeitos resistivos, a Eq. 3 se simplifica da
seguinte maneira [17]:
∫ E ⋅ dL = Z = 60 ln( 2
ct
) (9)
0
I r
LR
Z0 = (4)
C onde Z0 é a impedância transitória de surto do ci-
lindro. Na Eq. 9, c e r representam a velocidade
Assumindo-se que os campos elétrico e mag-
nético se propagam pelo modo TEM (Transverso Ele- da luz e o raio do cilindro, respectivamente.
tromagnético) [17], assume-se que: A Eq. 9 foi calculada pelos autores no instante
de tempo ⎛⎜ 2h ⎞⎟, quando a tensão no topo da torre
⎝c⎠
LR C = με (5) é máxima, o que resultou na Eq. 10:

e a velocidade de propagação da onda é dada por [17]: ⎛ 2h ⎞


Z 0 = 60 ln ⎜ 2 ⎟ (10)
⎝ r ⎠
1
v=
με (6)

2.4 Metodologia de cálculo da impedância de surto


As Eqs. 6, 5 e 4 foram acopladas pelos autores de uma torre de transmissão proposta por
da seguinte maneira: SARGENT e DARVENIZA

1 1 L 1 Z2
v2 = = ⇒ C = R2 ⇒ v 2 = = 0 ⇒ Z 0 = v.LR (7)
με LR C Z0 LR ⋅ ( L / Z 02 ) L2R

Outro modelo geométrico baseado na aproxi-


onde v é considerada igual à velocidade da luz. Des- mação da torre de transmissão por um cone foi pro-
ta forma, a impedância de surto do condutor vertical posto por SARGENT, M. A. e DARVENIZA, M. [8].
pode ser ob t id a conhecend o- se apenas a sua Seguindo a metodologia de WAGNER, C. F. e
indutância externa [1,2,3,4,5]. HILEMAN, A. R. [7], os autores determinaram o po-

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tencial vetor magnético em um ponto genérico da onde vt , I t , vb e I h são as tensões e correntes no topo
superfície do cone por meio da integração das con- e na base da torre, respectivamente. A solução das
tribuições de cada elemento de corrente superficial Eqs. 12 e 13 foi obtida especificando-se tensões e cor-
para o potencial vetor magnético. rentes de entrada e saída para dois valores distintos
Derivando-se a expressão obtida para o poten- de resistividade do solo.
cial vetor magnético e aplicando o resultado na ex- Os autores compararam as Eqs. 12 e 13 com as
pressão ∂A = − E , os autores obtiveram a Eq. 11: equações que descrevem a linha de transmissão hori-
∂t
zontal:
⎛ 2⎞
Z = 60 ln⎜⎜ ⎟
⎟ (11)
⎝ s ⎠ V t = cosh(γ h ) ⋅ v b + Z c senh (γ h ).I b (14)

que é a impedância de surto do cone. Na Eq. 11, s


sinh(γh)
representa o seno do ângulo formado pela superfície It = ⋅ Vb + cosh(γh) ⋅ I b (15)
Zc
do cone e seu eixo. Observa-se da Eq. 11 que a
impedância transitória de surto obtida por meio da
aproximação de uma torre de transmissão por um cone onde γ é a constante de propagação e Zc a impedância
não é função do tempo, o que indica que para qual- característica.
quer onda de corrente aplicada, a impedância transi- A comparação das Eqs. 12 e 13 com as Eqs. 14
tória de surto permanece a mesma. e 15 resultou na seguinte equação para a impedância
É conveniente observar que nos dois traba- característica:
lhos anteriores, os autores não consideram o efei-
to do solo, o que é evidenciado pela ausência da b
contribuição de condutores imagens simetrica- Zc = (16)
c
mente posicionado abaixo do solo (Método das
Imagens).

Consi d erand o doi s valores d i sti nt os d e


resistividade, ρ1 e ρ 2 , dois conjuntos de valores
terminais são calculados: (V t 1 , I t 1 , V b 1 , I b 1 ) e
2.3 Metodologia de cálculo da impedância de surto (V t 2 , I t 2 , V b 2 , I b 2 ) . Logo, a impedância característica
de uma torre de transmissão proposta por da torre pode ser expressa em função dos valores de
HARID, GRIFFITHS e HADDAD contorno predefinidos como:

Vb1 ⋅ Vt 2 − Vt1 ⋅ Vb 2
Zc = (17)
I t1 ⋅ I b 2 − I b1 ⋅ I t1
Através de uma abordagem baseada na teoria
de quadripolos de circuitos elétricos, HARID, N. et
al. [9] propuseram uma técnica para o cálculo da
impedância de surto de torres de alta tensão. A torre
é considerada como uma linha d e transmissão 2.6 Metodologia de cálculo da impedância de surto
conectada a uma resistência R, representando a resis- de uma torre de transmissão proposta por
tência de aterramento. Assumindo que a torre e seu ZHANG et al.
aterramento representam um sistema linear, a teoria
de quadripolos de circuitos elétricos com suas co-
nhecidas relações entre tensões e correntes de entra-
da e saída foi adotada. Os valores de contorno do
si st ema são ob t i d os por mei o d e simulações Neste trabalho, os autores consideram a torre
computacionais do campo eletromagnético no domí- de transmissão como a combinação de cilindros, co-
nio da freqüência. nes e troncos de cone. Os autores modelaram o solo
As Eqs. 12 e 13 estabelecem as relações entre como um condutor elétrico perfeito e utilizaram o
os valores terminais de tensão e corrente: método das imagens. A corrente de surto foi conside-
rada como se passasse pelo eixo da estrutura e a sua
velocidade de propagação foi considerada a velocida-
vt = avb + bI b (12) de da luz. Os efeitos resistivos foram desprezados.
O potencial escalar elétrico, V, foi calculado
em um ponto de coordenadas x e h considerando-se
I t = cvb + dI b (13) as contribuições dos condutores real e imagem. A

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partir da obtenção do potencial escalar elétrico possibilitar estimar a probabilidade de disrupção no


[15,17], os autores realizaram o cálculo da capacitância isolamento da linha, considera-se que os valores en-
e indutância por unidade de comprimento da estru- contrados para as impedâncias de surto são bastante
tura por meio das Eqs. 18 e 19: significativos.
A etapa final constituiu-se da proposição de
expressões analíticas para o cálculo das impedâncias
ρl
C0 = e (18) de surto das torres. Isso foi feito por meio do ajuste
v de curvas aos valores encontrados, em função dos
parâmetros geométricos da torre considerados de in-
teresse. A expressão para a impedância de surto em
1
L0 = 2
(19) função da altura foi [11]:
c C0
⎛ h ⎞ (20)
Zt = ⎜ ⎟ ⋅ 8 + 171
Na Eq. 19, c corresponde a velocidade da luz. ⎝b+ 4⎠
Com a obtenção da capacitância e indutância da es-
trutura, um modelo de simulação da torre de trans-
missão foi criado no EMTP (Electromagnetic Transients
Program).
3 ANÁLISE CRÍTICA

2.7 Metodologia de cálculo da impedância de surto


de uma torre de transmissão proposta por A partir da análise de alguns trabalhos presen-
VISACRO, et al. tes na literatura técnica a respeito do cálculo da
impedância de surto de sistemas condutores verticais
conclui-se que a maioria deles modela o solo como
um condutor elétrico perfeito. Essa modelagem mos-
tra-se fisicamente inconsistente, principalmente no
Em um outro trabalho [11], SOARES JÚNIOR, A., estado de Minas Gerais, que apresenta altos valores
VISACRO, S. e SILVA, A. P. propuseram uma abordagem de resisti vidade do solo. Out ras aproximações
baseada em comparação para o cálculo da impedância comumente utilizadas na literatura são:
de surto de uma torre em função da altura. a) Considerar o modo de propagação T.E.M
A metodologia para proposição das novas ex- (Transverso Eletromagnético) da onda ele-
pressões se deu da maneira descrita a seguir. Primei- tromagnética em condutores verticais;
ramente, utilizou-se o modelo HEM proposto pelos b) Assumir que a carga e corrente, devido à
autores [18] para calcular o valor de pico da tensão incidência de descarga atmosférica, são dis-
resultante no topo das configurações de torre sob tribuídas uniformemente ao longo dos con-
análise, devido à incidência de descargas neste mes- dutores;
mo local. Nessas simulações foram consideradas as c) Aplicar as equações originalmente deduzidas
para linhas de transmissão horizontais para
presenças de cabos pára-raios e os valores para
o caso de condutores verticais.
impedância de aterramento foram variados dentro de
A análise do comportamento de estruturas ver-
uma faixa pré-estabelecida. Em seguida, o pacote
ticais frente à incidência de descargas atmosféricas é
computacional EMTP foi aplicado de forma a refazer
um assunto de extrema relevância para a pesquisa e
todas as simulações, exatamente com os mesmos vem atraindo cada vez mais a atenção de pesquisado-
parâmetros anteriores, mas agora substituindo a con- res nacionais e internacionais. Fica evidenciada, a
figuração da torre por uma linha de transmissão ver- partir da análise dos trabalhos discutidos neste arti-
tical com impedância de surto constante e uniforme. go, a complexidade da modelagem eletromagnética
O valor desta impedância foi variado, para cada caso de condutores verticais frente à incidência de descar-
simulado, até que os valores de tensão para o topo gas atmosféricas. Esses elementos do sistema elétrico
da torre fossem encontrados, em comparação com de potência apresentam diferentes configurações, ta-
aqueles referentes à utilização do HEM. Esse proce- manhos, alturas, seções retas e número de circuitos
dimento permitiu obter valores realmente represen- suportados. Além disso, o fato desses elementos esta-
tativos para a impedância de surto das torres, pois rem posicionados verticalmente em relação ao solo
eram capazes de determinar os mesmos valores de agrega maior complexidade no cálculo dos campos
sobretensão no sistema que aqueles calculados pelo eletromagnéticos associados.
modelo mais complexo (HEM). Uma vez que a Com o objetivo de contribuir na investiga-
sobretensão resultante é o parâmetro de interesse por ção desta temática, apresenta-se a seguir os resul-

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tados obtidos com a aplicação da modelagem ele-


tromagnética desenvolvida em [1,2,3,4,5,12] em
diversas configurações de torres e cabos de des-
cida. São apresentadas também, comparações com
resultados de outros trabalhos (modelagem e me-
dição).
Finalmente, apresenta-se uma modelagem
que considera conjuntos de impedâncias de surto
em cascata. Tal consideração faz com que os resul-
tados de simulação sejam muito próximos dos de
medição.

4 ANÁLISE DE RESULTADOS
FIGURA 2 – Comportamento da impedância de surto com variação da
resistividade para valores diferentes de altura e raio com
freqüência de 500KHz.

4.1 Torres de Trasmissão

Para efeito de comparação, as torres ilustradas


na Fig. 1 foram analisadas aproximando-as por cilin-
dros condutores verticais em relação ao solo. A Tab. 1
apresenta as dimensões destas torres.

FIGURA 3 – Comportamento da impedância de surto com variação da


FIGURA 1 – Modelos de torres utilizados para simulação. freqüência para diferentes valores de altura e raio com
Fonte: [5] resistividade de 2500 ohms . m.

De acordo com as Fig. 2 e 3 percebe-se que


TABELA 1 quanto maior a altura da torre, maiores os valores de
Dimensões das torres da Fig. 1 utilizadas
impedância correspondentes. De acordo com a Fig.
para simulação
2, percebe-se que a impedância de surto diminui au-
A ltu ra (m ) R a io(m )
mentando-se a resistividade, para valores fixos de fre-
T or r e 1 2 6 ,6 7 7 ,2 39
T or r e 2 2 8 ,5 8 ,9 46 qüência e de acordo com a Fig .3, percebe-se que a
T or r e 3 3 0 ,5 5 ,7 9 impedância de surto aumenta com o aumento da fre-
T or r e 4 3 6 ,6 6 ,2 5 qüência para valores fixos de resistividade.
Os resultados obtidos a partir do modelo utili-
zado mostram uma característica bastante interessan-
te da impedância de surto de condutores verticais
Para as torres em questão, análises de sensibi- quando o efeito do solo é considerado: sua grande
lidade foram feitas com objetivo de verificar a varia- dependência em relação à freqüência do fenômeno
ção da impedância de surto em função de variações solicitante. Tal dependência não é verificada no caso
na resistividade e freqüência para o modelo propos- de condutores horizontais em relação ao solo (e mes-
to [1, 2, 3, 4, 5]. As Fig. 2 e 3 ilustram, respectiva- mo em condutores verticais), quando o solo é mode-
mente, as variações da impedância de surto das 4 tor- lado como um condutor elétrico perfeito (modela-
res com a resistividade e freqüência. gem que é amplamente utilizada na literatura).

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4.1 Cabos de Descida 520


Curva: Impedância X Resistividade
510

500
A Tab. 2 mostra valores para a impedância de
490
condutores verticais propostos por vários autores e
seus respectivos erros quando comparados com valo-

Impedância
480
res medidos.
470

TABELA 2 460

Comparação de Resultados 450


Z MEDIDO(Ω) AMETANI JORDAN W AGNER SARGENT CEFET
ALTURA (M) RAIO (MM) [19] [19] [13] [7] [8] [1,2,3,4,5]
440
15,0 25,4 320,0 323,0 322,9 445,2 385,2 406,09
15,0 2,5 459,0 462,0 462,0 584,4 524,4 545,15
430
9,0 2,5 432,0 431,3 431,3 553,7 493,7 514,51 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
6,0 2,5 424,0 407,0 407,0 529,4 469,4 490,18 Resistividade
3,0 50 181,0 187,2 185,7 308,0 248,0 269,34
FIGURA 5 – Gráfico Impedância x Resistividade para um condutor
3,0 25 235,0 228,0 227,2 349,6 289,6 310,68
vertical com altura de 9m e raio de 2,5mm. Valor medido:
3,0 15 250,0 258,3 257,9 380,3 320,3 341,23
432 Ω.
3,0 2,5 373,0 365,5 365,4 487,8 427,8 448,61
3,0 0,25 514,0 503,6 503,6 625,9 565,9 586,74
2,0 2,5 345,0 341,2 341,2 463,5 403,5 424,29
2,0 0,25 481,0 479,2 479,2 601,6 541,6 562,41
MÉDIA DOS 500
ERROS% 1,9 2,7 44,8 22,6 21,5
Curva: Im pedância X Resistividade
490

Observa-se na Tab. 2 que a proposição de 480

Ametani [19] apresenta o menor erro entre os valores


470
de impedância propostos. Os valores propostos por
Impedância

Jordan [13] também apresentam um pequeno erro 460

absoluto. Os maiores erros foram obtidos por Wagner


450
e Hileman [7], enquanto que os valores obtidos por
Sargent e Darveniza [8] e pela proposta dos trabalhos 440
desenvolvidos no CEFET-MG [1, 2, 3, 4, 5] obtiveram
erros por volta de 20%. 430

Ut ilizand o o programa d esenvolvid o em 420


0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
[1,2,3,4,5] para o cálculo da impedância de surto Resistividade
de um condutor vertical, variou-se a resistividade FIGURA 6 – Gráfico Impedância x Resistividade para um condutor
do modelo proposto em uma faixa bem ampla (0 – vertical com altura de 6m e raio de 2,5mm. Valor medido:
424 Ω .
10.000Ω .m) e freqüência fixa de 1MHz para diver-
sos valores de altura e raio dos condutores da Tab.
2. Os resultados estão mostrados nas Fig. 4-8.
450
Curva: Impedância X Resistividade
410 440
Curva: Impedância X Resistividade
400
430
390
420
Impedância

380

410
Impedância

370

360 400

350
390

340
380
330

370
320 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
Resistividade
Resistividade
FIGURA 4 – Gráfico Impedância x Resistividade para um condutor FIGURA 7 – Gráfico Impedância x Resistividade para um condutor
vertical com altura de 15m e raio de 25,4mm. Valor medi- vertical com altura de 3m e raio de 2,5mm. Valor medido:
do: 320 Ω 373 Ω.

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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Educação
. . . . . . . . . .&
. . Tecnologia
..................................................................

430 sitórios eletromagnéticos em sistemas elétricos de


Curva: Impedância X Resistividade potência [20,21].
420
A simulação foi realizada dividindo-se o con-
410 dutor vertical em segmentos representados por linhas
de transmissão horizontais, como mostrados na Fig. 9.
400
Cada linha de transmissão que compõe o modelo de
simulação do condutor vertical tem seu comprimento
Impedância

390
dado pela relação entre o comprimento total do con-
380 dutor e o número de segmentos utilizados na simula-
370
ção e sua impedância de surto foi calculada pelo pro-
grama desenvolvido anteriormente [1, 2, 3, 4 e 5].
360

350

340
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
Resistividade
FIGURA 8 – Gráfico Impedância x Resistividade para um condutor
vertical com altura de 2m e raio de 2,5mm. Valor medido:
345Ω .

Observa-se nas Fig. 4-8, que para todos os valo-


res de altura e raio dos condutores simulados, os valo-
res de impedância tendem assintoticamente a um va-
lor maior do que o valor medido quando se varia a
resistividade do solo em uma faixa ampla (0-10000Ω .m)
e para freqüência fixa de 1MHz. Estes resultados ilus-
tram a grande discrepância entre os valores do mode-
lo eletromagnético desenvolvido em [1, 2, 3, 4, 5] e
os de medição. Com o intuito de minorar tais discre-
pâncias, apresenta-se no item seguinte deste artigo a
aplicação deste modelo para representar os conduto-
res de descida por impedâncias de surto em cascata.
Como pode ser verificado, os resultados são substan-
cialmente melhorados, ou seja, menor erro em rela-
ção aos valores medidos.

5 MODELAGEM ELETROMAGNÉTICA PROPOSTA E


SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS FIGURA 9 – Modelos utilizados para simular um condutor vertical
com 5 e 10 segmentos.

Um degrau de corrente de 1KA é aplicado, simu-


A análise dos resultados obtidos no item ante- lando a incidência de uma descarga atmosférica. A
rior deste artigo mostra que estes apresentam dife- impedância de surto total dos condutores será dada pela
renças relativamente altas dos valores de medição dis- relação entre o pico da tensão desenvolvida no topo
poníveis na literatura [19]. As análises de sensibilida- do condutor e o pico da corrente aplicada (1KA).
de realizadas variando-se a resistividade do solo em Observa-se na Fig. 9, a presença de resistores
uma faixa bem ampla (0 – 10000Ω .m), para uma fre- logo acima do símbolo de terra. Estes são utilizados
qüência fixa de 1MHz, mostram que os valores de para realizar o casamento de impedância com o últi-
impedância de surto tendem assintoticamente para mo segmento do condutor vertical evitando, desta
valores bem maiores que os valores de medição à forma, as reflexões da onda eletromagnética na base
medida que a resistividade do solo cresce. A impreci- do condutor e eliminando assim a influência do
são dos resultados encontrados referentes aos valo- aterramento em sua impedância de surto.
res de medição gerou a necessidade de aperfeiçoa- Para cada condutor vertical, o cálculo da
mento. Um modelo de simulação foi criado utilizan- impedância de surto foi realizado utilizando-se 1, 3,
do-se o EMTP/ATP, um software de simulação de tran- 5, 10, 15 e 20 segmentos nas simulações. Na Fig. 10,

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. . .Tecnologia
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é mostrado o perfil de tensão desenvolvido quando Na Tab. 3, os menores erros encontrados para
um degrau de corrente de 1KA é aplicado em um con- cada condutor estão em destaque (negrito e sombrea-
dutor de 15 m de altura, raio de 25,4 mm. A simula- do). Observa-se que para todos os condutores os me-
ção foi realizada utilizando-se cinco segmentos. lhores resultados são obtidos quando três e cinco seg-
mentos são utilizados nas simulações. Os gráficos das
Fig. 11-21 ilustram os erros obtidos em função do nú-
mero de segmentos utilizados para cada condutor.

FIGURA 11 – Gráficos Erro X Número de Segmentos para o condutor


de altura h=15m e raio r=25,4mm.
FIGURA 10 – Onda de tensão desenvolvida no topo do condutor de
15m de altura com raio de 25,4 mm e simulado com
cinco segmentos no ATP. Utilizou-se um degrau de cor-
rente de 1KA.

As Tab. 3 e 4 apresentam os resultados de simu-


lação e seus respectivos erros em relação aos valores de
medição [19], utilizando-se 1, 3, 5, 10, 15 e 20 segmen-
tos para todos os condutores analisados neste trabalho FIGURA 12 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor
(vide Tabela 2). Z1 representa os valores de impedância de altura h=15m e raio r=2,5mm.

de surto simulados utilizando-se um segmento. Z3 re-


presenta os valores de impedância de surto simulados
utilizando-se três segmentos e assim sucessivamente.

TABELA 3
Resultados de simulação utilizando-se 1, 3 e 5 segmentos
ALTURA RAIO Z MEDIDO(Ω) ERRO ERRO ERRO
(M) (MM) [19] Z1(Ω) % Z3(Ω) % Z5(Ω) %
15,00 25,40 320,00 406,20 26,94 340,30 6,34 310 3,13
FIGURA 13 – Erro X Número de Segmentos para o condutor de altura
15,00 2,50 459,00 545,30 18,80 479,40 4,44 448,8 2,22
h=9m e raio r=2,5mm.
9,00 2,50 432,00 514,60 19,12 448,80 3,89 418,1 3,22
6,00 2,50 424,00 490,30 15,64 424,40 0,09 393,8 7,12
3,00 50,00 181,00 269,30 48,78 204,40 12,93 174,7 3,48
3,00 25,00 235,00 310,70 32,21 245,25 4,36 215,1 8,47
3,00 15,00 250,00 341,30 36,52 275,60 10,24 245,3 1,88
3,00 2,50 373,00 448,80 20,32 382,80 2,63 352,2 5,58
3.00 0,25 514,00 586,90 14,18 521,00 1,36 490,3 4,61
2.00 2,50 345,00 424,40 23,01 358,50 3,91 327,9 4,96
2.00 0,25 481,00 562,50 16,94 496,70 3,26 466 3,12

FIGURA 14 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor


TABELA 4 de altura h=6m e raio r=2,5mm.
Resultados de simulação utilizando-se 10, 15 e 20 segmentos
ALTURA RAIO Z MEDIDO(Ω) ERRO ERRO ERRO
(M) (MM) [19] Z10(Ω) % Z15(Ω) % Z20(Ω) %
15,00 25,40 320,00 268,4 16,13 244,3 23,66 227,3 28,97
15,00 2,50 459,00 407,2 11,29 382,8 16,60 365,6 20,35
9,00 2,50 432,00 376,5 12,85 352,2 18,47 335 22,45
6,00 2,50 424,00 352,2 16,93 327,9 22,67 310,7 26,72
3,00 50,00 181,00 135,6 25,08 113,6 37,24 98,7 45,47
3,00 25,00 235,00 174,7 25,66 151,6 35,49 135,6 42,30
3,00 15,00 250,00 204,4 18,24 180,8 27,68 164,3 34,28
3,00 2,50 373,00 310,7 16,70 286,5 23,19 269,4 27,77
3,00 0,25 514,00 448,77 12,69 424,4 17,43 407,2 20,78
2,00 2,50 345,00 286,5 16,96 262,3 23,97 245,3 28,90 FIGURA 15 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor
2,00 0,25 481,00 424,4 11,77 400,1 16,82 382,8 20,42 de altura h=3m e raio r=50mm.

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De acordo com os gráficos das Fig. 11-21, ob-


serva-se que para todos os condutores os melhores
resultados são obtidos quando se utiliza um número
intermediário de três ou cinco segmentos nas simu-
lações (erro máximo de 13%) . Para 1 segmento utili-
zado, os resultados encontrados foram bastante pró-
ximos dos valores obtidos pelo modelo anterior
FIGURA 16 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor
de altura h=3m e raio r=25mm.
[1,2,3,4,5]. Quando se aumenta o número de segmen-
tos para dez (erro máximo de 25%), os erros obtidos
voltam ao valor inicial quando um segmento foi utili-
zado e tendem a aumentar quando quinze e vinte
segmentos são utilizados (erro máximo de 45%).
Na Tab . 5 são most rados os valores d e
impedância de surto obtidos neste trabalho, que apre-
sentaram os menores erros, comparados com valores
obtidos por outros autores e valores de medição.
FIGURA 17 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor
de altura h=3m e raio r=15mm.
TABELA 5
Comparação de Resultados
Z medido(Ω) Ametani Jordan Wagner Sargent CEFET CEFET
Altura (m) Raio (mm) [19] [19] [13] [7] [8] [1,2,3,4,5] (Este Artigo)

15,00 25,40 320,00 323,00 322,90 445,20 385,20 406,09 310,00

15,00 2,50 459,00 462,00 462,00 584,40 524,40 545,15 448,80

9,00 2,50 432,00 431,30 431,30 553,70 493,70 514,51 418,10

6,00 2,50 424,00 407,00 407,00 529,40 469,40 490,18 424,40

3,00 50,00 181,00 187,20 185,70 308,00 248,00 269,34 174,70

3,00 25,00 235,00 228,00 227,20 349,60 289,60 310,68 245,25

3,00 15,00 250,00 258,30 257,90 380,30 320,30 341,23 245,30

3,00 2,50 373,00 365,50 365,40 487,80 427,80 448,61 382,80

3,00 0,25 514,00 503,60 503,60 625,90 565,90 586,74 521,00

FIGURA 18 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor 2,00 2,50 345,00 341,20 341,20 463,50 403,50 424,29 358,50

de altura h=3m e raio r=2,5mm. 2,00 0,25 481,00 479,20 479,20 601,60 541,60 562,41 466,00
Média dos
erros% 1,9 2,70 44,80 22,60 21,50 2,67

Observa-se na Tab. 5 que o erro médio obtido


pelo modelo deste trabalho se encontra bem próxi-
mo dos erros encontrados por Ametani [19] e Jordan
[13]. Verifica-se uma grande melhora nos resultados
do modelo de simulação no ATP em comparação com
FIGURA 19 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor
o modelo anterior [1, 2, 3, 4, 5].
de altura h=3m e raio r=0,25mm. Apesar dos resultados de simulação terem sido
bastante satisfatórios para os condutores analisados
(comprimento de até 15 m e raio de até 50 mm, utili-
zando-se três ou cinco segmentos), não se pode ava-
liar o modelo para condutores diferentes devido a
falta de valores de impedância de surto medidos na
literatura técnica internacional. Portanto, os resulta-
dos encontrados neste trabalho, apesar de muito pro-
missores, devem ser submetidos ainda a outros tes-
FIGURA 20 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor tes, principalmente em relação ao número ótimo de
de altura h=2m e raio r=2,5mm. segmentação.

6 CONCLUSÃO

FIGURA 21 – Gráfico Erro X Número de Segmentos para o condutor O comportamento eletromagnético de condu-
de altura h=2m e raio r=0,25mm. tores verticais, quando da incidência de descargas

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atmosféricas, é de fundamental importância para ca- obtidos quando se utiliza nas simulações um número
racterização e quantificação das sobretensões desen- intermediário de segmentos, três ou cinco. À medida
volvidas. A impedância de surto de tais condutores que um número maior de segmentos é utilizado (dez,
corresponde a um fator importante para o cálculo quinze ou vinte) os erros obtidos voltam ao valor de
dessas sobretensões. quando um segmento foi utilizado e tendem a au-
Os estudos desenvolvidos neste trabalho têm mentar. Acredita-se que isso ocorre devido ao fato de
importantes aplicações na: que os segmentos que se encontram na parte superi-
a) Proteção de edificações contra os efeitos or dos condutores, devido à maior distância do solo,
nocivos dos raios (pois um elemento fun- apresentam menor variação da impedância de surto
d ament al no processo d e prot eção de um para o outro e, deste modo, funcionam como
corresponde aos condutores verticais que várias impedâncias casadas, impedindo as reflexões
interli gam o pára-rai os ao sistema de da onda eletromagnética.
aterramento); É necessário ob servar que os valores de
b) Caracterização das torres de transmissão ou impedância de surto apresentados neste trabalho fo-
de telecomunicações; ram obtidos como resultado de simulações realizadas
c) Modelagem dos condutores de descida dos para os condutores que possuíam valores de medição
sistemas de distribuição quando submetidos disponíveis na literatura técnica [19]. A avaliação do
a descargas atmosféricas diretas. modelo de simulação para outros condutores, por-
A análise dos trabalhos disponíveis na litera- tanto, não pôde ser realizada por carência de resulta-
tura técnica a respeito do cálculo da impedância de dos de medição.
surto de sistemas multicondutores verticais mostra Para finalizar, conclui-se que os desenvolvimen-
que os resultados obtidos até hoje são discordantes tos alcançados no ciclo 2007/2008 deste projeto de
entre si e com os valores provenientes de medição. iniciação científica (PIBIC/FAPEMIG), que foi inicia-
Esse fato mostra que modelos suficient emente do no ciclo 2005/2006, proporcionou um aumento
satisfatórios para a determinação dos perfis de significativo na qualidade da modelagem eletromag-
sobretensões desenvolvidas quando da incidência de nética de condutores verticais em relação ao solo,
descarga atmosférica em torres de transmissão ainda como pode ser observado pelos resultados apresen-
não foram obtidos. tados nas Tab. 3, 4 e 5.
Em desenvolvimentos anteriores, uma mode-
lagem para o cálculo da impedância de surto de
um condutor cilíndrico posicionado verticalmente
em relação ao solo foi desenvolvida [1, 2, 3, 4 e 5].
O solo foi modelado como um condutor elétrico 7 AGRADECIMENTOS
com resistividade diferente de zero por meio da
aplicação do método das imagens e do conceito de
profundidade de penetração complexa [6]. Proce-
deu-se o cálculo do potencial vetor magnético com Aproveita-se a oportunidade para agradecer ao
objetivo de determinar a indutância do condutor. CEFET- MG, ao L EACOP I (Lab orat óri o d e
D e p os s e d a i nd u t â nc i a, d e t er m i n o u- s e a Eletromagnetismo Aplicado e Controle de Processos
impedância de surto do condutor por meio da Industriais), onde o projeto foi desenvolvido, e à
multiplicação pela velocidade da luz. FAPEMIG pela oportunidade e apoio financeiro.
Devido ao fato de o modelo ter apresentado
diferenças relativamente altas dos valores de medi-
ção, em torno de 20%, um modelo de simulação
no ATP foi criado. Cada condutor foi dividido em
8 ABSTRACT
segmentos constituídos por linhas de transmissão
horizontais cujos parâmetros são obtidos pela for-
m ul a çã o d es e nv o lv i d a a n t e r i o r me nt e e m
[1,2,3,4,5]. Análises de sensibilidade foram realiza-
das para verificar qual número de segmentos ofere- This work presents a satisfactory electromagnetic
cia melhor resultado para cada condutor analisado model that calculates the surge impedance of a
neste trabalho. conductor vertically positioned from the ground when
A análise das Fig. 11-21 mostra que para 1 seg- it is hitten by a lightning surge. Currently, in the state
mento utilizado nas simulações, os resultados são of Minas Gerais, most outages of the electric power
bastante próximos dos resultados obtidos pelo mo- system are caused by the incidence of atmospheric
delo anterior (Tab. 2). Os melhores resultados são electromagnetic surges in the elements of this system.
Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 49-61, jan./abr. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Educação
. . . . . . . . . .&
. . Tecnologia
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This phenomenon causes huge losses both for the 7 WAGNER, C. F.; HILEMAN, A. R. A New Approach
electric energy company as for consumers. The preci- to the Calculation of the Lightning
se determination of the surge impedance of vertical Performance of Transmission Line III – A
conductors elements is a essential step for determining Simplified Method: Stroke to Tower. AIEE
the profile of overvoltage that is developed on these Trans. Of Power App. And Syst., v. 79, p. 589-603,
elements in the case of a lightning strike. The values Outubro 1960.
of surg e impedance obt ained wi th the mod el
developed in this work show ed an excellent 8 SARGENT, M. A.; DARVENIZA, M. Tower Surge
agreement with the measured values available in the Impedance. IEEE Trans. Power Apparatus and
technical literature. Systems, v. PAS-88, n. 5, Maio 1969.

9 HARID, N.; GRIFFITHS, H.; HADDAD, A. A New


Frequency-Dependent Surge Impedance
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lo da impedância de surto de um condutor the 2004 IEEE International Symposium on
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T. A. S. ; SCHROEDER, M. A. O. CONTI, A. R.; lo da impedância de surto de torres de
VISACRO FILHO, S.; SOARES JUNIOR, A. transmissão autoportantes. Seminário Nacio-
Calculation of the surge impedance of verti- nal de Produção e Transmissão de Energia
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International Conference of Grounding and
Earthing and 2nd International Conference on 12 CONTI, A. R.; SCHROEDER, M.A.O.; SOARES
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