Você está na página 1de 10

XXIII ENMC e XI ECTM

28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

VERIFICAÇÃO DO VOLUME DE CONTROLE EM SIMULAÇÕES NUMÉRICAS


NA ENGENHARIA DO VENTO COMPUTACIONAL

Matheus Borges Seidel1 - matheusbseidel@outlook.com


Geraldo José Belmonte dos Santos1 - belmonte@uefs.br
José Mário Feitosa Lima1 - lima.jmf@gmail.com
1 Universidade do Estadual de Feira de Santana, PPGECEA - Feira de Santana, BA, Brasil

Resumo. O estudo dos efeitos do vento em edificações deu origem à chamada Engenharia
do Vento que, tradicionalmente, utiliza-se de ensaios fı́sicos com modelos reduzidos em túneis
de vento ou procedimentos de cálculos contidos em normas especı́ficas. Apesar da validade
desses métodos, verifica-se que as normas tem seu escopo de aplicação limitado aos casos
de edificações e situações mais comuns encontrados e os túneis de vento não são facilmente
acessı́veis, devido à sua escassez e alto custo. Assim, o uso da modelagem numérico-
computacional apresenta-se como uma alternativa viável no estudo aerodinâmico de estruturas
em Engenharia do Vento Computacional. Neste campo, uma das principais limitações
verificadas nos estudos encontra-se no poder de processamento dos computadores que limita
o número de equações resolvidas em tempo hábil e, consequentemente, limita também o nı́vel
de refinamento da malha necessário para captação de fenômenos que acontecem em escalas
menores, exigindo, desta forma, modelos matemáticos eficazes de representação dos efeitos
de turbulência. Na tentativa de minimizar o custo computacional das análises, o presente
trabalho analisa as dimensões do volume de controle do fluido na simulação do vento sobre uma
estrutura de forma a obter o menor volume possı́vel que não interfira na acurácia da análise. Os
resultados mostram ser viável reduzir as dimensões do domı́nio do fluido em relação a outros
ensaios já publicados sem prejuı́zo significativo da análise, reduzindo, consequentemente, o
custo computacional.

Palavras-chave: Engenharia do vento computacional, interação fluido-estrutura, domı́nio do


fluido

1. INTRODUÇÃO

O estudo dos efeitos do vento em edificações deu origem à chamada Engenharia do Vento
(EV) que, tradicionalmente, utiliza ensaios fı́sicos em túneis de vento para simular a ação

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

do vento em estruturas reais por meio de modelos reduzidos submetidos a ventos artificiais
(BRAUN, 2007). No Brasil, os resultados obtidos em tais estudos foram sistematizados na
norma NBR 6123:1988 – Forças devidas ao vento em edificações. Apesar de sua validade,
a própria norma reconhece sua limitação, pois sua aplicação é restrita a casos de geometrias
especı́ficas e simplificadas, e sugere estudos adicionais para edificações consideradas fora do
comum (ABNT, 1988). Segundo Stathopoulos (1997) e Awruch, Braun e Greco (2015), embora
importantes, os resultados obtidos em túneis de vento possuem várias fontes de erros que devem
ser avaliadas e seus resultados não devem ser recebidos como dogmaticamente inquestionáveis.
Nesse contexto, o avanço da computação cientı́fica deu origem à chamada Engenharia do
Vento Computacional (EVC), que utiliza ferramentas computacionais para resolver problemas
modelados pelas equações de Navier-Stokes (BRAUN, 2007). Assim, diante das limitações dos
túneis de vento e da aplicação de normas, a EVC tem se apresentado como uma alternativa
viável para a resolução de problemas de estruturas submetidas a cargas de vento. Diversos
trabalhos como Awruch, Braun e Greco (2015), Blocken, Stathopoulos e Beeck (2016),
Gunawardena et al. (2017) e Mukherjee e Bairagi (2018) tem demonstrado a validade e
confiabilidade dos resultados da EVC.
Desde o seu surgimento na década de 80, umas das principais limitações da EVC foi o
poder de processamento dos computadores. De acordo com Murakami (1997), a presença de
corpos rombudos (bluff body) com arestas vivas constitui uma das maiores dificuldades nas
simulações da EVC, pois exige a implementação de malhas bastante refinadas para a captação
de importantes fenômenos (vórtices) que acontecem nas escalas menores, aumentando,
consequentemente, de forma proibitiva o custo computacional dessas análises.
Embora a resolução direta das equações em todas as escalas seja a forma mais precisa
de resolver problemas de escoamento (SANGALLI, 2009), o refinamento da malha exigido
para isso torna-se proibitivo. Apesar do avanço na capacidade dos computadores, o custo
computacional continua sendo uma preocupação na resolução de problemas de EVC. Para
ilustrar o problema, Neto (2002) apresenta uma expressão matemática que calcula o número N
de equações que seriam necessárias para solucionar escoamentos atmosféricos tridimensionais
de forma direta, isto é, sem aplicação de modelos de turbulência:

L
N = ( )3 , (1)
l
onde L é a dimensão caracterı́stica do problema e l é a escala dissipativa de Kolmogorov, onde
a energia dos vórtices em pequenas escalas é absorvida pelas forças viscosas do fluido. Um
problema que apresente, por exemplo, L = 30, 0 m e l = 1, 0 mm, contará com um número de
equações da ordem de N = 1013 , cerca de 100.000 vezes mais do que o número de equações
praticável atualmente, em torno de 108 (PICCOLI, 2009).
Para atenuar as limitações impostas pelos computadores disponı́veis atualmente, são
utilizados modelos de turbulência que permitem representar a multiplicidade de escalas em
que ocorrem os fenômenos aerodinâmicos de forma computacionalmente exequı́vel (PICCOLI,
2009). Além disso, deve-se buscar formas de reduzir o número de graus de liberdade por meio
da simplificação e redução do modelo ou uso de malhas adaptativas. Na tentativa de reduzir o
custo computacional das análises (mesmo com aplicação de modelos de turbulência), o presente
trabalho analisa as dimensões do volume de controle do fluido na simulação do vento sobre uma
estrutura prismática de forma a obter o menor volume possı́vel que não interfira na acurácia
da análise. Para isso, são apresentados dois ensaios de validação do modelo e, em seguida,

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

apresenta-se a simulação de uma estrutura com um volume de controle usual que é reduzido
progressivamente. As simulações apresentadas foram realizadas no módulo Fluid Flow (Fluent)
do software Ansys Workbench.

2. MODELAGEM MATEMÁTICA DA AÇÃO DO VENTO EM ESTRUTURAS

2.1 Equações de Navier-Stokes Associadas ao Modelo de Turbulência LES

A modelagem matemática do problema do vento é dada pelas equações Navier-Stokes


filtradas espacialmente para representar grandes vórtices e por modelo de turbulência LES
(Large Eddy Simulation). Dessa forma, tem-se

∂ v̄
ρ + ρv̄.∇v̄ = ρg − ∇P̄ + µ 4 v̄ + λ∇div(v̄) + div(σ SGS ) e (2)
∂t
σ SGS = 2µt ∇S v̄ (3)
div(v̄) = 0, (4)
onde ρ é a massa especı́fica do ar atmosférico, considerado incompressı́vel; g é a aceleração
da gravidade; P é a pressão estática do fluido; µ e λ são a viscosidade dinâmica e volumétrica,
respectivamente, do ar atmosférico; v̄ é o vetor velocidade do fluxo; e t é o instante de tempo;
σ SGS é o tensor tensão submalha de Reynolds, dado pela hipótese de Boussinesq e usado
para representar os efeitos das menores escalas (inferiores aos elementos da malha); µt é a
viscosidade turbulenta, sendo dada pelo modelo de Smagorinsky-Lily que pode ser visto em
detalhes em Braun (2007).
Vale salientar que os modelos de turbulência viabilizam a solução de problemas na
EVC, possibilitando simular fenômenos aerodinâmicos em todas as escalas, reproduzindo,
desta forma, o comportamento do vento real sem utilizar um número de graus de liberdade
excessivamente elevado que inviabilize a solução, conforme Sangalli (2009).
O modelo de turbulência de Simulação de Grandes Escalas (ou LES), aqui utilizado, foi
escolhido por mostrar-se mais adequado ao objetivo proposto, conforme Murakami (1997),
Stathopoulos (1997), Braun (2007) e Awruch, Braun e Greco (2015). O modelo LES é baseado
no conceito de cascata de energia, que modela o escoamento turbulento como uma superposição
de vórtices, o que é adequado para altos números de Reynolds. Os vórtices maiores retiram
energia do escoamento principal e transferem-na para vórtices de uma escala menor, que por
sua vez transportam a energia para vórtices de uma escala ainda menor, de forma sucessiva,
até chegar em uma escala pequena o suficiente onde a energia possa ser absorvida pelas forças
viscosas do fluido.

2.2 Coeficientes aerodinâmicos

De acordo com Nunez, Loredo-Souza e Rocha (2012), coeficientes aerodinâmicos são a


forma mais básica para analisar o comportamento aerodinâmico de uma estrutura submetida a
escoamento de ar. Esses coeficientes são conceitos utilizados nas normas de vento (e.g. NBR
6123:1988) e corrigem a distribuição de pressão dado pela equação de Bernoulli; são expressos
matematicamente na equação:

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

4P F
C= 2
= (5)
(1/2)ρv q.Ae
onde F é a força lı́quida numa região da estrutura; C é o coeficiente aerodinâmico; q =
(1/2)ρv 2 é a pressão no ponto de estagnação da região dada pela equação de Bernoulli; e Ae é
a área efetiva da região analisada.
No caso da aplicação da referida norma de vento, os coeficientes C são obtidos em tabelas
e ábacos e, então, a força é calculada. No caso de ensaios numéricos (ou, semelhantemente, em
túnel de vento) as forças e momentos são obtidos na análise a partir dos resultados de pressão
sobre a superfı́cie e os coeficientes podem, assim, ser determinados pela equação (6), que são
decorrentes da equação (5) aplicadas a cada direção:

Fx Fy Fz Mx My Mz
CFx = ; CFy = ; CFz = ; CMx = 2
; CMy = 2
; CMz =
q.HW q.HL q.W L q.H L q.H W q.HLW
(6)
onde Fi e Mi são a força e o momento resultantes na direção i, respectivamente; L, W e H são
as dimensões da estrutura em x, y e z, respectivamente.

3. ENSAIOS DE VALIDAÇÃO

3.1 Cilindro 2D < = 103

O primeiro exemplo analisado é um cilindro de 1,0 metro de diâmetro submetido ao


escoamento turbulento bidimensional de um fluido viscoso com número de Reynolds igual a
103 . A Figura 1 mostra a geometria do problema e sua respectiva malha.

Figura 1- Cilindro 2D. Dimensões em metros

A face AC foi definida como a entrada do fluido com velocidade uniforme e a face BD
foi definida como a saı́da com pressão relativa nula. As faces AB e CD foram definidas como
paredes com condição de contorno de deslizamento livre (cisalhamento nulo). A superfı́cie do
cilindro foi modelada como uma parede rı́gida com condição de não deslizamento.
Os dados fı́sicos, geométricos e a organização da malha deste problema foram replicados
de Braun (2007), sendo massa especı́fica de 1,0 kg/m3 , viscosidade dinâmica de 0,01 Ns/m2 ,
velocidade de entrada de 10,0 m/s, dimensão caracterı́stica (diâmetro) de 1,0 m e passo de
tempo igual a 1, 8 × 10−3 s.

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

Os coeficientes de pressão foram calculados como valores médios ao longo do tempo no


escoamento e os resultados foram comparados com os obtidos em Braun (2007) e os calculados
usando a NBR 6123, os quais estão explicitados na Figura 2. Cabe observar nesses resultados
que Braun (2007) utilizou dois métodos numéricos, explı́cito-iterativo e explı́cito de 2 passos,
que conduziram a resultados diferentes.

Figura 2- Coeficientes de pressão em torno do cilindro

A análise dos coeficientes de pressão mostra um pico de diferença de 17% entre os valores
do presente trabalho e aqueles obtidos por Braun (2007) na região de maior sucção, em
aproximadamente 75o , o que resulta dos diferentes procedimentos matemáticos adotados. Nas
demais regiões, verifica-se boa concordância entre os coeficientes. No caso da NBR 6123,
constatou-se discordâncias consideráveis na região entre 110o e 250o , sendo a divergência
explicada pela grande diferença no número de Reynolds do presente trabalho para aquele
considerado na Norma, que é superior a 4, 2 × 105 .

3.2 Prisma tridimensional

Nesse caso tridimensional, foi replicada a análise de um edifı́cio vertical isolado que foi
resolvido por Braun (2007). O autor utilizou o código implementado em sua tese de doutorado e
validou seus resultados com Akins, Peterka e Cermak (1977). A Figura 3 apresenta a geometria
do edifı́cio e do domı́nio do fluido.

Figura 3- Caracterı́sticas geométricas do escoamento. Fonte: Braun (2007)

A face à esquerda do domı́nio do fluido consiste na entrada do escoamento e a face à direita


em uma saı́da livre com pressão relativa nula. Os limites laterais e superior do domı́nio do fluido
foram modelados como condições de contorno com livre deslizamento, o que simula a situação
do edifı́cio em um local aberto, como de fato acontece na edificação real. O limite inferior (solo)

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

e as paredes do edifı́cio foram modeladas como faces de deslizamento nulo, onde a velocidade
tangencial do fluido no contato é nula. O vento na entrada foi modelado pela lei de potência
apresentada por Loredo-Souza, Schettini e Paluch (2004) com p = 0, 34 e v(zref ) = 50, 0m/s.
A malha de volumes finitos utilizada teve 42.139 nós e 231.274 elementos. Já nesta etapa,
após testes realizados, verificou-se possı́vel diminuir o volume de controle utilizado por Braun
(2007) sem prejuı́zo dos resultados da análise. Ao invés de utilizar um comprimento de 1.530
m na direção x (conforme Figura 3), utilizou-se 930 m, sendo 600 m de comprimento livre a
sotavento (10H), o que tornou a análise mais rápida. Este ensaio foi realizado em Seidel (2020),
onde maiores detalhes estão disponı́veis.
As propriedades do escoamento simulado são: massa especı́fica de 1,25 kg/m3 , viscosidade
dinâmica de 6, 96×10−3 Ns/m2 , velocidade caracterı́stica de 27,56 m/s, dimensão caracterı́stica
de 30,0 m e passo de tempo de 5×10−3 s. Para modelagem da turbulência, utilizou-se o modelo
LES e o modelo de submalha Smagorinsky-Lily com CS = 0, 1, conforme Braun (2007) e
Akins, Peterka e Cermak (1977).
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos neste trabalho e aqueles utilizados para validação.
Na comparação, também foram incluı́dos os coeficientes de força obtidos pela NBR 6123,
embora a Norma estabeleça coeficientes com base na ação estática do vento. Os coeficientes de
momento não são dados pela Norma, portanto, só foram considerados coeficientes de força. Os
ı́ndices dos coeficientes (x, y e z) estão de acordo com os eixos de referência dados na Figura 3.

Tabela 1- Coeficientes médios de força e momento - Prisma tridimensional

P. trabalho Braun (2007) Akins, Peterka e Cermak (1977) NBR 6123


CFx 1,435 1,407 1,457 1,4
CFy 0,047 0,012 0,009 0,0
CFz 1,178 1,340 1,266 0,8
CMx 0,018 0,000 0,000 NA
CMy 0,824 0,874 0,829 NA
CMz 0,011 0,024 0,000 NA

Os coeficientes calculados mostram boa concordância com os resultados dos demais autores,
sendo que as maiores diferenças relativas foram verificadas nos coeficientes que possuem
valor nulo ou próximo de nulo. Os coeficientes da Norma na direção do escoamento (CFx )
e na direção transversal ao mesmo (CFy ) mostraram-se coerentes com os demais resultados,
porém divergências consideráveis, em torno de 50%, foram identificadas no coeficiente de
força vertical (CFz ), o que evidencia a limitação da Norma e necessidade de estudos mais
aprofundados. A Figura 4 mostra o campo de pressão relativa e as linhas de corrente do ensaio
realizado.

4. ANÁLISE DO VOLUME DE CONTROLE

Para verificação das dimensões do volume de controle considerado, propôs-se uma estrutura
prismática de dimensões 15, 0 m × 10, 0 m × 60, 0 m (dimensões x,z,y) colocada, inicialmente,
no domı́nio de fluido indicado na Figura 5. As dimensões iniciais de referência foram adotadas
com proporções semelhantes a outros trabalhos da EVC (AWRUCH; BRAUN; GRECO, 2015;
BRAUN, 2007) (também cf. seção 3.2). Quanto à seção transversal, de acordo com Bênia

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

Figura 4- (a) Campo de pressão (Pa) vertical no plano de simetria, (b) campo de pressão (Pa) horizontal
em z=30,0 m, (c) linhas de corrente (m/s) no plano vertical no eixo de simetria e (d) linhas de corrente
(m/s) no plano horizontal em z=30,0 m

(2013), a razão entre a área de bloqueio e a seção de escoamento, devido a presença dos
modelos, não deve ser superior a 5% em ensaios em túnel de vento, ou, caso o limite seja
ultrapassado, deve-se recorrer a correções dos resultados. No exemplo em questão, a área de
bloqueio é inferior a 0,5%, então, considerando-se o limite de 5% como um parâmetro balizador,
infere-se que a seção adotada a priori mostra-se bastante razoável. As faces laterais e superior
do volume de controle foram consideradas como paredes de deslizamento livre, simulando a
condição da estrutura em local aberto. As faces inferior (solo) e as paredes do modelo foram
consideradas como faces de não deslizamento, onde a velocidade tangencial no contato é nula.

Figura 5- Volume de controle da análise

Novamente, o vento na entrada foi modelado pela lei de potência apresentada por Loredo-
Souza, Schettini e Paluch (2004) com p = 0, 34 e, para modelagem da turbulência, utilizou-
se o modelo LES e o modelo de escala da submalha Smagorinsky-Lily com CS = 0, 1.
As propriedades do ar atmosférico foram tomadas em CNTP, com massa especı́fica igual a
1, 225 kg/m3 e viscosidade dinâmica igual a 1, 7894 × 10−4 N s/m2 . A velocidade de entrada
foi de 30, 0 m/s e o passo de tempo foi 0, 005 s.
A Tabela 2 apresenta os coeficientes médios de força e momento obtidos na análise inicial,
além dos coeficientes de força previstos pela NBR 6123. Na comparação dos coeficientes de
força da norma com os da análise one way, foi verificado que o coeficiente na direção do
escoamento (CFz ) apresentou uma diferença de 22% e o coeficiente na direção transversal
ao escoamento (CFx ) foi igual ao da simulação numérica; assim como na simulação anterior, a
maior diferença encontrada foi no coeficiente de força vertical (CFy ), onde a divergência foi de
55%.
Após esta análise inicial, foram realizadas simulações reduzindo-se os parâmetros
geométricos a, b, c e d (conforme Figura 5) e foram determinados os coeficientes de força

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

e momento. As Tabelas de 3 a 6 apresentam os resultados obtidos. Em todos os casos, as


demais dimensões foram mantidas iguais ao volume de controle inicial. Foi realizado também
um ensaio aumentando-se a dimensão b de 600, 0 m para 900, 0 m, o que conduziu a resultados
com diferenças desprezı́veis da ordem de 0,02.

Tabela 2- Coeficientes médios de força e momento de referência - Prisma tridimensional

P. trabalho NBR 6123


CFz 0,881 1,1
CFy 0,452 0,7
CFx 0,002 0,0
CMy 0,005 NA
CMz 0,009 NA
CMx -0,485 NA

Tabela 3- Coeficientes médios de força e momento - Variação do parâmetro a

Ref. a=250m a=200m a=150m


CFz 0,881 1,007 0,911 0,866
CFy 0,452 0,485 0,491 0,352
CFx 0,002 0,107 -0,066 -0,046
CMy 0,005 0,369 -0,467 -0,466
CMz 0,009 0,038 -0,040 -0,028
CMx -0,485 -0,606 -0,629 -0,611

Tabela 4- Coeficientes médios de força e momento - Variação do parâmetro b

Ref. b=300m b=150m b=100m b=75m b=50m


CFz 0,881 0,891 0,934 0,909 0,932 0,568
CFy 0,452 0,448 0,559 0,447 0,282 0,034
CFx 0,002 0,008 -0,009 -0,096 0,027 0,007
CMy 0,005 0,001 0,000 -0,011 0,000 0,000
CMz 0,009 0,003 0,002 -0,054 0,015 0,006
CMx -0,485 -0,488 -0,509 -0,498 -0,494 -0,324

Tabela 5- Coeficientes médios de força e momento - Variação do parâmetro c

Ref. c=250m c=200m c=150m c=100m


CFz 0,881 0,878 0,898 0,902 0,927
CFy 0,452 0,302 0,245 0,469 0,554
CFx 0,002 0,015 -0,049 0,029 0,098
CMy 0,005 0,003 -0,007 0,007 0,006
CMz 0,009 0,005 -0,035 0,018 0,058
CMx -0,485 -0,468 -0,475 -0,497 -0,511

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

Tabela 6- Coeficientes médios de força e momento - Variação do parâmetro d

Ref. d=250m d=200m d=150m d=100m d=80m d=65m


CFz 0,881 0,874 0,879 0,864 0,895 0,919 0,952
CFy 0,452 0,432 0,394 0,484 0,381 0,388 0,504
CFx 0,002 0,038 0,011 -0,013 -0,045 0,0107 -0,0591
CMy 0,005 -0,001 0,003 0,006 0,002 0,004 0,009
CMz 0,009 0,017 0,002 -0,013 -0,030 0,005 -0,043
CMx -0,485 -0,473 -0,476 -0,475 -0,479 -0,489 -0,512

Assumindo o volume de controle inicial como referência balizadora (com base nos ensaios
de validação), verifica-se que todas as reduções dos parâmetros a e c conduziram a erros
consideráveis em pelo menos um dos coeficientes de força/momento e, portanto, não permitem
redução desta dimensão sob pena de prejuı́zo dos resultados finais.
Por outro lado, os parâmetros geométricos b e d sofreram reduções sem prejuı́zo na obtenção
dos coeficientes. A dimensão b, quando reduzida de 600m para 300m (equivalente a 5 vezes
a altura da estrutura), implicou em diferenças desprezı́veis nos resultados finais, apresentando
divergência máxima igual a 0,01 no coeficiente CFz . De forma semelhante, a dimensão d,
quando reduzida de 300m para 150m (equivalente a 2,5 vezes a altura da estrutura), apresentou
resultados bastante semelhantes aos de referência, com uma diferença máxima de 0,03 no
coeficiente CFy .
Apesar das análises com as reduções supracitadas nas dimensões b e d aplicadas
isoladamente não prejudicarem os resultados dos coeficientes, quando as duas reduções foram
feitas na mesma simulação, verificou-se um erro considerável no coeficiente CFy , que foi igual
a 0,357; os demais coeficientes mantiveram-se com divergências desprezı́veis. Assim, nota-
se que as reduções do volume de controle devem ser feitas de forma cautelosa, de maneira a
garantir a acurácia necessária a cada simulação.
A partir dos dados apresentados, é possı́vel otimizar o volume do domı́nio do fluido
considerado em modelagens na EVC, tendo em vista a necessidade de se reduzir o número de
elementos presentes na malha e, por conseguinte, o custo computacional da simulação realizada.

5. CONCLUSÃO

Portanto, tendo em vista as limitações impostas pelo poder de processamento dos


computadores atuais à resolução numérica de problemas da EVC, os resultados apresentados
neste trabalho podem auxiliar trabalhos futuros nesta área ao vislumbrar a possibilidade de
reduzir o custo computacional das análises através da otimização das dimensões do volume de
controle.
Tendo em vista o não esgotamento deste assunto, estudos semelhantes a estes serão úteis
para verificar a possibilidade de redução do volume de controle em situações de geometrias,
velocidades e tipos de fluidos distintos dos aplicados no presente texto.
Agradecimento
Os autores agradecem à CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nı́vel
Superior pela bolsa de estudos concedida durante o desenvolvimento deste trabalho.

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020
XXIII ENMC e XI ECTM
28 a 30 de Outubro de 2020
Universidade Federal do Tocantins – Palmas - TO

Referências

AKINS, R. E.; PETERKA, J. A.; CERMAK, J. E. Mean force and moment coefficients for
buildings in turbulent boudary layers. Journal of industrial aerodynamics, Amsterdam, n. 2, p.
195–209, 1977.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao
vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.
AWRUCH, A. M.; BRAUN, A. L.; GRECO, M. Engenharia do vento computacional e suas
aplicações na engenharia civil. análise aerodinâmica e aeroelástica. Revista internacional de
métodos numéricos para cálculo y diseño en ingienierı́a, Barcelona, v. 1, n. 31, p. 55–64, 2015.
BLOCKEN, B.; STATHOPOULOS, T.; BEECK, J. P. A. J. van. Pedestrian-level wind
conditions around buildings: Review of wind-tunnel and cfd techniques and their accuracy for
wind comfort assessment. Building and Environment, Amsterdam, v. 100, p. 50–81, 2016.
BêNIA, M. C. D. Determinação dos Efeitos de Vizinhança na Resposta Dinâmica de Edifı́cios
Altos Sob Ação do Vento. Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, set. 2013.
BRAUN, A. L. Simulação numérica na engenharia do vento incluindo efeitos de interação
fluido-estrutura. Tese (Doutorado) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2007.
GUNAWARDENA, T. et al. Wind analysis and design of tall buildings, the state of the art. 8th
Internacional conference on structural engineering and construction management, Colombo,
p. 2–10, 2017.
LOREDO-SOUZA, A. M.; SCHETTINI, E. B. C.; PALUCH, M. J. Simulação da camada
limite atmosférica em túnel de vento. Escola de Primavera de Transição e Turbulência -
Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas, Porto Alegre, n. IV, 2004.
MUKHERJEE, S.; BAIRAGI, A. K. Interference effect on principal building due to setback
tall building under wind excitation. SEC18: Proceedings of the 11th Structural Engineering
Convention, West Bengal, n. 20180306, p. 13–18, 2018.
MURAKAMI, S. Current status and future trends in computacional wind engineering. Journal
of wind and industrial aerodynamics, Amsterdam, v. 67 e 68, p. 3–34, 1997.
NETO, A. S. Fundamentos da turbulência nos fluidos. Rio de Janeiro: Associação Brasileira
de Ciências Mecânicas, 2002.
NUNEZ, G. J. Z.; LOREDO-SOUZA, A. M.; ROCHA, M. M. Uso do túnel de vento como
ferramenta de projeto no design aerodinâmico. Design e Tecnologia, Porto Alegre, v. 2, n. 4, p.
10–23, 2012. ISSN 2178-1974.
PICCOLI, G. L. Analise numerica na engenharia do vento computacional empregando
computacao de alto desempenho e simulacao de grandes escalas. Dissertação (Mestrado) —
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, maio 2009.
SANGALLI, L. A. Analise numerica da acao do vento sobre pontes com sistemas de controle
de vibracao. Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, maio 2009.
SEIDEL, M. B. Avaliação Computacional do efeito de vizinhança na ação do vento em
edificações. Dissertação (Mestrado) — Universidade Estadual de Feira de Santanal, Feira de
Santana, out. 2020.
STATHOPOULOS, T. Computacional wind engineering: Past achievements and future
challaenges. Journal of wind and industrial aerodynamics, Amsterdam, v. 67 e 68, p. 509–532,
1997.

Anais do XXIII ENMC – Encontro Nacional de Modelagem Computacional e XI ECTM – Encontro de Ciências e Tecnologia de Materiais,
Palmas, TO – 28 a 30 Outubro 2020

Você também pode gostar