Você está na página 1de 48

ÍNDICE DO CAPÍTULO 10

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... 10.2

LISTA DE QUADROS .................................................................................................... 10.3

10 MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ESCOAMENTO. 10.4

10.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 10.4

10.2 FORMAÇÃO DO ESCOAMENTO A PARTIR DA PRECIPITAÇÃO ............................................ 10.9

10.3 UTILIZAÇÃO DE RESERVATÓRIOS NA MODELAÇÃO CONCEPTUAL .............................. 10.11

10.4 ANÁLISE DE HIDROGRAMAS E DE HIETOGRAMAS............................................................... 10.13

10.5 MODELOS COM DISCRETIZAÇÃO ANUAL ................................................................................ 10.18

10.6 MODELOS COM DISCRETIZAÇÃO MENSAL ............................................................................. 10.21


10.6.1 Modelo de Thornthwaite e Mather ................................................................................................. 10.21
10.6.2 Modelo de Témez ........................................................................................................................... 10.32

10.7 PARCIMÓNIA, FUNÇÕES-OBJETIVO, CALIBRAÇÃO E VERIFICAÇÃO ............................. 10.38

EXERCÍCIOS ............................................................................................................... 10.45

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 10.47


Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Lista de Figuras
Figura ‎10.1 – Tipos de modelos de processos hidrológicos 10.4
Figura ‎10.2 – Representação esquemática da estrutura do modelo SHE (adaptada de Abbott et al.,
1986) 10.6
Figura ‎10.3 – Fluxograma do modelo Stanford Watershed Model IV (adaptada de Crawford e
Linsley, 1966) 10.7
Figura ‎10.4 – Representação pictográfica dos conceitos utilizados no Sacramento Soil Moisture
Accounting Model (adaptada de Burnash et al., 1973) 10.8
Figura ‎10.5 – Esquema ilustrativo da formação do escoamento 10.9
Figura ‎10.6 – Ilustração de um reservatório linear 10.11
Figura ‎10.7 – Ilustração para a análise do hietograma e dos hidrogramas 10.14
Figura ‎10.8 – Ilustração para a separação do escoamento de base e do escoamento direto 10.17
Figura ‎10.9 – Representação gráfica da fórmula de Turc 10.19
Figura ‎10.10 – Relações da precipitação anual com a evapotranspiração anual e o escoamento anual
10.20
Figura ‎10.11 – Relações regionais de Quintela (adaptada de Quintela, 1967) 10.21
Figura ‎10.12 – Representação do modelo de Thornthwaite e Mather 10.22
Figura ‎10.13 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather. Variáveis de entrada e de saída
10.30
Figura ‎10.14 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather. Análise da sensibilidade da função-
objetivo 10.31
Figura ‎10.15 – Representação do modelo de Témez 10.32
Figura ‎10.16 – Aplicação do modelo de Témez. Variáveis de entrada e de saída 10.35
Figura ‎10.17 – Aplicação do modelo de Témez. Análise da sensibilidade da função-objetivo 10.38
Figura ‎10.18 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué 10.42

10.2
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Lista de Quadros
Quadro ‎10.1 – Classificação do clima pelo índice hídrico 10.25
Quadro ‎10.2 – Subtipos de climas húmidos 10.25
Quadro ‎10.3 – Subtipos de climas secos e áridos 10.26
Quadro ‎10.4 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather 10.28
Quadro ‎10.5 – Efeitos da fixação de FHD 10.32
Quadro ‎10.6 – Aplicação do modelo de Témez 10.36
Quadro ‎10.7 – Efeitos da fixação de C 10.38
Quadro ‎10.8 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué. Parâmetros, condições iniciais e critérios de comparação. 10.42

10.3
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

10 MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM


ESCOAMENTO

10.1 INTRODUÇÃO

A medição e o registo sistemático das variáveis que intervêm no ramo terrestre do ciclo
hidrológico começaram em muitos países pela precipitação, eventualmente por estar na origem do
processo de formação do escoamento e por ser relativamente fácil a sua medição pontual à escala
diária. Assim, inicialmente, para obter ou aumentar a informação sobre o escoamento, de modo a
melhor dimensionar a implantação de pontes, órgãos de armazenamento como albufeiras ou
reservatórios e sistemas de abastecimento de água e de rega, poder-se-iam utilizar modelos de
transformação da precipitação em escoamento alimentados com a informação disponível sobre a
precipitação. O primeiro modelo matemático em hidrologia é geralmente creditado a Pierre Perrault,
que em 1674 mostrava que o escoamento anual do rio Sena em Aignay-le-Duc era da ordem de 1/6
da precipitação sobre a respetiva bacia hidrográfica.

De um modo geral, modelos são representações de determinado processo, designado por


protótipo, que permitem reproduzir, com menor ou maior aproximação, quantidades de grandezas
nele intervenientes sem o duplicarem exatamente.

Os modelos de processos hidrológicos, como os de outros processos, podem classificar-se


como se mostra na Figura 10.1.

Modelos de processos

Físicos Matemáticos

Semelhantes Analógicos Probabilísticos Determinísticos Estocásticos

Teóricos Conceptuais Empíricos

Figura 10.1 – Tipos de modelos de processos hidrológicos

Modelos físicos são os que na reprodução das quantidades relevantes utilizam medição e
manipulação de grandezas físicas, podendo ser modelos semelhantes ou modelos analógicos. Os
modelos físicos semelhantes utilizam o mesmo processo em escalas diferentes, e os modelos físicos
analógicos utilizam processos físicos de natureza diferente do que se pretende modelar, mas para os
quais existem modelos matemáticos relacionáveis com os do processo protótipo.

Modelos matemáticos são os que na reprodução das quantidades relevantes utilizam


exclusivamente métodos da matemática, não intervindo nos seus processos a medição ou a
manipulação de qualquer grandeza física.

10.4
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Agrupam-se usualmente os modelos matemáticos de processos hidrológicos em


probabilísticos, determinísticos e estocásticos. Designam-se por probabilísticos aqueles onde não se
produz qualquer relação de causalidade, analisando-se os processos apenas no domínio da
distribuição das frequências de ocorrência, sem qualquer ligação ao instante em que ocorrem.
Designam-se por determinísticos aqueles onde todas as relações matemáticas exprimem um conceito
de causa-efeito, sem explicitação de qualquer componente aleatória. Designam-se por estocásticos
aqueles que simultânea e explicitamente consideram relações do tipo causa-efeito e do tipo
aleatório.

Os modelos matemáticos determinísticos podem agrupar-se ainda em três categorias, de


acordo com o grau de conceitos da teoria da física que incorporam a priori. Chamam-se empíricos
aqueles cuja construção não se apoia em qualquer lei da física, podendo no entanto socorrer-se de
elaboradas teorias de outras ciências. Dizem-se teóricos aqueles cuja construção se apoia
exclusivamente nas leis da física, em especial nos princípios da mecânica dos meios contínuos e na
aplicação dos princípios de conservação da massa, momento e energia, considerando toda a
heterogeneidade espacial das características das bacias e da distribuição das variáveis independentes
ou de entrada nos processos modelados. Designam-se por conceptuais os modelos, situados entre os
extremos já referidos, em cuja construção se substituem componentes determinísticos teóricos por
outros componentes determinísticos analógicos, mantendo-se a verificação do princípio da
conservação da massa.

Apresentam-se no Anexo alguns dos modelos probabilísticos mais utilizados em hidrologia,


com frequência no domínio da definição de condições extremas de excesso ou escassez de água.

Na Figura 10.2 apresenta-se esquematicamente a estrutura de um dos modelos teóricos de


transformação da precipitação em escoamento que mais sucesso tem tido. Trata-se do Sistema
Hidrológico Europeu (SHE model), cujo desenvolvimento terá sido decidido cerca de 1976, como
se encontra descrito por Abbott, Bathurst, Cunge, O’Connel e Rasmussen (1986). As versões mais
recentes do modelo são disponibilizadas atualmente pelo Danish Hydraulic Institute, com o nome
de Mike SHE, e pela Universidade de Newcastle, School of Civil Engineering and Geosciences,
com o nome SHETRAN.

10.5
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Evapotranspiração Preci-
pita-
ção

Interceção pela
vegetação

Fusão da neve e
do gelo

Zona radicular

Zona não saturada Zona saturada


(Richards) (Boussinesq)

Figura 10.2 – Representação esquemática da estrutura do modelo SHE (adaptada de Abbott et al.,
1986)

Na Figura 10.3 apresenta-se o fluxograma do modelo de Stanford, Stanford Watershed


Model IV e na

Figura 10.4, uma representação dos conceitos utilizados no modelo de Sacramento, dois dos
modelos mais representativos do tipo conceptual e que mais sucesso têm tido ao longo do tempo. O
primeiro, mantido e ainda em utilização pelo U. S. Geological Survey, e o segundo, pelo U. S.
National Weather Service, associados a programas de bases de dados, de representação gráfica, de
otimização de parâmetros e a sistemas de informação geográfica que facilitam a interface com os
utilizadores.

10.6
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Figura 10.3 – Fluxograma do modelo Stanford Watershed Model IV (adaptada de Crawford e


Linsley, 1966)

10.7
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Água retida
Zona
superior
Água detida Escoamento
direto

Escoamento Escoamento
hipodérmico superficial
Zona Água Água Água Água
inferior detida retida retida detida
primária suple-
mentar

Escoamento
de base

Escoamento subterrâneo para


fora da bacia hidrográfica

Figura 10.4 – Representação pictográfica dos conceitos utilizados no Sacramento Soil Moisture
Accounting Model (adaptada de Burnash et al., 1973)

Os modelos que apenas fornecem o escoamento na secção de referência e que utilizam


apenas a área da bacia hidrográfica como medida da sua dimensão são designados por modelos
agregados. Em contrapartida, os modelos que fornecem o escoamento em vários pontos ou secções
da bacia hidrográfica, considerando regiões de características hidrológicas diversas, são designados
por modelos distribuídos.

Alguns modelos têm uma estrutura de tal modo simplificada que apenas simulam situações
que ocorrem num intervalo de tempo bem delimitado, como por exemplo uma cheia. Designam-se
tais modelos por modelos de simulação de eventos ou de acontecimentos. Em contrapartida, os
modelos com estrutura suficiente para simularem largos intervalos de tempo (anos), são designados
por modelos de simulação contínua.

Podem ainda distinguir-se dois tipos de operação dos modelos: em tempo diferido e em
tempo real. A operação em tempo diferido é utilizada em gabinete, muitas vezes para
dimensionamento ou planeamento, com dados recolhidos anteriormente e resultados não utilizáveis
imediatamente em operações do tipo de controlo automático. A operação em tempo real utiliza
dados acabados de recolher e teletransmitidos, sendo os resultados imediatamente utilizáveis em
operações de previsão e de controlo automático.

A disponibilidade de dados fisiográficos e hidrometeorológicos e a discretização espacial e


temporal com que se pretendem os resultados da modelação limitam frequentemente o tipo de
modelo que se pode utilizar com eficiência. Assim, por exemplo, quando se pretendam apenas
resultados mensais do escoamento ou da evapotranspiração real numa bacia hidrográfica onde a
informação facilmente disponibilizável é constituída por precipitação e evapotranspiração potencial,
então, não faz sentido utilizar um modelo teórico distribuído, para o qual não existe informação com
a distribuição espacial e temporal que tal modelo pressupõe.

10.8
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

O desenvolvimento de modelos do tipo teórico e do tipo conceptual, seguindo de muito perto


a física dos processos de formação do escoamento, conduziu à necessidade de individualização dos
processos que intervêm na formação do escoamento a partir da precipitação e à sua identificação nos
registos das variáveis hidrológicas, de modo a permitir uma mais fácil especificação dos parâmetros
intervenientes nesses modelos.

Neste capítulo descrevem-se o processo da formação do escoamento a partir da precipitação,


a análise de hidrogramas e de hietogramas, alguns dos vários modelos existentes do tipo
matemático, determinístico e empírico ou conceptual que maior utilização têm tido em Portugal ou
em Moçambique e métodos de otimização do ajustamento dos modelos.

10.2 FORMAÇÃO DO ESCOAMENTO A PARTIR DA PRECIPITAÇÃO

O escoamento na secção de referência de uma bacia hidrográfica tem origem na precipitação


que ocorre sobre essa bacia, como se ilustra na Figura 10.5.

Figura 10.5 – Esquema ilustrativo da formação do escoamento

Parte da precipitação que ocorre sobre a bacia é intercetada pela vegetação e fica aderente à
folhagem e caules ou armazenada em espaços onde as folhas se inserem e em espaços definidos nas
ramificações dos caules, de onde se evapora e, portanto, não participando na formação do
escoamento. As depressões impermeáveis do terreno impedem a passagem da água para jusante,
acumulando-a até que estejam preenchidas. A água intercetada pela vegetação e armazenada nas
depressões impermeáveis do terreno, que não participa na formação do escoamento e é esgotada por
evaporação, constitui uma parcela do volume precipitado que se designa por retenção superficial.

10.9
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

A água que se encontra em trânsito à superfície em direção à secção de referência da bacia


hidrográfica, ao longo das encostas e nos cursos de água, constitui em cada instante uma parcela do
volume precipitado, que se designa por detenção superficial. É a água em trânsito, quer à superfície
quer abaixo da superfície, que justifica que o escoamento continue a ocorrer por vezes até bastante
tempo depois da paragem da precipitação. Pode mesmo acontecer que o caudal máximo na secção
de referência da bacia hidrográfica ocorra depois da paragem da precipitação que lhe deu origem.

No restante texto deste capítulo, a palavra retenção e as congéneres referem-se a volumes de


água que não participam no escoamento sobre ou sob a superfície da bacia hidrográfica e cujo
destino é a atmosfera através da evaporação ou da evapotranspiração. A palavra detenção e as
congéneres referem-se a volumes de água que em determinado instante se encontram em trânsito
sobre ou sob a superfície da bacia hidrográfica com destino à respetiva secção de referência.

Nos terrenos permeáveis da bacia hidrográfica, a água infiltra-se e pode percolar, quando em
excesso da capacidade de campo dos solos, até aos aquíferos subterrâneos.

Estes aquíferos, quando intercetados pelos cursos de água, drenam para eles, constituindo
uma fonte de alimentação ao longo do seu percurso; quando subjacentes ao fundo permeável do
curso de água, podem por este ser alimentados; e, nas encostas que os intercetem, podem dar origem
a nascentes de água.

Parte da água que se infiltra não chega a atingir os aquíferos subterrâneos, escoando-se
preferencialmente na direção horizontal, em regiões onde a permeabilidade horizontal dos solos é
superior à permeabilidade vertical, e ressurgindo à superfície das encostas, em virtude do declive
destas.

Parte da água que se precipita sobre a bacia hidrográfica cai diretamente nas superfícies
livres dos cursos de água ou em zonas ribeirinhas que podem eventualmente ficar saturadas e,
portanto, com permeabilidade muito reduzida. Estas zonas, em períodos secos, têm dimensões muito
reduzidas, mas, em períodos de precipitação elevada, podem atingir uma dimensão apreciável no
contexto da bacia hidrográfica.

Embora de modo algo difuso, é usual distinguir, quanto ao seu percurso na bacia, os
seguintes tipos nos volumes de escoamento que atingem a secção de referência:
– escoamento direto constituído pela água que se precipita diretamente na superfície livre dos
cursos de água e nas zonas ribeirinhas saturadas;
– escoamento superficial constituído pela água precipitada sobre a bacia, donde se excetuam
as zonas ribeirinhas saturadas e os cursos de água, que se escoa sempre à superfície do
terreno;
– escoamento subsuperficial, hipodérmico ou intermédio constituído pela água que se infiltrou
e ressurgiu à superfície sem ter atingido os aquíferos subterrâneos;
– escoamento subterrâneo constituído pela água drenada dos aquíferos subterrâneos.

Os tipos de escoamento acima descritos encontram-se ordenados por ordem de tempo de


percurso para a mesma distância medida em planta até à secção de referência da bacia: mais rápido
o escoamento direto, e mais lento o escoamento subterrâneo.

Dado o carácter difuso e pouco rigoroso da classificação anterior, é também usual encontrar
com o mesmo carácter e maior simplificação apenas dois tipos de escoamento: escoamento direto e
escoamento de base. O primeiro, associado principalmente aos escoamentos direto e superficial,
constituído pelos volumes que mais rapidamente atingem a secção de referência, e o segundo,
associado principalmente ao escoamento subterrâneo, pelos volumes que lentamente vão drenando
para os cursos de água, por vezes até muito depois da paragem da precipitação.

10.10
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

10.3 UTILIZAÇÃO DE RESERVATÓRIOS NA MODELAÇÃO


CONCEPTUAL

Na modelação matemática conceptual de processos hidrológicos, em especial os que


ocorrem abaixo da superfície da bacia, utilizam-se frequentemente reservatórios como elementos
com comportamento análogo aos componentes físicos que substituem.

Assim, para simular o comportamento dos solos, pode utilizar-se um reservatório cuja
capacidade é semelhante à água utilizável pelas plantas, ou seja, à diferença entre a capacidade de
campo e o ponto de emurchecimento permanente, expressa em volume ou em altura de água
uniformemente distribuída na área da bacia hidrográfica. A água em excesso da capacidade deste
reservatório fica disponível para o escoamento superficial e para a percolação em direção aos
aquíferos subterrâneos. A água nele contida é esgotada apenas através da evapotranspiração.

A interação entre os aquíferos subterrâneos e os cursos de água para os quais drenam pode
ser modelada com a utilização de reservatórios em que o caudal descarregado é proporcional ao
volume de água que contêm (Krayenhoff, 1958). Designam-se esses reservatórios por reservatórios
lineares.

V QkV

Figura 10.6 – Ilustração de um reservatório linear

Para um reservatório linear (Figura 10.6) pode escrever-se:

QkV (10.1)

onde
Q representa o caudal efluente do reservatório,
V , o volume armazenado no reservatório, e
k, a constante do reservatório.

Faz-se notar que a constante do reservatório é o inverso do tempo médio de residência


definido no Capítulo 2.

O esgotamento de um reservatório linear, que ocorre quando este não está a ser alimentado,
pode então ser modelado utilizando o princípio da conservação da massa:

dV
 IQ
dt

10.11
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Q
que com I = 0 e V  se transforma em
k

1 dQ
 Q
k dt

cuja solução, quando em t0 o caudal efluente é Q0, é

Q  Q 0 e  k ( t t 0 ) (10.2)

A equação anterior, (10.2), exprime que o caudal de um reservatório linear se esgota de


acordo com uma exponencial negativa, ou seja, de modo semelhante ao de uma bacia hidrográfica,
como se ilustrou na Secção 9.8 do texto.

Quando se considera o tempo discretizado em intervalos t, com início em t0, obtém-se ao
longo do esgotamento do reservatório:

Qi  Qi1 e k t (10.3)

Vi  Vi1 e k t (10.4)

ou

V  Vi  Vi1   Vi1 (1  e k t ) (10.5)

onde os índices i – 1 e i designam respetivamente o início e o fim de um intervalo de tempo.

Designa-se por constante de esgotamento, K, a fração do volume no início de um intervalo


de tempo que se esgota nesse intervalo. Será

K  1  e k t (10.6)

A equação (10.3) pode então escrever-se:

Qi  Qi1 (1  K) (10.7)

e a sua aplicação a n intervalos de tempo sucessivos, com início em t0, mostra que

Q n  Q 0 1  K 
n
(10.8)

e que a constante de esgotamento, K, pode ser determinada de


1
Q n
K  1   n  (10.9)
 Q0 

O caudal médio no intervalo de tempo j, Q j ,que decorre entre os instantes tj-1 e tj, é dado
por

10.12
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

1 tj Q j1
Qj 
t t j1 Q dt  k t K (10.10)

de onde se reconhece que a diminuição do caudal médio de um intervalo para o seguinte segue uma
lei idêntica à do caudal instantâneo nos extremos de cada intervalo de tempo:

Qj Qi
  1 K (10.11)
Q j1 Q i 1
que a constante de esgotamento, K, pode também ser determinada por
1
Q  n 1
K  1   n  (10.12)
 Q1 

e que o volume armazenado no reservatório no início do intervalo de tempo i é

Qi Δt
Vi 1  (10.13)
K

Linsley et al. (1982) designam por constante de recessão, Kr, a razão existente, durante o
esgotamento do reservatório com alimentação nula, entre os caudais no fim e no início do intervalo
de tempo considerado. Será

Kr  1 K (10.14)

Faz-se notar que tanto K como Kr, embora adimensionais, dependem do intervalo de tempo
considerado.

Obviamente, a constante do reservatório, k, será definida por

1 1
k ln(1  K)   ln(K r ) (10.15)
Δt Δt
Quando o reservatório estiver a ser alimentado com o caudal I, o caudal efluente pode ser
calculado através do seguinte esquema de diferenças finitas:

2 k Δt 2  k Δt
Qi  I Q i 1 (10.16)
2  k Δt 2  k Δt
onde I representa o caudal médio entrado no reservatório no intervalo de tempo t limitado pelos
instantes ti-1 e ti.

Como se descreve na secção seguinte do texto, os parâmetros definidores das características


de alguns dos reservatórios que se utilizam na modelação conceptual podem ser determinados com
maior ou menor aproximação através da análise de hidrogramas e de hietogramas.

10.4 ANÁLISE DE HIDROGRAMAS E DE HIETOGRAMAS

A análise conjunta de hietogramas e de hidrogramas permite identificar com maior ou menor


aproximação e alguma subjetividade elementos dos modelos conceptuais, como a retenção
superficial e a água utilizável pelas plantas e como as constantes e as máximas capacidades dos
reservatórios que se podem utilizar para simular os escoamentos subsuperficiais e subterrâneos.

10.13
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Figura 10.7 – Ilustração para a análise do hietograma e dos hidrogramas

Ilustra-se na Figura 10.7 o procedimento a adotar com utilização de um hietograma da


precipitação diária sobre a bacia hidrográfica do rio Paiva em Castro Daire, obtido por recurso às
áreas de influência de 7 postos udométricos, de um hidrograma do caudal médio diário em escala
linear e de um hidrograma do mesmo caudal médio diário em escala logarítmica. Na referida figura,
os três gráficos referem-se ao mesmo ano hidrológico.

10.14
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Pode começar-se por identificar a data em que o caudal começa a subir nas cheias mais
importantes e a precipitação associada a essas cheias.

Procuram-se depois os dias em que, embora tenha havido precipitação, não parece notar-se o
seu efeito nos hidrogramas, em especial no hidrograma em escala linear. Parece ser o caso das
precipitações, assinaladas nos hietogramas por círculos a azul, que ocorreram em outubro, fim de
março e princípio de abril e ainda em junho e julho. A precipitação total em cada um dos períodos
assinalados encontra-se inscrita junto aos círculos. O valor máximo é 28,8 mm e ocorreu entre os
meses de Junho e Julho. Tendo em consideração que quando ocorre precipitação o défice de
humidade do ar deve ser pequeno e que estando o céu nublado a radiação solar disponível à
superfície deve ser mais baixa do que com o céu limpo e, portanto, que a evapotranspiração deve ser
pequena, então, esse valor máximo deve aproximar o valor máximo da retenção superficial
adicionado à água infiltrada no solo até à capacidade de campo, ou seja, o valor máximo da
retenção superficial e da retenção no solo.

A análise da recessão do caudal imediatamente depois da ocorrência das pontas de cheias e


em períodos contíguos posteriores onde já não há precipitação, com especial atenção à direção das
tangentes extrapoláveis a partir dessas curvas de recessão, permite eventualmente definir o modo de
esgotamento do escoamento subterrâneo. Na Figura 10.7 ilustram-se por traços inclinados azuis
algumas dessas tangentes no hidrograma logarítmico. Essas tangentes deverão iniciar-se antes da
próxima subida do caudal, passando no ponto de mais baixo caudal ou ligeiramente mais abaixo.
Durante a época chuvosa, como se ilustra, as tangentes deverão situar-se cada vez mais acima. A
subida verificada é justificada pela recarga dos aquíferos que ocorre nos episódios de precipitação.
Sem justificação plausível, a direção das tangentes não deve intercetar, no sentido do crescimento do
tempo, o resto do hidrograma logarítmico.
2
Faz-se notar que, numa bacia hidrográfica com esta área (290 km ), um caudal médio diário
3
de 0,1 m /s corresponde ao escoamento de cerca de 0,03 mm/d, que é uma ou duas ordens de
grandeza inferior à evapotranspiração diária. Essa poderá ser uma das razões pelas quais o caudal
médio diário oscila tanto em agosto, no hidrograma logarítmico. Outra poderá ser a inadequação da
curva de vazão para os caudais mais pequenos. Outra ainda poderá ser o eventual mau
funcionamento da tomada de água para o limnígrafo nessa gama de caudais. Qualquer destas razões
pode justificar que o prolongamento da curva de recessão intercete o hidrograma do caudal
registado, mostrando a necessidade de se proceder sistematicamente a este tipo de análises, para que
se possam detetar, investigar e corrigir eventuais anomalias na obtenção dos registos das variáveis.

Os caudais sobre a linha de recessão do escoamento subterrâneo, representada a azul, nos


3 3
dias 23 de janeiro e 5 de fevereiro são respetivamente 3,50 m /s e 2,76 m /s. Assim, a constante de
recessão diária para o escoamento subterrâneo será

1
 2,76  13
K r1    0,982
 3,50 

Admitindo que o que falta para o caudal total nesses dias provém do escoamento
subsuperficial, então a constante de recessão diária para o escoamento subsuperficial será

1
 2,87  2,76  13
K r2    0,890
 4,01  3,50 

Ilustra-se a vermelho no hidrograma logarítmico a recessão do escoamento subsuperficial.

10.15
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Os caudais máximos destas duas curvas de recessão permitem calcular os volumes máximos
que lhes correspondem e que se encontram detidos no solo e nos aquíferos subterrâneos nos instantes
em que ocorrem. Admitindo que os referidos caudais máximos ocorrem no último dia com
precipitação significativa, 6 de janeiro, então o caudal médio diário máximo para o escoamento
subterrâneo será

3,50 3
Q max 1  17
 4,77 m /s
0,982

e o caudal médio diário máximo para o escoamento subsuperficial será

0,51 3
Q max 2  17
 3,70 m /s
0,890

e, no início do dia 6 de janeiro,

4,77 x 86400 3
Vmax 1   22 896 000 m
1  0,982

3,70 x 86400 3
Vmax 2   2 906182 m
1  0,890

Exprimindo estes volumes em altura uniformemente distribuída sobre a área da bacia obtém-
se Vmax1 = 79 mm e Vmax2 = 10 mm.

Faz-se notar que os elementos analisados se referem a um ano seco (a precipitação anual
neste ano foi de 861 mm e em média a precipitação anual é 1511 mm). Para se determinarem as
capacidades máximas dos reservatórios de água detida no solo e nos aquíferos subterrâneos devem
ser utilizados elementos relativos a anos húmidos, que conduzirão a capacidades máximas que
poderão ser bastante superiores aos valores obtidos. Efetivamente, o caudal total máximo registado
3
no ano analisado foi da ordem de 40 m /s, e o caudal de ponta com um período de retorno de 100
3
anos é da ordem dos 800 m /s, podendo, com este valor de caudal, as recessões no hidrograma
logarítmico elevar-se um ciclo no eixo logarítmico, ou seja, da ordem das 10 vezes.

Em especial na análise de cheias e quando se consideram apenas dois tipos de escoamento,


escoamento de base e escoamento direto, pode adotar-se o procedimento que se ilustra na Figura
10.8.

O instante onde no hidrograma o caudal começa a aumentar, assinalado pela linha tracejada
da esquerda, assinala o início do escoamento direto e delimita o fim das perdas iniciais da
precipitação para o escoamento direto. Considera-se que a precipitação que ocorreu imediatamente
antes do início da subida do caudal contribuiu apenas para o aumento da água da água retida à
superfície e no solo.

10.16
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

60

50

40
Precipitação (mm)

Precipitação efetiva, útil ou em excesso

30

20
Perdas iniciais
10
Perdas distribuídas
0
1-Mai 11-Mai 21-Mai 31-Mai 10-Jun 20-Jun
Dia

45
40
35

30 Escoamento direto
Caudal (m /s)
3

25
20
15

10
5
Escoamento de base
0
1-Mai 11-Mai 21-Mai 31-Mai 10-Jun 20-Jun
Dia

Figura 10.8 – Ilustração para a separação do escoamento de base e do escoamento direto

Depois desse instante, continuará a haver perdas da precipitação para o escoamento direto,
essencialmente no preenchimento da capacidade restante de retenção e na capacidade de infiltração
que deverá ir diminuindo ao longo do tempo. Designam-se tais perdas para o escoamento direto por
perdas distribuídas.

A precipitação em excesso das referidas perdas constitui a fonte do escoamento direto e


designa-se por precipitação efetiva, precipitação útil ou precipitação em excesso.

Ilustram-se na Figura 10.8 dois dos métodos mais utilizados na obtenção do escoamento
direto.

Num dos métodos, prolonga-se a curva de recessão que antecede a cheia até ao instante da
ocorrência da ponta, assinalada no hidrograma pelo tracejado da direita, unindo-se depois esse ponto

10.17
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

com um ponto na curva de recessão posterior. Linsley et al. (1982) indicam que tal ponto deve estar
afastado do instante da ocorrência da ponta de cheia um número N de dias dado por

N  0,8 A 0,2 (10.17)


2
onde A representa a área da bacia hidrográfica (km ). No entanto, o valor de N fornecido por
(10.17) é muitas vezes excessivo e deve ser utilizado com muita precaução.

No outro método, identifica-se na recessão posterior à ocorrência da ponta de cheia o


instante em que o caudal total é constituído apenas por escoamento subsuperficial e subterrâneo, o
que se obtém extrapolando a recessão posterior para o interior da cheia e identificando o ponto de
separação entre a curva do caudal total e essa extrapolação. A separação obtém-se unindo esse ponto
com o ponto onde se inicia a subida do caudal.

O escoamento de base fica então definido pela recessão anterior à ocorrência da cheia, a
linha de separação traçada por um dos dois métodos referidos e a recessão posterior à ocorrência da
cheia. A diferença entre o caudal total e o caudal do escoamento de base define o escoamento direto
que na figura se representa acima do escoamento de base. O escoamento direto tem início no
instante em que se inicia a subida do caudal total e termina na intersecção da linha de separação
com a curva descendente do caudal total.

A obtenção da precipitação efetiva deve obedecer ao princípio da conservação da massa, ou


admitindo que a massa volúmica da água é constante, o volume de escoamento direto deve ser igual
ao volume da precipitação efetiva sobre a bacia. A linha de separação entre as perdas distribuídas e
a precipitação efetiva deve então ser traçada por tentativas, até cumprir esse objetivo.

Um dos métodos mais utilizados para proceder a essa separação é designado por método do
índice  e consiste na adopção do valor de um patamar constante de precipitação, a partir da subida
do hidrograma e das perdas iniciais, acima do qual a precipitação é considerada efetiva. Faz-se notar
que o valor desse patamar poderá variar de cheia para cheia, em virtude das condições antecedentes
de humidade no solo ou de precipitação antecedente sobre a bacia. Efetivamente, o teor de humidade
inicial condiciona a capacidade de infiltração, que será tanto menor quanto maior for esse teor de
humidade.

10.5 MODELOS COM DISCRETIZAÇÃO ANUAL

Como se referiu no Capítulo 2, para períodos de tempo de vários anos (20 ou mais anos) ou
para o ano hidrológico, a equação do balanço hídrico numa bacia hidrográfica com escoamento
subterrâneo para o exterior desprezável e na qual os transvases sejam nulos ou se compensem pode
ser simplificada para

P  HE (10.18)

e, em média para o conjunto de vários anos,

P HE (10.19)

onde
P representa a precipitação anual sobre a bacia (mm ou m3),
H, o escoamento anual na secção de referência (mm ou m3), e
E, a evapotranspiração anual da bacia (mm ou m3).

10.18
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Com base na análise de 254 bacias hidrográficas situadas na Europa, em África, na América
e em Java, Turc (1954) estabeleceu a seguinte relação, que tem tido larga utilização, entre a
evapotranspiração anual média (mm) e a precipitação anual média (mm):

P
E , P  0,1 L
2
P
0,9   
L
(10.20)
E  P , P  0,1 L

com

L  300  25 T  0,05 T 3 (10.21)

onde
T representa a temperatura média anual (ºC), e
L, o poder evaporante da atmosfera (mm).

Faz-se notar que o limite da evapotranspiração anual média quando a precipitação anual
média tende para infinito é o poder evaporante da atmosfera.

Na Figura 10.9 apresenta-se o gráfico que representa a fórmula de Turc.

2000

1800 T (ºC)
Evapotranspiração anual média (mm)

1600 30

1400
25

1200

20
1000

800 15

600 10
5
400

200

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Precipitação anual média (mm)

Figura 10.9 – Representação gráfica da fórmula de Turc

Admitindo que este modelo de Turc é também aplicável à evapotranspiração anual e à


precipitação anual referentes a anos hidrológicos em determinada bacia hidrográfica, então, a

10.19
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

relação entre a evapotranspiração anual e a precipitação anual e entre o escoamento anual e a


precipitação anual seriam representáveis como se ilustra na Figura 10.10.

E H

Em

Em

P0 Pm P P0 Pm P
Figura 10.10 – Relações da precipitação anual com a evapotranspiração anual e o escoamento anual

Conceptualmente, existirá um valor P0 da precipitação anual a partir do qual a


evapotranspiração anual deixa de ser igual à precipitação anual. Este valor corresponderia a cerca
de um décimo do poder evaporante da atmosfera. Existirá também um valor Pm da precipitação
anual a partir do qual a evapotranspiração anual será constante e igual ao poder evaporante da
atmosfera (Em, evapotranspiração máxima, na Figura 10.10).

Assim, quando se analisa graficamente a relação entre o escoamento anual e a precipitação


anual numa determinada bacia hidrográfica, os pares de pontos correspondentes parecem alinhar-se
segundo uma linha reta, se a precipitação é elevada e a bacia se situa numa região de clima húmido,
e segundo uma linha curva com concavidade virada para cima, se a precipitação é baixa e a bacia se
situa numa região de clima árido. No primeiro caso têm sido utilizadas para representar essa relação
equações do tipo:

H  b1P  a 1 (10.22)

e, no segundo caso, equações do tipo:

H  b2P2  a 2 (10.23)

ou

H  b 3 (P  P0 ) 2 (10.24)

onde os parâmetros a1, a2, b1, b2, b3 e P0 são determinados pelo método do mínimo dos quadrados
em cada uma das respetivas equações.

Quintela (1967) analisou para várias bacias hidrográficas portuguesas a relação entre o
escoamento anual e a precipitação anual, tendo expressado essa relação em forma gráfica e
dependente do tipo de solos da bacia e da temperatura média anual. Apresentam-se essas relações,
que se designam por relações regionais de Quintela, na Figura 10.11.

10.20
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Figura 10.11 – Relações regionais de Quintela (adaptada de Quintela, 1967)

Em relação ao tipo de solos, Quintela considerou dois grupos. No Grupo 1 englobou solos
com reduzida capacidade de infiltração quando molhados, constituídos essencialmente por argilas e
solos muito delgados, que dariam origem a um escoamento anual de médio a elevado. No Grupo 2
englobou solos moderadamente profundos a profundos, com moderada a apreciável capacidade de
infiltração, mesmo quando molhados, e que dariam origem a um escoamento anual de médio a
baixo.

Em relação à temperatura, considerou três intervalos para a temperatura média anual:


temperatura menor do que 12 ºC, entre 12 e 14 ºC e superior a 14 ºC.

10.6 MODELOS COM DISCRETIZAÇÃO MENSAL

10.6.1Modelo de Thornthwaite e Mather

10.6.1.1 Descrição geral

O balanço hídrico sequencial mensal tem sido utilizado para analisar e simular componentes
do ciclo hidrológico à escala mensal em variados domínios, como, por exemplo, o balanço hídrico
global, a classificação climática, a estimação da quantidade de água no solo, as necessidades de
irrigação e o impacto das alterações climáticas (McCabe e Markstrom, 2007). Um dos métodos
mais frequentemente utilizados nesse balanço é conhecido por modelo de Thornthwaite e Mather
(1957).

O modelo de Thornthwaite e Mather (Figura 10.12) utiliza como variáveis independentes ou


variáveis de entrada os valores mensais da precipitação (Pi) e da evapotranspiração potencial

10.21
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

(ETPi); como variáveis de estado no fim do intervalo de tempo, a água retida no solo entre a
capacidade de campo e o ponto de emurchecimento permanente (Ri) e a detenção para o escoamento
(Di); e, como variáveis dependentes ou variáveis de saída ou resultados, os valores mensais da
evapotranspiração real (ETi) e dos escoamentos direto (HDi) e de base (HBi), cuja soma fornece o
escoamento total (Hi). Todas as grandezas são expressas em altura de água uniformemente
distribuída sobre a bacia hidrográfica (mm).

P
ET HD

P-HD
SP
H = HD + HB

Rmax
R
D HB

Figura 10.12 – Representação do modelo de Thornthwaite e Mather

O modelo utiliza um reservatório para simular a retenção à superfície e no solo, e outro


reservatório, do tipo linear, para simular a detenção do escoamento de base, dependendo dos
seguintes três parâmetros:

– Rmax, quantidade máxima de água retida à superfície e no solo (mm),


– FHD, fracção da precipitação que dá origem ao escoamento direto (-), e
– KHB, constante de esgotamento do reservatório linear que simula a detenção do escoamento
de base (-),

e necessita como condições iniciais da retenção inicial, R0, e da detenção inicial, D0.

Originalmente, o modelo fazia depender a retenção de água ao fim de cada intervalo de


tempo (Ri) da diferença entre a precipitação (Pi) e a evapotranspitação potencial (ETPi). Quando a
precipitação fosse igual ou superior à evapotranspiração potencial, a retenção era aumentada até ao
valor máximo (Rmax) com a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração potencial; o
excesso, designado por superavit hídrico, SPi, destinar-se-ia ao escoamento; a evapotranspiração real
seria igual à evapotranspiração potencial. Quando a precipitação fosse inferior à evapotranspiração
potencial, a retenção era mobilizada para fornecer parte da quantidade de água em falta. A retenção
remanescente era calculada por
i
 Pk ETPk 
k 1
R i  Rmax exp Rmax (10.25)

onde o somatório em k se estendia ao longo do mesmo período de precipitação reduzida, desde o


primeiro mês com precipitação inferior à evapotranspiração potencial até ao mês em apreço.

10.22
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Designava-se o somatório em k por acumulado negativo e o seu simétrico por perda potencial
acumulada.

No mês anterior seria

i 1
 Pk ETPk 
k 1
R i1  Rmax exp Rmax

o que permite reescrever (10.25) do seguinte modo:

Pi ETPi
R i  R i1 exp Rmax

e obter

 Pi ETPi 
R i  R i  R i1  R i1 exp Rmax  1
 (10.26)
 
 

Desenvolvendo a exponencial que figura na equação anterior em série de Maclaurin e


retendo apenas os dois primeiros termos, obtém-se

R i1
R i  Pi  ETPi  (10.27)
Rmax

que se pode traduzir nas seguintes palavras: em determinado mês com precipitação inferior à
evapotranspiração potencial, a variação da água retida é proporcional à retenção relativa no início
desse mês R i1 / Rmax  e à diferença entre a precipitação e a evapotranspiração potencial nesse
mês Pi  ETPi  .

Designa-se por défice hídrico ou défice de evapotranspiração em cada mês (DFi) a diferença
entre a evapotranspiração potencial e a evapotranspiração real.

Na versão que se descreve, adota-se a variação da água retida definida por (10.27), com a
precipitação diminuída do escoamento direto. Note-se que, fazendo FHD = 0, não se considera o
escoamento direto, tal como se fazia na versão original de Thornthwaite e Mather.

Em cada intervalo de tempo, i, utiliza-se o seguinte procedimento:

(1) HDi  Pi FHD

 R 
R i   min   i1 Pi  HDi  ETPi , R i1  , se ETPi  Pi  HDi
(2)  Rmax 
 min Pi  HDi  ETPi , Rmax  R i1 , se ETPi  Pi  HDi

(3) R i  R i1  R i

ETi  Pi  HDi  R i , se ETPi  Pi  HDi


(4)
 ETPi , se ETPi  Pi  HDi

10.23
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

(5) DFi  ETPi  ETi

(6) SPi  Pi  HDi  R i  ETi

(7) Di  Di1  SPi  1  KHB

(8) HBi  Di1  SPi  Di

(9) H i  HDi  HBi

Quando não existirem dados que permitam a calibração do modelo, recomenda-se que para
Rmax se utilize um valor do intervalo que varia entre 50 mm e 400 mm (Dunne e Leopold, 1978),
com uma moda de 100 mm, para FHD valores próximos de 0,05 (McCabe e Markstrom, 2007), e
para KHB valores próximos de 0,5 (Lencastre e Franco, 1984; McCabe e Markstrom, 2007). A
especificação do valor atribuível a Rmax pode ser feita considerando o produto da diferença entre a
capacidade de campo e o ponto de emurchecimento permanente do solo pela profundidade radicular
da cultura agrícola nele instalada ou da vegetação nele existente. A especificação do valor atribuível
a KHB deve ter em conta a dimensão da bacia hidrográfica – a bacias hidrográficas de pequena
dimensão correspondem em geral valores superiores a 0,5 (Thornthwaite, 1948; Dunne e Leopold,
1978).

Como se referiu e se deve observar em todos os modelos conceptuais, faz-se notar a


necessidade de verificar em cada intervalo de tempo o cumprimento do princípio de conservação da
massa. Assim, para o modelo de Thornthwaite e Mather deverá ser:

Pi  ETi  H i  R i  Di  Di1   0 (10.28)

como se verifica na formulação apresentada.

10.6.1.2 Utilização para caracterização climática

A utilização do modelo de Thornthwaite e Mather para caraterizar o clima de uma dada


região é feita com os valores médios mensais da precipitação e da evapotranspiração potencial,
levando os cálculos apenas até ao passo (6) acima descrito, e não necessita do cálculo do
escoamento de base. Tradicionalmente, não se considera também o escoamento direto (FHD = 0).

A classificação climática de Thornthwaite assenta no cálculo dos valores anuais médios do


défice hídrico, do superavit hídrico e da evapotranspiração potencial, que resultam da soma dos
respetivos valores mensais em ano médio, com base nos quais se podem calcular os seguintes índices
(Thornthwaite, 1948; Lencastre e Franco, 1984):

DF
Índice de aridez: Ia 
ETP

SP
Índice de humidade: Iu 
ETP

Índice hídrico: I h  I u  0,6 I a

A classificação do clima pelo índice hídrico obedece aos critérios que se apresentam no
Quadro 10.1.

10.24
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Quadro 10.1 – Classificação do clima pelo índice hídrico

Intervalo de Ih Tip Designação


(%) o

100 ≤ Ih A Super-húmido

90 ≤ Ih < 100 B4 Muito húmido

60 ≤ Ih < 90 B3 Húmido

40 ≤ Ih < 60 B2 Moderadamente húmido

20 ≤ Ih < 40 B1 Pouco húmido

0 ≤ Ih < 20 C2 Sub-húmido húmido

-20 ≤ Ih < 0 C1 Sub-húmido seco

-40 ≤ Ih < -20 D Semiárido

-60 ≤ Ih < -40 E Árido

O valor 0 do índice hídrico separa os climas húmidos, Ih ≥ 0, dos climas secos e áridos,
Ih < 0. Em Portugal continental, o índice hídrico é predominante positivo a norte do rio Tejo, e
predominantemente negativo a sul do rio Tejo, não existindo regiões de clima árido. Em
Moçambique, o índice hídrico é positivo nas regiões de maior altitude, como as montanhas da
província de Manica e da Zambézia e os planaltos de Lichinga, Mueda e a norte da província de
Tete. Em quase todo o resto do país, o índice hídrico é negativo, sendo o interior da província de
Gaza uma região de clima árido.

Os climas húmidos podem ainda ser classificados em subtipos, segundo o valor do índice de
aridez e a estação do ano em que ocorre o défice hídrico, como se apresenta no Quadro 10.2.

Quadro 10.2 – Subtipos de climas húmidos

Intervalo de Ia (%) Subtipo Designação

0 < Ia 16, r DF nulo ou pequeno, todo o ano


≤ 7

16, < Ia 33, s DF moderado, no verão


7 ≤ 3

16, < Ia 33, w DF moderado, no inverno


7 ≤ 3

10.25
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

33, < Ia s2 DF grande, no verão


3

33, < Ia w2 DF grande, no inverno


3

De modo semelhante, os climas secos e áridos podem ainda ser classificados em subtipos,
segundo o valor do índice de humidade e a estação do ano em que ocorre o superavit hídrico, como
se apresenta no Quadro 10.3.

Quadro 10.3 – Subtipos de climas secos e áridos

Intervalo de Iu Subtipo Designação


(%)

0 < Iu ≤ 10 d SP nulo ou pequeno, todo o ano

10 < Iu ≤ 20 s SP moderado, no inverno

10 < Iu ≤ 20 w SP moderado, no verão

20 < Iu s2 SP grande, no inverno

20 < Iu w2 SP grande, no verão

Em Portugal continental não há climas dos subtipos w e w2 porque o inverno é a estação


chuvosa, com superavit hídrico, e o verão é a estação seca, com défice hídrico. Em Moçambique,
nas regiões de climas húmidos, verificam-se os subtipos w e w2 porque a época chuvosa acontece
durante a estação quente do ano.

10.6.1.3 Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather

O modelo de Thornthwaite e Mather tem sido aplicado utilizando uma série de anos com
valores observados da precipitação mensal e valores calculados da evapotranspiração mensal ou
com valores médios da precipitação mensal observada e da evapotranspiração mensal calculada, no
que em geral se refere por ano médio. Frequentemente, os parâmetros do modelo são ajustados para
que o modelo reproduza o escoamento mensal observado, ou o seu valor médio mensal quando se
utiliza o ano médio, de acordo com um critério adequado. Faz-se notar que o ano médio é um ano
fictício que tem uma probabilidade muito pequena de ocorrer e no qual o coeficiente de variação
mensal das variáveis intervenientes é inferior à média dos coeficientes de variação dessas variáveis
em cada um dos anos da série considerada.

É ainda necessário ter consciência de que a precipitação observada sobre a bacia


hidrográfica depende da respetiva cobertura udométrica e que o escoamento observado depende da
qualidade da curva de vazão na secção de referência da bacia e que ambos dependem da qualidade
das medições efetuadas. Acresce que as estimativas da evapotranspiração potencial são
inerentemente aproximadas, como se revela quando se comparam os métodos que se utilizam no seu
cálculo.

10.26
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Para não criar a sugestão de que o modelo é que está certo, recorda-se que modelos são
representações que permitem reproduzir com maior ou menor aproximação o comportamento dos
protótipos.

A aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather a uma bacia hidrográfica portuguesa com


2
290 km , situada a norte do rio Tejo, utiliza nesta descrição o conceito de ano médio, como é
frequentemente nos estudos climáticos e nos estudos de planeamento acerca da viabilidade de
culturas agrícolas.

No Quadro 10.4 apresentam-se as variáveis intervenientes no processo de modelação. Na


Figura 10.13 ilustram-se algumas dessas variáveis.

10.27
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Quadro 10.4 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)


i Mês P (mm) ETP (mm) HD (mm) R (mm) R (mm) ET (mm) DF (mm) SP (mm) D (mm) HB (mm) H (mm) HO (mm)
1 Out 116,4 64,2 18,0 34,2 34,2 64,2 0,0 0,0 3,4 2,5 20,5 18,3
2 Nov 215,5 32,1 33,3 99,9 134,1 32,1 0,0 50,2 30,6 22,9 56,2 69,1
3 Dez 185,9 18,3 28,7 0,0 134,1 18,3 0,0 138,9 97,0 72,6 101,3 94,4
4 Jan 208,1 21,2 32,1 0,0 134,1 21,2 0,0 154,8 144,0 107,7 139,9 129,4
5 Fev 205,5 29,6 31,7 0,0 134,1 29,6 0,0 144,2 164,8 123,3 155,1 143,5
6 Mar 193,0 53,2 29,8 0,0 134,1 53,2 0,0 110,0 157,2 117,6 147,4 132,0
7 Abr 108,2 79,4 16,7 0,0 134,1 79,4 0,0 12,1 96,8 72,4 89,2 72,3
8 Mai 106,3 119,3 16,4 -29,4 104,7 119,3 0,0 0,0 55,4 41,4 57,9 47,7
9 Jun 62,2 146,4 9,6 -73,2 31,5 125,8 20,6 0,0 31,7 23,7 33,3 26,9
1 Jul 21,1 167,9 3,3 -31,5 0,0 49,3 118,6 0,0 18,1 13,6 16,8 9,7
0
1 Ago 21,2 152,6 3,3 0,0 0,0 17,9 134,7 0,0 10,4 7,8 11,0 3,5
1
1 Set 67,8 95,5 10,5 0,0 0,0 57,3 38,2 0,0 5,9 4,4 14,9 3,8
2
Ano 1511,2 979,7 667,7 312,0 610,1 843,5 750,6

10.28
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

10.29
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

250

200
P, ETP, ET, DF, SP, H, HO (mm)

P
150 ETP
ET
DF
SP
100
H
HO

50

0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Figura 10.13 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather. Variáveis de entrada e de saída

Na primeira linha do Quadro 10.4 identificam-se as respetivas colunas com os símbolos


descritos em 10.6.1.1. Na última coluna apresentam-se os valores do escoamento mensal médio
observado, HO. Na última linha, por baixo da esquadria do quadro, apresentam-se os valores anuais
de algumas das variáveis, identificáveis pela coluna onde se encontram.

A precipitação mensal média foi obtida pelo método dos polígonos de Thiessen com base em
valores diários registados em sete udómetros com influência sobre a bacia hidrográfica.

A evapotranspiração potencial foi estimada pela fórmula de Turc, que em Portugal


continental parece fornecer valores ligeiramente excessivos (Quintela, 1967).

Os valores numéricos entre parênteses na primeira linha do quadro referem-se aos passos de
cálculo indicados em 10.6.1.1.

O escoamento observado mensal médio (HO) foi obtido por transformação das alturas
hidrométricas observadas em caudal, através da curva de vazão estabelecida para a secção de
referência da bacia hidrográfica e posterior integração deste ao longo dos meses. O escoamento
observado mensal médio refere-se à média de cada um desses meses. Reforça-se a ideia
anteriormente expressa de que este escoamento não ocorreu em resultado da precipitação sobre a
bacia, em qualquer dos anos de registo. Trata-se, assim, apenas de um indicador que se espera que
seja aproximado do que poderia acontecer em resposta à precipitação do ano médio.

10.30
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Os parâmetros do modelo foram determinados pelo método do mínimo dos quadrados,


minimização do somatório dos quadrados dos desvios entre o escoamento simulado (H) e o
escoamento observado (HO), tendo-se obtido Rmax = 134,1 mm, FHD = 0,154 e KHB = 0,428.
Considerou-se que as condições iniciais seriam iguais aos seus valores finais, R0 = 0,0 mm e
D0 = 5,9 mm, valores a que se chegou iterativamente. Confirmou-se que o modelo verifica, mês a
mês e no ano hidrológico, o balanço hídrico.

A geologia da bacia hidrográfica, constituída em grande parte por granitos que dão origem a
solos moderadamente profundos e permeáveis, leva a aceitar o valor obtido para Rmax. Não seria
no entanto surpreendente que se tivesse obtido um valor ligeiramente superior, da ordem dos 200
mm.

O valor obtido para FHD é superior ao valor geralmente recomendado de 0,05. Tal poderá
ser justificado pela fração de área menos permeável ou impermeável da bacia hidrográfica,
constituída por solos com génese em xistos argilosos, e pela densidade de drenagem, que se
considera relativamente elevada. No entanto, como à frente se descreve, a função-objetivo utilizada
é pouco sensível a variações do valor deste parâmetro.

O valor obtido para KHB é da ordem de grandeza do valor geralmente recomendado de 0,5.

Para análise da sensibilidade da função-objetivo utilizada, somatório dos quadrados dos


desvios entre o escoamento mensal simulado e o escoamento mensal observado, produziram-se
alterações de –10 por cento e de +10 por cento em cada um dos valores ótimos dos três parâmetros,
enquanto os restantes eram mantidos nos seus valores ótimos. Obviamente, cada uma destas
alterações, partindo dos valores ótimos dos parâmetros, aumenta o valor da função-objetivo em
relação ao mínimo. A Figura 10.14 apresenta o resultado desta análise em termos da variação
percentual do valor da função-objetivo.

Variação do valor ótimo

-10 % +10 %

Rmax

FHD

KHB

15 10 5 0 5 10 15
Variação da função-objetivo (%)

Figura 10.14 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather. Análise da sensibilidade da função-


objetivo

Verifica-se que os resultados do modelo, à luz da função-objetivo utilizada, são muito


sensíveis ao valor da constante de esgotamento da água detida (KHB), moderadamente sensíveis ao
valor da capacidade máxima de retenção de água (Rmax) e pouco sensíveis ao valor da fracção da
precipitação para o escoamento direto (FHD). Como se mostra no Quadro 10.5, existe uma relação
entre o valor de FHD e o valor de Rmax. Efetivamente, quando se fixa o valor de FHD e se
otimizam os valores dos restantes dois parâmetros, então, diminuindo o valor de FHD, obtêm-se
valores de KHB que, embora aumentando, pouco variam, e obtêm-se valores de Rmax que

10.31
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

diminuem. A diminuição da água que fica retida na bacia compensa parcialmente a diminuição do
escoamento direto.

Quadro 10.5 – Efeitos da fixação de FHD

FHD (-) 0,20 0,154 0,10 0,05 0,00

Rmax (mm) 140,2 134,1 127,3 121,2 115,1

KHB (-) 0,423 0,428 0,433 0,436 0,439


2
F. objetivo (mm ) 1398, 1359, 1416, 1570, 1820,
4 4 8 1 6

Em termos dos valores anuais, a diminuição do escoamento direto resulta no aumento da


água disponível à superfície para satisfação da evapotranspiração potencial, provocando o aumento
da evapotranspiração; o aumento da evapotranspiração conduz à diminuição do escoamento; a
diminuição da água retida resulta no aumento do superavit hídrico e na diminuição do défice
hídrico. Assim, na bacia hidrográfica em análise, quando se adotam para os parâmetros os valores
indicados na última coluna do Quadro 10.5, obtêm-se para essas grandezas os seguintes valores: ET
= 691,7 mm, DF = 288,0 mm, SP = 819,5 mm e H = 819,5 mm.

10.6.2Modelo de Témez

10.6.2.1 Descrição geral

O modelo de Témez (1977) tem também sido frequentemente utilizado em Portugal para
conduzir o balanço hídrico sequencial mensal.

ET P

T HD
IP
Rmax H = HD + HB
R
D HB

Figura 10.15 – Representação do modelo de Témez

O modelo de Témez (Figura 10.15), tal como o de Thornthwaite e Mather (Figura 10.12),
utiliza dois reservatórios para definir o estado do sistema: um dos reservatórios simula a retenção de
água (Ri)e o outro reservatório simula a detenção de água (Di). O modelo utiliza também como
variáveis independentes ou de entrada os valores mensais da precipitação (Pi) e da

10.32
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

evapotranspiração potencial (ETPi) e, como variáveis de saída, os valores mensais da


evapotranspiração real (ET i) e dos escoamentos direto (HDi) e de base (HBi), cuja soma fornece o
escoamento total (Hi). Todas as grandezas são expressas em altura de água uniformemente
distribuída sobre a bacia hidrográfica (mm).

O modelo depende dos seguintes parâmetros:

– C, coeficiente para o cálculo da quantidade de precipitação que excede a alimentação do


reservatório de água retida, excedente total (-),
– Rmax, quantidade máxima de água retida à superfície e no solo (mm),
– IPmax, máxima infiltração profunda para o reservatório de água detida num intervalo de
tempo de cálculo (mm),
-1
–  constante do reservatório linear que simula a detenção da água (d ),

e necessita como condições iniciais da retenção inicial, R0, e da detenção inicial, D0.

O excedente total, T i, é calculado seguindo um conceito semelhante ao que se descreveu


para o cálculo do escoamento anual (Figura 10.10), mas que tem em consideração o défice de água
retida em relação a Rmax no início do intervalo de tempo, Rmax  Ri 1 , e a evapotranspiração
potencial nesse intervalo de tempo, ETPi. Define-se previamente o valor de P0i, que estabelece o
mínimo da precipitação (Pi) a partir do qual nesse intervalo de tempo ocorre excedente:

P0i  C Rmax  R i1  (10.29)

e o valor de δi, que estabelece o máximo subtraível à precipitação para preencher nesse intervalo de
tempo a capacidade de retenção de água e a evapotranspiração potencial:

i  Rmax  R i1  ETPi (10.30)

O excedente total, Ti, quando Pi  P0i , obtém-se de

Pi  P0i 2
Ti  (10.31)
Pi   i  2P0i

sendo nulo, quando Pi  P0i . Verifica-se que o défice do excedente total, Pi  Ti , tende para  i
quando Pi tende para infinito.

A água retida no fim do intervalo de tempo é definida por

R i  max R i1  Pi  Ti  ETPi , 0 (10.32)

porque não pode ter um valor inferior a 0 mm.

Então a evapotranspiração real no intervalo de tempo será

ETi  Pi  Ti  R i (10.33)

onde R i  R i  R i1 .

10.33
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

A infiltração profunda, IPi, quando Ti > 0 é definida por

IPmax
IPi  Ti (10.34)
Ti  IPmax

e é nula quando T i = 0. Verifica-se que varia entre 0 e IPmax e cresce com T i.

De modo diverso do que se considera tradicionalmente no modelo de Thornthwaite e


Mather, no qual a alimentação do reservatório de água detida ocorre de modo concentrado no início
do intervalo de tempo, no modelo de Témez admite-se que a alimentação ocorre a meio do intervalo
de tempo, também de modo concentrado. Assim, obtém-se

Di  K r Di1  K r IPi (10.35)

onde K r  e  t é a constante de recessão mensal do caudal efluente do reservatório linear que


simula a detenção.

O escoamento de base no intervalo de tempo obtém-se de

HBi  Di1  Di  IPi (10.36)

o escoamento direto, de

HDi  Ti  IPi (10.37)

e, obviamente, o escoamento total, de

H i  HDi  HBi (10.38)

Em cada intervalo de tempo, i, utiliza-se o seguinte procedimento:

(1) P0i  C Rmax  R i1 

(2) i  Rmax  R i1  ETPi

Pi  P0i 2
Ti  , se Pi  P0i
(3) Pi   i  2P0i
 0 , se Pi  P0i

(4) R i  max R i1  Pi  Ti  ETPi , 0

(5) ETi  Pi  Ti  R i  R i1 

IPmax
(6) IPi  Ti
Ti  IPmax

(7) Di  K r Di1  K r IPi

(8) HDi  Ti  IPi

10.34
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

(9) HBi  IPi  Di  Di1 

(10) H i  HDi  HBi

Quando não existam dados que permitam a calibração do modelo, Témez (1977) recomenda
que para C se utilize um valor próximo de 0,3, para Rmax se utilize um valor da ordem dos 200
mm, para IPmax, que depende da permeabilidade dos terrenos e do modo como a precipitação se
concentra no mês, se utilize um valor entre 100 mm, em climas com precipitações esporádicas, e
400 mm, em climas com precipitações persistentes, e para  se utilize um valor entre 0,03 e 0,07.

Como se referiu e se deve observar em todos os modelos conceptuais, faz-se notar a


necessidade de verificar em cada intervalo de tempo o cumprimento do princípio de conservação da
massa. Assim, para o modelo de Témez, deverá verificar-se a equação (10.28), como se garante na
formulação apresentada.

10.6.2.2 Aplicação do modelo de Témez

Aplicam-se ao modelo de Témez as considerações iniciais que se descreveram no início da


Secção 10.6.1.3.

O modelo foi aplicado à bacia hidrográfica que se descreveu nessa secção e utilizaram-se as
mesmas variáveis de entrada. No Quadro 10.6 apresentam-se as variáveis intervenientes no processo
de modelação, e na Figura 10.16 ilustram-se algumas dessas variáveis.

250

200
P, ETP, ET, H, HO (mm)

150 P
ETP
ET
H

100 HO

50

0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Figura 10.16 – Aplicação do modelo de Témez. Variáveis de entrada e de saída

10.35
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Quadro 10.6 – Aplicação do modelo de Témez

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
i Mês P ETP P0  T R ET IP D HD HB H HO
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)

1 Out 116,4 64,2 0,0 351,1 29,0 23,2 64,2 24,0 13,9 5,0 15,5 20,4 18,3
2 Nov 215,5 32,1 0,0 295,8 90,8 115,8 32,1 55,1 32,4 35,8 36,6 72,4 69,1
3 Dez 185,9 18,3 0,0 189,4 92,1 191,3 18,3 55,5 37,6 36,6 50,3 86,9 94,4
4 Jan 208,1 21,2 0,0 116,8 133,3 244,9 21,2 68,2 45,6 65,1 60,2 125,3 129,4
5 Fev 205,5 29,6 0,0 71,6 152,4 268,4 29,6 72,9 50,2 79,5 68,3 147,8 143,5
6 Mar 193,0 53,2 0,0 71,7 140,7 267,5 53,2 70,1 50,0 70,6 70,3 140,9 132,0
7 Abr 108,2 79,4 0,0 98,8 56,6 239,8 79,4 40,3 34,4 16,3 55,8 72,1 72,3
8 Mai 106,3 119,3 0,0 166,5 41,4 185,3 119,3 32,0 25,9 9,5 40,5 49,9 47,7
9 Jun 62,2 146,4 0,0 248,0 12,5 88,7 146,4 11,5 12,9 1,0 24,4 25,4 26,9
1 Jul 21,1 167,9 0,0 366,2 1,1 0,0 108,6 1,1 4,1 0,0 10,0 10,0 9,7
0
1 Ago 21,2 152,6 0,0 439,5 1,0 0,0 20,2 1,0 1,6 0,0 3,4 3,5 3,5
1
1 Set 67,8 95,5 0,0 382,4 10,2 0,0 57,6 9,5 5,4 0,7 5,7 6,4 3,8
2
Ano 1511,2 979,7 750,1 761,1 750,6

10.36
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Na primeira linha do Quadro 10.6 identificam-se as respetivas colunas com os símbolos


descritos em 10.6.2.1. Na última coluna apresentam-se os valores do escoamento mensal médio
observado, HO. Na última linha, por baixo da esquadria do quadro, apresentam-se os valores anuais
de algumas das variáveis, identificáveis pela coluna onde se encontram. Os valores numéricos entre
parênteses na primeira linha do quadro referem-se aos passos de cálculo indicados em 10.6.2.1.

Os parâmetros do modelo foram determinados pelo método do mínimo dos quadrados,


minimização do somatório dos quadrados dos desvios entre o escoamento simulado (H) e o
escoamento observado (HO), tendo-se obtido C = 0,0, Rmax = 286,9 mm, IPmax = 139,8 mm e
-1
 = 0,04364 d . Considerou-se que as condições iniciais seriam iguais aos seus valores finais, R0 =
0,0 mm e D0 = 5,4 mm, valores a que se chegou iterativamente. Confirmou-se que o modelo
verifica, mês a mês e no ano hidrológico, o balanço hídrico.

O valor obtido para o parâmetro C indica que a fração de área menos permeável ou
impermeável da bacia hidrográfica, constituída por solos com génese em xistos argilosos, é
suficientemente importante para se considerar a existência de um limiar da precipitação mensal
superior a zero (P0i > 0), a partir do qual ocorra um excedente total (Ti). Assim, qualquer
precipitação dá origem a um excedente total, independentemente das condições antecedentes de
pluviosidade representadas pela água retida (Ri-1).

O valor obtido para Rmax, embora se considere elevado, é da ordem de grandeza do valor
espectável com base na génese granítica de grande parte dos solos da bacia hidrográfica.

O valor obtido para IPmax encontra-se no interior do intervalo recomendado por Témez e,
quando se considera uma infiltração uniforme ao longo do mês, corresponde a cerca de 0,2 mm/h
que se identifica com solos finos. Na realidade, como os episódios de precipitação não são contíguos
nem a intensidade da precipitação é uniforme ao longo do mês, então, a capacidade de infiltração
profunda na bacia hidrográfica deve ser superior ao valor indicado para a infiltração uniforme.

O valor obtido para  encontra-se no intervalo recomendado por Témez e corresponde a


uma constante de esgotamento mensal (K) igual a cerca de 0,7, que se considera elevada.

Para análise da sensibilidade da função-objetivo utilizada, somatório dos quadrados dos


desvios entre o escoamento mensal simulado e o escoamento mensal observado, produziram-se
alterações de –10 por cento e de +10 por cento em cada um dos valores ótimos dos quatro
parâmetros enquanto os restantes eram mantidos nos seus valores ótimos. Obviamente, cada uma
destas alterações, partindo dos valores ótimos dos parâmetros, aumenta o valor da função-objetivo
em relação ao mínimo. Exceptua-se o parâmetro C, cujo valor ótimo é zero. A Figura 10.17
apresenta o resultado desta análise em termos da variação percentual do valor da função-objetivo.

10.37
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Variação do valor ótimo

-10 % +10 %

Rmax

IPmax

80 60 40 20 0 20 40 60 80
Variação da função-objetivo (%)

Figura 10.17 – Aplicação do modelo de Témez. Análise da sensibilidade da função-objetivo

Verifica-se que os resultados do modelo, à luz da função-objetivo utilizada, são muito


sensíveis à capacidade de retenção de água à superfície e no solo (Rmax) e pouco sensíveis à
infiltração profunda máxima (IPmax) e à constante do reservatório linear que simula a detenção de
água para o escoamento de base (). Para análise da sensibilidade a variações produzidas no
parâmetro C, cujo valor ótimo é zero, otimizaram-se os valores dos restantes parâmetros com
valores fixados de 0,1, 0,2, 0,3 e 0,4 para C. Apresentam-se os resultados obtidos no Quadro 10.7,
onde também se inscreveu o resultado da otimização de todos os parâmetros (C = 0,0).

Quadro 10.7 – Efeitos da fixação de C

C (-) 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4


Rmax (mm) 286,9 284,2 233,0 207,5 194,0
IPmax (mm) 139,8 145,8 79,2 88,1 95,1
-1
 (d ) 0,0436 0,0501 0,0160 0,0115 0,0091
2
F. objetivo (mm ) 201,9 573,3 1004,2 1260,3 1481,3

Verifica-se que parece haver, nesta aplicação, uma relação de sentido inverso entre o valor
de C e o de Rmax, ou seja, que, quando C cresce, então Rmax diminui. Em relação a IPmax e a 
nota-se a existência de dois extremos locais, no caso de IPmax, e de um extremo local, no caso de .
Efetivamente, a partir de C = 0,2, IPmax cresce com o aumento de C, como acontece de C = 0,0
para C = 0,1, e  decresce com o aumento de C, aumentando de C = 0,0 para C = 0,1. Verifica-se
ainda que quando C cresce de 0,0 para 0,4, a evapotranspiração real anual (ET) diminui e o
escoamento anual (H) aumenta, embora para C = 0,1 a evapotranspiração real anual apresente um
máximo e o escoamento anual apresente um mínimo.

10.7 PARCIMÓNIA, FUNÇÕES-OBJETIVO, CALIBRAÇÃO E


VERIFICAÇÃO

Existem hoje dezenas de modelos matemáticos dos vários tipos mencionados na introdução
deste capítulo. Os modelos conceptuais com discretização temporal mensal, como os que se
descreveram de Thornthwaite e Mather e o de Témez, são relativamente simples e utilizam um
número reduzido de parâmetros. Os modelos de simulação contínua, conceptuais ou teóricos, com

10.38
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

discretização diária ou inferior, agregados ou distribuídos, são mais complexos, utilizam um número
elevado de parâmetros e requerem muito mais informação histórica sobre as variáveis hidrológicas,
meteorológicas e fisiográficas.

Alguns dos modelos foram desenvolvidos e testados em determinadas regiões e, nessas


regiões, fornecem resultados aceitáveis. Noutras regiões poderão não funcionar tão bem. Acresce
que as eventuais alterações climáticas que se anunciam poderão alterar, com maior ou menor
impacto, o comportamento das bacias hidrográficas e até da economia regional. É, assim,
fundamental que se disponha, mantenha e actualize continuamente em cada região ou país a
informação necessária à utilização dos modelos de processos hidrológicos.

A escolha do modelo a utilizar deve ter em conta não só o rigor utilizado na sua construção e
a confiança nos resultados que produz, mas também o objetivo a que se destina e a informação que
deve estar disponível para a sua utilização. Efetivamente, quando por exemplo se pretendem
resultados à escala mensal, poder-se-ão utilizar modelos complexos com grande discretização
temporal e cujos resultados acumulados mês a mês produzam os desejados resultados mensais.
Porém, se a informação com essa discretização e a fidedignidade necessária não estiver disponível,
então, os resultados obtidos poderão ser de qualidade inferior à que se obteria com um modelo mais
simples, experimentado em várias regiões e com menor necessidade de dados.

Embora o termo parcimónia tenha sido utilizado em relação ao número de parâmetros


utilizáveis na modelação estocástica de séries temporais, número esse que deve ser o menor que
satisfaça o objetivo e a qualidade da modelação, julga-se que na modelação determinística deve
também adotar-se uma atitude parcimoniosa, ou de poupança de meios humanos e materiais e de
tempo, sempre sem comprometer a qualidade da simulação.

Designa-se por calibração dos parâmetros do modelo, ou calibração do modelo, a


especificação de cada um de todos ou de alguns dos valores desses parâmetros, de modo a satisfazer
um critério que se estabeleça entre os resultados do modelo ( x̂ i ) e os valores homólogos observados
no protótipo (xi), para as mesmas solicitações, definidas pelas variáveis de entrada ou variáveis
independentes, e para as mesmas condições iniciais. Nos modelos matemáticos, esse critério é
traduzido em geral por um problema de otimização, ou seja, pela minimização ou maximização de
uma relação funcional entre os valores simulados e os valores homólogos observados. Designa-se
essa relação funcional por função-objetivo e representa-se por Z, quando se procura minimizar o seu
valor, e por L, quando se procura maximizar o seu valor. Funções-objetivo dos dois tipos têm
também sido utilizadas como critérios para comparação de modelos e para comparação da sua
eficiência no ajustamento aos valores observados.

Designa-se por erro de ajustamento duma variável num instante ou num intervalo de tempo
i,  i , a diferença nesse instante ou intervalo de tempo entre o valor da variável calculado ou
estimado, x̂ i , e o valor homólogo observado no mesmo instante, xi:

 i  x̂ i  x i (10.39)

Uma das funções-objetivo mais clássica e tradicional, já utilizada nas secções anteriores do
texto para calibrar os modelos de Thornthwaite e de Mather e o de Témez, para N pares de valores
simulados e observados, soma dos quadrados dos erros, SQE, é definida por:

N
Z1  SQE   x̂ i  x i 2 (10.40)
i 1

10.39
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Outras funções-objetivo utilizáveis quer em modelos de simulação contínua quer em


modelos de simulação de eventos, como os que se descrevem no capítulo seguinte, são a média do
valor absoluto dos erros, MAE, e a raiz quadrada do erro quadrático médio, REQM:

1 N
Z 2  MAE   x̂ i  x i
N i1
(10.41)

1 N
Z 3  REQM   x̂ i  x i 2 (10.42)
N i1

Por vezes, pondera-se a função do erro com um peso tanto maior quanto maior for o valor
observado nesse instante, como por exemplo na seguinte equação:

N
 xi  x 
 x̂ i  x i 2 2x 
i 1
Z4  (10.43)
N

Tal ponderação tem sido criticada quando se admite que a variância dos erros aumenta com
o aumento do valor observado.

Também têm sido utilizadas combinações de funções-objetivo, como na seguinte equação,


originalmente utilizada no modelo de Sacramento e já abandonada em favor da SQE:

4
Z5  DSE 3
MSE 3 AF (10.44)

onde
DSE representa o erro quadrático médio diário (pé cúbico por segundo e por milha
quadrada),
MSE , o erro quadrático médio mensal (polegada), e
AF, a razão, adicionada de uma unidade, entre o somatório dos erros no escoamento anual e
o somatório da precipitação anual.

Do grupo das funções-objetivo a maximizar, onde se podem incluir as funções de


verosimilhança, apresenta-se a função de eficiência do modelo de Nash e Sutcliffe definida por

s 2
L1  NS  1  (10.45)
s o2

onde o numerador e o denominador da fração representam respetivamente o erro quadrático médio


SQE / N e a variância dos valores observados. Quando a simulação for perfeita, o erro quadrático
médio é nulo e a eficiência é 1. Quando a simulação se resumir a considerar sempre o valor médio
observado ( s 2  s o2 ), então a eficiência é zero. Dependendo da qualidade da simulação, a eficiência
pode até ser negativa.

Do mesmo grupo é a seguinte função-objetivo que varia entre 0 e 1:

2
L 2  e  c s (10.46)

10.40
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

onde c é um factor positivo que define a forma da função.

Para ilustrar a aplicação de algumas destas funções considerem-se os seguintes pares x; x̂  :
(13,8;8), (13,9;12), (14,0;16) e (14,1;20), nos quais a média do valor observado é 13,95 e a média
do valor estimado é 14,00. Obtém-se então SQE = 76,06, MAE = 3,90, REQM = 4,36 e NS = –
1520,20. Faz-se notar que o coeficiente de correlação linear entre os valores observados e estimados
é r = 1,00, o que indica apenas que existe uma correlação linear perfeita entre esses valores, quando
a regressão é estimada pelo método do mínimo dos quadrados com termo independente. O
coeficiente de correlação, r, é indeterminado quando forem constantes os valores estimados ou os
observados. A eficiência NS é também indeterminada quando os valores observados forem
constantes. Note-se, ainda, que o erro médio é   0,05, o que indica que o erro sistemático é
pequeno ou desprezável.

Frequentemente, os modelos são utilizados com variáveis de entrada ou variáveis


independentes que ainda não se encontravam definidas quando foram construídos e calibrados.
Acontece assim quando se utilizam em tempo real ou quando se pretende analisar o efeito de
mudanças na bacia hidrográfica, como o transvase de caudais, alteração de práticas agrícolas,
aumento da área urbanizada e eventuais alterações climáticas, ou quando se pretende analisar a
resposta da bacia hidrográfica a situações extremas, como precipitações intensas ou períodos
prolongados de seca. Quando se dispõe de séries de valores observados ao longo de vários anos, para
avaliar o comportamento dos modelos em situações diferentes daquelas que se utilizaram na sua
calibração, não se calibra o modelo com todos os dados disponíveis. Devem escolher-se dados de um
período de tempo para calibrar o modelo, e os restantes dados devem ser utilizados com os
parâmetros determinados na calibração para verificar as respostas do modelo a situações novas.
Ambos os períodos devem conter anos de características médias e anos húmidos e secos.

Para ilustrar essa partição dos dados em dois períodos, apresenta-se a aplicação dos modelos
de Thornthwaite e Mather e de Témez para a simulação dos escoamentos mensais na bacia
2
hidrográfica do rio Licungo em Gurué, estação hidrométrica E90, cuja área é cerca de 140 km . Os
dados hidrometeorológicos para a aplicação, constituídos por valores da precipitação mensal
(Thiessen), da evapotranspiração potencial mensal média (Thornthwaite) e do escoamento mensal,
todos expressos em altura de água uniformemente distribuída sobre a bacia, no período constituído
pelos anos hidrológicos de 1964/65 a 1974/75, foram extraídos de Vaz (2010).

Na Figura 10.18 apresentam-se os escoamentos mensais observados (HO) e os escoamentos


mensais obtidos pelo modelo de Thornthwaite e Mather (H TM) e pelo modelo de Témez (H Tz), de
outubro de 1964 a setembro de 1975. Os modelos foram calibrados com os dados dos três primeiros
anos, utilizando a função-objetivo SQE e o suplemento Solver do MS Excel.

10.41
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

350.0
Calibração Verificação

300.0

250.0
H TM, H Tz, HO (mm)

200.0 HO

H TM

150.0 H Tz

100.0

50.0

0.0
0 20 40 60 80 100 120 140
Mês

Figura 10.18 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué

A análise da Figura 10.18 revela, quer no período de calibração, quer no de verificação, que
os modelos se comportam de modo muito semelhante no que respeita aos escoamentos mensais entre
médios e elevados e que, no que respeita aos escoamentos baixos, no período seco dos anos
hidrológicos, o modelo de Témez parece fornecer escoamentos mensais ligeiramente mais elevados.
Ambos os modelos subestimam o escoamento mensal máximo em seis dos onze anos de registo.

No Quadro 10.8 apresentam-se os valores atribuídos aos parâmetros dos modelos, às


condições iniciais e os critérios de comparação para os períodos de calibração (1964/65 a 1966/67),
de verificação (1967/68 a 1974/75) e total (1964/65 a 1974/75).

Quadro 10.8 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué. Parâmetros, condições iniciais e critérios de comparação.

Modelo Thornthwaite e Mather Témez

Rmax = 37,0 mm C = 1,0

Parâmetros FHD = 0,0 Rmax = 26,8 mm

KHB = 0,474 IPmax = 1043,9 mm


-1
 = 0,0187 d

10.42
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

R0 (mm) 0,0 0,0

D0 (mm) 28,0 31,0

Período Calibraçã Verificação Total Calibraçã Verificação Total


o o
2
SQE (mm ) 28962 112477 14143 26276 107697 13397
9 4

REQM (mm) 28,4 34,2 32,7 27,0 33,5 31,9

MAE (mm) 19,7 24,2 23,0 18,9 22,6 21,6

 (mm) -12,3 -11,8 -12,0 -0,2 -1,0 -0,8

NS (-) 0,845 0,724 0,760 0,859 0,735 0,773

r (-) 0,933 0,870 0,890 0,925 0,857 0,878

Os valores que se obtiveram para os parâmetros de cada um dos modelos parecem


conceptualmente compatíveis. Efetivamente, em ambos os modelos, a retenção máxima é muito
semelhante e da mesma ordem de grandeza. Também no que diz respeito à detenção, verifica-se que
o valor do parâmetro  do modelo de Témez corresponde a um coeficiente de esgotamento de 0,429
que é bastante próximo do valor de KHB, e que a detenção máxima atingida no período total é
muito semelhante – 329,4 mm no modelo de Thornthwaite e 359,9 mm no modelo de Témez.
Embora o valor de IPmax pareça exageradamente elevado, o superavit hídrico máximo e o
escoamento máximo atingidos nos dois modelos são muito semelhanes – superavit máximo de
509,3 mm no modelo de Thornthwaite e de 503,6 mm no modelo de Témez, e escoamento de 296,4
mm no modelo de Thornthwaite e de 324,4 mm no de Témez. A maior diferença entre os dois
modelos ocorre no escoamento direto que, como indica o valor de FHD, é nulo no modelo de
Thornthwaite e chega ao valor máximo de 164 mm no modelo de Témez. O valor do parâmetro C
do modelo de Témez foi determinado pela restrição a um máximo unitário.

Considerou-se que a retenção inicial, R0, era nula, por se tratar do início do ano hidrológico,
e atribuiu-se à detenção inicial, D0, em cada um dos modelos, o valor que permitia simular
exactamente o primeiro escoamento mensal, o de outubro de 1964.

O somatório do quadrado dos erros, SQE, como se poderia esperar, cresce em cada modelo
com o tamanho do período de tempo. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta menores valores
para o modelo de Témez.

A raiz quadrada do erro quadrático médio, REQM, e a média dos valores absolutos dos
erros, MAE, como seria de esperar em cada um dos modelos, são menores no período de calibração,
maiores no período de verificação e apresentam valores intermédios no período total, que engloba a
calibração e a verificação. Nos períodos de tempo homólogos, apresentam menores valores para o
modelo de Témez.

O erro médio,  , indicador de erro sistemático, confirma a observação que se fez em relação
aos gráficos da Figura 10.18 – ambos os modelos subestimam frequentemente o escoamento mensal,
quer quando este é elevado, quer quando este é baixo. Curiosamente, o erro médio do modelo de
Thornthwaite no período de verificação encontra-se mais perto de zero do que no período de

10.43
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

calibração. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta valores significativamente mais perto de
zero para o modelo de Témez.

A eficiência de Nash e Sutcliffe, NS, como seria de esperar em cada um dos modelos, é
maior no período de calibração, menor no período de verificação e apresenta valor intermédio no
período total. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta valores ligeiramente maiores para o
modelo de Témez.

O coeficiente de correlação linear, r, como seria de esperar em cada um dos modelos, é


também maior no período de calibração, menor no período de verificação e apresenta valor
intermédio no período total. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta valores ligeiramente
maiores para o modelo de Thornthwaite e Mather.

As considerações feitas indicam que nesta aplicação dos modelos à bacia do rio Licungo em
Gurué, em qualquer dos períodos de tempo, o modelo de Témez comporta-se melhor em cinco dos
seis critérios analisados, e também que a qualidade do ajustamento não se deteriora
significativamente do período de calibração para o período de verificação em qualquer dos modelos.
Em conclusão, este facto confere alguma confiança na utilização com a mesma parametrização e
com novos dados dos dois modelos nesta bacia hidrográfica, em particular e com maior força de
razão para a utilização do modelo de Témez.

As técnicas utilizáveis para a otimização da função-objetivo constituem por si só um vasto


domínio. Podem distinguir-se técnicas de otimização direta, quando esta é feita numericamente, por
tentativas, a partir do cálculo de valores da função-objetivo em determinados pontos do seu
domínio, e técnicas de otimização indireta, quando esta é feita analiticamente, pela resolução de
sistemas de equações estabelecíveis pela teoria dos extremos no cálculo diferencial e variacional. Na
otimização com restrições, dois métodos podem ser aplicáveis: o das funções de penalização e os da
programação matemática, linear ou não. No primeiro, a função-objetivo é modificada fora do
domínio restringido, de modo a afastar o seu valor do eventual valor óptimo; no segundo, tira-se
partido sobretudo das restrições na solução do problema. O método de Dantzig na programação
linear é um exemplo característico, a ele se reduzindo muitos dos métodos da programação não
linear.

As restrições a considerar em modelos hidrológicos são em geral fracas, por exemplo,


parâmetros todos positivos, e dependem do grau de conceptualização física dos modelos. Muitas
vezes passam-se para a otimização, sob a forma de restrições, conceitos como o da conservação da
massa. A determinação de hidrogramas unitários sujeita à restrição de que as suas ordenadas devem
somar uma unidade constitui um exemplo vulgar.

As técnicas mais comummente referidas na calibração de modelos hidrológicos são as de


pesquisa direta de Rosenbrock, Hooke e Jeeves, Powel e Nelder e Meed.

A escolha de uma das técnicas disponíveis baseia-se sobretudo na velocidade de


aproximação ao objetivo e na precisão final, ambas dependentes do tipo de função-objetivo, dos
valores iniciais dos parâmetros e do passo utilizado na pesquisa do ótimo. Alguns dos problemas
que se encontram na forma da superfície representada pela função-objetivo ligam-se à eventual
existência de vários extremos locais, à eventual existência de pontos de inflexão com gradiente nulo,
à eventual existência de zonas de interdependência dos parâmetros (vales apertados numa
interpretação tridimensional) e à eventual existência de zonas de valor constante (patamares). A
possibilidade de ter ocorrido qualquer dos problemas atrás enunciados obriga sempre à crítica
posterior dos resultados encontrados, à luz da física dos processos modelados.

10.44
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

A análise gráfica dos valores simulados e dos observados, assim como a dos desvios entre os
dois, deve também ser utilizada como auxiliar de crítica à calibração do modelo.

EXERCÍCIOS
-7 -1
10.1 A constante de determinado reservatório linear é k = 7x10 s . Exprima a constante em
-1
unidades de d e calcule o tempo médio de residência no reservatório em dias e as
constantes de esgotamento e de recessão diárias.

10.2 A constante de esgotamento diário de um reservatório linear é 0,118. Calcule a constante de


recessão horária desse reservatório.

10.3 Mostre que o caudal efluente de um reservatório linear que, a partir de determinado instante
t0, passou a ser alimentado com um caudal constante Ic é


Q(t )  Q 0 e k ( t t 0 )  I c 1  e k ( t t 0 ) 
onde Q 0  Q(t 0 ) e que, nessas condições, para o intervalo de tempo entre ti-1 e ti, é

Qi  Qi1 K r  I c 1  K r 

onde Kr representa a constante de recessão para esse intervalo de tempo.


2
10.4 Em determinada bacia hidrográfica com 50 km de área registou-se a precipitação horária e
o caudal instantâneo que se apresentam no quadro seguinte. Indica-se a precipitação horária
no fim do intervalo de tempo durante o qual ocorreu.
3 3
t (h) P (mm) Q (m /s) t (h) P (mm) Q (m /s)
0 - 1,00 8 5 72,00
1 0 0,95 9 1,2 59,37
2 3 0,90 10 0 27,75
3 1 0,86 11 0 12,12
4 0 0,81 12 0 4,10
5 0 0,77 13 0 3,90
6 10 29,25 14 0 3,70
7 3 66,12 15 0 3,52

Considere apenas um reservatório para simular a recessão do escoamento.

a) Desenhe o hietograma e os hidrogramas linear e logarítmico.


b) Proceda à separação entre o escoamento direto e o escoamento de base.
3
c) Estime o volume de escoamento direto (m ) e exprima-o em altura (mm).
d) Proceda à determinação das perdas inicial e distribuída da precipitação, utilizando o
método do índice .
e) Estime a recarga das reservas detidas abaixo da superfície da bacia (mm), entre o início
e o fim do escoamento direto.
f) Estime a retenção de água na bacia neste período (mm).

10.45
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

10.5 Utilizando a precipitação mensal média e a evapotranspiração mensal média que se


apresentam no Quadro 10.4 e os parâmetros da última coluna do Quadro 10.5, confirme os
valores anuais que se obtiveram com o modelo de Thornthwaite e Mather para a
evapotranspiração, défice hídrico, superavit hídrico e escoamento.

10.6 Com base nos resultados do exercício anterior, classifique o clima da região onde se situa a
bacia hidrográfica.

10.7 Mostre que no modelo de Thornthwaite e Mather podem substituir-se os passos (7) e (8) por
um único passo definido por

H i  1  KHB H i1  KHB Si


ou por

H i  KHB  1  KHB j Si j
j0

10.8 Utilizando os resultados do modelo de Témez (Quadro 10.6), determine o défice hídrico e o
superavit hídrico anuais no ano médio.

10.9 No modelo de Témez, considere que a infiltração profunda ocorre uniformemente


distribuída durante o mês, em vez de concentrada a meio do mês, e mantenha os restantes
conceitos. Considerando os dados que se apresentam no Quadro 10.6, analise as alterações
que esta mudança produz nos resultados do modelo.

10.10 Para os mesmos pares de valores observados e valores estimados, mostre que a relação entre
a raiz do erro quadrático médio, a média dos valores absolutos dos erros e a média dos erros
é REQM  MAE   .

10.46
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

BIBLIOGRAFIA
Abbott, M. B., J. C. Bathurst, J. A. Cunge, P. E. O’Connell e J. Rasmussen, An introduction to the
European Hydrological System – Systeme Hydrologique Europeen, “SHE”, 1: history
and philosophy of a physically-based, distributed modelling system, Elsevier Sci. Pub.,
Journal of Hydrology, 87, 45-59, 1986.

Abbott, M. B., J. C. Bathurst, J. A. Cunge, P. E. O’Connell e J. Rasmussen, An introduction to the


European Hydrological System – Systeme Hydrologique Europeen, “SHE”, 2: structure
of a physically-based, distributed modelling system, Elsevier Sci. Pub., Journal of
Hydrology, 87, 61-77, 1986.

Beven, K. J., Rainfall-runoff modelling. The primer, John Wiley & Sons, 2001.

Burnash, R. J. C., R. L. Ferral e R. A. McGuire, A generalized streamflow simulation system.


Conceptual modeling for digital computers, Joint Federal-State River Forecast Center, U.
S. Dept. of Commerce, National Weather Service, 1973.

Crawford, N. H. e R. K. Linsley, Digital simulation in hydrology, Dept. of Civil Eng., Stanford


University, Tech. Report no. 39, 1966.

Dunne, T. e L. B. Leopold, Water in environmental planning, Freeman and Co., 1978.

Hipólito, J. R., NWSIST: Um sistema de simulação contínua de processos hidrológicos,


dissertação de doutoramento, IST, Lisboa, 1985.

Krause, P., D. P. Boyle e F. Base, Comparison of different efficiency criteria for hydrological
model assessment, Advances in Geosciences, 5, 89-97, 2005.

Krayenhoff Van De Leur, D. A., A study of non-steady ground water flow with special reference
to a reservoir coefficient, De Ingenieur, vol. 70, nº 19, 1958.

Kuester, J. L. e J. H. Mize, Optimization techniques with Fortran, McGraw-Hill, 1973.

Lencastre, A. e F. M. Franco, Lições de hidrologia, UNL, FCT, 1984.

Linsley, R. J., M. A. Kohler e J. L. H. Paulhus, Hydrology for engineers, Int. Stud. Ed., McGraw-
-Hill, 1982.

McCabe, G.J. e S. L. Markstrom, A monthly water-balance model driven by a graphical user


interface, U.S. Geological Survey Open-File report 2007-1088, 2007.

Quintela, A. C., Recursos de águas superficiais em Portugal continental, dissertação de


doutoramento, IST, 1967.

Schwefel, H. P., Numerical optimization of computer models, John Wiley & Sons, 1981.

Shaw, E. M., Hydrology in practice, Van Nostrand Reinholf (Intern.), 1988.

Sorooshian, S. e J. A. Dracup, Stochastic Parameter Estimation Procedures for Hydrologic


Rainfall-Runoff Models: Correlated and Heteroscedastic Error Cases, Water Resources
Research, vol. 16, 2, 1980.

10.47
Modelos de transformação da precipitação em escoamento

Témez Peláez, J. R., Modelo matemático de transformación “precipitación-aportación”,


Associación de Investigación Industrial Eléctrica (ASINEL), 1977.

Thornthwaite, C. W., An approach toward a rational classification of climate, Geographical


Review, vol. 38, nº 1, 1948.

Thornthwaite, C. W. e J. R. Mather, The water balance, Lab. of Climatology, pub. nº 8, Centerton,


New Jersey, 1955.

Thornthwaite, C. W. e J. R. Mather, Instructions and tables for computing potential


evapotranspiration and the water balance, Lab. of Climatology, pub. nº 10, Centerton,
New Jersey, 1957.

Turc, L., Calcul du bilan de l’eau. Evaluation en fonction des precipitations et des temperatures,
IAHS Rome Symp., pub. 38, 1954.

USACE, HEC-1 flood hydrograph package user’s manual, Hydrologic Eng. Center, U. S. Army
Corps of Eng., Davis, 1990.

USACE, Hydrologic modeling system HEC-HMS. Technical reference manual, Hydrologic Eng.
Center, U. S. Army Corps of Eng., Davis, 2000.

Vaz, J. A. M. C., Modelos de transformação da precipitação em escoamento à escala mensal:


aplicação a três casos de estudo em Moçambique, dissertação de mestrado, IST, 2010.

10.48

Você também pode gostar