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Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Lista de Figuras
Figura 10.1 – Tipos de modelos de processos hidrológicos 10.4
Figura 10.2 – Representação esquemática da estrutura do modelo SHE (adaptada de Abbott et al.,
1986) 10.6
Figura 10.3 – Fluxograma do modelo Stanford Watershed Model IV (adaptada de Crawford e
Linsley, 1966) 10.7
Figura 10.4 – Representação pictográfica dos conceitos utilizados no Sacramento Soil Moisture
Accounting Model (adaptada de Burnash et al., 1973) 10.8
Figura 10.5 – Esquema ilustrativo da formação do escoamento 10.9
Figura 10.6 – Ilustração de um reservatório linear 10.11
Figura 10.7 – Ilustração para a análise do hietograma e dos hidrogramas 10.14
Figura 10.8 – Ilustração para a separação do escoamento de base e do escoamento direto 10.17
Figura 10.9 – Representação gráfica da fórmula de Turc 10.19
Figura 10.10 – Relações da precipitação anual com a evapotranspiração anual e o escoamento anual
10.20
Figura 10.11 – Relações regionais de Quintela (adaptada de Quintela, 1967) 10.21
Figura 10.12 – Representação do modelo de Thornthwaite e Mather 10.22
Figura 10.13 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather. Variáveis de entrada e de saída
10.30
Figura 10.14 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather. Análise da sensibilidade da função-
objetivo 10.31
Figura 10.15 – Representação do modelo de Témez 10.32
Figura 10.16 – Aplicação do modelo de Témez. Variáveis de entrada e de saída 10.35
Figura 10.17 – Aplicação do modelo de Témez. Análise da sensibilidade da função-objetivo 10.38
Figura 10.18 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué 10.42
10.2
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Lista de Quadros
Quadro 10.1 – Classificação do clima pelo índice hídrico 10.25
Quadro 10.2 – Subtipos de climas húmidos 10.25
Quadro 10.3 – Subtipos de climas secos e áridos 10.26
Quadro 10.4 – Aplicação do modelo de Thornthwaite e Mather 10.28
Quadro 10.5 – Efeitos da fixação de FHD 10.32
Quadro 10.6 – Aplicação do modelo de Témez 10.36
Quadro 10.7 – Efeitos da fixação de C 10.38
Quadro 10.8 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué. Parâmetros, condições iniciais e critérios de comparação. 10.42
10.3
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.1 INTRODUÇÃO
A medição e o registo sistemático das variáveis que intervêm no ramo terrestre do ciclo
hidrológico começaram em muitos países pela precipitação, eventualmente por estar na origem do
processo de formação do escoamento e por ser relativamente fácil a sua medição pontual à escala
diária. Assim, inicialmente, para obter ou aumentar a informação sobre o escoamento, de modo a
melhor dimensionar a implantação de pontes, órgãos de armazenamento como albufeiras ou
reservatórios e sistemas de abastecimento de água e de rega, poder-se-iam utilizar modelos de
transformação da precipitação em escoamento alimentados com a informação disponível sobre a
precipitação. O primeiro modelo matemático em hidrologia é geralmente creditado a Pierre Perrault,
que em 1674 mostrava que o escoamento anual do rio Sena em Aignay-le-Duc era da ordem de 1/6
da precipitação sobre a respetiva bacia hidrográfica.
Modelos de processos
Físicos Matemáticos
Modelos físicos são os que na reprodução das quantidades relevantes utilizam medição e
manipulação de grandezas físicas, podendo ser modelos semelhantes ou modelos analógicos. Os
modelos físicos semelhantes utilizam o mesmo processo em escalas diferentes, e os modelos físicos
analógicos utilizam processos físicos de natureza diferente do que se pretende modelar, mas para os
quais existem modelos matemáticos relacionáveis com os do processo protótipo.
10.4
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.5
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Evapotranspiração Preci-
pita-
ção
Interceção pela
vegetação
Fusão da neve e
do gelo
Zona radicular
Figura 10.2 – Representação esquemática da estrutura do modelo SHE (adaptada de Abbott et al.,
1986)
Figura 10.4, uma representação dos conceitos utilizados no modelo de Sacramento, dois dos
modelos mais representativos do tipo conceptual e que mais sucesso têm tido ao longo do tempo. O
primeiro, mantido e ainda em utilização pelo U. S. Geological Survey, e o segundo, pelo U. S.
National Weather Service, associados a programas de bases de dados, de representação gráfica, de
otimização de parâmetros e a sistemas de informação geográfica que facilitam a interface com os
utilizadores.
10.6
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.7
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Água retida
Zona
superior
Água detida Escoamento
direto
Escoamento Escoamento
hipodérmico superficial
Zona Água Água Água Água
inferior detida retida retida detida
primária suple-
mentar
Escoamento
de base
Figura 10.4 – Representação pictográfica dos conceitos utilizados no Sacramento Soil Moisture
Accounting Model (adaptada de Burnash et al., 1973)
Alguns modelos têm uma estrutura de tal modo simplificada que apenas simulam situações
que ocorrem num intervalo de tempo bem delimitado, como por exemplo uma cheia. Designam-se
tais modelos por modelos de simulação de eventos ou de acontecimentos. Em contrapartida, os
modelos com estrutura suficiente para simularem largos intervalos de tempo (anos), são designados
por modelos de simulação contínua.
Podem ainda distinguir-se dois tipos de operação dos modelos: em tempo diferido e em
tempo real. A operação em tempo diferido é utilizada em gabinete, muitas vezes para
dimensionamento ou planeamento, com dados recolhidos anteriormente e resultados não utilizáveis
imediatamente em operações do tipo de controlo automático. A operação em tempo real utiliza
dados acabados de recolher e teletransmitidos, sendo os resultados imediatamente utilizáveis em
operações de previsão e de controlo automático.
10.8
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Parte da precipitação que ocorre sobre a bacia é intercetada pela vegetação e fica aderente à
folhagem e caules ou armazenada em espaços onde as folhas se inserem e em espaços definidos nas
ramificações dos caules, de onde se evapora e, portanto, não participando na formação do
escoamento. As depressões impermeáveis do terreno impedem a passagem da água para jusante,
acumulando-a até que estejam preenchidas. A água intercetada pela vegetação e armazenada nas
depressões impermeáveis do terreno, que não participa na formação do escoamento e é esgotada por
evaporação, constitui uma parcela do volume precipitado que se designa por retenção superficial.
10.9
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Nos terrenos permeáveis da bacia hidrográfica, a água infiltra-se e pode percolar, quando em
excesso da capacidade de campo dos solos, até aos aquíferos subterrâneos.
Estes aquíferos, quando intercetados pelos cursos de água, drenam para eles, constituindo
uma fonte de alimentação ao longo do seu percurso; quando subjacentes ao fundo permeável do
curso de água, podem por este ser alimentados; e, nas encostas que os intercetem, podem dar origem
a nascentes de água.
Parte da água que se infiltra não chega a atingir os aquíferos subterrâneos, escoando-se
preferencialmente na direção horizontal, em regiões onde a permeabilidade horizontal dos solos é
superior à permeabilidade vertical, e ressurgindo à superfície das encostas, em virtude do declive
destas.
Parte da água que se precipita sobre a bacia hidrográfica cai diretamente nas superfícies
livres dos cursos de água ou em zonas ribeirinhas que podem eventualmente ficar saturadas e,
portanto, com permeabilidade muito reduzida. Estas zonas, em períodos secos, têm dimensões muito
reduzidas, mas, em períodos de precipitação elevada, podem atingir uma dimensão apreciável no
contexto da bacia hidrográfica.
Embora de modo algo difuso, é usual distinguir, quanto ao seu percurso na bacia, os
seguintes tipos nos volumes de escoamento que atingem a secção de referência:
– escoamento direto constituído pela água que se precipita diretamente na superfície livre dos
cursos de água e nas zonas ribeirinhas saturadas;
– escoamento superficial constituído pela água precipitada sobre a bacia, donde se excetuam
as zonas ribeirinhas saturadas e os cursos de água, que se escoa sempre à superfície do
terreno;
– escoamento subsuperficial, hipodérmico ou intermédio constituído pela água que se infiltrou
e ressurgiu à superfície sem ter atingido os aquíferos subterrâneos;
– escoamento subterrâneo constituído pela água drenada dos aquíferos subterrâneos.
Dado o carácter difuso e pouco rigoroso da classificação anterior, é também usual encontrar
com o mesmo carácter e maior simplificação apenas dois tipos de escoamento: escoamento direto e
escoamento de base. O primeiro, associado principalmente aos escoamentos direto e superficial,
constituído pelos volumes que mais rapidamente atingem a secção de referência, e o segundo,
associado principalmente ao escoamento subterrâneo, pelos volumes que lentamente vão drenando
para os cursos de água, por vezes até muito depois da paragem da precipitação.
10.10
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Assim, para simular o comportamento dos solos, pode utilizar-se um reservatório cuja
capacidade é semelhante à água utilizável pelas plantas, ou seja, à diferença entre a capacidade de
campo e o ponto de emurchecimento permanente, expressa em volume ou em altura de água
uniformemente distribuída na área da bacia hidrográfica. A água em excesso da capacidade deste
reservatório fica disponível para o escoamento superficial e para a percolação em direção aos
aquíferos subterrâneos. A água nele contida é esgotada apenas através da evapotranspiração.
A interação entre os aquíferos subterrâneos e os cursos de água para os quais drenam pode
ser modelada com a utilização de reservatórios em que o caudal descarregado é proporcional ao
volume de água que contêm (Krayenhoff, 1958). Designam-se esses reservatórios por reservatórios
lineares.
V QkV
QkV (10.1)
onde
Q representa o caudal efluente do reservatório,
V , o volume armazenado no reservatório, e
k, a constante do reservatório.
O esgotamento de um reservatório linear, que ocorre quando este não está a ser alimentado,
pode então ser modelado utilizando o princípio da conservação da massa:
dV
IQ
dt
10.11
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Q
que com I = 0 e V se transforma em
k
1 dQ
Q
k dt
Q Q 0 e k ( t t 0 ) (10.2)
Quando se considera o tempo discretizado em intervalos t, com início em t0, obtém-se ao
longo do esgotamento do reservatório:
Qi Qi1 e k t (10.3)
Vi Vi1 e k t (10.4)
ou
K 1 e k t (10.6)
Qi Qi1 (1 K) (10.7)
e a sua aplicação a n intervalos de tempo sucessivos, com início em t0, mostra que
Q n Q 0 1 K
n
(10.8)
O caudal médio no intervalo de tempo j, Q j ,que decorre entre os instantes tj-1 e tj, é dado
por
10.12
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
1 tj Q j1
Qj
t t j1 Q dt k t K (10.10)
de onde se reconhece que a diminuição do caudal médio de um intervalo para o seguinte segue uma
lei idêntica à do caudal instantâneo nos extremos de cada intervalo de tempo:
Qj Qi
1 K (10.11)
Q j1 Q i 1
que a constante de esgotamento, K, pode também ser determinada por
1
Q n 1
K 1 n (10.12)
Q1
Qi Δt
Vi 1 (10.13)
K
Linsley et al. (1982) designam por constante de recessão, Kr, a razão existente, durante o
esgotamento do reservatório com alimentação nula, entre os caudais no fim e no início do intervalo
de tempo considerado. Será
Kr 1 K (10.14)
Faz-se notar que tanto K como Kr, embora adimensionais, dependem do intervalo de tempo
considerado.
1 1
k ln(1 K) ln(K r ) (10.15)
Δt Δt
Quando o reservatório estiver a ser alimentado com o caudal I, o caudal efluente pode ser
calculado através do seguinte esquema de diferenças finitas:
2 k Δt 2 k Δt
Qi I Q i 1 (10.16)
2 k Δt 2 k Δt
onde I representa o caudal médio entrado no reservatório no intervalo de tempo t limitado pelos
instantes ti-1 e ti.
10.13
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.14
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Pode começar-se por identificar a data em que o caudal começa a subir nas cheias mais
importantes e a precipitação associada a essas cheias.
Procuram-se depois os dias em que, embora tenha havido precipitação, não parece notar-se o
seu efeito nos hidrogramas, em especial no hidrograma em escala linear. Parece ser o caso das
precipitações, assinaladas nos hietogramas por círculos a azul, que ocorreram em outubro, fim de
março e princípio de abril e ainda em junho e julho. A precipitação total em cada um dos períodos
assinalados encontra-se inscrita junto aos círculos. O valor máximo é 28,8 mm e ocorreu entre os
meses de Junho e Julho. Tendo em consideração que quando ocorre precipitação o défice de
humidade do ar deve ser pequeno e que estando o céu nublado a radiação solar disponível à
superfície deve ser mais baixa do que com o céu limpo e, portanto, que a evapotranspiração deve ser
pequena, então, esse valor máximo deve aproximar o valor máximo da retenção superficial
adicionado à água infiltrada no solo até à capacidade de campo, ou seja, o valor máximo da
retenção superficial e da retenção no solo.
1
2,76 13
K r1 0,982
3,50
Admitindo que o que falta para o caudal total nesses dias provém do escoamento
subsuperficial, então a constante de recessão diária para o escoamento subsuperficial será
1
2,87 2,76 13
K r2 0,890
4,01 3,50
10.15
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Os caudais máximos destas duas curvas de recessão permitem calcular os volumes máximos
que lhes correspondem e que se encontram detidos no solo e nos aquíferos subterrâneos nos instantes
em que ocorrem. Admitindo que os referidos caudais máximos ocorrem no último dia com
precipitação significativa, 6 de janeiro, então o caudal médio diário máximo para o escoamento
subterrâneo será
3,50 3
Q max 1 17
4,77 m /s
0,982
0,51 3
Q max 2 17
3,70 m /s
0,890
4,77 x 86400 3
Vmax 1 22 896 000 m
1 0,982
3,70 x 86400 3
Vmax 2 2 906182 m
1 0,890
Exprimindo estes volumes em altura uniformemente distribuída sobre a área da bacia obtém-
se Vmax1 = 79 mm e Vmax2 = 10 mm.
Faz-se notar que os elementos analisados se referem a um ano seco (a precipitação anual
neste ano foi de 861 mm e em média a precipitação anual é 1511 mm). Para se determinarem as
capacidades máximas dos reservatórios de água detida no solo e nos aquíferos subterrâneos devem
ser utilizados elementos relativos a anos húmidos, que conduzirão a capacidades máximas que
poderão ser bastante superiores aos valores obtidos. Efetivamente, o caudal total máximo registado
3
no ano analisado foi da ordem de 40 m /s, e o caudal de ponta com um período de retorno de 100
3
anos é da ordem dos 800 m /s, podendo, com este valor de caudal, as recessões no hidrograma
logarítmico elevar-se um ciclo no eixo logarítmico, ou seja, da ordem das 10 vezes.
O instante onde no hidrograma o caudal começa a aumentar, assinalado pela linha tracejada
da esquerda, assinala o início do escoamento direto e delimita o fim das perdas iniciais da
precipitação para o escoamento direto. Considera-se que a precipitação que ocorreu imediatamente
antes do início da subida do caudal contribuiu apenas para o aumento da água da água retida à
superfície e no solo.
10.16
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
60
50
40
Precipitação (mm)
30
20
Perdas iniciais
10
Perdas distribuídas
0
1-Mai 11-Mai 21-Mai 31-Mai 10-Jun 20-Jun
Dia
45
40
35
30 Escoamento direto
Caudal (m /s)
3
25
20
15
10
5
Escoamento de base
0
1-Mai 11-Mai 21-Mai 31-Mai 10-Jun 20-Jun
Dia
Depois desse instante, continuará a haver perdas da precipitação para o escoamento direto,
essencialmente no preenchimento da capacidade restante de retenção e na capacidade de infiltração
que deverá ir diminuindo ao longo do tempo. Designam-se tais perdas para o escoamento direto por
perdas distribuídas.
Ilustram-se na Figura 10.8 dois dos métodos mais utilizados na obtenção do escoamento
direto.
Num dos métodos, prolonga-se a curva de recessão que antecede a cheia até ao instante da
ocorrência da ponta, assinalada no hidrograma pelo tracejado da direita, unindo-se depois esse ponto
10.17
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
com um ponto na curva de recessão posterior. Linsley et al. (1982) indicam que tal ponto deve estar
afastado do instante da ocorrência da ponta de cheia um número N de dias dado por
O escoamento de base fica então definido pela recessão anterior à ocorrência da cheia, a
linha de separação traçada por um dos dois métodos referidos e a recessão posterior à ocorrência da
cheia. A diferença entre o caudal total e o caudal do escoamento de base define o escoamento direto
que na figura se representa acima do escoamento de base. O escoamento direto tem início no
instante em que se inicia a subida do caudal total e termina na intersecção da linha de separação
com a curva descendente do caudal total.
Um dos métodos mais utilizados para proceder a essa separação é designado por método do
índice e consiste na adopção do valor de um patamar constante de precipitação, a partir da subida
do hidrograma e das perdas iniciais, acima do qual a precipitação é considerada efetiva. Faz-se notar
que o valor desse patamar poderá variar de cheia para cheia, em virtude das condições antecedentes
de humidade no solo ou de precipitação antecedente sobre a bacia. Efetivamente, o teor de humidade
inicial condiciona a capacidade de infiltração, que será tanto menor quanto maior for esse teor de
humidade.
Como se referiu no Capítulo 2, para períodos de tempo de vários anos (20 ou mais anos) ou
para o ano hidrológico, a equação do balanço hídrico numa bacia hidrográfica com escoamento
subterrâneo para o exterior desprezável e na qual os transvases sejam nulos ou se compensem pode
ser simplificada para
P HE (10.18)
P HE (10.19)
onde
P representa a precipitação anual sobre a bacia (mm ou m3),
H, o escoamento anual na secção de referência (mm ou m3), e
E, a evapotranspiração anual da bacia (mm ou m3).
10.18
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Com base na análise de 254 bacias hidrográficas situadas na Europa, em África, na América
e em Java, Turc (1954) estabeleceu a seguinte relação, que tem tido larga utilização, entre a
evapotranspiração anual média (mm) e a precipitação anual média (mm):
P
E , P 0,1 L
2
P
0,9
L
(10.20)
E P , P 0,1 L
com
onde
T representa a temperatura média anual (ºC), e
L, o poder evaporante da atmosfera (mm).
Faz-se notar que o limite da evapotranspiração anual média quando a precipitação anual
média tende para infinito é o poder evaporante da atmosfera.
2000
1800 T (ºC)
Evapotranspiração anual média (mm)
1600 30
1400
25
1200
20
1000
800 15
600 10
5
400
200
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
10.19
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
E H
Em
Em
P0 Pm P P0 Pm P
Figura 10.10 – Relações da precipitação anual com a evapotranspiração anual e o escoamento anual
H b1P a 1 (10.22)
H b2P2 a 2 (10.23)
ou
H b 3 (P P0 ) 2 (10.24)
onde os parâmetros a1, a2, b1, b2, b3 e P0 são determinados pelo método do mínimo dos quadrados
em cada uma das respetivas equações.
Quintela (1967) analisou para várias bacias hidrográficas portuguesas a relação entre o
escoamento anual e a precipitação anual, tendo expressado essa relação em forma gráfica e
dependente do tipo de solos da bacia e da temperatura média anual. Apresentam-se essas relações,
que se designam por relações regionais de Quintela, na Figura 10.11.
10.20
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Em relação ao tipo de solos, Quintela considerou dois grupos. No Grupo 1 englobou solos
com reduzida capacidade de infiltração quando molhados, constituídos essencialmente por argilas e
solos muito delgados, que dariam origem a um escoamento anual de médio a elevado. No Grupo 2
englobou solos moderadamente profundos a profundos, com moderada a apreciável capacidade de
infiltração, mesmo quando molhados, e que dariam origem a um escoamento anual de médio a
baixo.
O balanço hídrico sequencial mensal tem sido utilizado para analisar e simular componentes
do ciclo hidrológico à escala mensal em variados domínios, como, por exemplo, o balanço hídrico
global, a classificação climática, a estimação da quantidade de água no solo, as necessidades de
irrigação e o impacto das alterações climáticas (McCabe e Markstrom, 2007). Um dos métodos
mais frequentemente utilizados nesse balanço é conhecido por modelo de Thornthwaite e Mather
(1957).
10.21
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
(ETPi); como variáveis de estado no fim do intervalo de tempo, a água retida no solo entre a
capacidade de campo e o ponto de emurchecimento permanente (Ri) e a detenção para o escoamento
(Di); e, como variáveis dependentes ou variáveis de saída ou resultados, os valores mensais da
evapotranspiração real (ETi) e dos escoamentos direto (HDi) e de base (HBi), cuja soma fornece o
escoamento total (Hi). Todas as grandezas são expressas em altura de água uniformemente
distribuída sobre a bacia hidrográfica (mm).
P
ET HD
P-HD
SP
H = HD + HB
Rmax
R
D HB
e necessita como condições iniciais da retenção inicial, R0, e da detenção inicial, D0.
10.22
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Designava-se o somatório em k por acumulado negativo e o seu simétrico por perda potencial
acumulada.
i 1
Pk ETPk
k 1
R i1 Rmax exp Rmax
Pi ETPi
R i R i1 exp Rmax
e obter
Pi ETPi
R i R i R i1 R i1 exp Rmax 1
(10.26)
R i1
R i Pi ETPi (10.27)
Rmax
que se pode traduzir nas seguintes palavras: em determinado mês com precipitação inferior à
evapotranspiração potencial, a variação da água retida é proporcional à retenção relativa no início
desse mês R i1 / Rmax e à diferença entre a precipitação e a evapotranspiração potencial nesse
mês Pi ETPi .
Designa-se por défice hídrico ou défice de evapotranspiração em cada mês (DFi) a diferença
entre a evapotranspiração potencial e a evapotranspiração real.
Na versão que se descreve, adota-se a variação da água retida definida por (10.27), com a
precipitação diminuída do escoamento direto. Note-se que, fazendo FHD = 0, não se considera o
escoamento direto, tal como se fazia na versão original de Thornthwaite e Mather.
R
R i min i1 Pi HDi ETPi , R i1 , se ETPi Pi HDi
(2) Rmax
min Pi HDi ETPi , Rmax R i1 , se ETPi Pi HDi
(3) R i R i1 R i
10.23
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Quando não existirem dados que permitam a calibração do modelo, recomenda-se que para
Rmax se utilize um valor do intervalo que varia entre 50 mm e 400 mm (Dunne e Leopold, 1978),
com uma moda de 100 mm, para FHD valores próximos de 0,05 (McCabe e Markstrom, 2007), e
para KHB valores próximos de 0,5 (Lencastre e Franco, 1984; McCabe e Markstrom, 2007). A
especificação do valor atribuível a Rmax pode ser feita considerando o produto da diferença entre a
capacidade de campo e o ponto de emurchecimento permanente do solo pela profundidade radicular
da cultura agrícola nele instalada ou da vegetação nele existente. A especificação do valor atribuível
a KHB deve ter em conta a dimensão da bacia hidrográfica – a bacias hidrográficas de pequena
dimensão correspondem em geral valores superiores a 0,5 (Thornthwaite, 1948; Dunne e Leopold,
1978).
DF
Índice de aridez: Ia
ETP
SP
Índice de humidade: Iu
ETP
A classificação do clima pelo índice hídrico obedece aos critérios que se apresentam no
Quadro 10.1.
10.24
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
100 ≤ Ih A Super-húmido
60 ≤ Ih < 90 B3 Húmido
O valor 0 do índice hídrico separa os climas húmidos, Ih ≥ 0, dos climas secos e áridos,
Ih < 0. Em Portugal continental, o índice hídrico é predominante positivo a norte do rio Tejo, e
predominantemente negativo a sul do rio Tejo, não existindo regiões de clima árido. Em
Moçambique, o índice hídrico é positivo nas regiões de maior altitude, como as montanhas da
província de Manica e da Zambézia e os planaltos de Lichinga, Mueda e a norte da província de
Tete. Em quase todo o resto do país, o índice hídrico é negativo, sendo o interior da província de
Gaza uma região de clima árido.
Os climas húmidos podem ainda ser classificados em subtipos, segundo o valor do índice de
aridez e a estação do ano em que ocorre o défice hídrico, como se apresenta no Quadro 10.2.
10.25
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
De modo semelhante, os climas secos e áridos podem ainda ser classificados em subtipos,
segundo o valor do índice de humidade e a estação do ano em que ocorre o superavit hídrico, como
se apresenta no Quadro 10.3.
O modelo de Thornthwaite e Mather tem sido aplicado utilizando uma série de anos com
valores observados da precipitação mensal e valores calculados da evapotranspiração mensal ou
com valores médios da precipitação mensal observada e da evapotranspiração mensal calculada, no
que em geral se refere por ano médio. Frequentemente, os parâmetros do modelo são ajustados para
que o modelo reproduza o escoamento mensal observado, ou o seu valor médio mensal quando se
utiliza o ano médio, de acordo com um critério adequado. Faz-se notar que o ano médio é um ano
fictício que tem uma probabilidade muito pequena de ocorrer e no qual o coeficiente de variação
mensal das variáveis intervenientes é inferior à média dos coeficientes de variação dessas variáveis
em cada um dos anos da série considerada.
10.26
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Para não criar a sugestão de que o modelo é que está certo, recorda-se que modelos são
representações que permitem reproduzir com maior ou menor aproximação o comportamento dos
protótipos.
10.27
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.28
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.29
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
250
200
P, ETP, ET, DF, SP, H, HO (mm)
P
150 ETP
ET
DF
SP
100
H
HO
50
0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
A precipitação mensal média foi obtida pelo método dos polígonos de Thiessen com base em
valores diários registados em sete udómetros com influência sobre a bacia hidrográfica.
Os valores numéricos entre parênteses na primeira linha do quadro referem-se aos passos de
cálculo indicados em 10.6.1.1.
O escoamento observado mensal médio (HO) foi obtido por transformação das alturas
hidrométricas observadas em caudal, através da curva de vazão estabelecida para a secção de
referência da bacia hidrográfica e posterior integração deste ao longo dos meses. O escoamento
observado mensal médio refere-se à média de cada um desses meses. Reforça-se a ideia
anteriormente expressa de que este escoamento não ocorreu em resultado da precipitação sobre a
bacia, em qualquer dos anos de registo. Trata-se, assim, apenas de um indicador que se espera que
seja aproximado do que poderia acontecer em resposta à precipitação do ano médio.
10.30
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
A geologia da bacia hidrográfica, constituída em grande parte por granitos que dão origem a
solos moderadamente profundos e permeáveis, leva a aceitar o valor obtido para Rmax. Não seria
no entanto surpreendente que se tivesse obtido um valor ligeiramente superior, da ordem dos 200
mm.
O valor obtido para FHD é superior ao valor geralmente recomendado de 0,05. Tal poderá
ser justificado pela fração de área menos permeável ou impermeável da bacia hidrográfica,
constituída por solos com génese em xistos argilosos, e pela densidade de drenagem, que se
considera relativamente elevada. No entanto, como à frente se descreve, a função-objetivo utilizada
é pouco sensível a variações do valor deste parâmetro.
O valor obtido para KHB é da ordem de grandeza do valor geralmente recomendado de 0,5.
-10 % +10 %
Rmax
FHD
KHB
15 10 5 0 5 10 15
Variação da função-objetivo (%)
10.31
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
diminuem. A diminuição da água que fica retida na bacia compensa parcialmente a diminuição do
escoamento direto.
10.6.2Modelo de Témez
O modelo de Témez (1977) tem também sido frequentemente utilizado em Portugal para
conduzir o balanço hídrico sequencial mensal.
ET P
T HD
IP
Rmax H = HD + HB
R
D HB
O modelo de Témez (Figura 10.15), tal como o de Thornthwaite e Mather (Figura 10.12),
utiliza dois reservatórios para definir o estado do sistema: um dos reservatórios simula a retenção de
água (Ri)e o outro reservatório simula a detenção de água (Di). O modelo utiliza também como
variáveis independentes ou de entrada os valores mensais da precipitação (Pi) e da
10.32
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
e necessita como condições iniciais da retenção inicial, R0, e da detenção inicial, D0.
e o valor de δi, que estabelece o máximo subtraível à precipitação para preencher nesse intervalo de
tempo a capacidade de retenção de água e a evapotranspiração potencial:
Pi P0i 2
Ti (10.31)
Pi i 2P0i
sendo nulo, quando Pi P0i . Verifica-se que o défice do excedente total, Pi Ti , tende para i
quando Pi tende para infinito.
ETi Pi Ti R i (10.33)
onde R i R i R i1 .
10.33
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
IPmax
IPi Ti (10.34)
Ti IPmax
o escoamento direto, de
Pi P0i 2
Ti , se Pi P0i
(3) Pi i 2P0i
0 , se Pi P0i
IPmax
(6) IPi Ti
Ti IPmax
10.34
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Quando não existam dados que permitam a calibração do modelo, Témez (1977) recomenda
que para C se utilize um valor próximo de 0,3, para Rmax se utilize um valor da ordem dos 200
mm, para IPmax, que depende da permeabilidade dos terrenos e do modo como a precipitação se
concentra no mês, se utilize um valor entre 100 mm, em climas com precipitações esporádicas, e
400 mm, em climas com precipitações persistentes, e para se utilize um valor entre 0,03 e 0,07.
O modelo foi aplicado à bacia hidrográfica que se descreveu nessa secção e utilizaram-se as
mesmas variáveis de entrada. No Quadro 10.6 apresentam-se as variáveis intervenientes no processo
de modelação, e na Figura 10.16 ilustram-se algumas dessas variáveis.
250
200
P, ETP, ET, H, HO (mm)
150 P
ETP
ET
H
100 HO
50
0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
10.35
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
i Mês P ETP P0 T R ET IP D HD HB H HO
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
1 Out 116,4 64,2 0,0 351,1 29,0 23,2 64,2 24,0 13,9 5,0 15,5 20,4 18,3
2 Nov 215,5 32,1 0,0 295,8 90,8 115,8 32,1 55,1 32,4 35,8 36,6 72,4 69,1
3 Dez 185,9 18,3 0,0 189,4 92,1 191,3 18,3 55,5 37,6 36,6 50,3 86,9 94,4
4 Jan 208,1 21,2 0,0 116,8 133,3 244,9 21,2 68,2 45,6 65,1 60,2 125,3 129,4
5 Fev 205,5 29,6 0,0 71,6 152,4 268,4 29,6 72,9 50,2 79,5 68,3 147,8 143,5
6 Mar 193,0 53,2 0,0 71,7 140,7 267,5 53,2 70,1 50,0 70,6 70,3 140,9 132,0
7 Abr 108,2 79,4 0,0 98,8 56,6 239,8 79,4 40,3 34,4 16,3 55,8 72,1 72,3
8 Mai 106,3 119,3 0,0 166,5 41,4 185,3 119,3 32,0 25,9 9,5 40,5 49,9 47,7
9 Jun 62,2 146,4 0,0 248,0 12,5 88,7 146,4 11,5 12,9 1,0 24,4 25,4 26,9
1 Jul 21,1 167,9 0,0 366,2 1,1 0,0 108,6 1,1 4,1 0,0 10,0 10,0 9,7
0
1 Ago 21,2 152,6 0,0 439,5 1,0 0,0 20,2 1,0 1,6 0,0 3,4 3,5 3,5
1
1 Set 67,8 95,5 0,0 382,4 10,2 0,0 57,6 9,5 5,4 0,7 5,7 6,4 3,8
2
Ano 1511,2 979,7 750,1 761,1 750,6
10.36
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
O valor obtido para o parâmetro C indica que a fração de área menos permeável ou
impermeável da bacia hidrográfica, constituída por solos com génese em xistos argilosos, é
suficientemente importante para se considerar a existência de um limiar da precipitação mensal
superior a zero (P0i > 0), a partir do qual ocorra um excedente total (Ti). Assim, qualquer
precipitação dá origem a um excedente total, independentemente das condições antecedentes de
pluviosidade representadas pela água retida (Ri-1).
O valor obtido para Rmax, embora se considere elevado, é da ordem de grandeza do valor
espectável com base na génese granítica de grande parte dos solos da bacia hidrográfica.
O valor obtido para IPmax encontra-se no interior do intervalo recomendado por Témez e,
quando se considera uma infiltração uniforme ao longo do mês, corresponde a cerca de 0,2 mm/h
que se identifica com solos finos. Na realidade, como os episódios de precipitação não são contíguos
nem a intensidade da precipitação é uniforme ao longo do mês, então, a capacidade de infiltração
profunda na bacia hidrográfica deve ser superior ao valor indicado para a infiltração uniforme.
10.37
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
-10 % +10 %
Rmax
IPmax
80 60 40 20 0 20 40 60 80
Variação da função-objetivo (%)
Verifica-se que parece haver, nesta aplicação, uma relação de sentido inverso entre o valor
de C e o de Rmax, ou seja, que, quando C cresce, então Rmax diminui. Em relação a IPmax e a
nota-se a existência de dois extremos locais, no caso de IPmax, e de um extremo local, no caso de .
Efetivamente, a partir de C = 0,2, IPmax cresce com o aumento de C, como acontece de C = 0,0
para C = 0,1, e decresce com o aumento de C, aumentando de C = 0,0 para C = 0,1. Verifica-se
ainda que quando C cresce de 0,0 para 0,4, a evapotranspiração real anual (ET) diminui e o
escoamento anual (H) aumenta, embora para C = 0,1 a evapotranspiração real anual apresente um
máximo e o escoamento anual apresente um mínimo.
Existem hoje dezenas de modelos matemáticos dos vários tipos mencionados na introdução
deste capítulo. Os modelos conceptuais com discretização temporal mensal, como os que se
descreveram de Thornthwaite e Mather e o de Témez, são relativamente simples e utilizam um
número reduzido de parâmetros. Os modelos de simulação contínua, conceptuais ou teóricos, com
10.38
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
discretização diária ou inferior, agregados ou distribuídos, são mais complexos, utilizam um número
elevado de parâmetros e requerem muito mais informação histórica sobre as variáveis hidrológicas,
meteorológicas e fisiográficas.
A escolha do modelo a utilizar deve ter em conta não só o rigor utilizado na sua construção e
a confiança nos resultados que produz, mas também o objetivo a que se destina e a informação que
deve estar disponível para a sua utilização. Efetivamente, quando por exemplo se pretendem
resultados à escala mensal, poder-se-ão utilizar modelos complexos com grande discretização
temporal e cujos resultados acumulados mês a mês produzam os desejados resultados mensais.
Porém, se a informação com essa discretização e a fidedignidade necessária não estiver disponível,
então, os resultados obtidos poderão ser de qualidade inferior à que se obteria com um modelo mais
simples, experimentado em várias regiões e com menor necessidade de dados.
Designa-se por erro de ajustamento duma variável num instante ou num intervalo de tempo
i, i , a diferença nesse instante ou intervalo de tempo entre o valor da variável calculado ou
estimado, x̂ i , e o valor homólogo observado no mesmo instante, xi:
i x̂ i x i (10.39)
Uma das funções-objetivo mais clássica e tradicional, já utilizada nas secções anteriores do
texto para calibrar os modelos de Thornthwaite e de Mather e o de Témez, para N pares de valores
simulados e observados, soma dos quadrados dos erros, SQE, é definida por:
N
Z1 SQE x̂ i x i 2 (10.40)
i 1
10.39
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
1 N
Z 2 MAE x̂ i x i
N i1
(10.41)
1 N
Z 3 REQM x̂ i x i 2 (10.42)
N i1
Por vezes, pondera-se a função do erro com um peso tanto maior quanto maior for o valor
observado nesse instante, como por exemplo na seguinte equação:
N
xi x
x̂ i x i 2 2x
i 1
Z4 (10.43)
N
Tal ponderação tem sido criticada quando se admite que a variância dos erros aumenta com
o aumento do valor observado.
4
Z5 DSE 3
MSE 3 AF (10.44)
onde
DSE representa o erro quadrático médio diário (pé cúbico por segundo e por milha
quadrada),
MSE , o erro quadrático médio mensal (polegada), e
AF, a razão, adicionada de uma unidade, entre o somatório dos erros no escoamento anual e
o somatório da precipitação anual.
s 2
L1 NS 1 (10.45)
s o2
2
L 2 e c s (10.46)
10.40
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Para ilustrar a aplicação de algumas destas funções considerem-se os seguintes pares x; x̂ :
(13,8;8), (13,9;12), (14,0;16) e (14,1;20), nos quais a média do valor observado é 13,95 e a média
do valor estimado é 14,00. Obtém-se então SQE = 76,06, MAE = 3,90, REQM = 4,36 e NS = –
1520,20. Faz-se notar que o coeficiente de correlação linear entre os valores observados e estimados
é r = 1,00, o que indica apenas que existe uma correlação linear perfeita entre esses valores, quando
a regressão é estimada pelo método do mínimo dos quadrados com termo independente. O
coeficiente de correlação, r, é indeterminado quando forem constantes os valores estimados ou os
observados. A eficiência NS é também indeterminada quando os valores observados forem
constantes. Note-se, ainda, que o erro médio é 0,05, o que indica que o erro sistemático é
pequeno ou desprezável.
Para ilustrar essa partição dos dados em dois períodos, apresenta-se a aplicação dos modelos
de Thornthwaite e Mather e de Témez para a simulação dos escoamentos mensais na bacia
2
hidrográfica do rio Licungo em Gurué, estação hidrométrica E90, cuja área é cerca de 140 km . Os
dados hidrometeorológicos para a aplicação, constituídos por valores da precipitação mensal
(Thiessen), da evapotranspiração potencial mensal média (Thornthwaite) e do escoamento mensal,
todos expressos em altura de água uniformemente distribuída sobre a bacia, no período constituído
pelos anos hidrológicos de 1964/65 a 1974/75, foram extraídos de Vaz (2010).
10.41
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
350.0
Calibração Verificação
300.0
250.0
H TM, H Tz, HO (mm)
200.0 HO
H TM
150.0 H Tz
100.0
50.0
0.0
0 20 40 60 80 100 120 140
Mês
Figura 10.18 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué
A análise da Figura 10.18 revela, quer no período de calibração, quer no de verificação, que
os modelos se comportam de modo muito semelhante no que respeita aos escoamentos mensais entre
médios e elevados e que, no que respeita aos escoamentos baixos, no período seco dos anos
hidrológicos, o modelo de Témez parece fornecer escoamentos mensais ligeiramente mais elevados.
Ambos os modelos subestimam o escoamento mensal máximo em seis dos onze anos de registo.
Quadro 10.8 – Aplicação dos modelos de Thornthwaite e Mather e de Témez à bacia hidrográfica
do rio Licungo em Gurué. Parâmetros, condições iniciais e critérios de comparação.
10.42
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
Considerou-se que a retenção inicial, R0, era nula, por se tratar do início do ano hidrológico,
e atribuiu-se à detenção inicial, D0, em cada um dos modelos, o valor que permitia simular
exactamente o primeiro escoamento mensal, o de outubro de 1964.
O somatório do quadrado dos erros, SQE, como se poderia esperar, cresce em cada modelo
com o tamanho do período de tempo. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta menores valores
para o modelo de Témez.
A raiz quadrada do erro quadrático médio, REQM, e a média dos valores absolutos dos
erros, MAE, como seria de esperar em cada um dos modelos, são menores no período de calibração,
maiores no período de verificação e apresentam valores intermédios no período total, que engloba a
calibração e a verificação. Nos períodos de tempo homólogos, apresentam menores valores para o
modelo de Témez.
O erro médio, , indicador de erro sistemático, confirma a observação que se fez em relação
aos gráficos da Figura 10.18 – ambos os modelos subestimam frequentemente o escoamento mensal,
quer quando este é elevado, quer quando este é baixo. Curiosamente, o erro médio do modelo de
Thornthwaite no período de verificação encontra-se mais perto de zero do que no período de
10.43
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
calibração. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta valores significativamente mais perto de
zero para o modelo de Témez.
A eficiência de Nash e Sutcliffe, NS, como seria de esperar em cada um dos modelos, é
maior no período de calibração, menor no período de verificação e apresenta valor intermédio no
período total. Nos períodos de tempo homólogos, apresenta valores ligeiramente maiores para o
modelo de Témez.
As considerações feitas indicam que nesta aplicação dos modelos à bacia do rio Licungo em
Gurué, em qualquer dos períodos de tempo, o modelo de Témez comporta-se melhor em cinco dos
seis critérios analisados, e também que a qualidade do ajustamento não se deteriora
significativamente do período de calibração para o período de verificação em qualquer dos modelos.
Em conclusão, este facto confere alguma confiança na utilização com a mesma parametrização e
com novos dados dos dois modelos nesta bacia hidrográfica, em particular e com maior força de
razão para a utilização do modelo de Témez.
10.44
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
A análise gráfica dos valores simulados e dos observados, assim como a dos desvios entre os
dois, deve também ser utilizada como auxiliar de crítica à calibração do modelo.
EXERCÍCIOS
-7 -1
10.1 A constante de determinado reservatório linear é k = 7x10 s . Exprima a constante em
-1
unidades de d e calcule o tempo médio de residência no reservatório em dias e as
constantes de esgotamento e de recessão diárias.
10.3 Mostre que o caudal efluente de um reservatório linear que, a partir de determinado instante
t0, passou a ser alimentado com um caudal constante Ic é
Q(t ) Q 0 e k ( t t 0 ) I c 1 e k ( t t 0 )
onde Q 0 Q(t 0 ) e que, nessas condições, para o intervalo de tempo entre ti-1 e ti, é
Qi Qi1 K r I c 1 K r
10.45
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
10.6 Com base nos resultados do exercício anterior, classifique o clima da região onde se situa a
bacia hidrográfica.
10.7 Mostre que no modelo de Thornthwaite e Mather podem substituir-se os passos (7) e (8) por
um único passo definido por
10.8 Utilizando os resultados do modelo de Témez (Quadro 10.6), determine o défice hídrico e o
superavit hídrico anuais no ano médio.
10.10 Para os mesmos pares de valores observados e valores estimados, mostre que a relação entre
a raiz do erro quadrático médio, a média dos valores absolutos dos erros e a média dos erros
é REQM MAE .
10.46
Modelos de transformação da precipitação em escoamento
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10.48