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MATERIAIS DE

CONSTRUÇÃO
MECÂNICA

Ronei Stein
U N I D A D E 3
Mecanismos de
transformação de fase para
obtenção de melhorias de
propriedades mecânicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os mecanismos de transformação de fases.


„„ Reconhecer os efeitos das transformações de fases sobre as proprie-
dades mecânicas dos materiais.
„„ Definir tratamentos térmicos para as mudanças de fases dos materiais.

Introdução
O aumento da resistência do material e a melhora da usinabilidade e
conformabilidade estão associados ao tratamento térmico. Esse trata-
mento pode auxiliar outros processos de manufatura e/ou melhorar o
desempenho de produtos, aumentando sua resistência ou alterando
outras características desejáveis.
Neste capítulo, você vai entender mais sobre tratamento térmico e
as mudanças de fases dos materiais, bem como compreender melhor
os mecanismos de transformação de fases e como eles interferem nas
propriedades mecânicas dos materiais.
2 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

Transformação de fases e regra da alavanca


Antes de falarmos dos mecanismos de transformação de fases, é importante
entendermos bem como elas funcionam. Os diagramas de fases são usados
para identificar as fases presentes, a composição delas e a fração relativa. Para
isso, utiliza-se a regra da alavanca, um método que determina a quantidade
de cada fase presente no material.
Em qualquer região bifásica de um diagrama de fases binário, as porcenta-
gens em peso de cada uma das fases podem ser determinadas com a regra da
alavanca. Por exemplo, com esse método, é possível calcular as porcentagens
em peso das fases líquida e sólida presentes em uma liga com uma determinada
composição e a uma determinada temperatura (SMITH; HASHEMI, 2012).

A regra da alavanca pode ser aplicada a qualquer sistema que possua duas fases em
equilíbrio. Além disso, as quantidades relativas podem ser expressas em mol, massa
ou volume, dependendo das grandezas utilizadas para exprimir as concentrações.
Por exemplo, em um diagrama no qual é representado o equilíbrio entre duas fases
α e β e as concentrações estão expressas em porcentagem em massa, a aplicação da
regra da alavanca irá fornecer as massas relativas das duas fases.

A Figura 1 apresenta o método da alavanca em um diagrama ferro-carbono. Vamos


imaginar que precisamos determinar as fases presentes, proporções e composições
para a seguinte situação:
Uma liga com proporção de 60%A e 40%B para uma temperatura de 1200º C.
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 3

2400

2200 L
η+L 2000º
2000
η 10
1800

1600 L1 + L2
Temperatura (ºC)

1400º
1400 α 50 L1 L2
1200
α+β β 80
1000
1100º
800
β + L2
600º
600
δ 15
400º
400
δ+β 95
200 β+γ

0
A 20 40 60 80 B
100% de A % em peso 100% de B
Figura 1. Análise das fases presentes no diagrama de fases cobre-níquel.
Fonte: Adaptada de Callister Junior e Rethwisch (2014, p. 271).

Nesse exemplo, temos uma liga formada por dois materiais primários (A e B), sendo
que:
„„ onde está escrito A tem-se 100% do material A (ou seja, quanto mais à esquerda,
maior a concentração de A, e quanto mais a direita, menor);
„„ onde está escrito B tem-se 100% do material B (ou seja, quanto mais à direita, maior
a concentração de B e quanto mais à esquerda, menor).
Para descobrir as fases presentes, proporções e composições, temos:
2400

2200 L
η+L 2000º
2000
η 10
1800

1600 L1 + L2
Este é o ponto a 1200ºC
Temperatura (ºC)

1400º
1400 α 50 L1 L2
1200
β 80 Fases presentes
1000 α+β
1100º
800
600º
β + L2 Fronteiras
600
δ 15
400º
400
δ+β 95
200 β+γ Neste ponto tem-se
0 uma liga 60%A e 40%B
A 20 40 60 80 B
100% de A % em peso 100% de B
4 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

Resolução
Fases presentes: a 1200º C, tem-se duas fases, no caso α e β.
Proporção presente (precisamos ir ao lado contrário): qual a porcentagem de α e β
no ponto a 1200º C. Para isso, utiliza-se a regra da alavanca, sendo que para cada fase,
segue-se para a esquerda e para a direita, até chegar na fronteira.

% de α: (60 – 40) / (60 - 27) = 0,60 = 60%

Logo, sabemos que a porcentagem de β deverá, obrigatoriamente, ser de 40%, uma


vez que a soma de ambos deve totalizar 100%. Contudo, para facilitar o entendimento,
o cálculo é apresentado da mesma forma:

% de β: (40 – 27) / (60 – 27) = 0,40 = 40%

Composição: visa-se saber quanto da fase A e quanto da fase B é encontrada em α


e em β. Para composição, o diagrama é analisado para o lado certo.
„„ % de α: possui 27% de B e 73% de A.
„„ % de β: possui 60% de B e 40% de A.

Para entender melhor sobre o exercício descrito anteriormente e sobre a regra da


alavanca, assista ao vídeo disponível no link a seguir.

https://goo.gl/hbV1KS

Mecanismos de transformação de fases


O desenvolvimento da microestrutura em ligas mono e bifásicas geralmente
envolve algum tipo de transformação de fases, ou seja, uma mudança no número
e/ou na natureza das fases. Callister Junior e Rethwisch (2014) mencionam
que em relação à transformação de fases, esta é importante no processamento
de materiais e costuma envolver alguma mudança na microestrutura. Essas
transformações são divididas em três classificações. Veja a seguir.

„„ Transformação simples: depende de um processo de difusão no qual


não ocorre qualquer alteração tanto no número como na composição das
fases presentes. Inclui a solidificação de um metal puro, transformações
alotrópicas, recristalização e crescimento de grãos.
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 5

„„ A difusão também interfere na transformação de fases, pois existe


uma alteração nas composições das fases e, com frequência, também
no número de fases presentes.
„„ Processo de difusão: envolve a produção de uma fase metaestável e
uma transformação martensítica.

Entender as transformações que ocorrem no estado sólido é fundamental,


uma vez que, com as transformações de fases, é formada, pelo menos, uma fase
nova, que possui características físicas/químicas diferentes e/ou uma estrutura
diferente da fase que a originou. Callister Junior e Rethwisch (2014) e Askeland
e Wright (2015) mencionam que o progresso de uma transformação de fases
pode ser dividido em dois estágios distintos, conhecidos como nucleação e
crescimento. Ou seja, para que um precipitado β seja formado a partir de uma
matriz sólida α, é necessário que essas duas etapas ocorram.
A nucleação envolve o surgimento de pequenas partículas, ou núcleos, da
nova fase, que são capazes de crescer. Durante esse processo, o aumento de
tamanho dos núcleos resulta no desaparecimento de parte da fase original ou
de toda ela. A transformação será concluída caso essas partículas cresçam a
ponto de atingir a proporção em condições de equilíbrio.
Tal como na solidificação, a nucleação ocorre mais facilmente nas interfaces
já existentes na microestrutura, minimizando, assim, a energia superficial.
Dessa maneira, a fase precipitada forma núcleos heterogêneos mais facilmente,
nucleando-se nos contornos de grãos e em outros defeitos (ASKELAND;
WRIGHT, 2015).
Existem dois tipos de nucleação:

„„ nucleação homogênea — os núcleos se formam de maneira uniforme


ao longo de toda a fase original;
„„ nucleação heterogênea — os núcleos se formam preferencialmente
em heterogeneidades estruturais, como nas superfícies de recipientes,
em impurezas insolúveis, nos contornos de grãos, nas discordâncias,
e assim por diante.

A etapa de crescimento em uma transformação de fases começa no mo-


mento em que o embrião excede de tamanho e se torna um núcleo estável. O
crescimento de precipitados ocorre normalmente por difusão e redistribuição
de átomos solutos, que difundem de seu local de origem (que podem ser
posições ocupadas na rede cristalina da matriz), movem-se pelo material e
são incorporados à estrutura cristalina do precipitado. Em alguns casos, os
6 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

átomos podem ter uma forte energia de ligação com a matriz; em outros,
o crescimento do precipitado a deforma muito. De qualquer forma, ambos
os processos limitam o crescimento do precipitado. Na maioria dos casos,
entretanto, a etapa controladora do crescimento é a difusão no estado sólido
(ASKELAND; WRIGHT, 2015).

A cinética do processo de transformação depende tanto da nucleação como do cres-


cimento. Se núcleos estiverem presentes em uma dada temperatura, o crescimento se
acelera, pois como há muitos locais para a transformação de fases ocorrer, ela termina
rapidamente. Para uma mesma quantidade de núcleos, em temperaturas mais altas, o
coeficiente de difusão é maior; consequentemente, as taxas de crescimento são mais
intensas e a nova fase se transforma rapidamente.

Transformação de fases e relação com as


propriedades mecânicas dos materiais
Antes de começarmos a entender diagramas de fases, é importante ressaltar que
de todos os sistemas de ligas binárias (composto por dois metais), aquele que é
possivelmente o mais importante é o formado pelo ferro e o carbono. Tanto os
aços quanto os ferros fundidos, que são os principais materiais estruturais em
toda e qualquer cultura tecnologicamente avançada, consistem essencialmente
em ligas ferro-carbono (CALLISTER JUNIOR, 2002).
O autor ressalta, ainda, que o diagrama de fases ferro-carbono é o mais
estudado entre todas as ligas metálicas presentes na atualidade. Isto se deve ao
fato de os aços carbono, além de serem os materiais metálicos mais utilizados
na humanidade, também apresentarem diversas e interessantes transformações
no estado sólido. Através do diagrama de fases, é possível obter informações
sobra a microestrutura em função da temperatura e da composição; permitir
a visualização da solidificação e da fusão; apresentar as transformações de
fases; oferecer informações sobre outros fenômenos; verificar a compatibilidade
entre materiais e a máxima temperatura de trabalho.
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 7

O diagrama de fases ferro-carbono é o mais estudado entre todas as ligas metálicas


presentes na atualidade. Isso é explicado pelo fato de os aços carbono serem ampla-
mente utilizados pelo homem, apresentando várias transformações no estado sólido.
O diagrama de fases fornece informações de como os diferentes teores de carbono
nos aços resultam em diferentes propriedades, possibilitando a fabricação de aços de
acordo com as propriedades desejadas.

Após resfriamento muito lento das ligas ferro-carbono, as fases presentes


podem ser identificadas no diagrama de fases Fe-Fe3C, para diferentes tem-
peraturas e composições de atéé 6,67% de carbono. De acordo com Smith e
Hashemi (2012), o diagrama Fe-Fe3C apresenta as seguintes fases sólidas:
ferrita-α, austenita (γ), cementita (Fe3C) e ferrita-δ.

„„ Ferrita-α: solução sólida intersticial de carbono na rede cristalina do


ferro CCC. Como se pode ver no diagrama de fases Fe-Fe3C, o carbono
é muito pouco solúvel na ferrita-α, atingindo a solubilidade máxima de
0,02% à temperatura de 723° C. A solubilidade do carbono na ferrita-α
diminui, chegando a 0,005% a 0° C.
„„ Austenita (γ): solução sólida intersticial de carbono no ferro-γ. A auste-
nita tem estrutura cristalina CFC e dissolve muito mais carbono do que
a ferrita-α. A solubilidade do carbono na austenita atinge um máximo
de 2,08% a 1148° C e diminui chegando a 0,8% a 723° C.
„„ Cementita (Fe3C): composto intermetálico que apresenta limites de
solubilidade desprezíveis e possui uma composição de 6,67% de carbono
e 93,3% de ferro. A cementita é caracterizada por ser um composto
duro e frágil.
„„ Ferrita-δ: solução sólida intersticial de carbono no ferro CCC. Tal como
a ferrita-α, tem estrutura cristalina CCC, muito embora seu parâmetro
de rede seja superior. A solubilidade máxima do carbono na ferrita-δ
é 0,09% a 1465° C.
8 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

No resfriamento lento das ligas ferro-carbono, o ferro puro é aquecido e experimenta


duas mudanças em sua estrutura cristalina antes de fundir. À temperatura ambiente,
a forma estável, conhecida como ferrita, ou ferro-α, possui uma estrutura cristalina
CCC. Na temperatura de 912º C (1674º F), a ferrita experimenta uma transformação
polimórfica para austenita, ou ferro-γ, que possui estrutura cristalina CFC, e assim
persiste até 1394º C (2541º F). Nessa temperatura, a austenita reverte novamente a uma
fase com estrutura cristalina CCC, conhecida como ferrita-δ, e finalmente se funde à
temperatura de 1538º C (2800º F).

A Figura 2 apresenta a forma como ocorre essa transformação de fases.

1.600 L+δ
δ Líquido
1.400
γ+δ L + Fe3C
L+γ
1.200
1.148 ºC
γ austenita
1.000 2.0 4,3
Temperatura (°C)

γ + Fe3C
800 α
γ 723 ºC
α
600 0,8
0,02

400 α + Fe3C
Fe3C

200

0% C 1 2 3 4 5 6 6,67
100% % em peso de carbono Fe3C
Fe
Figura 2. Diagrama de fases Fe-Fe3C.
Fonte: Smith e Hashemi (2012, p. 265).
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 9

Se uma amostra de aço-carbono, com 0,8% de carbono (eutetoide), for


aquecida a 750° C e mantida a essa temperatura por tempo suficiente, sua
estrutura seráá transformada em austenita homogênea, num processo cha-
mado austenitização. Se o aço eutetoide sofrer um lento resfriamento a uma
temperatura pouco acima da eutetoide, sua estrutura permanecerá austenítica,
como pode ser observado no ponto “a” da Figura 3. O resfriamento posterior
atéé a temperatura eutetoide, ou a uma temperatura ligeiramente inferior,
transformará a austenita em uma estrutura lamelar com placas alternadas de
ferrita-α e cementita (Fe3C). Imediatamente abaixo da temperatura eutetoide,
no ponto “b” da Figura 3, irá aparecer essa estrutura lamelar, denominada
perlita, conforme mencionam Smith e Hashemi (2012).

1.000 γ

900 γ
γ
γ + Fe3C
γ
800 α+γ
a
Temperatura (°C)

0,02 723 ºC Ponto eutetoide

700 b
α
Perlita
600

500
α + Fe3C
Fe3C
400

0 0,4 0,8 6,67


100% % em peso de carbono
Fe

Figura 3. Transformação de um aço eutetoide (0,8% de carbono) em resfriamento lento.


Fonte: Smith e Hashemi (2012, p. 267).
10 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

Callister e Rethwisch (2014) mencionam que a resistência e a dureza de


algumas ligas metálicas podem ser melhoradas através da formação de par-
tículas extremamente pequenas e uniformemente dispersas de uma segunda
fase no interior da matriz da fase original. Esse processo é conhecido como
endurecimento por precipitação (ou endurecimento por envelhecimento, se-
gundo algumas bibliografias), pois a resistência se desenvolve ao longo do
tempo ou à medida que a liga envelhece.
Como exemplos de ligas que são endurecidas por meio de tratamento de
precipitação, podemos citar as ligas alumínio-cobre, cobre-berílio, cobre-
-estanho, magnésio-alumínio e algumas ligas ferrosas. Isso ocorre devido às
transformações de fases que são induzidas por meio de tratamentos térmicos
apropriados.

Tratamentos térmicos para mudanças de


fases dos materiais
Diferentes propriedades dos aços podem ser obtidas por meio da variação
do modo como eles são aquecidos e resfriados (SMITH; HASHEMI, 2012).
Em outras palavras, o aquecimento e o resfriamento constituem, segundo
Tschiptschin (2010), o tratamento térmico que tem por finalidade alterar suas
propriedades físicas e mecânicas, preservando a forma do produto final.

Os principais objetivos dos diferentes tipos de tratamentos térmicos são:


„„ amolecer o material para melhor aplicabilidade;
„„ aumentar a força ou a dureza do material;
„„ aumentar a força ou resistência à fratura do material;
„„ estabilizar propriedades mecânicas ou físicas contra as mudanças que possam
ocorrer durante a exposição à ambientes de serviços;
„„ assegurar parte da estabilidade dimensional;
„„ aliviar indesejáveis tensões residuais durante parte da fabricação.

O tratamento térmico é normalmente associado ao aumento da resistência


do material, mas também pode ser usado para melhorar a usinabilidade, a
conformabilidade e restaurar a ductilidade após uma operação a frio. Dessa
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 11

forma, o tratamento térmico é uma operação que pode auxiliar outros processos
de manufatura ou, então, melhorar o desempenho de produtos, aumentando
sua resistência ou alterando outras características desejáveis. Os aços são
especialmente adequados para o tratamento térmico, uma vez que:

„„ respondem satisfatoriamente aos tratamentos, em termos das caracte-


rísticas desejadas;
„„ seu uso comercial supera o de todos os demais materiais.

Askeland e Wright (2015) apresentam os quatro tratamentos térmicos mais


usuais empregados para os materiais metálicos, descritos a seguir.

1. Tratamento para alívio de tensões: realizado entre 80 e 170° C, visa


eliminar o encruamento em aços com menos de 0,25% de carbono e
reduzir ou eliminar as tensões residuais.
2. Recozimento (endurecimento por dispersão): após ser aquecido
inicialmente para produzir uma austenita homogênea e monofásica
(fase γ, CFC), em um processo demonizado austenitização, o aço resfria
lentamente ainda dentro do forno e produz perlita grosseira.
3. Normalização: o aço resfria-se mais rapidamente, pois é exposto ao ar,
produzindo perlita fina. Para entender a diferença entre recozimento
e normalização de aço-carbono, a Figura 4 mostra as propriedades
típicas obtidas por ambas.

55ºC
55ºC
A3 Acm
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)

30ºC
A1 30ºC A1
30ºC
80-170ºC
Normalização
Esferoidização
Tratamento Recozimento
para alívio Recozimento
de tensão Normalização
Tempo Tempo
(a) Hipoeutetoide (a) Hipereutetoide

Figura 4. Tratamentos térmicos de aços (a) hipoeutetoides e (b) hipereutetoides.


Fonte: Askeland e Wright (2015, p. 410).
12 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

4. Esferoidização (melhoria da usinabilidade): aços que contêm uma


grande quantidade de cementita (Fe3C) possuem baixas característi-
cas de usinabilidade; entretanto, é possível modificar a morfologia do
Fe3C pelo tratamento de esferoidização. A microestrutura, conhecida
como esferoidita, possui uma matriz contínua de ferrita macia e com
boa usinabilidade. Após a usinagem, o aço recebe tratamento térmico
adicional para produzir as propriedades requeridas.

Callister Junior e Rethwisch (2012) descrevem que as diferentes proprie-


dades dos aços podem ser obtidas por meio da variação do modo como eles
são aquecidos e resfriados. Callister Junior e Rethwisch (2014) mencionam
que além da perlita, existem outros microconstituintes que são produtos da
transformação austenítica. Um deles é conhecido por bainita, que consiste
nas fases ferrita e cementita, e, por essa razão, possui processos de difusão
envolvidos na sua formação. A bainita se forma como agulhas ou placas,
dependendo da temperatura da transformação. Quando ocorre o resfriamento
muito rápido de uma chapa de ferro-aço, tem-se a formação de martensita. Ou
seja, se uma amostra de um aço carbono austenitizada for resfriada rapidamente
até́ a temperatura ambiente por meio de imersão em água, sua estrutura vai
passar de austenita para martensita.
A microestrutura apresentada pela martensita nos aços carbono depende do
teor de carbono dos aços. Se o aço conter teores inferiores a 0,6% de carbono,
a martensita é formada por agulhas de orientações diferentes, mas vizinhas
dentro de um mesmo domínio. Quando o teor de carbono das martensitas
ferro-carbono ultrapassa 0,6%, um outro tipo de martensita começa a se formar,
chamado de martensita em placas. Acima de 1% de carbono, a estrutura das
ligas ferro-carbono consiste inteiramente de martensita em placas, conforme
pode-se verificar na Figura 5.
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 13

1.200
Austenita (γ)
1.000
γ+C
Temperatura (°C)

800 α+γ

600
Mi Ferrita (α) + cementita (C)

400

200 Martensita
em placas Mistas Martensita
em agulhas
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
% em peso de carbono

Figura 5. Efeito do teor de carbono na temperatura de início de transformação em mar-


tensita, para as ligas ferro-carbono.
Fonte: Smith e Hashemi (2012, p. 271).

A têmpera endurece a maioria dos aços, e o revenimento aumenta sua tenacidade,


que determina as propriedades finais do aço temperado. Esse procedimento já é
usado para ligas ferrosas há milhares de anos (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Por exemplo,
vários tratamentos térmicos foram usados para produzir o famoso aço de Damasco
e as espadas dos samurais japoneses. Com o tratamento térmico de revenimento da
martensita, é possível obter uma distribuição bastante fina de Fe3C.

Existem diferentes microestruturas que podem ser produzidas em ligas


ferro-carbono, dependendo do tratamento térmico aplicado. Para facilitar o
entendimento, a Figura 6 apresenta um resumo das trajetórias das transfor-
mações que produzem essas microestruturas. Considera-se que a perlita, a
bainita e a martensita resultem de processos de tratamento por resfriamento
contínuo; além disso, a formação da baianita só é possível para aços-liga.
14 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

Austenita

Resfriamento Resfriamento
lento rápido
(têmpera)
Resfriamento
moderado

Perlita Bainita Martensita


(α + Fe3C) + uma (fases α + Fe3C) (fases TCC)
fase proeutetoide

Reaquecimento

Martensita
revenida
(fases α + Fe3C)

Figura 6. Transformações possíveis envolvendo a decomposição da austenita. As


setas contínuas representam transformações que envolvem difusão; a seta tracejada
envolve uma transformação adifusional.
Fonte: Adaptada de Callister Junior e Rethwisch (2014, p. 337).

1. O constituinte que se obtém a) A regra da alavanca é utilizada


na transformação isotérmica da para descobrir as fases presentes
austenita, quando a temperatura em um determinado diagrama.
do banho de resfriamento é de b) Diversas são as informações
250 a 500° C, recebe o nome de: obtidas por um diagrama de
a) bainita. fases, porém, não é possível
b) martensita. descobrir as temperaturas ou
c) austenita. as faixas de temperatura de
d) perlita. transformação de uma liga
e) ferrita. em condições de equilíbrio.
2. Em relação ao diagrama de c) Os diagramas binários
fases e à regra da alavanca, anisomorfos ocorrem quando
qual a alternativa correta? os sistemas têm a mesma
estrutura cristalina e são
Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas 15

totalmente solúveis um no outro, 4. Os efeitos combinados do


em qualquer composição. encruamento e do endurecimento
d) Dependendo de variáveis por precipitação são usados na
como temperatura, pressão produção de ligas que possuem uma
e composição, uma liga combinação ótima de propriedades
pode exibir microestrutura mecânicas. Para ligas sujeitas ao
monofásica ou polifásica. endurecimento por precipitação,
e) Nos diagramas binários, as tem-se, necessariamente:
variáveis consideradas são a) diminuição da resistência.
temperatura e pressão. b) aumento da resistência.
3. Assinale a alternativa correta c) diminuição da ductilidade.
em relação ao tratamento d) diminuição das
térmico de ligas ferrosas. propriedades de corte.
a) O tratamento térmico consiste e) o endurecimento por
no aquecimento do aço. precipitação não interfere
b) Ferrita e cementita, mistura na resistência do material.
também conhecida como 5. Existem diferentes tipos de
perlita, são constituintes do aço tratamentos térmicos. O método
eutetoide, ou seja, produtos de que se refere ao tratamento no
resfriamento rápido (brusco). qual um material é exposto a
c) O aumento ou diminuição uma temperatura elevada por
da dureza e o aumento da um longo período de tempo,
resistência mecânica são apenas sendo lentamente resfriado em
alguns objetivos do tratamento seguida, é conhecido como:
térmico em ligas ferrosas. a) austêmpera.
d) O tratamento térmico de b) martêmpera.
uma liga ferrosa melhora c) revenimento.
todas as suas propriedades. d) normalização.
e) A martensita apresenta e) recozimento.
baixa dureza.

ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e engenharia dos materiais. 2. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2015. 648 p.
CALLISTER JUNIOR, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 5. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2002. 589 p.
CALLISTER JUNIOR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma
introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 817 p.
16 Mecanismos de transformação de fase para obtenção de melhorias de propriedades mecânicas

CALLISTER JUNIOR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da ciência e engenharia de


materiais: uma abordagem integrada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. 832 p.
SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2012. 734 p.
TSCHIPTSCHIN, A. P. Tratamento térmicos de aços. Departamento de Engenharia Me-
talúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.pmt.usp.br/pmt2402/TRATAMENTO%20
T%C3%89RMICO%20DE%20A%C3%87OS.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2018.

Leitura recomendada
VAN VLACK, L. H. Princípios de ciências dos materiais. São Paulo: Blucher, 1970. 448 p.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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