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PPGEMec

Mestrado e Doutorado Profissional


em Engenharia Mecânica

Tratamentos Térmicos e de Superfície


Sistema FeC e Tratamentos Térmicos

Professor: Felipe Bertelli


bertelli@unisanta.br
felipe.berteli@gmail.com
Sistema Ferro-Carbono
(Fe-C)

Aços: ligas à base de ferro (Fe) e carbono (C)


(+ elementos de liga)
Introdução
➢ Aços → ligas metálicas usadas
intensivamente desde a idade média

➢ Desenvolvimento de processos tecnológicos


(reprodutibilidade + confiabilidade) → a partir
da segunda metade do século XIX – Rev.
Industrial
Introdução
➢ Aços → materiais metálicos mais utilizados
em aplicações tecnológicas:
➢Fe → um dos elementos mais abundantes na
natureza (na forma de minérios de ferro / óxidos)
➢Processo de redução dos óxidos → desenvolvidos
e relativamente barato
Introdução

➢Possibilidade de adição de elementos de liga


→ propriedades específicas
➢Possibilidade de transformações no estado
sólido (tratamentos térmicos → aquecimento
e resfriamento controlados) → obtenção de
estruturas metaestáveis com propriedades
convenientes
Introdução

➢ Processo de fabricação → redução do


minério de ferro (Hematita Fe2O3, Magnetita
Fe3O4)
➢Separação do Fe do O
➢Eliminação de impurezas (Si, Mn, S, P)
➢Controle do teor de carbono
➢Adição de elementos de liga
Introdução
➢ Fe apresenta transformações alotrópicas (mudança
da estrutura cristalina com a temperatura)

ccc

cfc

ccc
Introdução

➢ Adição de elementos de liga (C inclusive)


→ alteram temperaturas de transformação
➢ Tratamentos térmicos: baseados nas
transformações da estrutura  (cfc)
durante o resfriamento
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Diagrama de fases → transformações em


equilíbrio termodinâmico (fases mais
estáveis em função da temperatura e do
teor de carbono)

➢ Transformações em equilíbrio exigem


velocidades de resfriamento muito baixas
Diagrama de fases parcial ferro-carbono (Fe-C)
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Fases (formas alotrópicas):


➢Ferrita () → solução sólida de C no Fe ccc
(abaixo de 910o C) → dútil (baixa
dureza/resistência mecânica) → máxima
solubilidade do C no Fe : 0,02% a 723o C
➢Austenita () solução sólida de C no Fe cfc →
dútil (baixa dureza/resistência mecânica) →
máxima solubilidade do C no Fe : 2% a 1.148o C
(maior que no ccc – interstícios maiores)
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢Fase  → solução sólida de C no Fe ccc (acima


de 1.400o C) → máxima solubilidade do C no Fe
 : 0,10% a 1.493o C
➢Cementita (Fe3C) ou carboneto de ferro →
retículo cristalino que contém átomos de Fe e
C na proporção de 3 para 1 (célula cristalina
ortorrômbica contendo 12 átomos de Fe e 4 de
C, correspondendo a 6,7% de C) Alta
dureza/resistência mecânica (frágil)
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Cementita → fase metaestável que nucleia


e cresce rapidamente mas deveria se
decompor em grafita e ferrita (baixa
cinética/não ocorre em condições
normais) → para efeito de aplicação pode
ser considerada estável → diagrama
metaestável Fe-Fe3C (limite 6,7%)
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
➢ Definições:
➢Aços: ligas contendo ferro e carbono, com teor
de C até 2% (limite de solubilidade na fase )
➢Aço carbono: só Fe e C
➢Aços liga: Fe + C + elementos de liga (Cr,Ni,Mn,etc)
➢Ferros fundidos: ligas contendo ferro e
carbono, com teor de C entre 2% e 6.7% (na
prática 4 a 4,5% - ponto eutético) alta
dureza/resistência mecânica (frágil)
0,10 0,16 0,51

Sistema ferro-
carbono (Fe-C) 1.600 +L
1.534° C
1.493° C L
 I1
1.400 P
+ +L
T (°C)

➢ Transformações 1.200
E

1.147° C I2 L + Fe3C

invariantes:

➢ P → Transformação 1.000

 + Fe3C
peritética: L+ +
800
I3
723° C

➢ E → Transformação E’ Fe3C
600
eutética: L + Fe3C 

( + P) (P + Fe3C)
400

➢ E’ → Transformação  + Fe3C
eutetóide:   + Fe3C 200

(+ Fe3C = perlita)


0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

0,02 0,8 2,06 4,3 6,7

Porcentagem em peso de C
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Perlita; mistura lamelar de ferrita (dútil) e


cementita (dura) dispostas em camadas
alternadas, resultante da transformação
eutetóide da austenita (88% + 12% Fe3C)
→ propriedade mecânicas intermediárias
(maior teor de cementita maior resistência
mecânica/dureza)
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Transformações em equilíbrio

➢Aço eutetoide: 0,8% C

➢Aço hipoeutetoide: <0,8% C

➢Aço hipereutetóide: >0,8% C


Sistema ferro-carbono (Fe-C)
Aço eutetóide
Austenita
 + L íq . L íq u id o

1600


 +

1400
L íq . + 
C


1200 
Temperatura

1000 A ç o E u t e t óid e
Perlita

800  +
723

600

0 ,0 0 ,5 0 ,8 1 ,0 1 ,5 2 ,0
%
C a rb o n o
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
Aço eutetóide
➢ Microestrutura perlítica

Perlita
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
Aço hipo-eutetóide
 + Líq. 
1600 Líquido 
 

1400 +
Líq. + 


1200   
Aço Hipoeutetóide

1000

A3 Perlita
800 +
A1
723
 
600

0,0 0,5 0,8 1,0 1,5 2,0


% Carbono
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
Aço hipo-eutetóide
➢ Microestrutura:  + P

Perlita

Ferrita
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
Aço hiper-eutetóide

1600
 + Líq.
Líquido 
 

1400 +
Líq. +  
1200   Fe3C

Aço Hipereutetóide 
1000

A3
800 +
723
A1 Perlita

600

0,0 0,5 0,8 1,0 1,5 2,0 Fe3C


% Carbono
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
Aço hiper-eutetóide
➢ Microestrutura: P + Fe3C

Cementita

perlita
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Classificação dos aços (normas: SAE, AISI,


ABNT)
➢4 algarismos: XXYY (XX aço carbono/liga, YY
teor de C)
➢Exemplos:
➢1010 → aço carbono com 0,10% C
➢2320 → aço liga com 3.5%Ni e 0,20% C
➢4340 → aço liga com 1,8% Ni, 0,5-0,8% Cr,0,25% Mo
e 0,40% C
Sistema ferro-carbono (Fe-C)

➢ Observações:
➢Se houver mais de 1% de C podem ser usados 3
dígitos no final: XXYYY
➢Certos aços especiais → letras entre os
números XXBYY (microligado ao B)
➢Aços liga especiais → designação especial
➢Aços inoxidáveis 304 e 316
➢Aços ferramenta
➢etc
Sistema ferro-carbono (Fe-C)
➢ Maior teor de carbono → maior
dureza/resistência mecânica ( → P →
Fe3C)
Dureza

Resistência
Mecânica

Alongamento

% Carbono
Transformações fora do equilíbrio
termodinâmico

➢ Transformações fora do equilíbrio não →


seguem o diagrama de equilíbrio →
introduz a variável tempo
➢ Curvas TTT (transformações em função do
tempo e da temperatura)
➢ Elimina a composição → uma curva para
cada composição
Transformações fora do equilíbrio
termodinâmico

➢ Podem surgir novas fases que não


aparecem no diagrama de fase (não há
tempo para a movimentação de átomos
necessária para originar as fases de
equilíbrio)
➢Bainita
➢Martensita
Transformações fora do equilíbrio
termodinâmico

➢ Transformações fora do equilíbrio:

➢Isotérmicas: temperatura constante


➢Resfriamento contínuo: temperatura cai
continuamente com o tempo

➢ Dois diagramas TTT para cada composição


de aço (determinados experimentalmente)
Transformações isotérmicas

➢ Aço eutetóide (0,8% C)


800
Austenita ()
723° C
700 Austenita () I
T°C F
600 +P Perlita (P)

500
Bainita (B)
+B
400

Austenita ()
300
Ms
200
+M
M90

100
Martensita (M)

0
10-1 1 10 102 103 104 105

Tempo (s)
Transformações isotérmicas

➢ Bainita: estrutura formada por cementita


em forma de agulhas e ferrita altamente
deformada (com C retido) → forma-se em
temperaturas baixas (difusão limitada)
➢ Martensita: fase altamente distorcida
resultante da transformação cfc em ccc,
mantendo todo o C em solução → distorção
da rede (supersaturação) → tcc
Transformações isotérmicas

➢ Bainita e martensita → fases de alta


resistência mecânica (dureza)
➢ Linhas do diagrama:
➢I → início da transformação:  → P
➢F → fim da transformação:  → P
➢Mi → início da transformação:  → M
➢Mf → fim da transformação:  → M
Transformações isotérmicas
800

723° C

700  I
1
T°C +P F P
600 ti
tf

500
B
2 +B
400

t’f
300 3
t’i
Mi
200
M90 +M

100
M
0
10-1 1 10 102 103 104 105

Tempo (s)
Transformações isotérmicas

➢ Transformações iniciam e terminam


quando a curva de resfriamento corta I e F
ou Mi e Mf
➢ Só se forma 100% de B ou M se a curva de
resfriamento não cruzar com a linha I
(“cotovelo”) da curva TTT (para aços
carbono, tempo muito reduzido para o
resfriamento)
Transformações isotérmicas

➢ Aço hipoeutetóide (% C < 0,8)


➢ Curvas TTT deslocam-se para a esquerda
(menor quantidade de C → menor tempo de
transformação) / Mi e Mf para cima
➢ Linha adicional Fi (formação de ferrita
primária
Transformações isotérmicas
900
Austenita ()
T°C
A3
800

TTT
Fi A1 = 723° C

➢ 700
 + I

F Perlita (P) + Ferrita ()


++P
600

500
Bainita (B)
 +B
400
Mi

300 +M
M90

200
Martensita (M)
100

0
10-1 1 10 102 103 104 105

Tempo (s)
Transformações isotérmicas
900

T°C
A3
800

➢ Exemplo: 700 t1
Fi

t2
+
I
A1 = 723° C

 t3 P+
++P F
600

500
B
 +B
400
Mi

300 +M
M90

200
M
100

0
10-1 1 10 102 103 104 105

Tempo (s)
Transformações isotérmicas

➢ Aço hipereutetóide (% C > 0,8)


➢ Curvas TTT deslocam-se para a
direita(maior quantidade de C → maior
tempo de transformação) / Mi e Mf para
baixo
➢ Linha adicional Ci (formação de cementita
primária
Transformações isotérmicas
1000
T°C Austenita ()
Acm
900

Ci

➢ TTT 800  + Fe3C


A1 = 723° C
700 Austenita () I
Perlita (P) + Cementita (Fe3C)
600 F
 + Fe3C + P

500

Bainita (B)
400 +B

Austenita ()
300

200 Mi

+M
100 M90
Martensita (M)
0
10-1 1 10 102 103 104 105 106

Tempo (s)
Transformações isotérmicas
1000
T°C 
Acm
900

➢ Exemplo 800
Ci
 + Fe3C
A1 = 723° C
700  I
t1 t2
t3
F P + Fe3C
600
 + Fe3C + P

500

B
400 +B


300

200 Mi

+M
100 M90
M
0
10-1 1 10 102 103 104 105 106

Tempo (s)
Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Curvas CCT (continuous cooling


transformation)
➢ A transformação ocorre com a temperatura
caindo continuamente com o tempo
➢ Deslocamento para a direita das curvas em
relação ao caso isotérmico
Transformações com resfriamento
contínuo
800
Austenita ()
T°C 723° C

700 Austenita ()

600 I F Perlita (P)


➢ Aço eutetóide (0,8% C) +P

500
Bainita (B)
+B
400

Austenita ()
300

Mi
200
+M
M90

100
Martensita (M)

0
10-1 1 10 102 103 104 105

Tempo (s)
Transformações com resfriamento
contínuo

Exemplo
800
➢ T°C

723° C
700

I
600 F
1. PG (forno) +P P

500
1
2. PF (ar) 400 2

3. PF+B+M (óleo) 300
4
3

Mi 5
200
4. M (v crítica) M90
+M

100
M
5. M (água) 0
10-1 1 10 102 103 104 105

Maior v → maior dureza Tempo (s)


Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Não se obtém estrutura totalmente


bainítica com resfriamento contínuo em
aços carbono (não há necessidade da
parte inferior da curva).
➢ Aços hipo e hipereutetóides → linhas
adicionais Fi e Ci relativas à formação de
ferrita e cementita primária.
Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Aço eutetóide (resfriamento lento)


Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Aço hipoeutetóide (resfriamento lento)


ferrita perlita
Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Aço hipereutetóide (resfriamento lento)


perlita cementita
Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Aço hipereutetóide (resf. rapidamente)

martensita
Transformações com resfriamento
contínuo

➢ Influência do tamanho da peça (estruturas


diferentes na superfície e no núcleo)
A3

A1

centro
I F

superfície

Mi

M 90%

tempo (s)
Fatores que interferem na
transformação da austenita

➢ Composição química
➢Elementos de liga retardam a transformação
da austenita (curvas para a direita / Mi e Mf
para baixo) → difusão lenta dos elementos
durante a transformação
➢Elementos de liga alteram a forma das curvas
(em alguns casos pode ser obtida estrutura
totalmente bainítica com resfriamento
contínuo)
Fatores que interferem na
transformação da austenita

➢ Aço 4340 (C, Mn, Ni, Cr, Mo)



800 A3
T (°C)
A1
700
+
P+
600
 ++P
500

+B
400
B
300 Ms
M90 +M
200

M
100

0
1 10 102 103 104 105 106

Tempo (s)
Fatores que interferem na
transformação da austenita

➢ Alguns elementos de liga podem deslocar


as linhas Mi e Mf para baixo de tal forma
que Mf fica abaixo da temperatura
ambiente → aço resfriado rapidamente →
existência de austenita retida à
temperatura ambiente (junto com a
martensita → prejudicial) → eliminação
resfriando o aço a T menor que Tamb (sub-
zero)

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