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Diagrama de fases ferro-

cementita (Fe-Fe3C)
Prof. Dr. André G. S. Galdino
1. Objetivos:
• Após esta aula, você deverá ser capaz de:
a) Identificar as ligas ferrosas dentro do
diagrama de fases Fe-Fe3C;
b) Compreender as mudanças de fases durante
resfriamento em situações de equilíbrio;
c) Selecionar as ligas de acordo com a
microestrutura final obtida por resfriamento;

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d) Diferenciar o desenvolvimento de
microestruturas em equilíbrio, quando
submetidas ao resfriamento, para diversas
situações;
e) Construir gráficos de correlação entre as
microestruturas obtidas e as propriedades
mecânicas dos materiais;
f) Estimar as frações mássicas das fases
presentes em determinada temperatura a
partir de uma composição inicial C0.
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2. Pré-requisitos necessários para
a aula:
• Para melhor aproveitamento da aula, o aluno
precisará dos seguintes conceitos:
a) Limite de solubilidade;
b) Fases e equilíbrio de fases;
c) Microestrutura;
d) Interpretação de diagramas de fases;
e) Regra da alavanca.

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3. Introdução:
• As razões pelas quais o conhecimento e a
compreensão de diagramas de fases Fe-Fe3C é
importante para o engenheiro e técnico:

a) Está relacionada ao projeto e ao controle dos


procedimentos utilizados em tratamentos
térmicos.

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b) Informações úteis na compreensão do
desenvolvimento e da preservação de
estruturas que se encontram no equilíbrio,
bem como de suas respectivas propriedades.

c) Ademais, os diagramas de fases fornecem


informações valiosas sobre os fenômenos da
fusão, fundição, cristalização e outros.

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4. Diagrama de equilíbrio das ligas
ferro–carbono:
• O diagrama de fases ferro-cementita é
"diagrama de equilíbrio metaestável", porque
na realidade, ocorrem modificações com o
tempo, que afastam as reações do equilíbrio
estável.

• O diagrama de fases Fe-Fe3C está indicado na


Figura 1.

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Aços Ferros fundidos

Figura 1 – Diagrama de fase Fe – Fe3C (adaptado de Callister


Jr., 2002).
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• De acordo com as reações invariantes
presentes no diagrama de fases Fe-Fe3C,
podemos classificar as ligas ferrosas em:
a) Aço eutetóide: com teor de carbono
corresponde ao ponto eutetóide ou seja
0,77%;
b) Aço hipoeutetóide: com teor de carbono
entre 0 e 0,77%;
c) Aço hipereutetóide: com teor de carbono
entre 0,77% e 2, 11%;
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d) Ferro fundido eutético: com teor de carbono
correspondente ao ponto eutético 4,30%;
e) Ferro fundido hipoeutético: com teor de
carbono entre 2,11 % e 4,30%;
f) Ferro fundido hipereutético: com teor de
carbono acima de 4,30% e abaixo de 6,67%.

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5. Estudo do diagrama Fe – Fe3C:
• As principais considerações a serem feitas a
respeito do diagrama binário Fe-C, das
reações que ocorrem em equilíbrio e das
estruturas resultantes são as seguintes:

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Figura 2 – Ampliação do diagrama de fase Fe – Fe3C.
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Figura 3 – Transformação de estrutura CCC para CFC.
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Figura 4 – Parte do diagrama de fases ferro-cementita.
14
Figura 5 – Parte do diagrama de fases ferro-cementita.
15
Figura 6 – Região austenítica do diagrama de fases ferro-
cementita. 16
• Aços hipoeutetóides: São aços com teor de
carbono até 0,77% p., constituídos à
temperatura ambiente de ferrita proeutetóide
e perlita.
• Haverá tanto maior quantidade de ferrita
quanto menos carbono o aço contiver e tanto
maior quantidade de perlita quanto mais se
aproximar o aço do ponto eutetóide.

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• Aliás, para se estimar a constituição estrutural
dessa liga com 0,3% de carbono, bastará
aplicar a conhecida "regra da alavanca":

 0,77  0,30 
Fe    100.   61,04%
 0,77  0 
 0,30  0 
Perlita  100.   38,96%
 0,77  0 
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Figura 7 – Resfriamento de um aço hipoeutetóide com 0,3%p. C.
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ANÁLISE DO RESFRIAMENTO DE UM AÇO HIPOEUTETÓIDE
C é expulso do
contorno para o centro Formação de g
g
Ponto 1
Ferrita no contorno
de grão g
g g
o g
912 C g
g Pto 1
C continua a
migrar para o Pto 2 - Temperatura T
Ponto 2 centro o
Pto 3 - T = 728 C

o
0,77%C

727 C  o
Pto 4 - T = 726 C Ponto 4
Núcleo do grão
enriquecido com
Ferrita
Ponto 3 0,77% de C
%C na Austenita
Perlita
(Ex. 1040 = 0,4%C)
0,77%C

0,77%C
0,77%C

%C na Ferrita %C na Austenita
%C na na temperatura T
primeira Ferrita na temperatura T
Ferrita Perlita

Figura 8 – Micrografias do aço AISI 1548 (0,44% a 0, 52% p. de


carbono. Ataque: Nital, 2%; 100X.
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• Aço eutetóide: é o aço com a composição
exatamente eutetóide (0,77% p. C), a única
transformação que ocorre é no ponto S,
quando a austenita passa bruscamente para
perlita conforme o esquema abaixo.

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Figura 9 – Resfriamento de um aço eutetóide (0,77%p. C).
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ANÁLISE DO RESFRIAMENTO DE UM AÇO EUTETÓIDE

g
g
g
o g g
912 C
g zoom
g
g

o
g+ g + Fe 3 C C
DIFUSÃO
DO C
727 C  C
C
0,0218% de C = C CC C C
Ferrita C C C C
Empobrecido para
0,0218% de C


C
C C C
+ Fe 3C
Cementita C C C
Enriquecido com
6,67% de C
C C C C Empobrecido para
C C C
C 0,0218% de C
0,77%C C
C C
Perlita 6,67% de C = Fe
3
C
Perlita

Figura 10 – Micrografias do aço AISI 1070 (0,65% a 0,75% p. de


carbono. Ataque: Nital, 2%; 200X.
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• Para os aços hipereutetóides: são aqueles
com teor de carbono entre 0,77 e 2,11% p.

• Na temperatura ambiente os aços


hipereutetóides são constituídos de perlita
mais cementita.

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•Para se estimar a constituição estrutural de
uma liga com 1,3% de carbono, bastará aplicar
a regra da alavanca.
 1,30  0,77 
Cementita  100.   8,98%
 6,67  0,77 
 6,67  1,30 
Perlita  100.   91,02%
 6,67  0,77 
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Figura 11 – Resfriamento de um aço hipereutetóide com 0,3%p. C.
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ANÁLISE DO RESFRIAMENTO DE UM AÇO HIPEREUTETÓIDE
C é expulso do
centro para o contorno Formação de g
Ponto 1
Cementita no contorno
de grão (6,67%C) g
g g
g
g
o g
912 C g
1148o C

2,11 %C
C continua Pto 1
a
Ponto 2 migrar para
o contorno Pto 2 - Temperatura T
0,77%C
o
o Pto 3 - T = 728 C
727 C  o
Pto 4 - T = 726 C
Núcleo do grão Ponto 4
empobrecido com Cementita
Ponto 3 0,77% de C %C na Austenita
(Ex. 1,3%C)
Perlita
0,77%C

0,77%C
0,77%C
%C na Austenita
na temperatura T
Cementita
Perlita

Figura 12 – Aço com aproximadamente 0,95% de carbono


esfriado lentamente. Ataque: Nital; 150X (Adaptado de
Colpaert, 1983).
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• Para os ferros fundidos hipoeutéticos: são
aqueles com intervalo entre 2,11% e 4,30% p.
de carbono.
• Em temperatura ambiente, possui perlita e
ledeburita.
• Essas estruturas correspondem aos ferros
fundidos brancos, em que não existe qualquer
carbono na forma livre de grafita.

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RESFRIAMENTO DE UM FERRO FUNDIDO BRANCO HIPOEUTÉTICO
No diagrama ignorou-se o peritético por questões didáticas
Ponto 1 - Formação dos
primeiros cristais sólidos
Líquido LIQUIDO de Austenita

g
Pto 2 - Temperatura T
L+ L + Fe 3C
1148oC
o
912 C g 2,11 %C
4,3%C

Ponto 3 - 1147o C
%C na Austenita
no resfriamento

0,77%C g + Fe 3C o C
Ponto 4 - 728
o
727 C 
 + Fe 3C
P.ex.: Fe - 3,5 %C
Ponto 2 g
%C na Austenita %C no líquido
em solidificação remanescente
Dendritas
de Austenita
Ledeburita
(Fe3 C + g)
Ponto 3
Figura 13 - Ferro hipoeutético. Dendritas de perlita, áreas
pontilhadas de ledeburita. Áreas brancas de cementita.
Ataque: nital; 500X (Adaptado de Colpaert, 1983).
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• Para os ferros fundidos eutéticos: são aqueles
com exatamente 4,30% p. de carbono.

• Em temperatura ambiente, possui apenas


ledeburita.

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RESFRIAMENTO DE UM FERRO FUNDIDO BRANCO EUTÉTICO
No diagrama ignorou-se o peritético por questões didáticas

LIQUIDO
Líquido

L+ g L + Fe 3C
1148oC
o
912 C g 2,11 %C
4,3%C Ponto 1 - 1147o C

0,77%C g + Fe 3C Ponto 2 - T
o
727 C 
 + Fe 3C o C
Ponto 3 - 726

% C na Austenita
na temperatura T

Ponto 1 C C
Ponto 3
C Empobrecido para
C C C C C
2,11% de C
AUSTENITA
C C C C
C
C C C Enriquecido com CEMENTITA
C C C
6,67% de C
DIFUSÃO C
C
C
C C C
C Perlita
C Empobrecido para
DO C C
C C 2,11% de C LEDEBURITA
Figura 14 - Ledeburita, região eutética. Pequenas áreas
arredondadas de perlita sobre o fundo de cementita. Ataque:
picral; 150X (Adaptado de Colpaert, 1983).
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• Para os ferros fundidos hipereutéticos: são
aqueles com intervalo entre 4,30% e 6,67 p.
de carbono.

• Em temperatura ambiente, possui ledeburita e


cementita na forma de agulhas.

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RESFRIAMENTO DE UM FERRO FUNDIDO BRANCO HIPEREUTÉTICO
No diagrama ignorou-se o peritético por questões didáticas

Ponto 1 - Formação dos


Líquido primeiros cristais
sólidos de Cementita
LIQUIDO

L+ g Pto 2 - Temperatura T
L + Fe 3C
1148oC
o
912 C g 2,11 %C
4,3%C

Pto 3 - 1147o C
%C na Austenita
no resfriamento

0,77%C g + Fe 3C
o
727 C 
 + Fe 3C
Ponto 2 Fe3C
%C no líquido
Agulhas de remanescente

Cementita
Ledeburita
Líquido
remanescente (Fe3 C + g)
Ponto 3
Figura 15 - Ferro hipereutético. Longos cristais de cementita
sobre um fundo de ledeburita. Ataque: picral; 100X (Adaptado
de Colpaert, 1983).
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RESUMO DO DIAGRAMA Fe-Fe3C
No diagrama ignorou-se o peritético por questões didáticas

AÇOS FERROS FUNDIDOS BRANCO


Líquido
L+ g L + Fe 3C
1148oC
g
2,11 %C 4,3%C
o
912 C
Linha que define
0,77%C
g + Fe 3 C o aparecimento
da CEMENTITA
o
727 C 
 + Fe3 C
Hipoeutético Hipereutético
Perlita + Fe 3C + Ledeburita
Eutetóide Ledeburita
100% Perlita
Eutético
(  + Fe 3 C )
Fe 100% Ledeburita Fe 3C
Hipoeutetóide Hipereutetóide Fe 3C + Perlita
 + Perlita Fe 3C + Perlita (  + Fe C)
(  + Fe 3 C ) (  + Fe 3 C ) 3
6. Correlação entre microestruturas
do diagrama de fases Fe-Fe3C e
propriedades mecânicas:
• Para todas as ligas ferro - carbono normais,
lentamente esfriadas, é notória a variação
contínua das propriedades mecânicas à
medida que aumenta o teor de carbono,
conforme mostra o gráfico da Figura 16 a
seguir.

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Figura 16 – Propriedades mecânicas dos aços em função do
teor de carbono (Adaptado de Chiaverini, 1986).
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RESUMO DO DIAGRAMA Fe-Fe3C
No diagrama ignorou-se o peritético por questões didáticas

AÇOS FERROS FUNDIDOS BRANCO


Líquido
L+ g L + Fe 3C
1148oC
g
2,11 %C 4,3%C
o
912 C
Linha que define
0,77%C
g + Fe 3 C o aparecimento
da CEMENTITA
o
727 C 
 + Fe3 C
Material Muito Duro Material Hiper Duro
300 < HB < 450 450 < HB < 550

HB  80 Eutético HB  550
100% Ledeburita
Fe Fe3C + Perlita
Fe3C
Eutetóide
Material Ductíl 100% Perlita Material Duro (  + Fe3C ) Dados de dureza para
100 < HB < 240 (  + Fe 3 C ) 240 < HB < 300 condições normais de
solidificação
7. Exercícios:
1) Classificar as reações invariantes do diagrama
de fases ferro-cementita que ocorrem a:
a) 727°C;
b) 1148°C;
c) 1495°C.

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2) Para um aço com 1,5% p. de carbono,
calcular as frações volumétricas das fases
presentes a:
a) 1300°C;
b) 1100°C;
c) 800°C;
d) 400°C.

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3) Descrever, com suas palavras, o
desenvolvimento das microestruturas dos
aços (eutetóides, hipoeutetóides e
hipereutetóides) e ferros fundidos (eutéticos,
hipoeutéticos e hipereutéticos).
4) Correlacionar as propriedades mecânicas de
resistência à tração e dureza dos aços com as
microestruturas apresentadas para os aços
eutetóides, hipoeutetóides e
hipereutetóides).
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Figura 17 – Diagrama de fases ferro-cementita (Adaptado de
Costa e Silva e Mei, 2010).
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8. Referências bibliográficas:
• CALLISTER, W. Ciência e engenharia de
materiais: uma introdução. 5ª ed. São Paulo:
LTC, 2002, 589p.
• COSTA E SILVA, A. L. V., MEI, P. R., Aços e Ligas
especiais. 2ª Ed., São Paulo: Edgard Blucher,
2009. 664p.
• VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência dos
materiais. 5ª ed. São Paulo: Campus, 1984,
567 p.

48
• CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. 4ª ed.
São Paulo: ABM, 1982. 504 p.
• CHIAVERINI, V. Tecnologia Mecânica –
Materiais de Construção Mecânica. Vol. III, 2ª
ed. São Paulo: McGrawHill, 1986. 388 p.
• COLPAERT, H. Metalografia dos produtos
siderúrgicos comuns. 3ª ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 1983. 349 p.

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