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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Estudo do potencial de liquefação estática em barragem de rejeito


alteada para montante, aplicando a metodologia de Olson (2001).
Washington Pirete da Silva
Companhia Vale, Brumadinho, Brasil, washington.pirete@vale.com

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@em.ufop.br

RESUMO: A liquefação vem sendo pesquisada e compreendida ao longo do tempo devido aos
diversos eventos catastróficos que ocorreram no mundo causando perdas de vidas humanas,
enormes prejuízos econômicos e impactos ambientais irrecuperáveis. O objetivo do trabalho foi
analisar o potencial de liquefação estática através da metodologia de Olson (2001) de uma
barragem de rejeito de minério de ferro alteada para montante, localizada no quadrilátero ferrífero,
região considerada assísmica. A metodologia de Olson (2001) trata-se de uma pesquisa de estudos
de retro-analises de rupturas por liquefação em diversos casos históricos encontrados na literatura.
O método utiliza correlações com a resistência a penetração corrigida de SPT e/ou CPT com as
razões de resistências de pico e liquefeita. A proposta da avaliação do potencial de liquefação
utilizando ensaios de resistência a penetração visa facilitar a análise do fenômeno, onde não há
possibilidade de coletar amostras representativas em profundidade para ensaios de laboratório.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de Rejeito, Liquefação estática, Barragem alteada para montante


e Metodologia de Olson.

1 INTRODUÇÃO montante, formam camadas com baixa


densidade relativa, que, quando saturados,
Existe uma grande preocupação quanto à podem gerar uma condição de carregamento
segurança das barragens projetadas, construídas não drenado e induzir a ocorrência do
e operadas pelo método de montante, que, em fenômeno liquefação. O termo liquefação
alguns casos, são conduzidas sem nenhum define um fenômeno gerado pelo acréscimo
controle do manejo da disposição dos rejeitos. rápido de poropressões positivas em materiais
Uma atenção considerável tem sido dada à com baixa coesão, fofos e saturados, que
melhoria dos métodos de concepção, construção corresponde uma redução na tensão efetiva,
e operação destas estruturas, visando torna-se caracterizando uma queda na resistência
não apenas uma alternativa econômica, mas cisalhante, induzido por carregamento estático
também, uma alternativa estável para as ou dinâmico. Diante das dificuldades na
condições de carregamento estático. A falta de retirada de amostras indeformadas em
conhecimento do risco e a operação inadequada profundidade abaixo da linha de saturação,
na disposição dos rejeitos em barragem alteada associado aos distúrbios durante amostragem
para montante, levaram à ocorrência de rupturas para os ensaios de laboratórios, este estudo
com resultados desastrosos. Após estes eventos, busca analisar o potencial de liquefação através
iniciaram novos estudos e técnicas de operação de correlações de resistência a penetração de
para aumentar a segurança geotécnica. Deste “SPT e/ou CPT” de acordo com a metodologia
modo, a gestão da disposição dos rejeitos e o de Olson (2001).
controle do nível d’água do reservatório foram A metodologia de Olson (2001) trata-se de
premissas essenciais para garantir a segurança uma pesquisa de retro análises de fluxo de
de barragens de rejeitos alteadas para montante. rupturas por liquefação estática de 33 (trinta e
Os rejeitos quando dispostos três) casos históricos encontrados na literatura.
hidraulicamente em barragens alteadas para

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2 METODOLOGIA E ESTUDO DE CASO

A metodologia que será utilizada neste


estudo de caso foi escolhida em virtude dos
dados e informações disponíveis. O método,
utiliza a correlação entre a resistência à
penetração corrigida (SPT e/ou CPT) com a
resistência ao cisalhamento de pico e liquefeita.
Neste contexto, será utilizado a metodologia
completa proposta por Olson (2001) que analisa
a liquefação submetida a uma tensão cisalhante
estática através de estudos de casos históricos
classificado por três principais tarefas a seguir:
9 Suscetibilidade à liquefação;
9 Análise do gatilho da liquefação;
Figura 1 – Linha de contorno entre σ’v0 e (N1)60
9 Análise de estabilidade do fluxo de existentes na literatura, (modificado de Olson, 2001).
ruptura pós-gatilho.

2.1 Avaliação da Suscetibilidade à liquefação

A primeira análise para verificar a liquefação de


um solo submetido a uma tensão cisalhante
estática, é determinar se o solo está no estado
contrátil, ou dilatante.
Fear & Robertson (1995) desenvolveram
uma relação que delimita uma linha de contorno
entre a área susceptível e não susceptível a
liquefação, através da teoria da mecânica dos
solos no estado critico, utilizando resultados de
ensaios de resistência à penetração de valores
médios de (N1)60 e qc1 com a tensão vertical
efetiva pré-ruptura.
As Equações 1 e 2 apresentam a linha de Figura 2 – Linha de contorno entre σ’v0 e qc1 existentes
na literatura, (modificado de Olson, 2001).
contorno propostas por Fear & Roberston
(1995) para SPT e CPT respectivamente.
2.2 Analise do Gatilho da Liquefação Estática
(σ ' v0 ) contorno = 9.5812 x 10 -4 [(N1 ) 60 ]
4.7853
(1) Após análise da suscetibilidade à liquefação e
identificação das camadas contráteis, Olson
(σ ' v0 ) contorno = 1.1047 x 10 -2 (q c1 ) 4.7853 (2001) propõe os procedimentos apresentados
(2) abaixo para análise do gatilho. Nesta etapa será
verificado se as tensões cisalhantes estáticas
Olson (2001) recomenda esta análise para excedem a resistência cisalhante de pico de um
concepção de novos projetos ou avaliação de solo contrátil. O procedimento pode ser
estruturas existentes utilizando os registros de realizado utilizando uma planilha eletrônica
(N1)60 e qc1 ao longo do perfil investigado. As seguindo das orientações abaixo.
Figuras 1 e 2 apresentam os limites de contorno I. Realizar uma análise de estabilidade de
modificado por Olson (2001). taludes da geometria pré-ruptura para
estimar a tensão cisalhante estática
atuante (τd) nos solos suscetíveis à
liquefação.

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II. Dividir a superfície de ruptura crítica em


um número de 10 a 15 segmentos seriam Su ( yield )
satisfatórios. = 0.205 + 0.0075[( N 1 ) 60 ] ± 0.04 (4)
σ ' v0
III. Determinar o valor da média ponderada
da tensão vertical efetiva, σ’v0(média), nos Su ( yield )
solos suscetíveis, de acordo com a = 0.205 + 0.0143(qc1 ) ± 0.04 (5)
Equação 3 e calcular a razão de tensão σ 'v0
cisalhante estática média, τd/σ’v0(média).
V. Em seguida, calcula-se os valores de
(σ ' v0 ) (média) =
∑ n
i =1 σ ' v,i x L i
(3)
Su(yield) e τd, para cada segmento da
∑ n
i =1 Li superfície de ruptura crítica,
multiplicando a razão de resistência de
IV. O próximo passo será determinar o valor pico e a razão de tensão cisalhante
da razão de resistência ao cisalhamento estática pelo σ’v0 de cada segmento,
de pico Su(yield)/σ’v0 dos solos respectivamente.
suscetíveis utilizando a resistência à VI. O último passo será verificar o gatilho
penetração corrigida de SPT e/ou CPT, da liquefação em cada segmento através
conforme linhas médias de tendência do fator de segurança contra o disparo
apresentados nas Figura 3 e 4 e da liquefação, conforme a Equação 5.
Equações 4 e 5.
Su ( yield )
FS(Gatilho) = (6)
τ atuante + τ médio, sismico + τ outros

Para Olson (2001), os segmentos com um


FSgatilho igual ou superior a 1 (um) não são
prováveis de ocorrer a liquefação. Para estes
segmentos com fatores de segurança maiores
que 1 (um) deverá ser elaborado uma análise de
estabilidade da superficie de ruptura atribuindo
as resistências ao cisalhamento de pico. Para os
segmentos com um FSgatilho inferior a 1 (um), o
potencial de liquefação é provável de ocorrer e
Figura 3 – Relações entre a razão de resistência ao
cisalhamento de pico e o número de golpes de SPT
os segmentos devem ser verificados e atribuídos
corrigido (Modificado de Olson, 2001). quanto à resistência ao cisalhamento liquefeita
para uma análise de estabilidade pós-gatilho.

2.3 Analise da Estabilidade do Fluxo de


Ruptura ou Pós-Gatilho.

Após análise do gatilho, para os segmentos com


FSgatilho menor que 1 (um), Olson (2001) cita
que, se a liquefação é disparada, uma análise de
estabilidade pós-gatilho da estrutura utilizando
a geometria pré-ruptura deve ser conduzida para
determinar se as forças cisalhantes estáticas
atuantes são maiores do que a resistência ao
cisalhamento liquefeita.
Figura 4 – Relações entre a razão de resistência ao As Figuras 5 e 6 apresentam as linhas média
cisalhamento de pico e a resistência de ponta de CPT de tendência da relação da razão de resistência
corrigida (Modificado de Olson, 2001).

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liquefeita Su(LIQ)/σ’v0 com as resistências à seja, (entre 1 e 1,1) devem ser redefinidos com
penetração corrigida de SPT e/ou CPT obtidas a resistência ao cisalhamento liquefeita.
através das Equações 7 e 8 .
2.4 Estudo de Caso.

O estudo de caso deste trabalho será a avaliação


do potencial de liquefação estática, aplicando a
metodologia de Olson (2001), na estrutura
denominada barragem I que tem como
finalidade a contenção de rejeitos da usina de
concentração de minério de ferro da Mina de
Córrego do Feijão, de propriedade da VALE
S.A, localizado no município de Brumadinho,
MG.
A barragem I está em operação desde 1976,
possui uma altura total de aproximadamente 81
Figura 5 – Relações entre a razão de resistência ao (oitenta e um) metros, composta de um dique
cisalhamento liquefeita e o número de golpes de SPT inicial e sucessivos alteamentos para montante,
corrigido (Modificado de Olson, 2001).
sobre rejeitos.

2.5 Disposição dos Rejeitos na Barragem I

Os rejeitos da Mina de Córrego do Feijão


sempre foram dispostos na forma de polpa,
bombeados da usina e aduzidos por tubulação
até a crista da barragem. As disposições de
rejeitos nesta estrutura tiveram duas fases. Na
1° fase, ocorrida entre os anos de 1976 até
2005, a barragem era operada sem uma diretriz
quanto à disposição dos rejeitos. Durante este
período, houve situações de disposição
Figura 6 – Relações entre a razão de resistência ao
submersa por problemas no bombeamento da
cisalhamento liquefeita e a resistência de ponta de CPT recirculação de água e outro aspecto
corrigida (Modificado de Olson, 2001). importante, eram as distâncias entre os pontos
dos espigotes, em média, espaçados a cada 100
Su ( LIQ ) (cem) metros ao longo da crista da barragem.
= 0.03 + 0.0075[( N1 ) 60 ] ± 0.03 (7) Na 2° fase, iniciada em 2006 até hoje, houve
σ ' v0
uma mudança no método de disposição dos
rejeitos e um entendimento melhor quanto à
Su ( LIQ )
= 0.03 + 0.0143(qc1 ) ± 0.03 (8) importância desta operação. Nesta etapa, os
σ ' v0 rejeitos continuam sendo dispostos para
montante, mas, através de barras aspersoras
De acordo com Olson (2001), se o fator de (“spray bars”) com (30) trinta metros de
segurança contra o fluxo de ruptura, FSFluxo, comprimento e espaçados a cada 60 (sessenta)
determinada a partir da análise de estabilidade metros ao longo da tubulação principal. Estas
for inferior ou igual a 1 (um), fluxo de ruptura barras aspersoras operam alternadamente ao
da estrutura está previsto de ocorrer. No longo da crista em trechos na praia, buscando
entanto, se o FSFluxo estiver entre 1.0 e cerca de uma formação na praia uniforme e homogênea
1.1, provavelmente irá ocorrer deformações. ao longo da barragem.
Neste caso, os segmentos da superfície de A operação ao longo dos alteamentos na 1°
ruptura com FSgatilho próximo de 1 (um), ou

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fase contribuiu para formação de camadas com


resistências e permeabilidade baixas, condições
verificadas nos ensaios de SPT e CPT ao longo
do perfil dos furos.

2.6 Ensaios de Campo SPT e CPT

Foram realizados 29 (vinte e nove) furos de Figura 8 – Seção de análise com a locação dos ensaios de
sondagens a percussão, distribuídos na praia de campo na Barragem I.
rejeitos e na barragem. Para refinamento dos
parâmetros de resistência, foram executados 08
ensaios de CPTu’s na praia e no maciço da 3 POTENCIAL DE LIQUEFAÇÃO
estrutura. Na seção de análise deste estudo ESTÁTICA APLICANDO O MÉTODO DE
foram realizados 04 (quatro) pares de SPT´s e OLSON (2001)
CPTu´s, sendo que, cada par, está locado um do Neste capítulo serão apresentados as análises e
lado do outro. Além dos pares, existem mais 03 resultados da avaliação da liquefação estática
(três) SPT´s e 01 (um) CPTu locados em pontos da Barragem I da Mina de Córrego do Feijão
diferentes na mesma seção de análise. aplicando a metodologia proposta por Olson
Neste trabalho serão utilizados os resultados (2001) através dos dados de ensaios de campo
das resistências a penetração corrigidos de CPT de resistência a penetração corrigida de CPT
para identificar as camadas fofas de rejeitos realizado na seção de análise.
abaixo da linha de saturação. A resistência à
penetração corrigida de CPT é similar a 3.1 Método de Analise Estabilidade
correção do número de golpes de SPT, no
entanto, ao contrário do SPT, a investigação As análises de liquefação foram realizadas com
com CPT produz um registro contínuo da a utilização de um programa de análise de
resistência ao longo da perfuração. estabilidade (Slide versão 5.043 da Rocsciense
As Figuras 7 e 8 apresentam a planta e a International) e uma planilha eletrônica para
seção de análise da barragem I com a locação análise do gatilho, conforme procedimento
dos ensaios de campo. A seção foi escolhida em proposto por Olson (2001). Em seguida, foi
virtude da freática elevada e das baixas realizada uma análise de estabilidade contra o
resistências identificadas nos ensaios de campo. gatilho utilizando a razão de resistência não
drenada de pico obtidas nas camadas de rejeitos
suscetíveis a liquefação, conforme
recomendado por Terzaghi et al., (1996) para
solos com comportamento não drenado,
utilizando o método de análise denominado
“USSA” (“Undrained Strength Stability
Analysis”).

3.1.1 Suscetibilidade à Liquefação dos


Rejeitos da Barragem I

Para análise da suscetibilidade a liquefação,


Olson (2001) propõe uma relação de contorno
Figura 7 – Planta de locação dos ensaios de campo
desenvolvida por Fear & Robertson (1995),
realizados na barragem I. utilizando os resultados de ensaios de
resistência à penetração corrigida de valores
médios de qc1 com a tensão vertical efetiva pré-
ruptura. Nesta análise, é possível identificar se
os rejeitos são susceptíveis ou não à liquefação.

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A Figura 9 apresenta os resultados dos valores nesta região e a mesma poderia ficar falseada
de resistência de penetração corrigidas de CPT com uma avaliação de segurança incoerente.
realizados na seção de análise da Barragem I.
3.1.2 Analise do Gatilho

Nesta etapa será aplicado o procedimento


proposto por Olson (2001) para verificação do
gatilho da liquefação. Portanto, foi realizado
uma análise de estabilidade e estimada a tensão
cisalhante estática média (τd) de 40KPa e a
média ponderada da tensão vertical efetiva
σ’v0(média) de 189KPa nas camadas suscetíveis.
Obtendo uma média da razão de tensão
cisalhante estática, temos, τd/σ’v0(média), de
(40kPa / 189kPa) → 0,21.
As camadas dos rejeitos suscetíveis 04
(quatro), 05 (cinco) e 06 (seis) foram
localizadas na superfície crítica de ruptura
circular conforme apresentado na Figura 10.
Desta forma, as médias dos valores de
Figura 9 – Relação entre qc1 e σ’v0 dos resultados dos resistência de CPT foram aplicadas na Equação
furos de sondagem de CPT realizados na seção de análise
5 para obtenção das razão de resistência de pico
de liquefação da Barragem I
de cada segmento, conforme Tabela 1.
Observa-se que, a maioria dos pontos Tabela 1. Razões de resistência não drenada das camadas
lançados no gráfico ficaram no lado esquerdo suscetíveis utilizando os resultados dos ensaios de
do limite de contorno recomendado por Olson penetração de CPT através da Equação 5, com exceção
(2001), apresentando-se um material contrátil. da camada 05 (cinco) que faz parte dos ensaio de SPT e
utilizado a Equação 4.
Já os pontos localizados no lado direito do
limite de contorno foram os trechos realizados Razões de Resistência não drenada de pico
no maciço compactado. Diante da verificação Valor médio das Razão de
dos perfis dos furos dos ensaios de campo de Camadas resistências de CPT e resistência
CPT, foram mapeadas as camadas suscetíveis à SPT não drenada
04 3,75 MPa 0,259
liquefação apresentadas na Figura 10.
05 4,5 * 0,239
06 6,0 MPa 0,282
* valor do parâmetro (N1)60

Na próxima etapa foram calculados os


valores Su(yield) e τd para cada segmento
localizados na camada suscetível da superfície
de ruptura crítica e os fatores de segurança dos
segmentos suscetíveis contra o disparo da
liquefação estática, conforme a Tabela 2 abaixo.
Figura 10 – Seção da análise com as camadas suscetíveis
a liquefação mapeadas através dos resultados de
resistência a penetração corrigida de CPT

A camada 05 (cinco) foi obtida através dos


resultados de ensaios de SPT e servirá como
complemento na seção de análise de CPT, visto
que, não foi executado nenhum furo de CPT Tabela 2. Análise do gatilho dos segmentos na seção

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típica da Barragem I através dos resultados de ensaios de rápido avanço do reservatório sobre a praia de
resistência à penetração de CPT. rejeitos ou durante um longo período de
precipitação sobre a Barragem I.
Olson (2001) considera que, para FS contra
gatilho superior 1 (um) é improvável que o
gatilho seja acionado. Nesta estudo o potencial
de liquefação contra o gatilho na superfície
critica de ruptura será classificado através dos
fatores de segurança propostos abaixo:
FS > 1,5 → Potencial Muito Baixo;
1,3 > FS > 1,5 → Potencial Baixo;
1,1 > FS > 1,3 → Potencial Moderado;
Considerando os fatores de segurança FS < 1,1 → Potencial Elevado.
maiores do que 01 (um), encontrados na análise
do gatilho dos segmentos apresentados na A análise de estabilidade contra o gatilho
Tabela 2, através dos resultados de resistências utilizando as razões de resistência não drenada
de CPT, conclui-se que, o gatilho não foi de pico das camadas suscetíveis e os parâmetros
acionado e a análise de estabilidade da geotécnicos dos materiais não suscetiveis estão
superfície crítica de ruptura circular será apresentados na Tabela 3.
realizada considerando as resistências ao
cisalhamento de pico. Tabela 3. Parâmetros geotécnicos utilizados na análise de
Como não ocorreu o gatilho da liquefação, estabilidade contra o gatilho da liquefação com os
não será necessário verificar e realizar a análise resultados dos ensaios de resistência a penetração de CPT
de estabilidade do fluxo de ruptura contra
liquefação ou pós-gatilho utilizando as
resistências cisalhantes liquefeitas.
A próxima etapa será verificar a análise de
estabilidade contra o gatilho na superfície
crítica de ruptura, utilizando as resistências ao
cisalhamento de pico através dos resultados dos
ensaios de resistências corrigidas a penetração
de CPT.

3.1.3 Análise de Estabilidade Contra o Gatilho


da Superfície Crítica de Ruptura Considerando
uma Súbita Elevação da Linha Freática da
Barragem
A Figura 11 apresenta a análise de
A avaliação contra o gatilho da liquefação foi
estabilidade contra o gatilho da liquefação na
realizada considerando as razões de resistência
superfície crítica de ruptura, considerando uma
de pico na superfície crítica da ruptura circular,
rápida elevação da linha freática nos materiais
considerando uma rápida elevação da linha
suscetíveis, identificados através dos resultados
freática nas camadas dos rejeitos suscetíveis.
dos ensaios de resistência a penetração de CPT.
A linha freática da seção de análise foi
obtida através da instrumentação existente e
manejo de disposição atual. Nesta análise, a
freática eleva-se rapidamente sentido às
camadas de rejeitos suscetíveis, tornando-as
totalmente saturadas e com comportamento não
drenado. Este evento pode ocorrer após um

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Figura 11 – Análise de estabilidade contra o gatilho da rejeitos alteadas para montante.


liquefação aplicando à metodologia de Olson (2001)
De acordo com fator de segurança (FS=1,32) AGRADECIMENTOS
encontrado na análise de estabilidade contra o
gatilho da superfície crítica de ruptura circular, Os autores gostariam de agradecer a Companhia
considerando uma rápida elevação da freática, Vale pela disponibilidade das informações
conclui-se que, o potencial contra o gatilho da existentes para realizar o estudo e pela liberação
liquefação na superfície crítica é considerado do uso e divulgação dos resultados.
baixo aplicando a metodologia de Olson (2001).

REFERÊNCIAS
4 CONCLUSÕES
Abrão, P.C. Sobre a deposição de rejeitos de mineração
no Brasil. In: Simpósio sobre barragens de rejeitos e
O procedimento proposto por Olson (2001)
disposição de resíduos industriais e de mineração,
permite realizar análises de liquefação de solos regeo’87. 1987, Rio de Janeiro. Anais... Rio de
submetidos a carregamentos estáticos, Janeiro, 1987. v. 1, p. 1-9.
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de contenção de rejeitos de minério de ferro da Cava
drenados e conceitos de mínima compacidade C1 da Mineração Rio Verde Ltda, localizada no
dos rejeitos podem ativar a liquefação, mas em município de Nova Lima/MG – Ministério Publico do
diversos casos, não representam as condições Estado de Minas Gerais.
de adensamento dos rejeitos in-situ. Isto porque, Olson, S.M. (2001). Liquefaction analysis of level and
existe uma dificuldade na coleta de amostras sloping ground using field case histories and
penetration resistance. Ph.D. thesis, University of
indeformadas em camadas saturadas em Illinois at Urbana–Champaign, Urbana, Ill.
profundidade, devido à baixa coesão dos Olson, S.M. AND STARK, T.D. (2002). Liquefied
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Dam using strength ratios. Canadian Geotechnical
I de rejeito alteado para montante, pode-se Journal, 43(5), 484-499.
concluir que a estrutura está segura contra o Poulos, S.J., Castro, G. e France, J.W. (1985)
gatilho da liquefação e que, a metodologia de Liquefaction evaluation procedure. Journal of
Olson (2001) aplicada neste trabalho utilizando Geotechnical Engineering Division, ASCE, v. 111, n.
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Seed, R.B. and Harder, L.F. JR. (1990). SPT-based
apresentou-se um procedimento prático, analysis of cyclic pore pressure generation and
conservador e tecnicamente confiável. undrained residual strength. Proc. H.Bolton Seed
Este procedimento permite uma análise Memorial Symposium, Bi- Tech Publishing Ltd., Vol.
completa dos principais fatores que levam a 2, 351-376.
identificar um solo suscetível e como verificar a
segurança contra este fenômeno, principalmente
a gestão do manejo da disposição dos rejeitos e
controle do nível de água do reservatório.
Finalmente os autores esperam difundir esta
técnica, através de um manual para a avaliação
do potencial de liquefação das barragens de

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