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Mecanismos de Endurecimento

PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Prof. Dr. Paulo César Borges


CÁLCULO DA RESISTÊNCIA TEÓRICA
DE UM CRISTAL

• O objetivo primário dos pesquisadores dá área de


materiais é entender o design e o controle das
propriedades dos materiais.
• É conhecido que a resistência mecânica dos materiais
está intimamente relacionada com: a interação das
discordância com os defeitos cristalinos; e
microtrincas (entalhes).
• Se o material não apresenta trincas ou defeitos
cristalinos, quando sobre carregamento deverá falhar
apenas quanto a resistência teórica ou ideal
(propriedade intrínseca) for atingida.
CÁLCULO DA RESISTÊNCIA TEÓRICA DE UM
CRISTAL
1. A tensão requerida para separar dois planos pode ser considerada como
resistência a fratura de um material sólido e função da força de coesão
entre os átomos;
2. Com base nisto a resistência coesiva de um sólido elástico frágil foi
estimada como sendo E/10;
3. Observações mostram que as resistências a fratura experimentais estão
entre 10 e 1000 vezes abaixo deste valor.
Tabela 01 – Propriedades obtidas do Callister.
Material E (GPa) st (MPa) E/10 (Mpa) (E/10)/st
AISI 4340 Temp. e R 420 oC 207 1420 20700 14,6
AISI 1020 laminado a
2,4 à 4,1 40,7 240 5,9
quente
Alumínio UNS 2024 T31 72,4 485 7240 14,9
AL2O3 e 99,9% 380 282 a 551 38000 135
25 à
Concreto 37 à 41,33 2500 67
36,62
1 = Solubilizada e envelhecida
2 = módulo secante tomado em 25% do limite de resistência a ruptura.
3 = medido em ensaio de compressão.
CÁLCULO DA RESISTÊNCIA TEÓRICA DE UM
CRISTAL
Conforme Griffith os materiais frágeis apresentam resistência a fratura
experimental inferior ao teórico em função da existência de defeitos.
Os Uísqueres (Whiskers) metálicos e cerâmicos foram desenvolvidos
“livres” de defeitos e consequentemente a resistência a fratura se
aproxima da teórica.

Tabela 02 – Propriedades obtidas do Callister.

Material E (GPa) st (MPa) (E/10)/st


AISI 4340 Temp. e R 315 oC 207 1760 11,8
AISI 1020 laminado a quente 207 380 54,5
Uísquer de Grafita 700 20000 3,5
Uísquer de Silício 480 20000 2,4

 Estruturas cristalinas mais perfeitas apresentam maior resistência.


 Contudo veremos a seguir que em materiais com imperfeições
podemos ajustar as propriedades manipulando as imperfeições.
Mecanismos de Endurecimento
O aumento de resistência esta associado a inclusão de obstáculos a
movimentação de discordâncias.

Os obstáculos podem ser:


Átomos de soluto;
Outras discordâncias;
Contorno de grão;
Precipitados.
Conseqüentemente os mecanismos de
endurecimento são:

1) Endurecimento por encruamento;


2) Endurecimento por solução sólida;
3) Endurecimento por refino de grão;
4) Endurecimento por dispersão.
ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

Linhas de escorregamento; Amostra


policristalina de Cu 2% de Al.

Recozido Encruado
DISCORDÂNCIAS
106 mm-2 1012 mm-2
ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

Distorção do reticulado pela


presença de discordâncias.
ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

SISTEMAS DE ESCORREGAMENTO:
1. O sistema de escorregamento depende da estrutura cristalina do material.
2. As discordâncias não se movem com a mesma facilidade em todos os
planos cristalinos e em todas as direções cristalinas.
3. A movimentação das discordâncias se dá preferencialmente através de
planos específicos e, direções específicas, ou seja, planos e direções mais
densas.
4. Essa combinação de um plano e uma direção é chamada de sistema de
deslizamento (“slip system”).
5. Materiais com ligações iônicas são mais resistentes ao deslizamento
devido ao desequilíbrio de cargas elétricas gerado durante o
deslizamento;
6. Materiais como ligações covalentes tbm são mais resistentes ao
deslizamento devido a direcionalidade das ligações.
ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

Ex. Planos e direções compactas no Sistema CFC

Plano (111)

Sistema formado pelas


famílias: Plano {111} e
Direções <110>
Movimentação: Compacto vs não compacto.

Ex. Plano Compacto (111)


CFC

Ex. Plano não compacto


(100) CFC
TENSÃO NECESSÁRIA PARA MOVER UMA DISCORDÂNCIA

A Tensão de Peierls-Nabarro t que é igual a t crit (tensão de


cisalhamento efetiva critica) corresponde a tensão necessária para mover
uma discordância de um local de equilibrio para outro;

Onde:
k e c = const.
d= distância entre os planos de deslizamento;
b= módulo do vetor de Burgers

t Aumenta esponencialmente com o módulo do vetor de burgers, ou seja é mais


facil movimentar a discordância em uma direção mais densa;
t Diminui esponencialmente com o aumento da distância interplanar, ou seja é
mais facil movimentar uma discordância entre planos de atomos mais afastados;

b t / d t ou seja  t ocorre para d e b


DEFORMAÇÃO EM MONOCRISTAIS – Lei de Schmid

Fr = força resultante ou efetiva no plano de deslizamento (Fr=Fcos λ);


A = área real de cisalhamento (A=A0/cos).
te= Tensão de cisalhamento efetiva ou resolvida (te=scoscosλ)
Obs. O eixo de tração, a normal ao plano de escorregamento e a direção de
escorregamento não precisam estar no mesmo plano.
Considerações Geométricas – Estado de tensão
Para qual ângulo  e λ teremos o maior valor da tensão de cisalhamento
efetiva?
te =scoscosλ

Tensão de cisalhamento efetiva é máxima para =λ=45


te= tcrit =s coscosλ e se=2 tcrit

tcrit = Tensão de cisalhamento projetada critica= a tensão que leva um


numero suficientemente grande de discordâncias a moverem-se, de forma a
deformação ser mensurável.
Considerações Geométricas – Estado de tensão

Em um material policristalino, o trajeto de


deslizamento médio esta a 45° em relação
ao eixo de tração.
Aspecto da Deformação Plástica: Mono e Policristal

(e)
Monocristal de zinco (a até d) e aço policristalino (e) deformado plasticamente,
mostrando bandas de escorregamento: (a) vista frontal do cristal,
(b) vista lateral do cristal,
(c) vista lateral esquemática, indicando os planos basais de escorregamento no
cristal HC,
(d) indicação dos planos basais de escorregamento na célula unitária HC, e
(e) fratura taça cone em aço dúctil.
DEFORMAÇÃO EM MONOCRISTAIS – Lei de Schmid
Exemplo
Considere um monocristal de ferro CCC orientado de tal modo que uma tensão de
tração seja aplicada ao longo de uma direção [010]. a) calcule a tensão de
cisalhamento efetiva ao longo de um plano (110) e em uma direção [111] quando é
aplicado uma tensão de tração de 52 MPa. b) se a tensão de cisalhamento efetiva
crítica é de 30 Mpa, qual a tensão de tração necessária para dar inicio ao
escoamento? c) O material consegue entrar em regime plástico com a tensão
aplicada de 52MPa do item a?
SOLUÇÃO

te=scoscosλ
SOLUÇÃO

c)
Como a Tensão de Cisalhamento
Efetiva (te) no item a é inferior a
Tensão de Cisalhamento Critica
(tcrit) não ocorre deslizamento.
DEFORMAÇÃO EM MONOCRISTAIS – Influência da
Estrutura cristalina

Mais fácil ocorrer deformação:

1. Quanto menor a “Tenção de cisalhamento efetiva”


2. Quanto maior o “Número de sistemas de deslizamento”
3. Ocorre o “Deslizamento cruzado”
ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

SISTEMAS DE ESCORREGAMENTO

Conjunto de planos do “lado”


ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

Curva Tensão Deformação


em função do Encruamento
(trabalho a frio (TF))

 A0  A f 
%TF    x100
 A0 
Porque o LE e LR aumentam com o
aumento da deformação?
A CURVA TENSÃO vs. DEFORMAÇÃO RELATIVA OU
CURVA CONVENCIONAL

A curva convencional permite obter facilmente o limite de


escoamento (LE ou LE0,2), o limite de resistência (LR), o
alongamento uniforme (Ag) e o alongamento total (A).

Os valores retirados desta curva são usados no dimensionamento


de componentes para máquinas etc.

Eles não podem ser usados em cálculos para a avaliação do


comportamento destes materiais em processos de conformação
mecânica usando os métodos conhecidos do cálculo de força
ou a simulação.

Borges / Ricardo Reis


A CURVA TENSÃO vs. DEFORMAÇÃO RELATIVA OU
CURVA CONVENCIONAL

Resistência à tração

Dentro de certos limites,


a deformação é proporcional

à tensão (a lei de Hooke é

obedecida)

l
Lei de Hooke: s =Ee
e
25 l0
Borges / Ricardo Reis
A CURVA TENSÃO vs. DEFORMAÇÃO RELATIVA OU
CURVA CONVENCIONAL vs CURVA TENSÃO
DEFORMAÇÃO REAL

Para o planejamento de processos de conformação mecânica não é


suficiente saber a tensão que é necessária para iniciar o escoamento
do material
=> os materiais encruam durante os processos.

É necessário saber a tensão necessária para manter o escoamento


em andamento em qualquer momento de processo.
=> tensão real (s ou kf)

A tensão real é geralmente representada


em um diagrama tensão vs. deformação real.

=> A curva neste diagrama é chamada Curva Tensão Deformação


Real ou Curva Tensão Deformação Verdadeira.
Borges / Ricardo Reis
CURVA s X  VERDADEIRA OU REAL

Os dados para a construção tensão deformação verdadeira podem ser


obtidos no ensaio de tração. A diferença é a forma de avaliação dos
dados gravados durante o ensaio.
A tensão verdadeira kf é calculada usando-se as seguintes expressões:
com:
F S0
kf  S1  S0: seção inicial,
S1 1 e S1: seção atual e
e : deformação relativa.
A deformação real é calculado usando-se a seguinte expressão:
com:
  ln(1 e)  : deformação real,

e : deformação relativa.
Borges / Ricardo Reis
CURVA s X  VERDADEIRA E s X e CONVENCIONAL

Borges / Ricardo Reis


CURVA s X  VERDADEIRA OU REAL

Os diagramas das curvas tensão deformação verdadeiras podem ser


representadas de duas formas:
1. com eixos lineares,
2. com eixos logarítmicos.
Vantagem da segunda opção é que ela permite em certos casos a
leitura fácil do índice de encruamento!
(p. ex. aços de baixo carbono: conforme ABNT 5915, DIN 1623,
DIN EN 10130)
No caso destes materiais a tensão deformação verdadeira pode ser
descrita
usando-se a fórmula de HOLLOMON / LUDWIK:

Borges / Ricardo Reis


CURVA s X  VERDADEIRA OU REAL
Coeficiente de Encruamento e de Resistência

Coeficiente de resistência ou constante plástica de resistência (K)


Coeficiente de encruamento (n)

s=Kn ou log s = log K + n log 

onde:
K é igual a tensão quando a deformação é igual a 1 e
n é a inclinação da reta.
550
Tensão Verdadeira (MPa)

400

250

150

100
0.01 0.1 1.0

Deformação Verdadeira (mm/mm)


CURVA s X  VERDADEIRA OU REAL
Coeficiente de Encruamento

Materiais com alto valor de n apresentam


maior ganho de resistência para uma
mesma taxa de deformação.

O que vcs entendem desta afirmação?

Materiais com elevado n tbm


apresentam maior capacidade de
distribuir a deformação uniformemente.

Curva Tensão deformação


verdadeira para metais com
coeficiente de encruamento (n)
baixo e alto. Borges / Ricardo Reis
Resultados /Curva de Engenharia

800

700
Tensão convencional em N mm -2

X5 CrNi 18 10
600

500

400

300
DC 04
200

100

0
0 10 20 30 40 50 60

Deformação relativa em %

Borges / Ricardo Reis


Resultados / Tensão deformação verdadeira (escala decimal)

1000

900

800
-2
Tensão real em N mm

700 X5 CrNi 18 10
600

500

400

300
DC 04
200

100

0
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Deformação verdadeira

Borges / Ricardo Reis


Avaliação dos dados obtidos -
Calculo da curva tensão deformação verdadeira

Os valores do diagrama tensão vs. deformação relativa que é gravado durante o


ensaio podem ser convertidos em tensão real e deformação real seguindo o
esquema abaixo:
S1 (área
e (def. Eng.) F (força)  (def. real) kf (tensão real)
real)
Ponto i
(mm/mm) N (mm/mm) mm2 N/mm2
Curva Curva =ln(1+e) S1 = So/(1+e) kf = F/S1
1 0,020
2 0,050
3 0,075
4 0,010
5 0,012
...

Borges / Ricardo Reis


CURVA s X  VERDADEIRA E s X e CONVENCIONAL

Al Curva de Eng
------- Al Curva Real
350

300

250
Tensao (MPa)

200

150

100

50

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14


Deformaçao Especifica (mm/mm)
Prof. P.C. Borges – ME51Q-Materiais para Mecatrônica
Resultados / Tensão deformação verdadeira (escala log)

1000
Tensão real em N mm -2

X5 CrNi 18 10


DC 04

100
0,01 0,1 1
Deformação verdadeira

Borges / Ricardo Reis


Resultados Típicos de n e K

Morais, W.A.
Mecanismos de Endurecimento

PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Prof. Dr. Paulo César Borges


ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

Curva Tensão Deformação


em função do Encruamento
(trabalho a frio (TF))

 A0  A f 
%TF    x100
 A0 
Porque o LE e LR aumentam com o
aumento da deformação?
Microestrutura, Textura e Tensões Residuais

Estrutura fibrosa dos grãos


produzida por deformação
a frio em aços baixo
carbono:
a) 10% de trabalho a frio;
b) 30% de trabalho a frio;
c) 60% de trabalho a frio; e
d) 90%de trabalho a frio.
Fonte: ASM Handbook Vol. 9,
Metallography and
Microstructure, (1985) ASM
International, Materials Park,
OH 44073. Used with
permission.)
Microestrutura, Textura e Tensões Residuais

©2003 Brooks/Cole, a division of Thomson Learning, Inc. Thomson Learning™ is a trademark used herein under license.

Comportamento
anisotrópico em chapa
laminada de alumínio lítio
de uso aeroespacial.
Microestrutura, Textura e Tensões Residuais

Tensões residuais adequadas e anisotropia podem ser benéficos.


Microestrutura, Textura e Tensões Residuais

Figura – Tensões residuais podem ser prejudiciais ou benéficas. Uma mesma


carga F é aplicada em dois materiais com perfis diferentes de tensão residual
(linhas vermelhas). As linhas laranjas são as tensões resultantes devido ao
carregamento F. A) Cp com tensões residuais trativas; b) cp com tensões
residuais compressivas.
Caracteristicas do Trabalho a Frio

Podemos moldar conforme desejado e endurecer um material por TF;


As tolerâncias e acabamento são excelentes com o TF;
TF é um processo barado e permite trabalhar com materias primas de
baixo custo;
Alguns materiais como o Mg (HC), possuem um nº limitado de sistemas
de deslizamento e são frageis a temp ambiente. Pouco TF.
Ductilidade, resistência a corrosão e condutividade elétrica pioram com o
TF. Entretanto para determinadas aplicações o TF pode ser o melhor
mecanismo de endurecimento.

Figure – Comparação
do endurecimento do
Cu: (a) TF e (b) adição
de Zn.
Caracteristicas do Trabalho a Frio

Como veremos a seguir o efeito do TF é eliminada a altas temperaturas.


Desta forma não podemos utilizar este mecanismo de endurecimento em
compotentes que trabalharão a temperaturas elevadas.
Algumas técnicas de conformação mecânica só podem ser utilizadas se
ocorrer o encruamento. Ex. Trefilação. Porque?

A tensão de compressão no arame deve exceder o limite de escoamento do metal de


entrada para causar a deformação plastica. No lado de saída, a tensão no arame deve
ser menor do que o limite de escoamento do metal encruado. Isto só é possivel se o
material encruar com a deformação
Propriedades vs % de Trabalho a Frio

O encruamento aumenta a
resistência mecânica

O encruamento aumenta o
limite de escoamento

O encruamento
diminuí a ductilidade
ENDURECIMENTO POR ENCRUAMENTO

LE, LR e A% em função do Encruamento

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