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MÁQUINAS

ELÉTRICAS II

Sofia Maria Amorim Falco Rodrigues


Motores de indução II
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir a tensão induzida no motor de indução.


„„ Estabelecer a relação entre a velocidade do campo magnético e a
velocidade do roto.
„„ Expressar a frequência do circuito do rotor.

Introdução
As máquinas de indução são amplamente utilizadas, especialmente nas
mais diversas aplicações industriais, nos motores de indução. Dessa forma,
entender o funcionamento de um motor de indução é algo indispensável.
Neste capítulo, você verá como definir as tensões induzidas que são
produzidas no rotor desses motores, bem como a força que também é
induzida e o conjugado resultante. Na sequência são exibidas as relações
existentes entre a velocidade do campo magnético girante, produzido
no estator e a velocidade do rotor. Por último, você compreenderá como
calcular a frequência do circuito do rotor, denominada frequência do rotor,
além das análises referentes ao conjugado que é induzido no motor e sua
relação com as velocidades, a frequência e as tensões que são induzidas
no próprio rotor.

1 Tensão induzida no rotor do motor de indução

Deslocamento de um condutor, campo magnético


e tensão induzida
Considere o deslocamento de um condutor em um campo magnético, a partir
da Figura 1, a seguir.
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Figura 1. Movimento de um condutor imerso em um campo magnético.


Fonte: Chapman (2013, p. 34).

Sabe-se que esse movimento é capaz de gerar alguns efeitos, o que inclui
uma tensão induzida nele, dada conforme a Equação (1) (CHAPMAN, 2013):

(1)

Assim, em relação a essa equação, tem-se: a velocidade v do condutor, a


densidade de fluxo magnético B, multiplicado vetorialmente à velocidade, e
o comprimento do condutor l dentro do campo magnético, como um vetor na
mesma direção da corrente que também será efeito do fluxo estabelecido. Além
disso, sabe-se que l apontará para a extremidade de menor ângulo, formado
com o vetor resultante de v × B, e que a tensão é induzida de forma que o polo
positivo permanece apontando no mesmo sentido do vetor resultante v × B.
Para uma melhor compreensão, um esquemático será apresentado a seguir,
juntamente com outros conceitos.
Motores de indução II 3

Então, o módulo do vetor resultante é dado pelo produto dos módulos da


velocidade e da densidade e o seno do ângulo entre eles. Já o sentido é deter-
minado pela regra da mão direita, que será vista com mais detalhes mais
à frente. Ademais, algo semelhante ocorre no funcionamento de um motor
de indução, onde o campo girante induz uma tensão nas barras do rotor, por
exemplo, como será visto adiante.

Condutor, campo magnético e força induzida


Outro efeito visto é a indução de força no condutor, que se baseia na lei da
força de Lorentz, dada pela Equação (2) (UMANS, 2014):

F = q(E + v × B) (2)

sendo q a carga da partícula, sujeita aos campos magnéticos E e B, respec-


tivamente, e à velocidade v em relação ao campo magnético, em m/s. Conside-
rando que há uma grande quantidade de cargas, é possível expressar a equação
anterior como uma relação de densidade de força, conforme Equação (3):

Fv = J × B (3)

onde J é a densidade de corrente, dada pela multiplicação entre a densidade


de carga ρ e a velocidade v.
Considere uma situação mais complexa, na qual há apenas o campo mag-
nético. O sentido da força dependerá apenas do produto da velocidade e da
densidade do campo magnético, dado pela regra da mão direita, conforme
Figura 2, a seguir. O polegar apontará no sentido da velocidade e o dedo
indicador no da densidade. A força será perpendicular à v e B, apontando no
sentido que a palma da mão estiver.
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Figura 2. Regra da mão direita, para determinação do sentido da força de Lorentz, em


relação ao campo magnético.
Fonte: Umans (2014, p. 124).

Além disso, conforme é estabelecida a força, também é possível definir a


seguinte relação, pelo diagrama vetorial da Figura 3, com a força e a dimensão
do condutor, conforme já visto para a definição da Equação (1), para cálculo
da tensão induzida. Considere, então, que o campo está perpendicular ao
condutor, conforme estabelecido pela densidade, percorrido por uma corrente,
com sentido também dado em função do comprimento do próprio condutor.

Figura 3. Diagrama vetorial da relação entre campo


magnético, representado pela densidade e força in-
duzida, bem como a corrente, e, consequentemente,
a representação da dimensão do condutor no campo.
Motores de indução II 5

Considerando a Figura (3), percebe-se, ainda, que a força induzida pode ser
tomada também como uma relação vetorial da corrente, conforme apresentado
pela Equação (4):

(4)

Ademais, como esperado, da mesma forma que há a indução de tensão, a


indução de força também ocorre em um motor de indução prático. A seguir,
consideraremos esses conceitos se o elemento condutor pode ser aproximado
de uma espira simples.

Tensão e força induzidas em uma espira simples


Considere, agora, a tensão induzida pelo movimento de rotação, em um campo
magnético constante e uniforme de em uma espira simples, conforme a Figura 4,
a seguir. Observa-se, também, uma velocidade angular correspondente ao
movimento e às velocidades escalares referentes a pontos da espira, além de
tensões resultantes que, juntas, são responsáveis pela tensão total senoidal na
espira, a etotal ou eind.

Figura 4. Espira simples, girando dentro de um campo magnético uniforme. (a) Vista
frontal. (b) Vista da bobina.
Fonte: Chapman (2013, p. 153).
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A tensão total é dada por todas as contribuições dos pontos da espira, tal
que (CHAPMAN, 2013):

etotal = eba + ecb + edc + ead = 2(vBl) sen θ (5)

Alternativamente, relacionando-se diretamente com o funcionamento de


uma máquina CA real, a Equação (4) pode ser reescrita como:

etotal = (ABω) sen (ωt) (6)

onde A é a área da espira, correspondente a 2rl.


Observando-se o fluxo magnético, sabe-se que o fluxo máximo através
do laço da espira ocorre na posição perpendicular dela, em relação às linhas
de densidade de fluxo magnético. Como esse fluxo é proporcional à área e à
densidade, a tensão induzida pode ser reescrita como:

eind = (ϕmáxϕ) sen (ϕt) (7)

Pensando diretamente no funcionamento do motor de indução, a tensão


induzida também pode ser compreendida como o resultado do produto do
fluxo magnético no interior do motor e a velocidade de rotação dele. Logo,
dependerá diretamente de fatores como: fluxo magnético, velocidade de rotação
e parâmetros construtivos, como o número de espiras.
Considere novamente a força que é induzida no condutor. No exemplo a
seguir, tem-se esse cálculo considerando uma espira simples.

Considere um motor de rotor cilíndrico, que contém uma bobina de única espira,
imerso em um campo magnético uniforme (módulo B0), conforme figura a seguir.
Deseja-se calcular a força induzida, estimada para cada um dos fios que fazem parte
do rotor. Considere que a corrente é 10 A, o campo magnético é 0,01 T, o raio da espira
é 0,025 m e o comprimento do rotor é de 50 cm.
Motores de indução II 7

Fonte: Umans (2014, p. 124).

Como a espira é circular, seus lados estão a uma distância R, e, como visto, o fio
conduz uma corrente I. Para calcular a força, é necessário expressar a corrente elétrica
em função da densidade. Para isso, sabe-se que a seguinte relação é válida, pois a
corrente líquida em um fio pode ser calculada pela integral da densidade na área da
seção reta do fio:

Com isso, determina-se a força líquida, por unidade de comprimento, baseando-se


na Equação (3):

Para o fio 1, tem-se:

F1 = – 10 . 0,01 . 0,5 . sen(α) = 0,05sen(α)

e para o fio 2:

F2 = – 10 . 0,01 . 0,5 . sen(α) = 0,05sen(α)


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A força líquida, vista no exemplo anterior, é o conjugado induzido no


elemento condutor e, consequentemente, em um motor de indução. É o re-
sultado da força induzida, que atua para a movimentação do rotor, conforme
será visto adiante, considerando o exemplo da espira simples.
Para a definição formal do conjugado induzido, considere novamente
que há a circulação de uma corrente na espira, i, que faz um ângulo θ com o
campo magnético. Além disso, novamente, cada região da espira é responsável
por uma contribuição, de forma que o conjugado induzido total (τind) é dado
pelas deduções das forças e dos conjugados, conforme relação vetorial vista
na Figura 5, a seguir.

Figura 5. Dedução da força e do conjugado induzido, para uma espira simples em rotação
em um campo magnético.
Fonte: Chapman (2013, p. 157).

Assim, o conjugado induzido total é (CHAPMAN, 2013):

τind = (2 . r . i . l . B)sen(θ) (8)


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Da mesma forma que a tensão induzida, é possível reescrever o conjugado


a partir do fluxo magnético. Assim, considerando A a área do laço da espira,
um fator G dado conforme a geometria do laço da espira e μ a permeabilidade
magnética do material, tem-se que o conjugado induzido é dado por:

τind = KBlaçoBssen(θ) (9)

Na equação anterior, k é AG/μ, Blaço, a densidade de fluxo magnético per-


pendicular ao plano do laço, Bs, a densidade do fluxo no estator da máquina,
e θ, o ângulo formado entre Blaço e Bs. Ou seja, o conjugado induzido no laço
será proporcional às intensidades dos campos magnéticos (interno e externo)
e ao seno do ângulo entre esses campos. Ademais, assim como as proposições
para a tensão induzida, essas colocações também são válidas para máquinas
de corrente alternada reais, e, em geral, o conjugado dependerá de quatro
fatores: das intensidades dos campos magnéticos no rotor e, externamente,
do ângulo formado entre esses campos e os fatores construtivos do motor,
como sua geometria. Antes de definir formalmente o conjugado no motor de
indução, a partir da relação da força induzida e, consequentemente, das tensões
induzidas no rotor, é necessário rever como é estabelecido o campo magnético
que origina esses dois parâmetros: o campo magnético girante do estator.

Estator e campo magnético girante


Considere um motor de indução, cujo estator é alimentado por meio da rede
trifásica, um sistema de correntes alternadas. O enrolamento desse estator
também é estabelecido de forma que as bobinas estejam deslocadas entre si
em 120°. Quando cada uma das correntes circula nas bobinas, é produzido um
campo magnético entre elas. A interação entre esses campos resulta em um
campo magnético girante no estator, cujo sinal pode ser visto conforme as
seis polaridades, norte e sul, nas fases A, B e C, como mostrado no esquema
da Figura 6, a seguir.
10 Motores de indução II

Figura 6. Campo magnético girante.


Fonte: Petruzella (2013, p. 131).

Assim, esse campo girará, conforme a alimentação estabelecida, no sen-


tido horário, e a inversão pode ser feita invertendo-se uma fase e com outra.
Ademais, uma característica importante do motor, como o número de polos,
é dada a partir do campo magnético girante produzido no estator. A quantidade
de polos é dada pelo número de vezes que um enrolamento da fase é exibido.
No exemplo do esquemático anterior, o motor apresenta dois polos.

Conjugado no motor de indução


Conforme já visto, certas etapas do funcionamento de um motor de indução
podem ser compreendidas pela indução de tensão em um condutor girante,
imerso em um campo magnético. Há, também, um conjugado induzido referente
a esse elemento rotativo. Assim, considere um motor de indução polifásico,
com rotor denominado gaiola de esquilo, sendo aplicado um conjunto trifásico
de tensões ao estator, o qual recebe, também, uma combinação trifásica de
correntes elétricas. Essas correntes são responsáveis pela geração do campo
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magnético no estator (Bs), e sabe-se que ele está girando em sentindo anti-
-horário, com velocidade dada por (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014):

(10)

Assim, a velocidade é diretamente proporcional à frequência de alimen-


tação do sistema do estator e inversamente proporcional à quantidade de
polos. Ademais, essa velocidade do campo também é denominada velocidade
síncrona, e fs também é a frequência de rotação do campo magnético girante
estabelecido no estator, visto anteriormente.
Novamente, o campo magnético no estator faz com que sejam induzidas
tensões nas barras do rotor, ao girar e circular através delas. De fato, é o
movimento do rotor em relação ao campo magnético do estator que induz
essas tensões, dadas pela Equação (1), onde v é a velocidade da barra em
relação ao campo magnético, B representa o vetor densidade de fluxo do
campo magnético girante, e l é o comprimento do condutor dentro do campo,
dado vetorialmente devido à direção da corrente. O sentido dessas tensões em
cada uma das barras é dado de acordo com a velocidade de cada uma delas.
Como o rotor possui uma estrutura considerada indutiva, a corrente de pico
que circula no rotor estará atrasada em relação à tensão no próprio rotor.
Então, esse fluxo de corrente no rotor também produz um campo magnético
próprio atrasado, nesse caso, em relação à própria corrente e denominado Br.
O resultado da interação entre o campo magnético no rotor e o campo líquido,
dado pela soma de Br e Bs e denominado Blíq, produz o conjugado induzido,
anti-horário, como pode ser visto na Figura 7, a seguir.

Figura 7. Produção do conjugado induzido em um motor de indução, na sequência de (a) a (c).


Fonte: Chapman (2013, p. 312).
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Logo, como anteriormente, o conjugado pode ser definido em função do


campo do estator. Então, considerando a relação vetorial entre os campos,
tem-se que, de forma geral, a Equação (9) pode ser reescrita como (CHAP-
MAN, 2013):

τind = KBr × Bs (11)

Existem, ainda, considerações sobre a relação entre o conjugado e a ve-


locidade do rotor, a qual determina a própria velocidade de movimentação
do eixo e pode ser utilizada diretamente em diversas aplicações específicas.
Além disso, também existem relações diretas com a velocidade desenvolvida
pelo campo magnético produzido no estator do motor. Todas essas proposições
serão vistas a seguir, onde surge um novo conceito acerca do funcionamento
do motor de indução: o escorregamento.

2 Relações entre conjugado,


velocidade síncrona e escorregamento
do motor de indução
Sabe-se que o motor é capaz de alterar sua velocidade a partir do conjugado.
Sendo este com sentido anti-horário, o rotor também acelerará nesse sentido,
porém essa aceleração é limitada pelo próprio campo girante do estator. Assim,
para compreender como isso ocorre, considere alguns fatores importantes
do funcionamento do motor de indução, tais como o fato de a velocidade do
rotor e a do campo magnético girante do estator serem diferentes. Caso o rotor
estivesse girando à velocidade síncrona (do campo), não haveria movimento
do rotor em relação ao campo, pois a movimentação do rotor é proporcionada
por essa diferença relativa. Consequentemente, as tensões nas barras do rotor
não seriam induzidas, não havendo corrente, e, logicamente o fluxo magnético
não existiria no rotor, o que também não propiciaria a produção do conjugado.
Do ponto de vista do próprio movimento do rotor do motor, nessa situação
descrita, ele acabaria por perder sua velocidade adquirida, pois não teria meios
de mantê-la, sendo que o próprio atrito entre suas partes findaria o movimento.
A limitação da velocidade de rotação pode ser compreendida, em suma, da
seguinte forma: o motor ganhará velocidade até muito próximo, na prática,
da velocidade síncrona, embora, como esperado, tanto o campo magnético
no rotor quanto no estator giram na velocidade síncrona (CHAPMAN, 2013;
UMANS, 2014).
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Escorregamento do rotor do motor de indução


Como visto anteriormente, a tensão que é induzida no rotor depende da velo-
cidade do movimento dele em relação aos campos magnéticos girantes. Além
disso, como o funcionamento do motor de indução depende dessa comparação,
usualmente, o termo correto é que essa é a velocidade relativa. E o resultado
da comparação entre a velocidade de movimento do rotor e a dos campos
também recebe uma denominação própria: velocidade de escorregamento.
Logo, a velocidade de escorregamento é dada pela diferença entre a velocidade
do campo magnético girante no estator (velocidade síncrona) e a velocidade
mecânica, do eixo do motor (CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014):

nesc = nsinc – nmotor (12)

Quando se compara a velocidade de escorregamento e a velocidade máxima


possível a ser atingida, ou seja, a velocidade do campo magnético girante no
estator, tem-se o escorregamento do motor:

(13)

que também é expresso em função das velocidades angulares:

(14)

O escorregamento é usado nas equações que caracterizarão o desempenho do motor


de indução, como será visto em capítulos adiante, sendo essa uma característica
importante, resultado de todos os parâmetros estabelecidos no funcionamento do
motor. Pode-se dizer de maneira simplista que o rotor do motor apresenta rotação
devido ao escorregamento existente.
14 Motores de indução II

Pode-se dizer, por exemplo, que um dado motor de indução opera com um
escorregamento de s = 0,02, ou seja, de 2%, neste caso. Além disso, se o motor
está à velocidade síncrona, significa que o escorregamento é nulo; se ele está
parado, o escorregamento é máximo. Essa velocidade do motor também pode
ser expressa em função do escorregamento e da velocidade síncrona, tal que:

nmotor = (1 – s)nsinc (15)

ωmotor = (1 – s)ωsinc (16)

Logo, torna-se claro que a velocidade do motor é dada a partir da velocidade


do campo girante e do escorregamento do motor. Na seção seguinte, serão
vistas as relações entre frequência, tensões induzidas, conjugado e velocidade.

3 Relações entre frequência, velocidade, tensão


e conjugado induzidos no motor de indução

Frequência no rotor
Como já visto, o movimento relativo entre o campo magnético girante no
estator e o rotor induz tensões. A frequência do sinal senoidal dessas tensões
é dada pela relação:

Fr = sfs (17)

também chamada de frequência de escorregamento no rotor, ou simplesmente


frequência do rotor. Assim, analisando essa relação entre as frequências
do rotor e do campo magnético girante do estator, é possível fazer algumas
comparações com outros equipamentos elétricos, como o transformador.
Essa semelhança é entendida pelo próprio funcionamento do motor de in-
dução, devido à indução de tensões e correntes por parte do estator (nesse
caso de comparação, pode ser visto como o primário) no rotor (visto como
o secundário). Entretanto, sabe-se que seria algo que se assemelharia a um
“transformador rotativo”, e a frequência no secundário não é necessariamente
a mesma do primário. Ademais, essa relação de transformação de frequência
faz com que uma máquina, como um motor de indução de rotor bobinado, seja
usada para realizar a conversão de frequência em algumas aplicações práticas
(CHAPMAN, 2013; UMANS, 2014).
Motores de indução II 15

Para compreender novas maneiras de estabelecer a frequência do rotor ou


mesmo compreender aspectos importantes do funcionamento do motor de
indução, deve-se considerar duas situações distintas, nas quais o rotor estaria
impedido de realizar o movimento de rotação e em rotação.
Considere inicialmente que o rotor seja bloqueado ou travado de alguma
forma. Do ponto de vista prático para o impedimento da rotação, se o motor
analisado for do tipo motor gaiola de esquilo, para que isso ocorra, o único modo
possível é curto-circuitar o rotor durante a construção do motor. Isso porque
esse tipo de motor tem seu rotor construído através de barras combinadas, de
material ferromagnético próprio. Caso o motor possuir um rotor bobinado, o
curto pode ser feito externamente. O campo magnético girante, originário no
estator do motor, induzirá tensões nesse rotor, que terão a como frequência
do sinal o mesmo valor da frequência de escorregamento.
Assim, durante a partida desse motor, como o rotor está parado, o escorre-
gamento será unitário, logo, a frequência no rotor torna-se igual a do estator.
Com isso, como o campo girante do rotor girará à mesma velocidade do
campo magnético girante do estator, o conjugado de partida fará com que o
motor tenda a girar no mesmo sentido do campo do estator. Mais ainda, caso
o conjugado seja suficiente para se opor ao impedimento no eixo, o motor
atingirá a velocidade de operação, mas nunca a velocidade síncrona, pois os
condutores permanecem estacionários em relação ao campo do estator, não
havendo movimento relativo. Por consequência, não seriam induzidas correntes
no rotor, e sequer o conjugado, que habitualmente é proporcionado no eixo,
conforme já visto (CHAPMAN, 2013; UMANS, 214).
Considere, agora, que o rotor esteja girando no mesmo sentido de rotação
do campo produzido no estator. Com isso, as correntes induzidas no rotor
têm frequência dada pela relação de escorregamento, onde a frequência no
rotor é fr = sfs. Essas correntes produzem um fluxo magnético no rotor que
girará, em relação ao próprio eixo, com frequência estabelecida por snsinc e
para frente. Por outro lado, adicionada a esse campo girante no rotor, existe
a própria rotação mecânica da peça, que está a nmotor de rotação. Com isso, a
relação seguinte é estabelecida e válida (UMANS, 2014):

snsinc + nmotor = snsinc + nsinc (1– s) = snsinc (18)


16 Motores de indução II

Em suma, se o motor está parado, ou seja: nmotor = 0 rpm, a frequência no


rotor é igual a do estator, e o escorregamento é unitário. Se o motor gira à
velocidade do campo do estator, ou seja: nmotor = nsinc, a frequência no rotor é
nula, e o escorregamento também. Então, para qualquer velocidade interme-
diária, a frequência no rotor é dada pela Equação (17), que também pode ser
expressa como (CHAPMAN, 2013):

(19)

Nesta última seção, serão apresentadas algumas análises que relacionam


a velocidade do próprio eixo do motor com o conjugado que é estabelecido e
relações preliminares para classificação de motores a partir do torque, bem
como para o dimensionamento desses elementos em aplicações específicas.

Conjugado e velocidade do motor


Considere, inicialmente, que o rotor de um dado motor de indução está em rotação
a uma dada velocidade, diferente da síncrona, em valores intermediários. Nesse
caso, conforme o próprio funcionamento do motor, o conjugado também pode
ser denominado conjugado assíncrono, — um dos motivos também pelos quais
o motor de indução também pode ser denominado motor assíncrono. Ademais,
sabe-se que essa relação é possível pela condição de escorregamento. Um motor
pode ser analisado, então, pela sua relação estabelecida entre o conjugado e a
velocidade de rotação. Para compreender como ela ocorre e, até mesmo, como
obter a representação gráfica, considere o painel da Figura 8.
Considerando que o conjugado induzido é dado pela Equação (8), no gráfico
(a) do painel anterior, tem-se a variação da corrente no rotor em relação à
variação da velocidade do motor e sabe-se que ela também pode ser replicada
para a magnitude da densidade do campo girante do rotor. No gráfico (b),
tem-se a variação do campo magnético líquido (diferença entre as densidades
no rotor e no estator), em relação à velocidade do motor. Já na relação apresen-
tada pelo gráfico (c), tem-se o fator de potência do rotor em relação à mesma
velocidade. E, por último, no gráfico (d) do painel, a variação do conjugado
induzido é expressa em função da variação da velocidade do motor. Além
disso, conceitos como o fator de potência do rotor serão retomados adiante,
quando for abordada a modelagem do motor de indução através de circuitos
elétricos. Entretanto, é importante compreender que esse é dado a partir de
fatores construtivos elétricos do rotor, como sua impedância.
Motores de indução II 17

Figura 8. Representação gráfica da característica do conjugado induzido, em relação à


velocidade e a todos parâmetros envolvidos.
Fonte: Chapman (2013, p. 331).

Observando, agora, especialmente a relação entre o conjugado e a veloci-


dade do motor. Entende-se inicialmente que, como o conjugado é dado pela
relação expressa nas Equações (9) e (11), o gráfico (d) da figura anterior pode
ser obtido simplesmente pela multiplicação das curvas dadas pelos gráficos
(a) e (c). Além disso, essa curva característica do conjugado pode ser dividida
em três regiões distintas e usuais, conforme o escorregamento desenvolvido
pela máquina de indução: baixo, moderado e elevado.
Se o escorregamento é baixo, a velocidade do motor tende a diminuir
mediante um aumento no próprio escorregamento, de forma proporcional
ao aumento da carga. Logo, nessa condição, os aumentos e as diminuições
estabelecidos para cada um dos parâmetros têm relação linear, além do fato
de que se sabe que a corrente aumentará com o aumento do escorregamento.
Em funcionamento normal, já considerado como a região em regime per-
manente, sabe-se que o motor apresentará baixo escorregamento, o que permite
concluir que, em funcionamento normal, a velocidade no motor irá diminuir
ao longo do tempo. Enquanto em valores moderados de escorregamento,
a frequência do rotor começa a aumentar em relação à região anterior. A cor-
rente também, nesse caso, variará em relação à região anterior, aumentando,
porém, de forma mais lenta do que ocorria anteriormente. E o conjugado
máximo ocorre, para acréscimo na carga do motor, onde o aumento ocasionado
18 Motores de indução II

na corrente do rotor será compensado, de forma proporcional à diminuição


no fator de potência do rotor.
Por último, quando o escorregamento é elevado, o conjugado induzido
passa a diminuir com um aumento na carga, exatamente pelo mesmo fato de
o máximo valor do conjugado, que é estabelecido ao longo do funcionamento
do motor. Assim, nesse caso, um aumento na carga gerou um aumento na
corrente, mas uma diminuição desproporcional a esse aumento no fator de
potência do rotor do motor de indução.

Em geral, em motores de indução, o conjugado de partida é de 150% ou mais do valor


à plena carga, e o conjugado máximo corresponderá de 200 a 250% do conjugado
nominal à plena carga. Além disso, sabe-se que, diferentemente dos motores síncronos,
um motor de indução é capaz de arrancar em plena carga, pois o conjugado de
partida é superior a ela.

Outra forma de compreender a relação entre o conjugado e a velocidade


do motor é vista no exemplo seguinte, para elucidar melhor o funcionamento
do motor de indução e a relação estabelecida para o conjugado induzido nele.

Para o entendimento do funcionamento do motor de indução, considere a se-


guinte curva típica de conjugado em relação à porcentagem da velocidade do
motor, comparada à velocidade síncrona, expressa em função do escorregamento.
O motor de indução poderia ser do tipo gaiola de esquilo, e o conjugado também
está expresso em porcentagem, comparando o valor observado no motor com o
conjugado nominal.
Motores de indução II 19

Fonte: Umans (2014, p. 347).

Essa relação é algo usual, que ocorre quando o motor está operando com tensão e
frequências constantes. Pode-se, então, a partir delas, analisar o seu funcionamento.
Sabe-se que, em condição normal de funcionamento, denominada à plena carga,
o escorregamento varia entre 2 e 10%. Isso significa que a frequência do rotor será
bem pequena, considerando-se que, nesse caso, ela é dada por sfs, e a frequência de
alimentação do motor seja 60 Hz. Logo, calcula-se que:

frmin = 0,02 . 60 ≈ 1,5 Hz e frmáx = 0,1 . 60 ≈ 6 Hz

Assim, sabe-se também que, para baixas frequências, a impedância do rotor inde-
pende do escorregamento do motor e será predominantemente resistiva, ao passo
que a tensão induzida é proporcional ao escorregamento, além de adiantar-se em 90°
em relação ao campo líquido. Com o rotor em curto-circuito, a corrente que circula
nele é dada pela multiplicação entre o negativo da tensão induzida e a densidade
do campo magnético girante do estator, dividido pela impedância do rotor. Logo,
essa corrente é proporcional à tensão induzida e ao escorregamento, além de estar
defasada da tensão em 180°, o que permite admitir que, dentro desse intervalo onde
o escorregamento é menor, o conjugado também é proporcional ao escorregamento.
20 Motores de indução II

À medida que o escorregamento do motor aumenta, sabe-se que a impedância


no rotor será maior, e, então, os aumentos nos valores de corrente e do conjugado
mudam, não aumentando proporcionalmente como era válido anteriormente para
pequenos valores de escorregamento. Assim, a corrente ficará mais atrasada em relação
à tensão induzida, e o conjugado tende a diminuir de valor. Em suma, conhece-se que
o conjugado aumenta até determinado valor do escorregamento do motor e passa
a diminuir, com novos aumentos no escorregamento, o que, de fato, condiz com a
relação vista na figura anterior do exemplo para o motor gaiola de esquilo. Ainda em
relação ao gráfico, o valor máximo do conjugado é usualmente, no mínimo, o dobro
do valor nominal, que é um dos responsáveis a ditar a capacidade de sobrecarga
durante um curto intervalo de tempo.
Por último, é possível compreender o motor gaiola de esquilo, em relação ao
conjugado e à velocidade do motor, como um motor de velocidade constante que
apresenta uma pequena queda de velocidade quando sai de uma condição em que
não há carga para plena carga. Ademais, o escorregamento correspondente ao pico
no conjugado é proporcional à resistência do rotor e, no caso visto para motor gaiola
de esquilo, razoavelmente baixo.

Se, no exemplo anterior, fosse considerado o uso de um motor cujo rotor


é do tipo bobinado, análises semelhantes poderiam ser feitas. Assim, em um
dado processo, caso seja usado um motor de rotor bobinado, sabe-se que o fun-
cionamento desse motor a partir de um dado valor de conjugado proporciona o
controle da sua velocidade, pois parâmetros como a resistência do rotor poderão
ser modificados, usando-se uma resistência externa e aumentando seu valor.
É importante saber que esse novo valor de resistência do rotor proporciona
um aumento no escorregamento, correspondente ao pico do conjugado visto
no gráfico do exemplo anterior, e poderá diminuir a velocidade do motor. Por
outro lado, como os motores de rotor bobinado são mais caros, em geral, esse
tipo de controle de velocidade é raro, explicando também a tendência de que
as máquinas de indução atualmente costumam demandar acionamentos por
meio de elementos capazes de fornecer tensão e frequência variáveis, para
proporcionar variações na velocidade do motor para as mais diversas situações
práticas existentes (UMANS, 2014).
Além das regiões classificadas em relação ao escorregamento — como
baixo, moderado e elevado —, existem outras possíveis no âmbito da máquina
de indução. Você já deve ter ouvido falar que uma máquina de indução pode
ser utilizada como um gerador, o que pode ser brevemente compreendido pela
relação entre o conjugado e a velocidade do motor, bem como o escorregamento.
Se o rotor de um motor de indução for acionado mais rapidamente que a
velocidade síncrona, isto fará com que o sentido do conjugado seja invertido
Motores de indução II 21

e a máquina de indução torne-se um gerador, pois ela passará a converter


energia mecânica em elétrica.
Por outro lado, caso o motor esteja girando para trás em relação aos campos
magnéticos girantes, o conjugado induzido é capaz de freá-la e mudar seu
sentido de rotação. Essa relação com o conjugado é usada na prática para o
processo de frenagem, pois, para obter a inversão do sentido da rotação, basta
chavear duas fases de alimentação do estator, invertendo-as.
Por conseguinte, também é possível expressar a relação entre o conjugado
e a potência convertida, ambos expressos em relação à velocidade do motor,
como pode ser visto adiante, considerando as características para um motor
de indução de quatro polos. A potência elétrica, convertida em mecânica pelo
motor, é dada por (Figura 9) (CHAPMAN, 2013):

Pconv = τindωmotor (20)

Figura 9. Curva característica da relação entre conjugado e velocidade de um motor de


indução, considerando toda a extensão de operação.
Fonte: Chapman (2013, p. 337).
22 Motores de indução II

Note, a seguir, na Figura 10, que o pico de potência corresponde a uma


velocidade diferente de onde há o conjugado máximo. Como esperado, nenhuma
potência é convertida quando o rotor está parado.

Figura 10. Relações do conjugado induzido e da potência convertida com a velocidade


do motor, expressa em rotações por minuto.
Fonte: Adaptada de Chapman (2013).

À plena carga, o conjugado pode ser expresso, ainda, pela seguinte relação,
em função da potência de saída do motor:

(21)
Motores de indução II 23

Considere um motor de indução com seis polos, cujo estator é alimentado por uma
rede que fornece 220 V a 60 Hz. Além disso, a potência do motor é 10 HP, ele está
ligado em estrela, e o escorregamento à plena carga vale s = 0,05.
Determine:
a) a velocidade do campo magnético girante do estator.
■■ Primeiro, pede-se para determinar a velocidade do campo girante do estator.
Logo, determina-se a velocidade síncrona, dada pela Equação (7):
nsinc = 120fs/P = 120 . 60/6 = 1.200 rpm.

b) a velocidade do rotor à carga nominal.


■■ A velocidade do rotor à carga nominal é dada pela Equação (12), utilizando o
escorregamento à plena carga dado:
nmotor = (1 – s)nsinc = (1 – 0,05)1.200 = 1.140 rpm.

c) a frequência do rotor à carga nominal.


■■ A frequência do rotor à carga nominal também pode ser obtida em função do
escorregamento à plena carga. Logo, utilizando a Equação (14) ou a (16), tem-se:
fr = sfs = 0,05 . 60 = 3 Hz.

d) o conjugado no eixo desse motor à plena carga.


■■ O conjugado no eixo do motor à plena carga corresponde ao conjugado de
carga, dado pela Equação (19), onde se utiliza a potência na unidade Watts e a
velocidade do motor angular:

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.


PETRUZELLA, F. D. Motores elétricos e acionamentos. Porto Alegre: AMGH, 2013 (Série
Tekne).
UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

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