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Circuitos Trifásicos e Representação dos Sistemas de Potência

O sistema trifásico foi implementado para permitir a transmissão de energia elétrica


em quantidades maiores a longas distâncias. Mais tarde, percebeu-se que construir geradores e
motores trifásicos também era mais vantajoso, pois obtém-se maior potência.
O primeiro sistema trifásico registrado pela história foi uma linha de transmissão na
Alemanha, com 160 km, inaugurada em 1891 para a exposição de eletricidade de Frankfurt. No
primeiro grande aproveitamento hidrelétrico (Niagara Falls), terminado em 1895, a transmissão
era mista: linhas bifásicas para cargas locais e trifásicas para cargas distantes. Assim, há uma
necessidade de compreender os elementos e modelos que compõem um sistema trifásico, e
ainda as técnicas para analisar o circuito obtido.
Este documento tem a finalidade de abordar os circuitos trifásicos e a representação
do sistema de potência com base em modelos elétricos, discutindo os motivos da operação em
sistemas trifásicos, as grandezas envolvidas, tipos de conexões, sistemas simétricos (ou
assimétricos) e equilibrados (ou desequilibrados), potência trifásica e as aplicações envolvidas.

Comparação entre sistemas mono e polifásicos

Assumindo cargas equilibradas, com impedâncias de fase ϕ, tem-se, que um sistema


monofásico a 2 fios é representado matematicamente por:
𝑣(𝑡) = √2𝑉𝑓 cos 𝜔𝑡 𝑖(𝑡) = √2 𝐼𝑓 cos(𝜔𝑡 − 𝜙)
𝑝1𝜙(𝑡) = 𝑉𝑓 𝐼𝑓 cos 𝜙 + 𝑉𝑓 𝐼𝑓 cos(2𝜔𝑡 − 𝜙) → Potência Pulsante
Um sistema bifásico a 2 fios é representado por:
𝑉𝑎𝑝 (𝑡) = √2𝑉𝑓 cos 𝜔𝑡 𝑖𝑎(𝑡) = √2𝐼𝑓 cos(𝜔𝑡 − 𝜙)
𝑉𝑏𝑝 (𝑡) = √2𝑉𝑓 cos(𝜔𝑡 − 90) 𝑖𝑏 (𝑡) = √2𝐼𝑓 cos(𝜔𝑡 − 90 − 𝜙)
𝑝2𝜙(𝑡) = 2𝑉𝑓 𝐼𝑓 cos 𝜙 → Potência constate
E, por fim, um sistema trifásico a 3 fios é representado por:
𝑉𝑎𝑝 (𝑡) = √2𝑉𝑓 cos 𝜔𝑡 𝑖𝑎(𝑡) = √2𝐼𝑓 cos(𝜔𝑡 − 𝜙)
𝑉𝑏𝑝 (𝑡) = √2𝑉𝑓 cos(𝜔𝑡 − 120) 𝑖𝑏 (𝑡) = √2𝐼𝑓 cos(𝜔𝑡 − 120 − 𝜙)
𝑉𝑐𝑝 (𝑡) = √2𝑉𝑓 cos(𝜔𝑡 + 120) 𝑖𝑐 (𝑡) = √2𝐼𝑓 cos(𝜔𝑡 + 120 − 𝜙)
𝑝3𝜙(𝑡) = 3𝑉𝑓 𝐼𝑓 cos 𝜙 → Potência constante
Logo, um sistema n-fásico a n fios possui as tensões de fase defasadas de 2π/n, com
potência instantânea representada por 𝑝𝑛𝜙 (𝑡) = 𝑛𝑉𝑓 𝐼𝑓 cos 𝜙. Assim, um sistema trifásico
transporta 3 vezes mais potência que o monofásico e 50% a mais que o bifásico com o acréscimo
de um fio. Um sistema n-fásico pode transportar mais potência, mas o ganho relativo fica cada
vez menor, enquanto o número de fios aumenta, tornando pouco prática a ligação das cargas.
Dessa forma, o uso de sistemas trifásicos é o ponto ideal.

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Conceito

Os circuitos trifásicos são formados pela associação de três bipolos conectados entre
si de modo a fornecer ou absorver energia do sistema. Quando fornecem energia podem ser
representados a partir de fontes, onde no caso de sistemas trifásicos costuma-se usar fontes de
tensão, e quando absorvem energia podem ser
~
representados a partir de impedâncias, as quais são
representadas pela associação série e/ou paralelo de
Figura 1
elementos passivos de circuito como resistores, indutores e capacitores (Figura 1).
Em sistemas de potência esses elementos podem estar associados por exemplo a
geradores no caso das fontes, a impedância das linhas de transmissão, transformadores,
motores, entre outros. Quando a impedância está no ponto final de um sistema, costuma-se
denominar por carga.
Ao conectar três bipolos em uma certa disposição (Figura 2), e medir a tensão entre os
terminais deste bipolo, o valor medido é referenciado como A

sendo o valor de fase. Como em sistemas trifásicos, a fonte Tensão de Fase (VF)
Medidor
de tensão tem função senoidal, os valores podem ser
expressos a partir de notação fasorial, ou seja, a partir de
B C
um valor em módulo e ângulo de fase. Figura 2
Considerando que as tensões possuem o mesmo valor em módulo e estão deslocadas
igualmente no tempo entre si, pode-se inferir que o ângulo para as 3 fases é 2π/3 ou 360º/3,
portanto, a diferença (ou defasagem) angular para um circuito trifásico é igual a 120º. Tomando
a tensão na fase A como sendo a referência, obtém-se os seguintes valores para outras fases:
𝑉̂𝐴 = 𝑉𝐹 ∠0° 𝑉̂𝐵 = 𝑉𝐹 ∠ − 120° 𝑉̂𝐶 = 𝑉𝐹 ∠ − 240 = 𝑉𝐹 ∠120°
Observa-se das relações apresentadas que as tensões estão deslocadas entre si por um
ângulo de ± 120º, portanto é conveniente pensar em um operador que, aplicado a um fasor,
perfaça tal rotação de fase. Assim, define-se o operador α, que é um número complexo de
módulo unitário e argumento 120°, de modo que, quando aplicado a um fasor qualquer,
transforma-o em outro de mesmo módulo e defasado de 120°. Em outras palavras,
1 √3
𝛼 = 1 < 120 = − + 𝑗
2 2
No tocante à potenciação, o operador α possui as seguintes propriedades:
𝛼 2 = 1 < 240 = 1 < −120 𝛼 3 = 1 < 360 = 1 < 0 = 1
Dessa forma, as tensões de fase apresentadas acima podem ser representadas por:
𝑉𝑎𝑛 1
[𝑉𝑏𝑛 ] = 𝑉𝑓 ∠0 [𝛼 2 ]
𝑉𝑐𝑛 𝛼

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Ainda, pode-se representar os fasores através de um gráfico,
denominado de diagrama fasorial, conforme apresentado na Figura 3. O Figura 3.a

diagrama fasorial é a representação dos fasores (módulo e ângulo) por


exemplo, das tensões senoidais. Uma vez que as tensões senoidais, variam
no tempo, o diagrama fasorial também varia, ou seja, os fasores
representados estão girando no sentido anti-horário. Ao traçar uma linha Figura 3.b

imaginária, verifica-se que no caso da Figura 3.a o primeiro fasor a cruzar a linha será o fasor
A, na sequência o B e após o C, independentemente da posição da reta, tem-se a seguinte
sequência ABC, que é denominada de sequência positiva ou sequência direta. Trocando a fase
B com a fase C de posição (Figura 3.b) e girando no sentido anti-horário, a sequência é ACB,
que é denominada de sequência negativa ou sequência inversa. Portanto, sequência de fases é
a ordem cronológica na qual as tensões passam através de seus valores máximos. A norma
brasileira chama as fases de R, S, T. As letras A, B, C, são usadas por razões didáticas.
O estudo de circuitos trifásicos é muito empregado na análise de sistemas de potência,
sendo fundamental conhecer a função dos elementos e como representá-los em um circuito.

Representação dos Sistemas de Potência

Os principais elementos de um sistema elétrico de potência (SEP) são os geradores,


barramentos, transformadores, linhas de transmissão, elementos em derivação (shunt), cargas e
dispositivos de proteção e manobra.
Os geradores são representados por fontes de tensão, os barramentos são modelados
como nós do circuito elétrico e os elementos de circuito (transformadores, linhas de
transmissão, cargas, etc.) podem ser modeladas como impedâncias.
Uma linha de transmissão pode ser modelada como sendo um circuito π formado por
uma impedância série e uma admitância transversal a partir de elementos distribuídos ou
concentrados dependendo do tamanho da linha. Um transformador é modelado como uma
impedância em série com um transformador ideal, o qual apresenta a relação de transformação.
Uma carga pode ser modelada como potência, corrente ou impedância constante (ZIP). Para
analisar as grandezas de circuitos trifásicos, a carga é representa por uma impedância.
Muitas vezes um sistema elétrico de potência é representado por um diagrama unifilar,
entretanto, é necessário conhecer os modelos dos elementos envolvidos, para que se possa
equacionar corretamente o sistema e assim obter as tensões e correntes presentes. Contudo, a
representação do sistema elétrico pelo seu equivalente por fase não é a representação completa
do sistema e tal representação só pode ser utilizada para um sistema trifásico equilibrado.

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Na análise de circuitos trifásicos em regime
permanente, os dispositivos de proteção e manobra não são
considerados. Considerando um caso específico de sistema
equilibrado, o qual será definido mais adiante, o diagrama
Figura 4
unifilar abaixo pode ser transformado em um diagrama equivalente por fase, conforme
apresentado na Figura 4.
Ainda, para poder representar um sistema trifásico, deve-se conhecer a representação
geral dos circuitos trifásicos por meio de suas conexões.

Conexões Trifásicas

Dado que um circuito trifásico é formado por três fontes, estas devem ser conectadas
de alguma forma. Existem dois tipos de conexões admissíveis para formar um sistema trifásico:
formação em estrela (Y) ou triângulo (Δ).
Na conexão em Y, conecta-se um terminal de cada elemento em um único ponto. Este
ponto é denominado de terminal de neutro, ou retorno, e pode ser aterrado ou não. Dessa forma,
a conexão em Y pode ser com neutro aterrado ou sem neutro aterrado (Figura 5).

~ ~
~ ~
~ ~
~ ~ ~ ~ ~ ~
Figura 5
Na conexão em Δ (Figura 6), conecta-se os terminais dos elementos entre si e não
existe um terminal de neutro.

~
~ ~ ~

~ ~
Figura 6
Como dito anteriormente, as tensões entre os terminais dos elementos de um circuito
trifásico são denominadas de tensões de fase. Logo, para um sistema conectado em estrela, Van,
Vbn, Vcn são chamadas de tensões de fase e representam as tensões entre os pontos a, b, c e o
neutro n, respectivamente.
Ao tomar a diferença de tensão entre os terminais da a
Fonte b Carga
linha A e da linha B (Figura 7) obtém-se a tensão entre duas
c
linhas, a qual é chamada de tensão de linha e, nesse caso, é Figura 7

representada por Vab. Para um sistema com conexão Y, Vab é a diferença entre as tensões das

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fases A e B. Considerando que as tensões de fase possuem o mesmo módulo, estão deslocadas
igualmente no tempo entre si e possuem sequência direta, tem-se:
𝑉𝑎𝑛 𝑉𝐹 ∠0 𝑉𝑎𝑏 = 𝑉𝑎𝑛 − 𝑉𝑏𝑛 𝑉𝑎𝑏 1∠30
[𝑉𝑏𝑛 ] = [𝑉𝐹 ∠𝛼 2 ] 𝑉𝑎𝑏 = 𝑉𝑓 ∠0 − 𝑉𝑓 ∠ − 120 [𝑉𝑏𝑐 ] = √3𝑉̂𝐹 [1∠ − 90]
𝑉𝑐𝑛 𝑉𝐹 ∠𝛼 𝑉𝑎𝑏 = √3𝑉𝑓 ∠30 𝑉𝑐𝑎 1∠150
Ou ainda
𝑉𝐴𝐵 1 − 𝛼2 1
[ 𝐵𝐶 ] = 𝑉𝐴𝑁 [𝛼 2 − 𝛼 ] = √3𝑉𝐴𝑁 ∠30° [𝛼 2 ]
𝑉
𝑉𝐶𝐴 𝛼−1 𝛼
Observa-se que, para um sistema com tensões iguais em módulo,
deslocadas igualmente entre si e de sequência direta, as tensões de linha
são √3 maior em módulo e defasadas de +30º em relação as tensões de
fase. As tensões de fase e de linha podem ser representadas a partir do Figura 8
diagrama fasorial (Figura 8). Como a tensão de linha Vab é igual a Van – Vbn, espelhando Vbn e
somando com Van, verifica-se visualmente que a tensão de linha é maior do que a tensão de fase
e está adiantada em relação a essa. Ainda, na conexão Y, as correntes que fluem pelas linhas
são as mesmas que fluem pelas fases, portanto, as correntes de a
fase e de linha são as mesmas. Ia
Iab
Ica
Para o sistema conectado em Δ, as tensões de fase e
Ib
de linha são as mesmas, pois os terminais do elemento estão
c
b
ligados entre duas linhas. A distribuição das correntes de fase Ic Ibc
é apresentada na Figura 9. As correntes de fase e de linha são Figura 9
determinadas a partir da soma das correntes no nó. Para um sistema com tensões de fase iguais
em módulo, deslocadas igualmente no tempo entre si e de sequência positiva, tomando o nó A
para análise, tem-se:
𝐼𝑎 = 𝐼𝑎𝑏 − 𝐼𝑐𝑎
𝐼𝑎 = 𝐼𝑓 ∠0 − 𝐼𝑓 ∠120 = √3𝐼𝑓 ∠ − 30
As correntes de linha são √3 maior em módulo e estão defasadas de -30º em relação
as correntes de fase. O diagrama fasorial (Figura 10) demonstra a relação para as outras
correntes de linha em uma conexão Δ.
De forma resumida, para valores de fase igual em módulo, deslocados igualmente no
tempo entre si e de sequência direta, as seguintes relações são válidas.
Carga Tensão Corrente
Y 𝑉𝐿 = √3𝑉𝑓 ∠30 𝐼𝐿 = 𝐼𝑓
Δ 𝑉𝐿 = 𝑉𝑓 𝐼𝐿 = √3𝐼𝑓 ∠ − 30
O equacionamento acima foi baseado em um sistema trifásico simétrico, a próxima
seção aborda em detalhes os conceitos relacionados a sistemas simétricos e balanceados.

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Tipos de Circuitos Trifásicos

O circuito trifásico pode ser simétrico ou assimétrico e equilibrado ou desequilibrado.


Basicamente, a simetria está relacionada com as tensões e o equilíbrio com as cargas.
Um sistema é dito simétrico quando as tensões da fonte trifásica apresentam o mesmo
módulo e estão defasadas de mesmo ângulo. Quando qualquer uma dessas situações não é
atendida, o sistema é dito assimétrico. Em geral, em um sistema elétrico de potência as tensões
geradas são simétricas, pois as técnicas de geração e compensação do sistema permitem obter
tal simetria. Um sistema assimétrico produz componentes indesejadas (harmônicas) que
prejudicam de diferentes formas o sistema, tais como sobreaquecimento, vibrações, entre outros
fatores em linhas e geradores.
Uma carga é dita equilibrada (ou balanceada) quando a impedância em módulo e fase
for idêntica nas três fases. Desse modo, uma carga passa a ser desequilibrada (ou
desbalanceada) quando um dos fatores acima não é atendido, os quais podem ocorrer quando
cargas diferentes são conectadas ou ainda na ocorrência de um curto-circuito, por exemplo.
Ainda, considerando o ambiente residencial, uma carga pode ser conectada entre as fases B e
C (carga bifásica, e.g. chuveiro elétrico), outra carga pode ser conectada entre a fase C e o
neutro N (carga monofásica, e.g. geladeira), e nenhuma carga conectada na fase A. Observa-se
claramente uma diferença de cargas entre as três fases.
Portanto, é importante conhecer os tipos de sistemas e cargas em circuitos trifásicos e
os métodos envolvidos no equacionamento. Neste aspecto, considerando que as fontes
geradoras são simétricas (devido ao controle existente), será discutido na seção seguinte a
análise de cargas equilibradas e desequilibradas.

Circuitos Equilibrados e Desequilibrados

Como dito, um circuito equilibrado é aquele que apresenta cargas no qual as


impedâncias por fase são iguais em módulo e fase. Para uma carga conectada em Y, tem-se:
𝑍1 = 𝑍2 = 𝑍3 = 𝑍𝑌
onde ZY é a impedância de carga por fase.
Para uma carga conectada em Δ, tem-se:
𝑍1 = 𝑍2 = 𝑍3 = 𝑍Δ
onde ZΔ é a impedância de carga por fase.
A relação entre os tipos de cargas pode ser obtida da transformação estrela-triângulo:
𝑍Δ = 3𝑍𝑌
Um circuito trifásico pode ser analisado a partir das leis de Ohm e Kirchhoff. Quando
o circuito trifásico é equilibrado, o mesmo pode ser representado por um circuito monofásico

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equivalente, o que facilita bastante os cálculos. Ao se determinar as tensões e correntes para
uma fase, as outras podem ser encontradas realizando o deslocamento de fase, usando o
operador α, conforme demonstrado anteriormente.
Considerando o circuito da Figura 11, as cargas são equilibradas e conectadas a um
sistema de fontes simétricas. Para equacionar este circuito, o procedimento usual é converter
tanto o conjunto de fontes, quanto o de cargas para a conexão do tipo Y.

Figura 11
Deste modo, as tensões de linha são convertidas em tensões de fase para o circuito em
Y, dividindo o valor por √3, e por facilidade, toma-se como referência as tensões de fase no
circuito em Y. E as impedâncias quando em Δ são convertidas em Y multiplicando-as por 3.
O ponto central da ligação Y pode ser acessado externamente
através do fio neutro, N. esse arranjo constitui um meio de gerar energia
elétrica na forma trifásica a quatro fios. Ao se conectar fonte e carga
Figura 12
em estrela, e conectar os pontos centrais por meio de uma impedância (Figura 12), as seguintes
equações podem ser obtidas, de acordo com a lei de Kirchhoff para correntes:
𝑖𝐴 + 𝑖𝐵 + 𝑖𝐶 + 𝑖𝑁 = 0
Que pode ser escrito em função das tensões de fase, e portanto, tem-se:
𝑉𝐴 − 𝑉𝑁 𝑉𝐵 − 𝑉𝑁 𝑉𝐶 − 𝑉𝑁 𝑉𝑁𝑛 𝑉𝐴𝑁 𝑉𝐵𝑁 𝑉𝐶𝑁 𝑉𝑁𝑛
+ + = ou + + =
𝑍𝐴 𝑍𝐵 𝑍𝐶 𝑍𝑁 𝑍𝐴 𝑍𝐵 𝑍𝐶 𝑍𝑁
Em um sistema equilibrado, 𝑍𝐴 + 𝑍𝐵 + 𝑍𝐶 = 𝑍, logo:
𝑉𝐴𝑁 + 𝑉𝐵𝑁 + 𝑉𝐶𝑁 𝑉𝑁𝑛
=
𝑍 𝑍𝑁
Como, 𝑉𝐴𝑁 + 𝑉𝐵𝑁 + 𝑉𝐶𝑁 = 0, e ZN não pode ser nula, tem-se que 𝑉𝑁𝑛 = 0.
Dessa forma, a conexão entre os dois pontos centrais pode ser desprezada, o qual
permite determinar facilmente a corrente de linha. Quando os circuitos são desequilibrados, esta
premissa não é verdadeira. Conforme dito, uma carga trifásica é dita desequilibrada quando as
impedâncias por fase de uma carga não forem iguais em módulo
ou fase. Para circuitos desequilibrados deve-se utilizar as leis
de Ohm e Kirchhoff e determinar as tensões e corrente a partir
Figura 13
da análise de um sistema linear de equações. Considerando que as fontes e as cargas estejam
conectadas em estrela a três fios (Figura 13), as seguintes equações podem ser levantadas:
𝐼𝐴 + 𝐼𝐵 + 𝐼𝐶 = 0
−𝑉𝐴𝐵 + 𝑍𝐴𝐼1 − 𝑍𝐵 (𝐼2 − 𝐼1 ) = 0

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𝑉𝐶𝐴 + 𝑍𝐴𝐼1 − 𝑍𝐶 𝐼3 = 0
𝐼𝐴 = 𝐼1 ; 𝐼𝐵 = 𝐼2 − 𝐼1 ; 𝐼𝐶 = −𝐼3
Resolvendo as equações acima, determina-se as correntes e as tensões de fase. Outra
forma mais simplificada de se resolver o circuito apresentado é com base no equacionamento
da tensão de neutro, que consiste em:
𝑉𝐴𝑁 𝑉𝑁𝑁′
𝑉𝐴𝑁′ = 𝑉𝐴𝑁 + 𝑉𝑁𝑁′ = 𝐼𝐴𝑍𝐴 ou 𝐼𝐴 = + = 𝑌𝐴 𝑉𝐴𝑁 + 𝑌𝐴𝑉𝑁𝑁′
𝑍𝐴 𝑍𝐴
Em que YA é a admitância da carga. Considerando as outras fases e lembrando que IA
+ IB + IC = 0, tem-se que a tensão de neutro depende das tensões de fase e das cargas:
𝑌𝐴 𝑉𝐴𝑁 + 𝑌𝐵 𝑉𝐵𝑁 + 𝑌𝐶 𝑉𝐶𝑁
𝑉𝑁𝑁′ = −
𝑌𝐴 + 𝑌𝐵 + 𝑌𝐶
Portanto, em circuitos desequilibrados, a tensão de neutro não é nula, causando
deslocamento de neutro. O deslocamento pode ser calculado ainda considerando para outros
tipos de conexões como estrela a 4 fios com impedância de neutro e triângulo.
Na sequência será discutido o cálculo da potência em circuitos trifásicos.

Potência Trifásica

O teorema de Tellegen propõe que em um circuito formado por b bipolos quaisquer, a


soma das potências elétricas instantâneas associadas a cada bipolo k é nula
Σ𝑣𝑘 (𝑡)𝑖𝑘 (𝑡) = 0
Esse teorema, também é obtido do Princípio de Conservação de Energia.
Seja uma carga trifásica na qual os valores instantâneos das tensões e correntes de fase
são:
𝑣𝐴 = √2𝑉𝐹 cos(𝜔𝑡 + 𝜃𝐴) 𝑖𝐴 = √2𝐼𝐹 cos(𝜔𝑡 + 𝛿𝐴)
𝑣𝐵 = √2𝑉𝐹 cos(𝜔𝑡 + 𝜃𝐵 ) 𝑖𝐴 = √2𝐼𝐹 cos(𝜔𝑡 + 𝛿𝐵 )
𝑣𝐶 = √2𝑉𝐹 cos(𝜔𝑡 + 𝜃𝐶 ) 𝑖𝐴 = √2𝐼𝐹 cos(𝜔𝑡 + 𝛿𝐶 )
A potência instantânea em cada fase é dada por: 𝑝 = 𝑣(𝑡)𝑖(𝑡)
𝑝𝐴 = 𝑣𝐴𝑖𝐴 = 𝑉𝐹𝐴𝐼𝐴 cos(𝜃𝐴 − 𝛿𝐴) + 𝑉𝐹𝐴𝐼𝐴 cos(2𝜔𝑡 + 𝜃𝐴 + 𝛿𝐴 )
𝑝𝐵 = 𝑣𝐵 𝑖𝐵 = 𝑉𝐹𝐵 𝐼𝐵 cos(𝜃𝐵 − 𝛿𝐵 ) + 𝑉𝐹𝐵 𝐼𝐵 cos(2𝜔𝑡 + 𝜃𝐵 + 𝛿𝐵 )
𝑝𝐶 = 𝑣𝐶 𝑖𝐶 = 𝑉𝐹𝐶 𝐼𝐶 cos(𝜃𝐶 − 𝛿𝐶 ) + 𝑉𝐹𝐶 𝐼𝐶 cos(2𝜔𝑡 + 𝜃𝐶 + 𝛿𝐶 )
A potência total é dada por 𝑝 = 𝑝𝐴 + 𝑝𝐵 + 𝑝𝐶
𝑝 = 𝑉𝐹𝐴𝐼𝐴 cos(𝜃𝐴 − 𝛿𝐴) + 𝑉𝐹𝐵 𝐼𝐵 cos(𝜃𝐵 − 𝛿𝐵 ) + 𝑉𝐹𝐶 𝐼𝐶 cos(𝜃𝐶 − 𝛿𝐶 )
Fazendo-se
𝜃𝐴 − 𝛿𝐴 = 𝜙𝐴
𝜃𝐵 − 𝛿𝐵 = 𝜙𝐵
𝜃𝐶 − 𝛿𝐶 = 𝜙𝐶
E tomando o valor médio da potência, resulta em
𝑃 = 𝑃𝐴 + 𝑃𝐵 + 𝑃𝐶 = 𝑉𝐹𝐴𝐼𝐴 cos 𝜙𝐴 + 𝑉𝐹𝐵 𝐼𝐵 cos 𝜙𝐵 + 𝑉𝐹𝐶 𝐼𝐶 cos 𝜙𝐶
Ou seja, a potência instantânea é constante e igual a potência média para uma carga
trifásica, conforme apresentado no início deste documento. Para uma carga equilibrada:
𝑃 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 cos 𝜙

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Em corrente contínua, a potência é dada por P = VI. Por analogia, a potência em
corrente alternada é dada por:
𝑺 = 𝑉𝐹 𝐼𝐹∗ = 𝑆∠𝜙
onde S é a potência complexa, S = |S| é a potência aparente, em volt-ampére (VA) e ϕ é o ângulo
da carga, em graus ou radianos. Observa-se que a potência é a multiplicação do fasor de tensão
pelo conjugado do fasor de corrente. O sinal de conjugado se deve a convenção de sinal passivo,
pois uma carga indutiva é dita como consumindo potência, porém, como a corrente de uma
carga indutiva está atrasada em relação à tensão, troca-se o sinal para determinar a potência.
A potência complexa trifásica é composta pela soma das potências individuais:
∗ ∗ ∗
𝑆 = 𝑉𝐹𝐴𝐼𝐹𝐴 + 𝑉𝐹𝐵 𝐼𝐹𝐵 + 𝑉𝐹𝐶 𝐼𝐹𝐶
E para cargas equilibradas pode ser expressa por:
𝑆 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹∗
Ou em duas parcelas:
𝑆 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 cos 𝜙 + 𝑗3𝑉𝐹 𝐼𝐹 sin 𝜙
Os valores acima são constantes e podem ser representados por:
𝑆 = 𝑃 + 𝑗𝑄
onde P = Re[S] é a parte real e denominada potência ativa, em watts [W], Q = Im[s] é a parte
imaginária e denominada potência reativa (ou em quadratura), em VAr (volt-ampére reativo).
𝑃 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 cos 𝜙
𝑄 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 sin 𝜙
Em valores de tensão e corrente de linha, para um circuito em Y, tem-se:
𝑉𝐿 = √3𝑉𝐹 e 𝐼𝐿 = 𝐼𝐹
Logo,
𝑉𝐿
𝑆=3 𝐼𝐿 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿∗
√3
E no caso de um circuito em Δ, tem-se:
𝑉𝐿 = 𝑉𝐹 e 𝐼𝐿 = √3𝐼𝐹
Logo,
𝐼𝐹
𝑆 = 3𝑉𝐿 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿
√3
Em resumo:
Fase Linha
𝑆 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹∗ 𝑆 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿∗
𝑃 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 cos 𝜙 𝑃 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿 cos 𝜙
𝑄 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 sen 𝜙 𝑄 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿 sen 𝜙
A potência pode ser representada no plano complexo, a partir do
triângulo de potência. E, do teorema de Pitágoras, as seguintes relações
são obtidas:
𝑆 2 = 𝑃2 + 𝑄 2
𝑄
𝜑 = tan−1
𝑃

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Vale ressaltar que a potência ativa é a potência que gera trabalho e a potência reativa
é responsável pelo fluxo de energia dos elementos armazenadores, como capacitores e
indutores. Nesse aspecto, para exemplificar o conceito, pode-se associar a potência complexa
com um sistema hidráulico composto por uma torneira e mangueira. A água que sai da
mangueira seria a potência ativa, a água entre a torneira e a boca da mangueira seria a potência
reativa, ou seja, na prática ela não é “aproveitada”, mas é necessária para que exista a água
saindo. A soma das duas componentes seria a potência complexa.
As equações acima mostram que a expressão geral da potência complexa para
trifásicos simétricos com carga equilibrada é função exclusivamente dos valores da tensão de
linha, da corrente de linha, e da defasagem entre a tensão de fase e a corrente de fase. O cosseno
do ângulo de defasagem entre tensão e corrente numa mesma fase é definido por fator de
𝑃
potência: 𝐹𝑃 = cos 𝜙 = .
𝑆

O fator de potência expressa a porcentagem efetiva de uso da rede, ou seja, a potência


que efetivamente é convertida em trabalho. Existem normas que estabelecem um valor mínimo
para o fator de potência em certos tipos de instalações. No Brasil o valor mínimo adotado é
0,92. Desse modo, caso determinada instalação não atinja esse valor, é necessário empregar a
correção do fator de potência.
A correção do fator de potência pode ser realizada por diferentes métodos, tais como:
controlador automático do fator de potência; banco de capacitores. A metodologia de correção
é determinar a potência reativa consumida (em geral indutiva para indústrias) e compensá-la
com o uso de bancos de capacitores trifásicos conectados de forma a atingir o valor mínimo
exigido. Certos cuidados devem ser tomados para que a compensação de reativo não ultrapasse
o fator de potência (capacitivo), o qual além de multa à indústria pode gerar sobretensões.

Aplicações

O uso de circuitos trifásicos é extremamente empregado na análise de sistemas


elétricos de potência, tais como o equacionamento da geração, transmissão e distribuição de
energia, em máquinas elétricas, entre outras diversas áreas.

Referências
ROBBA, E.J. Introdução a sistemas elétricos de potência, Edgar Bucher, 1977.
IRWIN, J.D. Análise de Circuitos em Engenharia. São Paulo: Makron Books, 2000.
SADIKU, M. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto Alegre: Bookman, 2003.
ZANETTA, L.C. Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência. São Paulo: Livraria da Física. 2006.

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