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Geração, Transmissão e Distribuição de Energia – ETEC José Rocha Mendes

Revisão Sistemas Trifásicos

Introdução
Atualmente, quase toda a geração de energia elétrica e a maioria da transmissão de
energia elétrica no mundo ocorrem na forma de circuitos CA trifásicos. Um sistema de
potência CA trifásico consiste em geradores trifásicos, linhas de transmissão e cargas.
Os sistemas de potência CA têm uma grande vantagem sobre os sistemas CC porque
seus níveis de tensão podem ser modificados usando transformadores, permitindo
assim reduzir as perdas de transmissão. A transmissão em CC tem ganhado aplicação
para linhas de transmissão de longas distâncias.

Geração de Tensões e Correntes Trifásicas


Um gerador trifásico consiste em três geradores monofásicos, com tensões iguais que
diferem entre si em 120° no ângulo de fase.

vA (t) = VM.sen ωt V vB (t) = VM.sen (ωt-120º) V vC (t) = VM.sen (ωt+120º) V

ou vetorialmente,

= ∟0 ( ) = ∟ − 120 ( ) = ∟120 ( )

Se dispusermos sob o mesmo eixo três bobinas deslocadas entre si de 120º e as


fizéssemos girar com uma velocidade angular constante, no interior de um campo
magnético uniforme, vamos obter nos seus terminais um sistema de tensões de
mesmo valor máximo e defasadas entre si de 120º. A figura a seguir ilustra essa
configuração.

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Sequência de Fases
A sequência de fases de um sistema de potência trifásico é a ordem na qual ocorrem
os picos de tensão das fases individuais. Diz-se que o sistema de potência trifásico
ilustrado na figura anterior tem a sequência de fases ABC porque os picos de tensão
das três fases ocorrem na ordem A, B e C. O diagrama fasorial de um sistema de
potência com uma sequência de fases ABC está mostrado a seguir.

Lembre-se que o sentido de giro dos fasores é o anti-


horário.

Também, é possível ligar as três fases de um sistema de potência de modo que os


picos de tensão das fases ocorram na ordem A, C e B. Diz-se que esse tipo de sistema
de potência tem a sequência de fases ACB.

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Por uma questão de convenção, definimos uma sequência de fase direta (ou,
sequência de fase positiva) e uma sequência de fase indireta (ou, negativa), assim,
por exemplo, se a sequência de fase ABC é chamada de sequência de fase positiva
(ou, direta), a sequência de fase ACB, será denominada de sequência de fase
negativa (ou, indireta) – ou vice-versa.

Ligações do Sistema Trifásico


Cada gerador e cada carga de um sistema de potência trifásico podem ser ligados em
Y (chamado estrela) ou em ∆ (chamado triângulo). Em um sistema de potência, o
número de geradores e cargas, ligados em Y ou em ∆, pode ser qualquer. A figura a
seguir mostra geradores trifásicos ligados em Y e em ∆.

gerador em estrela e em triângulo

No sistema trifásico definimos:


- Tensão de fase: tensão medida nos terminais do gerador ou da carga;
- Tensão de linha: tensão medida entre os condutores que ligam o gerador à carga;

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- Corrente de fase: corrente que percorre cada uma das bobinas do gerador ou, a
corrente que percorre cada uma das impedâncias da carga e,
- Corrente de linha: corrente que percorre os condutores que interligam o gerador à
carga.

Num sistema trifásico simétrico e equilibrado tem em todas as fases, valores iguais,
estando defasadas entre si de 120º.

Ligação Estrela
A figura mostra uma ligação dos geradores trifásicos em estrela. Também, estão
representadas na figura as tensões e
correntes nessa ligação. No lado da carga a
representação é análoga.
Observando a ligação podemos verificar que:
- as correntes de fase são as mesmas
correntes nas respectivas linhas;
- as tensões de fase são diferentes das
tensões de linha.

Para a determinação da relação entre as tensões de fase e de linha, utilizamos a Lei


de Kirchhoff para as tensões e considerando a sequência de fase positiva ABC, assim,
a tensão de linha ab é dada por: ab = an - bn

O diagrama fasorial das tensões,


representado ao lado, permite verificar
isso de forma mais fácil.

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Considerando o triangulo
formado pela soma dos fasores
( an + (- bn) ), obteremos as relações entre as tensões de fase e de linha na ligação
estrela.
Lembrando das propriedades do triangulo e com a aplicação da lei dos senos,
podemos obter que, em módulo, o valor da tensão de linha é √3 vezes maior que o
valor das tensões de fase. Pelo diagrama fasorial podemos ver que a tensão de linha
está adiantada em 30º com relação à respectiva tensão de fase. Ou seja, conforme
mostrado na figura a seguir, as tensões de linha estão adiantadas de 30º em relação
à respectiva tensão de fase e, o modulo (o valor) das tensões de linha é √3 vezes
maior que o valor das respectivas tensões de fase.

Considerando o sistema simétrico, teremos Van=Vbn=Vcn=V e as tensões de fase são


determinadas por:
an = ∟0 ( )
bn = ∟ − 120 ( )
cn = ∟120 ( )

As respectivas tensões de linha, são representadas por:


ab = an . (√3∟30 ) ( )
bc = bn . (√3∟30 ) ( )
ca = cn . (√3∟30 ) ( )

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Como observado, as correntes de fase são as mesmas nas linhas correspondentes,


e são representadas por:
a = La ( )
b = Lb ( )
c = Lc ( )

Ligação Triângulo
A figura a seguir mostra uma ligação dos geradores trifásicos em triângulo. Também,
estão representadas na figura as tensões e correntes nessa ligação. No lado da carga,
como visto anteriormente, a representação é análoga.
A Observando a ligação podemos verificar
que:
- as tensões de fase são as mesmas
tensões nas respectivas linhas;
- as correntes de fase são diferentes das
correntes de linha.

Para a determinação da relação entre as correntes de fase e de linha, utilizamos a Lei


de Kirchhoff para as correntes em um dos nós (pontos de conexão dos geradores e
linha). Considerando o nó “A”, conforme representado na figura e a sequência de fase
positiva ABC, assim, a tensão de linha La é dada por: La = ab - ca

O diagrama fasorial das correntes,


representado ao lado, permite
verificar isso de forma mais fácil.

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Da mesma forma que fizemos anteriormente, vamos considerar o triangulo formado


pela soma dos fasores ( ab + (- ca) ), assim vamos obter as relações entre as correntes
de fase e de linha na
ligação triângulo.

Recordando das propriedades do triangulo e com a aplicação da lei dos senos,


podemos obter que, em módulo, o valor da corrente de linha é √3 vezes maior que o
valor das correntes de fase. Pelo diagrama fasorial podemos ver que a corrente de
linha está atrasada em 30º com relação à respectiva corrente de fase. Ou seja,
conforme mostrado na figura a seguir, as correntes de linha estão atrasadas de 30º
em relação à respectiva corrente de fase e, o valor da corrente de linha é √3 vezes
maior que o valor das respectivas correntes de fase.

Considerando o sistema simétrico e equilibrado, teremos Ian=Ibn=Icn=I e as correntes


de fase são determinadas por:
an = ∟0 ( )
bn = ∟ − 120 ( )
cn = ∟120 ( )

As respectivas correntes de linha, são representadas por:


La = ab . (√3∟ − 30 ) ( )
Lb = bc . (√3∟ − 30 ) ( )
Lc = ca . (√3∟ − 30 ) ( )

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Como observado, as tensões de fase são as mesmas nas linhas correspondentes, e


são representadas por:
ab = La ( )
bc = Lb ( )
ca = Lc ( )

Análise de Sistemas Trifásicos Equilibrados


Se um sistema de potência trifásico for equilibrado então será possível determinar as
tensões, as correntes e as potências em diversos pontos do circuito considerando um
circuito equivalente por fase. Consideremos inicialmente uma ligação do gerador e da
carga em estrela, a figura a seguir ilustra isso.

A figura mostra um gerador ligado


em Y fornecendo potência a uma
carga ligada em Y por meio de uma
linha de transmissão trifásica.
Em um sistema equilibrado como
esse, um fio neutro pode ser
omitido sem nenhum efeito sobre o sistema, já que nenhuma corrente circula nesse
fio. A figura mostra esse sistema com o fio extra inserido. Observe, também, que todas
as fases são idênticas, exceto pela defasagem de 120° no ângulo de fase das tensões.
É como se tivéssemos três circuitos monofásicos, porém, com tensões defasadas
entre si de 120º.

Nessa situação, é possível analisar um


circuito constituído por uma das fases e o
neutro.
Os resultados dessa análise serão válidos,
também, para as outras duas fases, desde que a
defasagem de 120° seja incluída, ou seja, podemos

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transferir os resultados obtidos na análise de um circuito monofásico e, por meio da


defasagem dos valores, obter a análise das demais fases.
Essa característica funciona bem com as fontes e cargas ligadas em Y, mas não é
possível usar um neutro com as fontes e cargas ligadas em ∆, essa situação será
abordada mais ao longo desta apostila.
Para a solução de um sistema com essas características, buscamos a fase que temos
mais informações (tensões, impedâncias, correntes, potências, etc.) e iniciamos pela
solução desse circuito monofásico. Os valores obtidos nesse circuito, respeitada a
sequência de fase, são transferidos para as outras duas fases por meio da defasagem
de +- 120º.
Se o sistema for composto de gerador e carga em triângulo, uma análise não é tão
direta. Não é possível “separar” o sistema em circuitos monofásicos.

Para a solução dos sistemas trifásicos


ligados em estrela, utilizamos uma
transformação que o torna uma ligação
estrela equivalente e, dessa forma,
utilizamos o método anteriormente
apresentado para obter os valores de
tensão, corrente, impedância, etc. do sistema trifásico.

Definição: “uma ligação em triângulo é equivalente a uma ligação estrela, quando em


ambas as ligações, para a mesma tensão de linha, se obtém igual corrente de linha”.

Consideremos as ligações:

(I) (II)

No lado (I) temos: fase = linha e Linha = fase . (√3∟ − 30 )

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Nessa situação pela Lei de Ohm, teremos


#$%& '()ℎ$. (√3 ∟ − 30° )
!∆= =
#$%& '()ℎ$
No lado (II), temos: fase = linha e Linha = fase . (√3∟30 ), da mesma forma a
impedância é determinada pela Lei de Ohm como segue.
#$%& '()ℎ$
!, = =
#$%& '()ℎ$. (√3 ∟30° )
Racionalizando a expressão vamos obter:
#$%& √3 . '()ℎ$
!, = =
#$%& 3. '()ℎ$∟30°

√- ../0123
Observamos que é a impedância da ligação triângulo, conforme acima.
4 /0123∟-5°

Dessa forma podemos escrever:


6∆
!, = -
ou !∆= 3. !,

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Bibliografia
A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, 1ª Ed.,
Editora da Unicamp, 2004.
EDMINISTER, J. A. Circuitos Elétricos. São Paulo: Makron Books: Pearson
Education, 1991.
Robba, Ernesto João, Introdução a Sistemas Elétricos de Potência: Componentes
Simétricas. Editora Blucher. 2a Edição. 2000.
Weedy, B. M., Sistemas Elétricos de Potência. São Paulo, Ed. Universidade de São
Paulo: Polígono, 1973.

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