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DOI: 10.

37885/230713894

INTERPRETAÇÕES SOBRE A COMPONENTE SIMÉTRICA DE


SEQUÊNCIA ZERO
Marcelo Semensato
Instituto Federal de Goiás, Jataí, GO

RESUMO

Objetivo: A componente simétrica de sequência zero obtida pela transformação em


componentes simétricas proposta por Fortescue é analisada e simulada. Métodos: A
simulação dos sistemas elétricos desequilibrados é realizada pelo software
MatLab/Simulink. Resultados: O delta do transformador trifásico como filtro para a
componente de sequência zero da corrente, tomando-se a componente de sequência zero
de maneira isolada, é interpretada. No delta, fisicamente, pode não circular essa
componente de sequência zero. A referência terra ou neutro é analisada para sistemas
trifásicos desequilibrados. Por fim, uma solução para a compensação do desequilíbrio
na carga é apresentada. Conclusão: A componente de sequência zero da corrente deve
ser entendida como uma transformação e não como um efeito de fluxo de corrente no
condutor. O neutro em sistemas trifásicos é útil como referência de tensão, não
eliminando a tensão de sequência zero na carga elétrica.

Palavras-chave: componente simétrica de sequência zero, delta do transformador,


referência de tensão, compensação do desequilíbrio.

INTRODUÇÃO

As componentes simétricas foram propostas por Fortescue (1918) com o intuito


de transformar fasores desequilibrados (tensão e corrente) em fasores equilibrados. A
transformada, inicialmente, foi utilizada para o estudo de máquinas elétricas trifásicas
com tensões desequilibradas. As tensões desequilibradas da máquina elétrica são
decompostas em três conjuntos de fasores, sendo denominadas componentes simétricas.
As componentes simétricas são a sequência positiva, negativa e zero. Essas
componentes são muito utilizadas atualmente para o cálculo de curto-circuito em rede
de energia elétrica, embora os computadores modernos sejam capazes de efetuarem os
cálculos do curto-circuito em coordenadas de fase (ACÁCIO, 2014).

A componente simétrica de sequência zero é um conjunto de três fasores,


resultante da transformada de componentes simétricas, nos quais estes fasores possuem
o mesmo módulo e ângulo de fase, ou seja, são fasores idênticos. As componentes de
sequência zero de corrente estão presentes em sistemas desequilibrados onde existe um
caminho de retorno neutro ou terra. Como estas componentes tem mesmo ângulo de
fase, se somam no ponto de conexão ao neutro ou terra. Diversos autores (DAS, 2017;
GLOVER, SARMA, OVERBYE, 2012; MARX, BENDER, 2013) afirmam que na
ligação delta, de um transformador delta-estrela com estrela aterrada, a corrente de
sequência zero circula no seu interior, como um filtro para um dos lados do
transformador, o que é correto, mas deve ser analisado o valor desta componente de
sequência zero para todas as fases do sistema trifásico obtido pela transformação
simétrica, se as mesmas constituem componentes de sequência zero reais. No entanto,
caso seja retirado o retorno de sequência zero, a carga pode sofrer forte desequilíbrio.

O objetivo deste artigo é uma melhor compreensão desta componente de


sequência zero em sistemas desequilibrados para evitar erros conceituais,
principalmente em relação a filtros de corrente. As desvantagens em eliminar este
caminho de neutro ou terra em sistemas desequilibrados serão analisadas, assim como, o
filtro delta em transformador de potência para correntes de sequência zero. Por fim, um
compensador do desequilíbrio da carga elétrica trifásica desequilibrada é simulado em
sistemas elétricos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A transformação simétrica é obtida pela transformação de três fasores


desequilibrados em três fasores equilibrados. Esta transformação é uma decomposição
vetorial dos fasores da fase a, b e c em fasores de sequência positiva, negativa e zero
correspondente a fase a. A relação em termos de corrente elétrica é descrita em (1)
(KINDERMANN, 1997). A mesma relação pode ser aplicada a tensão. Sendo 𝛼 =
1∠120° e 𝛼 2 = 1∠ − 120°.

𝐼𝑎 = 𝐼𝑎0 + 𝐼𝑎+ + 𝐼𝑎−


𝐼𝑏 = 𝐼𝑎0 + 𝛼 2 𝐼𝑎+ + 𝛼𝐼𝑎− (1)
𝐼𝑐 = 𝐼𝑎0 + 𝛼𝐼𝑎+ + 𝛼 2 𝐼𝑎−

As relações em (1) podem ser representadas matricialmente em (2):

𝐼𝑎 1 1 1 𝐼𝑎0
[𝐼𝑏 ]=[1 𝛼 2 𝛼 ] [𝐼𝑎+] (2)
𝐼𝑐 1 𝛼 𝛼 2 𝐼𝑎−

A transformada inversa é dada em (3):


𝐼𝑎0 1 1 1 12 𝐼𝑎
+
[𝐼𝑎 ] = [1 𝛼 𝛼 ] [𝐼𝑏 ] (3)
3
𝐼𝑎− 1 𝛼 2 𝛼 𝐼𝑐

A componente simétrica de sequência zero é dada em (4):


1
𝐼𝑎0 = 3(𝐼𝑎 + 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 ) (4)

A componente de sequência zero é erroneamente chamada de componente


pulsante, pois são idênticas em todas as fases do sistema, mas são fasores que giram na
mesma velocidade angular e no mesmo sentido da componente de sequência positiva.
A corrente no condutor neutro em sistemas trifásicos é igual a 𝐼𝑎 + 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐,
portanto a corrente no neutro é apresentada em (5), em termos da componente de
sequência zero.
𝐼𝑛 = 3𝐼𝑎0 (5)

De acordo com (5), a corrente no neutro só existirá caso a corrente de sequência


zero existir. Considerando um sistema elétrico trifásico, não haverá corrente de
sequência zero se não houver caminho de retorno ao neutro ou terra, sendo a
impedância de sequência zero neste caso infinita. Não existirá corrente de curto-circuito
fase-terra se não houver um caminho de retorno, ou seja, se a conexão do neutro não é
aterrada.
A conexão do neutro em sistemas trifásicos é aterrada para garantir referência de
tensão e segurança. Como a terra é uma ótima condutora de energia elétrica, o
aterramento fornece uma referência para a tensão e uma segurança no caso de curto-
circuito fase-terra ou choques elétricos.
Na ausência de conexão do sistema trifásico ao neutro ou terra, perde-se a
referência de tensão. A Figura 1 apresenta um circuito elétrico com alimentação
assimétrica e seu respectivo circuito de sequência zero. Neste caso a impedância de
sequência zero é igual à impedância da carga equilibrada Z. A corrente elétrica de
sequência zero é calculada em (6).

𝑉0 (6)
𝐼0 =
𝑍 + 3𝑍𝑛

Sendo 𝑉 0 , a componente de tensão de sequência zero, e 𝑍𝑛 é a impedância de


aterramento do neutro somada com a impedância do condutor terra.

Figura 1. a) Circuito elétrico e b) sua representação de sequência zero.

Fonte: Próprio autor.

Na Figura 1, a tensão do ponto n’ ao ponto n, ou seja, a tensão 𝑉𝑛′𝑛 equivale a


𝐼 0.
3𝑍𝑛 Caso a impedância 𝑍𝑛 for infinita devido à resistividade muito elevada do solo
ou não existir caminho de retorno ao terra, a corrente de sequência zero é nula de acordo
com (6). Neste caso a tensão 𝑉𝑛′𝑛 é igual a 𝑉 0 e as tensões na carga elétrica nas fases a,
b e c são dadas em (7). Sendo 𝑉 +e 𝑉 −, as componentes de sequência positiva e negativa
da tensão, respectivamente.

𝑉𝑎𝑛′ = 𝑉𝑎 − 𝑉𝑛′ = 𝑉𝑎 − 𝑉 0 = 𝑉𝑎+ + 𝑉𝑎−


𝑉𝑏𝑛′ = 𝑉𝑏 − 𝑉𝑛′ = 𝑉𝑏 − 𝑉 0 = 𝑉𝑏+ + 𝑉𝑏− (7)
𝑉𝑐𝑛′ = 𝑉𝑐 − 𝑉𝑛′ = 𝑉𝑐 − 𝑉 0 = 𝑉𝑐+ + 𝑉𝑐−
No sistema sem aterramento, as tensões na carga em (7) podem atingir valores
menores ou maiores que as tensões permitidas (ANEEL, 2021), pois 𝑉 0 é anulada nas
tensões de fase. Em sistemas de distribuição de energia elétrica de média tensão, para o
cálculo de fluxo de potência, a carga elétrica é considerada o primário do transformador
de distribuição, tanto a potência elétrica, quanto a ligação (Y ou ∆). Na ligação Y do
transformador sem aterramento ou neutro, dependo do valor de 𝑉 0 , as tensões podem
atingir um elevado desequilíbrio.
Caso a impedância 𝑍𝑛 for nula, Figura 1, a tensão 𝑉𝑛′𝑛 é nula, portanto
𝐼 = 𝑉 0 ⁄𝑍 , de acordo com (6). As tensões na carga elétrica, neste caso, são as próprias
0

tensões de fase 𝑉𝑎 , 𝑉𝑏 e 𝑉𝑐 , considerando 𝑉𝑛′ nulo em (7). Portanto, quando o sistema é


solidamente aterrado, a referência de tensão não é perdida, as tensões na carga são
iguais às nas fases, repassando apenas o desequilíbrio das tensões da fase (geralmente
pequeno) à carga elétrica. O mesmo ocorre com a ligação Y aterrada (ou ligada ao
neutro apresentando 𝑍𝑛 pequeno) do primário do transformador de potência. Em redes
de distribuição de média tensão de países como EUA, Inglaterra e Grécia utiliza-se o
condutor neutro multi-aterrado (PIZZALI, 2003) para referência de tensão.
Em sistemas de distribuição com transformadores de primário em delta, os
desequilíbrios de tensões na fase do delta dependem das tensões de linha, ou seja, da
diferença de tensão entre as fases desequilibradas. Em sistemas desequilibrados com
transformador delta-estrela aterrado, Figura 2, a componente simétrica de sequência
zero da corrente é confinada no delta do transformador, tornando-se um filtro, mas
fisicamente esta componente pode não existir nas fases do delta, como em um curto-
circuito fase-terra. As componentes simétricas são úteis na análise do desequilíbrio,
quantificando as correntes que saem do delta e as correntes que permanecem no delta,
são úteis na análise das perdas elétricas (Anexo), mas podem não existir efetivamente
nas fases, sendo o filtro delta para este valor de corrente uma ilustração representativa
da transformada de componentes simétricas. O correto é utilizar o termo confinar a
componente de sequência zero, nos casos em geral e utilizar o termo de circulação da
corrente de sequência zero no delta, caso existir fisicamente.
A componente de tensão de sequência zero na fase do delta é nula, pois a
diferença de tensão entre duas fases anula a sequência zero da tensão, de acordo com
(1). As tensões de fase no delta são componentes de sequência positiva e negativa,
portanto quanto maior a componente de sequência negativa, maior o desequilíbrio de
tensão, de acordo com (7). O transformador ∆-Y aterrado assemelha-se ao Y-Y com
secundário aterrado, no entanto, o ∆ confina a corrente de sequência zero.

Figura 2. Transformador ∆-Y aterrado.

Fonte: Próprio Autor

Portanto, nota-se que a conexão ao terra ou neutro garante a referência de tensão,


enquanto em sistemas isolados a perda de 𝑉 0 na carga (ou transformadores) acarreta
maiores desequilíbrios. Em termos de segurança, a falta fase-terra pode ser detectada
por um dispositivo de proteção se a rede é aterrada.

Diversos autores afirmam que o delta é um filtro para a componente de


sequência zero da corrente, no caso da conexão ∆-Y aterrada. O autor em (DAS, 2017)
afirma que o lado delta filtra a componente da corrente de sequência zero como
ilustrada na Figura 3, sendo a corrente do lado primário do transformador igual a zero.

Em (GLOVER, SARMA, OVERBYE, 2012), o autor afirma que nenhuma


corrente de sequência zero entra ou saí do delta do transformador, indicando um filtro
para a componente de sequência zero.

Figura 3. Corrente de sequência zero no transformador.

Fonte: (DAS, 2017).

O autor em (MARX, BENDER, 2013) afirma que a corrente de sequência zero


circula no delta sem sair dos terminais do transformador, conforme Figura 4.

Figura 4. Transformador delta-estrela aterrado com resistência.

Fonte: (MARX, BENDER, 2013).

Contrariamente aos autores citados, a corrente de sequência zero no delta do


transformador ∆-Y aterrado, calculada em (4), pode não fluir ou circular, pois a corrente
da transformação pode não existir fisicamente nas fases.

METODOLOGIA

Sistemas elétricos trifásicos com transformadores ∆-Y são simulados no


software Simulink para a análise da componente de sequência zero da corrente elétrica.
Os cálculos da componente de sequência zero são realizados no software MatLab.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

O circuito elétrico trifásico, Figura 5, apresenta uma falta fase-terra no


secundário do transformador, no caso a fase a é a fase em contato com o condutor terra.
A corrente de falta na fase a é 79,06 A. A corrente de falta circula por um caminho
fechado com retorno pelo terra, sendo a corrente do neutro ou terra I n = Ia+Ib+Ic = Ia . A
corrente de sequência zero obtida em (4) é 26,35 A. O fato é que não existe componente
física de corrente de sequência zero nas fases b e c, portanto, a componente de
sequência zero não circula pelo delta, pois não existe fisicamente. A corrente de uma
fase no delta (79,05 A) é a mesma nas linhas a e b do primário do transformador.

Figura 5. Falta fase-terra.

Fonte: Próprio autor.

A componente de sequência zero para existir fisicamente deve ser uma


decomposição fasorial da corrente elétrica. A Figura 6 mostra a decomposição da
corrente elétrica nos eixos x e y, resultando nas correntes I x e Iy. Se a corrente elétrica é
nula, sua projeção na fase da componente de sequência é nula.

Figura 6. Decomposição fasorial.

Fonte: Próprio autor.

As componentes simétricas devem ser projeções vetoriais das correntes elétricas


das fases, ou seja, a projeção das correntes de fase no fasor da componente simétrica de
sequência zero, 𝐼 0 , obtida em (4), deve existir, sendo a magnitude de 𝐼 0 menor ou igual
a projeção das correntes de fase. A Figura 7, representação da decomposição em
componentes simétricas, mostra que a projeção da tensão elétrica (Vb) não resulta na
componente de sequência zero representada (Vb0), de acordo com a linha tracejada.
Figura 7. Componentes simétricas.

Fonte: (MARX, BENDER, 2013).

A Figura 8 apresenta um circuito elétrico trifásico alimentado com tensão de


sequência zero no lado secundário do transformador. O transformador trifásico presente
é ∆-Y com ligação Y ao neutro e a relação de transformação é unitária por fase. As
resistências da carga elétrica são iguais. A corrente de sequência zero é 17,63 A, igual a
corrente nas fases do secundário do transformador. A corrente de neutro é 3𝐼 0 , igual a
53,02 A. Neste caso, as correntes elétricas nas linhas do lado primário do transformador
são nulas, pois o delta filtra as correntes de sequência zero, sendo as correntes de
sequência zero fisicamente iguais nas três fases do delta. As correntes circulam no
interior do delta, neste caso.

Figura 8. Correntes iguais nas fases do secundário.

Autor: Próprio Autor.

O mesmo circuito da Figura 8 é simulado na Figura 9, mas com resistências


diferentes na carga do secundário do transformador. As correntes elétricas nas fases a, b
e c do secundário do transformador são 11,85 A, 15,25 A e 8,87 A, respectivamente. As
três correntes estão em fase, mas com magnitudes diferentes, somando-se no condutor
neutro, sendo a corrente de neutro igual 35,98 A. Utilizando a transformada em (3), a
partir das correntes de fase do secundário, são obtidas as correntes de sequência zero,
positiva e negativa, iguais a 11,99 A, 1,84 A e 1,84 A, respectivamente. As
componentes de sequência positiva e negativa passam para o lado do primário do
transformador, surgindo corrente nas linhas. A somatória das componentes de sequência
no interior do delta resulta nas correntes de fases iguais a 11,85 A, 15,25 A e 8,87 A,
com mesmo ângulo de fase, pois a relação de transformação é unitária por fase. Não que
a transformada em (3) seja incorreta, ou o resultado da transformada inversa em (3)
incorreto, mas a componente de sequência zero não pode ser analisada isoladamente,
pois não é correto afirmar que uma corrente de 11,99 A circula fisicamente no interior
do delta, sendo que em duas fases do delta as correntes eficazes são menores (11,85 A e
8,87 A). Não existe a projeção destas correntes de fase em 𝐼 0 . O delta confina esta
corrente, pois a corrente da componente simétrica de sequência zero não sai do delta,
mas a mesma não circula fisicamente no interior do delta.

Figura 9. Correntes diferentes nas fases do secundário.

Autor: Próprio Autor

A potência de desequilíbrio na carga elétrica trifásica desequilibrada, o qual


origina a corrente de sequência negativa e zero, não realiza trabalho (EMANUEL, 1993)
e pode ser compensada por elementos passivos junto à carga. Utilizar o delta como filtro
da componente de sequência zero pode ocasionar um severo desequilíbrio no sistema de
acordo com (7).

A forma eficaz de compensar o desequilíbrio, ou seja, a corrente de sequência


zero e/ou a corrente de sequência negativa, é pelo método de compensação ideal
(SEMENSATO, 2018). O método de compensação ideal consiste em alocação de
elementos passivos (capacitores e/ou indutores) junto à carga trifásica desequilibrada
para compensar o fator de potência da carga. Após a compensação ideal o fator de
potência será unitário, ou seja, a corrente elétrica da carga estará em fase com a
alimentação simétrica.
A Figura 10 apresenta uma carga elétrica trifásica desequilibrada e a Figura 11
apresenta a compensação da potência reativa e do desequilíbrio da carga. Note que as
correntes das fases são equilibradas após a compensação e o fator de potência (FPe) é
unitário. A tensão eficaz de fase na fonte simétrica é 2400 V. A Tabela 1 apresenta as
grandezas elétricas na carga trifásica antes da compensação.

Figura 10. Carga elétrica trifásica desequilibrada.

Fonte: Próprio autor.

Tabela 1. Grandezas elétricas.

Potência Convencional Potência Efetiva

Potência Aparente (VA) 235955,10 238579,40


Potência Ativa (W) 166845,40 166845,40
Potência Reativa (VAr) 166845,40 166845,40
Potência de Desequilíbrio (VA) 0 35288,80
Corrente elétrica (A) Ia=34,76; Ib=36,12; Ic=27,96

Fonte: Próprio autor.

Figura 11. Compensação da potência reativa e desequilíbrio.

Fonte: Próprio autor.


As potências elétricas na carga elétrica, Figura 10, são medidas por dois métodos
(Tabela 1). O primeiro é o convencional, método utilizado para circuitos trifásicos
equilibrados, o qual a maioria dos medidores adota. Este método consiste na média da
potência como medida de potência ativa e no pico da potência alternada como potência
reativa. O segundo método é calculado pela norma IEEE Std 1459-2010 (IEEE 1459-
2010, 2010) e representa o valor efetivo. O primeiro método não é correto para sistemas
desequilibrados, pois não contabiliza a potência de desequilíbrio, levando a uma medida
errada da potência aparente (Tabela 1). Portanto, se a potência de uma carga trifásica for
medida de acordo com o método efetivo, o transformador que alimenta a carga pode ser
dimensionado corretamente, sem sobrecarga devido à potência de desequilíbrio. Por
isso é errado dizer que a corrente de sequência zero provoca aquecimento no delta,
sendo o transformador corretamente dimensionado para esta corrente, mas caso a
potência elétrica for medida de acordo com o método convencional, o transformador
pode sofrer uma sobrecarga devido à corrente de sequência zero.

A Figura 12 apresenta uma carga elétrica desequilibrada ligada em estrela, com


centro estrela isolado, cuja tensão na fase b da carga é 2645 V, sendo 10,21 % maior
que a tensão nominal de 2400 V da fonte. A Figura 13 apresenta a mesma carga elétrica
da Figura 12, mas com ligação da carga ao neutro, sendo a tensão da fase b na carga
2400 V, igual a nominal. Esta simulação ilustra a importância da referência do neutro
para a tensão na carga (ou transformador).

A pergunta final que deve ser respondida é por que a corrente de sequência zero
não percorre a fonte de tensão? A componente simétrica de sequência zero da corrente
não realiza trabalho, podendo ser confinada no delta e fluir no secundário do
transformador ∆-Y aterrado.

Figura 12. Carga elétrica desequilibrada em Y isolado.

Fonte: Próprio autor.


Figura 13. Carga elétrica desequilibrada em Y com ligação ao neutro.

Fonte: Próprio autor

CONCLUSÃO

As componentes simétricas devem ser analisadas como uma transformada, para


facilitar os cálculos em sistemas trifásicos desequilibrados, tendo como resultado a
transformada inversa, mas não analisadas fisicamente em termos de fluxo de corrente. O
ideal não é utilizar o delta como um filtro para a componente de sequência zero, pois
pode causar grande desequilíbrio no sistema trifásico, mas o correto é compensar o
desequilíbrio pelo método de compensação ideal. O condutor neutro ou terra é essencial
como referência de tensão para a carga elétrica trifásica.

ANEXO

De acordo com (8) (EMANUEL, 1993), as perdas obtidas pelas componentes


simétricas nas linhas de energia são iguais as perdas obtidas pelas correntes de fase. A
compensação das correntes de sequência negativa e/ou zero reduzem as perdas de
energia nas linhas.
2 2 2
3(𝐼 + + 𝐼 − + 𝐼 0 ) = 𝐼𝑎2 + 𝐼𝑏2 + 𝐼𝑐2 (8)

REFERÊNCIAS

ACÁCIO, L. C. Estudos sobre metodologias para análise de falhas utilizando


componentes simétricas e coordenadas de fase. Trabalho de Conclusão de Curso. UFJF,
2014.

ANEEL - AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Procedimentos de


Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST) – Módulo 8.
2021.

DAS, J. C. Understanding symmetrical components for power system modeling. IEEE


PRESS WILEY, 2017.
EMANUEL, A. E. On the Definition of Power Factor and Apparent Power in
Unbalanced Polyphase Circuits with Sinusoidal Voltage and Currents. IEEE
Transactions on Power Delivery, Vol. 8, No. 3, 1993.

GLOVER, J. D., SARMA, M. S, OVERBYE, T. J. Power System Analysis and Design.


CENGAGE Learning, 5 ed., 2012.

IEEE 1459-2010 - IEEE Standard Definitions for the Measurement of Electric Power
Quantities Under Sinusoidal, Nonsinusoidal, Balanced, or Unbalanced Conditions.
IEEE, 2010.

KINDERMANN, G. Curto-Circuito. Editora Sagra, 2 ed., 1997.

MARX, S., BENDER, D. An Introduction to Symmetrical Components, System


Modeling and Fault Calculation. Washington State University: 30th Annual HANDS-
ON Relay School, 2013.

PIZZALI, L. F. O. Cálculo de fluxo de potência em redes de distribuição com


modelagem a quatro fios. Dissertação (Mestrado em Automação) – Faculdade de
Engenhaira, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, 2003.

SEMENSATO, M. Alocação de capacitores em redes de distribuição desequilibradas


para minimizar as perdas de energia elétrica e o desequilíbrio. Tese de doutorado,
UNESP, São Paulo, 2018.

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