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Forças constantes são simples, mas de especial interesse em mecânica, uma vez que a
força gravitacional próximo à superfı́cie da Terra, é um exemplo de tal força. Quando
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44 INTEGRAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO
F
a= ,
m
é uma aceleração constante, em relação a um referencial inercial, e o movimento é
dito uniformemente acelerado. Separando as variáveis e integrando em ambos os
lados da equação,
Z v(t) Z t
dv = a dt,
v0 0
obtemos
v(t) = v0 + at, (3.1)
onde v0 é a velocidade no instante inicial. Reescrevendo em termos da posição e
integrando novamente,
Z r(t) Z t
dr = (v0 + at)dt,
r0 0
d2 x
m = Fx (x, y, z),
dt2
d2 y
m 2 = Fy (x, y, z),
dt
d2 z
m 2 = Fz (x, y, z),
dt
FORÇA DEPENDENTE APENAS DA POSIÇÃO 45
d2 x
m = Fx (x), (3.3a)
dt2
d2 y
m 2 = Fy (y), (3.3b)
dt
d2 z
m 2 = Fz (z). (3.3c)
dt
Considerando a componente x, por exemplo, reescrevemos (3.3a) como
dvx
Fx (x) = m .
dt
Usando a regra da cadeia
dvx dvx dx
= ,
dt dx dt
separando as variáveis e integrando ambos os lados obtemos,
Z x Z v(x)
m
vx (x)2 − vx (x0 )2 .
Fx (x)dx = m vx dvx =
x0 v0 2
quando a velocidade não é identicamente nula. Se for, temos x(t) = x(0). A Eq.
(3.4) deve ser invertida para x(t) se quisermos a posição em função do tempo e
equações análogas são válidas para as direções y e z. Note que este sistema também
é integrável por quadraturas.
GM m K
F(r) = − 2
k̂ = − 2 k̂,
z z
onde G é a constante da gravitação universal. A equação de movimento é dada por
dvz K
m = − 2 k̂.
dt z
46 INTEGRAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO
onde usamos o sinal negativo, pois a velocidade é negativa. Para a primeira integral
temos Z z
K 0 1 1
− 02 dz = K − ,
z0 z z z0
e, assim, a segunda integral fica
r Z z − 21
m 1 1
t=− − dz.
2K z0 z z0
p
Fazendo a substituição sin θ = z/z0 , obtemos
r
2mz03 θ(z) 2
Z
t=− sin θdθ,
K π
2
q
z
onde θ(z) = arcsin z0 . Portanto,
r
mz03 π
r r
z 1 z
t= − arcsin + sin 2 arcsin .
2K 2 z0 2 z0
dv
m = F(t),
dt
1 Equaçõestranscendentais são equações onde a solução para uma dada variável é escrita em termos de
uma função transcendental, como funções trigonométricas, da própria variável. Por exemplo, z = cos(z).
FORÇA DEPENDENTE DO TEMPO 47
1 t t
Z Z
r(t) = r0 + v0 t + F(t0 )dt0 dt. (3.6)
m 0 0
F (t) = F0 δ(t − t0 ),
com a função delta de Dirac, δ(t − t0 ), podendo ser definida a partir da sequência
δ(t − t0 ) = lim φn (t − t0 ),
n→∞
tal que
Z +∞
δ(t − t0 )dt = 1,
−∞
e Z +∞
δ(t − t0 )f (t)dt = f (t0 ).
−∞
2 Nesta convenção, o valor da função é indefinido em t . Existe outra convenção onde a função vale 1/2
1
neste ponto.
48 INTEGRAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO
φn
φ25
φ5
φ1
0
t0 t
Figura 3.1
Exemplo 3.2. Uma partı́cula sobre a reta, inicialmente em repouso na origem, sofre
ação da força impulsiva F (t) = F0 [θ(t − t1 ) − θ(t − t2 )], com t1 < t2 . O gráfico
da força atuando sobre a partı́cula é mostrado na figura 3.2
F0
0 t1 t2 t
Figura 3.2
FORÇA DEPENDENTE DO TEMPO 49
Já para obtermos a posição, de (3.6), precisamos ter cuidado com o valor da integral
interna ao longo da integração externa. Para t < t1 a integral se anula. Já para
t1 < t < t2 devemos escrever
Z tZ t Z t1 Z t Z tZ t
0 0 0 0
F (t )dt dt = F (t )dt dt + F (t0 )dt0 dt
0 0 0 0 t1 0
Z t1 Z t
= 0dt + (t − t1 )dt
0 t1
Z tZ t
(t − t1 )2
= F0 dt0 dt = .
t1 t1 2
Note que, apesar das respostas acima não estarem explı́citas para os tempos t1 e t2 ,
a solução é contı́nua quando toma-se esses limites.
dv
m = F(v),
dt
resulta, em geral, em um sistema de equações diferenciais acopladas. Se a força for
do tipo,
F(v) = Fx (vx )î + Fy (vy )ĵ + Fz (vz )k̂,
então o sistema é desacoplado e, nesse caso, a equação de movimento em cada
direção será da forma,
dv
m = F (v).
dt
Se a força é nula, a velocidade é constante e a posição cresce linearmente com o
tempo. Caso contrário, a equação acima pode ser formalmente integrada, resultando
50 INTEGRAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO
em Z v(t)
dv
t=m . (3.7)
v0 F (v)
Uma vez resolvida a (3.7) para v(t), uma nova integração fornece x(t).
Dentre as forças dependentes puramente da velocidade, mais importantes, estão
as forças de arrasto sobre um corpo em um fluido, as quais são resistivas, e a força
magnética sobre uma partı́cula eletricamente carregada. Uma diferença fundamental
entre as duas é que a primeira é dissipativa, enquanto que a segunda é conservativa.
Exemplo 3.3. Uma partı́cula de massa m possui velocidade inicial v0 e está sujeita
à força de arrasto linear −b1 v, onde b1 é uma constante. De (3.7) temos
m v dv
Z
m v(t)
t=− (t) = − ln .
b1 v 0 v b1 v0
mg − F (vt ) − E = 0,
Exemplo 3.4. Se a força de arrasto sobre o corpo em queda livre é do tipo linear,
então
dv
m = mg − b1 v − E,
dt
FORÇA DEPENDENTE DO TEMPO 51
com o eixo orientado para baixo. Desta equação, com aceleração nula, obtemos a
velocidade terminal, a qual também pode ser escrita como
mg ρf
vt = 1− .
b1 ρ
F ∝ ρa η b R c v d .
[M ][L] [M ]a [M ]b [L]d
2
= 3a b b
[L]c d ,
[t] [L] [L] [t] [t]
52 INTEGRAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO
concluı́mos que
F ∝ ρd−1 η 2−d Rd v d . (3.8)
Quando a força de arrasto é linear na velocidade, por exemplo, ela é dada por
F ∝ ηRv.
F ∝ ρR2 v 2 .
F = f (Re)ρR2 v 2 ,
1 103 105 Re
Figura 3.3
F = C1 ηRv = b1 v.
Já no regime 103 . Re . 105 , ou seja, 103 η/ρR . v . 105 η/ρR, a função f é
aproximadamente constante, o que nos dá um arrasto quadrático
F = C2 ρR2 v 2 = b2 v 2 .
FORÇA DEPENDENTE DO TEMPO 53
F = 6πηRv. (3.9)
mg = b2 vt2 ,
mg = 6πηRvt ,
|q|V d = mg,
mg 4πR3 ρg
q=− =− ,
Vd 3V d
com ρ sendo a densidade do óleo e sabendo que a carga do elétron é negativa. No
entanto, no começo do século XIX não havia como medir diretamente a massa ou o
raio, R, de uma gotı́cula. A engenhosa alternativa encontrada por Millikan foi obter
R a partir da velocidade terminal da gotı́cula. Considerando a força de arrasto dada
pela lei de Stokes, (3.9), obtemos
4πR3 ρg
6πηRvt = mg = ,
3
a qual resulta em r
9ηvt
R= .
2ρg
4 R.
A. Millikan, On the Elementary Electrical Charge and the Avogadro Constant, Phys. Rev. 2, 109,
1913.
MOVIMENTO DE PROJÉTEIS 55
Podemos aplicar alguns dos resultados obtidos nas seções anteriores ao problema
do lançamento de uma partı́cula nas proximidades da superfı́cie da Terra. Inicial-
mente vamos assumir que a gravidade é aproximadamente uniforme, o arrasto cau-
sado pela atmosfera é desprezı́vel e desconsideramos os efeitos devido a rotação da
Terra. Como a única força atuando sobre a partı́cula está orientada na direção do
eixo z, o movimento estará restrito ao plano gerado pela velocidade inicial v0 e k̂..
Definindo a origem como o ponto de lançamento do projétil temos,
v = v0 + gt,
v0 sin θ
ts = .
g
Dividindo a trajetória entre subida e descida calculamos a velocidade para instantes
simétricos em torno do tempo de subida, obtendo v(ts − t) = v0 cos θî + gtk̂ e
v(ts +t) = v0 cos θî−gtk̂, de onde vemos que vx (ts −t) = vx (ts +t) e vz (ts −t) =
−vz (ts + t). Isso implica na simetria entre a subida e a descida do projétil, o que
pode ser visto explicitamente a partir da curva da trajetória. Para tanto, notamos que
a posição do projétil é dada por
1
r = v0 t + gt2 ,
2
56 INTEGRAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO
ou
1
r = (v0 t cos θ)î + (v0 t sin θ − gt2 )k̂.
2
Eliminando o tempo das componentes x e z da posição, chegamos a seguinte tra-
jetória
gx2
z(x) = x tan θ − 2 , (3.10)
2v0 cos2 θ
a qual corresponde a uma parábola. A solução não trivial de z(xa ) = 0 nos dá o
alcance horizontal do projétil,
v02 sin 2θ
xa = ,
g
de onde obtemos o alcance máximo,
v02
xam = ,
g
quando o ângulo de lançamento vale π/4. Já o alcance vertical pode sempre ser
obtido por za = z(ts ). No nosso caso vale
v02 sin2 θ
za = ,
2g
tendo seu valor máximo,
v02
zam = ,
2g
ocorrendo no lançamento vertical. Note que, devido a simetria do movimento en-
tre subida e descida, também podemos obter o alcance horizontal através de xa =
2x(ts ), caso a superfı́cie seja horizontal.
As linhas contı́nuas da Fig. 3.4 são parábolas representando uma sequência de
lançamentos, todos com a mesma velocidade inicial e ângulos de lançamento va-
riando entre 0 e π. As linhas tracejadas correspondem aos ângulo π/4 e 3π/4 e
representam o alcance máximo ao longo do eixo horizontal. Já a linha pontilhada
é a envoltória da famı́lia de parábolas parametrizadas pelo parâmetro θ. Podemos
encontrar envoltória de uma famı́lia de curvas consideramos duas curvas infinitesi-
malmente próximas. A envoltória passa pela interseção dessas curvas. Assim, con-
siderando a interseção entre o lançamento com ângulo θ e o lançamento com ângulo
θ + δθ,
gx2 gx2
x tan θ − = x tan (θ + δθ) − ,
2v02 cos2 θ 2
2v0 cos2 (θ + δθ)
MOVIMENTO DE PROJÉTEIS 57
0 x
Figura 3.4
v02 cot θ
x= , (3.11)
g
e substituindo o resultando na Eq. (3.10) chegamos a
v2 v2
1
z = 0 2− 2
= 0 (1 − cot2 θ).
2g sen θ 2g
Usando a Eq. (3.11) para eliminar o ângulo desta última equação, obtemos, final-
mente, a equação da envoltória
v02 gx2
z(x) = − 2.
2g 2v0
dvx p
m = −bvx vx2 + vz2 ,
dt
dvz p
m = −bvz vx2 + vz2 − mg,
dt
que corresponde a um sistema acoplado de EDO’s não lineares, cuja solução requer
métodos numéricos. Uma possı́vel configuração onde o arrasto linear é apropriado
corresponde ao lançamento de um pequeno projétil em óleo, como o de mamona, o
qual possui densidade de aproximadamente 103 kg / m 3 e viscosidade, a qual varia
consideravelmente com a temperatura, da ordem de 100 Pa · s . Assim é possı́vel
Re = 103 Rv . 1 para alguns valores razoáveis de raio e velocidade do projétil,
dando origem ao regime de arrasto linear. Vamos, portanto, considerar um caso
como esse. Considerando a força de arrasto do tipo −bv, b > 0 e multiplicando a
equação de movimento,
dv b
+ v = g,
dt m
por ebt/m , podemos reescreve-la como
d bt bt
ve m = ge m .
dt
Integrando essa equação no tempo, de 0 até t chegamos a
mg bt
bt
v(t) = 1 − e− m + v 0 e− m .
b
Integrando novamente no tempo, obtemos o vetor posição
mgt m mg bt
r(t) = r0 + − − v 0 1 − e− m .
b b b
Definindo o ponto de lançamento como a origem do sistema do coordenadas e
orientando o eixo z para cima, podemos escrever as componentes do vetor posição,
mv0 cos θ bt
x(t) = 1 − e− m ,
b
mgt m mg bt
z(t) = − + + v0 sin θ 1 − e− m ,
b b b
MOVIMENTO DE PROJÉTEIS 59
m2 g
mg bx
z(x) = + tan θ x + 2 ln 1 − , (3.12)
bv0 cos θ b mv0 cos θ
0 x
Figura 3.5
sendo que a curva pontilhada possui o dobro da velocidade. Já a curva contı́nua
possui a mesma velocidade da curva tracejada, mas possui coeficiente de arrasto
dez vezes menor. Estas curvas possuem uma assı́ntota vertical em x(t → ∞) =
mv0 cos θ/b, justamente o deslocamento horizontal máximo, obtido no exemplo 3.3.
Dada a impossibilidade de resolvermos z(xa ) = 0 para o alcance xa , devemos
usar algum método aproximativo. Expandindo o logaritmo em torno de y = 0 temos
y2 y3
ln(1 − y) = −y − − + O(y 4 ).
2 3
Assim, a equação (3.12) pode ser escrita como
gx2 bgx3
z(x) = tan θx − − + O(b2 ). (3.13)
2v0 cos2 θ 3mv03 cos3 θ
Note que para x muito pequeno a trajetória se aproxima de uma parábola e que no
limite b → 0, recuperamos a equação (3.10). Podemos agora calcular o alcance
horizontal a partir de (3.13),
bgx2a
gxa
tan θ − − xa = 0,
2v0 cos2 θ 3mv03 cos3 θ
60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências Bibliográficas
[1] A. Arya, Introduction to Classical Mechanics. Prentice Hall, 2nd ed., 1998.
[4] R. Gunn and G. D. Kinzer, “The terminal velocity of fall for water droplets in
stagnant air,” Journal of Atmospheric Sciences, vol. 6, no. 4, pp. 243–248, 1949.
Exercı́cios e problemas
1 - Considere uma força atrativa F (x) = −k/x3 atuando sobre uma partı́cula de
massa m, restrita ao eixo x > 0. Calcule a posição da partı́cula, liberada do repouso
em x0 , em função do tempo. Obtenha o intervaloq de tempo que a partı́cula leva para
mx40
q
kt2
atingir a origem. R: x(t) = x0 1 − mx4 ∆t = k .
0
2 - Uma partı́cula de massa m está presa a uma mola de constante elástica k e com-
primento natural l0 e desloca-se ao longo de um fio vertical. O extremo livre da mola
está fixo em um ponto a uma distância l0 do fio. A partı́cula ainda está sujeita à
força da gravidade e a uma força atrito cinético, cujo coeficiente é constante e vale
µ. A partı́cula é liberada do repouso, quando o comprimento da mola vale li , tal
que li > l0 , e passa a descer devido a mola e a gravidade. Obtenha a velocidade da
partı́cula durante sua descida, em função do comprimento l da mola. Assuma que
o coeficiente de atrito é pequeno o suficiente de modo que a partı́cula não entre em
repouso no intervalo em questão.
termine o vı́nculo entre a velocidade inicial e o alvo para que este seja atingido.
Associe os possı́veis números dentro da raı́z com a possibilidade do lançamento es-
tar dentro, sobre e fora da parábola de segurança.