Você está na página 1de 8

Aplicações de EDOs e sistemas de EDOs

UFABC 2023

IEDO
Sistema mecânico e a função de Hamilton
Consideremos o movimento de uma massa m numa dimensão espacial ao longo do eixo x, sob ação de
uma força potencial, com o potencial U = U (x). A lei de Newton diz que a aceleração dv
dt
, aonde
v = dx
dt
é a velocidade, satisfaz

dv d2 x dU (x)
m = m 2 = F (x) = − . (1)
dt dt dx
Como já sabemos, uma EDO de ordem 2 é equivalente à um sistema de duas EDOs de ordem 1. Para
obter essa sistema introduzimos uma nova variável p ≡ mv = m dx
dt
(o momento linear). Obtemos
dx p
= ,
dt m
dp d2 x dU (x)
=m 2 =− . (2)
dt dt dx
Sistema de EDOs de ordem 1 Eqs. (2) se chama sistema Hamiltoniana na mecânica clássica, aonde tem
uma função chamada o Hamiltoniano (ou a função de Hamilton):
p2
H≡ + U (x). (3)
2m
Temos uma outra forma de sistema (2):
dx ∂H
= ,
dt ∂p
dp ∂H
=− . (4)
dt ∂x
A função H = H(p, x) é uma função de Lyapunov da sistema de EDOs (2). Uma função de Lyapunov é
aquela que fica constante nas soluções da sistema de EDOs. Verificamos isso:
dH ∂H dp ∂H dx dx dp dp dx
= + = − = 0, (5)
dt ∂p dt ∂x dt dt dt dt dt
aonde usamos Eqs. (4) para substituir as derivadas parciais do H.
IEDO
A Lei de conservação de energia e a função de Hamilton

A função de Hamilton é uma função de Lyapunov de um sistema mecânico. O valor constante dessa
função H = H(p, x) é nada mais que a energia mecânica:

p2
E= + U (x) (6)
2m
e fica constante em decorrer de tempo.
O mesmo é valido para sistema em 3 dimensões espaciais. Nesse caso temos três coordenadas espaciais.
Consideremos um exemplo de massa m numa força potencial F = Fx i + Fy j + Fz k, aonde Fx , Fy e Fz
são os três componentes do vetor da força e i, j, e k são vetores unitários ao longo de eixos x, y, z de
um referencial em 3 dimensões espaciais. Se a força é potencial, existe um potencial U = U (x, y, z) e
para os componentes da força temos:

∂U ∂U ∂U
Fx = − , Fy = − , Fz = − . (7)
∂x ∂y ∂z

Em cada componente, a aceleração satisfaz a segunda lei de Newton, i.e.,

d2 x ∂U
m = Fx = −
dt2 ∂x
d2 y ∂U
m 2 = Fy = −
dt ∂y
d2 z ∂U
m = Fz = − . (8)
dt2 ∂z

IEDO
A Lei de conservação de energia e a função de Hamilton
Se introduzimos o vetor de momento linear, com componentes p = px i + py j + pz k, aonde px = m dx
dt
,
py = m dy
dt
, e pz = m dz
dt
, a nossa sistema acima, composta de 3 EDOs de ordem 2, poderia ser dada
também como a seguinte sistema de 6 EDOs de ordem 1:
dx px dpx ∂U
= , =− ,
dt m dt ∂x
dy py dpy ∂U
= , =− ,
dt m dt ∂y
dz pz dpz ∂U
= , =− .
dt m dt ∂z
(9)
Sistema (9) tem uma função Hamiltoniana de 6 variáveis, três coordenadas x, y, z e três momentos
px , py , pz :
p2 p2y p2 p2
H= x + + z + U (x, y, z) = + U (x, y, z), (10)
2m 2m 2m 2m
i.e., pode ser dada em forma de equações Hamiltonianas:
dx ∂H dpx ∂H
= , =− ,
dt ∂px dt ∂x
dy ∂H dpy ∂H
= , =− ,
dt ∂py dt ∂y
dz ∂H dpz ∂H
= , =− . (11)
dt ∂pz dt ∂z
De mesmo jeito, como foi feito para sistema mecânico em uma dimensão espacial, podemos demonstrar
que a função Hamiltoniana é função de Lyapunov, i.e., fica constante nas soluções (verifica em casa):
dH
= 0. (12)
dt
O valor constante dessa função é a energia do sistema mecânico.
IEDO
Exemplo: Uma massa em campo gravitacional

Veremos um exemplo de sistema mecânico: uma massa m sob ação de força gravitacional da Terra. Se
o eixo z é perpendicular a superfı́cie da Terra e o centro do referencial fica no centro da Terra, temos a
força gravitacional como
GM m
Fx = Fy = 0, Fz = − , (13)
z2
Fz GM
aonde G é a constante gravitacional e M é a massa da Terra. Temos g = m
= R2
é aceleração na
superfı́cie da Terra, aonde R é o raio da Terra. A força gravitacional é potencial, pois temos (observa o
sinal menus em frente do potencial)

∂U GM m
Fz = − , U =− , (14)
∂z z
e obviamente Fx = Fy = 0 pois U = U (z). Nesse caso podemos escrever a função Hamiltoniana como

p2x p2y p2 GM m p2 GM m
H= + + z − = − . (15)
2m 2m 2m z 2m z
Como já sabemos, a função Hamiltoniana é constante do movimento, o valor dela é a energia mecânica
do sistema (observa que a energia poderia ser positiva ou negativa, pois a energia potencial é negativa).
Isso, permite imediatamente achar o que se chama a velocidade de escape V , i.e., a velocidade mı́nima
necessária para“libertar-se” de um campo gravitacional.
Observando que uma massa m que fica na distancia infinita da Terra terá a energia potencial U = 0 (o
valor máximo dela), colocando a velocidade igual a zero no infinito, achamos a velocidade de escape V
usando a lei de conservação de energia:
r
p2 GM m mV 2 GM m 2GM p km
E=0= − = − →V = = 2gR ≈ 11, 2 (16)
2m R 2 R R s
p2 mV 2
aonde usamos que |p| = mV e 2m
= 2
.

IEDO
Exemplo: circuito elétrico RLC

Um circuito elétrico simples para a corrente alternada consiste de quatro


componentes (veja a figura): uma fonte U = U (t) de tensão alternada (não
necessariamente periódica), um resistor R (e.g., todo fio do circuito), um
capacitor C (e.g., duas placas paralelas), e uma indutância L (e.g., uma
bobina). A corrente elétrica I no resistor necessita uma diferença de potencial
UR = IR, induz uma variação de carga q no capacitor C, de acordo com a
relação dq
dt
= I. Carga no capacitor resulta em diferença de potencial
q
UC = . (17)
C
Corrente elétrica alternada que passa uma indutância L induz uma força
eletromotriz E pela a lei de Faraday, contraria à corrente

dI d2 q
E=L =L 2. (18)
dt dt
Isso resulta em queda de potencial UL = E. A soma de quedas de potencial
no circuito deve ser igual a tensão na fonte: UR + UC + E = U (t), i.e., temos
uma equação diferencial de segunda ordem para a carga q = q(t) no capacitor:

d2 q dq q
L +R + = U (t). (19)
dt2 dt C

IEDO
Circuito elétrico RLC e a energia eletrica
Temos uma EDO de ordem 2 para a carga q

d2 q dq q
L +R + = U (t), (20)
dt2 dt C
que pode ser escrita como um sistema de duas EDOs de ordem 1, se introduzimos uma nova variável,
por exemplo p = LI = L dq
dt
:

dq p
= ,
dt L
dp R q
=− p− + U (t), (21)
dt L C
Observa que quando a resistência é ausente R = 0 e a fonte também U (t) = 0 o circuito LC é
equivalente à um oscilador harmônico, pois temos EDO parecido:

d2 q q
L + = 0. (22)
dt2 C

Nesse caso, a carga é equivalente ao posição do oscilador x = q e a nossa variável p = L dq


dt

equivalente ao momento linear do oscilador p = L dx dt
, aonde L serve como um equivalente da massa m.
A sistema de EDOs (21) nesse caso é Hamiltoniana

dq ∂H dp ∂H
= , =− , (23)
dt ∂p dt ∂q
com a função Hamiltoniana
p2 q2
H= + , (24)
2L 2C
2
q
aonde 2C é um análogo de energia potencial. A solução geral para carga é q = A sin(Ωt + θ) aonde

Ω = 1/ LC é a freqüência de oscilações da corrente no circuito e A e θ são constantes arbitrarias (o
valor máximo da carga no capacitor e a fase).
IEDO
Sumario

Consideremos como surgem as sistemas de EDOs de ordem 2 na mecânica clássica e introduzimos


função Hamiltoniana para sistemas mecânicos
Damos o significativo para a função Hamiltoniana como uma função de Lyapunov para sistemas
mecânicos e relação dela com a energia mecânica em 3D
Obtemos uma analogia entre os circuitos RLC e oscilador harmônico

IEDO

Você também pode gostar