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o que leva à:
h̄2 ∂ 2
y(x,t) = T y(x,t). (2.6)
2m ∂ x2
Por enquanto, vamos guardar o resultado acima.
Uma outra equação diferencial que tem como solução a função de onda da equação 2.2 pode
ser escrita como:
∂
y(x,t) + iwy(x,t) = 0. (2.7)
∂t
Considerando E = h f = h̄w, temos:
∂
ih̄ y(x,t) = Ey(x,t). (2.8)
∂t
Por enquanto, vamos também guardar o resultado acima.
Como último passo, vamos aplicar a função de onda y(x,t) pelo lado direito da equação 2.1.
Teremos:
h̄2 ∂ 2 ∂
y(x,t) +V y(x,t) = ih̄ y(x,t) (2.10)
2m ∂ x 2 ∂t
sendo esta a Equação de Schrödinger dependente do tempo (ESDT).
h̄2 ∂2 ∂
f (t) 2 y(x) +V y(x)f (t) = ih̄y(x) f (t). (2.12)
2m ∂x ∂t
Ao dividirmos a equação anterior, pelo lado esquerdo, por y(x,t) = y(x)f (t), obtemos:
⇢ ⇢
h̄2 1 ∂ 2 ih̄ ∂
y(x) +V (x) f (t) = 0, (2.13)
2m y(x) ∂ x 2 f (t) ∂t
| {z } | {z }
g g
onde assumimos V = V (x). Esta condição é necessária para podermos agrupar nas primeiras chaves
apenas a variável espacial x; enquanto nas segundas chaves, apenas a variável temporal t. Para que
a equação acima seja verdadeira, cada chaves deve ser igual a uma constante, no caso g. Temos
então:
d
ih̄ f (t) = gf (t). (2.14)
dt
2.2 Operadores 43
Comparando a equação acima com a equação 2.8, concluímos que g = E. Conhecendo agora a
constante g, podemos estudar as primeiras chaves da equação 2.13:
h̄2 ∂ 2
y(x) +V (x)y(x) = Ey(x) (2.15)
2m ∂ x2
sendo esta a Equação de Schrödinger independente do tempo (ESIT). Esta equação fornece infor-
mações a respeito dos estados (estacionários) do sistema, bem como do seu respectivo espectro de
energia.
A solução desta equação dependerá do potencial escolhido V (x), podendo ser generalizada
em duas ou três dimensões, como estudaremos em capítulos à seguir. A função de onda y(x)
também poderá ter índices associados: y{n} (x), onde os índices representam os números quânticos
do problema.
2.2 Operadores
A onda plana que consideramos na equação 2.2 pode ser reescrita como:
y(x,t) = Aei(px Et)/h̄
, (2.16)
sendo esta forma mais fácil para obtermos os operadores que iremos estudar a seguir.
h̄2 ∂ 2
y(x) +V (x)y(x) = Ey(x), (2.23)
2m ∂ x2
e comparar com a equação de autovalor para a energia:
h̄2 ∂ 2
Hˆ = +V (x̂) (2.25)
2m ∂ x2
representa o operador Hamiltoniano.
A partir da equação acima podemos escrever Hˆ = T̂ + V̂ , onde V̂ = V (x̂) representa o operador
energia potencial e
p̂2 h̄2 ∂ 2
T̂ = = (2.26)
2m 2m ∂ x2
representa o operador energia cinética.
 = B̂ + Ĉ (2.27)
Demonstração.
 = b B̂ (2.29)
Demonstração.
 = B̂n (2.31)
2.2 Operadores 45
Demonstração.
Definição 2.1 Quando estudamos dois ou mais operadores, é comum encontrarmos a seguinte
condição entre dois destes operadores: ÂB̂ 6= B̂Â. Por este motivo, é conveniente definirmos o
comutador entre  e B̂ como sendo o operador:
Este comutador pode ser zero (Â e B̂ comutam), ou diferente de zero (Â e B̂ não comutam).
⌅ Exemplo 2.1
Podemos calcular o comutador [x̂, p̂] aplicando uma função de onda y = y(x) pela direita
deste operador:
∂ ∂
[x̂, p̂]y(x) = ih̄x y(x) + ih̄ [xy(x)]
⇥ ∂x ∂x ⇤
= ih̄ xy 0 (x) + y(x) + xy 0 (x)
= ih̄y(x) (2.34)
Logo, obtemos para este comutador:
[x̂, p̂] = ih̄ (2.35)
⌅
Propriedade 2.4
Demonstração.
Propriedade 2.5
Demonstração.
Propriedade 2.6
Demonstração. Toda função f (z) pode ser escrita através de uma série de Taylor (em torno
de um determinado ponto z0 ), de tal forma que o comutador de interesse será proporcional à
[Â, Ân ] = 0. Esta condição demonstra a equação 2.40. ⌅
Propriedade 2.7
Demonstração.
Propriedade 2.8
Demonstração.
Se a condição † =  for satisfeita, chamamos o operador  de Hermitiano, sendo esta uma
condição própria dos observáveis (voltaremos à esta observação mais à frente no texto). Em
2.2 Operadores 47
outras palavras, para ser um operador Hermitiano, este deve obedecer a seguinte condição:
Z Z ⇥ ⇤⇤
y ⇤ (x)Ây(x)dx = Ây(x) y(x)dx (2.49)
⌅ Exemplo 2.2
Vamos considerar o operador momento linear p̂ = ih̄∂ /∂ x e verificar, utilizando a equação
2.49, que este operador é Hermitiano. Temos portanto:
Z • Z •
⇤ ∂ ⇤
[ p̂y(x)] y(x)dx = ih̄ y (x) y(x)dx
• • ∂x
Z •
• ∂
= ih̄ y (x)y(x)| •
⇤
y ⇤ (x) y(x)dx (2.50)
• ∂ x
onde esta integral está sendo resolvida por partes* . Uma vez que as funções de onda y(x)
devem se anular no infinito, temos, portanto:
Z Z •
∂
[ p̂y(x)]⇤ y(x)dx = ih̄ y ⇤ (x) y(x)dx
• ∂x
Z •
= y ⇤ (x) p̂y(x)dx. (2.52)
•
⌅ Exemplo 2.3
Podemos também verificar que o operador energia cinética:
p̂2
T̂ = (2.53)
2m
é Hermitiano. Analogamente ao exemplo anterior, vamos recorrer à equação 2.49. Temos
então:
Z •⇥ Z
⇤⇤ 1 • ⇤
T̂ y(x) y(x)dx = p̂ [ p̂y(x)]⇤ y(x)dx
• 2m •
Z
1 • ⇤ ⇤
= p̂ y (x) p̂y(x)dx (2.54)
2m •
onde a última linha do desenvolvimento acima foi possível uma vez que o operador p̂ é
Hermitiano. Dando continuidade, chegamos à:
Z •⇥ Z •
⇤⇤ 1
T̂ y(x) y(x)dx = y ⇤ (x) p̂2 y(x)dx
• 2m •
Z •
= y ⇤ (x)T̂ y(x)dx. (2.55)
•
*
Z Z
u dv = uv v du (2.51)
h̄2 2 ∂
— y +V y = ih̄ y, (2.57)
2m ∂t
onde y = y(~r,t). Para o desenvolvimento desta seção, precisamos do complexo conjugado da
equação acima, sendo dado por:
h̄2 2 ⇤ ∂
— y +V y ⇤ = ih̄ y ⇤ . (2.58)
2m ∂t
Multiplicaremos a equação 2.57 por y ⇤ e a equação 2.58 por y, sempre pela esquerda, encontrando:
h̄2 ⇤ 2 ∂
y — y + y ⇤V y = ih̄y ⇤ y (2.59)
2m ∂t
e
h̄2 ∂
y—2 y ⇤ + yV y ⇤ = ih̄y y ⇤ . (2.60)
2m ∂t
Fazendo a subtração das equações 2.59 e 2.60 obtemos:
h̄ ~ h ⇤~ i ∂
— · y —y y~—y ⇤ = (y ⇤ y) . (2.61)
2mi ∂t
O resultado acima pode ser rescrito como:
~— · ~j + ∂ r = 0 (2.62)
∂t
onde
h i
r = y ⇤y e ~j = h̄ y ⇤~—y y~—y ⇤ (2.63)
2mi
A equação 2.62 é a equação de continuidade, que representa a conservação de uma determinada
quantidade, dependendo do problema em questão. Na teoria eletromagnética, por exemplo, r
representa a densidade de carga; enquanto ~j representa a densidade de corrente. Analogamente,
para o problema em questão, interpretamos r como sendo a densidade de probabilidade e ~j como
sendo a densidade de corrente de probabilidade.
Podemos agora retornar para o estudo de sistemas estacionários unidimensionais e escrever, de
forma simples, a probabilidade de encontrar a partícula em um intervalo x e x + dx:
onde r(x) = |y(x)|2 é densidade de probabilidade acima definida. Para obter o resultado acima,
utilizamos a equação 2.11: y(x,t) = y(x)e iEt/h̄ . Vale ainda notar que a probabilidade de encontrar
a partícula em um intervalo [a, b] é dada por:
Z b
Pab = |y(x)|2 dx, (2.65)
a
deve ser igual a unidade, garantindo, assim, a normalização da densidade de probabilidade. Desta
forma, temos que a função de onda está associada, através do seu módulo quadrado, com a
probabilidade de encontrar a partícula em uma determinada região do espaço.
onde
⇢
1, n = m
dnm = (2.68)
0, n =
6 m
é a delta de Kronecker. Vale mencionar que funções ortogonais podem ser utilizadas como base de
um espaço de funções. Em outras palavras, podemos escrever uma função de onda total Y(x) como
uma superposição de estados yn (x), ou seja:
Y(x) = Â Cn yn (x) (2.69)
n
O significado físico dos coeficientes Cn será discutido mais à frente no texto. Antes desta discussão,
vamos abordar algumas propriedades gerais da função de onda total Y(x).
2.4.1 Normalização
Assim como a condição de normalização da função de onda que descreve o estado yn (x) (equação
2.66), podemos escrever:
Z •
Y⇤ (x)Y(x)dx = 1. (2.70)
•
•
 Cn yn (x)  Cm ym (x) dx = 1,
⇤ ⇤
(2.71)
n m
= Â Cn dmn . (2.76)
n
Podemos escrever o valor esperado deste operador como sendo a média ponderada destes autovalo-
res:
hÂi = Â Pn an (2.80)
n
onde Pn = |Cn |2 (vide equação 2.74). Entretanto, esta probabilidade pode ser rescrita:
Pn = Â Cm⇤ Cn dmn
m
Z •
= Â Cm⇤ Cn ym⇤ (x)yn (x)dx
m •
Z •
= Â Cm⇤ ym⇤ (x) [Cn yn (x)] dx.
•
(2.81)
m
e, consequentemente:
Z •
hÂi = Y⇤ (x)ÂY(x)dx (2.83)
•
Portanto, a equação acima representa o valor esperado hÂi de um observável  no estado Y(x).
h̄2 d 2 d2
y(x) = Ey(x) ) y(x) + k2 y(x) = 0 (2.84)
2m dx2 dx2
onde
2mE
k2 = . (2.85)
h̄2
A equação diferencial acima tem como solução:
Entretanto, a função de onda se anula onde o potencial é infinito (x > a e x < 0); e, desta forma,
para garantir a continuidade da função de onda, o problema possui a seguinte condição de contorno:
y(0) = A + B = 0, (2.88)
ção: 12 12
Z a n=3
10 10
|yn (x)|2 dx = 1. (2.93)
En/ε
En/ε
0 8 8
Temos, portanto: 6 6
ψ1(a/2)1/2
Z a ⇣ x⌘ n=2
2 4 4
Ãn sin2 np dx = 1 (2.94)
ρ1a/2
0 a 2 n=1 2
e, consequentemente† : 0 0
0.0 0.5 1.0 0.0 0.5 1.0
r
2 x/a x/a
Ãn = . (2.96)
a
Figura 2.2: (a) Funções de onda e (b) densidades de pro-
Logo, a função de onda normalizada babilidade para o poço de potencial infinito - quantidades
será: superpostas nos correspondentes níveis de energia. Note
r que nestas figuras a função de onda yn (x) e a densidade de
2 ⇣ x⌘
yn (x) = sin np (2.97) probabilidade rn (x) foram multiplicadas por parâmetros de
a a
tal forma que estas quantidades não dependessem da largura
onde n = 1, 2, 3, · · · . Uma vez deter- a do poço. Ainda: e = h̄2 p 2 /2ma2 .
minada, podemos estudar os autova-
lores de energia. Para este propósito,
vamos recorrer às equações 2.85 e
2.91, de tal forma que encontramos:
✓ 2 2◆
h̄ p
En = n2 (2.98)
2ma2
Este espectro de energia é o mesmo daquele obtido utilizando a RQSC (veja o Apêndice 1.D).
A partir das funções de onda yn (x) acima apresentadas, bem como do espectro de energia En ,
podemos então compreender o sistema em mais detalhes. A Figura 2.2(a) apresenta o poço de
potencial infinito que estamos estudando com as funções de onda nos correspondentes níveis de
energia. Observe que:
! n ímpar (par) corresponde a uma função de onda par (ímpar) com relação ao centro do
potencial.
! O número de nós na função de onda, ou seja, o número de pontos onde a função de onda
se anula, está relacionado com a sua paridade. Mais precisamente, o número de nós é n 1,
onde n está relacionado com a paridade, conforme discutido acima.
Vale ainda analisar a densidade de probabilidade rn (x) = |yn (x)|2 , apresentada na Figura 2.2(b).
Observe que:
onde dnm é a delta de Kronecker. Levando a equação 2.97 na condição de ortogonalidade acima,
encontramos‡ :
Z a Z
2 a ⇣ x⌘ ⇣ x⌘
yn⇤ (x)ym (x)dx = sin np sin mp dx (2.101)
0 a 0 a a
Z
1 an h x i h x io
= cos p (n m) cos p (n + m) dx.
a 0 a a
A integral acima é de fácil solução:
Z a ⇢
1 sin[p(n m)] sin[p(n + m)]
yn⇤ (x)ym (x)dx = . (2.102)
0 p (n m) (n + m)
Uma vez que m e n são números inteiros, logo (n m) e (n + m) também serão e, assim, teremos:
sin[p(n m)] = sin[p(n + m)] = 0; e, com este resultado, verificamos a condição de ortogonalidade
para as funções de onda yn (x) do poço de potencial infinito unidimensional.
Sendo os estados yn (x) ortogonais, podemos escrever uma função de onda Y(x) como super-
posição destes estados, ou seja:
r
• •
2 ⇣ x⌘
Y(x) = Â Cn yn (x) = Â Cn sin np , (2.103)
n=1 n=1 a a
⌅ Exemplo 2.4
Considere uma partícula de massa m em um poço de potencial infinito com a seguinte função
de onda:
⇣ x⌘
Y(x) = A sin2 p . (2.104)
a
1. Faça uma descrição qualitativa desta função de onda.
2. Normalize esta função de onda.
‡ Na equação 2.101 utilizamos a seguinte relação trigonométrica:
3. Obtenha os coeficientes Cn .
4. Rescreva Y(x) na base yn (x).
5. Qual a probabilidade de encontrar o sistema no estado y1 (x)?
Solução:
1. A partir da função de onda proposta, conseguimos identificar um vetor de onda, dado por:
p 2p
k= = . (2.105)
a l
Logo, determinamos o comprimento de onda associado, dado por l = 2a. Uma vez que o
poço tem largura a, esta partícula, neste estado, possui meio comprimento de onda dentro
do poço. Assim, temos uma função de onda par com relação ao centro do poço, similar ao
estado y1 (x).
2. Para normalizar esta função de onda, recorremos a condição de normalização:
Z a Z a ⇣ x⌘
2 2
|Y(x)| dx = 1 ) |A| sin4 p dx = 1. (2.106)
0 0 a
Logo, temos:
16
Cn = p (n impar). (2.114)
3p n(n2 4)
4. A partir dos resultados acima, podemos escrever a função de onda total Y(x) na base dos
estados yn (x); e, para isso, utilizamos os coeficientes Cn acima determinados. A partir da
equação 2.103 podemos escrever:
•
p ⇣ x⌘
16 2/a
Y(x) = Â p sin np . (2.115)
n=1 3p n(4 n2 ) a
n impar
Esta função de onda total também está representada na Figura 2.3, porém, apenas conside-
rando n = 1, 3. Estes valores de n são suficientes para praticamente convergir para a função
de onda da equação 2.109.
5. A partir da função de onda total, expressa em termos dos estados yn (x), podemos agora
determinar a probabilidade de encontrar o sistema no estado y1 (x):
2
216 1
P1 = |C1 | = p 2
⇡ 0.96; (2.116)
3p 1(1 4)
ou seja, existe 96% de chance de encontrar a partícula no estado y1 (x). Este resultado é
relativamente previsível, uma vez que estimamos, no item (1) deste exemplo, que a função
de onda proposta (equação 2.104) possui meio comprimento de onda na cavidade, sendo, de
fato, análoga ao estado y1 (x). ⌅
Apêndices
h̄2 ∂ 2 ∂
y(x,t) = ih̄ y(x,t), (2.A.1)
2m ∂ x 2 ∂t
onde temos como solução uma onda plana:
wt)
y(x,t) = Aei(k0 x . (2.A.2)
Podemos observar que esta função de onda possui um vetor de onda k0 bem definido e, conse-
quentemente, um momento linear também bem definido p0 = h̄k0 . Entretanto, observe na figura
2.4: esta onda se propaga sem confinamento pelo espaço e, portanto, temos dificuldades em dizer
onde a partícula, associada com a onda, está. Concluímos, assim, antecipadamente, que há uma
relação qualitativamente inversa entre o que conhecemos a respeito do momento linear e posição da
partícula.
Outra observação importante diz respeito à fase da onda plana, que terá uma dependência tipo
w = w(k), uma vez que:
p2
E = h̄w = . (2.A.3)
2m
A partir da equação acima, temos:
h̄k2
w(k) = (2.A.4)
2m
Para termos uma localização espacial da onda, precisamos considerar uma superposição de
ondas com diferentes comprimentos de onda e amplitudes. Este procedimento irá criar interferências
construtivas e destrutivas, de tal forma a termos um pacote de onda localizado em certa região do
espaço. Esta superposição de ondas planas pode ser criada a partir de uma função de onda total:
• Z
1
Y(x,t) = p f (k)ei[kx w(k)t] dk (2.A.5)
2p •
p
onde o pré-fator 1/ 2p foi introduzido por conveniência (ficará evidente na próxima seção), o
termo exponencial representa as ondas planas e a integral representa um somatório em todos os
vetores de onda. Por fim |f (k)|2 representa a distribuição de números de onda.
Esta função de onda total cria um
pacote de onda localizado devido às
interferências construtivas e destruti-
vas das diversas ondas planas; entre-
tanto, qual função f (k) produzirá tal
efeito? Para começar a responder a
esta questão, vamos fazer t = 0.
onde podemos obter f (k), conhecendo Y(x), através de uma Transformada de Fourier¶ :
Z •
1 ikx
f (k) = p Y(x)e dx (2.A.7)
2p •
Vamos, portanto, considerar um pacote de onda dado por um termo oscilante, com um número
de onda k0 ; e, ainda, amortizado por um termos Gaussiano. Temos assim:
x2 /2a2
Y(x) = Aeik0 x e . (2.A.8)
Neste exemplo, fica mais fácil notar que existem dois termos: um descreve o comportamento
ondulatório da partícula (exponencial complexa), e outro que descreve o comportamento corpuscular
(envelope Gaussiano).
Precisamos normalizar a função de onda sugerida:
Z • Z •
2 2 x2 /a2
|Y(x)| dx = 1 ) |A| e dx = 1. (2.A.9)
• •
Assim, a função de onda normalizada que representa o pacote de onda será dada por:
1 x2 /2a2
Y(x) = eik0 x e (2.A.12)
(a2 p)1/4
e, consequentemente:
1 x2 /a2
|Y(x)|2 = e (2.A.13)
(a2 p)1/2
Observe este pacote de onda na Figura 2.5.
Com a ajuda da equação 2.A.7 podemos determinar a função f (k), que leva à função de onda
da equação 2.A.12:
Z •
1 1 x2 /2a2
f (k) = p eik0 x e e ikx
dx
2p • (a2 p)1/4
Z •
1 i(k k0 )x x2 /2a2
=p e e dx. (2.A.14)
2p(a2 p)1/4 •
Analogamente a integral da equação 2.A.9, a integral acima também tem solução analítica, sendo
dada por:
Z • r
ax2 +b x p b 2 /4a
e dx = e . (2.A.15)
• a
Utilizando a equação acima para solucionarmos a equação 2.A.14, encontramos:
p
a 2 2
f (k) = 1/4 e (k k0 ) a /2 (2.A.16)
p
e, consequentemente:
a (k k0 )2 a2
|f (k)|2 = e (2.A.17)
p 1/2
Observe, portanto, que para obtermos um pacote de onda, é preciso de uma distribuição de
ondas planas com um máximo em k0 . Facilmente notamos que neste problema a distribuição de
números de onda k (equação 2.A.17) é Gaussiana, assim como a distribuição espacial do pacote
de onda proposto (equação 2.A.13). Este fato é consequência da Transformada de Fourier da
Gaussiana, que se transforma em outra Gaussiana.
A partir deste ponto, vamos discutir a variância de |f (k)|2 e |Y(x)|2 .
Variância e Introdução ao Princípio de Incerteza de Heisenberg (1a parte)
A variância var(q) é uma medida da dispersão de uma determinada distribuição f (q). Em termos
mais precisos, é a média quadrática da distância dos valores da distribuição até o valor médio hqi,
ou seja:
A equação acima anula-se pelo mesmo motivo que a equação 2.A.20. Temos agora que calcular:
Z •
h(k k0 )2 i = (k k0 )2 |f (k)|2 dk
•
Z •
a (k k0 )2 a2
=p (k k 0 )2 e dk. (2.A.26)
p •
e, consequentemente:
1
var(k) = (2.A.28)
2a2
como a variância para |f (k)|2 .
A primeira conclusão a respeito destes estudos das variâncias refere-se com a dependência de
var(x) e var(k) com o parâmetro a. Considerando que a variância é uma medida da dispersão da
distribuição, concluímos que, enquanto |Y(x)|2 se alarga com o aumento de a; |f (k)|2 se estreita (e
vice-versa). Observe, portanto, a Figura 2.6.
Outra quantidade que merece
atenção é o produto:
|ψ(x)|2 |φ(k)|2
a2 1 1
a0 var(x)var(k) = = .
2 2a2 4
(2.A.29)
3a
h̄
0 DxDp = (2.A.31)
2
onde escrevemos o desvio padrão em
x k termos do momento linear, utilizando
a relação p = h̄k.
Figura 2.6: |Y(x)|2 (painéis à esquerda) e |f (k)|2 (painéis Observamos, portanto, que o pro-
à direita), para valores crescentes do parâmetro a = a0 , 2a0 duto dos desvios padrões (ou variân-
e 3a0 . Observe que a distribuição |Y(x)|2 se alarga para cias), é uma constante. Este valor
maiores valores de a; enquanto a distribuição |f (k)|2 se está relacionado com o Princípio de
estreita (e vice-versa). Incerteza de Heisenberg, que será in-
troduzido na próxima seção.
Para resolver esta integral vamos, novamente, considerar x = k k0 e, também, w(k) = h̄k2 /2m.
Neste sentido, o argumento da exponencial do integrando pode ser reescrito como:
ax 2 + b x + g, (2.A.33)
onde
✓ ◆
1 2 h̄
a= a +i t , b = i(x vgt) e g = ik0 (x v f t). (2.A.34)
2 m
onde a integral acima tem solução conhecida (veja equação 2.A.15), de tal forma que a função de
onda total será:
p
a eik0 (x v f t) (x vgt)2
Y(x,t) = 1/4 2 exp (2.A.37)
p (a + ih̄t/m)1/2 2(a2 + ih̄t/m)
Algumas conclusões importantes a partir destes resultados:
! O termo oscilatório, com número de onda bem definido k0 , propaga-se com velocidade de
fase v f .
! O envelope deste termo oscilatório, dado pelo termo Gaussiano e com comportamento
corpuscular, propaga-se com velocidade de grupo vg = 2v f .
Deixamos para que o leitor verifique que a função de onda total dependente do tempo (equação
2.A.37) recupera o resultado anterior (equação 2.A.12), para t = 0.
Variância e Introdução ao Princípio de Incerteza de Heisenberg (2a parte)
Nesta subseção, vamos calcular a dependência temporal das variâncias, ou seja, var(x,t) e var(k,t),
de forma a termos uma melhor compreensão a respeito da propagação do pacote de onda. Começa-
mos por escrever |Y(x,t)|2 , a partir da equação 2.A.37|| :
1 (x vg t)2 /a 2 (t)
|Y(x,t)|2 = e (2.A.39)
[a 2 (t)p]1/2
onde
⇣ t ⌘2
2 2 ma2
a (t) = a 1 + e t= . (2.A.40)
t h̄
Fácil notar que |Y(x,t)|2 possui a mesma estrutura que |Y(x, 0)|2 ; entretanto, o centro da distribui-
ção se propaga com velocidade vg .
Para obter a variância var(x,t) referente a |Y(x,t)|2 precisamos calcular:
Z •
h(x vgt)i = (x vgt)|Y(x,t)|2 dx = 0, (2.A.41)
•
|| Para
obtermos a equação 2.A.39, o argumento da segunda exponencial da equação 2.A.37 sofreu a seguinte
transformação:
Ora, a equação acima tem a mesma estrutura da equação 2.A.21; e, portanto, temos como resultado:
a 2 (t)
hx 2 i = . (2.A.45)
2
A partir das equações 2.A.41 e 2.A.45 podemos então escrever a variância para |Y(x)|2 , dada
por:
⇣ t ⌘2
a2
var(x,t) = 1+ (2.A.46)
2 t
Note, portanto, que a variância para |Y(x,t)|2 aumenta com o tempo, aumentando, assim, sua
dispersão.
O próximo passo será calcular a variância var(k,t) para a distribuição |f (k,t)|2 . Para obter
esta quantidade, vamos comparar duas equações, que rescrevemos abaixo. Equação 2.A.5, onde
f (k) = f (k, 0):
Z •
1 w(k)t]
Y(x,t) = p f (k, 0)ei[kx dk (2.A.47)
2p •
e, consequentemente:
1
var(k,t) = var(k, 0) = (2.A.51)
2a2
Assim, como no caso t = 0, podemos calcular o produto das variâncias:
⇣ t ⌘2
1
var(x,t)var(k,t) = 1+ , (2.A.52)
4 t
o que leva à:
⇣ t ⌘2 1/2
h̄
D(x,t)D(p,t) = 1+ (2.A.53)
2 t
onde observamos que:
h̄
D(x,t)D(p,t) (2.A.54)
2
Observe, portanto, que o menor valor possível para a quantidade DxDp é h̄/2, sendo este o
Princípio de Incerteza de Heisenberg. Se conhecermos, com maior precisão, a posição da partícula,
necessariamente estaremos perdendo informação a respeito do seu momento (e vice-versa). Este
conceito está intimamente relacionado com o comutador [x̂, p̂] = ih̄, discutido previamente na seção
2.2.4.
foi resolvido no exercício 2.4 e, assim, a equação 2.B.60 pode ser rescrita como:
dhx̂i h p̂i
= (2.B.62)
dt m
De forma análoga, podemos considerar o operador momento linear p̂ na equação 2.B.59.
Considerando que o comutador
h i
Hˆ , p̂ = ih̄V 0 (x̂) (2.B.63)
também foi resolvido no exercício 2.4, a equação 2.B.59 será:
dh p̂i
= hV 0 (x̂)i (2.B.64)
dt
Acima, temos V 0 (x) = ∂V (x)/∂ x. As equações 2.B.62 e 2.B.64 representam o Teorema de Ehrenfest
e possuem um significado físico interessante: os valores esperados dos observáveis em mecânica
quântica obedecem a Segunda Lei de Newton.
Após demonstração de Teorema de Ehrenfest, vamos estudar outro importante teorema. Para
este propósito, recorremos, novamente, à equação 2.B.59; porém, utilizaremos o operador p̂x̂. Não
há dependência explícita deste operador com o tempo e, portanto, o primeiro termo da equação
2.B.59 é nulo. Temos assim:
dh p̂x̂i i Dh ˆ iE
= H , p̂x̂ . (2.B.65)
dt h̄
O comutador:
h i 2
ˆ p̂
H , p̂x̂ = ih̄ + x̂V 0 (x̂) (2.B.66)
m
também foi resolvido no exercício 2.4, de tal forma que a equação 2.B.65 será:
dh p̂x̂i
= 2hT̂ i hx̂V 0 (x̂)i. (2.B.67)
dt
Entretanto, o lado esquerdo da equação acima é nulo, uma vez que o valor esperado h p̂x̂i não possui
dependência temporal. Podemos verificar este fato e suas consequências:
Z
∂
h p̂x̂i = ih̄ Y⇤ (x,t)
[xY(x,t)] dx. (2.B.68)
∂x
Porém, da equação 2.11, sabemos que:
iEt/h̄
Y(x,t) = Y(x)e ) Y⇤ (x,t) = Y⇤ (x)eiEt/h̄ (2.B.69)
e, consequentemente:
Z
∂
h p̂x̂i = ih̄ Y⇤ (x) [xY(x)] dx. (2.B.70)
∂x
Portanto, o valor esperado h p̂x̂i é independente do tempo. Como consequência, temos dh p̂x̂i/dt = 0
e, assim:
2hT̂ i = hx̂V 0 (x̂)i (2.B.71)
sendo este o Teorema do Virial - muito útil para obter, por exemplo, a energia cinética média hT̂ i
de sistemas, conhecendo-se, a priori, apenas o potencial no qual a partícula está submetida.
O termo ‘Virial’ foi cunhado por Rudolf Clausius** , em 1870:
“We will therefore give to the mean value which this magnitude has during the stationary
motion of the system the name of Virial of the system, from the Latin word vis (force).”
** Clausius, R. On a mechanical theorem applicable to heat, The London, Edinburgh, and Dublin Philosophical
Magazine and Journal of Science, 40 (1870) 122