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1a Lista FIS661 - Mecânica Quântica Avançada

Jader Moreira

4 de outubro de 2023

Resumo
Resolução de problemas apresentada como uma das avaliações da disciplina FIS661 - Mecânica
Quântica Avançada. Esta lista apresenta problemas relacionados a Transformações de Lorentz,
Notação Covariante, Equação de Klein-Gordon-Schrödinger, Densidade Lagrangiana e Equações
de Maxwell em baixas dimensões.

1 Transformações de Lorentz na forma tensorial


Quando consideramos um sistema de coordenadas conectado inercialmente a outro, ou seja, move-
se com velocidade constante em relação ao primeiro, as Transformações de Galileu são as mais
naturais a se considerar quando estamos num limite de baixas velocidades (figura 1. Sem perda de
generalidade, consideraremos apenas a velocidade do referencial S ′ estando paralela a x̂, ou, em
linguagem comum da área, um boost de Lorentz na direção x̂).

Figura 1: Esquema para a transformação de coordenadas entre sistemas conectados inercialmente.

As transformações de Galileu para as coordenadas dos sistemas S(t; x, y, z) e S ′ (t′ ; x′ , y ′ , z ′ ) serão:

1
 


 x′ = x − v.t 

 x = x′ + v.t′

 

y ′ = y
 y = y ′

S′ → S→
z ′ = z
 z = z ′


 

 
t ′ = t
 t = t ′

Como consideramos velocidades muito baixas, a velocidade da luz é extremamente maior e conse-
quentemente t ≈ t′ para os dois referenciais.

Quando nos aproximamos dos limites relativı́sticos, o postulado de Einstein que nos diz que “a
velocidade da luz deve ser um absoluto se medida em relação a qualquer referencial inercial” deve
ser levado em consideração e, para que isto aconteça, agora t não poderá ser mais igual a t′ . Desta
forma, tentaremos “consertar” estas transformações incluindo-se um fator multiplicativo γ entre
elas. Assim:

x′ = γ(x − v.t) e x = γ(x′ + v.t′ ).

1 − γ2
 
Substituindo uma relação na outra chegamos em t′ = γt + x. Consideremos agora que
γv
um pulso de luz (v = c) é disparado em t = 0 para algum dos referenciais. Como a velocidade da luz
deve ser um absoluto, teremos x = c.t e x′ = c.t′ . Substituindo-se as relações encontradas, ficamos
com:

" #
1 − γ2 γ + vc γ
   
′ ′
x = ct ⇒ γ(x − v.t) = c γ.t + x ⇒ x = ct 2
γv γ − (1−γ ) c γv

Como o termo entre colchetes deve ser igual a 1 (pelas considerações à respeito da invariabilidade
da velocidade da luz), encontramos o fator multiplicativo γ,

1
γ=q ,
v2
1− c2

o chamado fator de Lorentz. Dessa forma, nossas Transformações de Lorentz serão dadas por:




 x′ = γ(x − v.t)


y ′ = y

S ′ (t′ ; x′ , y ′ , t′ ) →


 z′ = z


t′ = γ t − v.x 

c2

2
Criemos agora um objeto matemático quadridimensional que será dado por xµ = (ct, x, y, z) com µ
variando de 0 a 3. Ao estudarmos as transformações de Lorentz sobre este objeto, vemos que elas
podem ser escritas na forma matricial como x′µ = aµν xν , onde se usa a convenção de Einstein em
que em subı́ndices iguais performa-se uma soma. Ou:

    
ct′ γ − γv
c 0 0 ct
 ′   γv  
 x  − c γ 0 0
 x .
 
 = (1)
 y′   0 0 1 0 
y
 
  
z′ 0 0 0 1 z

A matriz aµν é a chamada matriz de Lorentz e qualquer objeto quadridimensional que se transforme
da mesma maneira que o objeto xµ criado é considerado um vetor ou tensor de rank-1 sob as
Transformações de Lorentz.

Generalizando-se esta ideia, qualquer objeto que se transforme como

C ′µν...γ = aµα aνδ ...aγζ C αδ...ζ

será considerado um tensor de rank-k sob as Transformações de Lorentz, em que k é o número que
ı́ndices do objeto ou o número de matrizes de Lorentz a utilizadas na transformação.

A Mecânica Quântica Relativı́stica se preocupa em trabalhar com objetos relativı́sticos, ou seja, que
se transformam de acordo com as Transformações de Lorentz. Desta forma, quase sempre é con-
veniente escrevermos as equações na notação adotada acima, a notação manifestamente covariante
de Lorentz. Nesta notação torna-se óbvio o caráter tensorial dos objetos (sob transf. de Lorentz).
Alguns exemplos de equações são:

Klein-Gordon-Schrödinger ∂ µ ∂µ + m2 ψ = 0


Dirac (iγ µ ∂µ − m) Ψ = 0

Proca ∂µ (∂ µ Aν − ∂ ν Aµ ) + m2 Aν = 0

A rigor, as duas últimas equações não são equações tensoriais, pois os objetos com as quais trabalham
são um pouco mais complicados, os chamados spinores. De qualquer forma, a notação covariante
ainda desempenha papel importante quando tratamos destes objetos.

2 Termo de massa na Densidade Lagrangiana


1 µ
Seja a densidade lagrangiana apresentada, L = (∂ ϕ)(∂µ ϕ) + exp[−(aϕ)2 ]. Ao expandirmos o
2
termo da exponencial em série de potências, é óbvio vermos que sim, esta lagrangiana apresenta

3
termo de massa sendo que o segundo termo da expansão será −(aϕ2 ). É claramente notório por-
que, ao tratarmos de uma teoria de partı́cula única, termos que apresentam o próprio campo ao
quadrado são na grande maioria das vezes associados a termos de auto-energia, que são frequente-
mente associados à massa. Notemos que os termos de ordens mais altas não tornam em aspecto
nenhum esta interpretação errada ou duvidosa, sendo que estes são associados à interações com
outros campos

3 Equação de Klein-Gordon-Schrödinger
.

3.1 Equação de Klein-Gordon-Schrödinger na presença de potencial estático


A equação de Klein-Gordon-Schrödinger pode ser obtida a partir da quantização da relação de
Einstein entre momento e energia: pµ pµ + m2 c2 = 0.

Seja pµ = (p0 , p1 , p2 , p3 ) e pµ = (p0 , −p1 , −p2 , −p3 ), os quadrivetores momento contravariante e cova-
riante, respectivamente, e p0 = E/c. Expandindo-se a relação de Einstein teremos
2 2 2 2 2 2 E2 2 2 2
p0 − p1 − p2 − p3 + m c = 2 − |⃗ p| + m c = 0.
c
Para quantizarmos a relação, teremos de promover as variáveis dinâmicas a operadores da seguinte
forma:

ˆ E → iℏ
∂t
ˆ p⃗ → −iℏ∇⃗

Substituindo-se na relação de Einstein expandida e aplicando-se o operador resultante a uma função


de onda, ficamos com:

ℏ2 ∂ 2
 
2⃗ 2
− + ℏ ∇ Ψ + m2 c2 Ψ = 0,
c2 ∂t2

que é justamente a equação de Klein-Gordon-Schrödinger para partı́culas livres (V (⃗r) = 0).

Quando adicionamos um potencial estático do tipo mencionado pelo problema, sabemos que a ener-
gia se alterará como E → E − eV (r), logo o operador de energia deverá ser transformado como
∂ ∂
iℏ → iℏ − eV .
∂t ∂t
Assim, substituindo-se na equação anterior, multiplicando-se a equação por c2 e reorganizando-se os

4
termos obtemos
 2
∂ ⃗ 2 Ψ(⃗r, t) + m2 c4 Ψ(⃗r, t) ,
iℏ − eV (r) Ψ(⃗r, t) = −c2 ℏ2 ∇
∂t

como se desejava demonstrar.

3.2 Equação de Klein-Gordon-Schrödinger independente do tempo


Supondo a solução da equação dependente do tempo separável nas variáveis ⃗r e t como proposto,
teremos:

  
∂ ∂ ⃗ 2 φ(r) + m2 c4 φ(r)e−iEt/ℏ =
iℏ − eV iℏ − eV φ(r)e−iEt/ℏ = −c2 ℏ2 e−iEt/ℏ ∇
∂t ∂t
   
−iE −iE −iEt/ℏ
iℏφE e−iEt/ℏ − iℏeV φ e − φeV Ee−iEt/ℏ + e2 V 2 ϕ =
ℏ ℏ
⃗ 2 φ+m2 c4 φe−iEt/ℏ ⇒
−c2 ℏ2 e−iEt/ℏ ∇
⃗ 2 φ+m2 c4 φ ⇒ (E − eV )2 φ = −c2 ℏ2 ∇
E 2 φ − eV Eφ − eV φE + e2 V 2 φ = −c2 ℏ2 ∇ ⃗ 2 φ + m2 c4 φ

4 Equação de Klein-Gordon-Schrödinger para o átomo de


Hidrogênio
4.1 Auto-energias e auto-estados
e
Considerando-se o potencial coulombiano para o átomo de hidrogênio, V (r) = − , teremos (já
4πϵ0 r
resolvendo a parte temporal para os autovalores de energia):

2
e2

E+ ⃗ 2 Ψ(⃗r) + m2 c4 Ψ(⃗r)
Ψ(⃗r) = −c2 ℏ2 ∇
4πϵ0 r

Como se trata de um problema com simetria esférica, escrevamos o laplaciano em coordenadas


esféricas:

∂2Ψ
   
⃗ 2Ψ = 1 ∂
∇ r 2 ∂Ψ
+ 2
1 ∂
sin θ
∂Ψ
+
1
.
r2 ∂r ∂r r sin θ ∂θ ∂θ r2 sin2 θ ∂φ2

Substituindo-se na equação anterior, ficamos com:

5
2
∂2Ψ e2
      
1 ∂ ∂Ψ 1 ∂ ∂Ψ 1
−c2 ℏ2 r2 + sin θ + 2 ∂φ2 + m2 c4 Ψ = E+ Ψ.
r2 ∂r ∂r 2
r sin θ ∂θ ∂θ 2
r sin θ 4πϵ0 r

e2
Multiplicando-se toda a equação por −r2 /c2 ℏ2 , reorganizando-se alguns termos e fazendo α = 4πϵ0 ℏc
(constante de estrtutura fina), ficaremos com:

2
m2 c2 1 ∂2Ψ
    
∂ ∂Ψ E α 1 ∂ ∂Ψ
r2 − r2 2 Ψ + r2 + Ψ=− sin θ − .
∂r ∂r ℏ ℏc r sin θ ∂θ ∂θ sin2 θ ∂φ2

Desta forma, vemos que a dependência radial e angular da equação são separáveis e podemos supor
uma solução do tipo Ψ(r, θ, φ) = R(r)Y (θ, φ). Aplicando-se esta forma de solução na equação,
separando-se as variáveis e supondo, convenientemente, uma constante de separação como l(l + 1),
ficaremos com:

2
m2 c2 1 1 d2 Y
    
1 d 2 dR E α 1 1 d dY
r − r2 2 +r 2
+ =− sin θ − = l(l + 1).
R dr dr ℏ ℏc r Y sin θ dθ dθ Y sin2 θ dφ2

Para a parte angular, vemos que a equação se torna exatamente a equação para os Harmônicos
Esféricos, ou:

dY m 1 d2 Ylm
 
1 d
sin θ l + + l(l + 1)Ylm = 0,
sin θ dθ dθ sin2 θ dφ2
cujas soluções, obviamente, são os próprios harmônicos esféricos, dados por:
s 
(−1)m , m ≥ 0
(2l + 1) (1 − |m|)! m
Ylm (θ, φ) = ε Pl (cos θ)eimφ ε=
4π (1 + |m|)! 1, m<0

sendo Plm os Polinômios Associados de Legendre definidos por (−l ≤ m ≤ l):

dm (l − m)! m l
Plm (x) = (−1)m (1 − x2 )m/2 Pl (x) Pl−m (x) = (−1)m Pl (x) Pl (x) = 1 d (x2 − 1)l
dxm (l + m)! 2l l! dxl
Já para a parte radial, R(r):

" 2 #
m2 c2
 
1 d 2 dR E α l(l + 1)
r + + − 2 − R = 0,
r2 dr dr ℏc r ℏ r2

expandindo o quadrado, agrupando termos de de mesma dependência em ri (i ∈ N), e considerando

6
a mudança de variáveis u = Rr, teremos:

u dR 1 du u 1 d2 u
 
1 d 2 dR
R= = − 2 r = ,
r dr r dr r r2 dr dr r dr2
que resulta em:

l(l + 1) − α2 2Eα m2 c4 − E 2
 
d
2
− 2
+ − u = 0.
dr r ℏcr ℏ2 c2

(m2 c4 − E 2 )1/2
Agora façamos β = 2 e após alguma álgebra, chegamos em
ℏc
(l + 1/2)2 − α2 − 1/4 2Eα
 
d 2
− + − β u = 0, que com mais uma mudança de variáveis
dr2 p r2 ℏcr
µ = (l + 1/2)2 − α2 , reorganizando-se os termos e dividindo toda a equação por β 2 ficamos
com:

1 d2 µ2 − 1/4 2Eα 1
 
1
2 2
− 2 2
+ − u = 0.
β dr r β ℏcβ βr 4

Finalmente, com as últimas mudanças de variáveis


2αE
ρ = βr λ= w(ρ) = w(βr) = u(r),
ℏcβ
obtemos a forma final da equação radial que pretendemos resolver:

d2 µ2 − 1/4 λ 1
 
− + − w(ρ) = 0 .
dρ2 ρ2 ρ 4

Na tentativa de encontrarmos uma solução para a equação, olharemos para os seus comportamentos
assintóticos.

ˆ ρ→∞
d2 w 1 ρ ρ
A equação se torna 2
= w, cuja a solução geral é w(ρ) = Ae− 2 + Be 2 . Como a ex-
dρ 4
ponencial positiva não é normalizável, B = 0. Assim, a forma da solução para ρ grande será
ρ
w(ρ → ∞) ∼ e− 2 .

ˆ ρ→0
d2 w µ2 − 14 1 1
A equação se torna = w. A solução geral para esta equação é w = Aρ 2 +µ + Bρ 2 −µ e,
dρ2 ρ2
pelo segundo termo não ser normalizável para a faixa de valores considerada, a forma da solução
1
para ρ pequeno será w(ρ → 0) ∼ e 2 +µ .

7
1 ρ
Unindo-se as duas análises, podemos intuir um bom ansatz como sendo w(ρ) = ρ 2 +µ e− 2 v(ρ) .

Substituindo-se o ansatz na equação obtida e reorganizando-se termos ficaremos com

1 dv dv d2 v λ
   
1 1 1
+µ v−2 +µ + − − v = 0,
2 ρ 2 ρ dρ dρ dρ2 ρ

que, com mais uma mudança de variáveis, b = µ + 1/2 − λ e d = 2µ + 1 nos deixa com equação
final:
d2 v
 
d dv b
+ −1 − v=0
dρ2 ρ dρ ρ
.

X
Nesta forma, esta equação poderá ser resolvida por série de potências. Seja v(ρ) = cj ρ j . A
j=0
equação se tornará:


X ∞
X ∞
X ∞
X
j(j − 1)cj ρj−2 + d jcj ρj−2 − jcj ρj−1 − b cj ρj−1 = 0.
j=0 j=0 j=0 j=0

Note que os primeiros termos para os três primeiros somatórios são nulos pelos fatores multiplicativos
dependentes de j. Podemos utilizar isso para deixarmos todos os termos dos somatórios em uma
mesma potência de ρ e tornar esta equação em uma entre os coeficientes cj :


X ∞
X ∞
X ∞
X
j(j + 1)cj+1 ρj−1 + d (j + 1)cj+1 ρj−1 − jcj ρj−1 − b cj ρj−1 =
j=0 j=0 j=0 j=0

X
= {j(j + 1)cj+1 + d(j + 1)cj+1 − jcj − bcj }ρj−1 = 0
j=0

(j + b)cj
⇒ [j(j + 1) + d(j + 1)]cj+1 − (j + b)cj = 0 ⇒ cj+1 = .
j(j + 1) + d(j + 1)

Se observarmos o limite dessa relação para grandes valores de j, veremos que


cj c0
cj+1 ≈ ⇒ cj ≈ . Ou seja, se nossa série tiver infinitos termos, ela representará uma função
j j!
∞ ∞
X
j
X 1 j
exponencial: v(ρ) = cj ρ = c0 ρ = c0 eρ . Ou seja, uma função não normalizável. Para
j=0 j=0
j!
contornar este problema, forçaremos a série a terminar em um determinado valor máximo, jmax de
forma que cjmax +1 = 0. Assim, finalmente obtemos a quantização já que b + jmax = 0, e que jmax é
algum inteiro positivo, k. Assim:

8
1
b+k =µ+ − λ + k = 0.
2

Retornando-se as expressões para µ, e λ e com um pouco de álgebra chegamos à expressão para as


energias do átomo de hidrogênio:
!− 21
2 α2
E = mc 1+ p .
(k + 1/2 + (l + 1/2)2 − α2 )

se considerarmos n = k + l + 1, como número quântico principal (l e k devem ter valor mı́nimo de


zero), ficamos com a expressão final para as energias do átomo de hidrogênio:

 − 12
α2
E = mc2 1 + q 
1
(n − l + 2 + (l + 21 )2 − α2 )

e a expressão para a parte radial das autofunções da energia como:

1 1
√ 2 2 βr
R(r) = A (βr) 2 + (l+1/2) −α e− 2 vnl (βr)
r

sendo vnl (βr) um polinômio obtido a partir da relação de recorrência para os cj obtida anteriormente
truncada em k = n − l − 1.

4.2 Largura das linhas espectrais


Sabemos que as linhas espectrais observadas para os átomos em geral correspondem às transições
entre nı́veis energéticos do próprio átomo. Se os nı́veis energéticos dependessem somente de n, o
número quântico principal, terı́amos “linhas”, de fato. Mas temos outras dependências como efeitos
de temperatura, efeito Zeeman e acoplamento spin-órbita que fazem com que essa “linha” seja uma
região de largura finita. Como vimos no último item, a energia do átomo de hidrogênio resolvendo-se
a equação de Klein-Gordon-Schrödinger tem dependência em l, o que não é obtido pela equação de
Schrödinger (não relativı́stica). Assim, obteremos a estimativa da largura da linha como a diferença
de energia de duas transições: a primeira, de mais baixa energia, (n, l) = (1, 0) → (2, 0) e a segunda,
(n, l) = (1, 0) → (2, 1). Subtraindo-se uma energia de transição da outra, teremos uma referência
para a largura destas linhas. Para isso, escreveremos a expressão obtida anteriormente de uma forma
mais conveniente. Como α2 é um s número pequeno, faremos uma expansão em Taylor em torno de
2
   2
α 1 1
, em que δ l = l + − l + − α2 . Como δl também é pequeno (com somente uma
(n − δl )2 2 2

9
α2
correção em α), podemos também expandir este termo até primeira ordem como δl = + ...
2l + 1
Fazendo-se essas duas expansões e reorganizando-se termos, ficamos com:

α2 α4
   
2 n 3
Enl = mc 1 − 2 − 4 − + ... .
2n n 2l + 1 8

O primeiro termo é a própria energia de repouso do elétron. O segundo é a energia não relativı́stica
e o terceiro termo vem com a primeira correção relativı́stica. Para estimarmos a largura das linhas,
basta que analisemos a diferença entre os termos de correção relativı́stica, E2p − E2s , que será apro-
ximadamente 1, 208 × 10−4 eV , que superestima em ∼ 170% o valor experimental de 4, 53 × 10−5 eV .
Ou seja, os cálculos para a estrutura fina calculados pela equação de Klein-Gordon-Schrödinger nos
trazem um erro de 2, 7× o valor observado.

5 Questão 5
5.1 Falha da Equação de Klein-Gordon-Schrödinger para o Hidrogênio
Como vimos na questão anterior, a equação de Klein-Gordon-Schrödinger nos dá um valor de largura
das linhas espectrais de 2, 7 vezes o valor observado experimentalmente. Este é o principal resultado
que fez Schrödinger deixar esta equação de lado quando foi publicar os resultados de seus trabalhos.
O motivo desta enorme discrepância entre resultados teóricos e experimentais é que a equação de
Klein-Gordon-Schrödinger representa partı́culas sem spin, ou seja, spin nulo. Como no átomo de
hidrogênio estamos a estudar os nı́veis de energia (ligados) de um elétron, que possui spin 1/2, em
um campo coulombiano estático, obviamente esta equação não deveria mostrar resultados acurados
quando chegamos a um nı́vel de precisão de correções relativı́sticas (que obrigatoriamente devem
levar em consideração os efeitos de spin).

5.2 Invariância de calibre das equações de Maxwell


As transformações de calibre são aquelas feitas sobre os potenciais que mantêm inalterado o campo
eletromagnético. Neste contexto, é importante pensarmos no campo eletromagnético não mais como
⃗ e B,
vetores distintos E ⃗ mas como componentes de um tensor de rank-2 antissimétrico de 16 com-
ponentes (6 componentes independentes), o tensor eletromagnético F µν :

 
0 −Ex /c −Ey /c −Ez /c
 
Ex /c 0 −Bz By 
F µν =  . (2)
E /c
 y Bz 0 −Bx 
Ez /c −By Bx 0

10
⃗ e sabendo-se que E
Definindo-se o quadripotencial como Aµ = (Φ/c, A) ⃗ = −∇Φ
⃗ e B
⃗ = ∇
⃗ × A,

podemos escrever o tensor eletromagnético como: F µν = ∂ µ Aν − ∂ ν Aµ .

As equações de Maxwell podem, agora, ser escritas em termos do tensor eletromagnético em sua
forma covariante. Definindo-se a quadricorrente como J µ = (cρ, ⃗j), teremos:
4π ν
Não homogêneas ∂µ F µν = J
c
Homogêneas ∂ α F µν + ∂ µ F να + ∂ ν F αµ = 0

As Transformações de Calibre agora podem ser escritas em notação covariante e serão dadas por:
A′µ → Aµ + ∂ µ Λ, em que Λ é uma função (diferenciável) arbitrária. A escolha dessa função
dará o calibre escolhido e pode trazer facilitações para quaisquer cálculos a serem feitos sobre as
equações.

Substituindo-se F µν pela forma dependente do quadripotencial teremos:

4π ν
→ ∂µ (∂ µ Aν − ∂ ν Aµ ) = J
c
→ ∂ α (∂ µ Aν − ∂ ν Aµ ) + ∂ µ (∂ ν Aα − ∂ α Aν ) + ∂ ν (∂ α Aµ − ∂ µ Aα ) = 0

e aplicando-se a transformação de calibre, para as equações não homogêneas, teremos:

4π ν
∂µ {∂ µ Aν − ∂ ν Aµ + [∂ µ ∂ ν Λ − ∂ ν ∂ µ Λ]} = J
c

Como Λ é uma função (bem comportada), as derivadas em ν e µ aplicadas a esta função comutam
e o termo entre os colchetes se cancela, fazendo com que a(s) equação(ões) retornem para a foma
inicial.

Já para as equações homogêneas a mesma ideia é aplicada e os termos se cancelam para cada um
dos três parênteses que encerram as derivadas do quadrivetor Aµ . Ou seja, as Equações de Lorentz
são claramente invariantes sob as chamadas transformações de calibre.

5.3 Quebra da simetria de calibre pelo termo de massa


Com a adição do termo de massa a densidade Lagrangiana para para o campo eletromagnético se
torna
1 1 M2 µ
L=− Fµν F µν − Jµ Aµ + A Aµ ,
16π c 8π

11
mγ c
onde M = , em que mγ seria a massa do fóton. Considere a Equação de Euler-Lagrange para

o sistema em questão (onde as componentes de Aµ serão nossas coordenadas generalizadas):

 
∂ ∂L ∂L
− =0
∂µ ∂(∂µ Aν ) ∂Aν

Calculemos por partes estes termos:


∂L
ˆ
∂(∂µ Aν )
Somente o primeiro termo será não-nulo. Assim (mudaremos os ı́ndices para generalização):
∂(Fαβ F αβ ) ∂F αβ
         
∂Fαβ αβ ∂Fαβ αβ γα δβ ∂Fγδ
= F + Fαβ = F + η η F αβ =
∂(∂σ Aρ ) ∂(∂σ Aρ ) ∂(∂σ Aρ ) ∂(∂σ Aρ ) ∂(∂σ Aρ )
    
∂Fαβ αβ ∂Fγδ γδ
F + F . Como os ı́ndices α e β no primeiro termo são mudos e γ e
∂(∂σ Aρ ) ∂(∂σ Aρ )
δ no segundo também, estes termos são categoricamente iguais e podemos escrever:

∂(Fαβ F αβ )
 
∂Fαβ
=2 F αβ
∂(∂σ Aρ ) ∂(∂σ Aρ )

   
∂Fαβ αβ ∂(∂α Aβ ) ∂(∂β Aα )
Como Fαβ = (∂α Aβ − ∂β Aα ), temos que 2 ρ)
F = 2 ρ)
− ρ)
F αβ =
∂(∂σ A ∂(∂ σ A ∂(∂ σ A
∂α Aγ ∂β Aδ
 
F αβ = 2 ηγβ δασ δργ − ηδα δβσ δρδ F αβ = 2 ηγβ δργ F σβ − ηδα δρδ F αρ =
 
2 ηγβ − ηδα
∂σ Aρ ∂σ Aρ
2 ηρβ F σβ − ηρα F αρ = 2 Fρσ − Fσρ = 4Fρσ = 4ηζρ F σζ . Voltando para os ı́ndices originais:


   
∂L 1
∂µ =− ηζν ∂µ (F µζ )
∂(∂µ Aν ) 4π

∂L
ˆ
∂Aν
∂(Jµ Aµ ) ∂Aµ
 
→ = Jµ = Jµ = ηζν J ζ ;
∂Aν ∂Aν
∂(Aµ Aµ )
→ = 2ηζν Aζ .
∂Aν
Retornando para a equação:
∂L 1 M2
ν
= − ηζν J ζ + ηζν Aζ
∂A c 4π

M2 ζ
   
1 1
Unificando-se todos os resultados teremos ηζν − ∂µ (F µζ ) + J ζ − A = 0. Aplicando-
4π c 4π
se a inversa de ηζν dos dois lados da equação, multiplicando-se por −4π e trocando-se o ı́ndice ζ → ν,

12
obtemos finalmente:

4π ν
∂µ F µν + M 2 Aν = J
c
.

Esta equação representa, incluindo-se o termo de massa para o fóton, as equações de Maxwell na
presença de fontes. Aplicando-se uma transformação de calibre a ela, é direto observarmos que estas
equações não se mantêm invariantes, ou seja, a simetria de calibre é quebrada pela presença do
termo de massa, sendo que o termo M 2 (∂ ν Λ) não será cancelado.

6 Equações de Maxwell em (2 + 1)D


Para encontrarmos as Equações de Maxwell em (2+1)D tomaremos como base o Tensor Eletro-
magnético em (3+1)D e retiraremos linha e coluna correspondentes à terceira coordenada espacial.
Assim, nosso tensor ficará:

 
0 −Ex /c −Ey /c
F µν = Ex /c 0 −B  , (3)
 

Ey /c B 0

com µ = 0, 1, 2 somente. Expandiremos as equações homogêneas primeiramente (mudaremos o


sistema de para um mais convenientemente explı́cito):

ˆ ∂µ F µν = µ0 J ν

→ ν=0
∂ 10 ∂ 20
F + F = µ0 cσ (fazendo-se o paralelo com o caso 3D). Assim:
∂x ∂y
 
1 ∂Ex ∂Ey σ
+ = µ0 cσ ⇒ ∇ · E =
c ∂x ∂y ε0

Ou seja, a Lei de Gauss continua da mesma forma que a em (3 + 1) dimensões, somente


trocamos uma densidade volumétrica de carga por uma superficial por motivos óbvios.

→ ν=1
1 ∂ 01 ∂ 11 ∂ 21 1 ∂Ex ∂B
F + F + F = µ0 Jx ⇒ − 2 + = µ0 Jx
c ∂t ∂x ∂y c ∂t ∂y
→ ν=2

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1 ∂ 02 ∂ 12 ∂ 22 1 ∂Ey ∂B
F + F + F = µ0 Jy ⇒ − 2 − = µ0 Jy
c ∂t ∂x ∂y c ∂t ∂x
Definindo-se o operador ∇⊥ = (∂y , −∂x ), teremos:


1 ∂E
∇⊥ B = µ0 J⃗ + 2
c ∂t

Usando-se a antissimetria do tensor F µν , facilmente pode-se encontrar

⃗ = ∂B .
∇⊥ · E
∂t

Nenhuma equação do tipo ∇ · B = 0 é encontrada. Isto nos sugere uma grande alteração na
natureza de B. Analisando-se as equações obtidas vemos que, pela Lei de Gauss modificada, o
campo elétrico se comporta como um vetor em 2D quando aplicada uma transformação de reflexão
(x, y) → (−x, −y).
⃗ comporta-se como um vetor verdadeiro e o
Pela última equação encontrada, como o campo E
operador ∇⊥ comporta-se como um pseudovetor, vemos que o campo magnético se comporta como
um pseudoescalar.

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