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Capı́tulo 2

Conceitos Fundamentais

2.1 O Fluido como Contı́nuo


Os fluidos, de uma maneira geral, são classificados como newtonianos e não-newtonianos.
Um fluido é newtoniano quando a tensão cisalhante aplicada é diretamente proporcional à taxa
de deformação sofrida por um elemento de fluido. Caso contrário, é considerado não-newtoniano.
Exemplo: a água, o óleo e o ar são fluidos newtonianos.
Todos os fluidos newtonianos obedecem à lei de Newton de viscosidade, que diz que a tensão
de cisalhamento é proporcional ao gradiente de velocidade, ou seja, a variação de velocidade em
função do deslocamento:

dv dv
τα ou τ = −µ
dy dy
O gradiente de uma grandeza fornece a sua taxa de variação máxima em relação à distância.
Assim, considerando um campo de temperatura descrito por T = T (x, y, z) , o gradiente é dado
por:


− ∂T →
− ∂T →
− ∂T →

∇T = i + j + k
∂x ∂y ∂z
No caso da velocidade, temos:


− ∂v →
− ∂v →
− ∂v →

∇v = i + j + k
∂x ∂y ∂z
As grandezas envolvidas num sistema podem ser classificadas como:

• Grandezas extensivas: são aquelas que dependem do volume ou da massa do sistema e são
consideradas propriedades do sistema com um todo.
Exemplo: massa, energia, quantidade de movimento.

• Grandezas intensivas: são aquelas definidas em um ponto e que não dependem do volume ou
da massa do sistema.
Exemplo: velocidade, aceleração, temperatura.

Em muitos casos, as grandezas intensivas possuem valores diferentes em pontos distintos do


sistema, criando um campo.
Campo é uma distribuição contı́nua de uma grandeza intensiva, descrita por funções de coorde-
nadas espaciais e do tempo. Se a grandeza é escalar, cria-se um campo escalar; se é vetorial, cria-se
um campo vetorial.

11
2.2 Campo de Velocidades
Podemos descrever o movimento de um fluido de duas formas diferentes:

• Regime permanente: quando a velocidade e suas componenetes não são funções do tempo.
Assim, temos:



v =→

v [x, y, z, t]



vx = →

vx (x, y, z)



vy = →

vy (x, y, z)



vz = →

vz (x, y, z)

d→
−v
Como →

a = , podemos escrever:
dt


− ∂→

v dx ∂ →−
v dy ∂ →−
v dz
a = + +
∂x dt ∂y dt ∂z dt
mas

dx → dy → dz →
=−
vx , =−
vy , =−
vz
dt dt dt
então temos:


− ∂→

v→− ∂→

v→− ∂→

v→−
a = vx + vy + vz
∂x ∂y ∂z
e


− ∂→
− ∂→

→ = ∂ vx →

a −
vx +
vx →

vy +
vx →

vz
x
∂x ∂y ∂z


− ∂→

vy →
− ∂→

vy →
− ∂→

vy →

ay = vx + vy + vz
∂x ∂y ∂z


− ∂→

vz →
− ∂→

vz →
− ∂→

vz →

az = vx + vy + vz
∂x ∂y ∂z

Exemplo 2.1 Dado um campo de velocidades por vx = 2xy + 3 e vy = x2 y , calcular o valor


da aceleração no ponto P (x, y) , com x = 1 cm e y = 1 cm .
Solução
Nesse caso, o regime é permanente porque as componentes de velocidade não dependem do
tempo.
As equações de aceleração ficam:

12

− ∂→
− ∂→

→ = ∂ vx →

a −
vx +
vx →

vy +
vx →

vz
x
∂x ∂y ∂z


− ∂→

vy →
− ∂→

vy →
− ∂→

vy →

ay = vx + vy + vz
∂x ∂y ∂z
onde:

∂→

vx ∂→

vx ∂→

vx
= 2y , = 2x , =0
∂x ∂y ∂z

∂→

vy ∂→

vy ∂→

vy
= 2xy , = x2 , =0
∂x ∂y ∂z
Então:

→ = 2y.(2xy + 3) + 2x.(x2 y) + 0 = 4xy 2 + 6y + 2x3 y
a x



ay = 2xy.(2xy + 3) + x2 .(x2 y) + 0 = 4x2 y 2 + 6xy + x4 y

No ponto P (1, 1) :


→ = 4.1.12 + 6.1 + 2.13 .1 = 12
a x



ay = 4.12 .12 + 6.1.1 + 14 .1 = 11

A aceleração, portanto, será:

q


a = −
a→2 + →

ay 2
x



p
a = 122 + 112



a ∼
= 16 cm/s2

Exemplo 2.2 Num escoamento, o campo de velocidades é dado por:



vx = xy 2 , vy = xy e vz = xyz. (cm/s)

Determine:
a) a velocidade no ponto P (1, 2, 1)
b) a aceleração no ponto P (2, 1, 2)

13
Solução
a) No ponto P (1, 2, 1) , temos:

vx = 1 · 22 = 4

vy = 1 · 2 = 2

√ √
vz = 1·2·1= 2

q
v= vx2 + vy2 + vz2 ∼
= 4, 7 cm/s

b) As derivadas parciais são:

∂→

vx ∂→

vx ∂→

vx
= y2 , = 2xy , =0
∂x ∂y ∂z

∂→

vy ∂→

vy ∂→

vy
= y, = x, =0
∂x ∂y ∂z

∂→

vz yz ∂→

vz xz ∂→

vz xy
= √ , = √ , = √
∂x 2 xyz ∂y 2 xyz ∂z 2 xyz

As componentes de aceleração ficam:


→ = y 2 .(xy 2 ) + 2xy.(xy) + 0 = xy 4 + 2x2 y 2
ax



ay = y.(xy 2 ) + x.(xy) + 0 = xy 3 + x2 y


− yz xz xy √ xy 3 z x2 yz xy
az = √ .(xy 2 ) + √ .(xy) + √ .( xyz) = √ + √ +
2 xyz 2 xyz 2 xyz 2 xyz 2 xyz 2

No ponto P (2, 1, 2) :


→ = 10 , →
a −
ay = 6 , →

az = 4
x

A aceleração, portanto, será:

q


a = −
a→2 + →

ay 2 + +→

az 2
x



p
a = 102 + 62 + 42



a ∼
= 12, 33 cm/s2

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• Regime variado: descreve-se o movimento das partı́culas ao longo de suas trajetórias em
função do tempo, já que nesse caso, as coordenadas de posição variam com o tempo. Dessa
forma, podemos escrever:



v =→

v [x(t), y(t), z(t), t]



vx = →

vx (x, y, z, t)



vy = →

vy (x, y, z, t)



vz = →

vz (x, y, z, t)

A aceleração é calculada por:


− ∂→

v→− ∂→

v→− ∂→

v→− ∂→
−v
a = vx + vy + vz +
∂x ∂y ∂z ∂t
e


− ∂→
− ∂→
− ∂→

→ = ∂ vx →

a −
vx +
vx →

vy +
vx →

vz +
vx
x
∂x ∂y ∂z ∂t


− ∂→

vy →
− ∂→

vy →
− ∂→

vy →
− ∂→
−vy
ay = vx + vy + vz +
∂x ∂y ∂z ∂t


− ∂→

vz →
− ∂→

vz →
− ∂→

vz →
− ∂→
−vz
az = vx + vy + vz +
∂x ∂y ∂z ∂t
Podemos desmembrar a aceleração em duas partes:

– aceleração de transporte ( ou convectiva): variação da velocidade com mudança de


posição
– aceleração local: variação de velocidade com o tempo

Portanto,temos:



a =→

a transporte + →

a local

onde:


− ∂→

v→− ∂→

v→− ∂→

v→−
a transporte = vx + vy + vz
∂x ∂y ∂z


− ∂→
−v
a local =
∂t

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Exemplo 2.3 Num escoamento no plano Oxy , o campo de velocidades é dado por vx = 2xt e
vy = y 2 t . Determinar a aceleração na origem e no ponto P (x, y) , com x = 1 cm e y = 2 cm , no
instante t = 5 seg .
Solução
Como as componentes de velocidade são funções do tempo, o regime de movimento é variado.
Logo:

− ∂→
− ∂→
− ∂→

→ = ∂ vx →

a −
v +
vx →

v +
vx →

v +
vx
x x y z
∂x ∂y ∂z ∂t


− ∂→

vy →
− ∂→

vy →
− ∂→

vy →
− ∂→
−vy
ay = vx + vy + vz +
∂x ∂y ∂z ∂t
onde:

∂→

vx ∂→

vx ∂→

vx →
− ∂→

vx
= 2t , = 0, vz = 0 , = 2x
∂x ∂y ∂z ∂t

∂→

vy ∂→

vy ∂→

vy →
− ∂→
−vy
= 0, = 2yt , vz = 0 , = y2
∂x ∂y ∂z ∂t
Então:

→ = 2t.2xt + 0.y 2 t + 0.0 + 2x = 4xt2 + 2x
ax



ay = 0.2xt + 2yt.y 2 t + 0.0 + y 2 = 2y 3 t2 + y 2

Na origem, temos x = y = 0 . Logo − →=→


a x

ay = 0.
No ponto P (1, 2) , após decorridos 5 segundos:


→ = 4.1.52 + 2.1 = 102
a x



ay = 2.23 .52 + 22 = 404

A aceleração, portanto, será: q


a = −

− →2 + →
a −
ay 2
x



p
a = 1022 + 4042


a ∼
= 417 cm/s2

2.3 Campo de tensões


Como já foi visto anteriormente, a tensão envolve uma força de contato e a área em que ela atua e
pode ser escrita como:
∆ Fj
Tij = lim
∆ Ai →0 ∆ Ai

onde:
Tij é a componente de tensão
i é a direção normal ao plano no qual a força atua
j é a direção da componente da força.

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Para um elemento de área ∆ Ax , com normal na direção x, sobre o qual atuam as componentes
de força ∆ Fx , ∆ Fy e ∆ Fz , resultam uma componente de tensão normal σxx e duas componentes
de tensão cisalhante τxy e τxz , que são definidas pelas equações:

∆ Fx
σxx = lim
∆ Ax →0 ∆ Ax

∆ Fy
τxy = lim
∆ Ax →0 ∆ Ax

∆ Fz
τxz = lim
∆ Ax →0 ∆ Ax
Analogamente, considerando elementos de áreas nas direções y e z , encontraremos mais uma
tensão normal e duas cisalhantes em cada direção. A tensão total no ponto é especificada pelas 9
componentes da matriz  
σxx τxy τxz
T =  τyx σyy τyz 
 

τzx τzy σzz


e é conhecida como tensor de tensões.
Os fluidos submetidos a esforços normais sofrem variações volumétricas finitas. Quando essas
variações são muito pequenas considera-se os fluidos incompressı́veis. Em geral os lı́quidos são
incompressı́veis e os gases são compressı́veis. Para um fluido em repouso, a tensão é exclusivamente
normal, sendo seu valor chamado de pressão estática p que, em um ponto, é igual em todas as
direções, ou seja
σxx = σyy = σzz = −p (P rincipio de P ascal)

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Supondo duas placas paralelas, com um sólido entre elas e aplicando-se uma força constante
sobre a placa superior, o sólido se deforma angularmente até alcançar uma nova posição de equilı́brio
estático.

Para o caso de um fluido entre placas, nota-se que o movimento causado pela aplicação da força
na placa superior, parte de uma velocidade nula e, a partir de certo instante, atinge uma velocidade
constante v0 .
Em cada seção normal às placas, surge um diagrama de velocidades, onde cada camada de
fluido desliza sobre a adjacente, originando uma tensão de cisalhamento.

Como, para fluidos newtonianos, a tensão cisalhante é proporcional ao gradiente de velocidade,


temos

dvx
τyx = −µ
dy
Para pequenos movimentos, quando a distância d entre as placas é pequena, podemos considerar
que a variação de v com y é linear, sem grandes erros e sem que tenhamos que enfrentar cálculos
mais sofisticados. Dessa forma, podemos ter

v0
τyx = −µ
d

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Exemplo 2.4 Considere um escoamento de água entre duas placas, onde µ = 0, 001 P a.s , vx =
1 m/s e d = 0, 005 m . Calcular:
a) o gradiente de velocidade
b) a tensão de cisalhamento no placa superior

Solução
dvx v0 1
a) = = = 200 s−1
dy d 0, 005
dvx
b) τ = −µ = −0, 001 × 200 = −0, 2 P a
dy
Exemplo 2.5 No exemplo anterior, considere que existe um óleo no lugar da água e que seja
necessária uma tensão cisalhante de 40 P a para que a velocidade permaneça constante. Determine
a viscosidade dinâmica desse óleo.
Solução
1
−40 = −µ ⇒ µ = 0, 2 P a.s
0, 005

Exemplo 2.6 O perfil da velocidade do escoamento de óleo em um tubo de diâmetro D = 20 cm


é expresso por:   r 2 
v = 10 1 − (m/s)
R
onde R é o raio do tubo. Sabendo que ρóleo = 905 kg/m3 e µóleo = 0, 02 P a.s , calcule:
a) a velocidade de uma partı́cula situada em r = R2 .
b) a aceleração de uma partı́cula situada em r = 0.
c) a tensão de cisalhamento na parede do tubo.
Solução

a)v = 10[1 − ( R/2 2 1 2 1 3


R ) ] = 10[1 − ( 2 ) ] = 10[1 − ( 4 )] = 10( 4 ) = 7, 5 m/s

dv 20r
b) a = = − 2 r=0 = 0 m/s2
dr R
dv −20R −20 −20
c) τ = −µ = −0, 02( 2
) = −0, 02( ) = −0, 02( ) = 4 P a.
dr R R 0, 1

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Tensão Superficial:
A superfı́cie livre de um lı́quido assemelha-se a uma pelı́cula esticada, de maneira que existe
uma tensão atuando no plano da superfı́cie. Esta tensão está associada à falta de simetria de forças
atuando sobre as moléculas do fluido na interface de separação lı́quido - vapor.

Suas principais caracterı́sticas são:

• é definida como força por unidade de comprimento ( N/m ), por atuar sobre a linha da
superfı́cie

• diminui com o aumento da temperatura

• depende do fluido que está sobre a superfı́cie livre.

• é responsável pelas gotas de lı́quido serem esféricas, por esta ser a forma geométrica que
apresenta menor área de superfı́cie por igual volume.

A tensão superficial tem como principal efeito a capilaridade, que é o fenômeno de subida e
descida de um lı́quido dentro de um tubo de pequenas dimensões.
Temos que:

W = mg = ρV g ∼
= ρ(πr2 h)g

F = 2πrσs cos θ

Pelo balanço de forças:

2 σs
F =W ⇔h= cos θ
ρrg

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Observações:

1. Quando o lı́quido molha a superfı́cie (água-vidro, água-madeira) o ângulo θ é muito pequeno,


de modo que podemos considerar cos θ = 1.

2. No caso de lı́quidos que não molham a superfı́cie, como é o caso do mercúrio, temos θ > π/2 ,
tal que cos θ < 0 , o que torna h negativo.

Exemplo 2.7 Determine a altura h acima do nı́vel de um reservatório em que a água se eleva
em um tubo capilar de diâmetro d = 2 mm, sabendo que a uma temperatura T = 20o C , σs =
0, 074 N/m e γ = 9810 N/m3 .
Solução:
Temos que γ = ρ.g = 9810 N/m3 e θ ∼= 0.
Logo:

2 σs 2 × 0, 074 N/s2
h= = = 0, 015 m = 1, 5 cm
γr 9810 N/m3 × 0, 001 m

2.4 Viscosidade
Sobre a viscosidade, já sabemos do capı́tulo anterior que:

• é uma propriedade do fluido associada à resistência que ele oferece à deformação por cisalha-
mento.

• é causada fundamentalmente pelo atrito entre moléculas, quando há gradiente de velocidade
na direção transversal ao movimento do fluido.

• é função da temperatura.

Os gases, por terem menos colisões entre partı́culas, possuem baixa viscosidade. Entre os
lı́quidos , verificamos o grau de viscosidade pela capacidade de se moldarem aos recipientes que os
contêm. Entre a água e a glicerina, podemos notar que este último é mais viscoso.
Em várias equações de mecânica dos fluidos, aparece o quociente entre a viscosidade dinâmica
e a massa especı́fica de um fluido, sendo convenientemente definida como viscosidade cinemática,
ou seja:
µ
ν=
ρ

Exemplo 2.8 Considerando ainda o exemplo 2.4 anterior e supondo que a massa especı́fica do
óleo seja ρ = 0, 85 kg/m3 , qual é o valor da viscosidade cinemática?
Solução
0, 2 P a.s
ν= = 0, 2353 m2 /s
0, 85 kg/m3

Observação: 1 P a = 1 N/m2 e 1 N = 1 kg.m/s2

Exemplo 2.9 Um pistão de peso W = 4 N desliza dentro de um cilindro vertical com uma
velocidade constante v = 2 m/s . Sabendo que o diâmetro do cilindro é dc = 10, 1 cm e o do pistão
é dp = 10 cm , determine a viscosidade do lubrificante colocado na folga entre o pistão e o clindro.

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Dado: comprimento do pistão: L = 5 cm.
Solução
Se v = cte , então a = 0.
Logo, o pistão está em equilı́brio dinâmico e:

F = m.a = 0

Para manter esse equilı́brio, a força causada pela tensão de cisalhamento dever ser igual ao
peso do pistão, ou seja:
F =W

τ.A = W
dv
µ π.dp .L = G
dy
Como a distância entre o pistão e o cilindro é muito pequena ( d = 0, 05 cm), podemos considerar
o perfil de velocidade linear, de modo que:
dv v
=
dy d
Assim:
v
µ π.dp .L = G
d
d.W
µ=
v.π.dp .L
0, 05 × 10−2 × 4
µ=
2π × 0, 1 × 0, 05
µ = 6, 37 × 10−2 n.s/m2

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2.5 Descrição e classificação dos movimentos dos fluidos
Aqui serão apresentados alguns conceitos úteis para a representação de escoamentos, sua classi-
ficação e uma descrição dos movimentos dos fluidos.

2.5.1 Conceitos
• Trajetória: a trajetória de uma partı́cula fluida consiste no caminho percorrido pela partı́cula,
em função do tempo, ao longo do escoamento.

• Linha de corrente: é uma linha imaginária traçada no campo de escoamento, num instante
de tempo, de forma que, em cada ponto, os vetores velocidade de escoamento são tangentes
a ela. Essas linhas fornecem informações sobre as direções e as velocidades dos escoamentos.

Uma linha de corrente pode ser descrita em função das componentes de velocidade de esco-
amento num ponto, relacionando as componentes de velocidade com a geometria do campo
de escoamento. Num escoamento bidimensional, descrito em relação a um sistema de coor-
denadas cartesianas, o vetor velocidade ~v é tangente a L.C., de forma que

d~r dx ~ dy ~
~v = = i+ j
dt dt dt

onde

dx
= vx
dt

dy
= vy
dt
Dessa forma, para um mesmo intervalo de tempo dt , podemos ter:

dx dy
=
vx vy

Para um escoamento tridimensional:

dx dy dz
= =
vx vy vz

Observação: As linhas de corrente nunca se cruzam, pois uma partı́cula fluida não pode ter
duas velocidades diferentes simultaneamente.

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• Linha de emissão: a linha de emissão de um ponto, num instante de tempo, pode ser definida
como a linha formada por todas as partı́culas fluidas que passaram anteriormente pelo ponto.
Observação: Quando o escoamento é invariante no tempo (regime permanente), tem-se que
as trajetórias, as linhas de corrente e as linhas de emissão, com origem no mesmo ponto, são
coincidentes.

2.5.2 Classificação
Os escoamentos podem ser classificados, de acordo com alguns critérios, de diversas maneiras:

• permanente ou variado

• incompressı́vel ou compressı́vel

• uni, bi ou tridimensional

• laminar ou turbulento

a) Escoamento permanente e variado: um escoamento é chamado de permanente ou estacionário


quando as suas propriedades, em qualquer ponto, permanecem invariantes no tempo. Isto significa
que, apesar de o fluido estar em movimento, a configuração de suas propriedades em qualquer
instante permanece a mesma. Caso contrário, quando as condições do fluido em alguns pontos ou
regiões variam com o passar do tempo, o escoamento é chamado de regime variado.
b) Escoamento incompressı́vel e compressı́vel: escoamento incompressı́vel é aquele em que as va-
riações de massa especı́fica são insignificantes. Quando essas variações não podem ser desprezadas,
dizemos que o escoamento é compressı́vel. Os lı́quidos são incompressı́veis e escoam dessa forma;
os gases são compressı́veis, mas podem escoar de forma incompressı́vel quando as velocidades de
escoamento são pequenas.
c) Escoamento uni, bi e tridimensional: a classificação se dá em função do número de coorde-
nadas espaciais necessárias para a especificação do campo de velocidade.
d) Escoamento laminar e turbulento: um escoamento é laminar quando o movimento do fluido
se dá como se fosse constituı́do de placas paralelas que deslizam umas sobre as outras, sem troca
de massa entre elas. No escoamento turbulento, as partı́culas fluidas se movem em trajetórias
irregulares e ocorrem misturas, geralmente através de turbilhões.
Observações:

1. Os escoamentos laminares e turbulentos estão diretamente vinculados ao Número de Reynolds,


que estabelece uma relação entre a velocidade de escoamento, o diâmetro do tubo, a massa
especı́fica e a viscosidade dinâmica do fluido e é definido por

ρvd
Re =
µ
Para Re < 2100 , o escoamento é laminar. Para Re > 2500 , o escoamento é turbulento. Na
região de transição, onde 2100 < Re < 2500 , o escoamento pode ser laminar ou turbulento,
dependendo das condições ambientais, principalmente da existência de vibrações no sistema.

2. Para um escoamento laminar em dutos circulares, o perfil da velocidade numa seção é pa-
rabólico, e dado pela expressão
  r 2 
v(r) = vmax 1 −
R

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onde vmax é a velocidade de escoamento no centro da seção e R é o raio do duto.

3. Para um escoamento turbulento em dutos circulares, o perfil da velocidade numa seção é dado
pela expressão
h  r i1/7
v(r) = vmax 1 −
R

2.5.3 Outros conceitos


• Vazão em volume:
Define-se vazão em volume como sendo o volume de fluido que atravessa certa seção do
escoamento por unidade de tempo, ou seja
V
Q=
t

e pode ser expressa nas unidades m3 /s, l/s, m3 /h, l/min, ... .
Existe uma relação importante entre a vazão volumétrica e a velocidade do fluido.
Num intervalo de tempo t , o fluido se desloca através da seção de área A a uma distância
igual a s . O volume que atravessa a seção A nesse intervalo de tempo é dado por

V = sA

Logo, podemos afirmar que a vazão pode ser escrita como


V sA
Q= =
t t
s
Como = v , temos
t
Q = vA

Observação: A expressão acima só é válida para o caso em que a velocidade é uniforme na
seção. Num caso geral, em que a velocidade é diferente em cada ponto, temos

dQ = v dA

ou Z
Q= vdA
A

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• Velocidade média
Define-se velocidade média da seção como sendo a velocidade uniforme que , substituı́da no
lugar da velocidade real, reproduziria a mesma vazão, ou seja
Z
Q= vdA = vm A
A

Portanto: Z
1
vm = vdA
A A

Exemplo 2.10 No escoamento bidimensional abaixo, determinar a velocidade média do di-


agrama de velocidades.

Solução
Inicialmente, temos que determinar v = ay + b através das condições de contorno.

– para y = 0 → v = 0 → b = 0
v0
– para y = h → v = v0 → a =
h
Logo:

v0
v= y
h
A velocidade média será: Z
1
vm = vdA
A A

onde: A = sh e dA = sdy .

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Logo:
Z h Z h
1 v0 v0 v0
vm = y sdy = 2 y dy =
sh 0 h h 0 2

• Vazão em massa
Analogamente à vazão em volume, podemos definir a vazão em massa como sendo
m ρV
Qm = =
t t
V
Como =Q e Q = vm A , podemos escrever
t
Qm = ρ Q = ρ vm A

Exemplo 2.11 Um gás escoa em regime permanente no trecho de tubulação da figura abaixo.
Na seção (1) tem-se A1 = 20 cm2 , ρ1 = 4 kg/m3 e v1 = 30 m/s. Na seção (2) os valores
são: A2 = 10 cm2 e ρ2 = 12 kg/m3 . Determine a velocidade média na seção (2).

Solução
A equação de continuidade de um fluido para um regime permanente nos permite escrever
que
Qm1 = Qm2

ou
ρ1 v1 A1 = ρ2 v2 A2

Logo:
ρ 1 A1 4 20
v2 = v1 = 30 = 20 m/s
ρ 2 A2 12 10

Exemplo 2.12 Resolver o problema anterior supondo que, em vez de gás, exista água (
ρ = 1.000 kg/m3 ) escoando pelo tubo.
Solução
Como a água é um fluido incompressı́vel, não haverá variação da massa especı́fica durante o
escoamento, ou seja:
ou
ρ v1 A1 = ρ v2 A2

Logo:
A1 20
v2 = v1 = 30 = 60 m/s
A2 10

Observação: Através do exemplo anterior, podemos notar que a vazão em volume de um


fluido incompressı́vel é a mesma em qualquer seção do escoamento.

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