Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LISTA I - COMPORTAMENTO DE MATERIAIS GEOTÉCNICOS
AUGUSTO BOPSIN BORGES
O comportamento do solo em termos geral pode ser tomado como elasto-(visco)-plástico
não-linear. Ou seja, quando o solo é carregado, especialmente areias, há instantaneamente
um rearranjo das partículas (movimento de corpo rígido das partículas - deslocamento, giro
e escorregamento entre as mesmas) que causa deformações não recuperáveis (plásticas),
pois as partículas isoladamente, uma vez deslocadas e giradas, não retornam a suas
posições de maneira espontânea. Apenas para baixos níveis de tensão e pequeníssimas
deformações pode-se assumir que o solo se comporta de maneira elástica, quando tais
movimentos ainda não ocorreram e somente ocorreu um aumento da tensão de contato
entre grãos individuais.
Porém, para vários problemas os conceitos da teoria da elasticidade pode ser de grande
utilidade. Isto significa um dado o comportamento não-linear das curvas tensão-deformação
do solo pode ser “linearizados”, isto é, substituído por linhas retas. Pode-se então falar em
termos de módulo e coeficiente de Poisson do solo. Obviamente, módulo e coeficiente de
Poisson não são constantes para um solo, mas são quantidade que aproximadamente
descrevem o comportamento do solo para um conjunto de tensões. Diferentes valores de
módulo e coeficiente de Poisson são aplicados para cada conjunto de tensões impostas.
Especialmente quando se fala de módulo, deve-se tomar muito cuidado o que isso significa.
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 1
O termo módulo tangente e módulo secante são utilizados com frequência. Módulo tangente
é a inclinação de uma linha reta tangente à curva tensão-deformação em um ponto em
particular. O valor do módulo tangente variará com o ponto selecionado. O módulo tangente
ao ponto inicial da curva é chamado módulo tangente inicial. Módulo secante é a inclinação
da linha reta conectando dois pontos distintos na curva. O valor do módulo secante variará
com a localização de ambos os pontos considerados. Quando os dois pontos considerados
se aproximando de um mesmo ponto, o módulo secante se torna igual ao módulo tangente.
Para materiais com comportamento tensão-deformação realmente linear, todos estes
valores de módulo são únicos e iguais.
Ademais, fazemos continuamente uso de conceitos ligados à teoria da elasticidade. A saber,
se aplicamos uma tensão uniaxial σ z a um cilindro de material elástico1, este irá comprimir
verticalmente e expandirá lateralmente de tal forma que
1
A palavra "elástico" denota a capacidade do material de recuperar o formato e tamanho original depois que as
tensões são removidas. Aqui se entende como material que tem esse comportamento e de forma linear.
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 2
σz
εz = E
εx
εx = εy = − μ× εz → μ =− εz
τ zx τ zx
γ zx = G → G = γ zx
E
G= 2×(1+μ)
Para um material elástico com todas as componentes de tensão atuando, podemos utilizar o
princípio da superposição para obter
σx σ
εx = E − μ Ey − μ σEz
1 1
εx = E [σx − μ (σy + σz )] εy = E [σy − μ (σx + σz )]
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 3
τ yz
εz = 1
[σz − μ (σx + σy )] γ yz = G
E
τ xy τ zx
γ xy = G γ zx = G
ΔV
e εv = V
= εx + εy + εz
τ xy = τ yz = τ zx = 0 , a deformação volumétrica é igual a
ΔV 1
εv = V = E [σ0 − μ (σ0 + σ0 )] + E1 [σ0 − μ (σ0 + σ0 )] + E1 [σ0 − μ (σ0 + σ0 )]
ΔV 1
εv = V = E [σ0 − 2 × μ × σ0 ] + E1 [σ0 − 2 × μ × σ0 ] + E1 [σ0 − 2 × μ × σ0 ]
ΔV
εv = V
= E1 σ 0 (1 − 2 × μ) + E1 σ 0 (1 − 2 × μ) + E1 σ 0 (1 − 2 × μ)
ΔV 3×σ 0
εv = V
= E
(1 − 2 × μ)
O bulk modulus B é definido como
εv ×E
σ0 E
B= εv
= 3×(1−2×μ)
εv
= 3×(1−2×μ)
Ainda outro tipo especial de módulo é o módulo oedométrico, D, que é a razão da tensão
axial pela deformação axial para compressão confinada (ou compressão oedométrica). Este
módulo pode ser computado das equações da lei de Hooke generalizada dadas
anteriormente, dado que εx = εy = 0 (compressão oedométrica). Então
εx = εy = 0 = E1 (σ x − μ × (σ y + σ z ) = E1 (σ y − μ × (σ x + σ z )
μ
σx = σy = σ
(1−μ) z
σ(1−μ)
σz E(1−μ) E(1−μ) E(1−μ)
D= εz
= μ
1 ( σ(1−μ) −2μσ)
= (1−μ) = −2μ2 −μ+1
= (1+μ)(1−2μ)
E μ
μ( μ −2μ)
E(1−μ)
D= (1+μ)(1−2μ)
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 4
2. De que maneira o acréscimo de tensões no subsolo causado por carregamentos
superficiais pode ser determinado? Determine o acréscimo de tensões verticais sobre uma
tubulação enterrada a 2 m de profundidade que passa perpendicularmente por baixo de um
aterro rodoviário com 8 m de largura que transmite 120 kPa à superfície do terreno.
É tediosa a obtenção da solução elástica dada uma carga e um conjunto de condições de
contorno, mas aqui não é focado como obtê-las, mas como usá-las em solução de forma
gráfica (Figura 8.7).
Para solução de aterro infinito, com largura de 8 m e transmitindo 120 kPa à superfície do
terreno temos que
z x Δσ 1
Δq s = 120 kP a a=4m a
= 0, 5 a
=0 Δq s
= 0, 95
2
Cap. 8 - pág. 100
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 5
3. O que faz com que duas areias tenham comportamento diferenciado no ensaio de
compressão oedométrica?
No ensaio oedométrico, tensão é aplicada ao corpo de prova ao longo do eixo vertical,
enquanto as deformações horizontais são restringidas. Então, a deformação axial é
exatamente igual à deformação volumétrica.
Neste ensaio a razão da tensão lateral pela tensão vertical é K0, o coeficiente de empuxo ao
repouso. A trajetória de tensões neste ensaio pode ser vista na figura abaixo.
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 6
Normalmente também as tensões laterais não são medidas e um dos principais problemas
do ensaio é o atrito com as paredes laterais do anel, que faz com que forças de
cisalhamento se desenvolvam quando as deformações axiais acontecem. A presença do
atrito lateral disturba o estado de deformações unidimensional e faz com que uma parcela
da força axial não alcance as porções mais profundas do corpo de prova. Para minimizar o
efeito do atrito a relação espessura-diâmetro do corpo de prova deve ser mantida tão
pequena quanto seja praticável, usualmente 1:3 a 1:4 (1:2,5 no Brasil). O uso de anel
flutuante também ajuda a minimizar o efeito do atrito com as paredes laterais.
A Figura 10.3 abaixo mostra o comportamento de uma areia quartzosa de granulometria
média a grossa durante uma compressão oedométrica. Inicialmente a areia estava em um
estado denso. As deformações são verticais, iguais à deformação volumétrica, baseadas na
espessura original do corpo de prova. Os dados são compostos de resultados de alguns
ensaios oedométricos, usando equipamento convencional para um baixo nível de tensões.
Note que as curvas tensão-deformação estão plotadas com o positivo para baixo, como é
usual na mecânica dos solos pois deformações de compressão estão associadas a
recalques (movimento na vertical).
A figura considera que o comportamento da areia deve ser considerado em três estágios.
a. Para tensões de cerca de 15 MPa, a curva tensão-deformação é côncava para cima.
Então, a areia fica mais e mais rígida conforme o nível de tensões cresce. Esta forma
de comportamento tensão deformação, chamada de intertravamento, é muito
3
Cap.9 - pág 116
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 7
Conforme as tensões aumentam, arranjos de solo fofo colapsam e, logo depois, os
arranjos mais densos. Cada um destes movimentos resultam em um arranjo de
partículas mais fortemente empacotado, portanto mais compacto. Finalmente, é
alcançado um estágio no qual até mesmo tais arranjos são colocados tão fortemente
juntos que os pontos de contato quebram, permitindo portanto mais deslizamento
entre partículas.
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 8
c. O fraturamento das partículas permite até mesmo uma união maior das partículas
remanescentes. Por conta do aumento do número de partículas devido ao
fraturamento, a força média entre os grão na verdade diminuiu. Portanto, a areia se
torna novamente mais e mais rígida conforme o aumento de tensões segue em
tensões ainda maiores.
O mesmo processo geral ocorre durante a compressão de todos os solos granulares,
embora raramente nestes estágio distintos. A Figura 10.4 mostra o resultado para
areias naturais típicas. Deslizamento entre partículas usualmente está presente em
todos os níveis de carregamento. Quebra e fraturamento de partículas começam, na
realidade, em menor escala a baixos níveis de tensões, mas se torna crescentemente
importante quando algum estágio crítico é atingido. Esta tensão crítica é menor
quando as partículas são grandes, o solo é fofo, as partículas são angulares, a
resistência individual de um mineral da partícula é baixo e quando o solo tem
distribuição granulométrica uniforme.
Para os casos usuais de engenharia a quebra de grãos não é importante. Usualmente
fraturamento começa a se tornar importante quando as tensões ultrapassam 3,5
MPa, que são encontradas em grandes barragens e também em problemas de
subsidência de grandes áreas por bombeamento de óleo ou água de estratos
profundos.
Copyleft 2017 Augusto Bopsin Borges 9
Resumindo:
Índice de vazios: Determina se a areia está inicialmente em um estado fofo (e alto) ou em
um estado denso (e baixo). Em areias no estado fofo as tensões de contato entre as
partículas são maiores quando comparadas com areias densas para um mesmo
carregamento, pois ocorre um menor número de contatos grão a grão nas areias fofas,
aumentando a tensão nos contatos entre partículas individuais.
Em areias fofas há maior deformabilidade, pois os grãos tendem a apresentar maiores
movimentos entre si, ocupando os vazios existentes. As areias densas têm maior resistência
devido ao maior número de contatos
Logo, um maior índice de vazios inicial implica em maiores tensões de contato entre os
grãos, maior deformabilidade, menor resistência ao cisalhamento, menor tensão crítica4 e
menor ângulo de atrito.
Granulometria: Quanto mais bem graduada é a areia, maior o intertravamento entre as
partículas e, consequentemente, maior o ângulo de atrito e mais homogênea é a distribuição
das tensões no corpo de prova.
4
Tensão em que ocorre a quebra das partículas
→ Areia bem graduada: ↓ e, ↓ σcontato, ↓ deformabilidade, ↑ ângulo de atrito e ↑ σcrít..
→ Areia mal graduada: ↑ e, ↑ σcontato, ↑ deformabilidade, ↓ ângulo de atrito e ↓ σcrít..
Tamanho dos grãos:
↑ tamanho / ↑ e / ↑ σcontato / ↑ def. / ↓ φ / ↓ σcrít.
↓ tamanho / ↓ e / ↓ σcontato / ↓ def. / ↑ φ / ↑ σcrít.
Forma dos grãos:
→ Arredondadas: ↓ intertravamento / ↑ def. / ↓ φ / ↓ σcrít.
→ Angulares: ↑ intertravamento / ↓ def. / ↑ φ / ↑ σcrít.
Mineralogia:
A menos que a areia contenha mica, existe pouca diferença em se a areia é composta
primariamente de quartzo, um dos feldspatos, etc. Uma areia micácea terá frequentemente
um grande índice de vazios e consequentemente baixo intertravamento e baixo ângulo de
atrito. O valor mais baixo do φu da mica quando comparado com o do quartzo tem
relativamente pequena influência neste comportamento.
Uma areia bem graduada tem menor índice de vazios e maior intertravamento entre grãos
que uma areia mal graduada com o mesmo tamanho de partícula, o que diminui a
deformabilidade no ensaio em comparação à mal graduada. Também a tensão entre os
grãos é menor na areia bem graduada pois há maior número de pontos de contato.
Portanto, a pequenos níveis de tensão:
→ Bem graduada: deformações elásticas;
→ Mal graduada: deformações no arranjo por quebra de grãos.
5. Represente graficamente e explique a trajetória (ou caminho) de tensões de uma areia
submetida a um ensaio de compressão oedométrica com carregamento e descarregamento
e com carregamento cíclico.
Como se pode ver na Figura 10.5, somente uma porção das deformações que ocorrem
durante o carregamento é recuperado durante descarregamento. As deformações que
resultam de deslizamento entre partículas ou de fraturamento das mesmas e quebra são
fortemente irreversíveis. O recuo sob descarregamento é causado pela energia elástica
armazenada nas partículas individuais quando o solo é carregado. No entanto, existe alguma
pequena reversão do deslizamento entre as partículas durante o descarregamento.
Figura 10.5 também ilustra o comportamento durante recarregamento de uma areia que foi
carregada e então descarregada. Para tensões menores que a tensão máxima do primeiro
carregamento, a areia é mais rígida durante o recarregamento que durante o primeiro
carregamento. Quando a areia é recarregada a tensões maiores que a máxima tensão do
primeiro carregamento, a curva tensão-deformação é essencialmente a mesma que se não
houvesse sido descarregado jamais.
A sequência de eventos durante o carregamento cíclico pode ser explicada pelo uso de
estudos teóricos de um empacotamento ideal de esferas elásticas. É possível para obter
deformações unidimensionais de tal arranjo, como indicado na figura acima. As forças
normais nos contatos comprimem as esferas, mas deslizamento ocorre de modo que o
movimento relativo é puramente vertical. Na descompressão, as partículas retornam à sua
forma original e deslizamento ocorre na direção reversa. Um pequena parcela de energia é
absorvida durante cada ciclo de carregamento. O mesmo padrão geral de eventos deve
ocorrer em solos reais.
Um exemplo hipotético segue:
O → B: carregamento inicial (linha K0 - carregamento monotônico virgem)
B → C: incremento de σ v (carregamento virgem);
C → D: descarregamento: ↓ σ v , mas com σ v > σ h , ( σ h diminui pouco, não recupera toda a
tensão lateral mobilizada, por isso a trajetória é uma curva);
D: σ v = σ h → Isotrópico.
D → E: descarregamento: σ h > σ v ;
E → F: Δh diminui devido à recuperação da parcela elástica de deformações;
F → A: recarregamento σ h > σ v
A → B: recarregamento σ v > σ h
6. Efeitos viscosos podem afetar o comportamento de areias?
(Ver Souza Pinto, pág.173)
Para a maioria dos problemas de engenharia, o efeito do tempo durante a compressão das
areias não são de importância prática. A Figura 10.8 mostra o comportamento típico.
Praticamente toda a compressão ocorre nos primeiros minutos.
Para compressão a níveis de tensões altos o suficiente para causar fraturamento
significativo das partículas, porém, há um time lag, um atraso na compressão total, como
ilustrado na típica curva compressão pela tempo, mostrada na Figura 10.9
Para a maioria dos solos, isso só ocorre para tensões muito altas. Porém, para solos que
são compostos de partículas fracas ou de partículas fracamente cimentadas, pode ocorrer
um efeito significativo do tempo a tensões ordinárias.
8. Se um corpo-de-prova da mesma areia da questão 7 fosse preparado com densidade
relativa igual a 80% e cisalhado com 20 kPa de tensão efetiva, a resistência seria maior ou
menor do que a do ensaio da questão 7? Explique.
Um material denso ensaiado na mesma tensão confinante de um material fofo apresenta
um comportamento dilatante e uma tensão de pico maior que a tensão a volume constante.
Já com um aumento da tensão confinante, porém, há um aumento também da tensão a
volume constante, tanto para material inicialmente fofo quanto para o inicialmente denso,
mantendo a característica de tensão de pico maior que a de volume constante para o
material denso.
Solos granulares são materiais friccionais, mas com um desvio do comportamento
puramente friccional causado pelo efeito das tensões confinantes sobre o intertravamento.
O intertravamento decresce com o aumento das tensões confinantes, porque as partículas
se tornam mais planas nos pontos de contato, ângulos mais agudos se quebram e há
quebra de partículas. Mesmo que resultem em uma amostra mais densa, é mais fácil a
ocorrência de deformações cisalhantes.
9. Em ensaios triaxiais em que há descarregamento do ensaio triaxial, pode haver variação
volumétrica? O comportamento será compressivo ou expansivo? Explique.
Sim, e de fato há. Para ensaios triaxiais em que há descarregamento, ocorre um alívio das
tensões que mantêm as partículas individuais tensionadas umas às outras, de forma que há
um alívio das deformações elásticas entre partículas e há também uma reversão
infinitesimal de deslizamento entre as partículas, de forma que há um consequente aumento
de volume.
Todos os corpos de prova estão em um estado fofo, logo para o terceiro ensaio temos que:
σ 1 −σ 3 σ 1 −500
t= 2
= 200 kP a = 2
σ 1 = 900 kP a
σd 900−500
Considerando E = εa , temos que para este ensaio E = 0,002 = 200 M P a .
Para o caso de areias fofas o comportamento no gráfico tensão-deformação, com o eixo
vertical sendo t/σ c de todos os corpos de prova, convergem para uma mesma curva. Sendo
assim, para o terceiro ensaio temos que
t/σ c = 200/500 = 0, 4
Logo, temos que também para o primeiro e segundo ensaios
t1 /σ c1 = t1 /100 = t2 /250 = 0, 4
t1 = 40 kP a t2 = 100 kP a
Logo, para o primeiro ensaio ao mesmo nível de deformação
σ 1 −σ 3 σ 1 −100
t1 = 40 kP a → t1 = 2
= 40 kP a = 2
→ σ 1 = 180 kP a
σd 180−100
E1 = εa = 0,002 = 40 M P a
E para o segundo ensaio ao mesmo nível de deformação
σ 1 −σ 3 σ 1 −250
t2 = 100 kP a → t2 = 2
= 100 kP a = 2
→ σ 1 = 450 kP a
σd 450−250
E2 = εa = 0,002 = 100 M P a
11. Com condições semelhantes às da questão 10, três corpos-de-prova densos foram
cisalhados. O terceiro ensaio deformou axialmente 0,16% para t = 225 kPa.
Aproximadamente, quanto vale o módulo dos outros dois ensaios para o mesmo nível de
deformação?
Areias densas exibem um pico na curva tensão desviadora por deformação axial. Na curva
com tensão desviadora normalizada pela tensão confinante no caso de areias densas,
quanto maior a tensão confinante, menor o pico. Ademais, quando maior a tensão
confinante, maior a deformação axial na qual o pico ocorre.
Nestes casos, a influência da tensão confinante não se dá de maneira linear.
Segundo as anotações (pág. 34/110) do vinícius, o módulo pode ser estimado da maneira
dada abaixo:
η
EX
E X−1
= ( σ 3,X
σ 3,X−1 ) , onde η = {1, areias f of as // 0, 4 areias densas}
Logo, para o terceiro ensaio
σ 1 −σ 3 σ 1 −500
t= 2
= 225 kP a = 2
σ 1 = 950 kP a
σd 950−500
Considerando E = εa , temos que para este ensaio E = 0,0016 = 281, 25 M P a .
Então, para o ensaio 1
0,4
E3
E1
= ( ) σ 3,3
σ 3,1
E1 =
E3
σ 3,3 0,4
( )
σ 3,1
= 147, 74 M P a
E para o ensaio 2,
0,4
E3
E2
= ( )
σ 3,3
σ 3,2
E2 =
E3
σ 3,3 0,4
( )
σ 3,2
= 213, 15 M P a
12. O que representa o intercepto coesivo verificado para algumas areias densas? Esquematize
os resultados que podem levar uma areia densa a apresentar parâmetros de resistência c' =
22 kN/m² e φ' = 35°. Comente a diferença de comportamento entre areias densas com
grãos angulosos e pedregulhos angulosos densos observada em ensaios triaxiais.
Na teoria de resistência de Mohr, ele define um envoltória de ruptura. Este envelope é dado
em um gráfico τ por σ onde são desenhados os círculos de Mohr para cada estado de
tensões. No caso de o círculo de Mohr de um estado tangenciar a envoltória de ruptura, há a
ruptura do solo.
De forma genérica a envoltória de Mohr pode ser expressão como
τ f f = f (σ f f )
A forma da envoltória normalmente é uma linha curva, como a da Figura 11.1.
Materiais granulares como as areias são normalmente considerados materiais puramente
friccionais. Ou seja, não apresentam coesão. No entanto, para a maioria dos cálculos que
são necessários para garantir a estabilidade de uma massa de solo, é necessário a
τ f f = c + σ f f tan φ
Esquema de resultados pedido
Pode-se usar o diagrama t x s e traçar a linha Kf que define, através das tensões de pico o
ângulo de atrito e intercepto coesivo pedidos.
Logo,
Então, tem-se que
t = a + tan(α) × s →
σ 1 −σ 3
2
= a + tan(α) × ( σ 1 +σ 3
2 ) → σ 1 =
2×a+(1+tan α)×σ 3
(1−tan α)
Assim, pode-se ter, por exemplo, que resultados de ensaios conforme os dados abaixo
fornecerão os valores de intercepto coesivo e ângulo de atrito esperados.
Comentário sobre a diferença de comportamento entre areias e pedregulhos densos de grãos
angulosos
Tanto areias quanto pedregulhos para um dado grau de compactação que os levem a um
estado denso apresentarão praticamente o mesmo valor de ângulo de interno, para um
material de mesma origem e mineralogia. O efeito de intertravamento inicial em material
com partículas maiores é compensado pelo alto nível de quebra e fraturamento que ocorre
por causa das maiores forças nos contatos entre grãos. Quebra de partículas e a
consequente curvatura da envoltória de Mohr é mais importante em partículas grandes,
especialmente em partículas pedregulhosas e fragmentos de rocha de enrocamentos. Isso é
causado pois um aumento no tamanho da partícula aumenta a carga por partícula e
portanto, quebras começam a tensões menores.
Já de grãos angulosos é esperado um maior intertravamento que em grãos mais
arredondados e portanto, areias ou pedregulhos com partículas angulares teriam um maior
ângulo de atrito. A tabela 11.2 confirma essa predição. Mesmo quando o material granular é
deformado à sua condição última (volume constante e condição fofa), o material com
partículas mais angulares têm maior ângulo de atrito. Em pedregulhos esse efeito é menor
pela quebra de partículas.
13. Um ensaio de cisalhamento direto em areia com 200 kPa de tensão normal resultou em
uma tensão cisalhante máxima de 135 kPa. Determine aproximadamente o valor da tensão
principal menor.
Supondo c = 0 (areia), temos que,
Reta s
τ = 0, 675 × σ
Reta t
(σ 0 ; τ 0 ) = (200; 135)
−1
τ − τ 0 = m × (σ − σ 0 ) → τ − 135 = 0,675
× (σ − 200)
−40 11.645
→ τ =− 1, 48σ + 431, 30 = 27
σ + 27
14. Qual será a máxima tensão principal observada em um ensaio triaxial drenado
convencional com tensão confinante de 200 kPa? O corpo-de-prova apresenta o mesmo
índice de vazios da questão 13 e a contrapressão é de 50 kPa.
σ 3 = 200 − 50 = 150 kP a
do diagrama t x s,
t = tan α × s = sin φ × s = 0, 56 × s
σ 1 −σ 3 σ 1 +σ 3
2 = 0, 56 × 2 → σ 1 − σ 3 = 0, 56 (σ 1 + σ 3 )
→ σ 1 = 3, 54 × σ 3 = 3, 54 × (150) = 531 kP a
15. Comente a diferença entre o plano de ruptura teórico e plano de ruptura observado.
O plano de ruptura de um material é o plano em que ocorre as tensões dadas pelos valores
onde o círculo de Mohr tangencia a envoltória de ruptura de Mohr para o material, conforme
Figura 11.2
Essas tensões ocorrem em um plano inclinado θcr ao plano no qual atua a maior tensão
principal, que é então chamado de plano de ruptura.
No entanto, como aproximamos a envoltória de ruptura por uma função linear com a
envoltória de Mohr-Coulomb ( τ = c + σ × tan φ ), o plano de ruptura definido anteriormente
seguindo as sugestões de Mohr pode ou não ser o plano no qual as deformações
cisalhantes são concentradas quando o solo falha. A diferença entre estes dois planos
ocupou a atenção de pesquisadores, tais como Rowe (1963).
Para evitar mal entendimento, pode-se distinguir dois tipos de planos de ruptura:
a. Um plano teórico de ruptura, que, por definição, se dá a um ângulo de (45° + φ/2 ) ao
plano no qual atua a tensão principal maior.
b. Um plano de ruptura observado, que é o plano no qual são observadas as
deformações cisalhantes.
Afortunadamente, em areias a diferença entre a orientação do plano teórico e observado não
é grande (é menor que 5°). Na maioria dos problemas de engenharia pode-se ignorar esta
diferença.
Como frequentemente a ruptura ocorre ao longo de uma superfície de ruptura curva em vez
de ao longo de um plano, costuma-se falar de plano de ruptura teórico e plano de ruptura
observado.
16. Sabe-se que uma areia densa tende a expandir durante o cisalhamento. Descreva a
trajetória (ou caminho) de tensões de um ensaio em que a expansão é impedida. Faça o
mesmo para uma areia fofa. Mostre qualitativamente as curvas tensão-deformação dos
ensaios.
Areia densa a volume constante → Para manter o volume constante no ensaio triaxial é
necessário controlar a tensão confinante, de forma a aliviar inicialmente σ 3 para evitar a
contração inicial (típica de areias densas) e, posteriormente, como a areia densa tende a
expandir, é necessário aumentar significativamente σ 3 e com isso a resistência aumenta até
a quebra dos grãos.
Areia fofa a volume constante → Para manter o volume constante a σ 3 será controlada.
Neste caso, a amostra tende a contrair. Para impedir essa contração é necessário aliviar σ 3 .
Com isso a resistência não atingirá altos valores e terá baixa rigidez. A trajetória será inversa
e curvilínea (devido ao descarregamento lateral), até se tornar linear ao final do ensaio
(ainda com redução de σ 3 ).
A Figura 11.8 mostra uma comparação entre os três diferentes ângulos de atrito.
φu é definido basicamente como o ângulo cuja tangente dá o coeficiente de atrito estático
máximo puro na interface mineral-mineral ou mineral-material.
φp = φ é o ângulo de atrito de pico, que pode ser expressa como uma função da tensão
confinante para uma dada densidade relativa. É, geometricamente no plano σ x τ , o arco
cuja tangente é inclinação da envoltória de Mohr em cada ponto. Logo, como a envoltória
real não é uma reta perfeita, também a inclinação da envoltória varia com o nível de tensões,
variando por consequência o ângulo de atrito.
Também é função do índice de vazios inicial do solo (ou da Dr) - Figura 11.8 acima. Esta
relação obviamente varia de areia para areia, mas a tendência geral é que quanto mais
denso o material (maior Dr e menor e), maior o ângulo de atrito. O efeito do índice de vazios
inicial pode ser explicado pelo fenômeno do intertravamento, mas também outros modos de
olhar para este fenômenos foram desenvolvidos.
Por exemplo, a energia que é dada ao solo por cargas externas é gasta de duas formas:
superar a resistência friccional entre partículas e expandir o solo confinado. Quanto mais
denso o solo, maior a expansão que tende a ocorrer durante o cisalhamento. Portanto, mais
energia (mais força e maior ângulo de atrito) deve ser gasta para cisalhar o solo. No entanto,
estas duas explicações falam da mesma coisa.
Após considerável deformação de qualquer solo, tanto a tensão desvio quando o índice de
vazios atingem valores que são independentes do índice de vazios inicial. Nesta condição, a
areia se deforma sem variar seu volume e com tensão desvio constante. Esta condição é
referida como condição última (ou a volume constante ou crítica ou residual). A tensão
desvio nesta condição pode ser utilizada para definir o ângulo de atrito φcv :
sin φcv = ( σ 1 −σ 3
σ 1 +σ 3 )
cv
=
qf
pf
onde o subscrito cv significa volume constante.
se mover sobre e através (ou talvez mais ao redor) de suas vizinhas e deformação tomar
lugar, e na escala particular, ainda deve haver variações de volume - crescimento e
decrescimento - de tal forma que nenhuma variação de volume é verificada na amostra
como um todo.
zero durante uma deformação contínua. O índice de vazios nesta condição ecv é constante
e também pode ser tomado como uma propriedade do material.
18. Explique o comportamento das areias da Figura 12.3 do livro do Lambe & Whitmann
(desenhe as curvas originais a partir desta).
Dados e gráficos em excel.
Constata-se que:
- Como é uma compressão confinada as areias são impedidas de romper por
cisalhamento, de modo que não há um pico de tensão seguindo de um softering.
- Quebra de partículas e fraturamento das mesmas começa a ser importante para
tensões maiores que 3500 kPa. Logo, sob grandes deformações o módulo secante
tende a ser constante em todos os casos mostrados, ou até decrescer, como no
caso da de Minnesota no estado fofo, em que posteriormente há uma leve queda.
- O gráfico tensão-deformação reconstruído pode ser igualmente expresso por σ z x εz ,
dado que com a tensão desvio, resultaria em (1 − K 0 )σ z x εz .
- O comportamento na curva tensão-deformação para os dados analisados mostra
que está errado o comportamento inicial, pois segundo os dados apresentados,
haveria inicialmente um módulo baixo que cresceria até um ponto de inflexão onde
começaria a decrescer. Esse comportamento não acontece na realidade, sendo fruto
do erro causado pela tomada de medidas de deformação externamente à câmara
triaxial, o que implica que inicialmente, a pequenas deformações, o transdutor
externo capta qualquer coisa menos o comportamento real do solo (deformação do
pistão, acomodação do top cap, papel filtro e demais elementos tensionados).
Minnesota sand: Composta de partículas resistentes e arredondadas.
Pennsylvania sand: Composta de partículas de baixa resistência e angulares.
Wabash e Sangamon Rivers: Areias bem graduadas.
19. É correto afirmar que areias sem confinamento tem módulo de deformação igual a zero?
Explique.
Sim, é correto. A resistência das areias é mobilizada pela tensão normal atuante entre as
partículas. Se não há tensão confinante, não há tensão normal entre os grãos. Logo, não há
módulo de deformação, pois E = σ . Não há tensões e quando sujeita a carga axial, a
ε
deformação é infinita, fazendo o módulo tender a zero.
20. Determinações de módulos de deformação feitas através de medidas deformações
externas à célula triaxial são erradas? Compare graficamente medidas internas e externas.
Está errado o comportamento inicial, pois somente com medidas externas de deformação
haveria inicialmente um módulo baixo que cresceria até um ponto de inflexão onde
começaria a decrescer. Esse comportamento não acontece na realidade, sendo fruto do erro
causado pela tomada de medidas de deformação externamente à câmara triaxial, o que
implica que inicialmente, a pequenas deformações, o transdutor externo capta qualquer
21. Dois corpos-de-prova semelhantes foram ensaiados com tensões confinantes de 200 e 600
kPa. O que pode-se dizer sobre seus módulos?
Com o aumento da tensão confinante há aumento no módulo de rigidez. Portanto, o corpo
de prova ensaiado com tensão confinante de 600 kPa tem módulo maior que o corpo de
prova submetido à tensão confinante de 200 kPa.
22. Existe uma limitação teórica de coeficiente de Poisson (ν ≤ 0,50). Qual é a limitação real
em solos? Dê exemplos de solos com comportamento especial.
Durante a faixa de deformações para as quais os conceitos da teoria da elasticidade são de
uso, o coeficiente de Poisson varia com a deformação. O coeficiente de Poisson para areias
se torna constante apenas para grandes deformações que implicam em ruptura, e então tem
valor maior que 0,5. Um valor como esse para μ implica em expansão do material durante o
ensaio triaxial. O coeficiente de Poisson é menor que 0,5 apenas durante os estágios iniciais
de tal ensaio onde o corpo de prova decresce em volume.
Por causa deste comportamento, é muito difícil fazer uma avaliação exata do valor de μ
para uso em qualquer problema. Afortunadamente, o valor de μ tem usualmente um efeito
pequeno sobre previsões de engenharia. Para estágios iniciais de do primeiro carregamento
de uma areia, quando os rearranjos de partículas são importantes, μ tem valores
tipicamente na faixa de 0,1 a 0,2. Durante carregamento cíclico, μ se torna mais para uma
constante, com valores de 0,3 a 0,4. A razão entre dois tipos de velocidades de onda
frequentemente são usados para estimar um μ aplicável a carregamentos cíclicos.
23. O segundo carregamento pode ser recomendado para determinação de Esec inicial. Por quê?
pág. 158/159
24. Defina o que é um ensaio K0? Quais são as possíveis definições deste índice?
Frequentemente estamos interessados na magnitude da tensão horizontal geostática, em
especial os casos onde não houve deformações laterais no solo. Neste caso especial,
falamos de coeficiente de empuxo ao repouso ou coeficiente de empuxo lateral ao repouso,
definido pela razão entre tensão horizontal efetiva pela tensão vertical efetiva.
σh
K0 = σv
Um solo sedimentar é formado por acumulação de sedimentos de baixo
para cima. Conforme a sedimentação continua, há uma compressão do solo
em dada elevação por causa do crescimento na tensão vertical. Quando a
sedimentação ocorre, frequentemente em grandes áreas laterais, não há
razões para que a compressão lateral seja significante durante a
sedimentação. Disso decorre que pode-se pensar logicamente que as
tensões horizontais deverão ser menores que as tensões verticais. Para uma
areia formada desta maneira, K0 terá valores tipicamente de 0,4 a 0,5.
Um ensaio K0 é, por exemplo, um ensaio oedométrico, no qual o movimento
das partículas é, na média, em apenas uma direção. Então, quando as forças
tangenciais de contato são somadas nos muitos contatos sobre uma
superfície, deveria existir uma rede de forças tangenciais; isto é, uma rede de
tensões cisalhantes na superfície. Consequentemente, em geral, a tensão
horizontal será diferente da tensão vertical durante o ensaio oedométrico. A
razão entre tensão horizontal e vertical é, por definição, constante
aproximadamente K0. A condição de deformações é aproximadamente
similar à encontrada em problemas reais, porém medir K0 de maneira
precisa é praticamente impossível. Genericamente, um ensaio K0 é aquele
no qual a razão entre tensões verticais e horizontais é mantida constante,
sem permitir deformações laterais.
A trajetória de tensões do ensaio oedométrico pode ser visto na figura ao lado e abaixo.
A inclinação do caminho de tensões K0 é denotado por β ; ou seja, para carregamento K0,
q 1−K
p
= 1+K
= tan β
Uma boa estimativa a partir de dados experimentais de K0 é a sugerida por Jaky (1944):
Logo, combinando as equações, temos
sin φ
tan β = 2−sin φ
2 tan β
sin φ = 1+tan β
25. O comportamento de areias secas pode ser estudado através de ensaios saturados.
Explique as razões e quais são as vantagens.
porque há drenagem instantânea. ensaio em termos de tensões efetivas